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Peeling cutâneo APRESENTAÇÃO O peeling químico é uma técnica muito utilizada em tratamentos estéticos, com o objetivo de tratar algumas disfunções estéticas, como acne, oleosidade, manchas, entre outras reações associadas ao envelhecimento cutâneo, atuando desde as camadas mais superciais até as mais profundas da pele, de acordo com cada tipo de ácido, pH e concentração. Nesta Unidade de Aprendizagem, você vai estudar os peelings químicos e sua ação esfoliante. Além disso, você vai aprender a identificar as principais características de cada ácido, bem como sua classificação quanto à permeação sobre a pele, a fim de realizar uma esfoliação controlada, elaborando protocolos específicos para cada paciente. Ainda, você verá os riscos que envolvem a aplicação do peeling percutâneo. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Identificar os agentes empregados em peeling químico e suas concentrações de uso.• Desenvolver protocolos de tratamento para peeling químico em afecções estéticas.• Relacionar o emprego dos diversos agentes de peeling químico a riscos agudos e crônicos.• DESAFIO Bruna tem 34 anos e iniciou um tratamento médico para engravidar. Em consequência, durante algumas semanas, surgem acnes em seu rosto. Incomodada com essa disfunção estética, e incentivada por uma amiga, Bruna procura você para realizar um peeling a fim de melhorar o aspecto da pele. Diante do histórico de Bruna, quais ácidos você utilizaria para compor a terapêutica do seu tratamento? Justifique sua resposta. INFOGRÁFICO Para a aplicação de cada ácido sobre a pele, o terapeuta necessita obter o conhecimento sobre o tipo de pele do paciente, seu fototipo, se é espessa ou delgada e se apresenta alguma sensibilidade. Quanto à formulação, o profissional precisa conhecer os parâmetros de atuação de cada tipo de ácido. No Infográfico a seguir, você verá algumas dicas quanto ao número de camadas e ao tempo médio de atuação de cada ácido para aplicação de peelings superficiais e muito superficiais. CONTEÚDO DO LIVRO A aplicação do peeling químico consiste no uso isolado ou associado de um tipo de ácido, responsável por promover uma esfoliação controlada sobre a epiderme até a derme, resultando no rejuvenescimento e na melhora do aspecto da pele quanto a discromias e afecções cutâneas. No capítulo Peeling cutâneo, do livro Princípios ativos em Estética, você verá como se dá a aplicação dos peelings químicos, de acordo com as características de cada ácido – de permeação muito superficial à permeação profunda. Boa leitura. PRINCÍPIOS ATIVOS EM ESTÉTICA Gabriela de Farias Peeling cutâneo Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Identificar os agentes empregados em peeling químico e suas con- centrações de uso. Desenvolver protocolos de tratamento para peeling químico em afecções estéticas. Relacionar o emprego dos diversos agentes de peeling químico a riscos agudos e crônicos. Introdução O peeling químico consiste na aplicação isolada ou associada de um tipo de ácido, responsável por promover uma esfoliação controlada sobre a epiderme até a derme, resultando no rejuvenescimento e na melhora do aspecto da pele sobre discromias e afecções cutâneas. Neste capítulo, você vai estudar sobre os peelings químicos e sua ação esfoliante, identificando as principais características de cada tipo de ácido, sua classificação quanto à permeação sobre a pele e diferenciando as concentrações de pH de acordo com cada utilidade em afecções estéticas. Além disso, vai ver que, a partir dos peelings químicos, é possível realizar uma esfoliação controlada sobre a pele, aplicando-os de acordo com a necessidade de cada paciente e selecionando o tipo de ácido ideal segundo os benefícios e os riscos que envolvem a aplicação do peeling cutâneo. Ácidos cutâneos Para a realização de uma aplicação segura e efi caz dos ácidos cutâneos, é importante diferenciar sua ação de acordo com a profundidade de permeação e as peculiaridades envolvidas sobre cada camada da pele, promovendo o estímulo adequado para cada fi nalidade. A aplicação dos ácidos cutâneos é diferenciada quanto ao grau de perme- ação sobre a pele. De acordo com Kede e Sabatovich (2015), os peelings se classificam em: muito superficiais, superficiais, médios e profundos. Peelings muito superficiais atuam sobre o extrato córneo, realizando uma esfoliação delicada sobre a camada córnea da epiderme. A camada córnea é composta por queratinócitos anucleados, seu núcleo e organelas estão dissol- vidos por enzimas lisossômicas e o citoplasma é preenchido por queratina; justapostos, são responsáveis pela impermeabilidade da pele, cujo pH varia de 4,5 a 5,0, favorecendo a manutenção da sua microflora normal (DRAELOS, 2012). Os peelings superficiais atuam sobre a epiderme, atingindo até as células basais, promovendo uma esfoliação próxima à necrose celular. Peelings médios promovem necrose sobre toda a epiderme e parte da derme, atingindo a camada mais externa, a derme papilar. Já os peelings profundos atuam sobre toda a epiderme e a derme, promovendo um processo intenso de necrose tecidual, atingindo as profundidades de derme papilar e reticular entre 0,6 a 0,8 mm aproximadamente (KEDE; SABATOVICH, 2015). O potencial de absorção e a ação de um ácido sobre a pele depende de algumas variações: do tamanho da molécula do ácido, da concentração e do tipo de veículo em que ele estará dissolvido, do pH em que ele estará estabilizado, do número de camadas que o profissional irá aplicar e do tempo de exposição do ácido sobre a pele do paciente (GOMES; DAMAZIO, 2017). Tipos de ácidos cutâneos Os hidroxiácidos são divididos em cinco grupos diferentes: alfa-hidroxiácidos (AHAs), beta-hidroxiácidos (BHAs), poli-hidroxiácidos (PHAs) e hidroxiácidos aromáticos. Os hidroxiácidos são responsáveis por reduzir a adesão entre os corneócios epidérmicos, resultando em um estrato córneo mais fi no, além de diminuir a produção da melanogênese, aumentar a síntese das glicosamino- glicanas, aumentar a proliferação de fi broblastos e melhorar a hidratação da superfície da pele a partir da retenção de água e do aumento da produção de ácido hialurônico, conferindo aumento de até 25% na espessura da pele após 6 meses de tratamento com AHAs. Os AHAs são ácidos carboxílicos encontrados em alimentos. O peeling com AHA é destinado à esfoliação superficial, por meio da quelação de cálcio, proporcionando segurança e eficácia ao longo de várias aplicações. Podem Peeling cutâneo2 ser utilizados de forma isolada ou combinada, agregando maiores resultados à terapêutica. Sua estrutura molecular consiste em uma estrutura simples, comparada a outros ácidos, sendo composta por um grupo hidroxila e anexando um grupo carboxila em posição alfa, o que atribui o caráter ácido diferenciado quando comparado a outros hidroxiácidos (DRAELOS, 2012). Confira, a seguir, alguns tipos de AHAs: Ácido lático (Figura 1): possui ação umectante, por meio da retenção de água ao lactato de sódio; clareadora, suprimindo a ação da tirosi- nase; e esfoliante suave, sem promover irritação à pele. É utilizado nas concentrações de 0,5 a 15% solúvel em água. Figura 1. Organização molecular do ácido lático. Ácido glicólico: tem origem na cana-de-açúcar. Com menor peso molecular entre os AHAs, possui grande absorção sobre a pele e é indicado para face e corpo em peles acneicas, hiperpigmentadas, rugas finas e lesões de fotoenvelhecimento em fototipos I, II e III. Em baixas concentrações, atua sobre as camadas mais inferiores do estrato córneo. É utilizado em veículos em gel, cremes, loções e soluções hidro-alcóolicas nas concentrações de 5% até 50%. Sua ação é neutralizada por meio de uma solução de bicarbonato de sódio até 40% e água abundante. 3Peeling cutâneo Ácido azeláico: é dicarboxílico, saturado,não ramificado, possui ação antibacteriana e comedolítico em lesões acnéicas, ação enzimática antitirosinase e antimicondrial e atua sobre a atividade dos melanócitos. É utilizado em concentrações de 5% a 25%. Ácido tioglicólico: com odor característico, sua característica principal é o desempenho sobre olheiras, atuando em hipercromias de insuficiência venosa com depósito de hemossiderina e melanina. É utilizado em concentrações de 10% a 30% e neutralizado com solução bicarbonada e água abundante. Ácido mandélico: derivado das amêndoas amargas, possui maior peso molecular entre os AHAs, sendo menos irritativo e produzindo menos eritema se comparado ao ácido glicólico. É indicado para peles com fototipos altos na modulação da produção de melanina, ação bactericida, controle da produção sebácea, além da função queratolítica. É utilizado em concentrações de 30% a 50% e atua no tratamento de acne, em hiperpigmentação, rejuvenescimento e estrias. Ácido kójico: seu principal mecanismo de ação é a quelação de íon cobre, atuando sobre a inibição de tirosinase (mecanismo responsá- vel pela transferência de melanina sobre o melanócito) e promovendo clareamento de manchas de fotoenvelhecimento. Além de sua ação despigmentante, o ácido kójico também possui ação antioxidante e anti- -inflamatória. É utilizado em concentrações de 0,5% a 10% associado a outros ácidos queratolíticos (MONTEIRO et al., 2013). Outro grupo derivado dos hidroxiácidos são os beta-hidroxiácidos (BHAs), caracterizados por estrutura molecular contendo o grupo hidroxila ane- xado à posição beta do grupo carboxila. Com função antienvelhecimento, o ácido málico está caracterizado tanto como um AHA quanto como um BHA devido à sua estrutura, que contém um grupo hidroxila e dois grupos carboxila. O mesmo acontece com o ácido cítrico, que contém um grupo hidroxila e três carboxilas, sendo um AHA por sua estrutura carboxila e um BHA devido aos outros dois grupos carboxilas. O ácido salicílico (Figura 2) é um BHA lipossolúvel, penetrando na epiderme e nas unidades pilos- sebáceas, resultando na função comedolítica, e exerce função antifúngica e anti-inflamatória por meio da inibição do ácido araquidônico. É indicado para tratamento de acne, caspa, dermatites seborreicas, psoríase e ictiose (KEDE; SABATOVICH, 2015). Peeling cutâneo4 Figura 2. Fórmula molecular ácido salicílico. Os poli-hidroxiácidos (PHAs) possuem, em sua estrutura molecular, dois ou mais grupos hidroxila e carboxila anexados aos átomos de carbono de uma cadeia alifática ou acíclica. Os PHAs são metabólitos endógenos; o ácido galactônio é derivado da galactose, e o ácido glucônio e a gluconolactona são metabólitos formados a partir da glicose. Com alto peso molecular, permeiam a pele de forma gradual, desempenhando diversas funções, principalmente em peles sensíveis acometidas por rosácea e dermatites atópicas, atuando como anti-inflamatórios e antioxidantes na reparação do fotoenvelhecimento. A gluconolactona é um dos poucos ativos com liberação para uso em gestantes, sendo utilizada em protocolos para hidratação, controle de oleosidade e esfo- liante (DRAELOS, 2012). Outras estruturas moleculares muito próximas aos PHAs são as dos ácidos lactobiônicos e do ácido maltobiônico, diferenciando-se pela adição de um monômero de carboidrato associado a uma ligação éter na molécula de PHAs. A principal função do ácido lactobiônico está associada à inibição das enzimas de metaloproteinases (MMPs), atuando na inibição das manifestações de rugas, flacidez e telangiectasias. Outro grupo de ácidos utilizados na cosmética são os hidroxiácidos aromáticos (AMAs), representados pelo ácido gálico (KEDE; SABATOVICH, 2015; YOKOMIZO et al., 2013). Apresentando ação antioxidante e atuando como cofator na produção de colágeno, está presente em algumas formulações cosméticas a vitamina C em sua forma ácida (ácido ascórbico), cujo mecanismo de ação é auxiliar as 5Peeling cutâneo enzimas lisil hidroxilase e prolil hidroxilase no processo da biossíntese de colágeno tipo I e III e no processo de inibição da oxidação produzida pelos raios UVA (DRAELOS, 2012). Na prática dos peelings químicos, também contamos com a ação da re- sorcina, um ácido obtido da hidroquinona, que possui função queratolítica, antisséptica, antiseborréica e antipruriginosa, indicado para peles acneicas e seborreia capilar e utilizado em concentrações máximas de 2% a 5%. Para complementar o potencial de ação dos peelings químicos, podemos contar com outros tipos de ácidos. Uma fórmula muito utilizada como peeling superficial é o peeling de Jessner, composto por ácido salicílico 14%, resorsina 14% e ácido lático 14% em solução alcóolica. É indicado para terapêutica de acne, clareamento, controle de oleosidade e queratolítico. Proporciona sensação de queimação intensa e indica-se aplicação de 2 a 3 camadas (YOKOMIZO et al., 2013). Classificado como um alfa-cetoácido, o ácido pirúvico possui propriedades queratolíticas, antimicrobiana e sebo regulador, tem baixo peso molecular (86,6g/mol) e permeia facilmente a pele, apresentando eritema após a aplicação e potente ação esfoliante (DRAELOS, 2012). O ácido retinóico, também conhecido como a vitamina A na forma ácida, é muito utilizado no tratamento de disfunções estéticas, mas é irritativo à pele. Trata-se de um pó amarelo, solúvel em éter e acetona, pouco solúvel em álcool e praticamente insolúvel em água; geralmente, apresenta-se em formulações cremosas, como cremes e pomadas. Utilizado em concentrações de 0,5% até 5%, é indicado como queratolítico, diminuindo o espessamento córneo, é coadjuvante no tratamento de acne e antienvelhecimento e con- traindicado para pessoas com hipersensibilidade à tretinoína, gestantes e lactantes. Outro ácido de uso clinico é o ácido tricloracético (TCA), derivado do ácido acético, de uso exclusivamente clínico e indicado para fotoenvelhecimento, cicatriz superficial, tratamento de melasma, efélides, ceratose actinica, hiper- pigmentação pós-inflamatória e rugas finas; é contraindicado para peles de fototipo altos (de IV a VI) e peles sensíveis. Outro ácido muito conhecido na prática clinica é o peeling de fenol (Figura 4), caracterizado por sua organização molecular com uma ou mais hidroxilas ligadas a um anel aromático, com aspecto cristalino; é pouco solúvel em água e extremamente cáustico, atuando em peelings de nível profundo. Peeling cutâneo6 Figura 4. Organização molecular do fenol. Veja, no Quadro 1, alguns dos principais ácidos utilizados em formulações cosméticas. Fonte: Adaptado de Yokomizo et al. (2013) e Draelos (2012). Ácido Peso molecular (g/mol) Ação Indicação Glicólico 76,50 Sebo regulador, renovador celular, clareador, hidrofílico Clareamento, acne, hidratação, rejuvenescimento Mandélico 152,15 Queratolítico, bac- tericida, clareador Clareamento, acne, rejuvenesci- mento, estrias Salicílico 138,13 Queratolítico, bactericida, sebo regulador Acne, oleosidade, estrias Kójico 142,11 Clareador Clareamento Lático 90,08 Hidrofílico, esfo- liante, clareador Hidratação e clareamento Gluconolactona 178,14 Hidrofílico, bacteri- cida, sebo regulador Hidratação, acne, pré-peeling, oleosidade Retinóico 300,4 Queratolítico e estimulador de colágeno Esfoliação e rejuvenescimento Quadro 1. Principais ácidos utilizados em formulações cosméticas 7Peeling cutâneo Não é indicada a terapêutica dos peelings químicos em casos de: atenuação no diâmetro dos poros; flacidez severa da pele; atenuação de telangiectasias; eliminação de cicatrizes profundas; aplicação sobre feridas abertas ou acnes em período inflamatório; hiperpigmentação em peles bronzeadas; gestantes (com excessão de gluconolactona); pacientes imunodeficientes. Aplicação de protocolos com peelings químicos Os hidroxiácidos, quando utilizados na forma ácida, agregam resultados para além da descamação. A utilização dos peelingssuperfi ciais sequenciais tem como objetivo principal realizar o mínimo de dano possível, induzindo a neo- formação tecidual, implicando um baixo risco e produzindo efeitos cumulativos superiores a somente uma aplicação de um peeling médio com descamação. A concentração de cada ácido presente na formulação está relacionada com os resultados da terapêutica: quanto mais elevada for a concentração, mais efetiva e irritante será a aplicação. Já o pH está diretamente associado à quantidade de ácido biologicamente livre na formulação; para a terapêutica efetiva, os hidroxiácidos devem apresentar-se na forma ácida. Para cada so- lução de peeling químico, a concentração e o pH determinam a potência e os benefícios da terapêutica — para realizar um peeling com característica esfoliante, o pH da formulação deve estar mais ácido do que o pH da região aplicada (YOKOMIZO et al., 2013). De acordo com parecer técnico da ANVISA de 2001, atualizado em 2006, a concentração de peelings químicos indicada para produtos cosméticos é de, no máximo, 10% em pH 3,5 (GOMES; DAMAZIO, 2017). Os ácidos, quando diluídos em solventes alcoólicos (etanol, pentanol, propilenoglicol ou glicerol), permeiam com maior facilidade a pele, atuando sobre ela por meio do entumecimento da camada córnea, promovendo melhor participação do ácido e proporcionando maior solubilidade. A análise do fototipo do paciente é importante para iniciar a terapêutica com peelings químicos, já que existem ácidos específicos para cada fototipo. Ácidos com baixo peso molecular são indicados para fototipos baixos (entre Peeling cutâneo8 I e III), enquanto os ácidos de alto peso molecular são ideais para aplicação em fototipos mais altos (entre IV e VI). Para a terapêutica dos peelings químicos, existe a possibilidade de asso- ciar diferentes tipos de ácidos com o objetivo de potencializar os resultados do procedimento em peles hiperqueratinizadas, sequelas de acne, estrias e foliculites, aplicando como pré-peeling ou até mesmo aplicando diferentes ácidos na mesma sessão, de acordo com o objetivo do tratamento. Quanto maior o número de camadas aplicadas do ácido, maior será a expo- sição do produto na pele. Em média, os AHAs são aplicados de 2 a 4 camadas por sessão e o tempo de exposição varia de acordo com a sensibilidade de cada paciente — geralmente, varia entre 5 a 15 minutos de aplicação sobre cada camada (KEDE; SABATOVICH, 2015). Outra forma de potencializar a ação do peeling químico é realizar a apli- cação do peeling biológico como agente preparador da pele alguns dias antes do procedimento. O peeling biológico age por meio da hidrólise da ceratina, pelas enzimas proteolíticas que atuam no rompimento das ligações entre os aminoácidos das proteínas. Essa ação enzimática é mais utilizada por meio da extração do mamão (papaína) e da extração do abacaxi (bromelina), atuando no afinamento córneo de forma controlada (GOMES; DAMAZIO, 2017). Fatores que interferem na absorção do ácido O fator natural de hidratação (Natural Moisturizing Factor, NMF) é responsável pela formação de barreira da pele, impedindo a entrada e a saída de substâncias. Outro mecanismo de proteção é o manto hidrolipídico (substrato das glândulas sebáceas), que é depositado sobre a pele, mantendo o pH levemente ácido (aproximadamente 4,9 na face) e auxiliando no equilíbrio da microbiota. Em alguns casos, há o desequilíbrio das funções biológicas, resultado de várias alterações sistêmicas que ocasionam algumas disfunções estéticas, entre elas: dermatites, manchas, acnes, estrias, entre outras — nesses casos, a aplicação de ácidos por via tópica auxilia no tratamento dessas disfunções. Indica-se que o terapeuta realize o preparo na pele do paciente com uma semana de antecedência antes de aplicar o peeling químico, avaliando a lubrifi cação da pele. Entende-se que uma pele hidratada absorve os ativos de maneira uni- forme, diminuindo os riscos de gerar uma hiperpigmentação pós-infl amatória e obtendo melhores resultados na aplicação dos ácidos (GOMES; DAMAZIO, 2017; KHUNGER, 2008). Os principais fatores que interferem na absorção do ácido estão relacionados com a integridade da epiderme: até que ponto a pele foi limpa e desengordu- 9Peeling cutâneo rada antes do procedimento, até que ponto a pele foi preparada uma semana antes do procedimento, a espessura da pele (em peles mais espessas, o ácido vai permear com mais dificuldade) e a região em que será aplicado (face ou corpo) — esses fatores são considerados antes do início da terapêutica com peeling químico. Para a aplicação do ácido sobre a pele, orienta-se que o terapeuta limpe a pele com agentes desengordurantes, já que o residual oleoso impede a permeação efetiva dos ácidos. Esses agentes podem ser de origem alcóolica, cetônica ou até mesmo com outro ácido — o ácido salicílico, por exemplo, é muito utilizado para desengordurar a pele, preparando-a para melhor absorção de outro ácido (DRAELOS, 2012; GOMES; DAMAZIO, 2017). Para saber mais sobre a terapêutica de disfunções estéticas por meio dos peelings químicos, acesse o link a seguir. https://goo.gl/uWcuYv Terapêutica x riscos de aplicação De modo geral, existem poucas contraindicações absolutas aos ácidos promo- tores de peeling químico, pois eles promovem esfoliação superfi cial, tolerada por boa parte dos pacientes. É de grande importância que o paciente que inicia o tratamento com peelings químicos altere alguns hábitos em sua rotina diária, sem escoriar a pele após o procedimento, deixando a pele descamar de forma natural e entendendo, também, a grande importância em utilizar o fi ltro solar e reaplicá-lo durante o dia. Ao iniciar o tratamento utilizando peelings químicos, o terapeuta deve aplicar uma ficha de anamnese contendo todas as informações de hábitos de vida do paciente e explicar-lhe o plano de tratamento, sanando as dúvidas do paciente, orientando sobre os produtos home care e apresentando um termo de consentimento no qual o paciente deve assinar que está ciente em receber a orientação pré e pós-peeling, comprometendo-se a utilizar rigorosamente o filtro solar. Dessa forma, garante ao profissional maior segurança de atuação para a terapêutica (RENDON et al., 2010). Peeling cutâneo10 Acesse o link a seguir e confira a revisão bibliográfica sobre os principais peelings utilizados em tratamentos estéticos. https://goo.gl/HNuZ9G Segundo Kede e Sabatovich (2015), a utilização de algumas medicações in- terfere nos resultados da terapêutica de peelings químicos médios e profundos. Por exemplo, o paciente que estiver em tratamento com isotretinoína estará diretamente associado ao risco de formação de cicatrizes após o peeling devido ao aumento da síntese de colágeno e à redução da produção de colagenase (enzima que degrada o colágeno) — nesse caso, indica-se a terapêutica de peelings químicos médios e profundos somente seis meses depois do término do tratamento com a medicação. A utilização de medicamentos providos de corticoides também pode interferir no processo inflamatório, que é importante para a reepitelização da pele. A utilização de estrógenos em pacientes em reposição hormonal durante a menopausa e contraceptivos orais aumentam a probabilidade de produção da pigmentação pós-inflamatória — nesses casos, indica-se cuidado redobrado na utilização de filtro solar. Algumas das reações temporárias podem ser: prurido, aumento do tamanho dos poros, aumento de telangiectasias, erupções acneiformes, reações alérgicas. Em pacientes com histórico de herpes simples, a aplicação da terapêutica de peelings médios e profundos pode influenciar no surgimento da ferida. O frosting é citado na literatura como uma intercorrência relativa dos proce- dimentos com peelings químicos, tratando-se de uma mancha branca, formando placas de epidermólise, resultado da utilização de peelings em altas concentrações e pH ácido <3,5. Em alguns casos, o frosting é almejado devido à profundidadede ação desejada à terapêutica. Na prática de peelings muito superficiais, a aplicação do ácido deve ser controlada para que não aconteça o surgimento do frosting devido à reação de epidermólise irregular sobre certas regiões aplicadas. Complicações pós-peeling químico pigmentares, cicatriciais, bacterianas, virais e fúngicas são infrequentes, aumentam conforme a profundidade do peeling (KHUNGER, 2008) e podem ser: descamação prematura, causando infecção; lágrimas escorrendo pelo pescoço, o que interfere na absorção do ácido; 11Peeling cutâneo hipopigmentação; hiperpigmentação; reações alérgicas; eritema persistente (mais de 3 semanas); equimose; queloides; cicatriz hipertrófica; necrose; infecção por fungos e bactérias; síndrome do choque tóxico; herpes simples; verrugas. A utilização do ácido salicílico é contraindicada em pacientes com alergia a aspirina ou a ácido acetilsalicílico. Confira, no link a seguir, um artigo com exemplos da aplicação do peeling químico em diferentes disfunções estéticas. https://goo.gl/eGycD3 1. Um paciente adolescente quer realizar um tratamento facial para acne, apresentando fototipo IV. Após aplicação da ficha de anamnese e verificação das medicações que o paciente utiliza, quais ácidos você utilizaria em seus protocolos de peelings sequenciais? a) Salicílico, glicólico, kójico. b) Lático, kójico, glicólico. c) Salicílico, mandélico, lático. d) Salicílico, mandélico e azelaico. e) Glicólico, lático, mandélico. 2. Os hidroxiácidos atuam como agentes esfoliantes, agregando outras propriedades sobre a pele. Proporcio- nando melhora na hidratação alguns hidroxiácidos, promovem a retenção de água e o aumento na produção de ácido hialurônico. Assinale a alterna- tiva que contém os principais ácidos que atuam na hidratação da pele. Peeling cutâneo12 a) Retinóico, lático, tiogicólico. b) Glicólico, kójico, gluconolactona. c) Retinóico, lático, gluconolactona. d) Salicílico, retinóico, lático. e) Lático, glicólico, gluconolactona. 3. Para realizar a aplicação do pro- cedimento de peeling químico, o terapeuta necessita aplicar uma avaliação de anamnese. Além disso, indica-se a realização de um preparo da pele com alguns dias de ante- cedência. Assinale a alternativa que justifica essa indicação. a) Para não manchar a pele. b) Para promover uma absorção mais uniforme do ácido sobre toda a área aplicada. c) Para evitar o frosting. d) Para acostumar a sensibilidade do paciente à aplicação dos ácidos. e) Nenhuma alternativa está correta. 4. Os peelings químicos são agentes esfoliantes e trazem benefícios que vão além da simples escamação, atu- ando sobre as disfunções estéticas por meio de vários mecanismos. De acordo com as indicações da prática de aplicação dos peelings, assinale a alternativa correta. a) De acordo com as leis da AN- VISA, é permitida a utilização de agentes químicos esfoliantes nas concentrações até 20% em pH 2,8. b) Para uma absorção efetiva dos ácidos sobre a pele, é indicado que o terapeuta limpe a pele com demaquilante e água termal antes de aplicar o ácido. c) A utilização de estrógenos em pacientes em reposição hor- monal durante a menopausa e contraceptivos orais aumentam a probabilidade de produção da pigmentação pós-inflamatória. d) Indica-se a neutralização com solução bicarbonada apenas para a neutralização do ácido retinóico. e) Nenhuma alternativa está correta. 5. O ácido kójico é um ácido muito utilizado na terapêutica das dins- funções estéticas devido à sua baixa toxicidade. Assinale a alternativa correta sobre as propriedades do ácido kójico. a) Não é indicado para utilização em acne. b) É altamente irritativo e utilizado em baixas concentrações. c) Atua como despigmentante por meio de sua ação de quelação de íons cobre. d) É um betahidroxiácido utilizado de maneira isolada por meio de aplicações sequenciais. e) Nenhuma alternativa está correta. 13Peeling cutâneo DRAELOS, Z. D. Dermatologia Cosmética: produtos e procedimentos. Curitiba: Santos, 2012. GOMES, R.; DAMAZIO, M. Cosmetologia: descomplicando os princípios ativos. 5. ed. São Paulo: Livraria Médica Paulista, 2017. KEDE, M. P. V.; SABATOVICH, O. Dermatologia Estética. 3. ed. São Paulo: Atheneu, 2015. KHUNGER, N. Standard guidelines of care for chemical peels. Indian Journal Dermatology, Venereology and Leprology, v. 74, n. 7, p. 5-12, 2008. Disponível em: <http://www.ijdvl. com/article.asp?issn=0378-6323;year=2008;volume=74;issue=7;spage=5;epage=12;a ulast=Khunger>. Acesso em: 21 out. 2018. MONTEIRO, R. C. et al. A comparative study of the efficacy of 4% hydroquinone vs 0,75% kojic acid cream in the treatment of facial melasma. Indian Journal of Dermatology, v. 58, n. 2, p.157, 2013. RENDON, M. et al. Evidence and Considerations in the Application of Chemical Pe- els in Skin Disorders and Aesthetic Resurfacing. Clinical Aesthetic, v. 3, n. 7, p. 32-43, 2010. Disponível em: <https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC2921757/pdf/ jcad_3_7_32.pdf>. Acesso em: 21 out. 2018. YOKOMIZO, V. M. F. et al. Peelings químicos: revisão e aplicação prática. Surgical and Cosmetic Dermatology, v. 5, n. 1, p.58-68, 2013. Disponível em: <http://www.redalyc. org/html/2655/265526285012/>. Acesso em: 21 out. 2018. Leitura recomendada GUERRA, F. M. R. M. et al. Aplicabilidade dos peelings químicos em tratamentos faciais: es- tudo de revisão, Brazilian Journal of Surgery and Clinical Research, v. 4,n. 3, p.33-36, set./nov. 2013. Disponível em: <https://www.mastereditora.com.br/periodico/20130929_214058. pdf>. Acesso em: 21 out. 2018. Peeling cutâneo14 Conteúdo: DICA DO PROFESSOR Nesta Dica do Professor, você verá como evitar intercorrências na aplicação dos peelings químicos, garantindo uma terapêutica eficiente. Confira. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! EXERCÍCIOS 1) Uma paciente adolescente procura você, a fim realizar um tratamento facial para acne. Ele apresenta fototipo IV. Após aplicação da ficha de anamnese e da verificação das medicações que ele utiliza, quais ácidos você aplicaria em seus protocolos de peelings sequenciais? A) Ácido salicílico, ácido glicólico e ácido kójico. B) Ácido lático, ácido kójico e ácido glicólico. C) Ácido salicílico, ácido mandélico e ácido lático. D) Ácido salicílico, ácido mandélico e ácido azelaico. E) Ácido glicólico, ácido lático e ácido mandélico. Os hidroxiácidos atuam como agentes esfoliantes, agregando outras propriedades sobre a pele e proporcionando melhora na hidratação. Alguns hidroxiácidos promovem a retenção de água e o aumento na produção de ácido hialurônico. Assinale a alternativa que apresenta os principais ácidos que atuam na hidratação da 2) pele. A) Ácido retinóico, ácido lático e ácido tiogicólico. B) Ácido glicólico, ácido kójico e ácido gluconolactona. C) Ácido retinóico, ácido lático e ácido gluconolactona. D) Ácido salicílico, ácido retinóico e ácido lático. E) Ácido lático, ácido glicólico e ácido gluconolactona. 3) Para realizar a aplicação do peeling químico, o terapeuta precisa fazer uma avaliação de anamnese. Indica-se, ainda, o preparo da pele com alguns dias de antecedência. Por quê? A) Para não manchar a pele. B) Para promover uma absorção mais uniforme do ácido sobre toda a área aplicada. C) Para evitar o frosting. D) Para acostumar a sensibilidade do paciente à aplicação dos ácidos. E) Nenhuma das alternativas está correta. 4) Os peelings químicos são agentes esfoliantes e trazem benefícios que vão além da simples escamação, atuando sobre as disfunções estéticas através de diversos mecanismos. De acordo com as indicações da prática de aplicação dos peelings, assinale a alternativa correta. A) De acordo com as leis da ANVISA, é permitida a utilização de agentes químicos esfoliantes nas concentrações de até 20%, em pH 2,8. B) Para uma absorção efetiva dos ácidos sobre a pele, é indicado queo terapeuta a limpe com demaquilante e água termal antes de aplicar o ácido. C) A utilização de estrógenos em pacientes em reposição hormonal durante a menopausa e de contraceptivos orais aumentam a probabilidade de produção da pigmentação pós- inflamatória. D) Indica-se a solução bicarbonada apenas para a neutralização do ácido retinóico. E) Nenhuma das alternativas está correta. 5) O ácido kójico é um muito utilizado na terapêutica das dinsfunções estéticas devido à sua baixa toxicidade. Assinale a alternativa correta quanto às propriedades desse ácido. A) Não é indicada a utilização utilização em acne. B) É altamente irritativo, utilizado em baixas concentrações. C) Atua como despigmentante, através de sua ação de quelação de íons cobre. D) É um betahidroxiácido utilizado de maneira isolada, através de aplicações sequenciais. E) Nenhuma alternativa está correta. NA PRÁTICA Algumas condutas são indispensáveis na hora de aplicar o peeling químico. Na Prática, você aprenderá como aplicar o peeling químico de forma correta, apresentando o termo de consentimento sobre todas as informações passadas antes da realização do procedimento. SAIBA MAIS Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor: Peelings químicos: revisão e aplicação prática Neste link, você verá revisão dos principais ácidos utilizados na área de Estética. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! Palestra: Peeling químico e gerenciamento da pele Assiste a este vídeo sobre peeling químico no meeting de Estética in Rio 2017. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! Peeling químico no tratamento das hipercromias Para ampliar seus conhecimentos, leia este artigo sobre o tratamento de manchas com peeling químico. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino!
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