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Ética Cristã e Responsabilidade Social

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Prévia do material em texto

ÉTICA CRISTÃ E 
RESPONSABILIDADE 
SOCIAL
Professor Me. Maurício José Silva Cunha
Revisor Técnico: Lissânder Dias do Amaral
GRADUAÇÃO
Unicesumar
C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a 
Distância; CUNHA, Maurício José Silva Cunha. 
 
 Ética Cristã e Responsabilidade Social. Maurício José Silva 
Cunha. 
 Maringá-Pr.: Unicesumar, 2018. 
 195 p.
“Graduação - EaD”.
 
 1.Ética. 2. Responsabilidade 3. Cristã 4. EaD. I. Título.
 
CDD - 22 ed. 174
CIP - NBR 12899 - AACR/2
Ficha catalográfica elaborada pelo bibliotecário 
João Vivaldo de Souza - CRB-8 - 6828
Impresso por: 
Reitor
Wilson de Matos Silva
Vice-Reitor
Wilson de Matos Silva Filho
Pró-Reitor de Administração
Wilson de Matos Silva Filho
Pró-Reitor de EAD
William Victor Kendrick de Matos Silva
Presidente da Mantenedora
Cláudio Ferdinandi
NEAD - Núcleo de Educação a Distância
Direção Executiva de Ensino
Janes Fidélis Tomelin
Direção Operacional de Ensino
Kátia Coelho
Direção de Operações
Chrystiano Minco�
Direção de Polos Próprios
James Prestes
Direção de Desenvolvimento
Dayane Almeida 
Direção de Relacionamento
Alessandra Baron
Head de Produção de Conteúdos
Celso Luiz Braga de Souza Filho
Gerência de Produção de Conteúdo
Diogo Ribeiro Garcia
Gerência de Projetos Especiais
Daniel Fuverki Hey
Supervisão do Núcleo de Produção 
de Materiais
Nádila Toledo
Supervisão Operacional de Ensino
Luiz Arthur Sanglard
Coordenador de Conteúdo
Roney de Carvalho Luiz
Designer Educacional
Agnaldo Ventura
Projeto Gráfico
Jaime de Marchi Junior
José Jhonny Coelho
Arte Capa
Arthur Cantareli Silva
Editoração
Ana Eliza Martins
Qualidade Textual
Cintia Prezoto Ferreira
Ilustração
Marta Kakitani
Viver e trabalhar em uma sociedade global é um 
grande desafio para todos os cidadãos. A busca 
por tecnologia, informação, conhecimento de 
qualidade, novas habilidades para liderança e so-
lução de problemas com eficiência tornou-se uma 
questão de sobrevivência no mundo do trabalho.
Cada um de nós tem uma grande responsabilida-
de: as escolhas que fizermos por nós e pelos nos-
sos farão grande diferença no futuro.
Com essa visão, o Centro Universitário Cesumar 
assume o compromisso de democratizar o conhe-
cimento por meio de alta tecnologia e contribuir 
para o futuro dos brasileiros.
No cumprimento de sua missão – “promover a 
educação de qualidade nas diferentes áreas do 
conhecimento, formando profissionais cidadãos 
que contribuam para o desenvolvimento de uma 
sociedade justa e solidária” –, o Centro Universi-
tário Cesumar busca a integração do ensino-pes-
quisa-extensão com as demandas institucionais 
e sociais; a realização de uma prática acadêmica 
que contribua para o desenvolvimento da consci-
ência social e política e, por fim, a democratização 
do conhecimento acadêmico com a articulação e 
a integração com a sociedade.
Diante disso, o Centro Universitário Cesumar al-
meja ser reconhecido como uma instituição uni-
versitária de referência regional e nacional pela 
qualidade e compromisso do corpo docente; 
aquisição de competências institucionais para 
o desenvolvimento de linhas de pesquisa; con-
solidação da extensão universitária; qualidade 
da oferta dos ensinos presencial e a distância; 
bem-estar e satisfação da comunidade interna; 
qualidade da gestão acadêmica e administrati-
va; compromisso social de inclusão; processos de 
cooperação e parceria com o mundo do trabalho, 
como também pelo compromisso e relaciona-
mento permanente com os egressos, incentivan-
do a educação continuada.
Seja bem-vindo(a), caro(a) acadêmico(a)! Você está 
iniciando um processo de transformação, pois quando 
investimos em nossa formação, seja ela pessoal ou 
profissional, nos transformamos e, consequentemente, 
transformamos também a sociedade na qual estamos 
inseridos. De que forma o fazemos? Criando oportu-
nidades e/ou estabelecendo mudanças capazes de 
alcançar um nível de desenvolvimento compatível com 
os desafios que surgem no mundo contemporâneo. 
O Centro Universitário Cesumar mediante o Núcleo de 
Educação a Distância, o(a) acompanhará durante todo 
este processo, pois conforme Freire (1996): “Os homens 
se educam juntos, na transformação do mundo”.
Os materiais produzidos oferecem linguagem dialógica 
e encontram-se integrados à proposta pedagógica, con-
tribuindo no processo educacional, complementando 
sua formação profissional, desenvolvendo competên-
cias e habilidades, e aplicando conceitos teóricos em 
situação de realidade, de maneira a inseri-lo no mercado 
de trabalho. Ou seja, estes materiais têm como principal 
objetivo “provocar uma aproximação entre você e o 
conteúdo”, desta forma possibilita o desenvolvimento 
da autonomia em busca dos conhecimentos necessá-
rios para a sua formação pessoal e profissional.
Portanto, nossa distância nesse processo de cresci-
mento e construção do conhecimento deve ser apenas 
geográfica. Utilize os diversos recursos pedagógicos 
que o Centro Universitário Cesumar lhe possibilita. 
Ou seja, acesse regularmente o Studeo, que é o seu 
Ambiente Virtual de Aprendizagem, interaja nos fóruns 
e enquetes, assista às aulas ao vivo e participe das dis-
cussões. Além disso, lembre-se que existe uma equipe 
de professores e tutores que se encontra disponível para 
sanar suas dúvidas e auxiliá-lo(a) em seu processo de 
aprendizagem, possibilitando-lhe trilhar com tranqui-
lidade e segurança sua trajetória acadêmica.
A
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TO
R
Professor Me. Maurício José Silva Cunha
Mauricio Cunha, mestre em Antropologia Social pela Universidade Federal 
do Paraná, com especialização em Gestão de sistemas e serviços de saúde, é 
Engenheiro Agrônomo (UFPR), Administrador de empresas (FAE) e professor 
universitário. Atuou como missionário em diversos países, tendo também 
trabalhado em gestão pública como secretário municipal de saúde, ação 
social e governo. É coach de empreendedores sociais, e co-autor de dois livros: 
O Reino entre nós - transformação de comunidades pelo evangelho integral e 
Cosmovisão Cristã e Transformação, ambos pela editora Ultimato. É fundador 
e presidente do CADI - Centro de Assistência e Desenvolvimento Integral / 
Brasil, coalizão de 12 organizações que atuam em 9 estados brasileiros, com 
cerca de 18.000 beneficiários. Atuou como Diretor Nacional de Programas da 
Visão Mundial para o Brasil. É membro da equipe técnica que está conduzindo 
o Diagnóstico da Criança e do Adolescente de Curitiba. Foi o representante 
da sociedade civil na Cúpula do G20 (Cannes 2011), é assessor da Aliança 
Evangélica Brasileira para o tema “Igreja e Políticas Públicas” e Conselheiro 
Nacional de Assistência Social.
Plataforma Lattes: <http://lattes.cnpq.br/4411366039454659>.
SEJA BEM-VINDO(A)!
Olá, caro(a) aluno(a)!
Você está prestes a embarcar em uma jornada fascinante pelos caminhos de uma fé 
cristã engajada com a ética social e a transformação integral das pessoas. Talvez para al-
guns seja um trajeto totalmente novo, já que nem sempre nossas convicções cristãs são 
traduzidas em bem comum a todos, mantendo-se relevante apenas em uma dimensão 
individual da fé. No entanto, como aprenderemos neste livro, a vida com Cristo é abun-
dante e rica em princípios e fundamentos para sermos “sal e luz” em todas as dimensões 
da vida, inclusive, no serviço aos mais vulneráveis social e economicamente.
Esta publicação une, integra e conecta teoria e prática, pois o “o que” é tão importante 
quanto o “como” diante do objetivo de tornar concreta nossa fé. Como disse Tiago, em 
seu livro bíblico homônimo: “a fé sem obras é morta”, (Tg 2:17). Por isso, queremos dar 
conceitos, mas também ferramentas para os cristãos realizarem intervenções intencio-
nais, estratégicas e planejadas, sem cair no “tecnicismo” vazio ou na superficialidade do 
chamado “marketing social” sem consistência.
Na Unidade I, você aprenderá, principalmente, que a missão cristã tem a natureza de 
transformação integral e que ela pode, sim, influenciar todas as áreas da vida, porque 
cremos que Deusse preocupa com toda a vida. Na Unidade II, aprenderemos os funda-
mentos teóricos de uma cosmovisão realmente cristã, que coloca-se como “óculos” para 
ler o cenário da realidade complexa dos nossos dias. Na Unidade III, o tema principal é 
ética social e suas relações com a igreja diante dos desafios contemporâneos, mas não 
somente isso; vamos, também, aprender sobre o conceito bíblico de “diaconia”, espiritu-
alidade e direitos humanos, ressaltando a importância de sermos igrejas cristocêntricas.
Na Unidade IV, vamos conversar sobre Políticas Públicas – um tema fundamental em 
uma nação democrática, mas ainda injusta como o Brasil é. Quais os princípios fundan-
tes sobre a responsabilidade social presentes no Antigo Testamento? Quais as implica-
ções sociopolíticas no significado do Evangelho e da prática missionária da igreja? O 
que é Advocacy? Vamos conhecer o estudo de caso de uma igreja que nasceu igreja, 
mas que estendeu suas ações no âmbito das políticas públicas de forma bem-sucedida. 
E, por fim, a Unidade V traz uma série de ferramentas para iniciar-se - e desenvolver – um 
programa de intervenção social relevante, sustentável e que gere transformações inte-
grais nas vidas das pessoas e das comunidades.
Como você pode perceber, este livro traz elementos importantes para pensar-se uma 
ordem social que reflita o caráter de justiça de Deus, bem como sugestões práticas para 
que a Igreja de Cristo cumpra seu papel num mundo em crise e necessitado de ações 
transformadoras.
 
Aperte os cintos e vamos em frente!
APRESENTAÇÃO
ÉTICA CRISTÃ E RESPONSABILIDADE SOCIAL
SUMÁRIO
09
UNIDADE I
INTEGRALIDADE E MISSÃO TRANSFORMADORA
15 Introdução 
16 Introdução a uma Teologia Bíblica Integral 
19 Chave Hermenêutica e Equívocos Interpretativos 
26 O Dualismo Grego e a sua Influência na Missiologia da Igreja 
32 As Implicações do Dualismo Grego para uma Visão das Vocações Humanas 
34 O Senhorio de Cristo Sobre os Diferentes Domínios Sociais 
41 Considerações Finais 
46 Referências 
47 Gabarito 
UNIDADE II
COSMOVISÃO CRISTÃ: ÉTICA, JUSTIÇA E TRANSFORMAÇÃO
51 Introdução 
52 Cosmovisão: Conceito e Relevância 
56 Elementos Essenciais da Cosmovisão Cristã e sua Relação com a Ética Social 
64 Construímos Nossas Sociedades Baseados nos Deuses que Cultuamos 
68 Justiça Social e Compaixão Bíblica 
73 Considerações Finais 
78 Referências 
79 Gabarito 
SUMÁRIO
10
UNIDADE III
ÉTICA: CONCEITO, FUNDAMENTOS E RESPONSABILIDADE SOCIAL
83 Introdução 
84 Ética: Conceito e Fundamentos Filosóficos 
90 Igreja e Ética Cristocêntrica e Responsabilidade 
93 Ética, Teologia e Espiritualidade 
95 Diaconia, Cidadania e Ação Evangelizadora 
100 Ética, Igreja e Direitos Humanos 
108 Considerações Finais 
112 Referências 
113 Gabarito 
UNIDADE IV
IGREJA E POLÍTICAS PÚBLICAS: SINALIZANDO O REINO DE DEUS NA 
ESFERA PÚBLICA
117 Introdução 
118 Antigo Testamento e Ordem Social 
123 O Significado Político do Evangelho 
129 Advocacy e Incidência em Políticas Públicas 
133 Advocacy: Níveis, Estratégias e Princípios Orientadores 
SUMÁRIO
11
137 Estudo de Caso: uma Experiência de Inserção em Políticas Públicas a Partir 
da Igreja Local: o Caso da Associação Beneficente “Encontro com Deus”, de 
Curitiba
145 Considerações Finais 
150 Referências 
151 Gabarito 
UNIDADE V
PRINCÍPIOS E FERRAMENTAS PARA O SERVIÇO SOCIAL E 
COMUNITÁRIO
157 Introdução 
158 Princípios Orientadores na Atuação Social 
163 Diagnóstico Comunitário Participativo 
168 Diagnóstico Organizacional 
172 Programa de Intervenção Social 
176 Monitoramento e Avaliação 
179 Mensuração de Impacto 
186 Considerações Finais 
192 Referências 
193 Gabarito 
195 Conclusão 
U
N
ID
A
D
E I
Professor Me. Mauricio José Silva Cunha
INTEGRALIDADE E MISSÃO 
TRANSFORMADORA
Objetivos de Aprendizagem
 ■ Compreender a fundamentação bíblico-teológica da integralidade da 
Missão e da responsabilidade social da Igreja.
 ■ Adquirir uma visão abrangente e integrada das implicações 
missiológicas do conceito de Reino de Deus como tema central das 
Escrituras, em contraposição ao dualismo grego.
 ■ Entender o conceito de esfera de soberania e o modelo reformado de 
sociedade.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
 ■ Introdução a uma teologia bíblica integral
 ■ Chave hermenêutica e equívocos interpretativos
 ■ O Dualismo Grego e a sua influência na missiologia da Igreja
 ■ As implicações do dualismo grego para uma visão das Vocações 
Humanas
 ■ O senhorio de Cristo sobre os diferentes domínios sociais
Introdução
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INTRODUÇÃO
Olá, seja bem-vindo(a)!
Nesta unidade, você vai aprender sobre a fundamentação bíblico-teológica 
da integralidade da missão e da responsabilidade social da Igreja por meio da 
compreensão de Reino de Deus. Para tanto, vamos explicar como a “chave her-
menêutica” da realidade depende da compreensão do conceito de Reino de Deus 
como tema central das Escrituras. Nesse sentido, você será instigado a compre-
ender a abrangência do Governo de Deus.
Faremos uma abordagem sobre o dualismo grego na dicotomia: sagrado 
versus profano, sua influência sobre o pensamento ocidental - o que gerou o cha-
mado gnosticismo evangélico - e nossa maneira de pensar a ordem social e a 
missão da Igreja, em contraste com os valores da Reforma Protestante e o ensino 
da vida Coram Deo (diante de Deus ou perante a face de Deus).
Apresentaremos, também, as implicações desses conceitos e da Integralidade 
do Reino no campo das vocações humanas, introduzindo o tema da Teologia 
Vocacional, como componente fundamental do exercício da ética cristã e da 
ação dos cristãos na sociedade.
A partir dessa conceituação, discorreremos sobre o modelo de sociedade a 
partir da filosofia reformada e sua proposta de reforma social, ao abordarmos o 
conceito de esfera de soberania ou domínio social. Desta forma, forneceremos 
as bases para a atuação dos cristãos na sociedade, no exercício das suas vocações 
e nos diferentes campos sociais, como resultado da ética cristã e da responsabi-
lidade social da Igreja, no sentido mais abrangente.
Assim, nesta unidade, propomos o rompimento paradigmático com a visão 
de mundo do dualismo grego e sua derivação para o gnosticismo evangélico, 
abrindo espaço para uma teologia bíblica integral como sólido fundamento de 
uma ética cristã e de responsabilidade social da Igreja. Somente a partir de uma 
sólida base bíblico-teológica é que poderemos inferir o uso de princípios, méto-
dos, técnicas e estratégias no exercício da responsabilidade social da Igreja.
INTEGRALIDADE E MISSÃO TRANSFORMADORA
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
IU N I D A D E16
INTRODUÇÃO A UMA TEOLOGIA BÍBLICA INTEGRAL 
Ao falarmos de ética cristã e responsabilidade social da Igreja, a nossa base 
orientadora, tanto a nível conceitual quanto prático, deve ser a partir de uma 
fundamentação bíblico-teológica. O que as Escrituras têm a nos informar sobre 
isso? Qual é a base e o fundamento para a ética cristã e a ação cristã na sociedade?
Qualquer resposta a essas perguntas que seja diferente de um sólido fun-
damento bíblico será reducionista, ineficaz e frágil. Temos visto engajamentos 
de igrejas na ação social com base em um desencargo de consciência ou, mui-
tas vezes, o envolvimento é meramente um gancho para o evangelismo. Outras 
vezes, a igreja age, ressentindo-se do Governo não fazer a sua parte (como se 
a nossa Missiologia pudesse ser baseada apenas em alguma coisa que alguém 
deixou de fazer). No campo mais prático, as ações, na maioria das vezes, res-
tringem-se a atividades de cunho assistencialista, mais voltados para o doador 
do que para o beneficiário, sem causar impactos transformadores e sustentáveis 
efetivos, aumentando a relativa irrelevânciasocial da Igreja.
Introdução a uma Teologia Bíblica Integral 
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Certamente, uma das razões desta ineficácia e irrelevância se deve a uma 
carência de fundamentação bíblico-teológica, a partir de uma visão cristã de 
mundo com base no Cristianismo histórico, na tradição da Igreja em sua ação 
social transformadora e nos ensinamentos dos pais da Igreja. Será que temos com-
preendido de fato a nossa responsabilidade ética e social diante de um mundo 
caído, distante de Deus, e de tantos problemas e mazelas sociais?
Se a nossa fé não dá conta da vida real, das múltiplas necessidades das pes-
soas em seus dilemas e anseios mais profundos, estamos brincando de uma 
ilusão, pois a vida real exige de nós respostas concretas para as questões do ser 
humano e da sociedade em toda a sua complexidade. Isto é, não é opção para a 
Igreja engajar-se no mundo sem ser do mundo.
Uma teologia integral, em resposta ao fundamentalismo raso que não dá 
conta do nosso contexto social e cultural, vai muito além de uma preocupa-
ção mera com a salvação das almas. Embora a Verdade revelada de Deus seja 
supracultural e supratemporal, nossa teologia e nossa missiologia devem ser 
adequadas ao contexto, uma vez que a elaboração desta verdade se dá a par-
tir da realidade social.
“Não há um só centímetro, em todos os domínios da nossa vida humana, 
sobre o qual Cristo, o Senhor de tudo, não clame: É meu!”
(Abraham Kuyper)
INTEGRALIDADE E MISSÃO TRANSFORMADORA
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
IU N I D A D E18
Recebemos, em grande medida, um cristianismo acrítico em termos de diá-
logo social, com a ausência de uma resposta cristã elaborada acerca da nossa 
realidade e das nossas mazelas sociais. Nossa teologia integral nasce do questio-
namento do reducionismo que coloca a fé cristã apenas como uma experiência 
subjetiva, religiosa, individual e mística. A fé cristã certamente envolve tudo 
isso, mas não se restringe apenas a isso. O Cristianismo bíblico provê os ele-
mentos fundamentais e fundantes para o estabelecimento de uma visão de 
mundo, ou seja, para o discipulado de indivíduos, comunidades e nações, em 
todos os seus aspectos e dimensões.
A Missão da Igreja deve ser, portanto, mais do que o povoamento do céu, a 
tradução da ação de Deus para o discipulado de nações. A fé deve dar conta da 
realidade, urge a compreensão de uma missiologia integral como fundamento 
efetivo para nossa ética e nossa responsabilidade diante da sociedade. 
Essa compreensão deve nos levar a uma ação mais efetiva e transformadora, 
fundamentando e orientando aquilo que, muitas vezes, já acontece na prática de 
forma amadora e intuitiva. Vemos indivíduos cristãos e igrejas empreendendo 
um esforço grande para, de alguma forma, impactar a sua comunidade, ou um 
grupo de pessoas em condições de vulnerabilidade ou marginalidade.
Os missionários no campo transcultural, ou não, estão envolvidos na mais 
ampla gama de atividades. Eles estão plantando igrejas, mas estão também ensi-
nando a plantar, construindo escolas, lutando contra injustiças, trabalhando em 
centros de saúde etc. O campo, a vida real, exigem da Igreja e do seu povo um 
engajamento integral, quer ela queira, quer não.
Chave Hermenêutica e Equívocos Interpretativos
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CHAVE HERMENÊUTICA E EQUÍVOCOS 
INTERPRETATIVOS
A Bíblia não é um livro comum. Ela é uma biblioteca, um conjunto de 66 livros 
escritos por pessoas inspiradas pelo Espírito Santo, nos originais aramaico, 
hebraico e grego, num intervalo de milhares de anos e em contextos totalmente 
diferentes do nosso. Embora sejamos defensores do princípio reformado do livre 
exame das escrituras, concluímos que a leitura e a apreensão da verdade e bíblica 
é uma tarefa complexa, que requer conhecimento e critério.
Por essa razão, muitas vezes, a Bíblia tem sido mal interpretada, chegando, 
inclusive, a ser fonte de todas as heresias. Ela foi utilizada para fundamentar o 
apartheid, por exemplo, ou para o sistema escravocrata. Atualmente, sacrali-
zando o sistema capitalista, ela tem sido usada como amuleto para a prosperidade 
material. A Bíblia tem sido colocada a serviço da cultura, dos valores do nosso 
tempo, de um sistema específico de crenças, para fundamentá-lo e justificá-lo. 
Sem uma ortodoxia e uma chave hermenêutica ou interpretativa adequada, con-
seguimos moldar a Bíblia ao que queremos.
INTEGRALIDADE E MISSÃO TRANSFORMADORA
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
IU N I D A D E20
Sempre que nos aproximamos da Bíblia, usamos óculos e isso ocorre sempre 
com todos nós. Não estou me referindo aos óculos físicos, mas aos óculos da 
nossa cultura, dos nossos valores, da nossa família, e da experiência cultural, 
religiosa e subjetiva que acumulamos.
Podemos chamar esses óculos de cosmovisão ou visão de mundo, e todos 
nós os usamos constantemente, pois a ausência deles significaria a ausência de 
sentido e significado, ou seja, um mergulho no caos. Esses óculos fazem a media-
ção entre conteúdo e o que absorvemos e interpretamos dele.
Ao fazer essa mediação sócio-analítica, eles são encarregados de conferir 
sentido ao todo da revelação. Como estamos continuamente em busca de sen-
tido e significado, não conseguimos ficar sem os óculos. Não conseguimos nos 
despir totalmente deles, pois tirar os óculos significaria deixar de ser, o cair no 
caos ou o completo esvaziamento. Seja como for, os óculos estarão sempre lá, 
moldando a nossa maneira de ver, perceber e interpretar.
Podemos usar o livro do Êxodo como exemplo: a história de um povo opri-
mido e de um povo opressor. O relato do Êxodo nos mostra a impressionante 
saga de libertação do povo de IsraeI rumo à Terra Prometida. Ao lê-lo, isso pode 
fazer tanto sentido para alguém, em seu contexto, que é utilizado como chave 
hermenêutica para o todo da revelação. A tarefa primordial de Deus passa a ser 
libertar o oprimido do seu opressor.
Jesus se torna um mero ativista sociopolítico, sempre privilegiando o cui-
dado dos pobres e oprimidos. Começamos a transformar um princípio relativo 
e fundamental em princípio absoluto, orientador de toda a Verdade, em res-
posta à realidade social que nos cerca. Nasce uma teologia ou uma missiologia 
e, neste caso, podemos citar a Teologia da Prosperidade, que teve um impacto e 
uma contribuição importante, especialmente na América Latina, apresentando 
importantes contribuições para a compreensão da Igreja sobre sua Missão e sua 
relação com a cultura, mas que, como sistema teológico completo, orientador de 
mundo, entendemos ser insuficiente e um equívoco hermenêutico.
No outro extremo, um exemplo poderia ser relacionado aos textos que falam 
sobre prosperidade. Sabemos que a Bíblia apresenta um modelo holístico de 
prosperidade, e que há diversos textos que abordam essa questão, inclusive sobre 
Chave Hermenêutica e Equívocos Interpretativos
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a prosperidade material. Num contexto como o nosso, de cultura humanista e 
secularizada, a classe média integra um sistema capitalista na busca de ascensão 
social e melhoria das condições materiais de vida e da capacidade de consumo.
Torna-se fácil colocar a Bíblia a serviço dessa ideologia. A evidência da bên-
ção divina para ser a bênção material, a Palavra é utilizada para não só justificar, 
mas fundamentar e fortalecer o sistema cultural vigente, sacralizando o capita-
lismo contemporâneo e colocando os cristãos e a Igreja à mercê dos ventos da 
nossa época. Com isso, transformamos Deus em um Papai Noel cósmico,que 
existe quase unicamente para me prosperar e me abençoar, e cometemos grave 
equívoco hermenêutico, causador de muitos problemas e disfunções no exercí-
cio da nossa fé e da nossa Missão.
Em outro exemplo, podemos pensar nos sinais, prodígios e maravilhas relata-
dos em numerosos textos da Bíblia como chave hermenêutica e interpretativa das 
Escrituras, esperando que as manifestações sobrenaturais do poder de Deus sejam 
o que define o cerne da Sua ação e da nossa relação com Ele, devendo acontecer 
em toda reunião e em todo culto. Novamente, nasce um equívoco hermenêutico.
Diante disso, então, qual deveria ser a chave hermenêutica e interpretativa 
das Escrituras? Que óculos devemos usar quando nos aproximamos da Bíblia 
para compreender a revelação de Deus? Em outras palavras: qual o tema central 
das Escrituras? Qual o assunto mais ensinado por Jesus Cristo? Qual o tema cen-
tral da maior parte das parábolas? Qual a razão última da existência da Igreja, 
a chave da sua missão?
O REINO DE DEUS COMO CHAVE HERMENÊUTICA DAS 
ESCRITURAS
A compreensão mais fundamentada acerca da integralidade da missão, ética 
cristã e responsabilidade social da Igreja se baseia numa compreensão acerca 
do próprio reino de Deus, sua definição e abrangência. Poderíamos dar muitas 
definições de reino de Deus. Aqui, utilizaremos uma definição simples, porém 
profunda e abrangente.
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Entendemos o reino de Deus como todo lugar ou todo ambiente onde Deus Reina. 
O reino de Deus é o governo de Deus, a plena manifestação da Sua vontade. 
Afirmar que o reino de Deus é chegado a nossa vida é afirmar que o Governo de 
Deus chegou a nós. Isso abre para a possibilidade de ampliar o escopo da nossa 
Missão, pois passamos a entender que o reino de Deus vai além da própria igreja, 
assim como as implicações sociais deste Governo.
Ao nos ensinar a orar (seja feita a Tua vontade, assim na terra como nos céus 
- Mateus 6:10), Jesus nos ensina que o reino de Deus está associado à vontade 
de Deus, e que a manifestação desse reinado é terrena, ou seja, embora seja um 
reino celestial, seus sinais se manifestam na Terra, criação sua, para a Glória de 
Deus. O campo de batalha é aqui!
O reino de Deus compreendido como vontade, governo e domínio de Deus 
nos leva a perguntar: então, porque a Igreja existe? Podemos dar infinitas res-
postas a essa pergunta: ela existe para proclamar, servir, amar. Porém, ao final 
do dia, a razão última da existência da Igreja é: para que Deus governe! Para isso 
damos o dízimo, fazemos missões transculturais, temos ministério de casais, 
criamos as nossas organizações... a sinalização do reino é a razão da existência 
da Igreja, portanto, o cerne da sua Missão.
O reino de Deus é a volta do governo sobre todas as coisas criadas para as 
mãos de quem nunca deveria ter saído. Diferenciamos o Governo de Deus da 
Soberania de Deus. Sua soberania permanece para sempre, mas em sua pró-
pria soberania Deus deu a liberdade ao homem como cocriador e cogestor da 
criação, e este, ao pecar, distanciou-se de Deus, levando toda a criação consigo.
Deus é soberano, mas o Governo dEle ainda não está estabelecido sobre toda 
a Criação. A obra de Deus consiste em restaurar todas as coisas, reconciliar con-
sigo mesmo toda a criação, que está em rebelião contra Ele. Esta é a essência do 
relato bíblico, desde Gênesis até Apocalipse.
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CRIAÇÃO - QUEDA - REDENÇÃO
A história bíblica pode ser resumida na camada tríade bíblica teológica refor-
mada: criação, queda e redenção. É como se, para entender um enredo que é 
complexo, apontássemos três grandes acontecimentos em que todos os elementos 
do enredo devem se enquadrar e fazer sentido, à luz destes três acontecimentos.
A Bíblia é a história de uma Criação, de uma Queda e de uma Redenção. 
Sabemos que Deus é o criador de todas as coisas. O argumento lógico é que, se 
Deus é o criador de todas as coisas, não pode haver nenhum aspecto da cria-
ção sobre o qual ele não tenha interesse ou não deva governar. Em nossa ênfase 
soteriológica, esquecemos que a Criação toda pertence a Deus, que Ele ama a 
Sua criação, e que a Criação, em si, é boa.
Contudo, a Bíblia deixa claro, no relato de Gênesis, que os plenos desígnios 
de Deus não se cumpriram. A liberdade do homem e o seu pecado abriu espaço 
para a manifestação do segundo elemento da tríade: a Queda.
Quais os aspectos da Criação foram afetados pela Queda? Esta é uma per-
gunta muito importante, pois o terceiro elemento (a Redenção), só faz sentido 
a partir do segundo (a Queda). Só é necessário haver uma Redenção porque 
houve uma Queda e, por isso, a compreensão da Queda, muitas vezes negligen-
ciada, é tão importante. 
Entendemos que todos os elementos da Criação foram afetados pela queda, 
caracterizando o conceito reformado de “depravação total”. O que isso quer 
dizer? Este conceito não diz respeito à intensidade do pecado, mas à sua ampli-
tude. Todas as dimensões de Criação foram afetadas pelo pecado. Tudo caiu, 
logo tudo pode ser redimido. Nesse sentido, a Queda não afetou apenas a alma 
humana, como muitas vezes tem sido a ênfase da nossa teologia. Um texto que 
nos ajuda a compreender isso é o de Romanos 8:19-21:
A ardente expectativa da criação aguarda a revelação dos filhos de 
Deus. Pois a criação está sujeita à vaidade, não voluntariamente, mas 
por causa daquele que a sujeitou, na esperança de que a própria criação 
será redimida do cativeiro da corrupção, para a liberdade da glória dos 
filhos de Deus (Romanos 8:19-21).
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Em nossa ênfase reducionista, afirmamos que nossa missão como Igreja é levar 
pessoas a um relacionamento com Deus, ensinando-os a ser religioso. Embora 
isso não seja errado, é incompleto, ou seja, não abarca toda a verdade bíblica. A 
redenção, por definição, tem que ser maior que a Queda. Essa compreensão é 
radical e muda a nossa proposta missiológica. Aqui está o fundamento da nossa 
responsabilidade social e da integralidade da Missão.
Esta verdade está permeada em toda a Escritura, mas o texto de Colossenses 
1:15-20 a deixa ainda mais evidente:
Este é a imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação; 
pois, nele, foram criadas todas as coisas, nos céus e sobre a terra, as vi-
síveis e as invisíveis, sejam tronos, sejam soberanias, quer principados, 
quer potestades. Tudo foi criado por meio dele e para ele. Ele é antes de 
todas as coisas. Nele, tudo subsiste. Ele é a cabeça do corpo, da igreja. 
Ele é o princípio, o primogênito de entre os mortos, para em todas as 
coisas ter a primazia, porque aprouve a Deus que, nele, residisse toda 
a plenitude que, havendo feito a paz pelo sangue da sua cruz, por meio 
dele, reconciliasse consigo mesmo todas as coisas, quer sobre a terra, 
quer nos céus (Colossenses 1:15-20).
Vemos aqui que, em seis versos, quando fala da pessoa e da obra de Cristo, o 
apóstolo Paulo apresenta oito vezes a noção de totalidade ou de integralidade, e 
o versículo 20 evidencia a redenção de todas as coisas tocadas pelo pecado. Da 
mesma forma, o discurso de Pedro no templo, em Atos 3:18-21, destaca a inte-
gralidade da obra redentora de Cristo:
Mas Deus, assim, cumpriu o que dantes anunciara por boca de todos 
os profetas: que o seu Cristo havia de padecer. Arrependei-vos, pois, e 
convertei-vos para serem cancelados os vossos pecados, a fim de que, da 
presença do Senhor, venham tempos de refrigério, e que envie ele o Cris-
to, que já vos foi designado, Jesus, ao qual é necessário que o céu receba 
até aos tempos da restauração de todas as coisas, deque Deus falou por 
boca dos seus santos profetas desde a antiguidade (Atos 3:18-21).
Na mesma linha, no texto de Efésios 1:10, podemos ver a consumação do pleno 
propósito de Deus, que trará de volta todas as coisas e as colocará em ordem, isto 
é, debaixo do senhorio cósmico de Cristo. Quando Paulo diz: “de fazer conver-
gir nele, na dispensação da plenitude dos tempos, todas as coisas, tanto as do céu, 
como as da terra”, ele está declarando que todas as coisas encontram sua exis-
tência, propósito e significado em Cristo.
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A Missio Dei, ou Deus em Missão (BOSCH, 2002), é a restauração de todas as 
coisas caídas. Portanto, que outra missão há, senão uma missão integral? Somos 
cooperadores com Deus na Obra de reconciliação de todas as coisas! Deus está 
em Missão. Deus está reconciliando consigo mesmo todas as coisas. Todos os 
domínios sociais, estabelecidos por Ele na Criação, e que foram integralmente 
afetados pela Queda, devem ser entregues ao Governo de Deus. Neste caso, o 
próprio termo Missão Integral seria redundante, pois somente Missão deveria 
definir, por si só, o escopo integral da ação missionária de Deus.
Ser cristão reformado deveria ser capaz de compreender isso perfeitamente, 
vivendo a vida Coram Deo (MILLER, 2003), ou seja, a vida que deve ser vivida 
integralmente diante da face de Deus. A compreensão da integralidade da mis-
são e das implicações éticas disso é muito mais do que uma ideologia ou um 
modismo, pois é bíblico e está profundamente arraigado nas Escrituras Sagradas.
O fundamento sólido da Integralidade da Missão se dá pela compreensão 
do oniabrangente Reino de Deus. A chegada do Reino em nossas comunidades, 
cidades e nações, traria implicações abrangentes, afetando todas a áreas da vida. 
Logo, se a Missão da Igreja é, em última análise, a manifestação do Governo de 
Deus, ou seja, a chegada do Seu reino, ainda que não completamente, é sua mis-
são atuar em todos os domínios sociais, como agente da sinalização desse reino 
e do Senhorio Cósmico de Cristo sobre todas as dimensões da Vida.
Missão Integral não pode, portanto, ser confundida com evangelismo e cesta 
básica. Vai muito além do que fazer ação social e cuidar do pobre, é muito mais 
abrangente do que isso, e vai para muito além da ação intraeclesiástica, tendo 
aplicação em todos os domínios sociais, incluindo a arte, o direito, a economia, 
o Estado, a ciência, a família etc.
Não fazemos ação social como gancho para evangelizar, como desencargo 
de consciência ou para suprir algo que o Governo não está fazendo. Nossa mis-
siologia não pode ser baseada na omissão de alguém! O fundamento da missão 
e da nossa responsabilidade social é o resgate total de todas as áreas da vida 
e de todas as dimensões da Criação. Evangelismo e ação social são, portanto, 
aspectos indissociáveis do agir redentor de Deus. Da mesma forma, compre-
enderemos, aqui, ação social como ação na sociedade, e não apenas como 
enfrentamento à pobreza.
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O DUALISMO GREGO E A SUA INFLUÊNCIA NA 
MISSIOLOGIA DA IGREJA
A compreensão mais aprofundada da necessidade de uma missiologia integral, 
a partir de uma cosmovisão cristã, passa pelo entendimento do dualismo grego 
como forte influência sobre o pensamento da Igreja ao redor da sua história. 
A cultura greco-romana sempre influenciou o pensamento da Igreja, e deve-
mos lembra que à época do Novo Testamento, esta era a cultura dominante na 
Palestina (MILLER, 2003).
Para o dualismo grego, tudo que é espiritual ou etéreo é sagrado, e tudo 
que é físico e material, é profano. Nesta concepção de mundo, a matéria é 
essencialmente má. A cosmovisão grega antiga, portanto, concebia a realidade 
em termos de uma dualidade que colocava em oposição o sagrado e o pro-
fano. A matéria estava na esfera do profano, simplesmente por ser matéria. 
Ao contrário dos hebreus, que concebiam a vida de uma forma mais integral e 
integrada, emprestando dos aspectos concretos da vida atributos para o próprio 
Deus. Isto é, enquanto o grego tende a abstrair os atributos da divindade (onis-
ciente, onipotente, onipresente), o hebreu o chama de rocha, escudo, refúgio e 
fortaleza (Salmos 18:2; 46:1).
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Sagra
do
Deus
Secular
Figura 1 - A dicotomia sagrado versus profano
Fonte: adaptado de Miller (2003).
Com a chegada do evangelho, em certo sentido houve um teísmo de síntese, ou 
seja, elementos da fé cristã foram acrescidos, mas a estrutura do pensamento, 
em muitos casos, permaneceu dual. Essa estrutura se manifesta de várias for-
mas. Atualmente, toma forma na ideia de vida cristã versus vida secular, ou seja, 
as esferas do sagrado e do profano assumem contornos com outras nomencla-
turas, mas a estrutura e as concepções originais permanecem em outros termos.
A dicotomia sagrado versus profano assume, também, a forma de 
evangelismo versus ação social, missões versus desenvolvimento social, 
fé versus obras e penetra na esfera vocacional, na forma clero versus lai-
cato, contrariando o conceito bíblico de sacerdócio universal dos crentes. 
Esta tendência gnóstica de superespiritualização sempre acompanhou e foi uma 
tendência na História da Igreja, manifestando uma orientação de sacralização 
das atividades espirituais e místicas. Fazemos vigílias de oração pela libertação 
dos presos, enquanto Jesus nos manda visitá-los em suas prisões. Chegou-se ao 
ponto de, já nos primórdios do Cristianismo, negar-se a encarnação de Cristo, 
o que foi duramente enfrentado pelos apóstolos.
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Amados, não deis crédito a qualquer espírito; antes, provai os espí-
ritos se procedem de Deus, porque muitos falsos profetas têm saído 
pelo mundo fora. Nisto reconheceis o Espírito de Deus: todo espírito 
que confessa que Jesus Cristo veio em carne é de Deus; E todo espírito 
que não confessa a Jesus não procede de Deus; pelo contrário, este é 
o espírito do anticristo, a respeito do qual tendes ouvido que vem e, 
presentemente, já está no mundo. Filhinhos, vós sois de Deus e ten-
des vencido os falsos profetas, porque maior é aquele que está em vós 
do que aquele que está no mundo. Eles procedem do mundo; por essa 
razão, falam da parte do mundo, e o mundo os ouve. Nós somos de 
Deus; aquele que conhece a Deus nos ouve; aquele que não é da parte 
de Deus não nos ouve. Nisto reconhecemos o espírito da verdade e o 
espírito do erro (BÍBLIA, 1 João 4:1-6).
O que isso significa? A palavra provai (versículo 4) no original grego é dokimazo, 
que significa testar, examinar, provar, verificar ver se uma coisa é genuína ou não; 
reconhecer como genuíno depois de examinar, aprovar, julgar valioso, ou seja, 
provar os espíritos é provar o ensino, a mensagem. Historicamente, essa carta foi 
escrita quando a igreja estava sendo influenciada por muitos ensinamentos falsos, 
inclusive doutrinas gnósticas, filhas do dualismo grego, que até mesmo negavam 
a humanidade de Jesus e Sua ressurreição física. Essa carta foi escrita para forta-
lecer os irmãos na fé na sã doutrina, e para corrigir os falsos ensinos da época.
A Dicotomia Grega
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G
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Mais alto
Mais
importante
Mais baixo
Menos
importante
Fé
Teologia
Ética
Missões
Vida devocional
Evangelho
Razão
Ciência
Negócios/economia
Política
Arte/música
Ministério físico
Pão
Espiritual
(sagrado)
Físico
(secular)
Figura2 - A Dicotomia Grega
Fonte: adaptado de Miller (2003).
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O gnosticismo evangélico (MILLER, 2003), derivado do dualismo grego, 
mantém, no plano superior, espiritual e sagrado, dimensões da vida, como: 
consagração devocional, oração, jejum, moral, ética, missões, teologia, evan-
gelismo, disciplinas espirituais, guerra espiritual, além disso joga para o plano 
inferior, secular, aspectos ou domínios sociais, como: trabalho, razão, negó-
cios, política, ciência, economia, mídia, artes, serviço comunitário e satisfação 
de necessidades físicas. 
Deus
Espiritual
 Moral
 Graça
Fé
 Ética
 Missões
Sagrado 
Teologia 
Evangelismo
Discipulação 
Devocionais 
>>
Disciplinas Espirituais
Guerra Espiritual
Natural
Físico >> Secular
 Trabalho
Razão
Negócios
 Política
Ciência 
Economia
Mídia
As Artes 
Ministérios Físicos
Justiça Social
Dias da Semana
Gnosticismo Evangélico
Figura 3 - O Gnosticismo Evangélico
Fonte: adaptadado de Miller (2003).
O traço mais característico do gnosticismo era um dualismo ontológi-
co irreversível, uma oposição entre um Deus transcendente e um de-
miurgo obtuso que criara o mundo material. Essa criação material era 
integralmente perversa e adversária irrevogável do deus transcendente. 
Via-se o mundo, primordialmente, como uma ameaça, uma fonte de 
contágio. Por conseguinte, a cristologia do gnoticismo seria docética: 
Cristo não era um ser humano real, mas apenas parecia sê-lo. Esse 
dualismo ontológico onipresente manifestava-se em pares infinitos de 
opostos: o temporal e o eterno, o físico e o espiritual, o terreno e o ce-
lestial, o aqui e o além, a carne aqui embaixo e o espírito lá em cima etc. 
(BOSCH, 2002, p. 249).
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Não haverá uma ética cristã sólida, um ministério efetivo de transformação 
comunitária e tampouco uma ação transformadora relevante da Igreja se a nossa 
concepção de mundo e, consequentemente, a nossa missiologia for baseada no 
gnosticismo evangélico, filho do dualismo grego. O conceito de vida Coram Deo 
(vida perante a face de Deus, o todo da vida vivido para a Glória dEle) é o con-
ceito reformado que desconstrói o gnosticismo evangélico.
CORAM DEO
 Diante de Deus
Deus
Raciocínio 
Teologia 
Ética 
Política 
Evangelismo
A Natureza 
Serviço 
Comunitário 
Evangelho 
 Fé
 Ciência
 Administração
Missões
 Direito
 Arte/Música
 Vida
 devocional
 Pão
Figura 4 - A Vida Coram Deo
Fonte: adaptado de Miller (2003).
Logo, o Cristianismo como sistema total de vida e pensamento é o funda-
mento da responsabilidade social da Igreja. A fé cristã é uma visão de mundo 
e as escrituras oferecem os elementos fundamentais e fundantes para o dis-
cipulado de nações, possuindo um escopo integral, não dualista, a partir da 
revelação de Deus. Nesse sentido, a fé é muito mais do que uma experiência 
religiosa, subjetiva, individual e mística (embora inclua isso). É uma visão de 
mundo. Nesse sentido, o pecado do incrédulo é resistir à Verdade, o pecado 
da Igreja tem sido restringir a Verdade.
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Existem outros sistemas totais de vida e pensamento, como o Islamismo, 
o Humanismo Secular, possuindo cosmologia, moralidade, escatolo-
gia e influenciando todos os domínios sociais. Um sistema total é o grande 
orientador de sentido e significado para determinada coletividade. 
Sabemos que a estrutura dual de pensamento é muito presente no pensamento 
e na concepção ocidental de mundo. Dentre as explicações para a permanência 
do dualismo grego em nosso meio, encontramos uma explicação histórica ligada 
à história do mundo ocidental. Na segunda metade do século XIX, a fé cristã foi 
duramente atacada em seus fundamentos.
Nesta época, nasceram disciplinas, como a sociologia, e psicologia e o 
darwinismo emergiu com a publicação de Origem das Espécies (1865). Os 
líderes cristãos em geral, nessa época, não souberam responder ao debate 
no campo das ideias, criando espaço para o movimento fundamentalista: a 
ideia era voltar ao que é fundamental ou essencial, como Missão da Igreja. 
A tarefa da Igreja teria que ser a salvação das almas e o cuidado das coisas espi-
rituais, caracterizando o movimento missionário hegemônico que veio para o 
Brasil. A Igreja, que tinha universidades, passou a preocupar-se apenas com a 
formação teológica. A omissão da Igreja e a redução da fé abriu o caminho para 
o fortalecimento do humanismo secular na batalha pela cultura ocidental.
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AS IMPLICAÇÕES DO DUALISMO GREGO PARA UMA 
VISÃO DAS VOCAÇÕES HUMANAS
Como resultado do dualismo grego e do gnosticismo evangélico, muitos cristãos 
em geral, têm vivido uma espiritualidade fragmentada, em que não conseguem 
ligar o mundo do trabalho com o Reino de Deus. Isso traz uma série de pro-
blemas e frustrações para os cristãos. Substituímos o conceito hebraico de avad 
(trabalho como adoração), pela ideia latina de tripalium (instrumento romano 
de tortura que gerou a palavra trabalho, em português).
A concepção dicotômica da realidade e sua influência na vida do trabalho 
pode ser melhor traduzida pelos ensinamentos de Eusébio, bispo de Cartago, 
no século IV. Ele ensinou:
Dois modos de vida foram dados pela lei de Cristo à Sua Igreja. O pri-
meiro é acima da natureza e além da vida humana comum… plena-
mente e permanentemente separada da vida comum e costumeira do 
ser humano, ela se devota somente ao serviço de Deus… esta é a forma 
perfeita da vida Cristã.
O segundo, mais humilde e mais humano me permite possuir capacidade 
para agricultura, comércio e para outros interesses mais seculares como 
também para religião… E um tipo secundário de graça é atribuído aos tais.
Na concepção eusebiana, a Vida Perfeita era a vida contemplativa, mais elevada, 
sagrada, espiritual, era exercida pelos “superiores” sociais e espirituais. Neles, 
estão incluídos os padres (sacerdotes), freiras, monges e os aristocratas. Já a Vida 
Permitida correspondia à vida ativa, ou seja, à atuação secular e inferior, exer-
cida pelos “inferiores” sociais e espirituais. Aqui, incluem-se os agricultores, as 
donas de casa, os atendentes de loja, trabalhadores braçais etc. (MILLER, 2012). 
A reforma da Igreja do século XVI veio, entre outras coisas, para romper 
com esta mentalidade dual no que diz respeito à vida vocacional e as profissões. 
Martinho Lutero afirmou, em Do Cativeiro Babilônico da Igreja, 1520:
O trabalho de monges e sacerdotes, ainda que sagrado e árduo, não 
difere em nada à vista de Deus do trabalho do operário braçal ou da 
mulher que cuida de suas tarefas domésticas; todo e qualquer trabalho 
é medido por Deus somente com base na fé… de fato, o simples tra-
balho doméstico de um criado ou criada geralmente é mais aceitável 
diante de Deus do que todos os jejuns e outros afazeres dos monges ou 
sacerdotes, porque os monges e sacerdotes carecem de fé.
As Implicações do Dualismo Grego para uma Visão das Vocações Humanas
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Nesta mesma linha, um dos ícones do neocalvinismo holandês, o reformador 
social e primeiro ministro da Holanda, Abraham Kuyper, afirmou nas famosas 
The Stone Lectures, na Universidade de Princeton, em 1898:
Onde quer queo homem esteja, o que quer que faça, ao que quer que 
lance às mãos, na agricultura, no comércio e na indústria, ou em sua 
mente, no mundo das artes e ciências, no que quer que seja, ele perma-
necerá sempre diante da face de Deus, ele está empregado no serviço 
de seu Deus, ele tem que obedecer ao seu Deus e, acima de tudo, seu 
objetivo deve ser a glória de Deus.
Segundo Miller (2012), esta é a essência da vida Coram Deo, pregada pelos refor-
madores da Igreja. A nossa responsabilidade social e ética diante da sociedade 
passa por uma concepção integral e integrada de vocação e chamado, compre-
endido, aqui, a partir do conceito de Vocare, ou Vox, ou seja, da compreensão 
da Voz de Deus, do Chamado peculiar e da contribuição de cada indivíduo para 
a concretização do plano e dos desígnios de Deus na construção do Seu reino.
Sabemos que a Queda também afetou o mundo da vocação e do trabalho, 
transformando o avad (trabalho como adoração) em eved (trabalho escravo). 
O trabalho, concebido por Deus para ser o exercício da vocação de cada pessoa, 
em resposta ao mandato cultural de Gênesis, tornou-se penoso e difícil. Nasceu 
o trabalho escravo, a exploração do homem pelo homem, a opressão, o abuso, a 
exploração. Aqui também, o agir transformador da Igreja, no campo do traba-
lho, deveria ser traduzido na mudança do eved em avad, ou seja, em ajudar as 
pessoas a encontrar as suas vocações e a andar nela.
A compreensão e o ensino de uma teologia vocacional são fundamentais para 
o agir transformador da Igreja. Somente quando entendermos as nossas atividades 
como resultado de um chamado de Deus, realizadas para a Glória dEle, é que rom-
peremos com o dualismo e o gnosticismo em nossas próprias vidas e modelos de 
espiritualidade, abrindo o caminho para uma relevância maior da Igreja na sociedade.
A necessidade de integração da vida dos cristãos é tema que precede a ques-
tão da ética e da responsabilidade social, pois é a partir desta integração é que 
geraremos pessoas mais plenas e atuantes no exercício da sua vocação como 
manifestação do seu chamado específico. A vida cristã passa a ir muito além do 
que um conjunto de normas morais e condutas no ambiente do trabalho, para 
traduzir a atividade em si, como a forma do cristão glorificar a Deus no mundo.
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Em lugar de considerar algumas atividades mais sagradas do que outras, hierar-
quizando os chamados vocacionais, devemos pensar que toda ação é legítima, 
desde que se realizada em resposta ao um chamado obedecido em fé. Podemos 
limpar o chão de uma casa de forma consagrada, ao passo que é possível pregar 
para multidões de uma maneira não santa.
O que importa não é a atividade em si, mas a forma como ela é exercida. Há 
diferenciações de destacamento e designação (local e extralocal) e de consagra-
ção, mas todas as atividades, sejam de cunho intelectual ou braçal, são legítimas e 
devem ser santificadas diante de Deus. Esse é um firme fundamento da ética cristã. 
O SENHORIO DE CRISTO SOBRE OS DIFERENTES 
DOMÍNIOS SOCIAIS
A compreensão da integralidade das 
intenções de Deus na vida vocacional 
e profissional nos traz à tona a ques-
tão dos diferentes domínios sociais, 
ou esferas de soberania, conforme 
a definição de diferentes autores. 
Em alguns ambientes, as esferas são 
também conhecidas como áreas de 
influência ou os sete montes. A ideia 
central é que a sociedade é composta 
por diferentes áreas, cada qual com 
suas características específicas, e que 
a Igreja deve influenciar todas elas, 
manifestando o senhorio de Cristo. Mas o que significa pensar o senhorio cósmico 
sobre os diferentes domínios sociais em uma sociedade complexa como a nossa?
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Aqui, utilizaremos a abordagem de Herman Dooyeweerd (1986), que esta-
beleceu o conceito de esfera de soberania, ou esferas modais, ou seja, a sociedade 
seria dividida em diferentes esferas, cada qual com o seu próprio núcleo de sentido, 
com suas peculiaridades advindas da essência do próprio Deus e estabelecidas 
na ordem criacional. Deste modo, cada esfera de soberania revela quem Deus é, 
tem uma lei específica, ou um motivo-base, e Cristo deve governar sobre todas 
elas. Além disso, cada esfera estabelecida por Deus tem as suas próprias institui-
ções sociais, à medida que as sociedades vão formando-se e complexificando-se.
Apresentaremos de forma simplificada e didática alguns exemplos:
a. Esfera pística – esta é a esfera da fé (do grego pisthos, fé). Ela existe para 
nutrir a fé. Nesta esfera está a igreja local, os seminários teológicos, as 
agências missionárias para a propagação da fé.
b. Esfera ética – esta é a esfera do casamento e da família, governada pelo 
amor.
c. Esfera estética – esta é a esfera da arte, governada pela beleza, existe para 
a expressão do Belo (o Criador).
d. Esfera jurídica – esta é a esfera do Estado, governada pela lei da Justiça. 
Aqui também estão os movimentos de pressão e os partidos.
e. Esfera lógica – esta é a esfera do conhecimento, onde está a produção do 
conhecimento científico e as Universidades.
f. Esfera econômica – esta é a esfera do mercado, o domínio social das 
empresas, da produção de riqueza para o bem comum (CARVALHO 
2006; DOOYEWEERD, 1986).
Entender as leis que governam as esferas específicas ou o motivo-base de cada 
uma delas é fundamental em diversos aspectos:
a. para a compreensão e o exercício do chamado vocacional de cada indi-
víduo;
b. para a compreensão da natureza das instituições pertencentes a cada 
esfera: para que elas existem, como devem funcionar e o resultado que 
cada uma delas deve trazer para a sociedade;
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c. para o discernimento dos efeitos da Queda sobre cada esfera específica, 
as influências de outros sistemas de crenças e visões de mundo sobre elas, 
consequentemente, qual é a tarefa da Igreja na cooperação com Deus 
para a redenção das esferas (CARVALHO, 2006; DOOYEWEERD, 1986).
A alteração ou distorção de um motivo-base (igrejas que funcionam como 
empresas, em que o critério último de êxito é a condição financeira, por exem-
plo, ou igrejas que funcionam como clubes sociais, onde há comunhão, mas 
não há nutrição da fé) causam desconforto, pois ferem princípios da ordem 
da criação estabelecida por Deus. A igreja local, sendo da esfera pística (a 
esfera da fé), tem como finalidade a nutrição da fé. Todos os demais atribu-
tos (beleza estética do culto, arrecadação financeira, gestão por competências 
etc.) podem e devem existir em harmonia, mas a finalidade é prioritária e não 
pode faltar. Os demais atributos e características devem estar a serviço disso.
Outros exemplos são empresas que funcionam pastoralmente, como se fos-
sem igrejas, e acabam indo à falência, pois a empresa está na esfera econômica, 
e não na esfera pística. Um político que, ao invés de fazer o que é justo e pro-
pagar a justiça, utiliza-se do Estado para propagar a adesão à fé ou impô-la à 
sociedade, comete um equívoco, uma confusão de esferas, ferindo a ordem cria-
cional, o que causa confusão e vários problemas. 
A esfera jurídica, ou do Estado, como derivação do caráter do próprio 
Deus, é a esfera da Justiça. O cristão que tem vocação para a política exerce o 
seu trabalho na arena política para que a Justiça se manifeste, e não para que 
a fé se propague (embora isso também possa e deva acontecer como resultado 
do seu testemunho).
Logo, a sua preocupação deve ser: o que é justo para todos os cidadãos? Que 
tipo de decisão ou de política pública vai gerar uma sociedade com mais justiça, 
equidade, prosperidadee solidariedade? A confusão de esferas causa desequilí-
brio e toda sorte de equívocos, abusos e problemas.
Dentro do princípio do homem como cogestor da criação e como aquele a 
quem Deus instituiu autoridade sobre a criação, compreendemos que cada esfera 
possui as respectivas classes de pessoas que exercem autoridade sobre aquele 
domínio social específico, a partir de um chamado ou uma vocação dada por 
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Deus. Desta forma, o prefeito não pode dizer à igreja como praticar os sacramen-
tos. Da mesma forma, o pastor não deve dizer ao cientista como fazer a pesquisa 
científica, nem ao prefeito como governar.
Karl Barth foi um dos primeiros teólogos a articular o conceito de Missio Dei, 
que diz respeito à ideia de missão como atividade de Deus mesmo, e não 
da igreja, e representa uma superação da mera compreensão em termos 
soteriológicos (como salvar indivíduos da condenação eterna) ou culturais 
(expansão dos valores do Ocidente para o sul e o oriente). Na definição do 
conceito de Missio Dei, afirma-se que, na nova imagem, a missão não é pri-
mordialmente uma atividade da igreja, mas um atributo de Deus. Deus é 
um Deus missionário. “Não é a igreja que deve cumprir uma missão de sal-
vação no mundo; é a missão do Filho e do Espírito mediante o Pai que inclui 
a igreja” (MOLTMANN, 1977, p. 64). Bosch (2002, p. 468) nos afirma que “o 
propósito primeiro das missiones eccelsiae não pode, por consequência, ser 
simplesmente a implantação de igrejas ou a salvação de almas; pelo con-
trário, ele deverá ser o serviço à Missio Dei, representar Deus no e diante do 
mundo, apontar para Deus”.
Fonte: adaptado de Bosch (2002).
Segundo Dooyeweerd (1986), embora as esferas sejam autônomas, essa autono-
mia não é absoluta. Na ordem criacional, há uma interdependência entre elas, 
ou seja, elas não são isoladas, pois nascem da mesma fonte, a essência do pró-
prio caráter de Deus. Por exemplo: vamos à igreja para nutrir a fé (esfera pística), 
mas apreciamos uma ministração de louvor em que há beleza artística (esfera 
estética), mas não vamos à igreja para assistir a um espetáculo de música, para 
isso, iríamos a um concerto.
Da mesma forma, uma família existe para nutrir o amor. Seria ridículo pen-
sar que o critério de êxito de uma família seria a quantidade de dinheiro que ela 
consegue economizar e acumular, porém, uma família saudável também tem as 
finanças em ordem. Desta forma, as esferas conversam entre si, mas são gover-
nadas por leis diferentes.
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Parte da compreensão da nossa plena vocação deve ser entender completamente o 
significado da lei que governa a nossa esfera, como resposta ao Mandato Cultural 
de Gênesis 1:26. A responsabilidade social (ou seja, o agir na sociedade) e a ética 
cristã da Igreja passam pelo entendimento da existência das esferas, a compre-
ensão da sua amplitude e a especificidade de cada uma.
Um princípio fundamental a ser observado, dentro de uma perspectiva cristã 
de reforma social, é que Cristo deve estar no centro, governando todos os domí-
nios sociais. Logo, não é a Igreja em si que deve ser a governante (embora ela seja 
a grande influenciadora de todas as demais esferas), tampouco qualquer uma das 
outras esferas. Segundo esta teoria, o reino de Deus seria caracterizado pela har-
monia dos domínios sociais, que respeitariam uns aos outros. Sempre que uma 
esfera se coloca no centro, tentando governar as demais, ou mesmo tentando 
“achatar as demais”, Dooyeweerd (1986) chama isso de tirania.
Alguns exemplos históricos podem ser citados. Um deles seria a Igreja domi-
nando todas as esferas na Idade Média (o domínio do papa sobre os reis, a arte 
sacra como a única legítima etc.). Outro exemplo poderia estar relacionado às 
várias tentativas do Estado de legislar sobre a consciência das pessoas e dominar 
sobre todas as demais áreas, em diversos momentos da história, gerando totali-
tarismo, violência, discriminação e até genocídios e guerras.
Atualmente, vivemos a tirania da esfera econômica ou esfera do mercado. A 
manifestação disso na Igreja, atualmente, está na constatação de que ela se torna 
um empreendimento econômico-religioso e as evidências de uma vida de fé se 
confundem pelas evidências do próprio mercado, ou seja, a bênção divina repousa 
(ou, no mínimo, é enfatizada) sobre a prosperidade material. O mercado domina 
a produção cultural e artística, as relações e as decisões das pessoas e dos países.
Nesta visão reformada, que foi brilhantemente sistematizada pelo neocalvi-
nismo holandês, as esferas devem ser integradas e harmônicas. Isso caracteriza 
uma visão cristã de sociedade, em que a família, o Estado e a Igreja, assim como 
cada uma das instituições sociais, têm, cada qual, o seu devido lugar, exercendo 
o seu papel com clareza a cooperando entre si.
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A Igreja transformadora, portanto, é aquela que identifica e prepara os seus 
vocacionados para todas as esferas de soberania, entendendo que o vocacionado 
não é apenas para a esfera pística (âmbito da igreja local), mas para todas elas.
Cada cristão deve se perguntar: o que significa ser um agente de reconcilia-
ção da esfera para o qual eu fui chamado? Qual é a lei dominante para a esfera do 
meu chamado vocacional, ou que significa glorificar a Deus nesta esfera? Quais 
as marcas da Queda na minha esfera?
Sabemos que esta é uma tarefa muito grande e desafiadora, e que nenhuma 
igreja local conseguiria identificar e preparar os seus membros para os chama-
dos específicos em cada uma das esferas. Nesse sentido, cremos em ministérios 
de referência específicas, caminhando lado a lado com as igrejas locais, ou pasto-
rais que apoiam os cristãos em seu chamado para os diferentes domínios sociais. 
Assim, temos ministérios, organizações e instituições cristãs voltadas exclu-
sivamente para a área da educação, por exemplo, formulando novos currículos, 
ensinando crianças a pensar de acordo com os princípios das Escrituras, fun-
dando escolas e influenciando as políticas públicas na área da educação.
Criticando a omissão de igrejas em projetos sociais, um sociólogo não cris-
tão me disse certa vez: “eu não acredito em grupos que falam de amor, mas 
só ministram às necessidades dos seus próprios membros”. O que você acha?
Os educadores devem conhecer este trabalho e ser capacitados por estas inicia-
tivas, a fim de serem melhores obreiros de transformação. O mesmo acontece 
entre artistas cristãos, políticos, cientistas, empresários etc. As esferas estão orga-
nizadas em instituições e ministérios que devem sempre andar em harmonia e 
cooperação com as igrejas locais e nunca competir com elas.
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O ensino das esferas de soberania, ou domínios sociais, é desafiador, mas, ao 
mesmo tempo, extremamente libertador para os cristãos, pois libera e empodera 
cada cristão para exercer o seu chamado e a sua vocação livremente, cumprindo 
a Sua Missão, abrindo espaço para a sua contribuição única no mundo.
Esperamos que esta unidade tenha contribuído para trazer um sólido fun-
damento histórico, bíblico e teológico para uma ética cristã integral e para a 
responsabilidade social da Igreja, estabelecendo as bases para uma práxis trans-
formadora e sinalizadora do Reino de Deus. Isso é o Discipulado da Nação.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nesta unidade, estudamos sobre a fundamentação teológica da integralidade da 
missão e da responsabilidade social da Igreja, a partir de uma leitura abrangente 
e integrada das Escrituras e da noção do Reino de Deus. Aprendemos sobre a 
tríade bíblico teológica Criação – Queda – Redenção e sobre o dualismo grego e 
suas implicações na nossa compreensão da realidade e na missiologia, por meio 
do gnosticismo evangélico.
Aprofundamos, também, especificamente, a questão da influência desse tipo 
de pensamento dual no campo das vocações humanas, em oposição ao conceito 
reformado de vida Coram Deo. Por fim, pudemos conhecer mais sobre o modelo 
de sociedade da filosofia reformada, com a apreensão do conceito de esfera de 
soberania ou de domínio social, abrindo espaço para a ampla participação dos 
cristãos nas diferentes áreas da sociedade como expressão dos seus chamados 
e das suas vocações.
A apreensão desses conceitos nos traz à reflexão sobre até que ponto, em nos-
sas igrejas, temos uma teologia e uma missiologia de fato integral e integrada, 
ou se ainda estamos reféns do dualismo grego e sua derivação, que denomina-
mos aqui de gnosticismo evangélico. Ainda há, em sua comunidade de fé, a ideia 
implícita de sagrado versus secular?
As questões das esferas ditas seculares, como o mundo do trabalho, a arte, 
a educação, a economia, o direito, a política, a satisfação de necessidades físicas, 
entre outras, são consideradas menos espirituais ou inferiores? Algumas vocações 
específicas, como o pastorado e o chamado missionário para o campo transcul-
tural, são consideradas superiores ou mais espirituais do que outras?
A desconstrução desses conceitos arraigados é condição para que tenhamos 
uma ética cristã e uma responsabilidade social solidamente assentadas no fun-
damento bíblico do senhorio de Cristo sobre todas as dimensões da vida.
42 
1. De acordo com o que foi abordado nesta unidade, diante do escopo abrangente 
da ação cristã em uma sociedade ao longo dos séculos cada vez mais complexa 
e dinâmica, assinale a alternativa correta:
a) O dualismo sagrado versus profano, ou dualismo grego, exerceu influência 
decisiva na formação do gnosticismo evangélico, presente ainda hoje na te-
ologia e missiologia cristã.
b) A vida cristã coram deo, que quer dizer “diante de Deus” ou “perante a face de 
Deus” foi um dos lemas da Reforma Protestante.
c) Eusébio, bispo de Cartago, pregava dois modos de vida cristã, influenciando 
até hoje uma visão fragmentada da vida vocacional.
d) A esfera pística é a esfera de nutrição da fé, onde se encontra a igreja local e 
as agências missionárias com ênfase na implantação de igrejas.
e) Todas as anteriores estão corretas.
2. A compreensão mais fundamentada acerca da integralidade da missão, ética 
cristã e responsabilidade social da igreja baseia-se em uma compreensão acerca 
do próprio reino de Deus, sua definição e abrangência. Discorra sobre o concei-
to de Reino de Deus e sua relação com a responsabilidade social da Igreja.
3. A história bíblica pode ser resumida na chamada tríade bíblica teológica refor-
mada: criação, queda e redenção. É como que se para entender um enredo que 
é complexo, apontássemos três grandes acontecimentos em que todos os ele-
mentos do enredo devem enquadrar-se e fazer sentido, à luz destes três aconte-
cimentos. Explique e relacione a tríade bíblica teológica cristã com a respon-
sabilidade social e a natureza integral da missão. 
4. A cultura greco-romana sempre influenciou o pensamento da Igreja e devemos 
lembrar que, à época do Novo Testamento, esta era a cultura dominante na Pa-
lestina (MILLER, 2003). Para o dualismo grego, tudo que é espiritual, ou”etéreo” é 
sagrado, e tudo que é físico e material, é profano. Nesta concepção de mundo, a 
matéria é essencialmente má. Quais as implicações do dualismo grego para 
uma visão das vocações humanas?
5. A compreensão da integralidade das intenções de Deus na vida vocacional e 
profissional nos traz à tona a questão dos diferentes domínios sociais, ou esferas 
de soberania, conforme a definição de diferentes autores. Em alguns ambientes, 
as esferas são também conhecidas como áreas de influência ou os sete montes. 
A ideia central é que a sociedade é composta por diferentes áreas, cada qual com 
suas características específicas, e que a Igreja deve influenciar todas elas, mani-
festando o senhorio de Cristo. Apresente de forma simplificada a didática, os 
exemplos destas “esferas” citados na unidade.
43 
Leia uma parte das conclusões do artigo “A Missão da Igreja à Luz do reino de Deus”, de René 
Padilha, um dos ícones da Teologia da Missão Integral, para reforçar o conteúdo da Unidade:
Tanto a evangelização como a respon-
sabilidade social podem ser entendidas 
unicamente à luz do fato de que, em Cristo 
Jesus, O Reino de Deus invadiu a histó-
ria e agora é uma realidade presente e, 
ao mesmo tempo, um “ainda não”. Neste 
sentido, O Reino de Deus não é “o melhora-
mento social progressivo da humanidade, 
segundo o qual a tarefa da Igreja é trans-
formar a terra em céu, e isto agora”, nem “o 
reinado interior de Deus presente nas dis-
posições morais e espirituais da alma, com 
sua base no coração”. Antes, ele é o poder 
de Deus, liberto na história, que traz boas 
novas aos pobres, liberdade aos cativos, 
vista aos cegos e libertação aos oprimidos.
A evangelização e a responsabilidade social 
são inseparáveis. O evangelho é boa nova 
acerca do Reino de Deus. As boas obras, 
por outro lado, são os sinais do Reino para 
as quais fomos criados em Cristo Jesus. A 
palavra e a ação estão indissoluvelmente 
unidas na missão de Jesus e de seus após-
tolos, e devemos mantê-las unidas na 
missão da Igreja, na qual se prolonga a mis-
são de Jesus até o final do tempo. O Reino 
de Deus não é meramente o governo de 
Deus sobre o mundo por meio da criação e 
da providência; e se esse fosse o caso, não 
poderíamos afirmar que foi inaugurado 
por Jesus Cristo. O Reino de Deus é, antes, 
uma expressão do governo final de Deus 
em toda a criação, o mesmo que, em ante-
cipação ao fim, fez-se presente na pessoa 
e obra de Jesus Cristo. Tanto a proclama-
ção do Reino como os sinais visíveis de 
sua presença por meio da Igreja se reali-
zam pelo poder do Espírito – o agente da 
escatologia em processo de realização – 
e apontam para sua realidade presente 
e futura. A necessidade mais ampla e 
mais profunda de todo o ser humano é 
um encontro pessoal com Jesus Cristo, 
o Mediador do Reino. Deus é o mesmo 
Senhor de todos e abençoa muito a todos 
os que pedem a sua ajuda. Como dizem 
as Escrituras Sagradas: “Aquele que pedir 
ajuda do Senhor será salvo” (Rm 10.12-13, 
LH). Nesta perspectiva, e somente nela, é 
possível afirmar que “o serviço de evan-
gelização abnegada figura como a tarefa 
mais urgente da Igreja” (Pacto Lausanne, 
seção 6), e o evangelho é boa-nova acerca 
do Reino, e o Reino é o domínio de Deus 
sobre sua totalidade da vida. Cada neces-
sidade humana, portanto, pode ser usada 
pelo espírito de Deus como o ponto de par-
tida para a manifestação de seu poder real. 
Por isso, na prática, é irrelevante pergun-
tar qual vem primeiro, a evangelização ou 
a ação social. Em cada situação concreta, 
as próprias necessidades provêm a defi-
nição das prioridades. Se a evangelização 
e a ação social são consideradas essên-
cias na missão, não necessitamos de um 
manual que nos diga qual vem primeiro 
e qual vem depois. Por outro lado, se não 
são considerados essenciais, o esforço para 
entender a relação entre elas é um exercí-
cio acadêmico inútil; tão inútil como tentar 
entender a relação entre a asa esquerda e 
a direita de um avião, quando acredita-se 
que um avião pode voar com uma asa só. 
E quem pode negar que a melhor maneira 
de entender a relação entre duas asas de 
um avião é voar nele, ao invés de especu-
lar a respeito?44 
De acordo com a vontade de Deus, a Igreja 
é chamada a manifestar o Reino de Deus 
aqui e agora, tanto por meio daquilo que 
ela faz, como por meio do que proclama. 
Porque o Reino de Deus já veio e está por 
vir; a Igreja “entre os tempos” é uma rea-
lidade escatológica e histórica. Se não 
manifesta plenamente o Reino, isto não se 
deve a que o Reino dinâmico de Deus tenha 
invadido a presente era “sem a autoridade 
ou o poder para transformá-la na era vin-
doura”, (Nota 11. Arthur P. Johnston. Op cit., 
p. 23), mas porque a consumação não che-
gou ainda. O poder que está ativo na igreja, 
no entanto, é como a operação do poder 
de Deus, o qual “exerceu ele em Cristo, res-
suscitando-o dentre os mortos, e fazendo-o 
sentar à sua direita nos lugares celestiais, 
acima de todo principado e potestade, e 
poder, e domínio, e de todo o nome que 
se possa referir não só no presente século, 
mas também no vindouro” (Ef 1:20-21). A 
missão da Igreja é a manifestação histórica 
deste poder por meio da palavra e da ação, 
no poder do Espírito Santo.
Por sua morte e ressurreição, Jesus Cristo 
foi exaltado como Senhor do universo. 
Consequentemente, todo o mundo foi 
colocado sob seu senhorio. A Igreja ante-
cipa o destino de toda a humanidade. Entre 
os tempos, portanto, a Igreja – a comuni-
dade que confessa a Jesus Cristo como 
Senhor e por meio dele reconhece a Deus 
como criador e juiz de todos os homens 
– está chamada a “participar dessa solici-
tude divina pela justiça e reconciliação em 
todas as sociedades humana, e pela liberta-
ção do homem de toda forma de opressão” 
(Pacto de Lausanne, seção 5). A entrega de 
Jesus Cristo é entrega a ele como Senhor 
do universo, o Rei diante do qual todo joe-
lho se dobrará, o destino final da história 
humana. Contudo, a consumação do Reino 
de Deus é a obra de Deus. Nas palavras de 
Wolfhart Pannenberg, “O Reino de Deus 
não será estabelecido pelo homem. Muito 
enfaticamente, ele é o Reino de Deus (...) 
O homem não é exaltado, mas degradado 
quando se torna vítima de ilusões acerca 
de seu poder”.
Fonte: adaptado de Padilla (1992).
Material Complementar
MATERIAL COMPLEMENTAR
Missão transformadora: mudanças de paradigma na teologia 
da missão 
David Bosch 
Editora: Sinodal
Sinopse: esse livro nos traz uma visão histórica e abrangente acerca da 
teologia da missão. Ele aponta que a mudança de paradigma não nos 
confronta apenas com um perigo, mas também com oportunidades. 
Missão transformadora está numa classe toda própria, tornando-se uma 
referência-padrão no estudo da missão cristã mundial, e talvez o livro-texto 
mais usado em aulas e curso de missão. Esta grande obra de David Bosch 
transformou-se em seu legado permanente para todas as pessoas que 
procuram entender, servir e disseminar a causa de Cristo no mundo. 
O site do Centro de Refl exão Missiológica Martureo traz densos artigos, vídeos e dicas de cursos 
sobre questões contemporâneas da missão da Igreja.
Disponível em: <https://www.martureo.com.br>.
O artigo “Missão Integral e a Grande Comissão – as cinco marcas da missão”, de Chris Wright, 
apresenta visão panorâmica sobre os conceitos principais da missão contemporânea. Verifi que no 
link disponível em: <https://www.martureo.com.br/missao-integral-e-a-grande-comissao/>.
Brincando nos campos do Senhor 
Ano: 1991
Sinopse: um casal de mimissionários e seu fi lho pequeno embrenham-
se na selva amazônica brasileira para catequisar índios ainda arredios 
à noção de Deus. Martin Quarrier (Aidan Quinn) é sociólogo e termina 
sendo motivado pelas experiências de outro casal, os Huben. As 
intenções religiosas e a harmonia entre brancos e índios no local 
fi cam instáveis devido à presença de Lewis Moon (Tom Berenger), um 
mercenário descendente dos índios americanos.
REFERÊNCIASREFERÊNCIAS
BÍBLIA ONLINE. Disponível em: <https://www.bibliaonline.com.br/>. Acesso em: 23 
fev. 2018.
BOSCH, D. Missão transformadora: Mudanças de Paradigma na Teologia da Mis-
são. São Leopoldo: Editora Sinodal, 2002.
CARVALHO, G. (org). Cosmovisão cristã e transformação. Viçosa: Ultimato, 2006.
COLSON, C.; PEARCEY, N. E Agora, como viveremos? Rio de Janeiro: CPAD, 2000.
CONGRESSO BRASILEIRO DE EVANGELIZAÇÃO. Missão Integral: Proclamar o reino 
de Deus, vivendo o Evangelho de Cristo. Belo Horizonte: Ultimato, 2004.
DOOYEWEERD, H. A Christian Theory of Social Institutions. La Jolla: The Herman 
Dooyeeweerd Foundation, 1986.
LUTERO, M. Do Cativeiro Babilônico da Igreja. São Paulo: Martin Claret, 1520.
MILLER, D. Discipulando as Nações: O Poder da Verdade para transformar culturas. 
Curitiba: FatoÉ, 2003.
______. Vocação: Escrevendo a sua assinatura no Universo. Belo Horizonte: Editora 
Jocum, 2012.
 PADILLA, R. O que é Missão Integral? Viçosa: Ultimato, 2009.
46
GABARITO
47
1. A opção correta é a letra E.
2. O conceito de Reino de Deus deve ser relacionado pelo aluno à noção de Go-
verno de Deus, abarcando todas as dimensões e aspectos da vida. Essa integra-
lidade, assim como a dimensão presente do Reino (agora, mas ainda não), são o 
fundamento para a ação da Igreja na sociedade, ou seja, para a sua responsabi-
lidade social.
3. A Bíblia é a história de uma Criação, de uma Queda e de uma Redenção. Sabe-
mos que Deus é o criador de todas as coisas. O argumento lógico é que, se Deus 
é o criador de todas as coisas, não pode haver nenhum aspecto da criação sobre 
o qual ele não tenha interesse ou não deva governar. Em nossa ênfase soterioló-
gica, esquecemos que a Criação toda pertence a Deus, que Ele ama a Sua criação 
e que a Criação, em si, é boa. Contudo, a Bíblia deixa claro, no relato de Gênesis, 
que os plenos desígnios de Deus não se cumpriram. 
A liberdade do homem e o seu pecado abriram espaço para a manifestação do 
segundo elemento da tríade: a Queda. Em nossa ênfase reducionista, afirmamos 
que nossa missão como Igreja é levar pessoas a um relacionamento com Deus, 
ensinando-os a ser religioso. Embora isso não seja errado, é incompleto, ou seja, 
não abarca toda a verdade bíblica. A redenção, por definição, tem que ser maior 
que a Queda. 
Esta compreensão é radical e muda a nossa proposta missiológica. Aqui está o 
fundamento da nossa responsabilidade social e da integralidade da Missão. A 
Missio Dei, ou Deus em Missão (BOSCH, 2002), é a restauração de todas as coi-
sas caídas. Portanto, que outra missão há, senão uma missão integral? Somos 
cooperadores com Deus na Obra de reconciliação de todas as coisas! Deus está 
em Missão. Deus está reconciliando consigo mesmo todas as coisas. Todos os 
domínios sociais, estabelecidos por Ele na Criação, e que foram integralmente 
afetados pela Queda, devem ser entregues ao Governo de Deus. Neste caso, o 
próprio termo “Missão Integral” seria redundante, pois somente Missão deveria 
definir, por si só, o escopo integral da ação missionária de Deus.
4. Como resultado do dualismo grego e do gnosticismo evangélico, muitos cris-
tãos, em geral, têm vivido uma espiritualidade fragmentada, em que não con-
seguem ligar o mundo do trabalho com o Reino de Deus. Isso traz uma série 
de problemas e frustrações para os cristãos. Substituímos o conceito hebrico 
de avad (trabalho como adoração), pela ideia latina de tripalium (instrumento 
romano de tortura que gerou a palavra trabalho, em português) e por eved (tra-
balho escravo). O trabalho, concebido por Deus para ser o exercício da vocação 
de cada pessoa, em resposta ao mandato cultural de Gênesis, tornou-se peno-
so e difícil. Nasceu o trabalho escravo, a exploração do homem pelo homem, a 
opressão, o abuso, a exploração. Aqui também, o agir transformador da Igreja, 
no campo do trabalho, deveria ser traduzido na mudança do eved em avad, ou 
seja, em ajudar as pessoas a encontrar as suas vocações e a andar nela.
GABARITO
GABARITO
5. 
 ■ Esfera pística – esta é a esfera da fé (do grego pisthos, fé). Ela existe para nutrir 
a fé. Nesta esfera está a igreja local, os seminários teológicos, as agências mis-
sionárias para a propagação

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