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A ordem mundial Henry Kissinger

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H E N R Y K I S S I N G E R
A O R D E M M U N D I A L
Tr a d u ç ã o d e
J o s é M e n d o n ç a d a C r u z
8
A O R D E M M U N D I A L
9
A O R D E M M U N D I A L
Introdução: A questão da ordem mundial 11
Diversidade das ordens mundiais 13 19
Capítulo 1: Europa: A ordem internacional pluralista 23 
Singularidade da ordem europeia 23
que consiste a legitimidade? 32 37
44 55
65
O enigma russo 65 76
internacional 85 91
poder 94 101
ordem europeia do pós-guerra 105 110
117
A ordem mundial islâmica 118 -
ropa 131 133
140
Árabe e o cataclismo sírio 145 -
nacional 153 158 167
Capítulo 4: Os Estados Unidos e o Irão: Aproximações à ordem 173
A tradição da diplomacia iraniana 175 179
A proliferação nuclear e o Irão 186 198
Í N D I C E
10
A O R D E M M U N D I A L
Capítulo 5: A multiplicidade da Ásia 201
Ásia e Europa: Conceitos diferentes de equilíbrio de poder 201
210 223 241
247
248 -
dial 256 265
-
ceção de ordem 273
278
potência mundial 287
do mundo 297 311
Capítulo 8: Estados Unidos, a superpotência ambivalente 319
O início da Guerra Fria 323
327 333 -
cional 340 348 -
novação 354 356
Afeganistão e do Iraque 364 376
379
A ordem mundial na era nuclear 380
386 391 398 -
lítica externa na era digital 405
Conclusão: Ordem mundial no nosso tempo? 413
A evolução da ordem internacional 418 424
Agradecimentos 459
Notas 429
 
463
11
A Q U E S T Ã O D A O R D E M M U N D I A L
I N T R O D U Ç Ã O
A Q U E S T Ã O D A O R D E M M U N D I A L
Em 1961, era eu um jovem professor, encontrei-me com o pre-
sidente Harry S. Truman por ocasião de uma deslocação a Kansas 
City, onde fora proferir um discurso. À pergunta sobre o que no 
-
-
-
americana. E durante quase todo esse período, a comunidade de 
americano: desenvolveu-se inexoravelmente uma ordem assente na 
princípios comuns, instituíam sistemas económicos liberais, rene-
gavam toda a conquista territorial, respeitavam a soberania nacional 
Presidentes americanos de ambos os partidos continuaram a ins-
12
A O R D E M M U N D I A L
-
e pelos seus aliados viria a desencadear mudanças importantes na 
-
culdades. As frequentes exortações para que certos países «deem 
XXI
mundo ocidental, regiões cujo papel na formulação original desses 
princípios foi mínimo questionam a sua validade na fórmula atual 
-
-
-
sesperada – de um conceito de ordem mundial. A par de uma inter-
de armas de destruição maciça, na desintegração de nações, no im-
genocídio, e na expansão de novas tecnologias que ameaçam levar 
como nunca regiões distantes e emprestam aos acontecimentos 
 slo-
gans. 
13
A Q U E S T Ã O D A O R D E M M U N D I A L
Diversidade das ordens mundiais
-
-
-
em toda a Europa Central culminara na Guerra dos Trinta Anos de 
-
da população da Europa Central caiu vítima do combate, da doen-
ça ou da fome. Exauridos, os participantes encontraram-se para 
-
muito próxima do mundo contemporâneo: uma multiplicidade de 
-
e não uma visão moral unívoca. Assentava num sistema de Esta-
-
ternos uns dos outros, e que limitavam as ambições uns dos outros 
-
ras internas e as vocações religiosas dos outros Estados seus pares 
14
A O R D E M M U N D I A L
e abster-se-ia de contestar a sua existência. Num equilíbrio de po-
-
-
curou destilar a ordem a partir da multiplicidade e da contenção.
-
-
expansão territorial em todas as direções. Do mesmo modo, nem 
-
-
regiões. Isso aconteceu, em grande parte, porque a tecnologia da 
sem uma moldura que permitisse avaliar o poder de determinada 
região em relação a outra, cada uma considerava a sua própria or-
-
15
A Q U E S T Ã O D A O R D E M M U N D I A L
-
rante si estava a pôr ordem no mundo. 
Situada em relação à Europa no extremo oposto da massa con-
como unidade – e baseado não na igualdade soberana dos Estados, 
mas na presumível ausência de limite à soberania do imperador. 
Segun do este conceito, a soberania como era entendida na Euro-
-
ral, ilustre e universal, que irradiava do centro do mundo, da capital 
-
-
-
nanimidade económica, atraindo-as para relações que pudessem 
-
na, o conceito de ordem mundial predominante era o islâmico, com 
VII, o islão lançara-
-se em três continentes numa vaga sem precedentes de exaltação 
grandes regiões da Ásia e porções da Europa. Na sua versão de or-
dem universal, o islão estava destinado a expandir-se pelo «reino 
16
A O R D E M M U N D I A L
-
-
tatal nascente na Europa, mas considerava-a não um modelo, mas 
uma fonte de divisão a explorar em prol da expansão otomana para 
o Con-
quistador XV que 
praticavam uma versão precoce da multipolaridade: «Sois 20 Esta-
Entretanto, do outro lado do Atlântico estavam a ser lançados 
os alicerces de uma visão diferente da ordem mundial, no «Novo 
XVII -
-
-
-
Europa concebera. Todavia, mesmo enquanto os Estados Unidos 
ambivalência. É que a visão americana assentava não na adoção do 
sistema europeu de equilíbrio de poder, mas na expansão dos prin-
17
A Q U E S T Ã O D A O R D E M M U N D I A L
De todos estes conceitos de ordem, quando escrevo, os princí-
base da ordem mundial vigente. O sistema vestefaliano foi sendo 
adotado como moldura da ordem internacional assente em Estados, 
-
rante o processo de expansão, as nações europeias levaram consi-
go o seu modelo de ordem internacional. Embora a aplicação dos 
-
conceitos vestefalianos. Os princípios de independência nacional, 
de soberania do Estado, de interesse nacional e de não interferên-
cia acabaram por revelar-se bons argumentos contra os próprios 
novos Estados a que deram origem.
-
mediante uma ampla rede de estruturas jurídicas e institucionais 
-
-
-
tuições proporcionaram uma moldura neutral para a interação das 
diversas sociedades – em grande medida, independentemente dos 
E, no entanto, os princípios vestefalianos estão a ser contestados 
A Europa propôs-se abandonar o sistema de Estados que conce-
-
18
A O R D E M M U N D I A L
intencionalmente, o elemento de poder nas suas novas instituições. 
-
dade de resposta perante a violação de normas universais. 
 -
-xiita desarticulam as sociedades e desmantelam Estados em nome 
-
lista da sua religião. O próprio Estado, bem como o sistema regional 
-
tam as suas restrições, tidas por ilegítimas, e de milícias terroristas que 
em alguns países são mais fortes do que as forças armadas nacionais. 
-
pressionante caso de sucesso na adoção de conceitos de soberania 
estatal, ainda recorda com nostalgia conceitos alternativos de ordem, 
-
-
Os Estados Unidos têm alternado entre, por um lado, uma po-
sição de defesa do sistema vestefaliano e, por outro, a crítica das 
suas premissas de equilíbrio de poder e de não interferência nos as-
suntos internos de outros Estados, apodadas de imorais e antiqua-
-
fender globalmente. Todavia, depois de se ter, no tempo de duas 
gerações, retirado de três guerras – todas desencadeadas com in-
-
Todos os principais centros de poder adotam elementos da ordem 
19
A Q U E S T Ã O D A O R D E M M U N D I A L
-
derão convergir na legitimidade de um sistema comum?
O sucesso de tal empreendimento exige uma abordagem que 
-
seca aspiração de liberdade. Neste sentido, a ordem tem de ser cul-
-
-
berdade, ainda que alicerçada numa exaltação momentânea, acaba 
por gerar os seus próprios anticorpos; mas a liberdade não pode ser 
garantida nem preservada sem uma moldura de ordem que preserve 
-
como interdependentes. Saberão os líderes da atualidade erguer-
-se acima das urgências quotidianas para alcançar esse equilíbrio?
Legitimidade e poder
-
-
As ordens regionais envolvem os mesmos princípios na aplicação 
Qualquer destes sistemas de ordem se baseia em dois componen-
20
A O R D E M M U N D I A L
quando as regras são violadas, impedindo que determinada unidade 
a legitimidade dos compromissos em vigor não pode excluir – não 
-
ordem vigente e não em contestação dos seus fundamentos. Um 
-
sucesso quandoocorrem. 
-
-
volume procura ocupar-se apenas das regiões cujos conceitos de 
ordem mais contribuíram para moldar a evolução da era moderna.
-
uma ordem mundial global. 
-
-
lutamente normal. No nosso tempo, a demanda de ordem mundial 
21
A Q U E S T Ã O D A O R D E M M U N D I A L
valores divergentes numa ordem mundial comum.
22
A O R D E M M U N D I A L
23
E U R O P A : A O R D E M I N T E R N A C I O N A L P L U R A L I S T A
C A P Í T U L O 1
E U R O P A : A O R D E M I N T E R N A C I O N A L 
P L U R A L I S T A
Singularidade da ordem europeia
-
-
fracas. Nos sistemas imperiais, as guerras ocorriam geralmente nas 
com o âmbito do poder imperial.
-
tias mudavam, mas cada novo grupo dominante apresentava-se 
como restaurador de um sistema legítimo que caíra em ruína. Não 
-
pressão de cristandade ou de sociedade de direito, ou como centro 
iluminista de uma comunidade de gente culta e de modernidade. 
-
24
A O R D E M M U N D I A L
-
navam e experimentando novos conceitos de legitimidade política 
e de ordem internacional.
Noutras regiões do mundo, um determinado período de con-
-
-
çou as suas próprias divisões. Dinastias ou nacionalidades distintas 
devesse ser banida, mas antes, e na visão idealista dos estadistas 
-
nismo complexo conducente a um equilíbrio que preservava os in-
teresses, a integridade e a autonomia de cada povo. Durante mais 
de mil anos de diplomacia europeia, a ordem teve como fonte o 
equilíbrio e a identidade da resistência a uma soberania universal. 
Não que os monarcas europeus fossem mais imunes às glórias da 
mais apostados num ideal abstrato de diversidade. Careciam, isso 
sim, de poder para impor decisivamente a sua vontade aos outros. 
Com o tempo, o pluralismo viria a assumir características de mo-
-
Durante 500 anos, o jugo imperial de Roma proporcionou um 
-
uma sociedade unívoca administrada por duas autoridades comple-
25
E U R O P A : A O R D E M I N T E R N A C I O N A L P L U R A L I S T A
-
Pedro, que proclamavam valores de salvação universais e absolutos. 
Nos seus escritos no norte de África, elaborados enquanto Roma 
política temporal era legítima na justa medida em que promovesse 
-
mundo, a autoridade sagrada do sacerdote e o poder real. Neles, 
cabe a maior parcela aos sacerdotes, pois todos responderão pe-
a verdadeira ordem mundial não era deste mundo. 
Este conceito abrangente de ordem mundial teria desde logo 
-
Cristo, mas a ligação à Igreja e à sua autoridade era ambígua. Fero-
-
cas independentes manobravam e combatiam pela preponderância 
Cidade 
de Deus,
As aspirações de unidade triunfaram brevemente no dia de Natal 
Imperator Romanorum
-
-
te o papa «defender em toda a parte a sagrada igreja de Cristo das 
26
A O R D E M M U N D I A L
-
-
-
-
-
-
-
co, ou seja, basicamente as possessões da sua família. A sua posi-
decidida por uma combinação de manobrismo político, avaliação 
da piedade religiosa e pagamentos avultados. Em teoria, a autorida-
-
27
E U R O P A : A O R D E M I N T E R N A C I O N A L P L U R A L I S T A
possível apenas durante o breve período de ascensão do príncipe 
-
-
pratos excessivamente condimentados, era geralmente considerado 
-
-
Pouco tempo mais tarde, em 1519, triunfou na eleição para o cargo 
-
soberano governava agora territórios aproximadamente equivalen-
-
-
-
-
de Carlos ocupavam-se da defesa da cristandade contra uma nova 
vaga de invasões dos turcos otomanos e seus aliados do sudeste da 
Europa e do norte de África. Carlos comandou pessoalmente uma 
28
A O R D E M M U N D I A L
Carlos foi aclamado pelos seus contemporâneos como o «maior 
-
o papa Clemente proclamara Carlos força temporal para «a restau-
continente governado por uma mesma dinastia ungida pelo mesmo 
mandato divino. Tivesse Carlos consolidado a sua autoridade e garan-
tido uma sucessão ordeira no vasto aglomerado territorial dos Habs-
burgos, e a Europa teria sido modelada por uma autoridade central 
próprio demonstrou quando, em 1525, tendo capturado o rei fran-
o libertou, permitindo que a França reassumisse uma política exter-
coope ração militar ao sultão otomano Solimão, que então invadia a 
Europa e, a partir do Oriente, ameaçava o poder dos Habsburgos. 
-
expansão do protestantismo nas terras que eram a sede principal 
do seu poder. Tanto a unidade religiosa como a política entraram 
inerentes ao cargo ultrapassava as capacidades de um só indivíduo. 
29
E U R O P A : A O R D E M I N T E R N A C I O N A L P L U R A L I S T A
O retrato pungente de Ticiano, pintado em 1548 e exposto na Alte 
-
-
-
Filipe os Estados-Gerais dos Países Baixos. Nesse mesmo ano, ce-
-
fessionais nos seus territórios. Pouco mais tarde, abdicou do títu-
lo de sacro imperador romano, entregando a responsabilidade do 
-
-
reforçar os poderes da Inquisição. 
-
ambições globais, enquanto se fragmentava a ordem política e reli-
giosa medieval: o princípio da era dos descobrimentos, a invenção 
da imprensa, e o cisma da Igreja.
30
A O R D E M M U N D I A L
Um mapa representativo do universo traçado por europeus cultos 
-
-
O mundo era constituído – segundo as fontes bíblicas – por seis 
-
-
-
A era moderna foi anunciada quando sociedades empreende-
-
XV
aventuraram-se quase simultaneamente nas descobertas. Os navios 
-
-
-
universal dos seus princípios de ordem mundial, mas daí em dian-
31
E U R O P A : A O R D E M I N T E R N A C I O N A L P L U R A L I S T A
um continente marcado pelas rivalidades de autoridades soberanas. 
Cada monarca patrocinava a sua exploração naval na esperança de 
-
-
-
-
lações internacionais, antes uma questão regional, seriam a partir 
-
determinava a sua implementação.
Seguiu-se uma revolução intelectual nas características do uni-
-
-
-
-
-
tos coloniais dos diversos Estados europeus abrangeram a maior 
parte do globo e os conceitos de ordem mundial se fundiram com 
o processo de equilíbrio de poder na Europa.
O segundo acontecimento marcante foi a invenção, em mea-
XV, da imprensa de tipo móvel, que tornou possível 
32
A O R D E M M U N D I A L
-
ia sendo descoberto, e a imprensa possibilitou que os relatos fos-
um movimento de redescoberta do mundo antigo e das suas ver-
dades, com especial relevo para a centralidade do indivíduo. A cres-
-
-
relação direta dos indivíduos com Deus. Delas resultava que era a 
consciência individual – e não a ordem estabelecida – que relevava 
-
tismo, que impuseram às suas populações, e enriquecendo-se com 
quando os soberanos começaram a apoiar fações revoltosas dos 
-
rio. A própria cristandade cindira-se e estava em guerra.
A Guerra dos Trinta Anos: Em que consiste a legitimidade?
A ascensão e a expansão da crítica protestante à supremacia da 
-
35
E U R O P A : A O R D E M I N T E R N A C I O N A L P L U R A L I S T A
desenvolveu uma abordagem radical à ordem internacional, forjan-
do a ideia de que o Estado era uma entidade abstrata e perene que 
existia por direito próprio. As necessidades do Estado não eram 
determinadas pela personalidade do soberano, por interesses de 
família, ou pelas exigências universais da religião. O seu guia era o 
interesse nacional, que obedecia a princípios racionais – o que mais 
raison d’état. Por isso, o Estado deveria ser a 
-
representante do Estado soberano e expressão do interesse nacional. 
armas em defesa da Igreja, mas como um meio de minar o domínio 
imperial dos Habsburgos. Embora o rei de França fosse apelidado 
de Rex Catholicissimus XIV, a França pendeu – pri-
meiro, de forma discreta, depois, acentuadamente – para o apoio à 
-
para com a Igreja Católica eterna e universal – que exigiriam um 
 os príncipes protestantes revoltosos do norte 
-
vação seria o seu propósito pessoal, mas, como estadista, era res-
36
A O R D E M M U N D I A L
como uma necessidade política e militar. A ameaça que pendia so-
-
resto do continente. Logo, erado interesse nacional de França evi-
tar a consolidação da Europa Central: «Se o partido [protestante] 
for completamente devastado, o peso do poder da Casa da Áustria 
-
nos Estados na Europa Central, enfraquecendo a Áustria, a França 
-
-
-
-
ça foi predominante no continente. Quando ruiu, ruiu com ele o 
domínio de França. 
os fatores relevantes. Segunda, o estadista deve apurar essa visão 
-
E, terceira conclusão, o estadista deve atuar no limiar do possível, 
-
37
E U R O P A : A O R D E M I N T E R N A C I O N A L P L U R A L I S T A
A Paz de Vestefália
-
cia como pioneira de um novo conceito de ordem internacional que 
-
ram para a negociar estavam mais preocupados com considerações 
de protocolo e estatuto.
-
gações se encontrarem realmente; entretanto, cada uma das partes 
manobrara para fortalecer as respetivas alianças e apoios internos.
-
posições não estão associadas a uma reunião de estadistas vindos 
-
tindo a miríade de contendores de uma guerra que se estendera da 
católicas, nomeadamente os 178 participantes dos diferentes Esta-
-
cidade mista luterana e católica de Osnabrück, a cerca de 50 quiló-
em todo o tipo de quartos que conseguiram encontrar nas duas pe-
quenas cidades, que nunca teriam sido consideradas adequadas para 
um encontro de grande escala, quanto mais para um congresso de 
para os seus 29 membros. Na ausência de presidente ou mediador 
38
A O R D E M M U N D I A L
-
dos encontravam-se ad hoc
povoações situadas entre as duas cidades. Algumas das principais 
potências destacaram delegados para ambas as cidades. Em diver-
sas regiões da Europa os combates continuaram e a inconstância 
-
-
siado sangue para que se pensasse que um objetivo tão nobre pu-
no equilíbrio de rivalidades.
-
-
a soma de três acordos complementares assinados em momentos 
-
revolta que se fundira com a Guerra dos Trinta Anos. Em outubro 
de 1648, grupos independentes das potências assinaram o Tratado 
-
lelos e cujas disposições principais estavam interligadas.
Os dois principais tratados multilaterais proclamavam o desejo 
-

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