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A M E N O R R E I A S LAYANE SILVA Prevalência: 3 a 4% em populações na idade reprodutiva. Diagnóstico diferencial: realizado com base nas necessidades para a geração de ciclos menstruais normais. Amenorreia é diagnosticada em mulheres (1) que ainda não tenham menstruado aos 14 anos e sem sinais de desenvolvimento puberal; (2) que não tenham menstruado aos 16 anos, mesmo com outros sinais de puberdade; ou (3) que já menstruaram, mas estão sem menstruar por 3 ciclos prévios ou 6 meses. Além disso, pode ser definida como primária (nenhuma menstruação anterior) ou secundária (cessação da menstruação). se houver gravidez, o corpo lúteo é “salvo” pela hCG secretada por células do sinciciotrofoblasto, assumindo o papel de manutenção do corpo lúteo no início da gestação. se a gravidez não se concretizar, a secreção de progesterona e de estrogênio é interrompida, resultando em descamação endometrial, causando um sangramento por falta de progesterona. Para produção do padrão de sangramento uterino cíclico e controlado há necessidade de regulação temporal e quantitativa dos hormônios reprodutivos, inicialmente, o hipotálamo libera pulsos de GnRH na circulação portal hipotalâmica-hipofisária, este estimula a síntese e a secreção das gonadotrofinas (LH e FSH) pelas células gonadotróficas da adeno-hipófise. As gonadotrofinas entram na circulação periférica e atuam no ovário para estimular desenvolvimento folicular e produção de hormônios ovarianos (hormônio esteroides - estrogênio, progesterona e androgênios; e hormônio peptídeo inibina, que bloqueia a síntese e secreção de FSH). Os esteroides gonadais tem ação inibitória na hipófise e hipotálamo, mas o desenvolvimento de folículos maduros resulta em elevação rápida nos níveis de estrogênio, que atuam positivamente na hipófise para gerar pico de liberação de LH no meio do ciclo - os estrogênios circulantes estimulam desenvolvimento de revestimento endometrial proliferativo espesso. Após a ovulação, o LH estimula luteinização das células foliculares da granulosa e das células tecais circunvizinhas, formando o corpo lúteo, que secreta níveis elevados de progesterona, esta converte o endométrio para padrão secretor. Amenorreia é normal antes da puberdade, durante a gravidez e a lactação e após a menopausa. AMENORREIA PRIMÁRIA: FREQUÊNCIA DE ETIOLOGIAS AMENORREIA SECUNDÁRIA: FREQUÊNCIA DE ETIOLOGIAS CICLO MENSTRUAL NORMAL Amenorreia pode se seguir ao rompimento dessas alterações hormonais cíclicas esperadas ou em razão da presença de anormalidades anatômicas. As amenorreias divide as causas de amenorreia em etiologias anatômicas e hormonais, com subdivisão em distúrbios herdados e adquiridos. SISTEMA DE CLASSIFICAÇÃO a menstruação normal exige produção ovariana adequada de hormônios esteroides, assim, a redução da função ovariana (hipogonadismo) resulta de ausência de estimulação pelas gonadotrofinas (hipogonadismo hipogonadotrófico) ou de insuficiência ovariana primária (hipogonadismo hipergonadotrófico). há distúrbios associados a níveis normais de LH e FSH (eugonadotróficos), porém com perda da ciclicidade apropriada. LAYANE SILVA DISTÚRBIOS ANATÔMICOS Anormalidades anatômicas que potencialmente se apresentam na forma de amenorreia podem ser: distúrbios herdados ou adquiridos do trato de saída (útero, colo, vagina e introito). Quadro clínico: amenorreia nos casos com fibrose intrauterina extensiva - em casos menos graves, há hipomenorreia ou perdas recorrentes de gravidez causadas por placentação anormal. Causas: curetagens vigorosas no pós-aborto ou pós-parto (dano endometrial), cirurgias uterinas (metroplastia, miomectomia ou parto cesariano), infecções relacionadas ao uso de DIU ou endometrite tuberculosa (comum em países em desenvolvimento). Diagnóstico: histerossalpingografia identifica falhas de enchimento irregulares e anguladas no interior da cavidade uterina, USG transvaginal (com ou sem infusão salina), ou histeroscopia. Tratamento: lise histeroscópica de aderências, que permite a seção precisa das bandas fibróticas - pode ser usada a laparoscopia para direcionar a excisão nos casos mais graves, a fim de reduzir o risco de perfuração uterina e lesão intraperitoneal. Causa frequente de amenorreia em adolescentes, visto que a anatomia pélvica é anormal em 15% das mulheres com amenorreia primária. HERDADOS Anormalidades: hímen imperfurado (1 em 2.000 mulheres), septo vaginal transverso (1 em 70.000 mulheres) ou atresia isolada de vagina. Quadro clínico: sintomas pré-menstruais (sensibilidade nas mamas, desejos alimentares e mudanças no estado de humor) em função dos níveis elevados de progesterona, dor abdominal cíclica pelo acúmulo do sangue menstrual obstruído, desenvolvimento de endometriose e complicações associadas (dor crônica e infertilidade) pela grande menstruação retrógada. Nesses casos, as pacientes tem cariótipo 46,XX, características sexuais secundárias femininas e função ovariana normal, ou seja, o volume de sangramento uterino é normal, mas as vias normais para eliminação do sangue estão obstruídas ou ausentes. I. OBSTRUÇÃO DISTAL DO TRATO GENITAL Em algumas pacientes, os lábios vaginais podem estar fortemente aderidos levando à obstrução e amenorreia. Agenesia mülleriana pode ser parcial ou total. Síndrome de Mayer-Rokitansky-Kuster-Hauser: agenesia mülleriana total, não há desenvolvimento de nenhuma estrutura mülleriana e há uma pequena depressão vaginal. No desenvolvimento embrionário, os ductos müllerianos dão origem à parte superior da vagina, ao colo, corpo uterino e tubas uterinas, assim, a amenorreia pode resultar de obstrução do trato de saída ou ausência de endométrio nos casos que envolvam agenesia uterina. II. MALFORMAÇÕES MÜLLERIANAS ADQUIRIDOS Causas: procedimento de dilatação e curetagem, excisão eletrocirúrgica por alça diatérmica, infecção e neoplasia. Quadro clínico: impossibilidade de introduzir o dilatador na cavidade uterina, e, se a obstrução for total, palpa-se e útero aumentado e de consistência macia. Manejo: dilatação cervical e exclusão de neoplasia. Em geral, envolve o orifício interno, e os sintomas nas mulheres que menstruam incluem amenorreia, sangramento anormal, dismenorreia e infertilidade, já, nas mulheres pós-menopáusicas é assintomática até que haja acúmulo de líquido (hidrometra), exsudato (piometra) ou sangue (hematometra). I. ESTENOSE DO COLO UTERINO a destruição do endométrio basal impede que haja espessamento endometrial em resposta aos esteroides ovarianos, assim, não há produção de tecido e nem o descolamento por queda hormonal ao final da fase lútea. Ou aderências uterinas, quando sintomáticas, causam a síndrome de Asherman, caracterizada por fibrose com aderências finas, bandas densas ou obstrução total da cavidade uterina. II. SINÉQUIAS INTRAUTERINAS DISTÚRBIOS ENDÓCRINOS Definição: perda de oócitos e das células de apoio circunvizinhas antes da idade de 40 anos, cujo diagnóstico é determinado por 2 dosagens séricas de FSH > 40 mUI/mL com intervalo de 1 mês. Incidência: 1 em cada 1.000 mulheres com < 30 anos e de 1 em cada 100 mulheres com < 40 anos. Ou insuficiência ovariana prematura, se refere a qualquer processo no qual (1) a função ovariana esteja reduzida ou ausente (hipogonadismo) e (2) as gonadotrofinas, pela ausência de feedback negativo, LH e FSH, estão aumentadas no soro (hipergonadotrófico). Assim, implica disfunção primária ao nível do ovário, provocando menopausa precoce ou insuficiência ovariana prematura (IOP). HIPOGONADISMO HIPERGONADOTRÓFICO A causa mais frequente é a disgenesia gonadal, na qual há complemento normal de células germinativas na fase inicial de formação do ovário fetal, mas os oócitos sofrem atresia acelerada, e o ovário é substituído por uma estria fibrosa (gônada em fita) - o quadro clínico varia de acordo com o cariótipo (normal ou anormal) da paciente. I. DISTÚRBIOS CROMOSSÔMICOSGÔNADA EM FITA NA LAPAROSCOPIA - Deleção de um cromossomo X: 2/3 dos casos de disgenesia gonadal, definida como síndrome de Turner, 50% dos pacientes tem cariótipo 45,X apresentando defeitos somáticos (baixa estatura, pescoço alado, linha capilar baixa, tórax em forma de escudo e malformações cardiovasculares). SINAIS CARACTERÍSTICOS: SÍNDROME DE TURNER Deleções no braço curto do cromossomo X (Xp): baixa estatura e anormalidades somáticas. Deleções no braço longo do cromossomo X: baixa estatura ou corpo eunucoide. Constituição eunucoide: níveis baixos de estrogênio levam ao retardo do fechamento das epífises dos ossos longos, resultando em pernas e braços longos em relação ao torso. - Moisacismo cromossômico: a forma mais comum é o cariótipo 45,X/46,XX. 90% das mulheres com disgenesia gonadal pela perda de material genético do cromossomo X nunca menstruam, as 10% restantes têm folículos residuais suficientes para menstruar e raramente ficam grávidas - mas a vida menstrual e reprodutiva dessas mulheres é invariavelmente curta. Disgenesia gonadal com cromossomo Y (45, X/46, XY): poucas pacientes tem sinais de excesso de androgênios, e 25% delas desenvolverão tumores malignos de células germinativas caso não retire as gônadas em fita. Disgenesia gonadal com cariótipo normal (46,XX/46,XY): disgenesia gonadal “pura”, assim, indivíduos com genótipo 46,XY e disgenesia gonadal (síndrome de Swyer) são fenotipicamente do sexo feminino em razão da ausência de secreção de testosterona e do hormônio antimülleriano (AMH) pelos testículos disgênicos. II. DEFEITOS GENÉTICOS ESPECÍFICOS LAYANE SILVA Pré-mutação: indivíduos com a (50-200 repetições) tem risco aumentado para a síndrome de tremor/ataxia associada ao X frágil (FXTAS), e 13 a 26% de evoluir para IOP. pode levar a aumento na secreção do ACTH estimulando a secreção de mineralocorticoides, que resulta em hipopotassemia e HAS. Complicações: morte neonatal, ataxia neurológica, incapacidade cognitiva e catarata. - Síndrome do X frágil: causada por mutação com sequência tripla repetida no gene FMR1 ligado ao X (deficiência mental por X frágil), quando expandida (> 200 repetições CGG) causa deficiência mental e autismo, essa sequência é hipermetilada, causando silenciamento da expressão do gene. - Mutação do gene CyP17: redução na atividade 17a-hidroxilase e 17,20-liase, evitando a produção de cortisol, androgênios e estrogênios, causando infantilismo sexual (sem desenvolvimento de mamas, ausência de pelos pubianos e axilares e útero pequeno) e amenorreia primária pela ausência de secreção estrogênica. - Mutações nos receptores de LH e FSH: impedem resposta normal às gonadotrofinas circulantes (síndrome do ovário resistente). - Galactosemia: distúrbio autossômico recessivo que leva a metabolismo anormal da galactose pela deficiência da galactose-1-fosfato uridil- transferase, codificada pelo gene GALT. Doenças autoimunes: insuficiência poliglandular autoimune da hipófise acompanhando hipotireoidismo e insuficiência suprarrenal, lúpus eritematoso, miastenia grave, púrpura trombocitopênica idiopática, artrite reumatoide, vitiligo e anemia hemolítica autoimune. IOP iatrogênica: pacientes submetidas à remoção cirúrgica total dos ovários em razão de cistos recorrentes, endometriose ou DIP, pacientes que podem evoluir com amenorreia após radioterapia na pelve para tratamento de câncer, como doença de Hodgkin. a IOP pode se seguir à quimioterapia para tratamentos de câncer ou de doenças autoimunes graves. várias toxinas ambientais produzem efeitos danosos evidentes sobre a saúde folicular (tabagismo, metais pesados, solventes, pesticidas e produtos químicos industriais). O hipogonadismo hipergonadotrófico pode ser adquirido por infecções (principalmente ooforite por caxumba), doenças autoimunes (40% dos casos de IOP), tratamentos medicamentosos ou outras causas. III. ANORMALIDADES ADQUIRIDAS Indica anormalidade primária no eixo hipotálamo-hipófise, assim, a redução na estimulação dos ovários pelas gonadotrofinas leva a perdas na foliculogênese ovariana, níveis de LH e FSH estão < 5 mUI/mL, há desenvolvimento anormal ou lesão hipofisária grave - pode ser visto como um quadro de disfunção lútea, oligomenorreia e, nos casos mais graves, amenorreia. HIPOGONADISMO HIPOGONADOTRÓFICO Distúrbio ligado ao X: mutação no gene KAL1 no braço curto do cromossomo X, expresso durante o desenvolvimento fetal, codifica uma proteína de adesão (anosmina 1), essencial para migração normal do GnRH e de neurônios olfativos, causando déficits auditivos e reprodutivos. Quadro clínico: anomalias na linha média da face, como fenda palatina, agenesia renal unilateral, ataxia cerebelar, epilepsia, perda auditiva neurossensorial e sincinesia (movimentos espelhados das mãos). Causa comum de hipogonadismo hipogonadotrófico idiopático (HHI), há defeitos associados à capacidade olfativa (hiposmia ou anosmia), pacientes são portadores da síndrome de Kallman (distúrbio ligado ao X, autossômico dominante, ou autossômico recessivo). I. ANORMALIDADES HEREDITÁRIAS DO HIPOTÁLAMO A deficiência de gonadotrofinas levando à anovulação crônica tem origem em distúrbios funcionais do hipotálamo ou de centros nervosos mais elevados, cujo diagnóstico está associado a transtornos alimentares, excesso de exercícios e estresse. II. DISTÚRBIOS FUNCIONAIS OU AMENORREIA HIPOTALÂMICA a leptina é produzida pelo tecido adiposo e promove uma ligação entre balanço energético e reprodução, além de estimular o neuropeptídeo Y (NPy), que estimula o apetite e altera a pulsatilidade do GnRH. Anorexia nervosa: está associada a restrições calóricas graves, perda de peso, indução ao vômito, uso excessivo de laxantes e exercícios compulsivos - a disfunção hipotalâmica é grave na anorexia e pode afetar outros eixos hipotalâmicos-hipofisários. exercícios foram associados a aumento nos níveis de opiáceos endógenos (b-endorfinas), produzindo o “estado eufórico dos corredores” e alterando a pulsatilidade do GnRH. como parte da resposta ao estresse, há aumento da liberação do hormônio liberador da corticotrofina (CRH) pelo hipotálamo que resulta na secreção de cortisol pela suprarrenal. O CRH altera o padrão da secreção pulsátil de GnRH, enquanto o cortisol age direta ou indiretamente para interromper a função neuronal do GnRH. nota-se alterações na frequência de pulsos de LH, elevação nos níveis séricos dos androgênios, níveis aumentando de prolactina (galactorreia) e inibição da secreção do hormônio do crescimento. está associado a tumores como craniofaringiomas, germinomas, tumores de seio endodérmico, granuloma eosinofílico (síndrome de Hand-Schuller- Christian) e gliomas, assim como lesões metastáticas. pode estar relacionado a infecções (tuberculose) e a doenças infiltrativas (sarcoidose) - além de trauma ou irradiação do hipotálamo. - Transtornos alimentares: anorexia e bulimia, podem impactar a função ovulatória por meio de fatores hormonais (insulina, glucagon e leptina). - Amenorreia induzida por exercícios: comum em mulheres cujo regime de exercício esteja associado à perda significativa de gordura, como balé, ginástica e corridas de longa distância, assim, há uma variabilidade em intervalo e duração da menstruação em função da redução na função hormonal, incluindo fases lúteas curtas. - Amenorreia induzida por estresse: pode estar associada a eventos traumáticos da vida cotidiana, como morte de um membro da família ou divórcio. - Pseudociese: considerado em qualquer mulher que se apresente com amenorreia e sintomas de gravidez, consiste na capacidade da mente de controlar processos fisiológicos, assim, as pacientes acreditam que estão grávidas e apresentam sinais e sintomas de gravidez, incluindo amenorreia. - Destruição anatômica: qualquer processo que destrua o hipotálamo pode comprometer a secreção de GnRH, assim, os neurônios de GnRH podem atuar indiretamente alterando a atividadedos neurônios moduladores. - Anormalidades hereditárias da adeno-hipófise: displasia septo-ótica com mutação no gene PROP1 (combinações de deficiência de hormônios hipofisários e malformações na parte central da face e/ou neurológicas causadas por defeitos de fusão na linha média), mutação em genes que codificam o LH ou subunidades b de FSH ou receptor de GnRH. III. DISTÚRBIOS DA ADENO-HIPÓFISE Grande parte das disfunções hipofisárias é adquirida após a menarca, causando amenorreia secundária - em casos raros, esses distúrbios se iniciam antes da puberdade, resultando em desenvolvimento puberal retardado e amenorreia primária. - Adenomas hipofisários: provocam secreção excessiva de hormônios de origem hipofisária pode resultar em amenorreia, principalmente prolactina (síndrome galactorreia-amenorreia), assim, níveis elevados de prolactina retroalimentam e aumentam reflexo na produção central de dopamina a fim de reduzir a concentração de prolactina, alterando a função neuronal do GnRH. - Tumores hipofisários: alteram indiretamente a função gonadotrófica por meio de um efeito de massa, pois o crescimento do tumor pode comprimir os gonadotrofos circunvizinhos ou danificar o pedículo hipofisário, prejudicando IV. DISFUNÇÃO HIPOFISÁRIA ADQUIRIDA LAYANE SILVA também observa-se perda de função da adeno-hipófise logo após tratamento cirúrgico ou radiológico de adenomas hipofisário. pacientes com danos em outros tipos de células hipofisárias podem se apresentar com insuficiência láctica, perda de pelos pubianos e axilares e manifestações de hipotireoidismo e insuficiência suprarrenal. a inibição dopaminérgica da secreção de prolactina. - Processo inflamatório (hipofisite linfocítica periparto), doença infiltrativa (sarcoidose e hemocromatose) ou lesões metastáticas prejudicam a função hipofisária. - Síndrome de Sheehan: pan-hipopituitarismo, ocorre após hemorragia massiva pós-parto com hipotensão associada, esta leva à isquemia e necrose da hipófise - em sua forma mais grave, as pacientes evoluem com choque e acidente vascular hipofisário, já, nas formas menos graves, há perda de atividade gonadotrófica que resulta em anovulação e amenorreia. INVESTIGAÇÃO CLÍNICA AMENORREIA EUGONATRÓFICA Em mulheres com níveis gonadotróficos normais (portadoras de anovulação crônica com estrogênio presente), a secreção crônica de esteroide sexual interfere com a retroalimentação normal entre ovário e eixo hipotálamo- hipofisário, assim, a ausência de ciclicidade interfere na maturação normal de oócitos e na ovulação, impedindo a ocorrência de menstruação. ANAMNESE Tumor no SNC ou na hipófise: cefaleias de início recente ou alteração visual. Tumores hipofisários: podem comprimir o quiasma óptico e causar hemianopsia bitemporal (perda dos campos visuais externos). Hiperprolactinemia: galactorreia bilateral espontânea. Doença da tireoide: intolerância ao calor ou ao frio, alterações de peso ou do sono. Hipogonadismo hipergonadotrófico: fogachos e ressecamento vaginal. SOP ou HSRC: hirsutismo e acne. Obstrução do trato genital inferior: dor pélvica cíclica. A investigação das anormalidades menstruais deve-se iniciar com perguntas sobre o desenvolvimento puberal (início e progressão da puberdade, ciclicidade menstrual, intervalo e duração do ciclo, e quantidade de fluxo menstrual), determinar quando se deu a alteração nesse padrão (gradual ou abrupta), se o desenvolvimento da amenorreia foi associado à infecção pélvica, cirurgia, radioterapia, quimioterapia ou outra doença, investigar história cirúrgica (procedimentos pélvicos anteriores, principalmente dilatação e curetagem), identificar complicações associadas às cirurgias realizadas (infecções) e revisão dos sintomas. Deve-se questionar sobre os antecedentes familiares sobre cessação precoce da menstruação, histórico de doença autoimune (doença da tireoide), irregularidade menstrual ou sinais de produção excessiva de androgênios (SOP), casos de morte súbita neonatal em membros de famílias com mutações no gene CYP21 (HSRC). Já, na história social, deve-se investigar exposição a toxinas ambientais (cigarros) e medicamentos em uso (antipsicóticos). Doenças crônicas: doença renal em estágio final (aumento de prolactina e leptina), doença hepática não alcoólica crônica (níveis baixos de gonadotrofinas), câncer, síndrome da imunodeficiência adquirida e síndromes de má-absorção causada por doença celíaca (deficiência de zinco e selênio provocam menarca retardada, amenorreia secundária e menopausa precoce). V. OUTRAS CAUSAS em alguns casos, a amenorreia pode ser causada pela capacidade do aumento dos androgênios de atrofiar o endométrio. pode haver menometrorragia secundária à estimulação estrogênica endometrial sem oposição, visto que no interior do endométrio instável, espessado em fase proliferativa, episódios de colapso estromal com descolamento levam a sangramento irregular - este pode ser intenso caso os vasos estejam aumentados no endométrio anovulatório. Inicialmente, há amenorreia total seguindo-se à anovulação, assim, não há progesterona e sem a queda súbita de progesterona não há fluxo menstrual. I. SÍNDROME DO OVÁRIO POLICÍSTICO (SOP) pacientes com mutações brandas são assintomáticas até a adrenarca, quando há necessidade de aumento da esteroidogênese suprarrenal. Quadro de hiperandrogenismo e ciclos menstruais irregulares, causado por uma mutação no gene CYP21, que codifica a enzima 21-hidroxilase, assim, níveis androgênicos elevados dificultam a maturação de oócitos e resultam em anovulação e amenorreia. II. HIPERPLASIA SUPRARRENAL CONGÊNITA COM INÍCIO NA VIDA ADULTA (HSRC) Anovulação crônica com estrogênio presente ocorre em casos com tumor ovariano produtor de estrogênios ou de androgênios (Ex.: tumores das células da granulosa, tumores das células da teca e teratomas císticos maduros). III. TUMOR OVARIANO HIPERPROLACTINEMIA: níveis séricos elevados de prolactina em geral são causados por um tumor hipofisário (adenoma secretor de prolactina), mas podem estar associados a medicamentos (antipsicóticos) e fitoterápicos que prejudiquem a ciclicidade menstrual. IV. HIPERPROLACTINEMIA E HIPOTIREOIDISMO HIPOTIREOIDISMO: a redução primária nos níveis circulantes de hormônio da tireoide provoca aumento compensatório no TRH, este aumenta o TSH estimulando os tireotrofos hipofisários e liga-se aos lactotrofos, aumentando a secreção de prolactina. Assim, há aumento compensatório da dopamina central (inibidor da secreção de prolactina), alterando a secreção de GnRH, rompendo a secreção gonadotrófica cíclica e impedindo a ovulação. O hormônio da tireoide também aumenta os níveis de globulina de ligação a hormônios sexuais, alterando os níveis de esteroides ovarianos livres ativos - além disso, há receptores de prolactina no ovário e no endométrio. EXAME FÍSICO Observar a aparência geral; IMC baixo + desgaste do esmalte dos dentes resultante de vômitos recorrentes (transtornos alimentares); sinais de síndrome de Turner (baixa estatura, pescoço alado ou tórax em forma de escudo); defeitos na linha facial média (fenda palatina) que se associam a defeito no desenvolvimento hipotalâmico ou hipofisário; HAS (mutações no gene CYP17 com desvio da via esteroidogênica para produção de aldosterona); alterações no campo visual (hemianopsia bitemporal). Posteriormente, deve-se inspecionar a pele, atentando-se para acantose nigricante, hirsutismo ou acne (SOP, hiperinsulinemia ou hiperandrogenismo); gordura supra-clavicular e estrias abdominais com HAS (síndrome de Cushing); aumento no volume da glândula tireoide, reflexos retardados e bradicardia (hipotireoidismo). No exame das mamas, avaliar galactorreia bilateral (hiperprolactinemia), e no exame da genitália, verificar padrão de distribuição do pelos pubianos, se ausentes ou esparsos (ausência de adrenarca ou SIA) ou se há padrão masculino (aumento de androgênios), buscar por sinais de virilização(clitoromegalia), engrossamento da voz e padrão masculino de calvície - a produção estrogênica se evidencia por vagina úmida e rosada e muco cervical. LAYANE SILVA O toque retal ou vaginal identifica a presença de útero acima de obstrução ao nível do introito vaginal ou na vagina - a presença de hematocolpos indica função ovariana e endometrial normal. Níveis normais altos ou elevações discretas: SOP. Níveis elevados: > 700 mg/dL indica RM ou TC das suprarrenais. Diagnóstico de exclusão: amenorreia hipotalâmica funcional causada por estresse, exercícios ou transtornos alimentares. pacientes portadoras da síndrome de Kallmann apresentam falhas no desenvolvimento dos bulbos olfativos e dos sulcos rinencefálicos. Suspeita de transtornos alimentares: avaliação imediata dos eletrólitos. Pacientes portadoras de doenças mais graves: eletrocardiograma. Pacientes com amenorreia hipotalâmica funcional: há elevação de tri- iodotironina (T3) reversa. Portadoras de SOP: rastrear resistência à insulina e dislipidemias, em função do risco aumentado de diabetes e doença cardiovascular. a descoberta de linhagem de células Y determina ooforectomia bilateral em razão de risco elevado de tumores ovarianos. há associação estreita entre estatura e anormalidades no cromossomo X SULFATO DE DESIDROEPIANDROSTERONA (SDHEA): é secretado pela glândula suprarrenal. A dosagem da 17-hidroxiprogesterona (17-OH-P) busca identificar pacientes com HSRC de início tardio - pode haver necessidade de estimulação da suprarrenal com ACTH. AVALIAÇÃO RADIOLÓGICA: deve-se utilizar exame de imagem do cérebro e da glândula hipófise com RM ou TC para afastar anormalidade anatômica em pacientes com hipogonadismo hipogonadotrófico, identificando distúrbios destrutivos (tumores ou doenças infiltrativas no hipotálamo ou hipófise) OUTROS TESTES SÉRICOS: ANÁLISE CROMOSSÔMICA: a cariotipagem deve ser realizada em pacientes com disgenesia gonadal (Ex.: síndrome de Turner) ou com história familiar de insuficiência ovariana prematura. TESTES LABORATORIAIS E RADIOLÓGICOS se houver sangramento, a paciente produz estrogênio, seu endométrio está desenvolvido e o trato genital inferior patente. se não ocorrer sangramento, a paciente deve ser tratada com estrogênio seguido por progesterona - se ainda não houver sangramento, pressupõe-se uma anormalidade anatômica. EXCLUSÃO DE GRAVIDEZ: deve ser realizada em todas as mulheres em idade reprodutiva com amenorreia através da dosagem dos níveis urinário ou sérico de b-hCG. RETIRADA DE PROGESTERONA: pacientes são tratadas com progesterona exógena e monitoradas para verificar a presença de sangramento com a retirada do medicamento, alguns dias após completar o teste (teste de provocação com progesterona). Interpretações incorretas: (1) níveis estrogênicos podem oscilar na amenorreia hipotalâmica e nos estágios iniciais da insuficiência ovariana, (2) pacientes com esses distúrbios podem ter pelo menos 1 sangramento após a interrupção do uso de progesterona. NÍVEIS HORMONAIS SÉRICOS: dosados quando o exame pélvico está normal. Níveis normais: defeitos anatômicos ou hipogonadismo eugonadotrófico - pacientes portadoras de SOP, hiperprolactinemia ou doença da tireoide. Níveis baixos: disfunção hipotalâmico-hipofisária - há indicação de repetir o teste acrescentando a dosagem de LH para confirmar hipogonadismo hipogonadotrófico. Níveis elevados: insuficiência ovariana prematura (hipogonadismo hipergonadotrófico), cujo diagnóstico exige 2 dosagens de FSH > 40 mUI/mL obtidas com intervalo mínimo de 1 mês, no qual as pacientes devem manter um registro do calendário menstrual. HORMÔNIO FOLÍCULO-ESTIMULANTE: - Testes complementares: (1) teste de estimulação com GnRH a partir da injeção intravenosa em bolo de 100 mg de GnRH, seguida por dosagem de LH e FSH aos 0, 15, 30, 45 e 60 minutos; (2) dosagem de estradiol; (3) dosagem do hormônio antimülleriano (AMH) circulante cujos níveis são diretamente proporcionais a quantidade de folículos em desenvolvimento; (4) dosagem da inibina B. hipotireoidismo pode aumentar a prolactina. TSH elevado: indica dosagem da tiroxina livre (T4 livre) para confirmar hipotireoidismo. PROLACTINA E HORMÔNIO ESTIMULANTE DA TIREOIDE: busca avaliar adenomas secretores de prolactina e doença da tireoide. TESTOSTERONA: dosados em qualquer mulher com suspeita de SOP ou com sinais clínicos de excesso de androgênios para avaliação hormonal - elevações leves indicam SOP e valores > 200 ng/dL sugerem tumor ovariano que deve ser investigado por USG pélvica. DISTÚRBIOS ESPECÍFICOS Insuficiência ovariana prematura: pode-se presumir causa autoimune. Distúrbios anatômicos: investigados através de USG (rastreamento inicial em pacientes com útero aumentado), USG com infusão salina (detecção de sinéquias intrauterinas ou anomalias de desenvolvimento), RM (delineia estruturas anatômicas). Anormalidades anatômicas: correção cirúrgica. Hipotireoidismo: reposição de hormônio da tireoide com posologia para levotiroxina sugerida de 1,6 Mg/kg de peso corporal por dia. Hiperprolactinemia: uso de agonista de dopamina, como bromocriptina ou a cabergolina. Macroadenomas: necessidade de cirurgia se houver déficits secundários, como alterações visuais. Varia de acordo com a etiologia e objetivos da paciente. TRATAMENTO REPOSIÇÃO ESTROGÊNICA mulheres com útero também necessitam de administração contínua ou intermitente de progesterona para proteção contra hiperplasia endometrial ou câncer. pacientes com transtornos alimentares ou que fazem exercícios em excesso precisam modificar seu comportamento, no primeiro é essencial a intervenção psiquiátrica. Deve ser aplicada em todas as pacientes com hipogonadismo para evitar a incidência de osteoporose, visto que a perda óssea é acelerada nos primeiros anos de privação estrogênica. SÍNDROME DO OVÁRIO POLICÍSTICO agentes sensibilizadores insulínicos são indicados para pacientes com DM. indicam-se ACO e/ou espironolactona para pacientes com hiperandrogenismo causado por SOP. mulheres portadoras de HSRC de início tardio devem ser tratadas com doses baixas de corticosteroides para bloqueio parcial da estimulação suprarrenal por ACTH, reduzindo produção dos androgênios suprarrenais. O tratamento inclui tratamento cíclico com progesterona, COCs, ou outras formas de tratamento com estrogênio e progesterona. INFERTILIDADE se estiverem associadas à infertilidade, as anomalias anatômicas devem ser corrigidas cirurgicamente - pode ser necessária uma gestante substituta. no caso de insuficiência ovariana prematura não pode ser revertida, pode- se oferecer fertilização in vitro, usando oócito de doadora para concepção. pacientes com hipogonadismo hipogonadotrófico devem ser encaminhadas a um especialista para tratamento com GnRH pulsátil ou gonadotrofinas.
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