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trabalho de cdc

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Introdução 
O Código Brasileiro de Defesa do Consumidor, conhecido e mencionado por suas iniciais “CDC”, foi instituído pela Lei 8.078/1990, constituindo uma típica norma de proteção de vulneráveis. O Código de Defesa do Consumidor trata-se de um microssistema legislativo baseado em normas de ordem principiológicas que rege as relações de consumo, com normas de natureza pública e privada. Logo, o CDC tem como função essencial resguardar a parte vulnerável da relação consumerista, o consumidor.
Diante disso, acerca da jurisprudência acima citada, fica evidente que com base no CDC, a doutrina explica que são elencadas como vícios as características de qualidade ou quantidade que tornem os produtos ou serviços impróprios ou inadequados ao consumo a que se destinam. 
O entendimento do STJ está consolidado no sentido de que há dano moral na hipótese em que o produto de gênero alimentício é consumido, ainda que parcialmente, em condições impróprias, especialmente quando apresenta situação de insalubridade oferecendo risco à saúde ou à integridade física, deixando a clara infringência ao dever legal dirigido ao fornecedor, previsto no art. 8º do CDC.
Adquirir produto de gênero alimentício contendo em seu interior corpo estranho expõe o consumidor a risco concreto de lesão à sua saúde e segurança, mesmo que não ocorra a ingestão de seu conteúdo, o que dá direito à compensação por dano moral, uma vez que, constitui ofensa ao direito fundamental à alimentação adequada, consectário do princípio da dignidade da pessoa humana. 
1. Proteção à vida, saúde e segurança: responsabilidade pelo fato do produto e do serviço – Leonardo Roscoe Bessa e Walter José Faiad de Moura: 
Para o doutrinador Leonardo Roscoe Bessa, é direito básico do consumidor a proteção da vida, saúde e segurança contra os riscos provocados por práticas no fornecimento de produtos e serviços considerados perigosos ou nocivos. No momento em que o consumidor é afetado em sua saúde, integridade corporal, psíquica ou psicológica, em virtude de produtos ou serviços defeituosos, entende-se que houve um acidente de consumo.
Segundo o autor a grande novidade do CDC, em relação à sistemática anterior (Código Civil de 1916), é o fato de o consumidor não precisar provar que o fornecedor agiu com negligência, imprudência ou imperícia, apenas que os danos materiais e morais foram consequências (nexo de causalidade) de determinado defeito. Este é o significado da expressão “independentemente da existência de culpa”, destarte de hipótese de responsabilidade objetiva. 
O doutrinador destaca que o CDC não proíbe a existência de produtos e serviços que, pelas suas próprias características, comportam algum grau de risco à segurança e saúde, por isso o art. 8º expressamente permite a comercialização de bens e serviços com “riscos normais e previsíveis em decorrência de sua natureza e fruição”.
Há de se mencionar também, conforme disciplinado no art. 13 do CDC: “O comerciante é igualmente responsável, nos termos do artigo anterior, quando: III - não conservar adequadamente os produtos perecíveis”, quer dizer que esse artigo tem relevância especial para os estabelecimentos que comercializam alimentos. A responsabilidade do comerciante, nesses casos, não exclui a responsabilidade solidária dos demais fornecedores pelos danos causados ao comprador. 
Para se beneficiar das regras do CDC relacionadas a acidentes de consumo, é suficiente que a pessoa tenha sido vítima do evento, não é necessário que o produto ou serviço tenha sido adquirido diretamente por ela, ou até mesmo tenha sido consumido. 
Portanto, a adoção da responsabilidade objetiva, isto é, independentemente da prova de culpa do fornecedor, não significa a ausência de possibilidade de o fornecedor isentar-se do dever de indenizar.
2. Excludentes de Responsabilidade Civil pelo Código de Defesa do Consumidor – Flávio Tartuce: 
No entendimento do notório doutrinador Flávio Tartuce, o Código Brasileiro de Defesa do Consumidor destaca como regra a responsabilidade objetiva e solidária dos fornecedores de produtos e prestadores de serviços, frente aos consumidores. Essa opção tende a facilitar a tutela dos direitos do consumidor, em prol da reparação integral dos danos, em vista disso, não tem o consumidor o ônus de comprovar a culpa dos réus nas hipóteses de vícios ou defeitos dos produtos ou serviços. É a chamada responsabilidade independente de culpa, prevista no art. 927, parágrafo único, CC. 
Segundo Flávio Tartuce, é evidente que a Lei 8.078/1990 consagra excludentes próprias de responsabilidade civil nos seus artigos 12, § 3º, e 14, § 3º do CDC, que para afastar o dever de indenizar devem ser provadas pelos fornecedores e prestadores, ônus que sempre lhes cabe.
Como primeira excludente, a lei menciona a não colocação do produto no mercado (art. 12, §3º, I) e a ausência de defeito no produto ou no serviço (art. 12, §3º, II e art. 14, § 3º, I). Em suma, não haverá dever de indenizar por parte dos fornecedores e prestadores se não houver dano reparável. 
 “[...] de fato, aquele Tribunal Superior vinha entendendo que, no caso de não ingestão do produto com problemas, não há que se falar em dano moral.” Permite evidenciar que, não houve ofensa ao art.12, § 3º, do CDC, notadamente porque não comprovando a existência de culpa exclusiva, permanece hígida a responsabilidade objetiva da sociedade empresária fornecedora. 
Todavia, em 2014, surgiu outra tendência no Tribunal da Cidadania, que passou a considerar a reparação de danos imateriais mesmo nos casos em que o produto não é consumido. Inaugurou-se, assim, uma forma de julgar que admite a reparação civil pelo perigo de dano, não mais tratada à hipótese como de mero aborrecimento ou transtorno cotidiano.
 
3. Conclusão 
A sistemática feita pelo CDC protege o consumidor contra produtos que coloquem em risco sua segurança e consequentemente sua saúde, intangibilidade física e psicológica. Conforme o art. 8º do CDC “os produtos e serviços colocados no mercado de consumo não acarretarão riscos à saúde ou segurança dos consumidores”. Destarte, é um dever legal, imposto ao fornecedor, de evitar que a saúde ou segurança do consumidor sejam colocadas em risco.
Assim sendo, de acordo com a jurisprudência supracitada, é evidenciado que o recorrente (empresa fornecedora) interpôs recurso especial alegando excludência de responsabilidade pelo fato do recorrido (consumidor) não ter ingerido o alimento, entretanto, o entendimento do STJ foi o não provimento do recurso, uma vez que, apesar da cliente não ter ingerido o alimento, ela foi exposta a risco concreto de lesão à sua saúde e segurança. Portanto, analisando a concepção dos doutrinadores citados, é notório que é dever legal a responsabilidade do fornecedor de reparar o dano causado ao consumidor. 
Bibliografia 
Manual de direito do consumidor / Leonardo Roscoe Bessa e Walter José Faiad de
Moura ; coordenação de Juliana Pereira da Silva. -- 4. ed. Brasília : Escola
Nacional de Defesa do Consumidor, 2014. 290 p.
Manual de direito do consumidor : direito material e processual / Flávio Tartuce, Daniel Amorim Assumpção Neves. – 7. ed. rev., atual. e ampl. – Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2018.

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