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Os Sacramentos e os Dons do Espírito Santo - Papa Francisco

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2
SUMÁRIO
Capa
Folha de rosto
OS SACRAMENTOS
Batismo
O fundamento da vida cristã
O sinal da fé cristã
A força para vencer o mal
Fonte de vida
A regeneração
Revestidos de Cristo
Confirmação
O testemunho cristão
O selo do Espírito
Pelo crescimento da Igreja
Eucaristia
Reconciliação
Unção dos enfermos
Ordem
Matrimônio
OS DONS DO ESPÍRITO SANTO
Sabedoria
Entendimento
Conselho
Fortaleza
Ciência
Piedade
Temor de Deus
Catequeses do papa Francisco (ordem alfabética)
Catequeses do papa Francisco (ordem cronológica)
Coleção
Ficha catalográfica
Notas
3
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OS SACRAMENTOS
4
BATISMO
HOJE COMEÇAMOS UMA série de catequeses sobre os sacramentos, e a primeira diz
respeito ao batismo. Por uma feliz coincidência, no próximo domingo celebra-se
precisamente a festa do Batismo do Senhor.
O batismo é o sacramento sobre o qual se fundamenta a nossa própria fé e que
nos insere como membros vivos em Cristo e na sua Igreja. Juntamente com a
eucaristia e com a confirmação, forma a chamada “Iniciação cristã”, que constitui
como que um único, grande evento sacramental que nos configura com o Senhor e
nos torna um sinal vivo da sua presença e do seu amor.
Pode surgir em nós uma pergunta: mas o batismo é realmente necessário para
viver como cristãos e seguir Jesus? Não é, no fundo, um simples rito, um ato formal
da Igreja para dar o nome ao menino ou à menina? É uma pergunta que pode surgir. E
a esse propósito, é esclarecedor aquilo que escreve o apóstolo Paulo: “Ignorais,
porventura, que todos nós, que fomos batizados em Jesus Cristo, fomos batizados na
sua morte? Pelo batismo, sepultamo-nos juntamente com ele, para que, assim como
Cristo ressuscitou dos mortos, mediante a glória do Pai, assim caminhemos nós
também numa vida nova”.[1] Por conseguinte, não é uma formalidade! É um ato que
diz respeito profundamente à nossa existência. Uma criança batizada ou uma criança
não batizada não é a mesma coisa. Uma pessoa batizada ou uma pessoa não batizada
não é a mesma coisa. Nós, com o batismo, somos imersos naquela fonte inesgotável
de vida que é a morte de Jesus, o maior ato de amor de toda a história; e graças a esse
amor podemos viver uma vida nova, já não à mercê do mal, do pecado e da morte,
mas na comunhão com Deus e com os irmãos.
Muitos de nós não recordam minimamente a celebração desse sacramento, e é
óbvio, se fomos batizados pouco depois do nascimento. Fiz esta pergunta duas ou três
vezes, aqui, na praça: Quem de vós conhece a data do próprio batismo, levante a mão.
É importante saber o dia no qual eu fui imergido precisamente naquela corrente de
salvação de Jesus. E permito-me dar um conselho. Mas, mais do que um conselho,
trata-se de uma tarefa para hoje. Hoje, em casa, procurai, perguntai a data do batismo
e assim sabereis bem o dia tão bonito do batismo. Conhecer a data do nosso batismo
significa conhecer uma data feliz. Mas o risco de não conhecer significa perder a
memória daquilo que o Senhor fez em nós, a memória do dom que recebemos. Então
acabamos por considerá-lo só como um evento que aconteceu no passado – e não
devido à nossa vontade, mas à dos nossos pais –; por conseguinte, já não tem
incidência alguma sobre o presente. Devemos despertar a memória do nosso batismo.
Somos chamados a viver o nosso batismo todos os dias, como realidade atual na
nossa existência. Se seguimos Jesus e permanecemos na Igreja, mesmo com os
nossos limites, com as nossas fragilidades e os nossos pecados, é precisamente graças
ao sacramento no qual nos tornamos novas criaturas e fomos revestidos de Cristo.
Com efeito, é em virtude do batismo que, libertados do pecado original, somos
inseridos na relação de Jesus com Deus Pai; que somos portadores de uma esperança
5
nova, porque o batismo nos dá esta nova esperança: a esperança de percorrer o
caminho da salvação, a vida inteira. E essa esperança nada e ninguém pode desiludir,
porque a esperança não decepciona. Recordai-vos: a esperança no Senhor nunca
desilude. É graças ao batismo que somos capazes de perdoar e amar também quem
nos ofende e nos faz mal; que conseguimos reconhecer nos últimos e nos pobres o
rosto do Senhor que nos visita e se faz próximo. O batismo ajuda-nos a reconhecer no
rosto dos necessitados, dos sofredores, também do nosso próximo, a face de Jesus.
Tudo isto é possível graças à força do batismo!
Um último elemento, que é importante. E faço uma pergunta: uma pessoa pode
batizar-se a si mesma? Ninguém pode batizar-se a si mesmo! Ninguém. Podemos
pedi-lo, desejá-lo, mas temos sempre a necessidade de alguém que nos confira esse
sacramento em nome do Senhor. Porque o batismo é um dom que é concedido num
contexto de solicitude e de partilha fraterna.
Ao longo da história, sempre um batiza outro; outro, outro... é uma corrente. Uma
corrente de graça. Mas eu não posso me batizar sozinho: devo pedir o batismo a outra
pessoa. É um ato de fraternidade, um ato de filiação à Igreja. Na celebração do
batismo, podemos reconhecer os traços mais característicos da Igreja, que, como uma
mãe, continua a gerar novos filhos em Cristo, na fecundidade do Espírito Santo.
Peçamos, então, de coração, ao Senhor que possamos experimentar cada vez
mais, na vida diária, esta graça que recebemos com o batismo. Que os nossos irmãos,
ao encontrar-nos, possam encontrar verdadeiros filhos de Deus, verdadeiros irmãos e
irmãs de Jesus Cristo, verdadeiros membros da Igreja. E não esqueçais a tarefa de
hoje: procurar, perguntar a data do próprio batismo. Assim como eu conheço a data
do meu nascimento, devo conhecer também a data do meu batismo, porque é um dia
de festa.
• • •
NA QUARTA-FEIRA PASSADA demos início a uma breve série de catequeses sobre os
sacramentos, começando pelo batismo. E também hoje gostaria de meditar sobre o
batismo, para ressaltar um fruto muito importante desse sacramento: ele leva-nos a
ser membros do corpo de Cristo e do povo de Deus. Santo Tomás de Aquino afirma
que aqueles que recebem o batismo são incorporados a Cristo quase como seus
próprios membros e agregados à comunidade dos fiéis,[2] ou seja, ao Povo de Deus.
Na escola do Concílio Vaticano II, hoje dizemos que o batismo nos faz entrar no
povo de Deus, levando-nos a ser membros de um povo a caminho, um povo peregrino
na história.
Com efeito, assim como a vida se transmite de geração em geração, também de
geração em geração, através do renascimento na pia batismal, é transmitida a graça, e
com essa graça o povo cristão caminha no tempo como um rio que irriga a terra e
propaga no mundo a bênção de Deus. Desde que Jesus disse o que ouvimos do
Evangelho, os discípulos partiram para batizar; e desde aquela época até hoje há uma
cadeia na transmissão da fé mediante o batismo. E cada um de nós é um elo daquela
corrente: um passo em frente, sempre; como um rio que irriga. Assim é a graça de
6
http://www.vatican.va/archive/hist_councils/ii_vatican_council/index_po.htm
Deus, assim é a nossa fé, que devemos transmitir aos nossos filhos, às crianças, para
que eles, quando forem adultos, possam transmiti-la aos seus filhos. Assim é o
batismo. Por quê? Porque o batismo nos faz entrar nesse povo de Deus, que transmite
a fé. Isso é deveras importante. Um povo de Deus que caminha e transmite a fé.
Em virtude do batismo, nós nos tornamos discípulos-missionários, chamados a
levar o Evangelho ao mundo.[3] “Cada um dos batizados, independentemente da
própria função na Igreja e do grau de instrução da sua fé, é um sujeito ativo de
evangelização... A nova evangelização deve implicar um novo protagonismo”[4] da
parte de todos, de todo o povo de Deus, um novo protagonismo de cada batizado. O
povo de Deus é um povo discípulo – porque recebe a fé – e missionário – porque
transmite a fé. É isso que o batismo faz entre nós: confere-nos a graça, transmite-nos
a fé. Todos na Igreja somos discípulos, e somos sempre, a vida inteira; e todos nós
somos missionários, cada qual no lugar que o Senhor lhe confiou. Todos: até o mais
pequenino é missionário; eaquele que parece maior é discípulo. Mas alguém de vós
dirá: “Os bispos não são discípulos, eles sabem tudo; o papa sabe tudo, e não é
discípulo”. Não, até os bispos e o papa devem ser discípulos, pois, se não forem
discípulos, não farão o bem, não poderão ser missionários nem transmitir a fé. Todos
nós somos discípulos e missionários.
Existe um vínculo indissolúvel entre as dimensões mística e missionária da
vocação cristã, ambas arraigadas no batismo. “Ao receber a fé e o batismo, os cristãos
acolhem a ação do Espírito Santo, que leva a confessar a Jesus como Filho de Deus e
a chamar Deus ‘Abba’, Pai. Todos os batizados e batizadas... são chamados a viver e
a transmitir a comunhão com a Trindade, pois ‘a evangelização é um chamado à
participação da comunhão trinitária’ ”.[5]
Ninguém se salva sozinho. Somos uma comunidade de fiéis, somos povo de Deus
e, nessa comunidade, experimentamos a beleza de compartilhar a experiência de um
amor que nos precede a todos, mas que, ao mesmo tempo, nos pede para ser “canais”
da graça uns para os outros, apesar dos nossos limites e pecados. A dimensão
comunitária não é apenas uma “moldura”, um “contorno”, mas constitui uma parte
integrante da vida cristã, do testemunho e da evangelização. A fé cristã nasce e vive
na Igreja, e no batismo as famílias e as paróquias celebram a incorporação de um
novo membro a Cristo e ao seu corpo, que é a Igreja.[6]
A propósito da importância do batismo para o povo de Deus, é exemplar a
história da comunidade cristã no Japão. Ela padeceu uma perseguição árdua no início
do século XVII. Houve numerosos mártires, os membros do clero foram expulsos e
milhares de fiéis foram assassinados. No Japão não permaneceu nem sequer um
sacerdote, todos foram expulsos. Então, a comunidade retirou-se na clandestinidade,
conservando a fé e a oração no escondimento. E quando nascia um filho, o pai ou a
mãe batizavam-no, pois todos os fiéis podem batizar em circunstâncias particulares.
Quando, depois de cerca de dois séculos e meio, 250 anos mais tarde, os missionários
voltaram para o Japão, milhares de cristãos saíram do escondimento, e a Igreja
conseguiu reflorescer. Sobreviveram com a graça do seu batismo! Isto é grande: o
povo de Deus transmite a fé, batiza os seus filhos e vai em frente. E apesar do
7
segredo, mantiveram um vigoroso espírito comunitário, porque o batismo os tinha
levado a constituir um único corpo em Cristo: viviam isolados e escondidos, mas
eram sempre membros do povo de Deus, membros da Igreja. Podemos aprender
muito dessa história!
Audiência geral
8 e 15 de janeiro de 2014
8
O FUNDAMENTO DA VIDA CRISTÃ[7]
OS CINQUENTA DIAS DO TEMPO litúrgico pascal são propícios para refletir sobre a
vida cristã, que, por sua natureza, é a vida que provém do próprio Cristo. De fato,
somos cristãos na medida em que deixamos Jesus Cristo viver em nós. Então, por
onde começar, a fim de reavivar essa consciência, senão pelo princípio, pelo
sacramento que acendeu em nós a vida cristã? Pelo Batismo. A Páscoa de Cristo,
com a sua carga de novidade, chega até nós através do Batismo para nos transformar
à sua imagem: os batizados pertencem a Jesus Cristo, Ele é o Senhor da sua
existência. O Batismo é o “fundamento de toda a vida cristã”.[8] É o primeiro dos
sacramentos, porque é a porta que permite a Cristo Senhor habitar a nossa pessoa e, a
nós, imergir-nos no seu Mistério.
O verbo grego “batizar” significa “imergir”.[9] O banho com a água é um rito
comum em várias crenças para exprimir a passagem de uma condição a outra, sinal
de purificação para um novo início. Mas para nós, cristãos, não deve passar
despercebido que, se é o corpo a ser imergido na água, é a alma que é imersa em
Cristo para receber o perdão do pecado e resplandecer de luz divina.[10] Em virtude
do Espírito Santo, o Batismo imerge-nos na morte e ressurreição do Senhor,
afogando na pia batismal o homem velho, dominado pelo pecado que separa de Deus,
e fazendo com que nasça o homem novo, recriado em Jesus. Nele, todos os filhos de
Adão são chamados à vida nova. Ou seja, o Batismo é um renascimento. Estou certo,
certíssimo, de que todos nós recordamos a data do nosso nascimento: tenho a certeza.
Mas questiono-me, com alguma dúvida, e pergunto-vos: cada um de vós recorda qual
foi a data do próprio Batismo? Alguns dizem sim – está bem. Mas é um sim um
pouco débil, porque talvez muitos não recordem. Mas se festejamos o dia do
nascimento, como não festejar – pelo menos recordar – o dia do renascimento? Dar-
vos-ei um dever de casa, uma tarefa hoje para fazer em casa. Quantos de vós que não
se recordam da data do Batismo, perguntem à mãe, aos tios, aos sobrinhos, aos netos,
perguntem: “Sabes qual é a data do Batismo?”, e nunca mais a esqueçais. E demos
graças ao Senhor por aquele dia, porque é precisamente o dia em que Jesus entrou em
nós, em que o Espírito Santo entrou em nós. Compreendestes bem o dever de casa?
Todos devemos saber a data do nosso Batismo. É outro aniversário: o aniversário do
renascimento. Não vos esqueçais de fazer isso, por favor.
Recordemos as últimas palavras do Ressuscitado aos apóstolos; são precisamente
um mandato: “Ide e fazei discípulos todos os povos, batizando-os em nome do Pai e
do Filho e do Espírito Santo”.[11] Através do lavacro batismal, quem crê em Cristo é
imerso na própria vida da Trindade.
De fato, a do Batismo não é uma água qualquer, mas a água sobre a qual é
invocado o Espírito que “dá a vida” (Credo). Pensemos no que Jesus disse a
Nicodemos para lhe explicar o nascimento para a vida divina: “Quem não nascer da
água e do Espírito não pode entrar no Reino de Deus. O que nasceu da carne é carne,
9
e o que nasceu do Espírito é espírito”.[12] Portanto, o Batismo é também chamado
“regeneração”: acreditamos que Deus nos salvou “pela sua misericórdia, com uma
água que regenera e renova no Espírito”.[13]
Por conseguinte, o Batismo é sinal eficaz de renascimento, para caminhar em
novidade de vida. Recorda-o São Paulo aos cristãos de Roma: “Ignorais, porventura,
que todos nós que fomos batizados em Jesus Cristo, fomos batizados na sua morte?
Pelo Batismo sepultamo-nos juntamente com ele, para que, assim como Cristo
ressuscitou dos mortos, mediante a glória do Pai, assim caminhemos nós também
numa vida nova”.[14]
Imergindo-nos em Cristo, o Batismo torna-nos também membros do seu Corpo,
que é a Igreja, e participamos da sua missão no mundo.[15] Nós, batizados, não
estamos isolados: somos membros do Corpo de Cristo. A vitalidade que brota da pia
batismal é ilustrada por estas palavras de Jesus: “Eu sou a videira, vós os ramos:
quem está em mim e eu nele, esse dá muito fruto”.[16] A mesma vida, a do Espírito
Santo, escorre de Cristo para os batizados, unindo-os num só Corpo,[17] crismado
pela santa unção e alimentado na mesa eucarística.
O Batismo permite que Cristo viva em nós e que vivamos unidos a ele, para
colaborar na Igreja, cada um segundo a própria condição, para a transformação do
mundo. Recebido uma única vez, o lavacro batismal ilumina toda a nossa vida,
guiando os nossos passos até a Jerusalém do Céu. Há um antes e um depois do
Batismo. O Sacramento pressupõe um caminho de fé, que chamamos catecumenato,
evidente quando é um adulto que pede o Batismo. Mas também as crianças, desde a
antiguidade, são batizadas na fé dos pais.[18] E sobre isso gostaria de vos dizer algo.
Alguns pensam: mas por que batizar uma criança que não entende? Esperemos que
cresça, que compreenda e seja ela mesma a pedir o Batismo. Mas isso significa não
ter confiança no Espírito Santo, porque, quando batizamos uma criança, naquela
criança entra o Espírito Santo, e o Espírito Santo faz com que cresça naquela criança,
desde pequenina, virtudes cristãs que depois florescerão. Sempre se deve dar essa
oportunidade a todos, a todas as crianças, de ter dentro de si o Espírito Santo que as
guie durante a vida. Não deixeis de batizar as crianças! Ninguém merece o Batismo,
que é sempre dom gratuito para todos, adultos e recém-nascidos. Mas, como acontece
com uma sementecheia de vida, este dom ganha raízes e dá fruto num terreno
alimentado pela fé. As promessas batismais que, a cada ano, renovamos na Vigília
Pascal devem ser reavivadas todos os dias, a fim de que o Batismo “cristifique”: não
devemos ter medo desta palavra. O Batismo “cristifica-nos”; quem recebeu o Batismo
e é “cristificado” assemelha-se a Cristo, transforma-se em Cristo, tornando-se deveras
outro Cristo.
Audiência geral
11 de abril de 2018
10
O SINAL DA FÉ CRISTÃ
PROSSEGUIMOS, NESTE TEMPO de Páscoa, as catequeses sobre o Batismo. O
significado do Batismo sobressai claramente da sua celebração, por isso dirijamos a
ela a nossa atenção. Considerando os gestos e as palavras da liturgia, podemos
compreender a graça e o compromisso deste sacramento, que deve ser sempre
redescoberto. Fazemos memória dele na aspersão com a água benta, que se pode
realizar no domingo, no início da Missa, assim como na renovação das promessas
batismais, durante a Vigília Pascal. Com efeito, quanto se verifica na celebração do
Batismo suscita uma dinâmica espiritual que atravessa toda a vida dos batizados; é o
início de um processo que nos permite viver unidos a Cristo na Igreja. Portanto,
regressar à nascente da vida cristã leva-nos a compreender melhor o dom recebido no
dia do nosso Batismo e a renovar o compromisso de lhe corresponder na condição em
que estamos hoje. Renovar o compromisso, compreender melhor este dom, que é o
Batismo, e recordar o dia do nosso Batismo. Na quarta-feira passada, pedi que
fizessem os deveres de casa e que cada um de nós recordasse o dia do Batismo, em
que dia fui batizado. Sei que alguns de vós o sabem, outros não; os que não o sabem,
perguntem aos parentes, àquelas pessoas, aos padrinhos, às madrinhas... perguntem:
“Qual é a data do meu Batismo?” Porque o Batismo é um renascimento, é como se
fosse o segundo aniversário. Entendestes? Cumprir este dever de casa, perguntar:
“Qual é a data do meu Batismo?”
Antes de tudo, no rito de acolhimento, pergunta-se qual é o nome do candidato,
porque o nome indica a identidade de uma pessoa. Quando nos apresentamos,
dizemos imediatamente o nosso nome: “Chamo-me assim”, para sair do anonimato;
anônimo é quem não tem um nome. Para sair do anonimato, dizemos imediatamente
o nosso nome. Sem um nome, permanecemos desconhecidos, sem direitos nem
deveres. Deus chama cada um pelo nome, amando-nos individualmente, na realidade
da nossa história. O Batismo acende a vocação pessoal para viver como cristão, que
se desenvolverá durante a vida inteira. E comporta uma resposta pessoal; não
emprestada, com um “copia e cola”. Com efeito, a vida cristã é tecida com uma série
de chamados e respostas: Deus continua a pronunciar o nosso nome ao longo dos
anos, fazendo ressoar de muitas maneiras o seu chamado a nos conformarmos ao seu
Filho, Jesus. Portanto, o nome é importante! É muito importante! Os pais pensam no
nome que darão ao filho já antes do nascimento: também isso faz parte da espera de
um filho, que, no próprio nome, terá a sua identidade original, inclusive para a vida
cristã ligada a Deus.
Sem dúvida, tornar-se cristão é dom que vem do alto.[19] A fé não se pode
comprar, mas sim pedir e receber como dom. “Senhor, concedei-me o dom da fé!” é
bonita oração! “Que eu tenha fé!” é bonita prece. Pedi-la como dom, mas não se pode
comprá-la, pede-se. Com efeito, “o Batismo é o sacramento daquela fé com a qual
cada pessoa, iluminada pela graça do Espírito Santo, responde ao evangelho de
Cristo”.[20] A formação dos catecúmenos e a preparação dos pais, assim como a
11
escuta da Palavra de Deus na própria celebração do Batismo, tendem a suscitar e a
despertar uma fé sincera, em resposta ao evangelho.
Se os catecúmenos adultos manifestam pessoalmente aquilo que desejam receber
como dom da Igreja, as crianças são apresentadas pelos pais, com os padrinhos. O
diálogo com eles permite-lhes exprimir a vontade de que os pequenos recebam o
Batismo e, à Igreja, a intenção de celebrá-lo. “Expressão de tudo isto é o sinal da
cruz, que o celebrante e os pais traçam na testa das crianças”.[21] “O sinal da cruz...
manifesta a marca de Cristo impressa naquele que vai passar a pertencer-lhe e
significa a graça da redenção que Cristo nos adquiriu pela sua cruz”.[22] Na
celebração fazemos o sinal da cruz nas crianças. Mas gostaria de retomar um tema do
qual já vos falei. As nossas crianças sabem fazer bem o sinal da cruz? Muitas vezes vi
crianças que não sabem fazer o sinal da cruz. E vós, pais, mães, avôs, avós, padrinhos
e madrinhas, deveis ensinar a fazer bem o sinal da cruz, porque isso significa repetir o
que se fez no Batismo. Entendestes bem? Ensinar as crianças a fazer bem o sinal da
cruz. Se o aprenderem desde a infância, fá-lo-ão bem mais tarde, quando forem
adultos.
A cruz é o distintivo que manifesta quem somos: o nosso falar, pensar, olhar e
agir estão sob o sinal da cruz, ou seja, sob o sinal do amor de Jesus até o fim. As
crianças são marcadas na testa. Os catecúmenos adultos são marcados também nos
sentidos, com estas palavras: “Recebei o sinal da cruz nos ouvidos, para ouvir a voz
do Senhor”; “nos olhos, para ver o esplendor da face de Deus”; “nos lábios, para
responder à palavra de Deus”; “no peito, para que Cristo habite nos vossos corações
mediante a fé”; “nos ombros, para sustentar o jugo suave de Cristo”.[23] Tornamo-nos
cristãos na medida em que a cruz se imprime em nós como uma marca “pascal”,[24]
tornando visível, inclusive exteriormente, o modo cristão de enfrentar a vida. Fazer o
sinal da cruz quando acordamos, antes das refeições, diante de um perigo, em defesa
contra o mal, à noite antes de dormir, significa dizer a nós mesmos e aos outros a
quem pertencemos, quem desejamos ser. Por isso é muito importante ensinar as
crianças a fazer bem o sinal da cruz. E, como fazemos ao entrar na igreja, podemos
fazê-lo também em casa, conservando num pequeno vaso adequado um pouco de
água benta – algumas famílias fazem-no: assim, cada vez que entramos ou saímos,
fazendo o sinal da cruz com aquela água, recordamo-nos de que somos batizados.
Não vos esqueçais, repito: ensinai as crianças a fazer o sinal da cruz!
Audiência geral
18 de abril de 2018
12
A FORÇA PARA VENCER O MAL
CONTINUEMOS A NOSSA REFLEXÃO sobre o Batismo, sempre à luz da Palavra de
Deus.
É o Evangelho que ilumina os candidatos e suscita a adesão de fé: “O Batismo é,
de modo totalmente particular, o ‘sacramento da fé’, uma vez que é a entrada
sacramental na vida de fé”.[25] E a fé é a entrega de nós mesmos ao Senhor Jesus,
reconhecido como “nascente de água [...] para a vida eterna”,[26] “luz do mundo”,[27]
“vida e ressurreição”,[28] como ensina o itinerário percorrido, ainda hoje, pelos
catecúmenos já prestes a receber a iniciação cristã. Educados pela escuta de Jesus,
pelo seu ensinamento e pelas suas obras, os catecúmenos voltam a viver a experiência
da mulher samaritana sedenta de água viva, do cego de nascença que adquire a vista,
de Lázaro que sai do sepulcro. O evangelho traz em si a força de transformar quem o
recebe com fé, arrancando-o do domínio do maligno, a fim de que aprenda a servir o
Senhor com alegria e novidade de vida.
À pia batismal nunca vamos sozinhos, mas acompanhados pela oração da Igreja
inteira, como recordam as ladainhas dos Santos que precedem a prece de exorcismo e
a unção pré-batismal com o óleo dos catecúmenos. São gestos que, desde a
antiguidade, asseguram a quantos se preparam para renascer como filhos de Deus que
a oração da Igreja os assiste na luta contra o mal, os acompanha no caminho do bem,
os ajuda a libertar-se do poder do pecado, a fim de passar para o reino da graça
divina. A prece da Igreja. A Igreja reza, e reza por todos, por todos nós! Nós, Igreja,
oramos pelos outros. É bom rezar pelos outros. Quantas vezes, quando não temos
uma necessidade urgente, não rezamos. Devemos orar pelos outros, unidos à Igreja:
“Senhor, peço-vos pelas pessoas que estão em necessidade, por quantos não têm
fé...”. Não vos esqueçais: a oração da Igreja está sempreem ação. Mas nós devemos
entrar nesta prece e rezar por todo o povo de Deus e por aqueles que precisam de
orações. Por isso, o caminho dos catecúmenos adultos está marcado por reiterados
exorcismos pronunciados pelo sacerdote,[29] ou seja, por orações que invocam a
libertação de tudo o que separa de Cristo e impede a íntima união com ele. Pede-se a
Deus até pelas crianças, para que as liberte do pecado original e as consagre como
morada do Espírito Santo.[30] As crianças. Rezar pelas crianças, pela sua saúde
espiritual e corporal. É um modo de proteger as crianças com a oração. Como
testemunham os evangelhos, o próprio Jesus combateu e expulsou os demônios para
manifestar a vinda do reino de Deus:[31] a sua vitória sobre o poder do maligno deixa
espaço ao senhorio de Deus, que rejubila e reconcilia com a vida.
O Batismo não é uma fórmula mágica, mas um dom do Espírito Santo que torna
quem o recebe capaz de “lutar contra o espírito do mal”, acreditando que “Deus
enviou ao mundo o seu Filho para destruir o poder de Satanás e transferir o homem
das trevas para o seu Reino de luz infinita”.[32] Sabemos por experiência que a vida
cristã está sempre sujeita à tentação, sobretudo à tentação de se separar de Deus, da
13
sua vontade, da comunhão com ele, para voltar a cair na rede das seduções mundanas.
E o Batismo prepara-nos, dá-nos força para essa luta cotidiana, até para a luta contra
o diabo, que – como diz São Pedro –, como um leão procura devorar-nos, destruir-
nos.
Além da oração, há a unção no peito com o óleo dos catecúmenos, os quais “dele
recebem vigor para renunciar ao diabo e ao pecado, antes de se aproximarem da fonte
e ali renascerem para a nova vida”.[33] Devido à propriedade do óleo de penetrar nos
tecidos do corpo, proporcionando-lhe benefício, os antigos lutadores costumavam
ungir-se de óleo para tonificar os músculos e para escapar mais facilmente das garras
do adversário. À luz deste simbolismo, os cristãos dos primeiros séculos adotaram o
uso de ungir o corpo dos candidatos ao Batismo com o óleo benzido pelo Bispo [eis a
prece de bênção, expressiva do significado deste óleo: “Ó Deus, força e proteção do
vosso povo, que fizestes do óleo, vossa criatura, um sinal de fortaleza: dignai-vos
abençoar este óleo e concedei o dom da força aos catecúmenos que com ele forem
ungidos; para que, recebendo a sabedoria e virtudes divinas, compreendam mais
profundamente o evangelho do vosso Cristo, sejam generosos no cumprimento dos
deveres cristãos e, dignos da adoção filial, alegrem-se por terem renascido e viverem
na vossa Igreja”],[34] com a finalidade de significar, mediante este “sinal de
salvação”, que o poder de Cristo Salvador fortalece para lutar contra o mal e para
derrotá-lo.[35]
É cansativo combater contra o mal, escapar dos seus enganos, recuperar a força
depois de uma luta extenuante, mas devemos saber que toda a vida cristã é um
combate. Contudo, devemos saber também que não estamos sozinhos, que a Mãe
Igreja reza a fim de que os seus filhos, regenerados no Batismo, não sucumbam às
emboscadas do maligno, e sim que as vençam pelo poder da Páscoa de Cristo.
Fortalecidos pelo Senhor ressuscitado, que derrotou o príncipe deste mundo,[36]
também nós podemos repetir com a fé de São Paulo: “Tudo posso naquele que me dá
força”.[37] Todos nós podemos vencer, vencer tudo, mas com a força que nos vem de
Jesus.
Audiência geral
25 de abril de 2018
14
FONTE DE VIDA
PROSSEGUINDO A REFLEXÃO SOBRE o Batismo, hoje gostaria de meditar sobre os ritos
centrais, que têm lugar ao pé da pia batismal.
Consideremos, antes de tudo, a água, sobre a qual é invocado o poder do Espírito,
a fim de que tenha a força de regenerar e renovar.[38] A água é matriz de vida e de
bem-estar, enquanto a sua falta provoca o esmorecimento de toda a fecundidade,
como acontece no deserto; mas a água pode ser também causa de morte, quando
submerge entre as suas ondas ou, em grande quantidade, devasta tudo; por fim, a
água tem a capacidade de lavar, limpar e purificar.
A partir desse simbolismo natural, universalmente reconhecido, a Bíblia descreve
as intervenções e as promessas de Deus através do sinal da água. No entanto, o poder
de perdoar os pecados não está na água em si, como explicava Santo Ambrósio aos
neófitos: “Viste a água, mas nem toda a água cura: só sara a água que tiver em si a
graça de Cristo. [...] A ação é da água, mas a eficácia é do Espírito Santo”.[39]
Por isso, a Igreja invoca a ação do Espírito sobre a água, a fim de que “todos os
que, pelo batismo, forem sepultados na morte com Cristo ressuscitem com ele para a
vida”.[40] A prece de bênção diz que Deus preparou a água “para ser sinal do
Batismo”, recordando as principais prefigurações bíblicas: sobre as águas primordiais
pairava o Espírito, para transformá-las em germe de vida;[41] a água do dilúvio
marcou o fim do pecado e o início da nova vida;[42] através da água do mar
Vermelho, os filhos de Abraão foram libertados da escravidão do Egito.[43] A
propósito de Jesus, recorda-se o Batismo no Jordão,[44] o sangue e a água derramados
do seu lado[45] e o mandato dado aos discípulos para batizar todos os povos em nome
da Trindade.[46] Revigorados por esta memória, pede-se a Deus que infunda na água
da pia batismal a graça de Cristo morto e ressuscitado.[47] E assim esta água é
transformada em água que traz em si a força do Espírito Santo. E, mediante esta água,
com a força do Espírito Santo, batizamos as pessoas, os adultos, as crianças, todos.
Santificada a água da pia batismal, é preciso dispor o coração para aceitar o
Batismo. Isso acontece mediante a renúncia a Satanás e a profissão de fé, dois gestos
estritamente ligados entre si. Na medida em que digo “não” às sugestões do diabo –
aquele que divide –, torno-me capaz de dizer “sim” a Deus, que me chama a
conformar-me a ele nos pensamentos e nas ações. O diabo divide; Deus une sempre a
comunidade, as pessoas, num único povo. Não é possível aderir a Cristo impondo
condições. É necessário desapegar-se de certos vínculos para poder realmente abraçar
outros; ou estás de bem com Deus ou com o diabo. Por isso, a renúncia e o ato de fé
caminham juntos. É preciso eliminar pontes, deixando-as atrás, para empreender o
novo Caminho, que é Cristo.
A resposta às perguntas – “Renunciais a Satanás, a todas as suas obras e a todas
as suas seduções?” – é dada na primeira pessoa do singular: “Renuncio”. E do
mesmo modo é professada a fé da Igreja, dizendo: “Creio”. Eu renuncio, eu creio:
15
isto está na base do Batismo. É uma opção responsável, que deve ser traduzida em
gestos concretos de confiança em Deus. O ato de fé supõe um compromisso que o
próprio Batismo ajudará a manter com perseverança nas várias situações e provas da
vida. Recordemos a antiga sabedoria de Israel: “Meu filho, se te apresentares para
servir o Senhor, prepara-te para a tentação”,[48] ou seja, prepara-te para o combate. E
a presença do Espírito Santo concede-nos a força para lutar bem.
Estimados irmãos e irmãs, quando molhamos a mão na água benta – ao entrar
numa igreja, tocamos a água benta – e fazemos o sinal da cruz, pensemos com alegria
e gratidão no Batismo que recebemos – esta água benta recorda-nos o Batismo – e
renovemos o nosso “Amém” – “Estou feliz” –, para viver imersos no amor da
Santíssima Trindade.
Audiência geral
2 de maio de 2018
16
A REGENERAÇÃO
A CATEQUESE SOBRE O SACRAMENTO do Batismo leva-nos a falar hoje sobre o santo
lavacro, acompanhado pela invocação à Santíssima Trindade, ou seja, sobre o rito
central que propriamente “batiza” – isto é, imerge – no mistério pascal de Cristo.[49]
O sentido deste gesto é evocado por São Paulo aos cristãos de Roma, primeiro
perguntando: “Ignorais que todos os que fomos batizados em Jesus Cristo, fomos
batizados na sua morte?”, e depois respondendo: “Fomos, pois, sepultados com ele na
sua morte pelo Batismo para que, como Cristo ressurgiu dos mortos pela glória do
Pai, assim nós também vivamos uma vida nova”.[50] O Batismo abre-nos a porta para
uma vida de ressurreição,não para uma vida mundana. Uma vida segundo Jesus.
A pia batismal é o lugar em que se faz a Páscoa com Cristo! O homem velho é
sepultado com as suas paixões enganadoras,[51] para que renasça uma nova criatura;
verdadeiramente, passou o que era velho, eis que tudo se fez novo.[52] Nas
“Catequeses” atribuídas a São Cirilo de Jerusalém, explica-se assim aos neófitos
quanto lhes aconteceu na água do Batismo. É bonita esta explicação de São Cirilo:
“No mesmo instante morreis e nasceis, e a mesma onda salutar torna-se para vós
sepulcro e mãe”.[53] O renascimento do novo homem exige que seja reduzido a pó o
homem corrompido pelo pecado. Com efeito, as imagens do túmulo e do ventre
materno, referidas à fonte, são muito incisivas para expressar o que acontece de
grandioso através dos simples gestos do Batismo. Apraz-me citar a inscrição que se
encontra no antigo Batistério romano do Latrão, onde se lê, em latim, esta expressão
atribuída ao papa Sisto III: “A Mãe Igreja dá à luz virginalmente, mediante a água, os
filhos que concebe pelo sopro de Deus. Quantos de vós renascentes desta fonte,
esperai o reino dos céus” (“Virgineo fetu genitrix Ecclesia natos / quos spirante Deo
concipit amne parit. / Caelorum regnum sperate hoc fonte renati”). É bonito: a Igreja
que nos faz nascer, a Igreja que é um ventre, é a nossa mãe através do Batismo.
Se os nossos pais nos geraram para a vida terrena, a Igreja regenerou-nos para a
vida eterna no Batismo. Tornamo-nos filhos no seu Filho, Jesus.[54] Também sobre
cada um de nós, renascidos da água e do Espírito Santo, o Pai celestial faz ressoar
com amor infinito a sua voz que diz: “Tu és o meu filho amado”.[55] Esta voz
paternal, imperceptível ao ouvido, mas bem audível pelo coração de quem crê,
acompanha-nos durante a vida inteira, sem nunca nos abandonar. Durante toda a vida,
o Pai diz-nos: “Tu és o meu filho amado, tu és a minha filha amada”. Deus ama-nos
muito, como um Pai, e não nos deixa sozinhos. E isto, desde o momento do Batismo.
Somos filhos de Deus renascidos para sempre! Com efeito, o Batismo não se repete,
porque imprime um selo espiritual indelével: “Este selo não é apagado por pecado
algum, embora o pecado impeça o Batismo de produzir frutos de salvação”.[56] O selo
do Batismo nunca se perde! “Padre, mas se alguém se torna um bandido, dos mais
terríveis, que mata as pessoas, que comete injustiças, o selo desaparece?” Não!
Aquele filho de Deus é o homem que faz estas coisas para a própria vergonha, mas o
17
selo não se apaga. E ele continua a ser filho de Deus, que vai contra Deus, mas Deus
nunca renega os seus filhos. Compreendestes? Deus nunca renega os seus filhos.
Repitamo-lo todos juntos? “Deus nunca renega os seus filhos”. Um pouco mais alto,
pois eu, ou sou surdo ou não entendi: [repetem mais alto] “Deus nunca renega os seus
filhos”. Pronto, assim está bem!
Por conseguinte, incorporados a Cristo por meio do Batismo, os batizados são
conformados a ele, “o primogênito entre uma multidão de irmãos”.[57] Mediante a
ação do Espírito Santo, o Batismo purifica, santifica, justifica, para formar em Cristo,
de muitos, um só corpo.[58] Exprime-o a unção crismal, “que é sinal do sacerdócio
real do batizado e da sua agregação à comunidade do povo de Deus”.[59] Portanto, o
sacerdote unge com o sagrado crisma a fronte de cada batizado, depois de ter
pronunciado estas palavras que explicam o seu significado: “Que ele [Deus] vos
consagre com o óleo santo para que, inseridos em Cristo, sacerdote, profeta e rei,
continueis no seu povo até a vida eterna”.[60]
Irmãos e irmãs, a vocação cristã consiste totalmente nisto: viver unidos a Cristo
na santa Igreja, partícipes da mesma consagração, para desempenhar a mesma missão
neste mundo, dando frutos que perduram para sempre. Com efeito, animado pelo
único Espírito, todo o Povo de Deus participa das funções de Jesus Cristo,
“Sacerdote, Rei e Profeta”, e assume as responsabilidades de missão e serviço que
disto derivam.[61] O que significa participar do sacerdócio real e profético de Cristo?
Significa fazer de si uma oferta agradável a Deus,[62] dando testemunho dele através
de uma vida de fé e de caridade,[63] colocando-a a serviço dos outros, a exemplo do
Senhor Jesus.[64]
Audiência geral
9 de maio de 2018
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REVESTIDOS DE CRISTO
HOJE CONCLUÍMOS O CICLO DE CATEQUESES sobre o Batismo. Os efeitos espirituais
deste sacramento, invisíveis aos olhos, mas ativos no coração de quem se tornou
criatura nova, são explicitados pela entrega da veste branca e da vela acesa.
Depois do lavacro de regeneração, capaz de recriar o homem segundo Deus na
verdadeira santidade,[65] pareceu natural, desde os primeiros séculos, revestir os
recém-batizados com uma veste nova, cândida, à semelhança do esplendor da vida
obtida em Cristo e no Espírito Santo. A veste branca expressa simbolicamente o que
aconteceu no sacramento e anuncia a condição dos transfigurados na glória divina.
Paulo recorda o que significa revestir-se de Cristo, explicando quais são as
virtudes que os batizados devem cultivar: “Escolhidos por Deus, santos e amados,
revesti-vos de sentimentos de ternura, de bondade, de humildade, de mansidão, de
magnanimidade, suportando-vos uns aos outros e perdoando-vos reciprocamente.
Mas, acima de tudo, revesti-vos da caridade, que as une todas de modo perfeito”.[66]
Também a entrega ritual da chama acendida no círio pascal recorda o efeito do
Batismo: “Recebei a luz de Cristo”, diz o sacerdote. Estas palavras recordam que não
somos nós a luz, mas a luz é Jesus Cristo,[67] o qual, ressuscitando dos mortos,
venceu as trevas do mal. Nós somos chamados a receber o seu esplendor! Assim
como a chama do círio pascal acende cada uma das velas, também a caridade do
Senhor ressuscitado inflama os corações dos batizados, cumulando-os de luz e calor.
E por isso, desde os primeiros séculos, o Batismo chamava-se também “iluminação”,
e aquele que era batizado dizia-se que estava “iluminado”.
Com efeito, é esta a vocação cristã: caminhar sempre como filhos da luz,
perseverando na fé.[68]
Se se tratar de crianças, é tarefa dos pais, juntamente com os padrinhos e as
madrinhas, ter o cuidado de alimentar a chama da graça batismal nas suas crianças,
ajudando-as a perseverar na fé.[69] “A educação cristã é um direito das crianças; ela
tende a guiá-las gradualmente para o conhecimento do desígnio de Deus em Cristo:
assim poderão ratificar pessoalmente a fé na qual foram batizadas”.[70]
A presença viva de Cristo, que deve ser preservada, defendida e incrementada em
nós, é lâmpada que ilumina os nossos passos, luz que orienta as nossas opções, chama
que aquece os corações no caminho rumo ao Senhor, tornando-nos capazes de ajudar
quem percorre o caminho conosco, até a comunhão inseparável com ele. Naquele dia,
diz ainda o Apocalipse, “não haverá mais noite, e não necessitarão de lâmpada nem
de luz do sol, porque o Senhor Deus os ilumina; e reinarão para todo o sempre”.[71]
A celebração do Batismo conclui-se com a recitação do Pai-nosso, própria da
comunidade dos filhos de Deus. Com efeito, as crianças renascidas no Batismo
receberão a plenitude do dom do Espírito na Confirmação e participarão da
Eucaristia, aprendendo o que significa dirigir-se a Deus chamando-o “Pai”.
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No final destas catequeses sobre o Batismo, repito a cada um de vós o convite que
expressei do seguinte modo na Exortação apostólica Gaudete et Exsultate: “Deixa
que a graça do teu Batismo frutifique num caminho de santidade. Deixa que tudo
esteja aberto a Deus e, para isso, opta por ele, escolhe Deus sem cessar. Não
desanimes, porque tens a força do Espírito Santo para tornar possível a santidade e,
no fundo, esta é o fruto do Espírito Santo na tua vida”.[72]
Audiência geral
16 de maio de 2018
20
http://w2.vatican.va/content/francesco/pt/apost_exhortations/documents/papa-francesco_esortazione-ap_20180319_gaudete-et-exsultate.html
CONFIRMAÇÃO
NESTA TERCEIRA CATEQUESE sobre os sacramentos, meditemos sobre a confirmação
ou crisma, que deve ser entendida em continuidadecom o batismo, ao qual ela está
vinculada de modo inseparável. Esses dois sacramentos, juntamente com a eucaristia,
formam um único acontecimento salvífico, que se denomina “iniciação cristã”, no
qual somos inseridos em Jesus Cristo morto e ressuscitado, tornando-nos novas
criaturas e membros da Igreja. Eis o motivo por que, na origem, esses três
sacramentos eram celebrados num único momento, no final do caminho catecumenal,
normalmente na Vigília Pascal. Era assim que se selava o percurso de formação e de
inserção gradual no seio da comunidade cristã, que podia durar até alguns anos.
Procedia-se passo a passo para chegar ao batismo, depois à crisma e à eucaristia.
Em geral, fala-se de sacramento da “crisma”, palavra que significa “unção”. E,
com efeito, através do óleo, chamado “crisma sagrado”, nós somos confirmados no
poder do Espírito, em Jesus Cristo, o único verdadeiro “ungido”, o “Messias”, o
Santo de Deus. Além disso, o termo “confirmação” recorda-nos que esse sacramento
contribui com um aumento da graça batismal: une-nos mais solidamente a Cristo;
leva à plenitude o nosso vínculo com a Igreja; infunde em nós uma força especial do
Espírito Santo para difundir e defender a fé, para confessar o nome de Cristo e para
nunca nos envergonharmos da sua cruz.[73]
Por isso, é importante prestar atenção, a fim de que as nossas crianças, os nossos
jovens recebam esse sacramento. Todos nós prestamos atenção para que eles sejam
batizados, e isso é bom, mas talvez não nos preocupamos muito a fim de que recebam
a crisma. Desse modo, eles permanecerão a meio caminho e não receberão o Espírito
Santo, que é muito importante na vida cristã, porque nos concede a força para ir em
frente. Pensemos um pouco nisto, cada um de nós: preocupemo-nos verdadeiramente
para que as nossas crianças e os nossos jovens recebam a crisma! Isso é importante, é
importante! E se vós, em casa, tendes crianças e jovens que ainda não a receberam, e
que já estão na idade de recebê-la, fazei todo o possível para que levem a
cumprimento a iniciação cristã e recebam a força do Espírito Santo. É importante!
Naturalmente, é necessário oferecer aos crismandos uma boa preparação, que
deve ter em vista levá-los a uma adesão pessoal à fé em Cristo e despertar neles o
sentido da pertença à Igreja.
Como cada sacramento, a confirmação não é obra dos homens, mas de Deus, que
cuida da nossa vida, de maneira a plasmar-nos à imagem do seu Filho, para nos tornar
capazes de amar como ele. E o faz infundindo em nós o seu Espírito Santo, cuja ação
permeia cada pessoa e a vida inteira, como transparece dos sete dons que a Tradição,
à luz da Sagrada Escritura, sempre evidenciou. Eis os sete dons: não quero perguntar-
vos se vos recordais quais são os sete dons. Talvez todos vós saibais... Mas cito-os
em vosso nome. Quais são esses dons? A sabedoria, a inteligência, o conselho, a
fortaleza, a ciência, a piedade e o temor de Deus. E esses dons são concedidos
precisamente por meio do Espírito Santo, no sacramento da confirmação. Além disso,
21
a esses dons tenciono dedicar as catequeses que se seguirão às reservadas aos
sacramentos.
Quando acolhemos o Espírito Santo em nosso coração e deixamos que ele aja, é o
próprio Cristo que se torna presente em nós e adquire forma em nossa vida; por
intermédio de nós será ele, o próprio Cristo, que rezará, perdoará, infundirá esperança
e consolação, servirá os irmãos, estará próximo dos necessitados e dos últimos, criará
comunhão e semeará paz. Pensai como isto é importante: mediante o Espírito Santo, é
o próprio Cristo que vem para fazer tudo isso no meio de nós e por nós. Por isso, é
importante que as crianças e os jovens recebam o sacramento da crisma.
Estimados irmãos e irmãs, recordemo-nos de que recebemos a confirmação.
Todos nós! Recordemo-lo, antes de tudo, para dar graças ao Senhor por essa dádiva, e
além disso para lhe pedir que nos ajude a viver como cristãos autênticos e a caminhar
sempre com alegria, segundo o Espírito Santo que nos foi concedido.
Audiência geral
29 de janeiro de 2014
22
O TESTEMUNHO CRISTÃO[74]
DEPOIS DAS CATEQUESES SOBRE o Batismo, estes dias que se seguem à solenidade de
Pentecostes convidam-nos a refletir sobre o testemunho que o Espírito suscita nos
batizados, pondo em movimento a sua vida, abrindo-a para o bem dos outros. Aos
seus discípulos, Jesus confiou uma grande missão: “Vós sois o sal da terra, vós sois a
luz do mundo”.[75] Estas imagens fazem pensar no nosso comportamento, pois tanto a
carência como o excesso de sal tornam desgostosa a comida, assim como a falta ou o
excesso de luz impedem de ver. Somente o Espírito de Cristo nos pode oferecer
verdadeiramente o sal que dá sabor e preserva contra a corrupção, e a luz que ilumina
o mundo! E essa é a dádiva que recebemos no sacramento da Confirmação, ou
Crisma, sobre o qual desejo refletir convosco. Chama-se “Confirmação” porque
confirma o Batismo, fortalecendo a sua graça;[76] e também “Crisma”, porque
recebemos o Espírito mediante a unção com o “crisma” – óleo perfumado,
consagrado pelo Bispo –, termo que remete para “Cristo”, o Ungido de Espírito
Santo.
O primeiro passo é renascer para a vida divina no Batismo; em seguida, é preciso
comportar-se como filho de Deus, ou seja, conformar-se a Cristo, que age na santa
Igreja, deixando-se engajar na sua missão no mundo. Para isso provê a unção do
Espírito Santo: “Sem a luz que acode, nada o homem pode, nenhum bem há nele”.[77]
Sem a força do Espírito Santo, nada podemos fazer: é o Espírito que nos dá a força
para ir em frente. Do mesmo modo como toda a vida de Jesus foi animada pelo
Espírito, assim também a vida da Igreja e de cada um dos seus membros está sob a
guia do mesmo Espírito.
Concebido pela Virgem por obra do Espírito Santo, Jesus empreende a sua
missão depois que, saindo da água do Jordão, é consagrado pelo Espírito, que desce e
paira sobre ele.[78] Ele declara-o explicitamente na sinagoga de Nazaré; é bonito o
modo como Jesus se apresenta, que é a carteira de identidade de Jesus na sinagoga de
Nazaré! Ouçamos como o faz: “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque me
consagrou com a unção; e enviou-me para anunciar a boa-nova aos pobres”.[79] Jesus
apresenta-se na sinagoga do seu povoado como o Ungido, aquele que foi ungido pelo
Espírito.
Jesus está cheio de Espírito Santo e é a fonte do Espírito prometido pelo Pai.[80]
Na realidade, na noite de Páscoa, o Ressuscitado sopra sobre os discípulos, dizendo-
lhes: “Recebei o Espírito Santo”;[81] e no dia de Pentecostes a força do Espírito desce
sobre os apóstolos de forma extraordinária,[82] como nós sabemos.
A “Respiração” de Cristo ressuscitado enche de vida os pulmões da Igreja; e, com
efeito, a boca dos discípulos, “cheios de Espírito Santo”, abre-se para proclamar a
todos as grandes obras de Deus.[83]
O Pentecostes – que celebramos no domingo passado – é para a Igreja o que foi
para Cristo a unção do Espírito recebida no Jordão, ou seja, o Pentecostes é o impulso
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missionário para consumar a vida pela santificação dos homens, para a glória de
Deus. Se o Espírito age em cada sacramento, é de modo especial na Confirmação que
“os fiéis recebem como Dom o Espírito Santo”.[84] E, no momento de fazer a unção,
o Bispo pronuncia estas palavras: “Recebe, por este sinal, o Espírito Santo, o dom de
Deus”; é a grande dádiva de Deus, o Espírito Santo. Todos nós temos o Espírito
dentro. O Espírito está no nosso coração, na nossa alma. E o Espírito guia-nos na
vida, a fim de que nos tornemos bom sal e boa luz para os homens.
Se no Batismo é o Espírito Santo que nos imerge em Cristo, na Confirmação é
Cristo que nos enche com o seu Espírito, consagrando-nos suas testemunhas,
partícipes do mesmo princípio de vida e de missão, segundo o desígnio do Pai celeste.
O testemunho prestado pelos confirmados manifesta a recepção do Espírito Santo e a
docilidade à sua inspiração criativa. Pergunto-me: como se vê que recebemos o Dom
do Espírito? Se cumprirmos as obras do Espírito, se proferirmos palavras ensinadas
peloEspírito.[85] O testemunho cristão consiste em fazer unicamente e tudo aquilo
que o Espírito de Cristo nos pede, concedendo-nos a força para realizá-lo.
Audiência geral
23 de maio de 2018
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O SELO DO ESPÍRITO
Prosseguindo o tema da Confirmação ou Crisma, hoje desejo salientar a “íntima
ligação deste sacramento com toda a iniciação cristã”.[86]
Antes de receber a unção espiritual que confirma e fortalece a graça do Batismo,
os crismandos são chamados a renovar as promessas feitas um dia pelos pais e
padrinhos. Agora são eles mesmos que professam a fé da Igreja, prontos para
responder “creio” às perguntas dirigidas pelo Bispo; em particular, prontos para
acreditar “no Espírito Santo, que é Senhor e dá a vida, e que hoje, mediante o
sacramento da Confirmação, é conferido [a eles] de modo especial, assim como o foi
aos apóstolos no dia de Pentecostes”.[87]
Dado que a vinda do Espírito Santo exige corações recolhidos em oração,[88] após
a oração silenciosa da comunidade, o Bispo, impondo as mãos sobre os crismandos,
suplica a Deus que lhes infunda o Santo Espírito Paráclito. Um só é o Espírito;[89] ao
descer sobre nós, traz consigo uma riqueza de dons: sabedoria, entendimento,
conselho, fortaleza, ciência, piedade e santo temor.[90] Ouvimos o trecho da Bíblia
com estes dons que o Espírito Santo traz. Segundo o profeta Isaías,[91] trata-se das
sete virtudes do Espírito, infundidas sobre o Messias para o cumprimento da sua
missão. Também São Paulo descreve o fruto abundante do Espírito, que é “caridade,
alegria, paz, magnanimidade, afabilidade, bondade, fidelidade, mansidão e
temperança”.[92] O único Espírito distribui os múltiplos dons que enriquecem a única
Igreja: é o Autor da diversidade, mas, ao mesmo tempo, o Criador da unidade. Assim
o Espírito oferece todas estas riquezas, que são diversas, mas, ao mesmo tempo, cria a
harmonia, ou seja, a unidade de todas estas riquezas espirituais que nós, cristãos,
temos.
Segundo a tradição atestada pelos apóstolos, o Espírito, que completa a graça do
Batismo, é comunicado através da imposição das mãos.[93] A este gesto bíblico, para
melhor manifestar a efusão do Espírito, que permeia quantos a recebem, acrescentou-
se depressa uma unção de óleo perfumado, chamado crisma [eis um trecho da oração
de bênção do crisma: “Por isso nós vos suplicamos, ó Pai, que santifiqueis este óleo
com a vossa bênção. Infundi-lhe a força do Espírito Santo, pelo poder do vosso
Cristo, que deu o seu nome ao santo crisma, com o qual ungistes vossos sacerdotes e
reis, vossos profetas e mártires (...). Santificados por essa unção, e sanada a corrupção
original, tornem-se templo da vossa glória e manifestem a integridade de uma vida
santa”],[94] que é usada até hoje, tanto no Oriente como no Ocidente.[95]
O óleo – o crisma – é substância terapêutica e cosmética que, entrando nos
tecidos do corpo, cura as feridas e perfuma os membros; devido a estas qualidades,
foi escolhido pelo simbolismo bíblico e litúrgico para expressar a ação do Espírito
Santo, que consagra e permeia o batizado, adornando-o de carismas. O sacramento é
conferido mediante a unção do crisma na testa, realizada pelo Bispo com a imposição
da mão e mediante as palavras: “Recebe, por este sinal, o Espírito Santo, dom de
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Deus”.[96] O Espírito Santo é o dom invisível concedido, e o crisma constitui o seu
selo visível.
Portanto, recebendo na testa o sinal da cruz com o óleo perfumado, o confirmado
recebe uma marca espiritual indelével, o “caráter”, que o conforma mais
perfeitamente a Cristo, concedendo-lhe a graça de difundir entre os homens o “bom
perfume”.[97]
Voltemos a ouvir o convite de Santo Ambrósio aos neocrismados. Diz assim:
“Recorda que recebeste o selo espiritual [...] e conserva aquilo que recebeste. Deus
Pai marcou-te, Cristo Senhor confirmou-te e colocou no teu coração o penhor do
Espírito”.[98] O Espírito é um dom imerecido, que deve ser recebido com gratidão,
criando espaço para a sua criatividade inexaurível. É um dom a conservar com
atenção, a secundar com docilidade, deixando-se plasmar como cera pela sua caridade
inflamada, “para refletir Jesus Cristo no mundo de hoje”.[99]
Audiência geral
30 de maio de 2018
26
PELO CRESCIMENTO DA IGREJA
PROSSEGUINDO A REFLEXÃO SOBRE o sacramento da Confirmação, consideremos os
efeitos que o dom do Espírito Santo faz amadurecer nos crismandos, levando-os a
tornar-se, por sua vez, uma dádiva para os outros. O Espírito Santo é um dom!
Recordemos que, quando nos dá a unção com o óleo, o bispo diz: “Recebe, por este
sinal, o Espírito Santo, o dom de Deus”. Aquele dom do Espírito Santo entra em nós
e frutifica, para que nós o possamos transmitir aos demais. Receber sempre para
oferecer: nunca receber e conservar as coisas dentro, como se a alma fosse um
armazém. Não: receber sempre para oferecer. Recebemos as graças de Deus para dá-
las aos outros. Esta é a vida do cristão. Portanto, é próprio do Espírito Santo
descentrar-nos do nosso eu, abrindo-nos ao “nós” da comunidade: receber para dar.
Nós não estamos no centro: somos um instrumento daquela dádiva para os outros.
Completando nos batizados a semelhança a Cristo, a Confirmação une-os mais
fortemente, como membros vivos, ao Corpo místico da Igreja.[100] A missão da Igreja
no mundo procede através da contribuição de todos aqueles que fazem parte dela.
Alguns pensam que na Igreja existem patrões: o papa, os bispos, os sacerdotes e
depois os outros. Não: todos nós somos Igreja! E todos temos a responsabilidade de
nos santificarmos uns aos outros, de cuidarmos dos demais. Todos nós somos Igreja!
Cada qual tem a sua função na Igreja, mas todos nós somos Igreja! Com efeito,
devemos pensar na Igreja como um organismo vivo, composto por pessoas que
conhecemos e com as quais caminhamos, e não como uma realidade abstrata e
distante. A Igreja somos nós que caminhamos, a Igreja somos nós que hoje nos
encontramos nesta praça. Nós: esta é a Igreja. A Confirmação vincula à Igreja
universal espalhada pela terra inteira, mas compromete ativamente os crismandos na
vida da Igreja particular à qual pertencem, tendo como cabeça o Bispo, que é o
sucessor dos apóstolos.
E por isso o Bispo é o ministro originário da Confirmação,[101] porque insere o
confirmado na Igreja. O fato de que, na Igreja latina, este sacramento seja
normalmente conferido pelo Bispo põe em evidência o seu “efeito de unir mais
estreitamente aqueles que o recebem à Igreja, às suas origens apostólicas e à sua
missão de dar testemunho de Cristo”.[102]
E esta incorporação eclesial é bem significada pelo sinal de paz que conclui o rito
da Crisma. Com efeito, a cada confirmado o Bispo diz: “A paz esteja contigo!”
Recordando a saudação de Cristo aos discípulos na noite de Páscoa, cheia de Espírito
Santo[103] – ouvimos –, estas palavras iluminam um gesto que “manifesta a
comunhão eclesial com o Bispo e com todos os fiéis”.[104] Na Crisma, nós recebemos
o Espírito Santo e a paz: aquela paz que devemos transmitir aos outros. Mas
pensemos: cada qual pense, por exemplo, na própria comunidade paroquial. Há a
cerimônia da Crisma, e depois trocamos o gesto da paz: o Bispo oferece-a ao
crismado e em seguida, na Missa, trocamo-la entre nós. Isso significa harmonia, quer
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dizer, caridade entre nós, significa paz. Mas, depois, o que acontece? Saímos e
começamos a falar mal do próximo, a “esfolar” os outros. Começam as tagarelices. E
as bisbilhotices são guerras. Isso não está certo! Se recebemos o sinal da paz com a
força do Espírito Santo, devemos ser homens e mulheres de paz, e não destruir com a
língua a paz instaurada pelo Espírito. Quanto trabalho tem o desventurado Espírito
Santo conosco, com este hábito da bisbilhotice! Pensai bem: a tagarelice não é uma
obra do Espírito Santo, não é uma obra da unidade da Igreja. A bisbilhotice destrói
aquilo que Deus faz. Mas por favor: deixemos de tagarelar!
A Confirmação só se recebe uma vez, mas o dinamismo espiritual suscitado pela
santa unção persevera no tempo. Nunca cessaremos de cumprir o mandato de
propagarem toda parte o bom perfume de uma vida santa, inspirada pela fascinante
simplicidade do evangelho.
Ninguém recebe a Confirmação somente para si mesmo, mas para cooperar no
crescimento espiritual dos outros. Só assim, abrindo-nos e saindo de nós mesmos para
ir ao encontro dos irmãos, podemos realmente crescer e não apenas iludir-nos,
achando que o fazemos. Com efeito, aquilo que recebemos como dom de Deus deve
ser transmitido – o dom é para ser oferecido –, a fim de que seja fecundo e não, ao
contrário, enterrado por causa de temores egoístas, como ensina a parábola dos
talentos.[105] Até a semente, quando a temos na mão, não deve ser colocada ali, no
armário, nem deixada de lado: é para ser semeada. Devemos transmitir à comunidade
o dom do Espírito. Exorto os crismados a não “enjaular” o Espírito Santo, a não opor
resistência ao Vento que sopra para impeli-los a caminhar na liberdade, a não sufocar
o Fogo ardente da caridade que leva a consumir a vida por Deus e pelos irmãos. Que
o Espírito Santo conceda a todos nós a coragem apostólica de comunicar o evangelho,
com obras e palavras, a quantos encontrarmos no nosso caminho. Com obras e
palavras, mas com palavras boas, que edificam. Não com palavras de bisbilhotice,
que destroem. Por favor, quando sairdes da igreja, pensai que a paz recebida é para
ser oferecida aos outros; não para ser destruída com bisbilhotices. Não vos esqueçais
disso!
Audiência geral
6 de junho de 2018
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EUCARISTIA
HOJE, FALAR-VOS-EI da eucaristia. A eucaristia insere-se no âmago da “iniciação
cristã”, juntamente com o batismo e a confirmação, constituindo a nascente da
própria vida da Igreja. Com efeito, é desse sacramento do amor que derivam todos os
caminhos autênticos de fé, de comunhão e de testemunho.
O que vemos quando nos congregamos para celebrar a eucaristia, a missa, já nos
faz intuir o que estamos prestes a viver. No centro do espaço destinado à celebração,
encontra-se o altar, que é uma mesa coberta com uma toalha, e isso nos faz pensar
num banquete. Sobre a mesa há uma cruz, que indica que, naquele altar, oferece-se o
sacrifício de Cristo: é ele o alimento espiritual que ali recebemos, sob as espécies do
pão e do vinho. Ao lado da mesa, encontra-se o ambão, ou seja, o lugar de onde se
proclama a Palavra de Deus: e ele indica que ali nos reunimos para ouvir o Senhor,
que fala mediante as Sagradas Escrituras e, portanto, o alimento que recebemos é
também a sua Palavra.
Na missa, palavra e pão tornam-se uma coisa só, como na Última Ceia, quando
todas as palavras de Jesus, todos os sinais que ele tinha realizado, se condensaram no
gesto de partir o pão e de oferecer o cálice, antecipação do sacrifício da cruz, e
naquelas palavras: “Tomai e comei, isto é o meu corpo... Tomai e bebei, isto é o meu
sangue”.
O gesto levado a cabo por Jesus na Última Ceia é a extrema ação de graças ao Pai
pelo seu amor, pela sua misericórdia. Em grego, “ação de graças” diz-se “eucaristia”.
É por isso que o sacramento se chama eucaristia: é a suprema ação de graças ao Pai, o
qual nos amou a tal ponto, que nos ofereceu o seu Filho por amor. Eis por que motivo
o termo eucaristia resume todo aquele gesto, que é de Deus e, ao mesmo tempo, do
homem, gesto de Jesus Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro homem.
Por conseguinte, a celebração eucarística é muito mais do que um simples
banquete: é precisamente o memorial da Páscoa de Jesus, o mistério fulcral da
salvação. “Memorial” não significa apenas uma recordação, uma simples lembrança,
mas quer dizer que cada vez que nós celebramos este sacramento participamos do
mistério da paixão, morte e ressurreição de Cristo. A eucaristia constitui o apogeu da
obra de salvação de Deus: com efeito, fazendo-se pão partido para nós, o Senhor
Jesus derrama sobre nós toda a sua misericórdia e todo o seu amor, a ponto de
renovar o nosso coração, a nossa existência e o nosso próprio modo de nos
relacionarmos com ele e com os irmãos. É por isso que, geralmente, quando nos
aproximamos desse sacramento, dizemos que “recebemos a comunhão”, que
“fazemos a comunhão”: isso significa que, no poder do Espírito Santo, a participação
na mesa eucarística nos conforma com Cristo de modo singular e profundo, levando-
nos a prelibar desde já a plena comunhão com o Pai, que caracterizará o banquete
celestial, onde, juntamente com todos os santos, teremos a felicidade de contemplar
Deus face a face.
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Estimados amigos, nunca daremos graças ao Senhor suficientemente pela dádiva
que nos concedeu por meio da eucaristia! Trata-se de um dom deveras grandioso, e
por isso é tão importante ir à missa aos domingos. Ir à missa não só para rezar, mas
para receber a comunhão, o pão que é o corpo de Jesus Cristo, que nos salva, nos
perdoa e nos une ao Pai. É bom fazer isso! E todos os domingos vamos à missa,
porque é precisamente o dia da ressurreição do Senhor. É por isso que o domingo é
tão importante para nós! E com a eucaristia sentimos essa pertença precisamente à
Igreja, ao povo de Deus, ao corpo de Deus, a Jesus Cristo. Nunca compreenderemos
todo o seu valor e toda a sua riqueza. Então, peçamos-lhe que esse sacramento possa
continuar a manter viva na Igreja a sua presença e a plasmar as nossas comunidades
na caridade e na comunhão, segundo o coração do Pai. E fazemos isso durante a vida
inteira, mas começamos a fazê-lo no dia da nossa primeira comunhão. É importante
que as crianças se preparem bem para a primeira comunhão e que cada criança a faça,
pois se trata do primeiro passo dessa pertença forte a Jesus Cristo, depois do batismo
e da crisma.
• • •
NA ÚLTIMA CATEQUESE, elucidei o modo como a eucaristia nos introduz na
comunhão real com Jesus e o seu mistério. Agora podemos formular algumas
interrogações a propósito da relação entre a eucaristia que celebramos e a nossa vida,
como Igreja e como simples cristãos. Como vivemos a eucaristia? Quando vamos à
missa aos domingos, como a vivemos? É apenas um momento de festa, uma tradição
consolidada, uma ocasião para nos encontrarmos, para nos sentirmos em dia, ou é
algo mais?
Existem sinais muito concretos para compreender como vivemos tudo isso, como
vivemos a eucaristia; sinais que nos dizem se vivemos bem a eucaristia, ou se não a
vivemos muito bem. O primeiro indício é o nosso modo de ver e considerar os
outros. Na eucaristia, Cristo oferece sempre de novo o dom de si que já concedeu na
cruz. A sua vida inteira é um gesto de partilha total de si mesmo por amor; por isso,
ele gostava de estar com os discípulos e com as pessoas que tinha a oportunidade de
conhecer. Para ele, isso significava compartilhar seus desejos, seus problemas, aquilo
que agitava suas almas e vidas. Pois bem, quando participamos da santa missa, nos
encontramos com homens e mulheres de todos os tipos: jovens, idosos e crianças;
pobres e abastados; naturais do lugar e forasteiros; acompanhados pelos familiares e
pessoas sós... Mas a eucaristia que eu celebro leva-me a senti-los todos
verdadeiramente como irmãos e irmãs? Faz crescer em mim a capacidade de me
alegrar com os que rejubilam, de chorar com quem chora? Impele-me a ir ao encontro
dos pobres, dos enfermos e dos marginalizados? Ajuda-me a reconhecer neles o rosto
de Jesus? Todos nós vamos à missa porque amamos Jesus e, na eucaristia, queremos
compartilhar a sua paixão e ressurreição. Mas amamos, como deseja Jesus, os irmãos
e as irmãs mais necessitados? Por exemplo, nesses dias, vimos em Roma muitas
dificuldades sociais, ou devido às chuvas, que causaram prejuízos enormes para
bairros inteiros, ou devido à falta de trabalho, consequência da crise econômica no
30
mundo inteiro. Pergunto-me, e cada um de nós deve interrogar-se: eu, que vou à
missa, como vivo isso? Preocupo-me em ajudar, em aproximar-me, em rezar pelos
que devem enfrentar esse problema? Ou então sou um pouco indiferente? Ou, talvez,
preocupo-me em tagarelar: você viu como se veste essa pessoa, ou como está vestida
aquela? Às vezes é isso que se faz depois da missa, mas não podemos comportar-nos
assim! Devemos preocupar-noscom os nossos irmãos e irmãs que têm necessidade
por causa de uma doença, de um problema. Hoje, fará bem a nós pensar em nossos
irmãos e irmãs que devem enfrentar esses problemas aqui em Roma: problemas
devidos à tragédia provocada pelas chuvas, questões sociais e de trabalho. Peçamos a
Jesus, que recebemos na eucaristia, que nos ajude a ajudá-los!
Um segundo indício, muito importante, é a graça de nos sentirmos perdoados e
prontos para perdoar. Por vezes, alguém pergunta: “Por que deveríamos ir à igreja,
visto que quem participa habitualmente da santa missa é pecador como os outros?”
Quantas vezes ouvimos isso! Na realidade, quem celebra a eucaristia não o faz
porque se considera ou quer parecer melhor do que os outros, mas precisamente
porque se reconhece sempre necessitado de ser acolhido e regenerado pela
misericórdia de Deus, que se fez carne em Jesus Cristo. Se não nos sentirmos
necessitados da misericórdia de Deus, se não nos sentirmos pecadores, melhor seria
não ir à missa! Nós vamos à missa porque somos pecadores e queremos receber o
perdão de Deus, participar da redenção de Jesus e do seu perdão. Aquele “confesso”
que recitamos no início não é algo pro forma, mas verdadeiro ato de penitência! Sou
pecador e confesso-o: assim começa a missa! Nunca devemos esquecer que a Última
Ceia de Jesus teve lugar “na noite em que ele foi entregue”.[106] Naquele pão e
naquele vinho que oferecemos, e ao redor dos quais nos congregamos, renova-se
sempre mais a dádiva do corpo e do sangue de Cristo, para a remissão dos nossos
pecados. Temos de ir à missa como pecadores, humildemente, e é o Senhor que nos
reconcilia.
Um último indício inestimável é-nos oferecido pela relação entre a celebração
eucarística e a vida das nossas comunidades cristãs. É preciso ter sempre presente
que a eucaristia não é algo que nós fazemos; não é uma comemoração nossa daquilo
que Jesus disse e fez. Não! É precisamente uma ação de Cristo! Ali, é Cristo quem
age, Cristo sobre o altar! É um dom de Cristo, que se torna presente e nos reúne ao
redor de si, para nos alimentar com a sua palavra e a sua vida. Isso significa que a
própria missão e identidade da Igreja derivam dali, da eucaristia, e ali sempre
adquirem forma. Uma celebração pode até ser impecável sob o ponto de vista
exterior, maravilhosa, mas, se não nos levar ao encontro com Jesus, corre o risco de
não oferecer alimento algum ao nosso coração e à nossa vida. Por meio da eucaristia,
ao contrário, Cristo quer entrar em nossa existência e permeá-la com sua graça, de tal
modo que, em cada comunidade cristã, haja coerência entre liturgia e vida.
O coração transborda de confiança e de esperança, pensando nas palavras de
Jesus, citadas no Evangelho: “Quem comer a minha carne e beber o meu sangue terá
a vida eterna; e eu o ressuscitarei no último dia”.[107] Vivamos a eucaristia com
espírito de fé, de oração, de perdão, de penitência, de júbilo comunitário, de
31
solicitude pelos necessitados e pelas carências de numerosos irmãos e irmãs, na
certeza de que o Senhor cumprirá aquilo que nos prometeu: a vida eterna. Assim seja!
Audiência geral
5 e 12 de fevereiro de 2014
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RECONCILIAÇÃO
Por meio dos sacramentos da iniciação cristã, do batismo, da confirmação e da
eucaristia, o homem recebe a vida nova em Cristo. Pois bem, todos nós sabemos que
trazemos esta vida “em vasos de barro”,[108] ainda estamos submetidos à tentação, ao
sofrimento, à morte e, por causa do pecado, até podemos perder a nova vida. Por isso,
o Senhor Jesus quis que a Igreja continuasse a sua obra de salvação também a favor
dos próprios membros, particularmente com os sacramentos da reconciliação e da
unção dos enfermos, que podem ser unidos sob o nome de “sacramentos de cura”. O
sacramento da reconciliação é um sacramento de cura. Quando me confesso, é para
me curar, para curar a minha alma, o meu coração, e algo de mau que cometi. O ícone
bíblico que melhor os exprime, no seu vínculo profundo, é o episódio do perdão e da
cura do paralítico, onde o Senhor Jesus se revela médico das almas e, ao mesmo
tempo, dos corpos.[109]
O sacramento da penitência e da reconciliação brota diretamente do mistério
pascal. Com efeito, na noite de Páscoa, o Senhor apareceu aos discípulos, fechados
no cenáculo e, depois de lhes dirigir a saudação: “A paz esteja convosco!”, soprou
sobre eles e disse: “Recebei o Espírito Santo! A quantos perdoardes os pecados, lhes
serão perdoados”.[110] Esse trecho revela a dinâmica mais profunda contida nesse
sacramento. Antes de tudo, a constatação de que o perdão dos nossos pecados não é
algo que podemos dar-nos a nós mesmos. Não posso dizer: perdoo os meus pecados.
O perdão é pedido a outra pessoa, e na confissão pedimos o perdão a Jesus. O perdão
não é fruto dos nossos esforços, mas uma dádiva, um dom do Espírito Santo, que nos
enche do banho de misericórdia e de graça que brota incessantemente do coração
aberto de Cristo crucificado e ressuscitado. Em segundo lugar, recorda-nos que só se
nos deixarmos reconciliar no Senhor Jesus com o Pai e com os irmãos,
conseguiremos verdadeiramente alcançar a paz. E todos nós sentimos isso no
coração, quando nos confessamos com um peso na alma, com um pouco de tristeza; e
quando recebemos o perdão de Jesus, alcançamos a paz, aquela paz da alma tão boa
que somente Jesus pode nos dar, só ele!
Ao longo do tempo, a celebração desse sacramento passou de uma forma pública
– porque no início fazia-se publicamente – para a pessoal, para a forma reservada da
confissão. Contudo, isso não deve fazer-nos perder a matriz eclesial, que constitui o
contexto vital. Com efeito, a comunidade cristã é o lugar onde o Espírito se torna
presente, renova os corações no amor de Deus, fazendo de todos os irmãos um só em
Cristo Jesus. Eis, então, por que motivo não é suficiente pedir perdão ao Senhor em
nossa mente e em nosso coração, mas é necessário confessar humilde e
confiadamente os nossos pecados ao ministro da Igreja. Na celebração desse
sacramento, o sacerdote não representa apenas Deus, mas toda a comunidade, que se
reconhece na fragilidade de cada um dos seus membros, ouve comovida o seu
arrependimento, se reconcilia com eles, os anima e acompanha ao longo do caminho
de conversão e de amadurecimento humano e cristão. Podemos dizer: eu só me
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confesso com Deus. Sim, podes dizer a Deus: “Perdoa-me!”, e confessar os teus
pecados, mas os nossos pecados são cometidos também contra os irmãos, contra a
Igreja. Por isso, é necessário pedir perdão à Igreja, aos irmãos, na pessoa do
sacerdote. “Mas, padre, eu tenho vergonha...”. Até a vergonha é boa; é saudável sentir
um pouco de vergonha, porque envergonhar-se é bom. Quando uma pessoa não se
envergonha, no meu país dizemos que é um sin verguenza, um "sem-vergonha". Mas
até a vergonha faz bem, porque nos torna mais humildes, e o sacerdote recebe com
amor e com ternura essa confissão e, em nome de Deus, perdoa. Até do ponto de vista
humano, para desabafar, é bom falar com o irmão e dizer ao sacerdote essas coisas,
que pesam muito em nosso coração. E assim sentimos que desabafamos diante de
Deus, com a Igreja e com o irmão. Não tenhais medo da confissão! Quando estamos
em fila para nos confessarmos, sentimos tudo isso, também a vergonha, mas depois,
quando termina a confissão, sentimo-nos livres, grandes, bons, perdoados, puros e
felizes. Essa é a beleza da confissão! Gostaria de vos perguntar – mas não o digais em
voz alta; cada um responda no seu coração: Quando foi a última vez que você se
confessou? Cada um pense nisso... Há dois dias, duas semanas, dois anos, vinte anos,
quarenta anos? Cada um faça as contas, mas cada um diga: Quando foi a última vez
que me confessei? E se já passou muito tempo, não perca nem sequer um dia; vá, que
o sacerdote será bom com você. É Jesus que está ali presente, e é mais bondoso que
os sacerdotes, Jesus o receberá com muito amor. Seja corajoso e vá se confessar!
Caros amigos, celebrar o sacramento da reconciliação significa ser envolvido por
um abraço caloroso: é o abraçoda misericórdia infinita do Pai. Recordemos aquela
bonita parábola do filho que foi embora de casa com o dinheiro da herança; esbanjou
tudo e depois, quando já não tinha nada, decidiu voltar para casa, não como filho,
mas como servo. Ele sentia muita culpa e muita vergonha no seu coração!
Surpreendentemente, quando ele começou a falar, a pedir perdão, o pai não o deixou
falar, mas abraçou-o, beijou-o e fez uma festa. E eu vos digo: cada vez que nos
confessamos, Deus nos abraça, Deus faz festa! Vamos em frente por esse caminho.
Deus vos abençoe!
Audiência geral
19 de fevereiro de 2014
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UNÇÃO DOS ENFERMOS
GOSTARIA DE VOS FALAR hoje do sacramento da unção dos enfermos, que nos
permite ver concretamente a compaixão de Deus pelo ser humano. No passado era
chamado “extrema unção”, porque era entendido como conforto espiritual na
iminência da morte. Ao contrário, falar de “unção dos enfermos” ajuda-nos a alargar
o olhar para a experiência da doença e do sofrimento, no horizonte da misericórdia de
Deus.
Há um ícone bíblico que expressa, em toda a sua profundidade, o mistério que
transparece na unção dos enfermos: é a parábola do “Bom Samaritano”, no
Evangelho de Lucas.[111] Todas as vezes que celebramos esse sacramento, o Senhor
Jesus, na pessoa do sacerdote, torna-se próximo de quem sofre e está gravemente
doente, ou é idoso. Diz a parábola que o Bom Samaritano se ocupa do homem
sofredor, derramando sobre as suas feridas óleo e vinho. O óleo faz-nos pensar no que
é abençoado pelo bispo todos os anos, na missa crismal da Quinta-Feira Santa,
precisamente em vista da unção dos enfermos. O vinho, ao contrário, é sinal do amor
e da graça de Cristo que brota do dom da sua vida por nós e se expressa em toda a sua
riqueza na vida sacramental da Igreja. Por fim, a pessoa sofredora é confiada a um
hoteleiro, a fim de que continue a ocupar-se dela, sem se preocupar com a despesa.
Mas, quem é esse hoteleiro? É a Igreja, a comunidade cristã, somos nós, aos quais
todos os dias o Senhor Jesus confia aqueles que estão aflitos, no corpo e no espírito,
para que possamos continuar a derramar sobre eles, sem medida, toda a sua
misericórdia e salvação.
Este mandato é reafirmado de maneira explícita e clara na Carta de Tiago, na qual
se recomenda: “Está alguém entre vós doente? Chame os presbíteros da Igreja, e estes
façam oração sobre ele, ungindo-o com óleo, em nome do Senhor. E a oração da fé
salvará o enfermo, e o Senhor o levantará; e, se houver cometido pecados, lhe serão
perdoados”.[112] Por conseguinte, trata-se de uma prática que já se usava na época dos
apóstolos. Com efeito, Jesus ensinou seus discípulos a ter a sua predileção pelos
doentes e pelos sofredores, e transmitiu-lhes a capacidade e a tarefa de continuar a
conceder, no seu nome e segundo o seu coração, alívio e paz, mediante a graça
especial desse sacramento. Mas isso não deve nos fazer cair na busca obstinada do
milagre ou na presunção de poder obter sempre, e apesar de tudo, a cura. Mas é a
certeza da proximidade de Jesus ao doente e também ao idoso, porque cada idoso,
cada pessoa com mais de 65 anos, pode receber esse sacramento, mediante o qual é o
próprio Jesus que se aproxima.
Mas, na presença de um doente, por vezes pensa-se: “chamemos o sacerdote para
que venha”; “Não, dá azar, não o chamemos”, ou então, “o doente assusta-se”. Por
que se pensa assim? Porque um pouco há a ideia de que depois do sacerdote vem a
agência funerária. E isso não é verdade. O sacerdote vem para ajudar o doente ou o
idoso; por isso é tão importante a visita dos sacerdotes aos doentes. É preciso chamar
o sacerdote para junto do doente e dizer: “Venha, dê-lhe a unção, abençoe-o”. É o
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próprio Jesus que chega para aliviar o doente, para lhe dar força, para lhe dar
esperança, para o ajudar; também para lhe perdoar os pecados. E isso é muito bonito!
E não se deve pensar que isso seja um tabu, porque é sempre bom saber que, no
momento da dor e da doença, não estamos sós: com efeito, o sacerdote e os que estão
presentes, durante a unção dos enfermos, representam toda a comunidade cristã, que,
como um único corpo, se estreita em volta de quem sofre e dos familiares,
alimentando neles a fé e a esperança, e apoiando-os com a oração e com o calor
fraterno. Mas o maior conforto provém do fato de que quem está presente no
sacramento é o próprio Senhor Jesus, que nos guia pela mão, nos acaricia, como fazia
com os doentes, e nos recorda que já lhe pertencemos e que nada – nem sequer o mal
nem a morte – jamais nos poderá separar dele. Temos esse hábito de chamar o
sacerdote para que, aos nossos doentes – não digo doentes de gripe, uma doença de
três, quatro dias, mas quando é uma doença séria – e também para os nossos idosos,
venha conferir esse sacramento, este conforto, esta força de Jesus para ir em frente?
Façamo-lo!
Audiência geral
26 de fevereiro de 2014
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ORDEM
JÁ TIVEMOS A OCASIÃO de recordar que os três sacramentos do batismo, da
confirmação e da eucaristia, juntos, constituem o mistério da “iniciação cristã”, um
único e grande acontecimento de graça que nos regenera em Cristo. Essa é a vocação
fundamental que irmana todos na Igreja, como discípulos do Senhor Jesus. Além
disso, há dois sacramentos que correspondem a duas vocações específicas: eles são o
da ordem e do matrimônio. Eles constituem dois caminhos grandiosos, através dos
quais o cristão pode fazer da própria vida um dom de amor, a exemplo e no nome de
Cristo, cooperando assim para a edificação da Igreja.
Cadenciada nos três graus de episcopado, presbiterado e diaconado, a ordem é o
sacramento que habilita para o exercício do ministério, confiado pelo Senhor Jesus
aos apóstolos, de apascentar a sua grei, no poder do Espírito e segundo o seu coração.
Apascentar o rebanho de Jesus não com o poder da força humana, nem com o próprio
poder, mas com o poder do Espírito, e segundo o seu coração, o coração de Jesus, que
é um coração de amor. O sacerdote, o bispo e o diácono devem apascentar a grei do
Senhor com amor. Se não o fizerem com amor, é inútil. E, nesse sentido, os ministros
que são escolhidos e consagrados para esse serviço prolongam no tempo a presença
de Jesus, se o fizerem com o poder do Espírito Santo, em nome de Deus e com amor.
Um primeiro aspecto. Quem é ordenado é posto como chefe da comunidade.
"Chefe", sim, mas para Jesus significa pôr a própria autoridade a serviço, como ele
mesmo demonstrou e ensinou aos seus discípulos com estas palavras:
“Vós sabeis que os chefes das nações as subjugam, e que os grandes as governam
com autoridade. Não seja assim entre vós. Todo aquele que quiser tornar-se grande
entre vós, seja vosso servo. E quem quiser tornar-se o primeiro entre vós, seja vosso
escravo. Assim como o Filho do Homem veio, não para ser servido, mas para servir e
dar a sua vida em resgate por muitos”.[113]
O bispo que não está a serviço da comunidade não pratica o bem; o sacerdote, o
presbítero que não está a serviço da sua comunidade não faz bem, erra.
Outra característica que deriva sempre desta união sacramental com Cristo é o
amor apaixonado pela Igreja. Pensemos naquele trecho da Carta aos Efésios, onde
São Paulo diz que Cristo “amou a Igreja e se entregou por ela, para santificá-la,
purificando-a pela água do batismo com a palavra, e para apresentá-la a si mesmo
toda gloriosa, sem mácula, sem ruga, sem qualquer outro defeito semelhante”.[114]
Em virtude da ordem, o ministro dedica-se inteiramente à própria comunidade,
amando-a com todo o seu coração: é a sua família. O bispo e o sacerdote amam a
Igreja na sua comunidade, amam-na fortemente. Como? Como o próprio Cristo ama a
Igreja. São Paulo dirá a mesma coisa acerca do matrimônio: o esposo ama a sua
esposa como Cristo ama a Igreja. Trata-se de um grande mistério de amor: o
ministério sacerdotal e o matrimônio, dois sacramentos que constituem a vereda pela
qual, habitualmente, as pessoas se encaminham rumo ao Senhor.
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Um último aspecto. O apóstolo Paulo recomenda ao discípulo Timóteo que não
descuide, aliás, que

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