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GÊNEROS TEXTUAIS DISCURSIVOS - Conteúdo Aula I

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Gêneros textuais/discursivos
APRESENTAÇÃO
Os gêneros textuais/discursivos se caracterizam como manifestações sociais e discursivas 
estáveis, retoricamente tipificadas, das numerosas atividades sociais: da leitura de uma notícia 
jornalística à leitura de uma mensagem do colega do WhatsApp, do preparo de um bolo ao 
cumprimento do vizinho no elevador, todas essas atividades se realizam por meio dos gêneros 
textuais/discursivos.
Além disso, em virtude das alterações tecnológicas nas várias esferas da comunicação humana, 
alguns gêneros textuais/discursivos se modificam, enquanto outros surgem, conforme as novas 
necessidades sociais. De todo modo, é importante dizer que esses eventos discursivos, embora 
relativamente estáveis, são maleáveis e plásticos, podendo sofrer modificações ao longo do 
tempo e do espaço.
Nesta Unidade de Aprendizagem, você vai conhecer algumas abordagens teóricas sobre o estudo 
dos gêneros textuais/discursivos e, ainda, reconhecer quais são os elementos que os 
fundamentam como tipos de eventos discursivos e históricos, tais como o propósito 
comunicativo, o conteúdo, o estilo e a construção composicional. Por fim, você vai identificar o 
que são e quais são os tipos textuais existentes na sociedade.
Bons estudos.
Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
Interpretar o conceito de gênero textual/discursivo.•
Reconhecer os conceitos de esfera discursiva, suporte, papel social de produtores e 
destinatários relacionando-os aos gêneros textuais/discursivos.
•
Classificar texto, tipologia textual e gênero textual/discursivo.•
DESAFIO
Os gêneros textuais/discursivos são ações sociais e discursivas que surgem e se situam nos 
meios socioculturais (MILLER, 2009). Tais práticas sociais se caracterizam muito mais por suas 
funcionalidades do que por seus elementos estruturais e linguísticos. Além disso, do mesmo 
jeito que surgem na sociedade, podem sumir (MARCUSCHI, 2002). Ademais, esses eventos 
históricos ajudam a organizar os processos comunicativos, uma vez que dão pistas de como se 
deve realizar, receber e produzir as várias ações comunicativas.
Baseado nisso, veja o Desafio a seguir:
Após a leitura e análise dessas situações, responda: embora João tenha precisado escrever três e-
mails, você acha que ele se comunicou da mesma maneira? Por quê? Quais são as características 
fundamentais que determinam cada uma das situações comunicativas em que João enviou um e-
mail?
INFOGRÁFICO
Ao longo da história, o ser humano tem estabelecido várias maneiras de se comunicar. Do 
pombo-correio à carta, da carta ao e-mail, do e-mail à mensagem instantânea, e assim por diante, 
pode-se notar que são numerosas suas possibilidades de ação comunicativa. Esses tipos de 
prática ou evento comunicativo se constituem como gêneros textuais/discursivos, que surgem e 
se modificam ao longo do tempo e espaço em virtude de vários contextos sociais, propósitos 
comunicativos e necessidades sociais.
Neste Infográfico, você vai conferir um panorama geral do desenvolvimento dos gêneros 
textuais/discursivos ao longo da história. Você vai perceber, por meio de sua leitura, que há um 
paralelo entre as mudanças sociais comunicativas, ocorridas ao longo do tempo, e o 
aparecimento de uma pluralidade de gêneros textuais/discursivos. Observe, por exemplo, que os 
gêneros textuais/discursivos da modalidade escrita têm relação com a invenção da escrita 
alfabética e posteriormente da imprensa, com a criação da prensa por Gutenberg.
CONTEÚDO DO LIVRO
Os gêneros textuais/discursivos estão vinculados a práticas sociais, históricas e discursivas, 
organizando e estabilizando as atividades comunicativas em uma dada sociedade. Produzidas 
por um esforço social e coletivo, essas ações sociais e discursivas tipificadas ajudam a pensar 
sobre como funcionam os processos comunicativos em determinado contexto social. Podendo 
ser verbais, visuais ou verbo-visuais, os gêneros textuais/discursivos, como fenômenos 
históricos, não são estanques, estáticos, invariáveis ou blocos homogêneos de comunicação.
Aliás, por terem uma relativa estabilidade – já que são maleáveis, plásticos e dinâmicos –, os 
gêneros textuais/discursivos transmutam-se, isto é, estão em processo de constante influência e 
interação entre si, adquirindo novas particularidades comunicativas em função dos mais diversos 
contextos históricos e culturais.
No capítulo Gêneros textuais/discursivos, da obra Gêneros textuais didáticos e análise de 
materiais didáticos de Letras, base teórica desta Unidade de Aprendizagem, você vai conhecer o 
universo dos gêneros textuais/discursivos, entender a relação entre os gêneros 
textuais/discursivos e as mudanças sociais e identificar alguns de seus elementos determinantes, 
como o propósito comunicativo. Além disso, você vai reconhecer o que é um tipo textual e 
como ele se estrutura.
Boa leitura.
GÊNEROS TEXTUAIS 
DIDÁTICOS E ANÁLISE 
DE MATERIAIS 
DIDÁTICOS DE LETRAS
Gêneros textuais/
discursivos
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
  Interpretar o conceito de gênero textual/discursivo.
  Reconhecer os conceitos de esfera discursiva, suporte, papel social 
de produtores e destinatários relacionando-os aos gêneros textuais/
discursivos.
  Classificar texto, tipologia textual e gênero textual.
Introdução
Os gêneros textuais/discursivos são ações sociais e discursivas que agem 
e dizem o mundo. Esses eventos discursivos, tipificados socialmente, são 
caracterizados especialmente pelo propósito ou pela funcionalidade 
comunicativa. Essas formas verbais de ação social, as quais se materializam 
em textos, são numerosas uma vez que são também inúmeras as esferas 
da comunicação humana. Por outro lado, os tipos textuais se caracte-
rizam como sequências tipológicas de base estrutural e são limitados 
em número: narração, descrição, injunção, exposição e argumentação. 
Tais sequências, contudo, se manifestam e se organizam nos textos em 
interação com outras sequências, do que se pode dizer que há uma 
heterogeneidade de tipos textuais em um mesmo texto. 
Neste capítulo, você vai estudar o que são gêneros textuais/discursivos 
e conhecer algumas de suas abordagens teóricas. Além disso, você vai 
reconhecer quais são os elementos que determinam os gêneros e, ainda, 
identificar o que são os tipos textuais.
1 Variedade dos gêneros textuais/discursivos
O mundo atual, comumente chamado de pós-moderno, tem sido constante-
mente defi nido a partir de um boom tecnológico — em especial, nos sistemas 
de informação e comunicação. Para Giddens (1991), esse mesmo mundo é 
marcadamente construído e erguido a partir de crises de tradições, modelos e 
paradigmas fi losófi cos de pensamento. Ora, o desenvolvimento social moderno 
tem se realizado por um caminho tortuoso, pleno de descontinuidades. Nesse 
amplo contexto, de efervescência tecnológica, novos suportes midiáticos 
aparecem num constante piscar de olhos. Nós, como sujeitos desse novo 
momento sócio-histórico, estamos nos deparando com uma intensa reestrutu-
ração das práticas sociais, práticas essas que provocam mudanças na maneira 
do homem sentir a si mesmo, o mundo e o outro. É difícil, assim, pensar de 
forma “descolada” da tecnologia — quem diria que um dia pensaríamos na 
impossibilidade de não possuir um celular, não é mesmo? Em virtude da 
imersão em um universo de planos virtuais de relações, outras necessidades e 
atividades sociais têm se mostrado imperativas para o mundo do humano. Isso 
se torna mais evidente quando se observa a impossibilidade de se mensurar 
a quantidade de gêneros, isto é, de ações sociais discursivas, ações retóricas 
tipifi cadas, como chama Miller (2009), que o homem utiliza para realizar suas 
atividades e se comunicar.
É importante afirmar, no entanto, que os novos gêneros não são uma 
inovação absoluta (MARCUSCHI, 2002). Sabe-se, porém, queda invenção da 
prensa impressora por Johannes Gutenberg, na Alemanha, a qual permitiu que 
a informação estivesse mais acessível à população (lembre-se de que, antes, os 
livros eram escritos principalmente em latim, e a informação se restringia a 
uma pequena parcela da população, tais como os escribas, padres, políticos e 
grupos de elite), ao surgimento dos novos veículos de comunicação de massa, 
tais como os jornais, os livros e as revistas, no final do século XIX e início 
do século XX, distintas formas de organização, comunicação e produção de 
cultura e conhecimento foram produzidas (DEFLEUR; BALL-ROKEACH, 
1993), o que gerou inevitavelmente numa ampla variedade de gêneros textuais/
discursivos. Contudo, isso não significa dizer que são propriamente as novas 
tecnologias que dão origem aos gêneros, como afirma Marcuschi (2002), 
mas a intensidade dos seus usos — há uma onipresença dos grandes suportes 
tecnológicos da comunicação, tais como, o rádio, a TV, o jornal, a revista e a 
internet nas nossas atividades comunicativas —, e as interferências que esses 
usos produzem nas nossas atividades comunicativas cotidianas — tais inter-
ferências, por sua vez, causam impacto nas maneiras com as quais sentimos 
Gêneros textuais/discursivos2
o mundo e interagimos com o outro. Em resumo: é a intensidade dos usos 
tecnológicos e a influência que eles provocam nas esferas da comunicação 
humana que levam ao surgimento de outras maneiras de se comunicar. 
Assim, existe uma infinidade de gêneros textuais/discursivos, isto é, uma 
ampla variedade de ações sociais e discursivas, que são tipificadas na sociedade 
(MILLER, 2009). São várias as “maneiras” de nos comunicarmos nas diversas 
situações sociais: por bate-papos virtuais, e-mails, mensagens instantâneas de 
celular, anúncios publicitários, notícias jornalísticas, reportagens televisivas, 
documentários cinematográficos, horóscopos, histórias em quadrinho, parece-
res científicos, sinopses de filme, artigos científicos, debates políticos, editoriais 
de revista, videoconferências, hinos nacionais, programas de rádio, consultas 
médicas, pareceres de caráter jurídico, telenovelas, telejornais, cumprimentos 
da ordem do cotidiano no elevador, entre muitas outras maneiras. Ora, o longo 
tamanho dessa lista — que é, por sua vez, interminável — se dá em virtude da 
ampla variedade de gêneros discursivos que existem e circulam nos variados 
meios sociais. Além disso, é só pensarmos que, para cada título, profissão, 
idade, grau de intimidade, papel social, etc. há numerosas possibilidades de 
se comunicar e se relacionar com o outro. 
Desse modo, a reflexão sobre o que é um gênero textual/discursivo tem 
relevância não apenas no que diz respeito às atividades de leitura, oralidade 
e escrita, mas no tocante às nossas relações interpessoais. Isso significa dizer 
também que ao nos apropriarmos do estudo sobre os gêneros textuais/discur-
sivos passamos a ter acesso ao maior número possível dos diferentes modos 
de falar, escrever, ler, ouvir, por exemplo, tendo em vista que tais modos se 
realizam como ações sociais que são tipificadas na sociedade, isto é, como 
gêneros discursivos.
Ao longo deste capítulo, fazemos uso das expressões gêneros, gêneros textuais, 
gêneros discursivos e gêneros textuais/discursivos como intercambiáveis. Embora 
algumas teorizações façam uso de uma terminologia em detrimento de outra, é 
importante pensar que os gêneros são eventos enunciativos, com significado, da ordem 
social, relacionados às esferas de comunicação humanas, e não dizem respeito apenas 
aos gêneros da modalidade (textual) escrita. Ou seja, o gênero não se materializa, de 
forma necessária, em um texto escrito. Dito de outro modo, há os gêneros das artes 
plásticas, da modalidade oral, dentre muitos outros. 
3Gêneros textuais/discursivos
Abordagens teóricas sobre os gêneros textuais/
discursivos
É preciso apontar, de antemão, que existem vários estudos que abordam e 
defi nem os gêneros a partir de certos elementos característicos. Dentre esses 
estudos, citamos aqui preferencialmente as teorizações fundamentadas por 
Marcuschi (2002), Miller (2009), Bazerman (2005), Askehave e Swales (2009), 
e Bakhtin (2003), uma vez que essas abordagens apresentam ecos umas nas 
outras, tocam em pontos em comum, e, em especial, apontam a relação do 
estudo do gênero com a sua funcionalidade social, tendo em vista o contexto 
sócio-histórico.
Em Marcuschi (2002), os gêneros textuais são caracterizados como práticas 
sociais, históricas e discursivas que organizam as atividades comunicativas 
de uma sociedade. Produzidas por um esforço coletivo, tais ações discursivas 
nos fornecem pistas do processo comunicativo em determinado contexto social. 
Apesar de serem altamente “preditivos”, os gêneros são entidades criativas, 
dinâmicas, plásticas e mutáveis, que surgem e se modificam a partir das ne-
cessidades sociais, culturais e discursivas emergentes de uma dada sociedade. 
Já em Miller (2009) destacam-se os gêneros como ações sociais tipifica-
das, que se baseiam em situações retóricas recorrentes. Na sua perspectiva, 
tanto a produção como a recepção da ação comunicativa são importantes, ou 
seja, ambos os papeis têm relevância e não somente o daquele que produz e 
responde a ação comunicativa. Dotados de traços léxico-gramaticais recorren-
tes, essas ações, tipificadas socialmente, são baseadas em práticas retóricas 
(MILLER, 2009), isto é, nas convenções discursivas que uma sociedade 
organiza como maneiras ou formas de agir conjuntamente. Importante dizer 
que essas ações estão vinculadas ao contexto e à situação (retórica). Desse 
modo, os gêneros, os quais também são caracterizados pela autora (idem) 
como “artefatos” culturais, mediam as intenções privadas e a exigência social 
ao mesmo tempo, relacionando o singular e o “individual” com o público e o 
recorrente. Para Bazerman (2005, p. 31), além de ações sociais tipificadas, os 
gêneros são também “[...] fenômenos de reconhecimento psicossocial”. Eles 
dão forma às nossas atividades comunicativas porque surgem nos processos 
sociais em que as pessoas interagem e tentam compreender umas às outras 
para compartilhar significados, intenções, motivações e propósitos comuns. 
Essas ações sociais tipificadas (padronizadas) organizam a vida das pessoas 
e as práticas das instituições.
Além disso, também partindo de uma abordagem mais funcional que es-
trutural, embora as convenções linguísticas (os elementos estruturais) também 
Gêneros textuais/discursivos4
tenham a sua importância, os gêneros são definidos por Askehave e Swales 
(2009) como uma classe de eventos sociais ou comunicativos que é modelada 
por uma estrutura a partir da realização do seu propósito comunicativo. Para 
esses teóricos, um gênero pode ter mais de um objetivo quando se inscreve 
em um grupo de propósitos, os quais são reconhecidos pelos membros das 
comunidades discursivas. Na opinião de Swales (1990, apud ASKEHAVE; 
SWALES, 2009), o critério do propósito comunicativo deveria ser privilegiado 
pelos analistas do discurso, uma vez que o propósito é o próprio fundamento do 
gênero — é por meio do propósito comunicativo (da função comunicativa) que 
se valida o gênero e imprime-lhe uma estrutura discursiva. Ao mesmo tempo, 
contudo, esse conceito traz dificuldades relativas ao seu reconhecimento, 
uma vez que pode ser difícil identificar o propósito comunicativo de alguns 
gêneros. Ora, se o propósito é a motivação da atividade social comunicativa, 
não poderíamos então dizer que esse não é o conceito que gera a própria 
noção de gênero?
De acordo com Bakhtin (2003), os gêneros do discurso são tipos relativa-
mente estáveis de enunciados, com um conteúdo temático, um estilo e uma 
construção composicional. Os gêneros refletem condições bem específicas 
das esferas da atividade humana e são formados por enunciados (este, por 
sua vez, é a unidade real da comunicação verbal, pois, para esse teórico, o 
discurso só pode existirna forma dessa unidade e a ela se molda). Dentre as 
características que Bakhtin (2003) aponta como definidoras do enunciado, 
podemos citar, de maneira geral, que o enunciado é limitado pela mudança de 
interlocutores, tem um acabamento interior específico, um propósito (objetivo) 
comunicativo, interage com outros enunciados (que fazem parte da cadeia 
de enunciados já-ditos, presentes no passado) e é sempre dirigido a alguém. 
Em virtude do pioneirismo dos estudos de Bakhtin (2003) sobre os gêneros, 
continuamos a sua abordagem de forma mais detalhada a seguir.
5Gêneros textuais/discursivos
O ensaio intitulado “Os gêneros do discurso”, que faz parte da obra Estética da criação 
verbal, foi escrito entre 1952 e 1953. Esse trabalho teórico, aparentemente não concluído, 
foi publicado inicialmente em forma de fragmentos, em 1978, na revista Estudo literário. 
A temática dos gêneros do discurso, no entanto, já tinha sido apresentada, mesmo 
que brevemente, em obra anterior intitulada Marxismo e filosofia da linguagem, datada 
de 1929, de autoria de V. N. Volochínov, um dos integrantes do chamado “Círculo 
Bakhtiniano”. 
Esse ensaio é dividido em duas seções: de início, o teórico russo analisa a problemática 
da definição dos gêneros do discurso. Posteriormente, Bakhtin (2003) discute sobre o 
enunciado como uma unidade real da comunicação verbal e discursiva, diferenciando-
-o de outras unidades da língua como as palavras e orações que são estudadas e 
analisadas como abstraídas do contexto e, portanto, do meio social. Esse segundo 
momento do ensaio constitui um ponto teórico importante para compreender que os 
discursos, constituídos por enunciados (verbais, visuais, verbo-visuais) se materializam 
em gêneros (BAKHTIN, 2003).
2 Gênero, enunciado e esfera discursiva
Mikhail Bakhtin (2003) foi um dos teóricos que infl uenciou signifi cativamente 
o estudo dos gêneros textuais/discursivos. Para esse pensador russo, os gêneros 
do discurso se caracterizam como enunciados relativamente estáveis, os quais 
apresentam:
  conteúdo temático;
  estilo; 
  construção composicional.
Tais elementos, é importante dizer, refletem condições específicas de 
cada esfera humana. Como existem numerosas esferas discursivas entre os 
homens, a riqueza e a diversidade dos gêneros do discurso são infinitas; logo, 
não há e nem pode haver um plano único para o seu estudo. E, mesmo diante 
dessa heterogeneidade funcional dos gêneros do discurso, como trazia Bakhtin 
(2003), o teórico notava que os estudos dessa temática, na sua época, tinham 
a tendência de abstrair os gêneros dessa mesma heterogeneidade que estava 
relacionada aos usos e aos contextos sociais: dito de outro modo, estudavam-
Gêneros textuais/discursivos6
-se os gêneros literários, retóricos e os do cotidiano extraídos do meio social. 
Desse modo, tais estudos, muitos de perspectiva formalista, apresentavam 
limitações. Assim, os gêneros literários eram observados apenas na perspectiva 
artístico-literária; os retóricos, apesar de atribuírem importância ao ouvinte, 
não abordavam a natureza linguística do enunciado; e, ainda, as pesquisas 
sobre os gêneros do cotidiano se limitavam a evidenciar esse discurso no nível 
de enunciados demasiado primitivos.
Um outro ponto importante na discussão sobre os gêneros do discurso se 
refere ao problema do estilo, pois, para Bakhtin (2003), o estilo é indissociável 
do tema e da composição. Há, por exemplo, gêneros que são mais propícios 
ao estilo individual, como os literários, já outros não oferecem tanto espaço 
para a variação “individual”, como a correspondência oficial e a ordem militar. 
Além disso, o teórico russo explica que a função de um enunciado e as suas 
condições de produção geram um tipo de enunciado que é relativamente estável 
quanto ao tema, à composição e ao estilo — é por esses elementos que vamos 
nos deparando com uma pluralidade de gêneros diferentes e específicos. Desse 
modo, ao estudarmos os gêneros nas sociedades, é preciso que se considere 
esses três elementos. 
Ademais, Bakhtin (2003) ainda traz que é preciso pensarmos na relação dos 
gêneros com as esferas da atividade humana. Ora, os gêneros se manifestam 
nas diversas esferas discursivas ou da comunicação humana e há numerosos 
gêneros quanto atividades humanas. É importante destacar que o domínio dos 
diversos gêneros, decorrentes das esferas discursivas das atividades humanas, 
não está necessariamente ligado ao domínio da língua. Veja bem, os gêneros 
do discurso são adquiridos, logo, não podem ser considerados uma combinação 
que é totalmente livre de estruturas ou formas que fazem parte da língua. Desse 
modo, alguém pode ter um bom domínio da sua língua e desenvolver bem 
determinado gênero, mas esse mesmo sujeito-falante pode ter dificuldades 
de produzir e/ou responder a um outro gênero em virtude desse gênero não 
fazer parte das suas práticas sociais cotidianas ou de ser inexperiente em outra 
esfera discursiva em que circulam outros gêneros.
É importante mencionar ainda que, ao estudar os gêneros, do discurso 
o teórico russo faz uma crítica ao campo da Linguística, mais estritamente 
formalista, e o da Estilística, na sua época, uma vez que tais ciências coloca-
vam em plano secundário o papel ativo do sujeito na produção e recepção do 
gênero. Ou seja, o sujeito era observado como um mero receptor, cujo papel 
não influenciava a cadeia enunciativa de produção do enunciado. No entanto, 
para Bakhtin (2003), os sujeitos têm um papel social ativo na produção e 
recepção dos enunciados, que não deve ser negligenciado. 
7Gêneros textuais/discursivos
Gênero: a cadeia ininterrupta de enunciados
Para compreender o funcionamento dos gêneros, é necessário irmos, inevita-
velmente, em busca da sua unidade básica que é o enunciado. Ora, os gêneros 
textuais/discursivos são constituídos por unidades enunciativas. Ao tratar da 
unidade enunciativa, Bakhtin (2003) aponta que o enunciado é uma unidade 
real da comunicação, unidade essa que oferece uma compreensão responsiva 
ativa por parte dos sujeitos envolvidos, por conseguinte, que faz parte da cadeia 
ininterrupta de muitos outros enunciados. Uma função de um enunciado e as 
condições envolvidas na sua produção geram um certo tipo de enunciado que 
é relativamente estável (quanto ao tema, à composição e ao estilo), ou seja, 
temos aí o gênero. E, dentre as características apontadas pelo pensador russo 
no que se refere ao enunciado, podemos citar: 
1. a alternância dos sujeitos/participantes, ou seja, o enunciado é definido 
pela troca de turnos entre os seus participantes (o “sujeito-falante” 
termina o seu enunciado para passar “a vez” ou “a palavra ao outro”, 
dando lugar a sua compreensão ativamente responsiva);
2. o acabamento específico (temporário), isto é, o enunciado possui um 
acabamento, mesmo que temporário, o qual permite dar ao outro (ao 
“sujeito-destinatário”) a abertura da possibilidade de resposta (mesmo 
que essa resposta se realize apenas na nossa mente e não se materialize 
numa fala dirigida ao outro). 
Contudo, para suscitar uma réplica ou uma resposta — o que já é um 
outro enunciado — aquele enunciado anteriormente expresso (verbalmente, 
visualmente e/ou verbo-visualmente) pelo sujeito-falante deve tratar exausti-
vamente o objeto que representa (e esse tratamento se dá conforme o gênero); 
ser definido pelo querer-dizer do autor sobre o objeto; escolher o gênero 
conforme a esfera humana e o objetivo do autor (é importante dizer que essa 
escolha, por sua vez, determinará a entonação expressiva do falante, isto é, o 
“tom” que um enunciado apresenta). 
Além disso, o enunciado, na criação do objeto do sentido, submete-se a 
dois momentos que lhe determinam a composição e o estilo: o primeiro, é 
a escolha do gênero e dos recursos linguísticos; o segundo, é a elaboração 
da expressividade do sujeito diante do objeto que trata (BAKHTIN, 2003). 
É importante destacar, assim, que não se pode falar de aspectos expressivos 
quandotratamos das unidades do sistema da língua: as unidades linguísticas, 
como unidades estruturais de uma língua, não têm juízo de valor por si só. A 
Gêneros textuais/discursivos8
entonação expressiva materializa a relação de valor do sujeito-falante com o 
objeto do seu discurso. Dito de outro modo, fora do enunciado, essa entonação 
expressiva não existe.
Imagine dois sujeitos sentados em uma sala de jantar conversando sobre as atividades 
que cada um realizou naquele dia no trabalho. Durante o gênero diálogo entre colegas 
de trabalho em ambiente informal, o segundo jovem se levanta, aproxima-se da janela 
e olha para o céu. Nesse ato, tal jovem sorri para a lua e, após vislumbrar a imagem 
do astro no céu, vira para o seu colega e diz bem. Esse bem é falado com um sorriso 
leve no rosto do jovem, o que é percebido pelo primeiro jovem como a admiração 
que aquele colega tem pelo globo lunar, admiração essa que também expressa 
gratidão e serenidade naquele momento. Tais sentidos construídos pelo enunciado 
bem durante a comunicação entre os dois jovens não são dados pelo uso do advérbio 
bem como uma palavra ou unidade linguística, isto é, unidade que faz parte da língua 
portuguesa, mas pela relação estabelecida pelos sujeitos na troca de enunciados em 
determinado contexto social. 
Desse modo, bem como unidade meramente da estrutura de uma dada língua não 
tem um tom expressivo por si só, pois a entonação expressiva do enunciado é construída 
pelos participantes envolvidos no gênero textual/discursivo a partir do contexto em 
que eles se inserem, e do papel ativo e lugar que os participantes ocupam. Portanto, 
a unidade linguística bem, quando fora de contexto, não apresenta os aspectos que 
revelariam a entonação expressiva dirigida ao outro — no caso do exemplo, dirigida 
à lua e ao colega.
Relação entre gêneros e mudanças sociais: uma breve 
reflexão
Fala-se comumente que a sociedade pós-industrial, pós-moderna e/ou pós-
-tecnológica tem se constituído a partir de crises de antigos paradigmas, como 
exposto anteriormente. Tal tema é, contudo, ainda alvo de debates contraditó-
rios. No entanto nesse mesmo espaço de confl itante discussão, pode-se notar 
um consenso quase cristalizado: após o signifi cativo salto no desenvolvimento 
tecnológico da sociedade — salto este que tem gerado o aparecimento de novos 
suportes midiáticos —, o sujeito da atualidade tem passado a lidar com uma 
intensa modifi cação de suas práticas sociais e discursivas. Estas, inclusive, 
têm se tornado cada vez mais virtuais, fl uídas e com poucas demarcações de 
9Gêneros textuais/discursivos
fronteiras. Assim, nesse contexto, deparamo-nos com diferentes necessidades 
e atividades sociais que acabam por trazer impactos diversos nas nossas ações 
sociais tipifi cadas (MILLER, 2009), isto é, nas maneiras que realizamos nossas 
atividades comunicativas.
Logo, na era atual — caracterizada também como multimidiática —, uma 
significativa mistura e influência entre os gêneros passou a ser mais visibilizada 
pelos nossos processos comunicativos. Ou seja, passou-se a destacar que os 
gêneros nunca foram, de fato, estáticos: eles estão cada vez mais misturados, 
em uma cadeia de influência mútua. Tal intercâmbio entre os gêneros, o qual 
gera uma outra infinidade de gêneros, nos mostra o quão difícil é traçar limites; 
pois os gêneros são gerados por processos de assimilação de outros anteriores 
e não param por aí. Isso é um movimento em constante desenvolvimento, uma 
vez que se liga às mudanças comunicativas e sociais que vão se dando ao longo 
da história. A esse respeito, é importante mencionar que o intercâmbio entre 
os gêneros não é um traço do mundo atual, pois elas já ocorriam no passado, 
mesmo que em menor escala. Dito de outro modo, o processo de hibridismo 
entre os gêneros já era comum nos tempos de outrora; só que, é a partir do 
desenvolvimento e do avanço das tecnologias de informação e comunicação 
que tais processos genéricos passaram a se tornar mais evidentes. 
Conforme Marcuschi (2002), a forte presença dos grandes suportes tec-
nológicos da informação — tais como o rádio, o jornal, a revista, a televisão, 
a internet, etc. —, nas atividades sociocomunicativas, tem possibilitado a 
reestruturação e reconfiguração das ações discursivas, uma vez que a tecno-
logia, definitivamente, não produz novos gêneros. De fato, por apresentarem 
uma relativa estabilidade — já que são maleáveis, plásticos e dinâmicos —, 
os gêneros transmutam-se em outros gêneros, isto é, adquirem novas particu-
laridades comunicativas em função dos mais diversos contextos históricos e 
culturais (BAKHTIN, 2003). Desse modo, com o passar dos anos, os gêneros 
podem se voltar para outros propósitos, redefinindo as interações sociais. 
Assim, embora seja mais notável hoje que novos gêneros surgem a partir das 
modificações e adaptações de outros — é o clássico caso do e-mail que veio 
para cumprir com uma necessidade social de comunicação rápida, instantânea, 
a qual era coberta séculos atrás basicamente pela carta —, é preciso pensar 
que os gêneros, como fenômenos históricos, não são estanques, estáticos, 
invariáveis ou blocos homogêneos de comunicação. Há, no entanto, certos 
gêneros textuais/discursivos que parecem ser mais monitorados, porque estão 
enraizados na nossa forma de pensar, agir e se comunicar, como é o caso de 
alguns gêneros literários (como os contos de fadas, as fábulas, as novelas, etc.) 
e jornalísticos (como, as notícias, os fait divers, as reportagens televisivas, etc.).
Gêneros textuais/discursivos10
Um outro aspecto que deve ser mencionado no estudo dos gêneros em 
relação ao intenso uso e à influência das tecnologias nas nossas formas de 
nos comunicarmos na atualidade diz respeito à disposição semiótica das 
várias linguagens. Ora, na era midiática virtual, marcada por uma intensa 
fluidez e ausência de marcações entre as modalidades oral, escrita e visual, 
os gêneros textuais/discursivos também acabaram por integrar ainda mais os 
diversos tipos de signos. Como afirma Marcuschi (2002, p. 21), “[…] a lin-
guagem dos novos gêneros torna-se cada vez mais plástica, assemelhando-se 
a uma coreografia”. Logo, os gêneros ditos emergentes constituem processos 
comunicativos integradores de diversos tipos de linguagens/signos, que vão 
desde o uso de sons e signos escritos a imagens em movimento. 
3 Texto, tipos textuais e gêneros 
Dentro do universo de discussão sobre os gêneros textuais ou discursivos, um 
outro debate se faz presente: o da classifi cação dos tipos textuais. Se, como 
afi rma Marcuschi (2002), baseando-se em Bakhtin (2003) e Bronckart (1999, 
apud MARCUSCHI, 2002), a comunicação só é feita por algum gênero, essa 
mesma comunicação é realizada por um texto. Isso porque a língua é uma 
“atividade social, histórica e cognitiva” (MARCUSCHI, 2002, p. 3) e não um 
conjunto de estruturas linguísticas que refl etem as realidades sociais. É por isso 
que os gêneros são defi nidos especialmente pela funcionalidade comunica-
tiva e/ou propósito social, ou seja, como eventos discursivos e ações sociais 
que agem e dizem o mundo (ou que nos permite agir e dizer sobre o mundo). 
Desse modo, ao se falar em gêneros textuais/discursivos, se está enfatizando 
as ações ou os eventos discursivos e sociais que estão materializados na nossa 
sociedade, os quais apresentam características sociocomunicativas, conteúdos, 
funções, estilos e composição específi ca.
Os tipos textuais, em contrapartida, são definidos pelo seu critério textual 
e linguístico, isto é, por meio da sua natureza linguística (elementos lexicais, 
sintáticos, tempos verbais, etc.). Ao todo, se fala comumente em um número 
limitado de tipos textuais, que são: 
  narração;
  argumentação;
  exposição;
  descrição; 
  injunção. 
11Gêneros textuais/discursivos
É preciso, antes de darmos continuidade ao estudo dos tipos textuais, abrir 
um parêntese sobre a definição de texto: o texto é uma entidade concreta 
em que sematerializam os gêneros textuais/discursivos. Em resumo: “[…] 
gêneros são formas verbais de ação social relativamente estáveis realizadas em 
textos situados em comunidades de práticas sociais e em domínios discursivos 
[esferas discursivas] específicos” (MARCUSCHI, 2002, p. 25). 
Para facilitar o nosso entendimento sobre tais conceitos — os quais podem 
parecer, à primeira vista, equivalentes —, veja o pequeno resumo abaixo que 
tenta relacionar conceitualmente as principais características dessas noções 
da seguinte forma:
a) os gêneros são definidos a partir das noções de ação social prática, 
circulação sócio-histórica, propósito ou funcionalidade comunicativa, 
conteúdo, estilo e composição;
b) os tipos textuais são definidos a partir da noção estrutural de sequências 
linguísticas específicas;
c) as esferas discursivas são definidas como domínios discursivos, ins-
tâncias discursivas ou esferas da atividade comunicativa humana em 
que os gêneros se realizam em forma de textos.
Tipologias textuais
De antemão, é necessário lembrar sobre o cuidado no uso da expressão “tipo 
textual” ou “tipo de texto”. Os gêneros se realizam nos tipos textuais e não 
o contrário. Ou seja, quando alguém escreve uma notícia jornalística, esse 
sujeito está fazendo uso do gênero notícia jornalística. A notícia, contudo, 
pode se realizar — e, de fato, se constrói — a partir de mais de um tipo de 
texto, uma vez que, quando relata um crime, por exemplo, traz momentos 
descritivos, narrativos e/ou argumentativos. Isso signifi ca dizer que a notícia 
jornalística, dentre muitos outros gêneros, apresenta uma heterogeneidade 
tipológica. Mesmo quando alguém caracteriza um texto sob o nome de “nar-
rativo” ou “argumentativo”, esse alguém está falando dos tipos textuais em 
que o gênero está se concretizando. Cabe aqui uma ressalva: como os tipos 
textuais são defi nidos pelas sequências linguísticas e boa parte dos textos 
apresentam mais de uma tipologia textual, não seria redutor apontar um texto 
como apenas narrativo, argumentativo, descritivo, expositivo ou injuntivo? Ao 
falar de tipos textuais, é preciso que se considere a sua heterogeneidade. Logo, 
pode-se dizer que em um texto encontramos uma variedade de sequências 
tipológicas, as quais erguem a base do texto como um todo. Observe o que 
Gêneros textuais/discursivos12
diz Marcuschi (2002, p. 29) ao apontar as principais características estruturais 
das sequencias tipológicas dos tipos textuais (narração, descrição, exposição, 
argumentação e injunção):
Um elemento central na organização de textos narrativos é a sequência tempo-
ral. Já no caso de textos descritivos predominam as sequências de localização. 
Os textos expositivos apresentam o predomínio de sequências analíticas ou 
então explicitamente explicativas. Os textos argumentativos se dão pelo pre-
domínio de sequências contrastivas explícitas. Por fim, os textos injuntivos 
apresentam o predomínio de sequências imperativas.
Portanto, os tipos textuais ou tipos de texto não são o mesmo que falar 
de gêneros textuais/discursivos. Enquanto os tipos textuais se limitam a um 
número específico de tipos de sequências tipológicas linguísticas, os gêneros 
textuais/discursivos são numerosos porque são múltiplas as formas de nos 
comunicarmos. Os tipos textuais, ainda, não são ações empíricas sociais e 
discursivas, mas entidades concretas em que se realizam tais sequências. 
Já os gêneros, longe de serem fenômenos estanques e estáticos, são eventos 
sociais, discursivos e históricos maleáveis, plásticos, que se modificam com 
o passar do tempo, podendo variar ao longo também das sociedades e dos 
meios culturais. Embora sejam tidos como ações relativamente estáveis, uma 
vez que apresentam possibilidade de interpretação quanto à produção e re-
cepção das formas de comunicação pelos sujeitos envolvidos, essas atividades 
de comunicação, mesmo que ligadas a determinada coletividade, oferecem 
espaço para uma certa “singularidade” dos agentes envolvidos. Isso porque 
nós temos um papel ativo e responsivo no processo de comunicação, o que dá 
possibilidade para pequenas variações (nem que sejam leves e sutis). 
Logo, quando tratamos de gênero estamos falando de propósitos e objeti-
vos discursivos em que a nossa comunicação linguisticamente se realiza em 
tal esfera discursiva; e, de tipo textual, de bases tipológicas ou sequências 
estruturais diversas que se organizam e se relacionam em um todo textual.
13Gêneros textuais/discursivos
Os tipos de texto, comumente definidos a partir de cinco tipologias — descrição 
(marcada pela estrutura enunciativa de detalhar características e representar per-
sonagens e espaços), narração (marcada pela estrutura enunciativa que situa a ação 
no desenvolvimento do tempo-espaço), exposição (marcada pela identificação ou 
apresentação de elementos na estrutura enunciativa), argumentação (marcada pela 
defesa de um ponto de vista) e injunção (marcada pelo predomínio de um comando, 
uma instrução uma ordem) — dificilmente aparecem de forma isolada ou singularizada 
no texto. Assim, embora se fale em textos narrativos de um lado e descritivos de outro, 
é importante ter em mente que as sequências tipológicas aparecem em relação com 
outras exercendo no todo do texto um processo de influência mútua. Logo, essa 
polarização de tipos textuais não parece estar de acordo com a nossa realidade de 
usos dos textos.
ASKEHAVE, I.; SWALES, J. M. Identificação de gênero e propósito comunicativo: um 
problema e uma possível solução. In: BEZERRA, B. G.; BIASI-RODRIGUES, B.; CAVALCANTE, 
M. M. (org.). Gêneros e sequências textuais. Recife: EDUPE, 2009. 
BAKHTIN, M. Os gêneros do discurso. In: BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. 4. ed. 
São Paulo: Martins Fontes, 2003. 
BAZERMAN, C. Atos de fala, gêneros textuais e sistemas de atividades: como os textos 
organizam atividades e pessoas. In: BAZERMAN, C. Gêneros textuais, tipificação e inte-
ração. São Paulo: Cortez, 2005. 
BRONCKART, J.-P. Atividade de linguagem, textos e discursos: por um interacionismo sócio 
discursivo. São Paulo: EDUC, 1999.
DEFLEUR, M. L.; BALL-ROKEACH, S. Etapas da evolução da comunicação humana. 
In: DEFLEUR, M. L.; BALL-ROKEACH, S. Teorias da comunicação de massa. 5. ed. Rio de 
Janeiro: Zahar, 1993.
GIDDENS, A. As consequências da modernidade. São Paulo: Editora UNESP, 1991.
MARCUSCHI, L. A. Gêneros textuais: definição e funcionalidade. In: DIONISIO, A. P.; 
MACHADO, A. R.; BEZERRA, M. A. (org.). Gêneros textuais & ensino. Rio de Janeiro: Lu-
cerna, 2002. 
Gêneros textuais/discursivos14
MILLER, C. R. Gênero como ação social. In: MILLER, C. R. Estudos sobre gênero textual, 
agência e tecnologia. Recife: Ed. Universitária da UFPE, 2009.
SWALES, J. M. Genre analysis: english in academic and research settings. Cambridge: 
Cambridge University Press, 1990.
15Gêneros textuais/discursivos
DICA DO PROFESSOR
Os gêneros textuais/discursivos são eventos sociais e práticas discursivas situadas no tempo e no 
espaço. Essas práticas, que são realizadas nas várias esferas comunicativas humanas (esfera 
jornalística, cotidiana, de divulgação científica, religiosa, humorística, etc.), permitem 
estabelecer diferentes maneiras de agir e produzir discursos coletivamente. Ou seja, é por meio 
dos gêneros textuais/discursivos que são produzidos os sentidos nos diversos processos 
interativos realizados com as pessoas das comunidades de que se faz parte.
Nesta Dica do Professor, você vai entrar no universo social dos gêneros textuais/discursivos. 
Esses eventos discursivos, que permitem estabelecer diferentes maneiras de agir, compartilhar 
sentidos e produzir discursos coletivamente, não são uma novidade tecnológica. Embora o seu 
intenso aparecimento e desenvolvimento possa parecer atrelado ao boom tecnológico, os 
gêneros textuais/discursivos se reelaboram em outros gêneros textuais/discursivos, em um 
processo contínuo, diante das necessidades sociais emergentes. Nessa discussão, os conceitosde 
funcionalidade comunicativa e de esfera da comunicação são determinantes, uma vez que o 
propósito social guia as atividades comunicativas diárias.
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EXERCÍCIOS
1) Os gêneros textuais/discursivos são ações sociais e discursivas por meio das quais as 
pessoas dizem o mundo e agem nele. É por meio dos gêneros textuais/discursivos que 
 se produz sentidos, interage-se com os outros e o mundo, e se significa as relações 
sociais.
Sobre a definição dos gêneros textuais/discursivos, assinale a alternativa correta:
A) Os gêneros textuais/discursivos são manifestações individuais de um sujeito.
B) Os gêneros textuais/discursivos são manifestações discursivas da pós-modernidade. 
C) Os gêneros textuais/discursivos são manifestações estruturais das tipologias textuais.
D) Os gêneros textuais/discursivos são manifestações sócio-históricas da sociedade.
E) Os gêneros textuais/discursivos são manifestações livres de enunciados sociais.
2) Os gêneros textuais/discursivos são práticas sociais, históricas e discursivas que 
organizam as atividades comunicativas. Nessa abordagem teórica, qual é o elemento 
que ancora os estudos dos gêneros textuais/discursivos dentro do contexto dos seus 
usos na sociedade?
Assinale a resposta correta:
A) Sequências estruturais.
B) Propósito comunicativo.
C) Heterogeneidade tipológica.
D) Linguagens/semioses.
E) Enunciados estáticos.
3) Como se sabe, os gêneros textuais/discursivos se realizam nos tipos textuais, e não o 
contrário. É necessário, assim, lembrar que gêneros textuais/discursivos é diferente 
de tipo textual.
A partir do exposto, marque a alternativa que corretamente aponta como se 
caracterizam os tipos textuais.
A) Os tipos textuais são numerosos porque são múltiplas as formas de se comunicar.
B) Os tipos textuais são fenômenos tipificados de reconhecimento sociodiscursivo.
C) Os tipos textuais são ações sociais dinâmicas dotadas de uma funcionalidade. 
D) Os tipos textuais são formados por sequências tipológicas estruturais/linguísticas.
E) Os tipos textuais são caracterizados como classes de eventos sociais e discursivos.
4) Marcuschi (2002) discute que a onipresença dos grandes suportes tecnológicos da 
informação (o rádio, o jornal, a revista, a televisão, a Internet, etc.) nas atividades 
sociocomunicativas diárias tem levado à reestruturação e reconfiguração das ações 
discursivas. Assim, mesmo apresentando uma relativa estabilidade, como os gêneros 
textuais/discursivos são maleáveis e dinâmicos, eles podem gerar outros gêneros 
textuais/discursivos.
A partir do exposto, marque a alternativa que corretamente aponta um 
gênero textual/discursivo gerado, a partir da pós-modernidade, pela influência de 
outros gêneros textuais/discursivos do passado:
A) Conversa face a face.
B) Conversa telefônica.
C) Carta pessoal.
D) Telegrama.
E) Mensagem instantânea.
As tipologias textuais são entidades concretas que se materializam em sequências 
tipológicas estruturais ou linguísticas. Tais tipologias são geralmente limitadas aos 
5) 
tipos narrativo, expositivo, descritivo, injuntivo e argumentativo. É importante dizer 
que dificilmente se encontra um texto somente narrativo ou argumentativo. 
Frequentemente os tipos se manifestam nos diversos textos de forma mesclada com 
outras.
A partir do exposto, marque a alternativa que corretamente apresenta as sequências 
tipológicas narrativa e descritiva:
A) Ela sorria distraidamente quando entrava no jardim da sua casa.
B) Acima da mesa, havia livros de Filosofia e Teologia.
C) O maior órgão do corpo humano é a pele.
D) O campo das artes tem sido desvalorizado com o passar dos anos.
E) Você deve tomar um copo de água em jejum de manhã.
NA PRÁTICA
Na sociedade, existe uma variedade de gêneros textuais/discursivos, isto é, uma quantidade 
ilimitada de ações sociais e discursivas retoricamente tipificadas e dotadas de uma certa 
estabilidade. São diversas as maneiras de comunicar-se nas inúmeras situações sociais com as 
quais é possível deparar-se diariamente. A sinopse de um filme é um exemplo de gênero 
textual/discursivo frequentemente produzido e lido por muitos de nós no cotidiano das práticas 
sociais.
Neste Na Prática, você vai conhecer a professora de Língua Portuguesa Rafaela e o gênero 
textual/discursivo sinopse de filme. Rafaela, que é professora do sexto ano, vai ensinar aos seus 
alunos como fazer uma análise geral dos tipos textuais presentes em uma sinopse de filme, 
gênero textual/discursivo esse que circula em muitas das esferas comunicativas cotidianas.
SAIBA MAIS
Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do 
professor:
Transmutação: criação e inovação nos gêneros do discurso
Neste ensaio, é discutido o conceito de transmutação dos gêneros do discurso a partir da 
abordagem bakhtiniana sobre o tema. Indispensável para quem deseja compreender mais sobre o 
processo de criação e modificação dos gêneros na sociedade atual.
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Gêneros da linguagem na perspectiva da complexidade
Neste artigo, é apresentado o conceito de gêneros da linguagem em substituição à noção de 
gêneros textuais/discursivos, uma vez que há um debate terminológico no Brasil sobre a 
diferenciação dessa noção.
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Gêneros de discurso, escrita e ensino
Neste dossiê é apresentado um breve percurso histórico sobre estudo dos gêneros 
textuais/discursivos no Brasil. Consta ainda a relação do seu estudo com as práticas de ensino na 
sociedade brasileira.
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