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Variações linguísticas APRESENTAÇÃO Você sabia que a língua evolui com o tempo e é constituída por diferentes formas, que são utilizadas de acordo com os diferentes contextos de interação? Sabia que os principais fatores causadores das variações da língua são o histórico, o geográfico e o social? Mas como ocorrem essas variações? Nesta Unidade de Aprendizagem, você verá o que são as variações linguísticas e de que maneira a língua pode se modificar em contextos históricos, regionais, sociais, culturais, entre outros. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Definir o que são as variações linguísticas.• Identificar os fatores que causam as variações linguísticas.• Relacionar as variações linguísticas com a utilização da língua no contexto de comunicação. • DESAFIO As variações linguísticas regionais são muito bem evidenciadas no português brasileiro. O Brasil é formado por regiões onde os modos de falar são bastante peculiares e servem de elemento de identidade do seu respectivo povo falante. Essa identidade pode ser determinada pelo uso de variações do léxico, pela maneira de pronunciar determinados sons ou pelos arranjos sintáticos utilizados. O seu desafio consiste em observar a cena a seguir e identificar as características da região do Brasil a que pertencem os falantes. INFOGRÁFICO Você conhece as principais variações linguísticas presentes no país? Veja no infográfico! CONTEÚDO DO LIVRO A língua é utilizada nos diferentes contextos sociais, históricos e geográficos. É um organismo passível de mudanças e variações conforme a passagem do tempo, as regiões onde é utilizada e os grupos sociais a que pertence. Para aprofundar os seus conhecimentos sobre o assunto, leia o trecho selecionado do livro "Português: Práticas de leitura e escrita", de Tânia Aiub. Inicie a leitura no item O papel social da língua e vá até o final do item Importante. Boa leitura! LINGUÍSTICA GERAL Marlise Buchweitz Variações linguísticas Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Definir variação linguística. Identificar os fatores que causam as variações linguísticas. Relacionar as variações linguísticas à utilização da língua no contexto de comunicação. Introdução Neste capítulo, estudaremos o conceito de variação linguística, bem como exemplos desse fenômeno e os fatores que contribuem para que haja inúmeras variações de um mesmo idioma — tanto em relação aos diferentes países que adotam a língua portuguesa como oficial quanto em relação às distintas comunidades falantes dentro de um mesmo território. Ao final deste estudo, analisaremos as possibilidades de esta- belecer conexões entre as variações linguísticas e a utilização da língua no contexto de comunicação, com especial atenção dedicada a não estigmatizar qualquer falante por causa da sua variante linguística. O que são variações linguísticas? Primeiramente, considere as seguintes assertivas: “[...] as línguas são um produto das convenções e dos valores sociais, de onde derivam as regras que tornam compreensíveis as intercomunicações dos indivíduos e asseguram a sobrevivência e coesão das sociedades” (LOPES, 2007, p. 27); “[...] qualquer utilização da língua por um falante tem de ser por ele planejada para que sua mensagem atinja determinados objetos, com exclusão de outros” (LOPES, 2007, p. 27). Tem-se, assim, uma dupla perspectiva da língua: as “regras linguísticas são regras do comportamento social dos indivíduos” e cada falante precisa atender “às regras indispensáveis à consecução dos objetivos que pretende alcançar” ou então correrá o risco de incorrer em uma mensagem equivocada (LOPES, 2007, p. 27). A sequência lógica da comunicação eficiente não deve ser confundida com o conhecimento ou o uso adequado da norma culta de uma língua. Por sua vez, essa é, “do ponto de vista histórico-geográfico, apenas o falar de um grupo (o dos escritores, políticos etc.)”, os quais adquiriram um modo específico de produzir comunicação (LOPES, 2007, p. 27). Além disso, a norma culta padrão de uma língua está relacionada à gramática, isto é, às regras que estabelecem a organização das palavras dentro de uma frase e a estruturação das informações em uma sequência lógica, seguindo a concor- dância entre todos os verbetes utilizados para a efetivação da comunicação, seja ela oral ou escrita. Com base nessa introdução, você pode entender o papel da Linguística: uma ciência descritiva e explicativa, jamais normativa ou prescritiva. Essa ciência pressupõe que todas as línguas são iguais quanto às suas potencialidades, de maneira que não há uma mais “rica” ou mais “pobre”. Do mesmo modo, uma forma de falar em um dado período histórico de um país não é superior à forma de falar em outro período, o que remete à ideia de que os principais fatores causadores das variações linguísticas são históricos, geográficos e sociais. Vale destacar que a Linguística não segue os mesmos princípios da gra- mática normativa: “[...] nossas gramáticas normativas atuais são herança de uma tradição clássica greco-romana, cuja norma se baseia numa concepção de língua homogênea, tida como um padrão abstrato que existe independente dos indivíduos que a falam. As regras gramaticais são rígidas e fixadas” (GÖRSKI; COELHO, 2009, documento on-line). A partir desse entendimento, enquanto professor, você deve atentar à diversidade de variações nos modos de falar dos seus educandos de acordo com os contextos de origem de cada um deles. Assim, cabe perceber que: [...] a língua é historicamente situada e heterogênea, isto é, está sujeita a variações e mudanças no espaço e no tempo. Em outras palavras, o sistema linguístico não é homogêneo, mas é constituído de regras variáveis (ao lado Variações linguísticas2 de regras categóricas), que atuam em todos os níveis linguísticos: fonológi- co, morfológico, sintático, lexical e discursivo (GÖRSKI; COELHO, 2009, documento on-line). As variações linguísticas, portanto, são: regionais ou geográficas; sociais; estilísticas. Destaca-se, por fim, que a Linguística considera a diversidade entre os falantes de uma mesma língua. A seguir, você aprenderá mais sobre cada uma das variações mencionadas anteriormente, assim como as diversas formas possíveis de falar adotadas por sujeitos falantes de um mesmo idioma. Variação regional, ou geográfica Conhecida como variação regional, ou diatópica (do grego dia = através e topos = lugar), relaciona-se às diferenças linguísticas observadas entre falan- tes oriundos de regiões distintas de um mesmo país ou de diferentes países (GÖRSKI; COELHO, 2009). A língua portuguesa do Brasil, de Portugual e de certos países africanos: Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, São Tomé e Príncipe e, mais recentemente, Guiné Equatorial. A língua portuguesa do Nordeste, do Sul e das demais regiões ou estados brasileiros. Variação social Também conhecida como variação diastrática, refere-se a fatores que di- zem respeito “[...] à organização socioeconômica e cultural da comunidade” (GÖRSKI; COELHO, 2009, documento on-line). Nesse caso, são importantes quesitos de variação a classe social, o sexo, a idade, o grau de escolaridade e a profi ssão dos indivíduos. 3Variações linguísticas Vocalização do /-lh-/ > /-i-/, como em mulher/muié. Rotacização do /-l-/ > /-r-/ em encontros consonantais, como em blusa/brusa. Assimilação do /-nd-/ > /-n-/, como em cantando/cantano. Concordância verbo-nominal, como em as meninas chegaram cedo/as menina chegou cedo. Variação estilística Também denominada variação contextual, ou de registro, manifesta-se em diferentes situações comunicativas do dia a dia. Quando o contexto sociocul- tural exige maior formalidade: [...] usamos uma linguagem mais cuidada e elaborada – o registro formal; em situações familiares e informais,usamos uma linguagem coloquial – o registro informal [...]. A variação estilística é regulada pelos domínios em que se dão as práticas sociais (escola, igreja, lar, trabalho, clube, etc.), pelos papéis sociais en- volvidos (professor-aluno, pai-filho, patrão-empregado, etc.), pelo tópico (religião, esporte, brincadeiras, etc.) (GÖRSKI; COELHO, 2009, documento on-line). Fatores que causam as variações linguísticas Fundamentado na defi nição de cada uma das variações linguísticas, você já deve ter percebido quais fatores interferem na comunicação. Posto isso, observe cada um deles em detalhes no Quadro 1. Fator Explicação Espaço geográfico/ paisagem cultural Cada país ou estado possui particularidades relativas a costumes, tradições, jeitos de ser, modos de viver e de agir dos grupos étnicos que participaram do seu processo de colonização. No caso da língua portuguesa, há diferentes modos de falar no Brasil e em outros países cuja influencia de outros idiomas autóctones e de imigrantes faz-se presente. Quadro 1. Fatores de interferência nas variações linguísticas (Continua) Variações linguísticas4 Fator Explicação Classe social O acesso à educação e à cultura de acordo com a classe social e as necessidades de uso da língua interferem na variação linguística dos falantes. Sexo Cada falante de acordo com seu gênero conta com expressões e um vocabulário internalizado que condizem com as suas necessidades diárias. Por exemplo, assuntos que dizem respeito mais a um grupo do que a outro interferem nos modos de falar de ambos. Idade O fator idade interfere não só nos gostos como também nos jeitos e trejeitos quando os sujeitos se comunicam uns com os outros. Nesse âmbito, situam-se as gírias típicas de cada idade, como as de adolescentes ou as de adultos que compartilharam uma mesma época histórica. Grau de escolaridade Quanto mais o sujeito estuda, mais próximo da norma culta padrão tende a ser o seu modo de falar, pois nos espaços escolar e acadêmico os indivíduos são estimulados a compreender as normas de funcionamento das línguas e são exigidos, gradativamente, de acordo com as séries, anos e cursos frequentados, a atender às regras gramaticais da língua conforme o estabelecido nos planos curriculares nacionais (PCNs) e na Base Nacional Nacional Comum Curricular (BNCC). Tais instrumentos são levados em consideração pelas Secretarias de Educação no momento da elaboração dos conteúdos programáticos para cada série escolar. Profissão A ocupação ou o espaço de trabalho de cada indivíduo exige dele modos específicos e uma linguagem típica não só em relação a conceitos, mas também quanto ao estabelecimento de inter-relações com os colegas de profissão. Local da prática social Cada um dos espaços sociais nos quais os indivíduos se inter-relacionam fazem com que a comunicação ocorra de uma ou de outra forma. Por exemplo, em uma escola, usam-se vocativos como “senhor (a)” e “professor (a)” para indicar a existência de uma hierarquia entre os educandos e os professores e gestores em vez de apesar adotar-se “você” ou “tu”. Quadro 1. Fatores de interferência nas variações linguísticas (Continuação) (Continua) 5Variações linguísticas A partir disso, é possível observar o quanto cada um desses fatores é deter- minante no modo de expressar-se dos sujeitos falantes de uma mesma língua. Portanto, em sala de aula, você se confrontará com diferentes indivíduos, cada um proveniente de um contexto específico, e perceberá que outros fatores implicam em jeitos distintos de realizar a comunicação. Além disso, você deverá atentar aos tópicos abordados, pois a temática pode induzir à manifestação de opiniões mais enfáticas ou menos interessadas conforme o conhecimento de mundo dos educandos e a sua familiaridade com o tema. Como professor, você deve relativizar todas essas análises quando olhar para os seus educandos e quando desenvolver o seu planejamento de conteúdos e procedimentos metodológicos. Variações linguísticas versus utilização da língua nos contextos de comunicação De acordo com Görski e Coelho (2009, documento on-line), “[...] não custa lembrar que todas as línguas são adequadas às necessidades e caracterís- ticas da cultura a que servem e igualmente válidas como instrumentos de comunicação social, sendo inconcebível, portanto, afi rmar que uma língua ou variedade linguística é superior ou inferior a outra”. Assim, cada variação linguística é adequada dentro do contexto de comunicação em que se insere. Fator Explicação Papel social A posição social ocupada (pai, filho, professor, aluno, patrão, empregado, etc.) faz com que o modo de se expressar seja distinto em relação ao dos outros sujeitos envolvidos na comunicação. Tópico O assunto em torno do qual ocorre a comunicação provoca distintas formas de expressão. Por exemplo, se um sujeito está irritado porque o seu time de futebol perdeu, provavelmente usará adjetivos pejorativos para falar mal o técnico do time ou os jogadores. Quadro 1. Fatores de interferência nas variações linguísticas (Continuação) Variações linguísticas6 A língua precisa servir ao sujeito emissor da mensagem como meio para que a comunicação seja possível com o seu receptor e, portanto, o seu modo de falar não deve ser visto como impeditivo para a compreensão da mensagem. Ainda segundo os autores (GÖRSKI; COELHO, 2009, documento on-line), quanto às variações da língua de acordo com os sujeitos falantes: [...] algumas variáveis se revelarão na sociedade como estereótipos, isto é, como alvos de comentários sociais estigmatizados. Outras variáveis se revelarão como marcadores, por receberem uma consistente valoração social e estilística, como marca de prestígio, por exemplo. E outras variáveis, ainda, se revelarão como indicadores apenas, não sendo reconhecidas nem comentadas pela sociedade. Observe cada um desses: Estereótipos — expressões como “nóis fumo” (em vez de “nós fomos”) ou “estrupo” (em vez de “estupro”) geram predefinições ou preconceitos sobre a escolaridade de quem está falando. Marcadores — “[...] casos como a variação dos pronomes pessoais de se- gunda pessoa, ‘tu’ e ‘você’, e dos pronomes possessivos de segunda pessoa, ‘teu’ e ‘seu’, usados em certas regiões do sul do Brasil, podem ilustrar esse tipo de forma linguística” (GÖRSKI; COELHO, 2009, documento on-line). Destaca-se que esses marcadores não indicam prestígio ou variação mais aceita em relação a outra, uma vez que apenas demonstram as particula- ridades das regiões geográficas quanto ao idioma falado. Indicadores — são características que não indicam uma distinção social. Um exemplo é a pronúncia de palavras que contêm “ei”, nas quais o “i” sofre apagamento na fala, como em “armero”, quando a norma culta da língua sugere a pronúncia “armeiro”. Com essas informações, é possível perceber que as variações linguísticas se fazem presentes nos diferentes contextos de comunicação. Elas permitem identificar o meio social dos emissores de informação em alguns casos, embora nem em todos. Portanto, não se deve estigmatizar um falante da língua, pois cada um é um sujeito único e as suas condições sociais, econômicas, geográficas, situacionais, enfim, interferem no modo como utiliza da língua. Assim, enquanto professor da área de linguagens, é preciso enfatizar a necessidade do olhar 7Variações linguísticas atento para além do que o indivíduo consegue expor enquanto sujeito que está em construção da sua habilidade linguística. Todos estão, sempre, em processo de aperfeiçoamento dos seus modos de usar os signos linguísticos, que, por sua vez, também não se mantêm constantes, já que a evolução da língua é algo contínuo e acompanha o processo de evolução das histórias pessoais e locais. GÖRSKI, E. M.; COELHO, I. L. Variação Linguística e Ensino de Gramática. Working Papers em Linguística, Florianópolis, v. 10, n. 1, p. 73-91, fev. 2009. Disponível em: <https://perio- dicos.ufsc.br/index.php/workingpapers/article/view/1984-8420.2009v10n1p73/12022>.Acesso em: 26 nov. 2018. LOPES, E. Fundamentos de linguística contemporânea. São Paulo: Cultrix, 2007. Variações linguísticas8 Conteúdo: DICA DO PROFESSOR O vídeo apresenta alguns exemplos de variações linguísticas do português brasileiro. Confira! Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! EXERCÍCIOS 1) Sobre o objeto de estudo da Linguística, assinale a alternativa CORRETA: A) O objetivo dos linguistas é analisar como as línguas naturais se estruturam e funcionam. B) A maneira como nos comunicamos por meio da língua não é capaz de revelar nossos papéis sociais e o que pensamos sobre eles, bem como os papéis que atribuímos às demais pessoas. C) Enquanto a visão tradicional se propõe a entender como a língua é, a Linguística se preocupa em ditar como a língua deve ser. D) As diferenças sociais marcadas pela língua não constituem parâmetro para as pessoas se identificarem com um grupo social ou outro. E) Não há diferenças linguísticas relacionados a sexo, faixa etária e grau de escolarização. 2) Sobre a variação linguística, é CORRETO afirmar que: A) A língua é um conjunto de formas estanques e presas a uma gramática que se baseia apenas em grandes nomes da literatura. Podemos verificar, através de vários estudos, que não apenas fatores linguísticos, mas B) também fatores extralinguísticos (sociais) podem provocar variação e mudança na língua. C) A forma como falamos não tem o poder de nos destacar e nos inserir em grupos, de acordo com o lugar em que nascemos, com nosso grau de escolaridade, com nossa idade, com nosso sexo e com o contexto em que nos encontramos nas mais diferentes situações comunicativas. D) Devemos falar como escrevemos e escrever de acordo com as regras gramaticais provindas da tradição literária escrita. E) As pessoas discriminadas por características da fala não têm conhecimento da língua, e a variação de seu falar em relação ao de outras pessoas é desestruturado. 3) Assinale a alternativa que apresenta CORRETAMENTE o tipo de variação linguística e o seu respectivo exemplo: A) Variação sintática. Ex.: chiado do carioca. B) Variação morfológica. Ex.: o "r" caipira. C) Variação lexical. Ex.: mexerica X bergamota. D) Variação morfológica. Ex.: mandioca X macaxeira X aipim. E) Variação sintática. Ex.: tu foi X tu foste. Leia a crônica abaixo, de Luís Fernando Verissimo. Pegaram o cara em flagrante roubando galinhas de um galinheiro e levaram para a delegacia. - Que vida mansa, heim, vagabundo ? Roubando galinha para ter o que comer sem 4) precisar trabalhar. Vai para cadeia! - Não era para mim não. Era para vender. - Pior. Venda de artigo roubado. Concorrência desleal com o comércio estabelecido. Sem-vergonha! - Mas eu vendia mais caro. - Mais caro? - Espalhei o boato que as galinhas do galinheiro eram bichadas e as minhas não. E que as do galinheiro botavam ovos brancos enquanto as minhas botavam ovos marrons. - Mas eram as mesmas galinhas, safado. - Os ovos das minhas eu pintava. - Que grande pilantra... Mas já havia um certo respeito no tom do delegado. - Ainda bem que tu vai preso. Se o dono do galinheiro te pega... - Já me pegou. Fiz um acerto com ele. Me comprometi a não espalhar mais boato sobre as galinhas dele, e ele se comprometeu a aumentar os preços dos produtos dele para ficarem iguais aos meus. Convidamos outros donos de galinheiro a entrar no nosso esquema. Formamos um oligopólio. Ou, no caso, um ovigopólio. - E o que você faz com o lucro do seu negócio? - Especulo com dólar. Invisto alguma coisa no tráfico de drogas. Comprei alguns deputados. Dois ou três ministros. Consegui exclusividade no suprimento de galinhas e ovos para programas de alimentação do governo e superfaturo os preços. O delegado mandou pedir um cafezinho para o preso e perguntou se a cadeira estava confortável, se ele não queria uma almofada. Depois perguntou: - Doutor, não me leve a mal, mas com tudo isso, o senhor não está milionário? - Trilionário. Sem contar o que eu sonego de Imposto de Renda e o que tenho depositado ilegalmente no exterior. - E, com tudo isso, o senhor continua roubando galinhas? - Às vezes. Sabe como é. - Não sei não, excelência. Me explique. - É que, em todas essas minhas atividades, eu sinto falta de uma coisa. Do risco, entende? Daquela sensação de perigo, de estar fazendo uma coisa proibida, da iminência do castigo. Só roubando galinhas eu me sinto realmente um ladrão, e isso é excitante. Como agora. Fui preso, finalmente. Vou para a cadeia. É uma experiência nova. - O que é isso, excelência? O senhor não vai ser preso não. - Mas fui pego em flagrante pulando a cerca do galinheiro! - Sim. Mas primário, e com esses antecedentes... Fonte da crônica: Novas Comédias da Vida Privada (1996, ed. L&PM), No início da crônica, o personagem identificado como delegado chama o outro de “vagabundo”, “sem-vergonha”, “safado” e “pilantra”. No final da crônica, chama o personagem de “doutor”, “senhor” e “excelência”. Com base nisso, é possível afirmar que o humor da crônica é assegurado pela: A) Variação fonético-fonológica, pois o delegado simula um outro sotaque para falar com o interrogado. B) Variação diacrônica, pois o delegado incorpora termos em desuso no estado atual da língua portuguesa. C) Variação sintática, pois o delegado passa a obedecer regras de concordância verbal e nominal. D) Variação estilístico-pragmática, pois o delegado altera de um estilo informal e desrespeitoso para um formal e respeitoso. E) Variação morfológica, pois o delegado passa a conjugar os verbos de modo diferente. 5) Línguas contemporâneas como o português, o espanhol, o francês, o italiano e o romeno foram originadas a partir de modificações do latim. Essa modificação, que acontece com o passar do tempo, é chamada de: A) Diastrática. B) Diafásica. C) Diatópica. D) Diamésica. E) Diacrônica. NA PRÁTICA Jackson é um rapaz de 18 anos que foi criado em uma comunidade da periferia da cidade. Como a maioria dos garotos da sua idade, acostumou-se à linguagem utilizada pelos jovens da comunidade, cheia de gírias e construções sintáticas diferentes da norma culta. O modo de falar de Jackson é aceito e amplamente tido como natural na comunidade, fazendo com que os falantes se identifiquem como grupo. SAIBA MAIS Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor: Português - Variações linguísticas - Variação fônica. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! Variação linguística - Professor Cézar Bodão. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino!
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