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CRIMINOLOGIA AULA 04 – VITIMOLOGIA 24 DE OUTUBRO DE 2018 PROF. ALEXANDRE HERCULANO Criminologia AULA 04 – VITIMOLOGIA Página 1 de 8 Sumário VITIMOLOGIA ............................................................................................................................................................. 2 Introdução .......................................................................................................................................................................................... 2 Conceitos ......................................................................................................................................................................................... 3 QUESTÕES ................................................................................................................................................................... 6 Gabarito ............................................................................................................................................................................................... 8 Criminologia AULA 04 – VITIMOLOGIA Página 2 de 8 Introdução A vitimologia, segundo Nestor Sampaio, é o terceiro componente da antiga tríade criminológica: criminoso, vítima e ato (fato crime). Ele acrescenta ainda os meios de contenção social. É, na verdade, um conceito evolutivo, passando do aspecto religioso (imolado ou sacrificado; evitar a ira dos deuses) para o jurídico. A vítima, que sofre um resultado infeliz dos próprios atos (suicida), das ações de outrem (homicídio) e do acaso (acidente), esteve relegada a plano inferior desde a Escola Clássica (preocupava-se com o crime), passando pela Escola Positiva (preocupava-se com o criminoso). Por conta de razões culturais e políticas, a sociedade sempre devotou muito mais ódio pelo transgressor do que piedade pelo ofendido. Falando um pouco da visão histótica, os primeiros trabalhos sobre vítimas, segundo o professor Marlet (1995), foram de Hans Gross (1901). Somente a partir da década de 1940, com Von Hentig e Benjamim Mendelsohn, é que se começou a fazer um estudo sistemático das vítimas. Depois, com o 1º Simpósio Internacional de Vitimologia, de 1973, em Israel, sob a supervisão do famoso criminólogo chileno Israel Drapkin, impulsionaram-se os estudos e a atenção comportamentais, buscando traçar perfis de vítimas potenciais, com a interação do direito penal, da psicologia e da psiquiatria. Criminologia AULA 04 – VITIMOLOGIA Página 3 de 8 Conceitos A Vitimologia pode ser definida como o estudo científico da extensão, natureza e causas da vitimização criminal, suas consequências para as pessoas envolvidas e as reações àquela pela sociedade, em particular pela polícia e pelo sistema de justiça criminal, assim como pelos trabalhadores voluntários e colaboradores profissionais. A definição abrange tanto a vitimologia penal quanto a geral ou vitimologia orientada para a assistência. O termo "vitimologia" foi utilizado por primeiro pelo psiquiatra americano Frederick Wertham, mas ganhou notoriedade com o trabalho de Hans von Hentig"The Criminal na his Victim", de 1948. Hentig propôs uma abordagem dinâmica, interacionista, desafiando a concepção de vítima como ator passivo. Salientou que poderia haver algumas características das vítimas que poderiam precipitar os fatos ou condutas delituosas. Sobretudo, realçou a necessidade de analisar as relações existentes entre vítima e agressor. A vitimologia é hoje um campo de estudo orientado para a ação ou formulação de políticas públicas. A vitimologia não deve ser definida em termos de direito penal, mas de direitos humanos. Assim, a vitimologia deveria ser o estudo das consequências dos abusos contra os direitos humanos, cometidos por cidadãos ou agentes do governo. As violações a direitos humanos são hoje consideradas questão central na vitimologia. A expressão "vítimas" significa pessoas que, individual ou coletivamente, sofreram dano, incluindo lesão física ou mental, sofrimento emocional, perda econômica ou restrição substancial dos seus direitos fundamentais, através de atos ou omissões que consistem em violação a normas penais, incluindo aquelas que proscrevem abuso de poder. A vitimologia vem, efetivamente, conferir novo status à vítima, contribuindo para redefinir suas relações com o delinquente; com o sistema jurídico; com autoridades, etc. A propósito, o próprio conceito de vítima precisou ser revisto, posto que já não corresponde apenas ao sujeito passivo (protagonista) do fato criminoso. Exemplo de modo amplo de compreender vítima é trazido por Sue Moody, ao mencionar como o principal documento definidor de política pública para vítimas de delitos, na Escócia, trata a questão: Vítima é qualquer pessoa que tenha sido sujeita a qualquer tipo de crime, como também sua família ou aqueles que gozam de uma posição equivalente à de família. A vitimologia está a serviço do restabelecimento da paz social, pois tanto a vítima como a sociedade, em virtude da reparação do dano social provocado, sentem realizadas suas expectativas de reparação, bem como de uma eficaz ressocialização. Ao lado do conceito mais amplo de vítima, surgiu também o de vitimização, que examina tanto a propensão para ser vítima quanto os vários mecanismos de produção de danos diretos e indiretos sobre a vítima. Quanto ao comportamento da vítima, é relevante saber um pouco sobre a perigosidade vitimal, que é a etapa inicial da vitimização. Perigosidade ou periculosidade vitimal é um estado psíquico e comportamental em que a vítima se coloca estimulando a sua vitimização, ex., a mulher que usa roupas provocantes, estimulando a libido do estuprador no crime de estupro. Criminologia AULA 04 – VITIMOLOGIA Página 4 de 8 Processos de vitimização ✓ VITIMIZAÇÃO PRIMÁRIA: é aquela causada pelo cometimento do crime. Provoca danos materiais, físicos e psicológicos, e ocasiona mudanças de hábitos e alterações de conduta; ✓ VITIMIZAÇÃO SECUNDÁRIA: é decorrente do tratamento dado pelas ações ou omissões das instâncias formais de controle social. Decorre do fato de ser a vítima, por vezes, tratada como suspeito. A vitimização secundária pode se apresentar mais grave que a primária, uma vez que, além dos danos causados à vítima, ocasiona a perda de credibilidade nas instâncias formais de controle; ✓ VITIMIZAÇÃO TERCIÁRIA: decorre da falta de amparo dos órgãos públicos e da ausência de receptividade social em relação à vítima. Assim, a identificação de vulnerabilidade e de definibilidade da vítima são essenciais no processo. A vulnerabilidade da vítima decorre de diversos fatores (de ordem física, psicológica, econômica e outras), o que faz com que o risco de vitimização seja diferencial, para cada pessoa e delito. Nesse sentido, o exame dos recursos sociais efetivos da vítima também deve ser levados em conta. Vejamos, agora, as classificações de Benjamín Mendelsohn (Tiplogias, Centro de Difusion de la Victímologia, 2002). O vitimólogo israelita fundamenta sua classificação na correlação da culpabilidade entre a vítima e o infrator. E o único que chega a relacionar a pena com a atitude vitimal. Sustenta que há uma relação inversa entre a culpabilidade do agressor e a do ofendido, a maior culpabilidade de uma é menor que a culpabilidade do outro: VÍTIMA DE CULPABILIDADE MENOR OU VÍTIMA POR IGNORÂNCIA: neste caso se dá um certo impulso involuntário ao delito. O sujeito por certo grau de culpa ou por meio de um ato pouco reflexivo causa sua própria vitimização. Ex.: Mulher que provoca um aborto por meios impróprios pagando com sua vida, sua ignorância; VÍTIMA COMPLETAMENTE INOCENTE OU VÍTIMA IDEAL: é a vítima inconsciente que se colocaria em 0% absoluto da escala de Mendelsohn. E a que nada fez ou nada provocou para desencadeara situação criminal, pela qual se vê danificada. Ex.: incêndio; VÍTIMA TÃO CULPÁVEL COMO O INFRATOR OU VÍTIMA VOLUNTÁRIA: aquelas que cometem suicídio jogando com a sorte. Ex. roleta russa, suicídio por adesão vítima que sofre de enfermidade incurável e que pede que a matem, não podendo mais suportar a dor (eutanásia) a companheira (o) que pactua um suicídio; os amantes desesperados; o esposo que mata a mulher doente e se suicida; VÍTIMA MAIS CULPÁVEL QUE O INFRATOR: Vítima provocadora: aquela que por sua própria conduta incita o infrator a cometer a infração. Tal incitação cria e favorece a explosão prévia á descarga que significa o crime; Vítima por imprudência: é a que determina o acidente por falta de cuidados. Ex. quem deixa o automóvel mal fechado ou com as chaves no contato. VÍTIMA MAIS CULPÁVEL OU UNICAMENTE CULPÁVEL: Vítima infratora: cometendo uma infração o agressor cai vítima exclusivamente culpável ou ideal, se trata do caso de legitima defesa, em que o acusado deve ser absolvido; Vítima simuladora: o acusador que premedita e irresponsavelmente joga a culpa ao acusado, recorrendo a qualquer manobra com a intenção de fazer justiça num erro. Criminologia AULA 04 – VITIMOLOGIA Página 5 de 8 Meldelsohn conclui que as vítimas podem ser classificadas em três grandes grupos para efeitos de aplicação da pena ao infrator: ✓Primeiro grupo: vítima inocente: não há provocação nem outra forma de participação no delito, mas sim puramente vitimal; ✓Segundo grupo: estas vítimas colaboraram na ação nociva e existe uma culpabilidade reciproca, pela qual a pena deve ser menor para o agente do delito (vítima provocadora); ✓Terceiro grupo: nestes casos são as vítimas as que cometem por si a ação nociva e o não culpado deve ser excluído de toda pena. Vejamos outra classificação doutrinária, sobre tipos de vítimas: VÍTIMAS NATAS: indivíduos que apresentam, desde o nascimento, predisposição para serem vítimas, tudo fazendo, consciente ou inconscientemente, para figurarem como vítimas de crimes. VÍTIMAS POTENCIAIS: são aquelas que apresentam comportamento, temperamento ou estilo de vida que atraem o criminoso, uma vez que facilitam ou preparam o desfecho do crime; VÍTIMAS EVENTUAIS OU REAIS: aquelas que são verdadeiramente vítimas, não tendo em nada contribuído para a ocorrência do crime; VÍTIMAS PROVOCADORAS: são aquelas que induzem o criminoso à prática do crime, originando ou provocando o fato delituoso; VÍTIMAS FALSAS: simuladora, é aquela que está consciente de que não foi vítima de nenhum delito, mas, agindo por vingança ou interesse pessoal, imputa a alguém a prática de um crime contra si; VÍTIMA IMAGINÁRIA: em decorrência de anomalia psíquica ou mental, acredita-se vítima da ação criminosa; VÍTIMAS VOLUNTÁRIAS: são aquelas que consentem com o crime; VÍTIMAS ACIDENTAIS: são as vítimas de si mesmas, que dão causa ao fato geralmente por negligência ou imprudência. Criminologia AULA 04 – VITIMOLOGIA Página 6 de 8 Questões 1) (2014 – VUNESP – PCSP) Um dos primeiros autores a classificar as vítimas de um crime foi Benjamin Mendelsohn, que levou em conta a participação das vítimas no delito. Segundo esse autor, as vítimas classificam-se em ; vítimas menos culpadas que os criminosos; ; vítimas mais culpadas que os criminosos e . Assinale a alternativa que preenche, correta e respectivamente, as lacunas do texto. A) vítimas inocentes … vítimas inimputáveis … vítimas culpadas B) vítimas primárias … vítimas secundárias … vítimas terciárias C) vítimas ideais … vítimas tão culpadas quanto os criminosos … vítimas como únicas culpadas D) vítimas tão participativas quanto os criminosos … vítimas passivas … vítimas E) vítimas passivas em relação ao criminoso … vítimas prestativas … vítimas ativas em relação aos criminosos 2) (2014 – VUNESP – PCSP) O comportamento inadequado da vítima que de certo modo facilita, instiga ou provoca a ação de seu verdugo é denominado: A) vitimização terciária. B) vitimização secundária. C) periculosidade vitimal. D) vitimização primária. E) vitimologia. 3) (2013 – VUNESP - PC-SP - Escrivão de Polícia Civil) Julgue os itens, a respeito da Vitimologia. O comportamento da vítima em nada contribui para a ocorrência do crime contra si praticado. 4) (2013 – VUNESP - PC-SP - Escrivão de Polícia Civil) Julgue os itens, a respeito da Vitimologia. A Vitimologia estuda o papel da vítima no episódio danoso, o modo pelo qual participa, bem como sua contribuição na ocorrência do delito. 5) (2013 – VUNESP - PC-SP - Escrivão de Polícia Civil) Julgue os itens, a respeito da Vitimologia. A Vitimologia nasceu como ramo das ciências jurídicas, por conta das observações feitas pelos estudiosos a respeito do comportamento da vítima perante o ordenamento jurídico em vigor. 6) (2013 – VUNESP - PC-SP - Escrivão de Polícia Civil) Julgue os itens, a respeito da Vitimologia. A Vitimologia surgiu, como ramo da Criminologia, em 1876, por meio da obra “O Homem Delinquente”, de Cesare Lombroso. 7) (2013 – VUNESP - PC-SP - Escrivão de Polícia Civil) Julgue os itens, a respeito da Vitimologia. O comportamento da vítima sempre contribui para a ocorrência do crime contra si praticado. 8) (PCSP - VUNESP - 2014) Assinale a alternativa que contém os nomes dos precursores da vitimologia do século XX. A) Hans von Heting e Benjamin Mendelsohn. B) Cesare Bonesana e Raffaele Garofalo. C) Émile Durkheim e Cesare Lombroso. D) Francesco Carrara e Enrico Ferri. E) Michel Foucault e John Locke. 9) (PCSP - VUNESP - 2014) Do ponto de vista vitimológico, vítima falsa é aquela que: A) consente com a prática do delito. B) tolera a lesão sofrida pelo temor de perseguição por seu algoz. C) se autovitimiza para obter benefícios para si. Criminologia AULA 04 – VITIMOLOGIA Página 7 de 8 D) detém predisposição permanente e inconsciente para se tornar vítima. E) deixa de comunicar o crime sofrido às autoridades competentes. 10) (PCSP - VUNESP - 2014) Os primeiros estudos sobre a vitimologia datam de 1901, tendo como, estudioso do assunto: A) Hans Gross. B) Enrico Ferri. C) Francesco Carrara. D) Adolphe Quetelet. E) Cesare Bonesana. 11) (PCSP - VUNESP - 2014) Os estudos de vitimologia são relativamente recentes em matéria criminológica. Embora seja possível citar referências históricas, tiveram grande impulso e ganharam corpo somente após: A) o extermínio de judeus na Segunda Grande Guerra. B) a abolição da escravatura na América do Sul. C) a independência tardia dos países africanos, ex-colônias europeias. D) a grande depressão iniciada nos Estados Unidos da América após a crise de 1929. E) a exposição das fragilidades humanitárias da Europa Oriental após a queda do Muro de Berlim. 12) (PCSP - VUNESP - 2014) Para a Vitimologia, a vítima agressora, simuladora ou imaginária também é conhecida por: A) vítima inocente. B) vítima menos culpada que o criminoso. C) vítima tão culpada quanto o criminoso. D) pseudovítima ou vítima totalmente culpada. E) vítima ideal. 13) Assinale a alternativa correta, a respeito da Vitimologia. A) O comportamento da vítima em nada contribui para a ocorrência do crime contra si praticado. B) A Vitimologia estuda o papel da vítima no episódio danoso, o modo pelo qual participa, bem como sua contribuição na ocorrência do delito. C) A Vitimologia nasceu como ramo das ciências jurídicas, por conta das observações feitas pelos estudiosos a respeito do comportamento da vítima perante o ordenamento jurídico em vigor. D) A Vitimologia surgiu, como ramo da Criminologia, em 1876, por meio da obra “O Homem Delinquente”, de Cesare Lombroso. E) O comportamento da vítima sempre contribui para a ocorrência do crime contra si praticado. Criminologia AULA 04 – VITIMOLOGIA Página 8 de 8 Gabarito 1 2 3 4 5 6 7 8 C C E C E E E A 9 10 11 12 13C A A D B
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