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Gêneros textuais/discursivos APRESENTAÇÃO Os gêneros textuais/discursivos se caracterizam como manifestações sociais e discursivas estáveis, retoricamente tipificadas, das numerosas atividades sociais: da leitura de uma notícia jornalística à leitura de uma mensagem do colega do WhatsApp, do preparo de um bolo ao cumprimento do vizinho no elevador, todas essas atividades se realizam por meio dos gêneros textuais/discursivos. Além disso, em virtude das alterações tecnológicas nas várias esferas da comunicação humana, alguns gêneros textuais/discursivos se modificam, enquanto outros surgem, conforme as novas necessidades sociais. De todo modo, é importante dizer que esses eventos discursivos, embora relativamente estáveis, são maleáveis e plásticos, podendo sofrer modificações ao longo do tempo e do espaço. Nesta Unidade de Aprendizagem, você vai conhecer algumas abordagens teóricas sobre o estudo dos gêneros textuais/discursivos e, ainda, reconhecer quais são os elementos que os fundamentam como tipos de eventos discursivos e históricos, tais como o propósito comunicativo, o conteúdo, o estilo e a construção composicional. Por fim, você vai identificar o que são e quais são os tipos textuais existentes na sociedade. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Interpretar o conceito de gênero textual/discursivo.• Reconhecer os conceitos de esfera discursiva, suporte, papel social de produtores e destinatários relacionando-os aos gêneros textuais/discursivos. • Classificar texto, tipologia textual e gênero textual/discursivo.• DESAFIO Os gêneros textuais/discursivos são ações sociais e discursivas que surgem e se situam nos meios socioculturais (MILLER, 2009). Tais práticas sociais se caracterizam muito mais por suas funcionalidades do que por seus elementos estruturais e linguísticos. Além disso, do mesmo jeito que surgem na sociedade, podem sumir (MARCUSCHI, 2002). Ademais, esses eventos históricos ajudam a organizar os processos comunicativos, uma vez que dão pistas de como se deve realizar, receber e produzir as várias ações comunicativas. Baseado nisso, veja o Desafio a seguir: Após a leitura e análise dessas situações, responda: embora João tenha precisado escrever três e- mails, você acha que ele se comunicou da mesma maneira? Por quê? Quais são as características fundamentais que determinam cada uma das situações comunicativas em que João enviou um e- mail? INFOGRÁFICO Ao longo da história, o ser humano tem estabelecido várias maneiras de se comunicar. Do pombo-correio à carta, da carta ao e-mail, do e-mail à mensagem instantânea, e assim por diante, pode-se notar que são numerosas suas possibilidades de ação comunicativa. Esses tipos de prática ou evento comunicativo se constituem como gêneros textuais/discursivos, que surgem e se modificam ao longo do tempo e espaço em virtude de vários contextos sociais, propósitos comunicativos e necessidades sociais. Neste Infográfico, você vai conferir um panorama geral do desenvolvimento dos gêneros textuais/discursivos ao longo da história. Você vai perceber, por meio de sua leitura, que há um paralelo entre as mudanças sociais comunicativas, ocorridas ao longo do tempo, e o aparecimento de uma pluralidade de gêneros textuais/discursivos. Observe, por exemplo, que os gêneros textuais/discursivos da modalidade escrita têm relação com a invenção da escrita alfabética e posteriormente da imprensa, com a criação da prensa por Gutenberg. CONTEÚDO DO LIVRO Os gêneros textuais/discursivos estão vinculados a práticas sociais, históricas e discursivas, organizando e estabilizando as atividades comunicativas em uma dada sociedade. Produzidas por um esforço social e coletivo, essas ações sociais e discursivas tipificadas ajudam a pensar sobre como funcionam os processos comunicativos em determinado contexto social. Podendo ser verbais, visuais ou verbo-visuais, os gêneros textuais/discursivos, como fenômenos históricos, não são estanques, estáticos, invariáveis ou blocos homogêneos de comunicação. Aliás, por terem uma relativa estabilidade – já que são maleáveis, plásticos e dinâmicos –, os gêneros textuais/discursivos transmutam-se, isto é, estão em processo de constante influência e interação entre si, adquirindo novas particularidades comunicativas em função dos mais diversos contextos históricos e culturais. No capítulo Gêneros textuais/discursivos, da obra Gêneros textuais didáticos e análise de materiais didáticos de Letras, base teórica desta Unidade de Aprendizagem, você vai conhecer o universo dos gêneros textuais/discursivos, entender a relação entre os gêneros textuais/discursivos e as mudanças sociais e identificar alguns de seus elementos determinantes, como o propósito comunicativo. Além disso, você vai reconhecer o que é um tipo textual e como ele se estrutura. Boa leitura. GÊNEROS TEXTUAIS DIDÁTICOS E ANÁLISE DE MATERIAIS DIDÁTICOS DE LETRAS Gêneros textuais/ discursivos Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Interpretar o conceito de gênero textual/discursivo. Reconhecer os conceitos de esfera discursiva, suporte, papel social de produtores e destinatários relacionando-os aos gêneros textuais/ discursivos. Classificar texto, tipologia textual e gênero textual. Introdução Os gêneros textuais/discursivos são ações sociais e discursivas que agem e dizem o mundo. Esses eventos discursivos, tipificados socialmente, são caracterizados especialmente pelo propósito ou pela funcionalidade comunicativa. Essas formas verbais de ação social, as quais se materializam em textos, são numerosas uma vez que são também inúmeras as esferas da comunicação humana. Por outro lado, os tipos textuais se caracte- rizam como sequências tipológicas de base estrutural e são limitados em número: narração, descrição, injunção, exposição e argumentação. Tais sequências, contudo, se manifestam e se organizam nos textos em interação com outras sequências, do que se pode dizer que há uma heterogeneidade de tipos textuais em um mesmo texto. Neste capítulo, você vai estudar o que são gêneros textuais/discursivos e conhecer algumas de suas abordagens teóricas. Além disso, você vai reconhecer quais são os elementos que determinam os gêneros e, ainda, identificar o que são os tipos textuais. 1 Variedade dos gêneros textuais/discursivos O mundo atual, comumente chamado de pós-moderno, tem sido constante- mente defi nido a partir de um boom tecnológico — em especial, nos sistemas de informação e comunicação. Para Giddens (1991), esse mesmo mundo é marcadamente construído e erguido a partir de crises de tradições, modelos e paradigmas fi losófi cos de pensamento. Ora, o desenvolvimento social moderno tem se realizado por um caminho tortuoso, pleno de descontinuidades. Nesse amplo contexto, de efervescência tecnológica, novos suportes midiáticos aparecem num constante piscar de olhos. Nós, como sujeitos desse novo momento sócio-histórico, estamos nos deparando com uma intensa reestrutu- ração das práticas sociais, práticas essas que provocam mudanças na maneira do homem sentir a si mesmo, o mundo e o outro. É difícil, assim, pensar de forma “descolada” da tecnologia — quem diria que um dia pensaríamos na impossibilidade de não possuir um celular, não é mesmo? Em virtude da imersão em um universo de planos virtuais de relações, outras necessidades e atividades sociais têm se mostrado imperativas para o mundo do humano. Isso se torna mais evidente quando se observa a impossibilidade de se mensurar a quantidade de gêneros, isto é, de ações sociais discursivas, ações retóricas tipifi cadas, como chama Miller (2009), que o homem utiliza para realizar suas atividades e se comunicar. É importante afirmar, no entanto, que os novos gêneros não são uma inovação absoluta (MARCUSCHI, 2002). Sabe-se, porém, queda invenção da prensa impressora por Johannes Gutenberg, na Alemanha, a qual permitiu que a informação estivesse mais acessível à população (lembre-se de que, antes, os livros eram escritos principalmente em latim, e a informação se restringia a uma pequena parcela da população, tais como os escribas, padres, políticos e grupos de elite), ao surgimento dos novos veículos de comunicação de massa, tais como os jornais, os livros e as revistas, no final do século XIX e início do século XX, distintas formas de organização, comunicação e produção de cultura e conhecimento foram produzidas (DEFLEUR; BALL-ROKEACH, 1993), o que gerou inevitavelmente numa ampla variedade de gêneros textuais/ discursivos. Contudo, isso não significa dizer que são propriamente as novas tecnologias que dão origem aos gêneros, como afirma Marcuschi (2002), mas a intensidade dos seus usos — há uma onipresença dos grandes suportes tecnológicos da comunicação, tais como, o rádio, a TV, o jornal, a revista e a internet nas nossas atividades comunicativas —, e as interferências que esses usos produzem nas nossas atividades comunicativas cotidianas — tais inter- ferências, por sua vez, causam impacto nas maneiras com as quais sentimos Gêneros textuais/discursivos2 o mundo e interagimos com o outro. Em resumo: é a intensidade dos usos tecnológicos e a influência que eles provocam nas esferas da comunicação humana que levam ao surgimento de outras maneiras de se comunicar. Assim, existe uma infinidade de gêneros textuais/discursivos, isto é, uma ampla variedade de ações sociais e discursivas, que são tipificadas na sociedade (MILLER, 2009). São várias as “maneiras” de nos comunicarmos nas diversas situações sociais: por bate-papos virtuais, e-mails, mensagens instantâneas de celular, anúncios publicitários, notícias jornalísticas, reportagens televisivas, documentários cinematográficos, horóscopos, histórias em quadrinho, parece- res científicos, sinopses de filme, artigos científicos, debates políticos, editoriais de revista, videoconferências, hinos nacionais, programas de rádio, consultas médicas, pareceres de caráter jurídico, telenovelas, telejornais, cumprimentos da ordem do cotidiano no elevador, entre muitas outras maneiras. Ora, o longo tamanho dessa lista — que é, por sua vez, interminável — se dá em virtude da ampla variedade de gêneros discursivos que existem e circulam nos variados meios sociais. Além disso, é só pensarmos que, para cada título, profissão, idade, grau de intimidade, papel social, etc. há numerosas possibilidades de se comunicar e se relacionar com o outro. Desse modo, a reflexão sobre o que é um gênero textual/discursivo tem relevância não apenas no que diz respeito às atividades de leitura, oralidade e escrita, mas no tocante às nossas relações interpessoais. Isso significa dizer também que ao nos apropriarmos do estudo sobre os gêneros textuais/discur- sivos passamos a ter acesso ao maior número possível dos diferentes modos de falar, escrever, ler, ouvir, por exemplo, tendo em vista que tais modos se realizam como ações sociais que são tipificadas na sociedade, isto é, como gêneros discursivos. Ao longo deste capítulo, fazemos uso das expressões gêneros, gêneros textuais, gêneros discursivos e gêneros textuais/discursivos como intercambiáveis. Embora algumas teorizações façam uso de uma terminologia em detrimento de outra, é importante pensar que os gêneros são eventos enunciativos, com significado, da ordem social, relacionados às esferas de comunicação humanas, e não dizem respeito apenas aos gêneros da modalidade (textual) escrita. Ou seja, o gênero não se materializa, de forma necessária, em um texto escrito. Dito de outro modo, há os gêneros das artes plásticas, da modalidade oral, dentre muitos outros. 3Gêneros textuais/discursivos Abordagens teóricas sobre os gêneros textuais/ discursivos É preciso apontar, de antemão, que existem vários estudos que abordam e defi nem os gêneros a partir de certos elementos característicos. Dentre esses estudos, citamos aqui preferencialmente as teorizações fundamentadas por Marcuschi (2002), Miller (2009), Bazerman (2005), Askehave e Swales (2009), e Bakhtin (2003), uma vez que essas abordagens apresentam ecos umas nas outras, tocam em pontos em comum, e, em especial, apontam a relação do estudo do gênero com a sua funcionalidade social, tendo em vista o contexto sócio-histórico. Em Marcuschi (2002), os gêneros textuais são caracterizados como práticas sociais, históricas e discursivas que organizam as atividades comunicativas de uma sociedade. Produzidas por um esforço coletivo, tais ações discursivas nos fornecem pistas do processo comunicativo em determinado contexto social. Apesar de serem altamente “preditivos”, os gêneros são entidades criativas, dinâmicas, plásticas e mutáveis, que surgem e se modificam a partir das ne- cessidades sociais, culturais e discursivas emergentes de uma dada sociedade. Já em Miller (2009) destacam-se os gêneros como ações sociais tipifica- das, que se baseiam em situações retóricas recorrentes. Na sua perspectiva, tanto a produção como a recepção da ação comunicativa são importantes, ou seja, ambos os papeis têm relevância e não somente o daquele que produz e responde a ação comunicativa. Dotados de traços léxico-gramaticais recorren- tes, essas ações, tipificadas socialmente, são baseadas em práticas retóricas (MILLER, 2009), isto é, nas convenções discursivas que uma sociedade organiza como maneiras ou formas de agir conjuntamente. Importante dizer que essas ações estão vinculadas ao contexto e à situação (retórica). Desse modo, os gêneros, os quais também são caracterizados pela autora (idem) como “artefatos” culturais, mediam as intenções privadas e a exigência social ao mesmo tempo, relacionando o singular e o “individual” com o público e o recorrente. Para Bazerman (2005, p. 31), além de ações sociais tipificadas, os gêneros são também “[...] fenômenos de reconhecimento psicossocial”. Eles dão forma às nossas atividades comunicativas porque surgem nos processos sociais em que as pessoas interagem e tentam compreender umas às outras para compartilhar significados, intenções, motivações e propósitos comuns. Essas ações sociais tipificadas (padronizadas) organizam a vida das pessoas e as práticas das instituições. Além disso, também partindo de uma abordagem mais funcional que es- trutural, embora as convenções linguísticas (os elementos estruturais) também Gêneros textuais/discursivos4 tenham a sua importância, os gêneros são definidos por Askehave e Swales (2009) como uma classe de eventos sociais ou comunicativos que é modelada por uma estrutura a partir da realização do seu propósito comunicativo. Para esses teóricos, um gênero pode ter mais de um objetivo quando se inscreve em um grupo de propósitos, os quais são reconhecidos pelos membros das comunidades discursivas. Na opinião de Swales (1990, apud ASKEHAVE; SWALES, 2009), o critério do propósito comunicativo deveria ser privilegiado pelos analistas do discurso, uma vez que o propósito é o próprio fundamento do gênero — é por meio do propósito comunicativo (da função comunicativa) que se valida o gênero e imprime-lhe uma estrutura discursiva. Ao mesmo tempo, contudo, esse conceito traz dificuldades relativas ao seu reconhecimento, uma vez que pode ser difícil identificar o propósito comunicativo de alguns gêneros. Ora, se o propósito é a motivação da atividade social comunicativa, não poderíamos então dizer que esse não é o conceito que gera a própria noção de gênero? De acordo com Bakhtin (2003), os gêneros do discurso são tipos relativa- mente estáveis de enunciados, com um conteúdo temático, um estilo e uma construção composicional. Os gêneros refletem condições bem específicas das esferas da atividade humana e são formados por enunciados (este, por sua vez, é a unidade real da comunicação verbal, pois, para esse teórico, o discurso só pode existirna forma dessa unidade e a ela se molda). Dentre as características que Bakhtin (2003) aponta como definidoras do enunciado, podemos citar, de maneira geral, que o enunciado é limitado pela mudança de interlocutores, tem um acabamento interior específico, um propósito (objetivo) comunicativo, interage com outros enunciados (que fazem parte da cadeia de enunciados já-ditos, presentes no passado) e é sempre dirigido a alguém. Em virtude do pioneirismo dos estudos de Bakhtin (2003) sobre os gêneros, continuamos a sua abordagem de forma mais detalhada a seguir. 5Gêneros textuais/discursivos O ensaio intitulado “Os gêneros do discurso”, que faz parte da obra Estética da criação verbal, foi escrito entre 1952 e 1953. Esse trabalho teórico, aparentemente não concluído, foi publicado inicialmente em forma de fragmentos, em 1978, na revista Estudo literário. A temática dos gêneros do discurso, no entanto, já tinha sido apresentada, mesmo que brevemente, em obra anterior intitulada Marxismo e filosofia da linguagem, datada de 1929, de autoria de V. N. Volochínov, um dos integrantes do chamado “Círculo Bakhtiniano”. Esse ensaio é dividido em duas seções: de início, o teórico russo analisa a problemática da definição dos gêneros do discurso. Posteriormente, Bakhtin (2003) discute sobre o enunciado como uma unidade real da comunicação verbal e discursiva, diferenciando- -o de outras unidades da língua como as palavras e orações que são estudadas e analisadas como abstraídas do contexto e, portanto, do meio social. Esse segundo momento do ensaio constitui um ponto teórico importante para compreender que os discursos, constituídos por enunciados (verbais, visuais, verbo-visuais) se materializam em gêneros (BAKHTIN, 2003). 2 Gênero, enunciado e esfera discursiva Mikhail Bakhtin (2003) foi um dos teóricos que infl uenciou signifi cativamente o estudo dos gêneros textuais/discursivos. Para esse pensador russo, os gêneros do discurso se caracterizam como enunciados relativamente estáveis, os quais apresentam: conteúdo temático; estilo; construção composicional. Tais elementos, é importante dizer, refletem condições específicas de cada esfera humana. Como existem numerosas esferas discursivas entre os homens, a riqueza e a diversidade dos gêneros do discurso são infinitas; logo, não há e nem pode haver um plano único para o seu estudo. E, mesmo diante dessa heterogeneidade funcional dos gêneros do discurso, como trazia Bakhtin (2003), o teórico notava que os estudos dessa temática, na sua época, tinham a tendência de abstrair os gêneros dessa mesma heterogeneidade que estava relacionada aos usos e aos contextos sociais: dito de outro modo, estudavam- Gêneros textuais/discursivos6 -se os gêneros literários, retóricos e os do cotidiano extraídos do meio social. Desse modo, tais estudos, muitos de perspectiva formalista, apresentavam limitações. Assim, os gêneros literários eram observados apenas na perspectiva artístico-literária; os retóricos, apesar de atribuírem importância ao ouvinte, não abordavam a natureza linguística do enunciado; e, ainda, as pesquisas sobre os gêneros do cotidiano se limitavam a evidenciar esse discurso no nível de enunciados demasiado primitivos. Um outro ponto importante na discussão sobre os gêneros do discurso se refere ao problema do estilo, pois, para Bakhtin (2003), o estilo é indissociável do tema e da composição. Há, por exemplo, gêneros que são mais propícios ao estilo individual, como os literários, já outros não oferecem tanto espaço para a variação “individual”, como a correspondência oficial e a ordem militar. Além disso, o teórico russo explica que a função de um enunciado e as suas condições de produção geram um tipo de enunciado que é relativamente estável quanto ao tema, à composição e ao estilo — é por esses elementos que vamos nos deparando com uma pluralidade de gêneros diferentes e específicos. Desse modo, ao estudarmos os gêneros nas sociedades, é preciso que se considere esses três elementos. Ademais, Bakhtin (2003) ainda traz que é preciso pensarmos na relação dos gêneros com as esferas da atividade humana. Ora, os gêneros se manifestam nas diversas esferas discursivas ou da comunicação humana e há numerosos gêneros quanto atividades humanas. É importante destacar que o domínio dos diversos gêneros, decorrentes das esferas discursivas das atividades humanas, não está necessariamente ligado ao domínio da língua. Veja bem, os gêneros do discurso são adquiridos, logo, não podem ser considerados uma combinação que é totalmente livre de estruturas ou formas que fazem parte da língua. Desse modo, alguém pode ter um bom domínio da sua língua e desenvolver bem determinado gênero, mas esse mesmo sujeito-falante pode ter dificuldades de produzir e/ou responder a um outro gênero em virtude desse gênero não fazer parte das suas práticas sociais cotidianas ou de ser inexperiente em outra esfera discursiva em que circulam outros gêneros. É importante mencionar ainda que, ao estudar os gêneros, do discurso o teórico russo faz uma crítica ao campo da Linguística, mais estritamente formalista, e o da Estilística, na sua época, uma vez que tais ciências coloca- vam em plano secundário o papel ativo do sujeito na produção e recepção do gênero. Ou seja, o sujeito era observado como um mero receptor, cujo papel não influenciava a cadeia enunciativa de produção do enunciado. No entanto, para Bakhtin (2003), os sujeitos têm um papel social ativo na produção e recepção dos enunciados, que não deve ser negligenciado. 7Gêneros textuais/discursivos Gênero: a cadeia ininterrupta de enunciados Para compreender o funcionamento dos gêneros, é necessário irmos, inevita- velmente, em busca da sua unidade básica que é o enunciado. Ora, os gêneros textuais/discursivos são constituídos por unidades enunciativas. Ao tratar da unidade enunciativa, Bakhtin (2003) aponta que o enunciado é uma unidade real da comunicação, unidade essa que oferece uma compreensão responsiva ativa por parte dos sujeitos envolvidos, por conseguinte, que faz parte da cadeia ininterrupta de muitos outros enunciados. Uma função de um enunciado e as condições envolvidas na sua produção geram um certo tipo de enunciado que é relativamente estável (quanto ao tema, à composição e ao estilo), ou seja, temos aí o gênero. E, dentre as características apontadas pelo pensador russo no que se refere ao enunciado, podemos citar: 1. a alternância dos sujeitos/participantes, ou seja, o enunciado é definido pela troca de turnos entre os seus participantes (o “sujeito-falante” termina o seu enunciado para passar “a vez” ou “a palavra ao outro”, dando lugar a sua compreensão ativamente responsiva); 2. o acabamento específico (temporário), isto é, o enunciado possui um acabamento, mesmo que temporário, o qual permite dar ao outro (ao “sujeito-destinatário”) a abertura da possibilidade de resposta (mesmo que essa resposta se realize apenas na nossa mente e não se materialize numa fala dirigida ao outro). Contudo, para suscitar uma réplica ou uma resposta — o que já é um outro enunciado — aquele enunciado anteriormente expresso (verbalmente, visualmente e/ou verbo-visualmente) pelo sujeito-falante deve tratar exausti- vamente o objeto que representa (e esse tratamento se dá conforme o gênero); ser definido pelo querer-dizer do autor sobre o objeto; escolher o gênero conforme a esfera humana e o objetivo do autor (é importante dizer que essa escolha, por sua vez, determinará a entonação expressiva do falante, isto é, o “tom” que um enunciado apresenta). Além disso, o enunciado, na criação do objeto do sentido, submete-se a dois momentos que lhe determinam a composição e o estilo: o primeiro, é a escolha do gênero e dos recursos linguísticos; o segundo, é a elaboração da expressividade do sujeito diante do objeto que trata (BAKHTIN, 2003). É importante destacar, assim, que não se pode falar de aspectos expressivos quandotratamos das unidades do sistema da língua: as unidades linguísticas, como unidades estruturais de uma língua, não têm juízo de valor por si só. A Gêneros textuais/discursivos8 entonação expressiva materializa a relação de valor do sujeito-falante com o objeto do seu discurso. Dito de outro modo, fora do enunciado, essa entonação expressiva não existe. Imagine dois sujeitos sentados em uma sala de jantar conversando sobre as atividades que cada um realizou naquele dia no trabalho. Durante o gênero diálogo entre colegas de trabalho em ambiente informal, o segundo jovem se levanta, aproxima-se da janela e olha para o céu. Nesse ato, tal jovem sorri para a lua e, após vislumbrar a imagem do astro no céu, vira para o seu colega e diz bem. Esse bem é falado com um sorriso leve no rosto do jovem, o que é percebido pelo primeiro jovem como a admiração que aquele colega tem pelo globo lunar, admiração essa que também expressa gratidão e serenidade naquele momento. Tais sentidos construídos pelo enunciado bem durante a comunicação entre os dois jovens não são dados pelo uso do advérbio bem como uma palavra ou unidade linguística, isto é, unidade que faz parte da língua portuguesa, mas pela relação estabelecida pelos sujeitos na troca de enunciados em determinado contexto social. Desse modo, bem como unidade meramente da estrutura de uma dada língua não tem um tom expressivo por si só, pois a entonação expressiva do enunciado é construída pelos participantes envolvidos no gênero textual/discursivo a partir do contexto em que eles se inserem, e do papel ativo e lugar que os participantes ocupam. Portanto, a unidade linguística bem, quando fora de contexto, não apresenta os aspectos que revelariam a entonação expressiva dirigida ao outro — no caso do exemplo, dirigida à lua e ao colega. Relação entre gêneros e mudanças sociais: uma breve reflexão Fala-se comumente que a sociedade pós-industrial, pós-moderna e/ou pós- -tecnológica tem se constituído a partir de crises de antigos paradigmas, como exposto anteriormente. Tal tema é, contudo, ainda alvo de debates contraditó- rios. No entanto nesse mesmo espaço de confl itante discussão, pode-se notar um consenso quase cristalizado: após o signifi cativo salto no desenvolvimento tecnológico da sociedade — salto este que tem gerado o aparecimento de novos suportes midiáticos —, o sujeito da atualidade tem passado a lidar com uma intensa modifi cação de suas práticas sociais e discursivas. Estas, inclusive, têm se tornado cada vez mais virtuais, fl uídas e com poucas demarcações de 9Gêneros textuais/discursivos fronteiras. Assim, nesse contexto, deparamo-nos com diferentes necessidades e atividades sociais que acabam por trazer impactos diversos nas nossas ações sociais tipifi cadas (MILLER, 2009), isto é, nas maneiras que realizamos nossas atividades comunicativas. Logo, na era atual — caracterizada também como multimidiática —, uma significativa mistura e influência entre os gêneros passou a ser mais visibilizada pelos nossos processos comunicativos. Ou seja, passou-se a destacar que os gêneros nunca foram, de fato, estáticos: eles estão cada vez mais misturados, em uma cadeia de influência mútua. Tal intercâmbio entre os gêneros, o qual gera uma outra infinidade de gêneros, nos mostra o quão difícil é traçar limites; pois os gêneros são gerados por processos de assimilação de outros anteriores e não param por aí. Isso é um movimento em constante desenvolvimento, uma vez que se liga às mudanças comunicativas e sociais que vão se dando ao longo da história. A esse respeito, é importante mencionar que o intercâmbio entre os gêneros não é um traço do mundo atual, pois elas já ocorriam no passado, mesmo que em menor escala. Dito de outro modo, o processo de hibridismo entre os gêneros já era comum nos tempos de outrora; só que, é a partir do desenvolvimento e do avanço das tecnologias de informação e comunicação que tais processos genéricos passaram a se tornar mais evidentes. Conforme Marcuschi (2002), a forte presença dos grandes suportes tec- nológicos da informação — tais como o rádio, o jornal, a revista, a televisão, a internet, etc. —, nas atividades sociocomunicativas, tem possibilitado a reestruturação e reconfiguração das ações discursivas, uma vez que a tecno- logia, definitivamente, não produz novos gêneros. De fato, por apresentarem uma relativa estabilidade — já que são maleáveis, plásticos e dinâmicos —, os gêneros transmutam-se em outros gêneros, isto é, adquirem novas particu- laridades comunicativas em função dos mais diversos contextos históricos e culturais (BAKHTIN, 2003). Desse modo, com o passar dos anos, os gêneros podem se voltar para outros propósitos, redefinindo as interações sociais. Assim, embora seja mais notável hoje que novos gêneros surgem a partir das modificações e adaptações de outros — é o clássico caso do e-mail que veio para cumprir com uma necessidade social de comunicação rápida, instantânea, a qual era coberta séculos atrás basicamente pela carta —, é preciso pensar que os gêneros, como fenômenos históricos, não são estanques, estáticos, invariáveis ou blocos homogêneos de comunicação. Há, no entanto, certos gêneros textuais/discursivos que parecem ser mais monitorados, porque estão enraizados na nossa forma de pensar, agir e se comunicar, como é o caso de alguns gêneros literários (como os contos de fadas, as fábulas, as novelas, etc.) e jornalísticos (como, as notícias, os fait divers, as reportagens televisivas, etc.). Gêneros textuais/discursivos10 Um outro aspecto que deve ser mencionado no estudo dos gêneros em relação ao intenso uso e à influência das tecnologias nas nossas formas de nos comunicarmos na atualidade diz respeito à disposição semiótica das várias linguagens. Ora, na era midiática virtual, marcada por uma intensa fluidez e ausência de marcações entre as modalidades oral, escrita e visual, os gêneros textuais/discursivos também acabaram por integrar ainda mais os diversos tipos de signos. Como afirma Marcuschi (2002, p. 21), “[…] a lin- guagem dos novos gêneros torna-se cada vez mais plástica, assemelhando-se a uma coreografia”. Logo, os gêneros ditos emergentes constituem processos comunicativos integradores de diversos tipos de linguagens/signos, que vão desde o uso de sons e signos escritos a imagens em movimento. 3 Texto, tipos textuais e gêneros Dentro do universo de discussão sobre os gêneros textuais ou discursivos, um outro debate se faz presente: o da classifi cação dos tipos textuais. Se, como afi rma Marcuschi (2002), baseando-se em Bakhtin (2003) e Bronckart (1999, apud MARCUSCHI, 2002), a comunicação só é feita por algum gênero, essa mesma comunicação é realizada por um texto. Isso porque a língua é uma “atividade social, histórica e cognitiva” (MARCUSCHI, 2002, p. 3) e não um conjunto de estruturas linguísticas que refl etem as realidades sociais. É por isso que os gêneros são defi nidos especialmente pela funcionalidade comunica- tiva e/ou propósito social, ou seja, como eventos discursivos e ações sociais que agem e dizem o mundo (ou que nos permite agir e dizer sobre o mundo). Desse modo, ao se falar em gêneros textuais/discursivos, se está enfatizando as ações ou os eventos discursivos e sociais que estão materializados na nossa sociedade, os quais apresentam características sociocomunicativas, conteúdos, funções, estilos e composição específi ca. Os tipos textuais, em contrapartida, são definidos pelo seu critério textual e linguístico, isto é, por meio da sua natureza linguística (elementos lexicais, sintáticos, tempos verbais, etc.). Ao todo, se fala comumente em um número limitado de tipos textuais, que são: narração; argumentação; exposição; descrição; injunção. 11Gêneros textuais/discursivos É preciso, antes de darmos continuidade ao estudo dos tipos textuais, abrir um parêntese sobre a definição de texto: o texto é uma entidade concreta em que sematerializam os gêneros textuais/discursivos. Em resumo: “[…] gêneros são formas verbais de ação social relativamente estáveis realizadas em textos situados em comunidades de práticas sociais e em domínios discursivos [esferas discursivas] específicos” (MARCUSCHI, 2002, p. 25). Para facilitar o nosso entendimento sobre tais conceitos — os quais podem parecer, à primeira vista, equivalentes —, veja o pequeno resumo abaixo que tenta relacionar conceitualmente as principais características dessas noções da seguinte forma: a) os gêneros são definidos a partir das noções de ação social prática, circulação sócio-histórica, propósito ou funcionalidade comunicativa, conteúdo, estilo e composição; b) os tipos textuais são definidos a partir da noção estrutural de sequências linguísticas específicas; c) as esferas discursivas são definidas como domínios discursivos, ins- tâncias discursivas ou esferas da atividade comunicativa humana em que os gêneros se realizam em forma de textos. Tipologias textuais De antemão, é necessário lembrar sobre o cuidado no uso da expressão “tipo textual” ou “tipo de texto”. Os gêneros se realizam nos tipos textuais e não o contrário. Ou seja, quando alguém escreve uma notícia jornalística, esse sujeito está fazendo uso do gênero notícia jornalística. A notícia, contudo, pode se realizar — e, de fato, se constrói — a partir de mais de um tipo de texto, uma vez que, quando relata um crime, por exemplo, traz momentos descritivos, narrativos e/ou argumentativos. Isso signifi ca dizer que a notícia jornalística, dentre muitos outros gêneros, apresenta uma heterogeneidade tipológica. Mesmo quando alguém caracteriza um texto sob o nome de “nar- rativo” ou “argumentativo”, esse alguém está falando dos tipos textuais em que o gênero está se concretizando. Cabe aqui uma ressalva: como os tipos textuais são defi nidos pelas sequências linguísticas e boa parte dos textos apresentam mais de uma tipologia textual, não seria redutor apontar um texto como apenas narrativo, argumentativo, descritivo, expositivo ou injuntivo? Ao falar de tipos textuais, é preciso que se considere a sua heterogeneidade. Logo, pode-se dizer que em um texto encontramos uma variedade de sequências tipológicas, as quais erguem a base do texto como um todo. Observe o que Gêneros textuais/discursivos12 diz Marcuschi (2002, p. 29) ao apontar as principais características estruturais das sequencias tipológicas dos tipos textuais (narração, descrição, exposição, argumentação e injunção): Um elemento central na organização de textos narrativos é a sequência tempo- ral. Já no caso de textos descritivos predominam as sequências de localização. Os textos expositivos apresentam o predomínio de sequências analíticas ou então explicitamente explicativas. Os textos argumentativos se dão pelo pre- domínio de sequências contrastivas explícitas. Por fim, os textos injuntivos apresentam o predomínio de sequências imperativas. Portanto, os tipos textuais ou tipos de texto não são o mesmo que falar de gêneros textuais/discursivos. Enquanto os tipos textuais se limitam a um número específico de tipos de sequências tipológicas linguísticas, os gêneros textuais/discursivos são numerosos porque são múltiplas as formas de nos comunicarmos. Os tipos textuais, ainda, não são ações empíricas sociais e discursivas, mas entidades concretas em que se realizam tais sequências. Já os gêneros, longe de serem fenômenos estanques e estáticos, são eventos sociais, discursivos e históricos maleáveis, plásticos, que se modificam com o passar do tempo, podendo variar ao longo também das sociedades e dos meios culturais. Embora sejam tidos como ações relativamente estáveis, uma vez que apresentam possibilidade de interpretação quanto à produção e re- cepção das formas de comunicação pelos sujeitos envolvidos, essas atividades de comunicação, mesmo que ligadas a determinada coletividade, oferecem espaço para uma certa “singularidade” dos agentes envolvidos. Isso porque nós temos um papel ativo e responsivo no processo de comunicação, o que dá possibilidade para pequenas variações (nem que sejam leves e sutis). Logo, quando tratamos de gênero estamos falando de propósitos e objeti- vos discursivos em que a nossa comunicação linguisticamente se realiza em tal esfera discursiva; e, de tipo textual, de bases tipológicas ou sequências estruturais diversas que se organizam e se relacionam em um todo textual. 13Gêneros textuais/discursivos Os tipos de texto, comumente definidos a partir de cinco tipologias — descrição (marcada pela estrutura enunciativa de detalhar características e representar per- sonagens e espaços), narração (marcada pela estrutura enunciativa que situa a ação no desenvolvimento do tempo-espaço), exposição (marcada pela identificação ou apresentação de elementos na estrutura enunciativa), argumentação (marcada pela defesa de um ponto de vista) e injunção (marcada pelo predomínio de um comando, uma instrução uma ordem) — dificilmente aparecem de forma isolada ou singularizada no texto. Assim, embora se fale em textos narrativos de um lado e descritivos de outro, é importante ter em mente que as sequências tipológicas aparecem em relação com outras exercendo no todo do texto um processo de influência mútua. Logo, essa polarização de tipos textuais não parece estar de acordo com a nossa realidade de usos dos textos. ASKEHAVE, I.; SWALES, J. M. Identificação de gênero e propósito comunicativo: um problema e uma possível solução. In: BEZERRA, B. G.; BIASI-RODRIGUES, B.; CAVALCANTE, M. M. (org.). Gêneros e sequências textuais. Recife: EDUPE, 2009. BAKHTIN, M. Os gêneros do discurso. In: BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2003. BAZERMAN, C. Atos de fala, gêneros textuais e sistemas de atividades: como os textos organizam atividades e pessoas. In: BAZERMAN, C. Gêneros textuais, tipificação e inte- ração. São Paulo: Cortez, 2005. BRONCKART, J.-P. Atividade de linguagem, textos e discursos: por um interacionismo sócio discursivo. São Paulo: EDUC, 1999. DEFLEUR, M. L.; BALL-ROKEACH, S. Etapas da evolução da comunicação humana. In: DEFLEUR, M. L.; BALL-ROKEACH, S. Teorias da comunicação de massa. 5. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1993. GIDDENS, A. As consequências da modernidade. São Paulo: Editora UNESP, 1991. MARCUSCHI, L. A. Gêneros textuais: definição e funcionalidade. In: DIONISIO, A. P.; MACHADO, A. R.; BEZERRA, M. A. (org.). Gêneros textuais & ensino. Rio de Janeiro: Lu- cerna, 2002. Gêneros textuais/discursivos14 MILLER, C. R. Gênero como ação social. In: MILLER, C. R. Estudos sobre gênero textual, agência e tecnologia. Recife: Ed. Universitária da UFPE, 2009. SWALES, J. M. Genre analysis: english in academic and research settings. Cambridge: Cambridge University Press, 1990. 15Gêneros textuais/discursivos DICA DO PROFESSOR Os gêneros textuais/discursivos são eventos sociais e práticas discursivas situadas no tempo e no espaço. Essas práticas, que são realizadas nas várias esferas comunicativas humanas (esfera jornalística, cotidiana, de divulgação científica, religiosa, humorística, etc.), permitem estabelecer diferentes maneiras de agir e produzir discursos coletivamente. Ou seja, é por meio dos gêneros textuais/discursivos que são produzidos os sentidos nos diversos processos interativos realizados com as pessoas das comunidades de que se faz parte. Nesta Dica do Professor, você vai entrar no universo social dos gêneros textuais/discursivos. Esses eventos discursivos, que permitem estabelecer diferentes maneiras de agir, compartilhar sentidos e produzir discursos coletivamente, não são uma novidade tecnológica. Embora o seu intenso aparecimento e desenvolvimento possa parecer atrelado ao boom tecnológico, os gêneros textuais/discursivos se reelaboram em outros gêneros textuais/discursivos, em um processo contínuo, diante das necessidades sociais emergentes. Nessa discussão, os conceitosde funcionalidade comunicativa e de esfera da comunicação são determinantes, uma vez que o propósito social guia as atividades comunicativas diárias. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! EXERCÍCIOS 1) Os gêneros textuais/discursivos são ações sociais e discursivas por meio das quais as pessoas dizem o mundo e agem nele. É por meio dos gêneros textuais/discursivos que se produz sentidos, interage-se com os outros e o mundo, e se significa as relações sociais. Sobre a definição dos gêneros textuais/discursivos, assinale a alternativa correta: A) Os gêneros textuais/discursivos são manifestações individuais de um sujeito. B) Os gêneros textuais/discursivos são manifestações discursivas da pós-modernidade. C) Os gêneros textuais/discursivos são manifestações estruturais das tipologias textuais. D) Os gêneros textuais/discursivos são manifestações sócio-históricas da sociedade. E) Os gêneros textuais/discursivos são manifestações livres de enunciados sociais. 2) Os gêneros textuais/discursivos são práticas sociais, históricas e discursivas que organizam as atividades comunicativas. Nessa abordagem teórica, qual é o elemento que ancora os estudos dos gêneros textuais/discursivos dentro do contexto dos seus usos na sociedade? Assinale a resposta correta: A) Sequências estruturais. B) Propósito comunicativo. C) Heterogeneidade tipológica. D) Linguagens/semioses. E) Enunciados estáticos. 3) Como se sabe, os gêneros textuais/discursivos se realizam nos tipos textuais, e não o contrário. É necessário, assim, lembrar que gêneros textuais/discursivos é diferente de tipo textual. A partir do exposto, marque a alternativa que corretamente aponta como se caracterizam os tipos textuais. A) Os tipos textuais são numerosos porque são múltiplas as formas de se comunicar. B) Os tipos textuais são fenômenos tipificados de reconhecimento sociodiscursivo. C) Os tipos textuais são ações sociais dinâmicas dotadas de uma funcionalidade. D) Os tipos textuais são formados por sequências tipológicas estruturais/linguísticas. E) Os tipos textuais são caracterizados como classes de eventos sociais e discursivos. 4) Marcuschi (2002) discute que a onipresença dos grandes suportes tecnológicos da informação (o rádio, o jornal, a revista, a televisão, a Internet, etc.) nas atividades sociocomunicativas diárias tem levado à reestruturação e reconfiguração das ações discursivas. Assim, mesmo apresentando uma relativa estabilidade, como os gêneros textuais/discursivos são maleáveis e dinâmicos, eles podem gerar outros gêneros textuais/discursivos. A partir do exposto, marque a alternativa que corretamente aponta um gênero textual/discursivo gerado, a partir da pós-modernidade, pela influência de outros gêneros textuais/discursivos do passado: A) Conversa face a face. B) Conversa telefônica. C) Carta pessoal. D) Telegrama. E) Mensagem instantânea. As tipologias textuais são entidades concretas que se materializam em sequências tipológicas estruturais ou linguísticas. Tais tipologias são geralmente limitadas aos 5) tipos narrativo, expositivo, descritivo, injuntivo e argumentativo. É importante dizer que dificilmente se encontra um texto somente narrativo ou argumentativo. Frequentemente os tipos se manifestam nos diversos textos de forma mesclada com outras. A partir do exposto, marque a alternativa que corretamente apresenta as sequências tipológicas narrativa e descritiva: A) Ela sorria distraidamente quando entrava no jardim da sua casa. B) Acima da mesa, havia livros de Filosofia e Teologia. C) O maior órgão do corpo humano é a pele. D) O campo das artes tem sido desvalorizado com o passar dos anos. E) Você deve tomar um copo de água em jejum de manhã. NA PRÁTICA Na sociedade, existe uma variedade de gêneros textuais/discursivos, isto é, uma quantidade ilimitada de ações sociais e discursivas retoricamente tipificadas e dotadas de uma certa estabilidade. São diversas as maneiras de comunicar-se nas inúmeras situações sociais com as quais é possível deparar-se diariamente. A sinopse de um filme é um exemplo de gênero textual/discursivo frequentemente produzido e lido por muitos de nós no cotidiano das práticas sociais. Neste Na Prática, você vai conhecer a professora de Língua Portuguesa Rafaela e o gênero textual/discursivo sinopse de filme. Rafaela, que é professora do sexto ano, vai ensinar aos seus alunos como fazer uma análise geral dos tipos textuais presentes em uma sinopse de filme, gênero textual/discursivo esse que circula em muitas das esferas comunicativas cotidianas. SAIBA MAIS Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor: Transmutação: criação e inovação nos gêneros do discurso Neste ensaio, é discutido o conceito de transmutação dos gêneros do discurso a partir da abordagem bakhtiniana sobre o tema. Indispensável para quem deseja compreender mais sobre o processo de criação e modificação dos gêneros na sociedade atual. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! Gêneros da linguagem na perspectiva da complexidade Neste artigo, é apresentado o conceito de gêneros da linguagem em substituição à noção de gêneros textuais/discursivos, uma vez que há um debate terminológico no Brasil sobre a diferenciação dessa noção. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! Gêneros de discurso, escrita e ensino Neste dossiê é apresentado um breve percurso histórico sobre estudo dos gêneros textuais/discursivos no Brasil. Consta ainda a relação do seu estudo com as práticas de ensino na sociedade brasileira. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino!
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