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Ian Dondoni | Gastroenterologia | Medicina Ufes COMPLICAÇÕES DA CIRROSE HEPÁTICA COMPLICAÇÕES DA CIRROSE BASES ANATÔMICAS DA HIPERTENSÃO PORTAL Cirrose hepática Hipertensão portal Insuficiência hepática Ian Dondoni | Gastroenterologia | Medicina Ufes HIPERTENSÃO PORTAL: DESENVOLVIMENTO DE VARIZES ESOFÁGICAS FATORES DE RISCO PARA O SANGRAMENTO POR VARIZES DE ESÔFAGO • Tamanho da variz o Quanto maior, maior o risco de sangramento o Varizes de médio e grande calibre possuem maior risco de sangramento • Presença de sinais vermelhos o Pontinhos vermelhos na ponta das varizes • Gravidade da doença hepática (Child-Pugh C) o Quanto mais grave o paciente, maior é a chance de ele sangrar • Gradiente de pressão venosa hepática ≥ 12 mmHg o Acima de 5 mmHg → surgimento da pressão portal o Com 10 mmHg → surgimento das varizes de esôfago o Maior ou igual a 12 mmHg → aumenta o risco de sangramento das varizes de esôfago Varizes de grosso calibre. Ian Dondoni | Gastroenterologia | Medicina Ufes Sangramento varicoso ativo por ruptura de varizes esofágicas. CIRROSE HEPÁTICA + VARIZES DE ESÔFAGO • VE → varizes esofágicas. • Betabloqueadores não seletivos → Propanolol • Drogas vasoativas → constritores esplâncnicos → Terlipressina (mais utilizada e a 1ª escolha) • Antibioticoprofilaxia → Ceftriaxona 1g/dia por 7 dias ou Norfloxacina 400 mg de 12 em 12h o Fazemos por dois motivos: ▪ Prevenir peritonite bacteriana espontânea no paciente cirrótico com ascite, porque quando tenho sangue na luz intestinal, eu tenho aumento do risco de translocação e infecção desse líquido ascítico ▪ Diminuir o risco de ressangramento, pois o antibiótico diminui a liberação de endotelina, de endotoxinas e isso diminui o gradiente de pressão venosa hepática e diminui a chance de ressangramento ou ou Ian Dondoni | Gastroenterologia | Medicina Ufes • Balão Sengstaken-Blakemore: é muito agressivo e mórbido e dura no máximo 24h • TIPS: Shunt intra-hepático porta-sistêmico → prótese que faz uma ligação entre veia porta e artéria hepática → diminui o fluxo sanguíneo do sistema porta e diminui a pressão portal para interromper o sangramento desse paciente. Tratamento endoscópico: ligadura elástica de varizes de esôfago. Ian Dondoni | Gastroenterologia | Medicina Ufes ASCITE CAUSAS DE ASCITE • 80% das ascites são secundárias a cirrose hepática • Carcinomatose peritoneal • Insuficiência cardíaca • Tuberculose peritoneal • Outras: síndrome nefrótica, pancreatite, endometriose, hipotireoidismo FISIOPATOLOGIA DA ASCITE DIAGNÓSTICO DA ASCITE • É clínico! Feito pelo exame físico: o Sinal do Piparote: para ascite de grande volume o Macicez móvel: para ascite moderada • Exames de imagem o Podem ajudar a confirmar a hipótese diagnóstica Ian Dondoni | Gastroenterologia | Medicina Ufes PARACENTESE DIAGNÓSTICA • Indicações o Deve ser realizada em todo paciente internado com ascite, no momento da admissão hospitalar o Deterioração do quadro clínico o Febre → pela suspeita de peritonite bacteriana espontânea (complicação do líquido ascítico) • Análise do líquido ascítico o Obrigatórios ▪ Contagem de células (principalmente no paciente cirrótico para avaliar se o líquido está infectado) ▪ Dosagem da albumina ▪ Dosagem das proteínas totais ▪ Cultura do líquido ascítico o Opcionais ▪ Glicose/DHL → suspeita de tuberculose peritoneal ▪ Gram/Cultura TB ▪ Amilase/triglicerídeos → suspeita de que o líquido ascítico é secundário a uma complicação de uma pancreatite aguda ou crônica complicada ▪ Pesquisa de células neoplásicas → pacientes que eu suspeito de ascite quilosa (quando faço a drenagem do líquido e ele é branco/leitoso) → investigar neoplasia • GRADIENTE DE ALBUMINA SORO – ASCITE (GASA) LA → Líquido Ascítico. Ian Dondoni | Gastroenterologia | Medicina Ufes ANÁLISE DO LÍQUIDO ASCÍTICO • Cirrose hepática o Leucócitos < 500 células/mm3 (PMN < 250) o GASA ≥ 1.1 g/dL o Proteína total < 2,5 g/dL o Amarelo citrino • Insuficiência cardíaca congestiva o Leucócitos < 500 células/mm3 (PMN < 250) o GASA ≥ 1.1 g/dL o Proteína total ≥ 2,5 g/dL o Amarelo citrino • Carcinomatose peritoneal o Leucócitos > 500 células/mm3 (PMN < 50%) o GASA < 1.1 g/dL o Proteína total < 2,5 g/dL o Amarelo citrino / hemorrágico Ian Dondoni | Gastroenterologia | Medicina Ufes TRATAMENTO DA ASCITE NO CIRRÓTICO • Dieta com restrição de Na+ (2g/dia) • Restrição hídrica se Na < 120 mEq/L • Diuréticos: espironolactona 100 mg/dia máximo de 400 mg / furosemida 40 mg/dia e máximo de 60 mg/dia o Pode ser um comprimido de cada junto ou inicia com espironolactona e vai avaliando a resposta e o efeito colateral e depois associar a furosemida • Paracentese terapêutica com reposição de albumina (6 a 8 g/litro LA): ascite tensa e ascite refratária (paciente que não tolera usar diurético) PERITONITE BACTERIANA ESPONTÂNEA (PBE) • Infecção do líquido ascítico que ocorre em cirróticos descompensados na ausência de uma fonte intra-abdominal de infecção. • Prevalência em cirróticos internados é de 10 a 30% • Mortalidade de 20 a 30% • Patogênese o Translocação de bactérias entéricas o Baixa capacidade de opsonização do líquido ascítico (concentração de proteína baixa) • Diagnóstico o Contagem de PMN no LA ≥ 250/mm3 o Cultura LA positivo • Tratamento o Cefotaxima ou ceftriaxona + albumina (1,5 g/kg primeiras 6h D1, 1g/kg no D3) ▪ Prevenção da disfunção renal melhora sobrevida em pacientes (creatinina > 1mg/dL e/ou bilirrubina > 4 mg/dL) → associar a albumina o Duração: 5 a 10 dias o Repetir paracentese 48 horas após início do ABT: redução de 25-50% dos PMN • Profilaxia secundária o Norfloxacina 400 mg/dia – contínuo o Recorrência de PBE em 1 ano: 70% ENCEFALOPATIA HEPÁTICA • Outra complicação da cirrose hepática frequente em pacientes graves • Alterações neuropsiquiátricas reversíveis • Amplo espectro clínico o Forma subclínicas → coma • Cirrose hepática descompensada • Shunts porto-sistêmicos • Insuficiência hepática aguda grave GRADUAÇÃO DA ENCEFALOPATIA HEPÁTICA • Grau I – Déficit de atenção, euforia, irritabilidade, inversão do padrão sono-vigília, incoordenação, tremores, alteração da escrita. • Grau II – Alteração de comportamento, desorientação no tempo e espaço, lentificação de respostas, redução da memória, desinibição, asterix/flapping, ataxia, disartria. • Grau III – Estupor, desorientação no tempo e espaço, delírio, agitação, asterix contínuo, Babinski, hiperreflexia, incontinência esfincteriana. • Grau IV – Coma, convulsões, hipo ou arreflexia, ausência de resposta a dor, postura de descerebração. Ian Dondoni | Gastroenterologia | Medicina Ufes PATOGENIA • Aumento dos níveis de amônia → o fígado é o principal órgão que faz a metabolização da amônia • Ação de falsos neurotransmissores: octopamina / feniletanolamina • Aumento no número e sensibilidade de receptores GABA/benzodiazepínicos • Aumento dos neurotransmissores inibitórios do SNC FATORES PRECIPITANTES • Hemorragia digestiva • Ingestão excessiva de proteínas → porque aumenta a produção de amônia • Alterações eletrolíticas: hipocalemia • Infecções (pneumonia/ITU/PBE) → mais comum • Uso de benzodiazepínicos • Insuficiência renal • TIPS → Shunt intra-hepático porto sistêmico DIAGNÓSTICO • O diagnóstico de encefalopatia hepática é clínico! • Exame clínico o Alterações neuropsíquicas o Asterix / hálito hepático • Testes psicométricos → pacientes com encefalopatia subclínica o Conexão numérica (pedimos para o paciente ligar os números) o Micrografia (pedimos para o paciente escrever o nome dele, ele começa a escrever normal e acaba com a letra bem pequenininha • Eletroencefalograma→ não é do nosso dia-a-dia / é raro fazermos o Ondas theta e delta TRATAMENTO • Identificar e corrigir o fator desencadeante: o Infecções, hemorragia digestiva, excesso de proteína, sedativos (não usar benzodiazepínicos nesses pacientes!) e diuréticos • Suspender o uso de diuréticos • Restringir proteínas da dieta de origem animal • Suporte calórico adequado → pacientes precisam comer de forma adequada, porque se eles não comem, eles perdem massa muscular e com isso pioram a encefalopatia hepática, pois a amônia é metabolizada no fígado, mas também é metabolizada no músculo. • Lactulose: 10 a 30 mL 3x dia → reduz as bactérias produtoras de urease que fazem a conversão da ureia em amônia • Rifaximina: não disponível no Brasil • Neomicina: 2 a 6 g/dia • Metronidazol: 750 mg/dia Uso crônico está associado a efeitos colaterais Neomicina: ototoxicidade / nefrotoxicidade Metronidazol: neuropatia periférica Ian Dondoni | Gastroenterologia | Medicina Ufes SÍNDROME HEPATORENAL (SHR) • Insuficiência renal funcional que ocorre em pacientes com cirrose hepática na ausência de evidência clínica, laboratorial ou anatômica de doença renal. • Não tenho lesão arquitetural, mas sim vasoconstricção das arteríolas renais. • Complicação grave do paciente cirrótico • Cirróticos com ascite e função renal normal desenvolvem SHR: o 18% em 1 ano de seguimento o 39% em 5 anos de seguimento • Prognóstico reservado / mortalidade de 90% SHR – DISTÚRBIO FUNCIONAL 1. Alterações histológicas renais mínimas ou ausentes; 2. Rim transplantado para paciente com insuficiência renal, funciona normalmente; 3. Transplante de fígado reverte a insuficiência renal. CLASSIFICAÇÃO • Tipo 1: rápida e progressiva perda da função renal em curto período de tempo (dias ou semanas) • Tipo 2: evolução mais lenta, sobrevida superior ao tipo 1, ascite refratária CRITÉRIOS PARA DIAGNÓSTICO DE SHR • Cirrose com ascite. • Lesão renal aguda pelos critérios de ICA-AKI. o Um aumento de 0,3 na creatinina nas últimas 48h ou nos últimos 7 dias ou nos últimos 3 meses se eu não tenho uma creatinina anterior já é critério diagnóstico para disfunção renal. • Ausência de melhora nos valores de creatinina após pelo menos dois dias de interrupção do uso dos diuréticos e iniciada a expansão com albumina (1g/kg). • Ausência de choque. • Ausência de uso recente ou recorrente de drogas nefrotóxicas. • Ausência de doença renal parenquimatosa indicada por proteinúria superior a 500 mg/dia, hematúria microscópica (> 50 hemácias por campo) e/ou encontro de alterações renais ao USG. TRATAMENTO Melhor tratamento é a prevenção da SHR • Transplante hepático antes da SHR; • Evitar tratar fatores precipitantes: paracentese sem reposição de albumina (principalmente as paracenteses repetidas, p. ex. de 15 em 15 dias, se eu não reponho a albumina isso faz com que o paciente tenha disfunção circulatória e evolua com SHR), PBE, hemorragia.
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