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Maria Luiza Maia – M3 2021 FARMACOLOGIA Farmacologia dos antivirais INTRODUÇÃO As infecções virais estão entre as principais for- mas de morbidade e de mortalidade no mundo Medidas de saúde pública e vacinas profiláticas são os principais métodos de controle da dissemi- nação dessas infecções Entretanto, há várias doenças virais sem vacinas efetivas, como a AIDS Conceitos-chave Os vírus sofrem replicação intracelular e por isso utiliza mecanismos da célula hospedeira, isso re- duz o número de alvos potenciais para essas in- fecções Agentes antivirais atuais exploram as diferenças existentes entres as estruturas e as funções das proteínas virais e das proteínas das células hospedeira (seletividade de ação antiviral) Fatores condicionantes das doenças virais Interações com o hospedeiro A resposta imune Virulência Curso clínico Normalmente agudo e autolimitado produzindo uma imunidade permanente contra essas patolo- gias Poliomielite Dengue Sarampo Caxumba Varicela Varíola Influenza (A, B e C) Hepatite A (VHA) Mas também pode ser crônico Rubéola Citomegalovirose congênita Hepatite B e C Podem cursar com infecções virais latentes (di- minui a capacidade do organismo buscar resolu- ção) Herpes vírus HTLV I, II e IIII HIV (pode estabelecer infecção crônica ou la- tente) CICLO DE VIDA DOS VÍRUS E INTERVENÇÃO FARMACOLÓGICA HIV E AIDS Contexto e história O HIV foi descoberto em 1983, é um retrovírus com dois subtipos, o HIV 1 e 20 Em 1996 foram descobertos antirretrovirais po- tentes para o tratamento da AIDS Em 2008 um estudo Suíço concluiu que indivíduos em tratamento antirretroviral tendo alcançado supressão completa e continuada de viremia plas- mática durante pelo menos 6 meses e sem do- ença sexualmente transmissível deixaram de ser considerados fontes potenciais de transmissão do HIV É uma doença extensamente prevalente no mundo e no Brasil Maria Luiza Maia – M3 2021 FARMACOLOGIA Ciclo de vida do HIV Tratamento da infecção pelo HIV Reduz a morbidade e mortalidade associadas ao HIV, aumentando a sobrevida e a qualidade de vida do paciente Restaura e preserva a função imunológica Garante máxima e duradoura supressão viral Previne a transmissão do HIV Para assegurar o tratamento universal do trata- mento é necessário fazer uma testagem em grande escala, o aconselhamento pré e pós- teste, identificação de parceiros e cônjuges, uti- lização de tratamentos antirretrovirais em es- quemas de primeira linha Existem mais de 25 fármacos atualmente autori- zados para uso clínico, subdividido em diferentes classes Inibidores da fusão Antagonistas dos receptores de quimiocinas Inibidores da transcriptase reversa análogos de nucleosídeos Inibidores da transcriptase reversa não aná- logos de nucleosídeos Inibidores da integrase Inibidores da protease Inibição da fusão e entrada do vírus Enfuvirtida – peptídeo anti-HIV administrado por via subcutânea 2 vezes ao dia, é de alto custo, assemelha-se a um segmento da gp41 (proteína do HIV que medeia a fusão de membrana), é utili- zado em pacientes que continuam replicando ví- rus mesmo com a terapia antirretroviral contí- nua, as reações adversas podem ser locais ou sistêmicas Maraviroque – antagonista dos receptores de quimiocina CCR5, a ausência do produto do gene CCR5 impede a infecção por algumas cepas de HIV, a dose varia de acordo com a função renal e ao uso de indutores ou inibidores do CYP3A4, deve ser associado a outros fármacos em paci- entes com cargas virais detectáveis ou apresen- tam vírus resistentes a outros fármacos, geral- mente é bem tolerado, mas podem causar efei- tos adversos Inibidores da transcriptase reversa aná- logos de nucleosídeos (ITRN) Precisam ser fosforilados para exercer seus efeitos Mimetizam os trifosfatos de desoxirribonucleosí- deos (substratos das DNA polimerases) incorpo- rando-se a cadeia de DNA em crescimento e in- terrompendo o processo de alongamento (forma- ção de um DNA incompleto) Maria Luiza Maia – M3 2021 FARMACOLOGIA Quanto mais eficiente a fosforilação do análogo pelas enzimas celulares e quanto mais potentes forem as formas fosforiladas mais tóxico será o fármaco A zidovudina (azidomidina – AZT) foi o 1° anti-HIV aprovado, é um excelente substrato para a timi- dina cinase (HIV não codifica sua própria cinase), acumula em quase todas as células em divisão no corpo e não apenas nas células infectadas (fár- maco altamente tóxico), pode causar alterações no TGI, sanguíneas, no SNC e risco de acidose lá- tica, tem eficiência clínica limitada e pode ser de- senvolvida resistência a ela A toxicidade seletiva desses fármacos depende de sua capacidade de inibir a transcriptase re- versa do HIV sem inibir a DNA polimerase da célula hospedeira Em geral não são fármacos envolvidos em intera- ções medicamentosas clinicamente significativas (não se envolvem muito com o metabolismo do ci- tocromo) Inibidores da transcriptase reversa não análogos de nucleosídeos Efavirensz (EFZ) – possui efeitos adversos rela- cionados ao SNC e teratogenia Etravirina (ETV) Nevirapina (NVP) São metabolizados pelo citocormo Não precisam sofrer foscforilação intracelular Mostram-se ativo apenas contra o HIV-1 Carecem de atividade contra a DNA polimerase da célula hospedeira São eliminados do corpo por metabolização hepá- tica São indutores moderadamente potentes da en- zima do CYP 450 Esses agentes são potentes e altamente efeti- vos, porém devem ser combinados com pelo me- nos dois outros fármacos ativos para evitar o de- senvolvimento de resistência Atua inibindo diretamente a transcriptase re- versa De forma geral podem causar exantema e alte- rações das enzimas hepáticas e tem um alto risco de desenvolver resistência (importância do co- quetel) Inibidores da integrase Impedem que a enzima que integra o DNA viral ao genoma do hospedeiro durante a formação do pró-vírus (integrasse) funcione corretamente Exercem atividade potente para os dois tipos de HIV É utilizado em pacientes que desenvolveram re- sistência a outros fármacos Mutações pontuais no gene da integrasse mostra a necessidade de administrar esse fármaco jun- tamente com outros agentes antirretrovirais Raltegravir – normalmente é bem tolerado, mas o paciente pode apresentar cefaleia, náusea, as- tenia e elevação da creatinacinase (miopatia e ra- bdomiólise) Dulotegravir Maria Luiza Maia – M3 2021 FARMACOLOGIA Inibidores da maturação viral A montagem não é suficiente para produzir um vírion infeccioso, a estrutura deve ser maturada pela ação da protease do HIV Inibidores dessa protease (não presente no hos- pedeiro) Saquinavir Indinavir Ritonavir Nelfinavir Fosamprenavir Lopinavir Atazanavir Tipranavir Darunavir São metabolizados predominantemente pelo cito- cromo 3A4 Podem trazer efeitos adversos inesperados Combinações para a produção dos coque- téis Avanços no combate ao HIV Profilaxia pré-exposição ao HIV – tomada diária de um comprimido que impede que o vírus causa- dor da aids infecte o organismo antes da pessoa ter contato Profilaxia pós-exposição ao HIV – medida de pre- venção de urgência (serve para hepatites virais e outras ISTs) Terapia gênica – células-tronco modificadas se mostraram capazes de combater o vírus por um tempo superior a dois anos INFECÇÕES CAUSADAS POR VÍRUS DA FAMÍLIA HERPESVIRIDAE Composta por mais de uma centena de vírus, sendo pelo menos 8 infectantes Análogos de nucleosídeos e nucleotídeos Aciclovir – alto índice terapêutico, é fosforilada inicialmente pela timidinacinase do vírus, baixa bi- odisponibilidade, pode causar irritação local, cefa- leia, diarreia, náuseas e êmese (VO), disfunção MariaLuiza Maia – M3 2021 FARMACOLOGIA renal transitória em casos de doses altas ou em pacientes desidratados (IV), mutações podem de- sencadear resistência Valociclovir – mais eficiente por VO do que o aci- clovir Penciclovir – uso tópico para herpes labial e ge- nital (menos seletivo da DNA polimerase viral) Fanciclovir – maior biodisponibilidade por VO (pró- fármaco) Ganciclovir – análogo do aciclovir, mas muito mais potente para o citomegalovírus, sendo esse vírus extremamente crítico para indivíduos imunocom- prometidos, é muito tóxico, sendo utilizado so- mente para o tratamento de infecções muito fortes Valganciclovir – pró-fármaco que aumenta a bio- disponibilidade por via oral Cidofovir – administrado por via IV no tratamento de retinite por citomegalovírus, causa toxicidade renal Inibidores não-nucleosídeos da DNA poli- merase Foscarnete – inibe competitivamente as DNA e RNA polimerase, usado nas infecções virais por HSV, VZV e CMV quando a terapia com aciclovir ou com ganciclovir não é bem-sucedida devido ao desenvolvimento de resistência, ele tem uma baixa biodisponibilidade e baixa solubilidade (IV), é nefrotóxico e pode causar anemia, náusea, febre e desequilíbrios eletrolíticos INFLUENZA E OUTROS VÍRUS RESPIRATÓRIOS Fármacos para impedir o desenvolvimento da gripe é importante para populações específicas Alguns indivíduos imunocomprometidos não podem se vacinar contra gripe Amantadina (VO) e rimanradina (VO) Profilaxia e tratamento da influenza A Se assemelham aos bloqueadores dos canais iôni- cos (moléculas hidrofóbicas com carga positiva em uma das extremidades) Maria Luiza Maia – M3 2021 FARMACOLOGIA Mecanismo de ação – inibe o desnudamento viral por inibir o influxo de prótons através do bloqueio do canal de prótons (M2) no envelope viral A amantadina é raramente utilizada Os medicamentos têm proteção de 70 a 90% a ocorrência da doença clínica A terapia deve ser iniciada rapidamente e a du- ração dos sintomas é reduzida de 1 a 2 dias A amantadina tem efeitos adversos no SNC, mas que podem ser utilizados no tratamento do Par- kinson Em geral os efeitos adversos são no TGI Inibidores de neuraminidase A enzima cliva o ácido ciálico das glicoproteínas da membrana (liberação viral) Na ausência da enzima o vírus perde a capacidade de se disseminar para outras células Zanavir (inalação) e oseltamivir (oral) – estágios iniciais da doença ou quando a vacina é impossível A vacinação é mais eficiente que qualquer um desses tratamentos medicamentosos HEPATITES B E C As viroses hepáticas já identificadas apresentam patogenicidade envolvendo especificamente a multiplicação nos hepatócitos e sua destruição Hepatite B (vírus de DNA) e C (vírus de RNA) são as causas mais comuns de hepatite crônicas, ca- pazes de causar cirrose e carcinoma hepatoce- lular Hepatite B crônica tem uma evolução bem com- plexa que consiste em uma fase de imunotolerân- cia, uma fase de portador inativo, uma fase imu- noativa (há replicação viral e aumento de antíge- nos e aminotransferases que demonstram um aumento da atividade inflamatória), fase inativa que pode haver reativação e exige tratamento, nessa doença não há cura, mas com o trata- mento se busca não ter nem uma recidiva nem uma complicação a mais O vírus da hepatite C determina tanto a hepatite aguda como crônica sendo a última a causa mais recorrente para o transplante hepático no Brasil, o tratamento convencional é com o interferon alfa e nos últimos surgiram os antivirais de ação direta (DAA) que tem ação em proteínas não es- truturais do vírus da hepatite C Análogos de nucleosídeos Adepfovir dipivoxil – análogo de nucleosídeo de adenosina foi desenvolvido para o tratamento de HIV sem sucesso, em doses mais baixas e menos tóxicas é eficiente na hepatite B, é um pró-fár- maco que apresenta nefrotoxicidade a depender da dose Entecavir – análogo de guanosina usado contra a hepatite B, normalmente bem tolerado com alta biodisponibilidade oral (100%) que é reduzida com a ingestão de alimentos, destaca-se por intensa atividade antiviral e baixas taxas de resistência sendo o fármaco de primeira escolha segundo o ministério da saúde para pacientes cirróticos Ribavirina – se assemelha as purinas e é um an- tiviral de amplo espectro (vírus sincicial respira- tório, hepatite C em associação com o interferon alfa), é um pró-fármaco (fosforilação), inibe o ca- peamento do RNAm viral e da RNA polimerase viral, apresenta efeitos adversos Maria Luiza Maia – M3 2021 FARMACOLOGIA Interferonas É uma molécula endógena produzindo respostas a infecções incluindo atividade antiviral e modula- dora (só pode ser utilizado por via parenteral) Inibidores da protease e da polimerase (DAA) Utilizados principalmente para o tratamento da hepatite C crônica Inibidores da protease – boceprevir e telaprevir Inibidor da polimerase – sofosbuvir Evolução do tratamento da hepatite C crônica
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