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Praça das Artes • Mais do que uma extensão para as atividades do Teatro Municipal, a Praça das Artes é um espaço cultural criado para receber música, dança, teatro, exposições e manifestações contemporâneas das expressões artísticas. • Além de fazer parte da revitalização cultural do centro histórico de São Paulo e ser um convite à reconexão com a cidade, a construção é uma solução de integração dos corpos artísticos e administrativos do Teatro e é também sede da Escola de Dança e da Escola Municipal de Música de São Paulo. • Sua concepção teve como premissa desenhar uma área que abraçasse o antigo prédio tombado do Conservatório Dramático e Musical de São Paulo e que constituísse um edifício moderno e uma praça aberta ao público que circula na área. Há projetos de arquitetura que se impõem soberanos em grandes espaços livres, situações aprazíveis e visíveis à distância, e há outros projetos que se acomodam em situações adversas, espaços mínimos, nesgas de terrenos comprimidos por construções preexistentes, em que os parâmetros para seu desenvolvimento são ditados pelas dificuldades. O caso da Praça das Artes se enquadra dentre esses últimos. E não é por decisão voluntária ou por opção entre uma ou outra aproximação, por essa ou aquela direção a tomar. O que nos leva a uma escolha e decisão conceitual é, precisamente, a natureza do lugar. É sua compreensão enquanto espaço resultante de fatores sócio-políticos ao longo de muitos anos – ou séculos – de formação da cidade. Compreender o lugar não somente como objeto físico, como diz Siza, mas como espaço de tensão, de conflitos de interesses, de subutilização ou mesmo abandono, tudo importa. “... uma coisa é o lugar físico, outra coisa é o lugar para o projeto. E o lugar não é nenhum ponto de partida, mas é um ponto de chegada. Perceber o que é o lugar já é fazer o projeto.” — Álvaro Siza Se, por um lado, o projeto deve responder à demanda de um programa de diversos novos usos ligados às artes musicais e do corpo, por outro, deve também responder de maneira clara e transformadora a uma situação física e espacial preexistente, com vida intensa e com uma vizinhança fortemente presente. Mais ainda, deverá criar novos espaços de convivência a partir da geografia urbana, da história local e dos valores contemporâneos da vida pública. Concluindo, podemos dizer que neste caso, projetar é captar e inventar o lugar a um só tempo, numa mesma ação. A edificação do Antigo Conservatório Dramático Musical de São Paulo, que se encontrava incrustado no coração de uma região degradada do centro da cidade, é um importante marco histórico e arquitetônico e abriga uma rara sala de recitais, que há décadas estava inutilizada. O Projeto Praça das Artes restaurou e reabilitou este edifício, e vinculou-o a um complexo de novas construções e espaços de circulação e estar que abrigam as instalações para o funcionamento das Escolas e dos Corpos Artísticos do Teatro Municipal. O novo conjunto integra as sedes das Orquestras Sinfônica Municipal e Experimental de Repertório, dos Corais Lírico e Paulistano, do Balé da Cidade e do Quarteto de Cordas. Abriga também as Escolas Municipais de Música e de Dança, o Museu do Teatro, o Centro de Documentação Artística, além de restaurantes, estacionamento subterrâneo e áreas de convivência. A implantação desse equipamento cultural, além de atender à histórica carência de espaços para o funcionamento do Teatro, desempenha papel indutor estratégico na requalificação da área central da cidade, uma vez que o rico e complexo programa de uso, focado nas atividades profissionais e educacionais de música e dança, está fortemente marcado por funções de caráter público, convivência e vida urbana. A partir do centro da quadra o novo edifício se desenvolve em três direções – Vale do Anhangabaú (Rua Formosa), Avenida São João e Rua Conselheiro Crispiniano, como um polvo a estender seus tentáculos e ocupar espaços. Um conjunto de edifício em concreto aparente pigmentado, com área total de 28.500,00 m², é o elemento principal que estabelece o novo diálogo, tanto com os remanescentes integrantes do conjunto (o edifício do Conservatório Dramático e Musical e a fachada do Cine Cairo) como com a vizinhança. Construções antigas remanescentes também fazem parte da Praça. Elas foram restauradas e aproveitadas na obra, como a fachada do Cine Cairo que, embora não seja tombada, foi mantida como memória e testemunho de outra época vivenciada pela cidade. Já o edifício do centenário Conservatório Dramático e Musical, além de ganhar uma nova personalidade, deixa de ser um objeto isolado na cidade para se tornar parte da Praça das Artes, abrigando uma sala de concertos, música de câmara e auditório com grande qualidade acústica. O programa é complexo. Para se ter uma ideia, na sala de ensaio de dança, cem dançarinos poderão atuar e, logo abaixo, um violinista fará o ensaio de seu solo. Tudo isso sem haver qualquer vazamento de som. Com tamanha eficiência, o edifício busca reproduzir em escala menor todas as condições técnicas e de ambientação existentes no Teatro Municipal, com condições acústicas excepcionais. Para isso foram utilizados até mesmo amortecedores para absorver ruídos e vibrações que pudessem repercutir nos ensaios. Analisando os projetos e imagens deste local, é possível verificar como são respeitados os documentos oficiais que regem esta matéria, como as cartas patrimoniais. Isso é essencial para preservar a cultura e as tradições de cada local, sem comprometer a importância da arquitetura original. Outro fator importante é a definição da linha do tempo, ou seja, não confunda a visão do observador sobre a idade da obra. Nesse caso, você pode ver várias características semelhantes à "Carta de Veneza", que é pontuada em seu quinto artigo: "A conservação dos monumentos é sempre favorecida por sua destinação a uma função útil à sociedade; tal destinação é, portanto, desejável, mas não pode e nem deve alterar a disposição ou a decoração dos edifícios. É somente dentro destes limites que se deve conceber e se pode autorizar as modificações exigidas pela evolução dos usos e costumes." (CARTA DE VENEZA, 1964, p. 2, grifo do autor). Além da obra de restauro em si, deve-se sempre pensar na manutenção do local, e isto é atendido através da ocupação do local pela comunidade. Relação do projeto com as cartas e teorias Além disso também podemos observar claramente as relações com a seguinte citação da "Carta de Veneza", que diz: "Como diretriz importante, os elementos que substituírem as partes faltantes devem ser integrados de forma harmoniosa, porém é imprescindível que se distinguem das partes originais a fim de que a restauração não falsifique o objeto em questão". (IPHAN – Carta de Veneza, 1964). Podemos observar, como os responsáveis pelo restauro, tiveram preocupação com o parágrafo citado acima, mantendo as características originais do projeto, fazendo sua ampliação de forma harmoniosa, porém totalmente divergente do original, mantendo seus conceitos e princípios. E também de acordo com a Teoria do Restauro, temos várias formas de intervenção, sendo uma delas, alterações do projeto original (ampliando ou reduzindo). Que se encaixa perfeitamente nesse caso da Praça das Artes, que além da Restauração do prédio existente, houve ampliação, para novos tipos de usos. Analisando o projeto, podemos notar várias características relacionadas ao Desenho Universal, que abrange muito a questão de acessibilidade, diversos tipos de usos que visam atender simultaneamente diversas pessoas, um local de fácil acesso, diferentes formas na sua construção e uso equiparável. Isso também se aplica bastante ao projeto da Praça das Artes, aonde nesse caso, podemos encontrar diversos tipos de usos no mesmo prédio, e se tem fácil acesso a todotipo de público. Museu da Língua Portuguesa • Um dos museus mais queridos pela população lusófona e de sucesso incontestável, o Museu da Língua Portuguesa se preparou para reabrir as portas após o incêndio que sofreu em 2015. A oportunidade de repensar a instituição e compreender sua própria relação com o público foram as principais premissas que foram de encontro com as novas necessidades de uso e desejos de melhoria que permearam todo o pensamento por trás da reabilitação do edifício. O projeto original de Paulo Mendes da Rocha e Pedro Mendes da Rocha prevaleceu como partido da reforma, portanto, as grandes intervenções concebidas anteriormente no edifício, assim como o próprio conceito, foram mantidos. Inclusive, muitas das novidades que vieram já foram discutidas no passado, mas por diferentes razões não tinham sido realizadas. Já no térreo será possível ver um dos primeiros ganhos do novo museu. Ao realizar um desejo dos órgãos de patrimônio, agora a Estação da Luz - um edifício "para inglês ver", feito para esconder as plataformas de trem numa tipologia muito atípica de estações na qual o pedestre circula no térreo e o trem está enterrado - se tornará mais permeável visual e fisicamente ao ativar os saguões da ala leste e oeste. A grande intervenção realizada pelos arquitetos no projeto original foi a introdução de quatro elevadores nas torres. No entanto, no passado, foi pensada uma museografia de sequência narrativa que começava e terminava no mesmo ponto, e também haviam questões de operação do museu que fizeram com que o público circulasse apenas pela ala leste, sem conhecer a área oeste e seus elevadores. O projeto e suas diretrizes São três as principais mudanças que aconteceram no térreo. No projeto anterior não foi possível enterrar o poço dos elevadores, assim eles ficavam aparentes na laje criando degraus e gerando uma descontinuidade de nível no pátio. Agora, a tecnologia permitiu levar o poço para o subsolo em áreas da CPTM, possibilitando a integração de todos os pátios num mesmo nível. Anteriormente, as máquinas do sistema de ar- condicionado ocupavam o térreo. No projeto atual foi possível criar passarelas técnicas maiores e levar esses equipamentos para as fachadas posteriores, liberando mais espaço nos pátios. Um novo elevador e escada de emergência, pedida pelo Corpo de Bombeiros, foram instalados na Torre do Relógio. Serão o principal acesso para visitar o novo café que será instalado na cobertura da estação, com vista para todo o entorno e principalmente para o verde do Parque Jardim da Luz. Este novo acesso também gera uma integração com o saguão da CPTM por onde passam diariamente 300 mil pessoas e poderá ser aberto de acordo com diferentes atividades propostas para atrair parte desse público para o museu. Neste mesmo saguão há um mezanino que liga as duas alas do edifício e se manteve fechado ao público. A ideia, agora, é que a partir do primeiro pavimento as pessoas possam conhecer e circular por esse ambiente, vendo o público que passa pela estação de trem abaixo. Algumas das alterações realizadas A Estação da Luz já sofreu dois incêndios, um em 1946 e outro em 2015. Felizmente, por uma configuração do próprio edifício, nenhum destes atingiu a ala oeste que segue com sua arquitetura original de 1901 - uma verdadeira joia arquitetônica da cidade. Agora ela será aberta ao público de forma controlada e terá como programa o Centro de Referência do Museu da Língua Portuguesa - que abrigará um núcleo de pesquisa e estudos, administração do museu e salas multiuso para cursos, atividades e pequenas exposições. Anteriormente, o museu ocupava apenas as alas leste e central. Vale salientar que a primeira, após a reforma do incêndio de 1946, recebeu um pavimento extra e, portanto, possui um nível a mais que a ala oeste. Com isso, o segundo pavimento é o único que possibilitou uma ocupação de ponta a ponta, na qual é possível ver a extensão completa do edifício. Na intervenção passada, Paulo Mendes da Rocha indicou para este pavimento uma grande tela em analogia à proporção alongada do trem da estação. Esta intervenção será mantida mas terá seu conteúdo e montagem renovada graças às novas tecnologias. Agora, com projetores de curta distância, será possível mantê-los próximo da tela e evitar a sombra das pessoas, liberando mais espaço para circulação e ocupação de outras paredes. Antigas alas de serviço também serão transformadas em espaços expositivos: o vídeo que passava nessa grande tela voltará a ser projetado no formato de um mini-auditório e outra sala receberá o Beco das Palavras. Além disso, a Linha do Tempo será transformada ao trazer novos fatos históricos e internacionais, revendo o modo como a história da própria língua foi interpretada e ganhando ainda mais potência no espaço. No terceiro pavimento da ala leste encontra-se a "Praça da Língua" - a experiência considerada mais impactante do Museu da Língua Portuguesa - essa foi mantida no mesmo lugar, mas com algumas novidades. A volumetria e composição anteriores foram respeitadas, mas surgiu a oportunidade de criar uma estrutura mais contemporânea. Após negociação com órgãos de patrimônio e bombeiros, optou-se por uma estrutura mista de madeira com tirantes metálicos. A madeira foi escolhida por ser um elemento seguro em caso de incêndios. Por queimar de fora para dentro, cria uma camada isolante que retarda o colapso do elemento; diferente de estruturas metálicas que derretem ao atingir determinadas temperaturas. Para isso, a seção estrutural foi calculada considerando uma camada de 5 cm em todo o perímetro das peças, obtendo-se, assim, a dimensão final das tesouras de madeira. Pretendia-se que o edifício receba a certificação LEED. Para isso, o uso da madeira (e outros elementos) passaram por um controle extenso. No caso das tesouras, foram adotadas madeiras maciças que vieram de Itacoatiara, Amazonas. Durante o processo, descobriu-se que o mercado interno de madeira certificada está muito voltado para a exportação e preparado para vendas de peças padrão. No caso de um projeto especial como este, existe o desafio de encontrar um fornecedor que esteja disposto a trabalhar fora das dimensões usuais. Além disso, parte das madeiras das antigas treliças que não foram consumidas pelas chamas, foram recicladas e reutilizadas na montagem das esquadrias do segundo pavimento. Assim como na Praça das aqui também podem ser vistas várias características semelhantes à Carta de Veneza, que é pontuada em seu quinto artigo: "A conservação dos monumentos é sempre favorecida por sua destinação a uma função útil à sociedade; tal destinação é, portanto, desejável, mas não pode e nem deve alterar a disposição ou a decoração dos edifícios. É somente dentro destes limites que se deve conceber e se pode autorizar as modificações exigidas pela evolução dos usos e costumes." (CARTA DE VENEZA, 1964, p. 2, grifo do autor). De acordo com a teoria da restauração, temos várias formas de intervenção, uma das quais é a modificação (ampliação ou redução) do projeto original. Isso também se encaixa no caso do Museu da Língua Portuguesa, que, além de restaurar o prédio existente, também foi ampliada para novos usos. Outras duas cartas relevantes ao processo que ocorreu no Museu da Língua Portuguesa são a Declaração de Estocolmo (Junho de 1972) e a Carta do Rio (Junho de 1992), pois durante o processo de restauro, uma das grandes preocupações eram as questões de sustentabilidade do projeto, buscando reutilizar madeiras e partes da estrutura que não havia sido totalmente destruídas e atendendo as especificações de certificação LEED. Isso se encaixa perfeitamente com o que foi discutido na Declaração de Estocolmo e reforçado na Carta do Rio: “a Declaração evidencia itens como a necessidade de utilização consciente dos recursosnão renováveis; a importância de não descartar substâncias que sejam prejudiciais aos ecossistemas; desenvolvimento econômico e social; atenuação das consequências dos graves problemas de subdesenvolvimento e desastres naturais; estabilidade econômica; políticas ambientais; utilização de recursos para a preservação ambiental; planejamento urbano; educação ambiental etc.” (IPHAN – Declaração de Estocolmo, 1972) Relação do projeto com as cartas e teorias
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