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Thaís Morghana - UFPE-CAA Tuberculose INTRODUÇÃO A tuberculose é causada pelo Mycobacterium tuberculosis (Bacilo de Koch). Transmissão → contato com partículas disseminadas por uma pessoa bacilífera. PATOGENIA Primoinfecção → geralmente o primeiro contato acontece durante a infância no Brasil. ● Até 3 semanas: não há imunidade específica (período de disseminação). ○ O bacilo atinge o alvéolo pulmonar e os neutrófilos tentam conter a infecção, mas não conseguem. ○ O macrófago fagocita o bacilo, mas não consegue exterminar a bactéria. A partir disso, o macrófago passa a ser um meio de replicação. ○ O bacilo consegue sair do alvéolo e atinge capilares pulmonares e linfáticos (pode se disseminar para todo o corpo). ● 3-8 semanas: imunidade celular. ○ Macrófagos e linfócitos se organizam ao redor do bacilo (granuloma) para conter a infecção. ○ O granuloma lança citocinas e proteases contra a micobactéria. ○ Necrose no centro: granuloma caseoso (parece com queijo). ○ Radiografia de tórax: o granuloma se expressa como um nódulo de Ghon. ○ Obs.: o granuloma não consegue eliminar o bacilo de Koch, ele apenas controla e evita a infecção (estado de latência). ○ O granuloma tende a involuir e formar uma calcificação. ● 90% dos casos ficam com infecção latente pelo resto da vida. TB primária → paciente que desenvolve a doença no primeiro contato com o bacilo. TB pós-primária → paciente adoece anos após a primoinfecção. ● Reativação: queda transitória da imunidade. ● Reinfecção: novos bacilos desequilibram a resposta imune formada na infecção anterior.. QUADRO CLÍNICO TUBERCULOSE PULMONAR ● Responsável por 80-85% dos casos. ● O bacilo de Koch é aeróbico, por isso tem maior afinidade pelos pulmões. ↠ TB primária ↞ ● Mais comum em crianças. ● Doença eminentemente pulmonar, mas em geral não é grave. ● Pneumonia arrastada: não responsiva a ATB. ○ Tosse seca. ○ Febre. ○ Sintomas gripais. ● Doença autolimitada. ● Radiografia do tórax: adenopatia hilar unilateral. ● As crianças são paucibacilíferas (não transmitem o bacilo para outras pessoas). ● Procurar adultos contactantes com TB. ● Complicação: TB miliar. ○ Quadro grave. ○ Não é exclusiva dos pulmões. ○ Radiografia de tórax: micronódulos pulmonares difusos e bilaterais. ○ Acontece em crianças < 2 anos, imunodeprimidos e não vacinados com BCG. ↠ TB pós-primária ↞ ● O granuloma enfraquece e o bacilo começa a replicação. ● Resposta imune intensa: inflamação na árvore pulmonar. ● Tosse arrastada ≥ 3 semanas, febre e perda ponderal. ● Radiografia de tórax: consolidação, principalmente em lobos superiores; cavitação. ● Pacientes bacilíferos, responsáveis pela transmissibilidade da doença. ● Complicação: bola fúngica na cavitação (infecção pelo Aspergillus). ○ Hemoptise. ○ Sinal da lua crescente. Thaís Morghana - UFPE-CAA TUBERCULOSE EXTRAPULMONAR ↠ TB pleural ↞ ● É a forma extrapulmonar mais comum no Brasil (exceto em crianças e PVHIV). ● Febre e sintomas respiratórios arrastados. ● Tosse mais seca do que nos casos pulmonares. ↠ TB meníngea ↞ ● Acomete principalmente crianças não vacinadas e imunodeprimidos. ● Meningite arrastada/subaguda, com acometimento de par craniano. ● É a forma mais sequelante de TB. DIAGNÓSTICO Tríade → Clínica + radiografia de tórax + escarro. ● TB escarro negativo: clínica e radiografia positivas, mas escarro persistentemente negativo. ○ Começar tratamento. ↠ TB pulmonar ↞ Teste rápido molecular (TRM-TB) ● Busca o DNA do M. tuberculosis. ● Teste de escolha sempre que estiver disponível. ● 1 amostra = fica pronto em 2h. ● Mais sensível do que a baciloscopia. ● Avalia a resistência à rifampicina. Baciloscopia (BAAR) ● Coloração de Ziehl Neelsen. ● Pelo menos 2 amostras. Cultura do escarro ● Fica pronta após meses. ● Confirmação retrospectiva do diagnóstico. ● Utilizada em casos de dúvida diagnóstica, casos positivos e casos de falência terapêutica. ↠ TB em crianças ↞ Parâmetros diagnósticos na criança Quadro clínico compatível (15 pontos) Achados no Rx de tórax (15 pontos) Contato com adulto TB (10 pontos) Prova tuberculínica (PPD) (5 pontos) Desnutrição (5 pontos) ≥ 40 pontos: já pode começar o tratamento. Cultura do lavado gástrico ● Pode ser utilizado para o diagnóstico de crianças. ● Exame de difícil aplicação. ↠ TB pleural ↞ Toracocentese ● Exame para diagnóstico de TB pleural. ● Análise do líquido pleural. ○ Líquido exsudativo (rico em proteínas). ○ Glicose baixa. ○ ADA > 40 U/L (enzima liberada pelos linfócitos). ○ Primeiros dias: infiltrado polimorfonuclear (neutrófilos). ○ Após alguns dias: infiltrado linfomononuclear. ○ Sem eosinófilos e células mesoteliais. Biópsia pleural ● Padrão-ouro para o tratamento da TB pleural. ↠ TB meníngea ↞ Punção lombar ● Exame de escolha para TB meníngea. ● Aumento de proteínas e glicose baixa (< ⅔ da glicemia). ● Primeiros dias: infiltrado polimorfonuclear. ● Após alguns dias: infiltrado linfomononuclear. TRATAMENTO RIPE Rifampicina + Isoniazida + Pirazinamida + Etambutol Efeitos adversos: → TODOS: intolerância gástrica. → Rifampicina - gripe, alergia, suor/urina laranja. Thaís Morghana - UFPE-CAA → Isoniazida - neuropatia periférica (redução dos estoques de piridoxina). → Pirazinamida - hiperuricemia (pode precipitar gota). → Etambutol: neurite óptica. → RIP - lesão hepática (suspender RIPE por até 30 dias se o paciente apresentar icterícia, TGO/TGP > 3x + sintomas ou TGO/TGP > 5x). - Pirazinamida > Isoniazida > Rifampicina. - Fazer reintrodução escalonada (do menor ao maior tóxico) com intervalo de 3-7 dias. ESQUEMA BÁSICO ● Utilizado em casos de TB pulmonar e na maioria das TB extrapulmonares. ● Tratamento com duração de 6 meses. ● Fase intensiva: 2 meses de RIPE. ● 4 meses de RI. ● Obs.: em crianças com < 10 anos não prescrever etambutol. ● Efeito adverso do etambutol: neurite oftálmica. ESQUEMA PARA TB MENÍNGEA ● Tratamento com duração de 12 meses. ● 2 meses de RIPE e 10 meses de RI. ● Corticóide por 1-3 meses: reduzir sequelas. FALÊNCIA TERAPÊUTICA OU MULTIDROGA RESISTENTE (R +I) ● Tratamento com duração de 18 meses. CLEPT Capreomicina + Levofloxacino + Etambutol + Pirazinamida + Terizidona Efeitos adversos: → Levofloxacino - lesão aórtica e ruptura tendínea. ● Após resultado de sensibilidade na cultura: ajustar as medicações. ESQUEMA CEL ● Utilizado em pacientes que não conseguem reintroduzir o esquema RIPE devido a lesão hepática OU TB grave OU cirrose. ● Tratamento com duração de 12 meses. CEL Capreomicina + Etambutol + Levofloxacino ACOMPANHAMENTO ● Tratamento diretamente observado. ● Baciloscopia mensal (ideal) ou a cada 2 meses (mínimo). Critérios de falência terapêutica: ● BAAR positiva ao final do tratamento. ● BAAR (2+/3+) até o 4º mês de tratamento. ● BAAR volta a ficar positiva e se mantém por 2 meses. ● Fazer cultura com teste de sensibilidade. GESTANTES ● Gestantes têm maior risco de depleção de piridoxina. ● Fazer esquema RIPE + piridoxina 50 mg/dia. HIV-TB ● TB é a principal causa de morte em PVHIV. ● PVHIV sem tratamento: começar a tratar primeiro a TB. INFECÇÃO LATENTE ● Isoniazida 270 doses (9-12 meses). ● Alternativa: Rifampicina 120 doses (4-6 meses). ○ Preferida em hepatopatas e pessoas com < 10 anos ou > 50 anos. ● 3ª opção: Isoniazida + Rifapentina 12 doses (1x/semana por 3 meses). CONTROLE ● Tratamento dos bacilíferos. ● Campanhas de divulgação da TB. Thaís Morghana - UFPE-CAA ● Vacinação com BCG: evita as formas graves de TB. Cuidados com contactantes ● Anamnese + Exame físico + Radiografia de tórax. ● Pessoa sintomática e/ou Rx alterado: complementar avaliação com exame do escarro (TRM-TB/BAAR). ● Pessoa assintomática e Rx normal: investigar infecção latente (PPD ou IGRA). Prova tuberculínica (PPD) 1. Administrar o derivado protéico purificado do bacilo na derme do antebraço do paciente. 2. Avaliar após 48h: < 5 mm: não reator (pessoa não infectada). - Repetir em 8 semanas. ≥ 5 mm: reator (pessoa infectada). - Tratar infecção latente Situaçõesespeciais ● Profissionais de saúde: fazer PPD anual. ○ Tratar se houver um aumento ≥ 10 mm do PPD em 1 ano. ● RN contactante de bacilífero: não vacinar com BCG ao nascer. ○ Tratar com isoniazida ou rifampicina por 3 meses. ○ No 3º mês de vida: fazer PPD. ○ < 5 mm: BCG + suspender medicações. ○ ≥ 5 mm: não vacinar + 3 meses de isoniazida ou 1 mês de rifampicina.
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