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A injúria renal aguda (IRA) ou lesão renal aguda (LRA) consiste na redução abrupta da taxa de filtração glomerular (TFG). Essa taxa representa o volume de sangue (mL) que os glomérulos filtram a cada minuto – e, consequentemente, alterações hidroeletrolíticas, distúrbios ácido-base e acúmulo de escórias nitrogenadas, como a ureia e a creatina. Essa elevação desses metabólitos consiste na azotemia. AZOTEMIA: consiste no aumento das escórias nitrogenadas detectadas pela elevação de ureia e creatina no sangue. Já a uremia (também chamada síndrome urêmica) abrange um grupo de sinais e sintomas sendo um termo sindrômico. Portanto, uremia NÃO deve ser usada para o aumento sérico de ureia, e sim azotemia. INJÚRIA RENAL AGUDA – CLASSICAMENTE: • Creatinina sérica > 0,5 mg/dL • Creatinina séria 20% da basal se basal > 2,5 mg/dL LESÃO RENAL: • Débito urinário < 0,5 ml/ kg/ h por 12h • Creatinina sérica x 2 • TFG > 50% É uma condição incidente em hospitais, ocorrendo em pelo menos 10% dos pacientes hospitalizados e em 50% dos pacientes em Unidades de Tratamento Intensivo. A condição de IRA por si só é um fator de mortalidade, chegando a índices de 50 a 80% de mortalidade em populações mais suscetíveis, como idosos, hipertensos e diabéticos, sendo que os que sobrevivem, têm um risco elevado de desenvolver doença renal crônica (DRC). FATORES DE RISCO: Pacientes que possuem uma DRC prévia; Desidratação; Idade avançada; Diabéticos e Hipertensos. A IRA pode ser resultado de uma série de motivos que tendem a serem causados de acordo com a porção do trato urinário a qual é afetada, sendo 3 etiologias. Por exemplo, a redução da função renal pode ter ocorrido: • por um problema circulatório que preceda o néfron, envolvendo as arteríolas renais (vascularização) -Injúria pré-renal (60- 70%). • por um problema na filtração feita por esse néfron (parênquima renal) - Injúria renal intrínseca (25-40%). • por algum distúrbio ou lesão na via coletora de urina (obstrução) - Injúria pós-renal (5- 10%). É ocasionada por uma lesão que acompanha uma hipoperfusão renal, em que a pressão arterial sistólica fica menor que 80 mmHg, que diminui a TFG mas sem afetar a integridade do parênquima renal, sendo um problema hemodinâmico e não I N J U R I A R E N A L A G U D A nefrótico. Sendo assim, a manifestação clínica pode ser revertida caso o fluxo renal seja restaurado. Em um indivíduo saudável quando ocorre uma redução do fluxo sanguíneo renal, a arteríola Aferente sofre vasodilatação (prostaglandinas – AINES inibe a vasodilatação) que desencadeia um reflexo miogênico que de forma sinérgica faz as arteríolas Eferentes sofrerem vasoconstrição por conta do sistema SRAA (IECA inibe a vasoconstrição), aumentando a TFG a níveis satisfatórios. SISTEMA RENINA ANGIOTENSINA ALDOSTERONA Consiste num sistema regulador de feedback formado por um conjunto de eventos fisiológicos afim de regular a pressão arterial. Até certo ponto, ele consegue “dar conta” da hipoperfusão, mas é passível de descompensar. Ele consiste em 5 etapas: 1. com a redução da pressão arterial (menor que 100 mmHg), os rins secretam a enzima renina na corrente sanguínea. 2. A renina atua degradando o angiotensinogênio em diversas moléculas e, dentre elas, a angiotensina I. 3. Essa molécula é transformada na sua forma ativa, angiotensina II, pela enzima conversora de angiotensina (ECA). 4. Assim, a angiotensina II atua na contração das paredes musculares lisas das artérias, resultando em vasoconstrição e, por seguinte, aumentando a pressão arterial. Além disso, essa enzima também contribui estimulando a adrenal e a hipófise a produzirem, respectivamente aldosterona e vasopressina (hormônio antidiurético ou ADH). 5. Por fim, a aldosterona e o ADH atuam na retenção de sódio, no sangue, pelos rins. Com o aumento de sódio sérico, por osmose, a água presente no néfron é puxada de volta a circulação sanguínea. Dessa forma, há aumento da pressão arterial. Porém algumas causas podem alterar esse mecanismo de correção, levando a queda da TFG, quando fazem com que a PAS caia abaixo de 80 mmHg, ou em pacientes predispostos em que a TFG caia antes ainda dos 80 mmHg serem rebaixados, sendo essas causas as seguintes: DEPLEÇÃO ABSOLUTA DO FLUIDO CORPORAL Conhecida como redução do volume circulante efetivo, é a causa mais comum dessa injúria, podendo ocorrer por conta de uma hemorragia externa ou interna, diarreias, vômitos, fístulas digestivas, poliúria, sudorese intensa, perda do terceiro espaço (ascite) ou uso indevido de diuréticos. VASOCONSTRIÇÃO RENAL Ocorre em situação como sepse, em que lesões do endotélio causam a liberação de mediadores inflamatórios que geram espécies oxidativas que causam tal fenômeno, ou doenças hepatorrenais como cirrose ou insuficiência hepática fulminante. REDUÇÃO DO DÉBITO CARDÍACO Ocorre normalmente em pacientes com complicações de insuficiência cardíaca congestiva, hipertensão pulmonar ou infarto agudo do miocárdio. ALTERAÇÕES NA AUTORREGULAÇÃO Medicamentos como AINEs, IECA (inibidor da enzima conversora de angiotensina) e BRA (bloqueador do receptor de angiotensina) atuam interferindo a hemodinâmica do corpo, caso dosados de forma errônea, porém ocasionar uma hipotensão que leve a IRA por diminuição da TFG. OBS: Pacientes com IRA pré-renal podem apresentar urina bem concentrada e com cheiro forte, que ocorre por conta da hipoperfusão que aumenta a concentração de creatinina e ureia, por causa da redução do fluxo sanguíneo que chega ao glomérulo e por causa de respostas hormonais (SRAA) e neuronais (Barorreceptor) que aumentam a reabsorção de sódio e água no néfron. São os quadros em que a IRA ocorre por um dano estrutural no parênquima do rim, sendo geralmente as causas: DOENÇA VASCULAR RENAL Ocorrem por conta de uma obstrução do lúmen, que pode ser por um trombo ou êmbolo, causadas por exemplo por um infarto renal decorrente de dissecção da aorta; tromboembolismo sistêmico; trombose aguda em veia renal; nefroesclerose hipertensiva maligna. DOENÇAS TUBULARES E INTERSTICIAIS Ocorre por causa de um dano a estrutura tecidual ou celular do néfron ou interstício do rim, ocorrendo por conta de necrose tubular aguda (NTA) que causa 80% dos casos em UTI; Nefrite intersticial aguda (NIA); Nefropatia urinária aguda por síndrome de lise tumoral. DOENÇAS GLOMERULARES Consiste na inflamação ou degeneração do glomérulo renal, sendo classificada em primária (caso seja idiopática) ou secundária (caso seja induzida por síndromes paraneoplásicas, drogas ou doenças reumatológicas), sendo subdivididas em dois padrões: • Padrão nefrítico, que é quando o paciente apresenta urina com bastante sedimentos, como hemácias e leucócitos, podendo apresentar proteinúria, sendo ocasionado geralmente por glomerulonefrites proliferativas como a glomerulonefrite rapidamente progressiva (GNRP). • Padrão nefrótica, que é quando o paciente tem uma proteinúria severa, ocorrendo geralmente por conta de uma glomerulopatia não proliferativa, como a glomerulonefrite membranosa. Ocorre por conta de uma interrupção no sistema urinário coletor (ureter, bexiga e uretra), causando uma obstrução mecânica que pode ser congênita ou adquirida. Ou seja, por causa de um congestionamento da urina, a pressão glomerular se torna maior, reduzindo a TFG, que ocorre pelos seguintes fatores: FATORES ESTRUTURAIS Em caso de obstrução causada por uma perturbação na anatomia do sistema coletor, como cálculos, coágulos, prostatite e hiperplasia prostática benigna. FATORES FUNCIONAIS Que ocorre em casos de bexiga neurogênica ou por causa de medicamentos, como antidepressivos, antiarrítmicos,anticolinérgicos, antipsicóticos ou por reposição hormonal que altera o funcionamento do sistema coletor. OBS: A redução da TFG ocorre ao longo do quadro, pois inicialmente ocorre um aumento da TFG por causa da vasodilatação gerada pela fase de hiperemia que cursa com aumento da pressão arterial renal causada pelas prostaglandinas. OBS: Caso a pressão tubular causada pela injúria pós-renal seja muito elevada, pode ocorrer danos celulares aos néfrons, causando injúria renal intrínseca. Na IRA pré-renal, o sódio presente na urina é menor que 20 mEq/L, além disso a osmolaridade da urina é maior que 400 mOsm/L → quase não chega sódio na urina, e o rim reabsorve toda água possível, concentrando muito a urina - Já na IRA renal, o sódio presente na urina é superior a 40 mEq/L, porém a osmolaridade da urina é menor que 300 mOsm/L → porque o sódio vai pra urina, mas vai muita água também, diminuindo a osmolaridade Fração de excreção de sódio na pré-renal, falta perfusão, que leva o rim a reabsorver sódio e água, para conseguir segurar mais volume e melhorar a hipoperfusão. Reabsorvendo sódio e água, a excreção fica baixa, menor que 1%. Na renal, tem apenas lesão tubular, não vai reabsorver nada de sódio e água, então tem-se uma fração de excreção de sódio maior que 1%. Sódio urinário Na pré-renal não há excreção, então o sódio urinário vai estar baixo, normalmente menor que 20 mEq/L. Na renal, o sódio urinário vai estar alto, normalmente maior que 40 mEq/L, pois não está reabsorvendo sódio. Densidade urinária Na pré-renal, com a reabsorção, a urina vai estar densa/ concentrada, pois o rim fica retendo toda água nele, então temos uma urina com densidade urinária maior que 1020. Na renal, a urina vai estar menor que 1015, pois a urina está diluída pela NÃO reabsorção do rim. Por o rim ser um órgão de funcionamento sistêmico, sua falha acaba tendo sinais e sintomas por todo o corpo, sendo divididos em: SINTOMAS RENAIS: Sendo a oligúria o sintoma mais frequente, podendo ocorrer anúria; ou até mesmo poliúria SINTOMAS EXTRARRENAIS: Como por exemplo edema, hipertensão e uremia, além de distúrbios hidroeletrolíticos e desequilíbrio ácido-básico SOBRECARGA INTRAVASCULAR: isso acontece porque o paciente não elimina líquido (pacientes hipervolêmicos), cursando com edema agudo de pulmão, hipertensão refratária por hipervolemia, disfunção cardíaca em pacientes pré-dispostos (exemplo: paciente com insuficiência cardíaca, que faz quadro de insuficiência renal, pela congestão, pode piorar). ALTERAÇÕES ÁCIDOBASE: Pacientes com IRA grave tendem a apresentar uma acidose metabólica, que se instaura no organismo por conta da retenção de metabólitos proteínas ácidas que seriam secretados na urina. Essa acidose da IRA possui o intervalo aniônico (ânion gap) elevado, que se instaura por causa da diminuição da excreção dos ácidos proteicos. pacientes vão ter um desbalanço ácido-base, reduz a excreção de H+, reduz a reabsorção de bicarbonato... então esses pacientes vão ter uma acidose metabólica que, muitas vezes, é refratária ao tratamento clínico. HIPERURICEMIA: acúmulo de ácido úrico (não consegue excretar). DISTURBIOS ELETROLÍTICOS: Com a lesão do rim, a função de filtrar e reabsorver água e eletrólitos fica perturbada, com isso, passa a ocorrer uma retenção de sódio na circulação, que gera uma hipernatremia que consequentemente causa retenção de água, que pode levar a uma hipertensão arterial, edema cerebral, edema pulmonar agudo e aumento da pressão venosa jugular, além de edemas periféricos. Potássio é o principal, o mais comum é ocorrer uma retenção na corrente sanguínea, causando a hipercalemia, que pode ser fatal por conta da cardiotoxicidade (arritmias cardíacas e, inclusive, parada cardiorrespiratória). UREMIA: acúmulo de ureia – redução da excreção de ureia. Assim como a acidose metabólica, tem seus sintomas intensificados conforme a lesão renal, que quando atinge taxas de filtração glomerular menores que 35 mL/min, cursa com uremia aguda grave, causada pelo acúmulo de ureia no corpo, que possui um caráter tóxico e sistêmico, cursando com manifestações variadas, sendo os sintomas leves aparecendo com a ureia maior que 120 mg/dL e os graves com ureia acima de 380 mg/dL: • MANIFESTAÇÕES NEUROLÓGICAS: Confusão mental, irritabilidade, delirium, convulsões, coma, hiperreflexia tendinosa, encefalopatia urêmica. • MANIFESTAÇÕES CARDIOVASCULARES: Pericardite urêmica, tamponamento cardíaco e arritmia. • MANIFESTAÇÕES PULMONARES: Edema agudo de pulmão e congestões por conta da retenção de líquidos. • MANIFESTAÇÕES DIGESTIVAS: Náusea, vômitos, anorexia e inflamação da mucosa. • MANIFESTAÇÕES HEMATOLÓGICAS: Trombocitopenia leve, disfunção plaquetária e anormalidade nos fatores de coagulação. Começa a partir da identificação da patologia de base através da anamnese e exame físico. Porém isso não é o suficiente, sendo necessário exames laboratoriais de função renal e exames de imagem do rim. 40 para 1 porque o rim continua funcionando, reabsorvendo ureia para tentar fazer mecanismo de contracorrente. RIFLE Usado em estudos por ser simples. A tabela leva e consideração a TFG e o débito urinário do paciente. AKIN Mais simples que o RIFLE. Leva em consideração a creatinina sérica e a diurese do paciente. KDIGO Mais recente e mais usado, mesclando os outros dois. Propõe que, para ser diagnosticado com injuria renal aguda, o paciente precisa apresentar UM dos TRÊS critérios: ● IRA-I → Creatinina maior que 0,3 mg/dL ou maior que 1,5 - 1,9 vezes o normal; Com diurese menor que 0,5 ml/Kg/h em 6 horas ou mais ● IRA-II → Creatinina maior que 2 - 2,9 vezes Cr; Com diurese menor que 0,5 ml/Kg/h em 12 horas ou mais ● IRA-III → Creatinina maior que 4 mg/dL ou maior que 3 vezes o normal; Com diurese menor que 0,3 ml/Kg/h em 24 horas ou anúria por mais que 12 horas OBS: Creatinina não é um marcador muito precoce. São usados para determinar o quão grave é o estado do paciente com IRA, sendo separados em três estágios, onde o paciente precisa de apenas 1 dos critérios para ser estadiado nesse estágio. ESTÁGIO I • Aumento da creatinina sérica 1,5 a 1,9 vezes o valor de base • Aumento da creatinina > 0,3 mg/dl; • Débito urinário < 0,5 ml/kg/h por 6-12 horas; ESTÁGIO II • Aumento da creatinina sérica em 2 a 2,9 vezes o valor de base; • Débito urinário < 0,5 ml/kg/h > 12 horas; ESTÁGIO III • Aumento da creatinina 3 vezes o valor de base; • Aumento da creatinina > 0,4 mg/dl; Débito urinário < 0,3ml/kg/h > 24 horas; • Anúria > 12 horas; • Início de terapia de substituição renal; • Redução da TFG < 35 ml/min nos pacientes com menos de 18 anos. O tratamento da IRA visa cessar a causa da patologia de base e garantir o suporte metabólico ao paciente, corrigindo suas complicações sistêmicas resultantes dessa lesão renal. Sendo várias classes etiológicas, o tratamento é dividido para cada uma, sendo então os seguintes tratamentos: NA INJÚRIA PRÉ-RENAL É necessário normalizar a pressão arterial sistólica, administrando reposição volêmica e suspendendo o uso de diuréticos caso o paciente faça uso. NA INJÚRIA RENAL INTRÍNSECA Depende da doença que causou o dano no parênquima e interstício renal. Por exemplo, em caso de trombo ou êmbolo, é necessário dar medicamentos anticoagulantes junto de estatina; caso seja intoxicação é necessário suspender o agente patológico; Em caso de inflamações, é recomendado o uso de anti-inflamatórios. EM INJÚRIA PÓS-RENAL Avaliação urológica, e se caso necessário é feito desobstrução do trato urinário com cateter vesical. MEDIDAS GERAIS Porém, independente da etiologia, todosos pacientes precisa do mesmo suporte metabólico, para corrigir as alterações hidroeletrolíticas, acidose metabólica e ureia. Deve ser feito a monitorização constante da concentração sérica de todos os eletrólitos, creatinina e ureia. Além disso, deve ser feita uma dieta com baixo teor de sódio e potássio; Restrição ao uso de soluções hipotônicas e ingesta de água e suspensão de fármacos como AINEs, BRAs e IECAs, além de evitar fármacos nefrotóxicos como aminoglicosídeos. TERAPIA DIALÍTICA A diálise é importante para assumir a função filtradora do rim lesionado, resolvendo algumas das complicações do quadro, como edema pulmonar, hipercalemia e acidose metabólica grave.
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