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Módulo XIX - D, DT e E Alice Bastos Tuberculose Características gerais A tuberculose é uma doença infectocontagiosa causada por bactérias do complexo Mycobacterium tuberculosis (M. tuberculosis, M. bovis, M. africanum, M. canetti, M. microti, M. pinnipedi e M. caprae); → A espécie mais importante é a M. tuberculosis (bacilo de Koch); • É um bacilo álcool-ácido-resistente (BAAR), aeróbio, com parede celular rica em lipídios, o que lhe confere baixa permeabilidade, reduz a efetividade da maioria dos antibióticos e facilita sua sobrevida nos macrófagos; A transmissão se faz por via respiratória, pela inalação de aerossóis produzidos pela tosse, fala ou espirro de um doente com tuberculose ativa pulmonar ou laríngea; → Outras vias de transmissão (pele e placenta) são raras e desprovidas de importância epidemiológica; Indivíduos com BAAR positivo no escarro são os que mais transmitem a doença; → O risco de transmissão perdura enquanto o paciente eliminar os bacilos no escarro; → Com o início do tratamento, a transmissão tende a diminuir gradativamente e, em geral, após 15 dia, ela encontra-se muito reduzida; → Crianças com TB pulmonar, em geral, têm baciloscopia negativa e, por isso, pouca importância na cadeia de transmissão; A probabilidade de uma pessoa ser infectada depende de fatores exógenos como: → Infectividade do caso-fonte; → Duração do contato; → Tipo de ambiente partilhado; Os fatores de risco de adoecimento para TB são: → Infecção pelo HIV; → Tempo decorrido da infecção ao desenvolvimento de TB ativa (maior risco de adoecimento nos primeiros 2 anos após a exposição); → Idade menor que 2 anos ou maior que 60 anos; → Presença de determinadas condições clínicas (doenças e/ou tratamentos imunossupressores); O foco de infecção mais comum é o pulmão, porém, a tuberculose pode afetar órgãos extrapulmonares, como linfonodos, pleura, vias urinárias, ossos, meninges etc. Patogenia Após a inalação das gotículas contendo bacilos, o núcleo de Wells (núcleo seco das gotículas) alcança os alvéolos pulmonares, nos quais será fagocitado pelos macrófagos alveolares residentes; As micobactérias se disseminarão, então, por via linfática e, a partir dos gânglios regionais, alcançarão diferentes órgãos por via hematogênica, produzindo lesões secundárias; A partir dessa migração de macrófagos infectados e de células dendríticas para os linfonodos regionais, inicia- se a resposta imune específica, com sensibilização de linfócitos CD4+ Th1 e produção de IL-2 e de INF-gama pelo linfócito sensibilizado; → A sensibilização do linfócito T CD4+ pode ser chamada de reação de hipersensibilidade; → A produção de IL-2 e INF-gama pode ser chamada de imunidade celular adquirida; 20 a 40 dias após o desenvolvimento da imunidade celular tardia, o linfócito T CD4+ começa a produzir IL- 4, citocina ligada à resposta linfocitária do tipo Th2, com intenção de inibir os mecanismos efetores da resposta imune mediada por células e assim controlar o processo inflamatório; Cerca de 90% das pessoas infectadas pelo M. tuberculosis não evoluem para TB doença ativa, permanecendo assintomáticas com quadro chamado de tuberculose infecção latente (TBIL); → O indivíduo com TBIL tem risco de 5% de evoluir para TB doença ativa nos 18 meses Módulo XIX - D, DT e E Alice Bastos subsequentes à sua primeira infecção: infecção primária; Após esse período (citado acima), o indivíduo em condições imunológicas normais tem 5% de chances de desenvolver TB doença ativa ao longo da vida: TB de reativação ou secundária ou pós-primária; → Condições que comprometam a imunidade (principalmente a do tipo celular) como a infecção pelo HIV ou uma nova exposição ao bacilo podem aumentar significativamente a chance de desenvolver TB secundária. Quadro clínico A TB pode manifestar-se sob diferentes apresentações clínicas, relacionadas com o órgão acometido; As principais formas de apresentação são a forma primária, a pós-primária (ou secundária) e a miliar; → Os sintomas clássicos, como tosse persistente seca ou produtiva, febre vespertina, sudorese noturna e emagrecimento, podem ocorrer em qualquer uma das três apresentações; TB pulmonar primária Normalmente ocorre em seguida ao primeiro contato do indivíduo com o bacilo e, por isso, é mais comum em crianças; As manifestações clínicas podem ser insidiosas, com o paciente apresentando-se irritadiços, com febre baixa, sudorese noturna e inapetência; Nem sempre a tosse está presente; O exame físico pode ser inexpressivo. TB pulmonar pós-primária ou secundária Pode ocorrer em qualquer idade, sendo mais comum no adolescente e no adulto jovem; Sua principal característica é a tosse seca ou produtiva; Em casos de tosse produtiva, a expectoração pode ser purulenta ou mucoide, com ou sem sangue; Sudorese noturna e anorexia são comuns; A febre vespertina, sem calafrios, não costuma ultrapassar os 38,5°C; Ao exame físico: fácies de doença crônica e emagrecimento (indivíduos com bom estado geral também podem ter TB pulmonar); → A ausculta pulmonar pode apresentar diminuição do murmúrio vesicular, sopro anfórico ou mesmo ser normal. TB miliar É um aspecto radiológico pulmonar específico, que pode ocorrer tanto na forma primária quanto na forma secundária da TB; É uma forma grave da doença, que é mais comum em pacientes imunocomprometidos; A apresentação clínica pode ser aguda ou subaguda, com maior frequência em crianças e adultos jovens; De maneira incomum, a TB miliar apresenta-se como uma doença crônica (idosos) ou mesmo febre de origem obscura; Sintomas como febre, astenia, emagrecimento e tosse são comuns; Exame físico: hepatomegalia (35%), alterações do sistema nervoso (30%) e alterações cutâneas do tipo eritemato-máculo-pápulo-vesiculosas (incomum). TB extrapulmonar TB pleural: dor torácica do tipo pleurítica, astenia, emagrecimento, anorexia, febre e tosse seca; → Pacientes com maior tempo de evolução dos sintomas podem apresentar dispneia; TB ganglionar periférica: aumento subagudo, indolor e assimétrico das cadeias ganglionares cervicais anterior e posterior, além da supraclavicular; → Em PVHIV, o acometimento ganglionar tende a ser bilateral; TB meningoencefálica: meningite basal exsudativa é a apresentação clínica mais comum; → Na forma subaguda: cefaleia holocraniana, irritabilidade, alterações de comportamento, sonolência, anorexia, vômitos, fotofobia e rigidez de nuca, além de sinais focais; → Na forma crônica: paciente evolui várias semanas com cefaleia; TB pericárdica: dor torácica, tosse seca e dispneia; Módulo XIX - D, DT e E Alice Bastos → Pode haver febre, emagrecimento, astenia, tontura, edema de membros inferiores, dor no hipocôndrio direito e aumento do volume abdominal; TB óssea: na TB de coluna (mal de Pott), o paciente apresenta dor lombar, dor à palpação local e sudorese noturna. Diagnóstico DIAGNÓSTICO CLÍNICO Observar os sinais e sintomas (dependem do tipo de apresentação da TB); BACILOSCOPIA DIRETA A pesquisa do bacilo álcool-ácido-resistente (BAAR) pelo método de Ziehl-Nielsen, é a técnica mais utilizada; É indicada nos seguintes casos: → Sintomático respiratório, durante estratégia de busca ativa; → Suspeita clínica e/ou radiológica de TB pulmonar, independente do tempo de tosse; → Acompanhamento e controle de cura em casos pulmonares com confirmação laboratorial; Deve ser realizada em duas amostras: 1. Primeiro contato com a pessoa que tosse; 2. Independente do resultado da primeira, no dia seguinte, com a coleta do material sendo feita preferencialmente ao despertar; Em casos de indícios clínicos e radiológicosde suspeita de TB e as duas amostras da baciloscopia apresentarem resultado negativo, amostras adicionais podem ser solicitadas; Baciloscopia positiva e quadro clínico compatível com TB fecham o diagnóstico e autorizam o início do tratamento; A baciloscopia de outros materiais biológicos também está indicada na suspeição clínica de TB extrapulmonar; IMPORTANTE! Outros microrganismos podem ser evidenciados na baciloscopia; → Diagnóstico de certeza bacteriológica só é obtido com a cultura (padrão ouro) e/ou testes moleculares. TESTE RÁPIDO MOLECULAR PARA TUBERCULOSE (TRM-TB) É um teste de amplificação de ácidos nucleicos utilizados para detecção de DNA dos bacilos do complexo M. tuberculosis e triagem de cepas resistentes à rifampicina pela técnica de reação em cadeia de polimerase (PCR) em tempo real; A sensibilidade em amostras de escarro de adultos é de cerca de 90%, sendo superior à da baciloscopia; Está indicado nas seguintes situações: → Diagnóstico de casos novos de TB pulmonar e laríngea em adultos e adolescentes (sua utilização ainda é limitada na infância); → Diagnóstico de casos novos de TB pulmonar e laríngea em adultos e adolescentes de populações de maior vulnerabilidade; → Diagnóstico de TB extrapulmonar nos materiais biológicos já validados; → Triagem de resistência à rifampicina nos casos de retratamento; → Triagem de resistência à rifampicina nos casos com suspeita de falência ao tratamento da TB; Como também pode detectar bacilos mortos ou inviáveis, o TRM-TB não deve ser utilizado para diagnóstico nos casos de retratamento (reingresso após abandono e recidivas); O TRM-TB pode ser utilizado para diagnóstico de TB extrapulmonar, nas amostras de líquor, gânglios linfáticos e outros tecidos; → Nesses casos, a sensibilidade é mais baixa e o resultado negativo não exclui tuberculose. Módulo XIX - D, DT e E Alice Bastos Cultura para micobactéria, identificação e teste de sensibilidade A cultura é um método de elevada especificidade e sensibilidade no diagnóstico da TB; Os métodos para cultura de micobactérias utilizam a semeadura da amostra em meios de cultura sólidos e líquidos; → Os meios de cultura mais comumente utilizados são os sólidos à base de ovo, Lowenstein-Jensen e Ogawa-Kudoh; O resultado da cultura confirma o diagnóstico de micobacteriose, sendo necessária a identificação de espécie para caracterizar se é um caso de TB ou outra micobactéria. Radiografia de tórax É o exame de imagem de escolha na avaliação inicial e no acompanhamento da TB pulmonar; Deve ser solicitada para todo paciente com suspeita clínica de TB pulmonar; Podem ser observados padrões radiológicos como: cavidades, nódulos, consolidações, massas, processo intersticial (miliar), derrame pleural e alargamento do mediastino. Tomografia de tórax É mais sensível para demonstrar alterações anatômicas dos órgãos ou tecidos comprometidos; É indicada na suspeita de TB pulmonar quando a radiografia inicial é normal, e na diferenciação com outras doenças torácicas, especialmente em pacientes imunossuprimidos. Diagnóstico histopatológico A avaliação histológica de fragmento de tecido obtido por biópsia é um método empregado na investigação das formas pulmonares que se apresentam radiologicamente como doença difusa e nas formas extrapulmonares; A identificação histológica de granuloma com necrose de caseificação é compatível com o diagnóstico de TB. Prova tuberculínica É utilizada para diagnóstico de infecção latente pelo M. tuberculosis e pode auxiliar o diagnóstico de tuberculose ativa em crianças; Consiste na inoculação intradérmica de um derivado proteico purificado do M. tuberculosis para medir a resposta imune celular a esses antígenos; Quando reativa, isoladamente, indica apenas a presença de infecção e não é suficiente para o diagnóstico da tuberculose doença; A leitura deve ser realiza 48 a 72 horas após a aplicação; → Deve-se medir o maior diâmetro transverso da área do endurado palpável; → O resultado deve ser registrado em milímetros, inclusive quando não houver enduração; Módulo XIX - D, DT e E Alice Bastos Reações falso-positivas podem ocorrer em indivíduos infectados por outras micobactérias ou vacinados com a BCG, principalmente se vacinados (ou revacinados) após o primeiro ano de vida; → 10 anos após a BCG, apenas 1% das PTs positivas pode ser atribuído à BCG; As reações falso-negativas podem ocorrer nos seguintes casos: → Tuberculose grave ou disseminada; → Imunodepressão avançada; → Vacinação com vírus vivos em período menor que 15 dias; → Gravidez; → Desnutrição, diabetes mellitus, insuficiência renal e outras condições metabólicas; → Idosos (> 65 anos); → Crianças com menos de 3 meses de vida. Tratamento Esquema básico para adultos e adolescentes (≥10 anos de idade) O esquema básico de tratamento da tuberculose no Brasil compreende duas fases: → Intensiva (ou de ataque): tem o objetivo de reduzir rapidamente a população bacilar e a eliminação dos bacilos com resistência natural a algum medicamento; • Composta por 4 fármacos: rifampicina (R), isoniazida (H), pirazinamina (Z) e etambutol (E); → De manutenção: tem o objetivo de eliminar os bacilos latentes ou persistentes e a redução da possibilidade recidiva da doença; • Composta por 2 fármacos: rifampicina e isoniazida; Esse esquema é indicado nos seguintes casos: → Casos novos de tuberculose ou retratamento (recidiva e reingresso após abandono que apresentem doença ativa) em adultos e adolescentes (maior ou igual 10 anos de idade); → Todas as apresentações clínicas (pulmonares e extrapulmonares); • Exceto a forma meningoencefálica e osteoarticular. Esquema básico para o tratamento da TB meningoencefálica e osteoarticular em adultos e adolescentes (≥10 anos de idade) Esquema básico para crianças (< 10 anos de idade) Módulo XIX - D, DT e E Alice Bastos Esquema básico para tratamento da TB meningoencefálica e osteoarticular para crianças (< 10 anos de idade)
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