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UNIVERSIDADE LUTERANA DO BRASIL CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS E SOCIAIS CAMPUS DE GRAVATAÍ NORMA JURÍDICA Gravataí, Novembro de 2007. Página 2 de 35 Turma 8002 Propedêuticas Profissionais Prof. José Mauricio Loff Barcelos Participantes do Grupo 5: Anaclélia Elizandra da Conceição Diego Costa dos Santos Douglas Costa dos Santos Renan Rojahn Suelen Regina Lemos Barth Página 3 de 35 SUMÁRIO 4. INTRODUÇÃO 6. INSTITUTO JURIDICO 6. ESTRUTURA LÓGICA DA NORMA JURIDICA 15. CONCEITO BÁSICO DE DIREITO 15. CARACTERÍSTICAS DA NORMA JURÍDICA 16. FONTES DO DIREITO 18. PRINCIPAIS RAMOS DO DIREITO 19. VALIDADE, EXISTÊNCIA E EFICÁCIA 25. RELAÇÃO ENTRE NORMA E SANÇÃO 30. A NORMA COMO OBJETO DA CIÊNCIA 32. NORMA E VALOR 34. CONCLUSÃO 35. BIBLIOGRAFIA Página 4 de 35 INTRODUÇÃO O objetivo deste trabalho é apresentar, de forma clara, o conceito, estrutura e particularidades que cercam a NORMA JURÍDICA, tema tão controverso entre os juristas. Página 5 de 35 NORMA JURÍDICA Normas jurídicas são, essencialmente, regras sociais, isso significa que a função das normas jurídicas é disciplinar o comportamento social dos homens. Existem diversas outras normas que também disciplinam a vida social. Vejamos exemplos: Normas Morais – se baseiam na consciência moral das pessoas (conjunto de valores e princípios sobre o bem e o mal que orientam o comportamento humano). Normas Religiosas – se baseiam na fé revelada por uma religião. Tanto as normas morais como as religiosas se aplicam à vida em sociedade. Então, como distinguir as normas jurídicas dessas outras normas sociais? A distinção pode ser resumida nas características que veremos a seguir Na teoria Geral do Direito o estudo da norma jurídica é de fundamental importância, porque se refere à substância própria do Direito objetivo. Ao dispor sobre fatos e consagrar valores, as normas jurídicas são os pontos culminantes do processo de elaboração do Direito e o ponto de partida operacional da Dogmática Jurídica, cuja função é a de sistematizar e descrever a ordem jurídica vigente. Conhecer o Direito é conhecer as normas jurídicas em seu encadeamento lógico e sistemático. As normas ou regras jurídicas estão para o Direito de um povo, assim como as células para um organismo vivo. Para promover a ordem social, o Direito Positivo deve ser prático, ou seja, revelar-se mediante normas orientadoras das condutas interindividuais. Não é suficiente, para se alcançar o equilíbrio na sociedade, que os homens estejam dispostos à prática da justiça; é necessário que se lhes indique a fórmula de justiça que satisfaça a sociedade em determinado momento histórico. A norma jurídica exerce justamente esse papel de ser o instrumento de definição da conduta exigida pelo Estado. Ela esclarece ao agente como e quando agir. O Direito Positivo, em todos os sistemas jurídicos, compõe-se de normas jurídicas, que são padrões de conduta social impostos pelo Estado, para que seja possível a convivência dos homens em sociedade. São fórmulas de agir, determinações que fixam as pautas do comportamento interindividual. Pelas regras jurídicas o Estado dispõe também quanto à sua própria organização. Em síntese, norma jurídica é a conduta exigida ou o modelo imposto de organização social. As expressões norma e regra jurídicas são sinônimas, apesar de alguns autores reservarem a denominação regra para o setor da técnica e, outros, para o mundo natural. Distinção há entre norma jurídica e lei. Esta é apenas uma das formas de expressão das normas, que se manifestam também pelo Direito costumeiro e, em alguns países, pela jurisprudência. Página 6 de 35 INSTITUTO JURÍDICO Instituto Jurídico é a reunião de normas jurídicas afins, que rege um tipo de relação social ou interesse e que se identifica pelo fim que procura realizar. É uma parte da ordem jurídica e, como esta, deve apresentar algumas qualidades: harmonia, coerência lógica, unidade de fim. Enquanto a ordem jurídica dispõe sobre a generalidade das relações sociais, o instituto se fixa apenas em um tipo de relação ou de interesse: adoção, pátrio poder, naturalização, hipoteca etc. considerando-os análogos aos seres vivos, pois nascem, duram e morrem, lhering chamou-os de corpos jurídicos, para distingui-los da simples matéria jurídica. Diversos institutos afins formam um ramo, e o conjunto destes, a ordem jurídica. ESTRUTURA LÓGICA DA NORMA JURÍDICA A visão moderna da estrutura lógica das normas jurídicas tem o seu antecedente na distinção kantiana sobre os imperativos. Para o filósofo alemão, o imperativo categórico, próprio dos preceitos morais, obriga da maneira incondicional, pois a conduta é sempre necessária. Exemplo: deves honrar a teus pais. O imperativo hipotético, relativo às normas jurídicas, técnicas, políticas, impõe-se de acordo com as condições especificadas na própria norma, como meio para alcançar alguma outra coisa que se pretende. Exemplos: se um pai deseja emancipar o filho, deve assinar uma escritura pública. Concepção de Kelsen – Segundo o autor da Teoria Pura do Direito, a estrutura lógica da norma jurídica pode ser enunciada do modo seguinte. “Em determinadas circunstâncias, um sujeito deve observar tal ou qual conduta; se não a observa, outro sujeito, órgão do Estado, deve aplicar ao infrator uma sanção.” Da formulação Kelseniana, infere-se que o esquema possui duas partes, que o autor denomina por “norma secundária” e “norma primária”. Com a inversão terminológica efetuada em sua obra Teoria Geral das Normas, publicada post mortem, a primeira estabelece uma sanção para a hipótese de violação do dever jurídico. A primária define o dever jurídico em face de determinada situação de fato. Reduzindo a formula prática, temos: Norma Secundária: “Dado ñP, deve ser S” – Dada a não prestação, dever ser aplicada à sanção. Exemplo: o pai que não prestou assistência material ao filho menor deve ser submetido a uma penalidade. A norma jurídica tem sido objeto de profundos estudos por parte de juristas de escola. No último século, produziu-se um valioso legado doutrinário acerca da norma jurídica, que pela sua amplitude e variedade, vai influenciar gerações, em matéria de Ciência do Direito. Nosso estudo não pretensão de tratar da matéria de forma exauriente. Destina-se, sim, a apresentar um breve resumo informativo, que revela a ausência de uniformidade quanto à formulação de classificações para as Página 7 de 35 normas jurídicas. Da multiplicidade de classificações existentes, detivemo-nos nas que melhor delinearam os contornos das normas jurídicas sob seus diversos enfoques e prismas de observação. O campo do normativo, conforme se infere das assertivas de CARLOS ALCHOURRÓN y EUGENIO BULYGIN, encontra-se distante da homogeneidade e, em conseqüência, se podem distinguir diversos tipos de normas. No bojo de suas considerações, os autores observam que VON WRIGHT distingue seis tipos de normas, sendo três principais (prescrições, regras técnicas e regras determinativas) e três secundários ou intermediários (que seriam as normas morais, os costumes e as regras ideais). Para os autores mexicanos, os critérios de classificação de VON WRIGHT são discutíveis, cabendo adotarem-se outras classificações, dada à ambigüidade do termo "norma" e mesmo limitando-se o termo ao âmbito das normas de conduta, como enunciados que prescrevem certas ações ou atividades, ainda resta um resquício de ambigüidade, ainda que mais sutile menos perigoso. O termo "norma", portanto, é daqueles que enfrentam o problema da polissemia, por sua multiplicidade de significados. Mesmo que venhamos a restringir seu significado, acrescentando-lhe um complemento e tornando-o um termo composto, como propõem os autores acima (no caso, norma de conduta, ou mesmo norma jurídica), ainda assim restará um laivo de imprecisão, dada à largueza semântica, que continua a comportar ambigüidades. A despeito dessas dificuldades, muitas são as propostas de classificação para as normas jurídicas. Buscando elucidar a estrutura do ordenamento jurídico, partindo de uma definição de caráter geral, pela qual "o ordenamento jurídico é um conjunto de normas", NORBERTO BOBBIO refere-se a modalidades normativas ou deônticas de regras de conduta, traduzidas no "obrigatório", no "proibido" e no "permitido". Assim, tem-se que, segundo a forma, as normas jurídicas podem ser imperativas, proibitivas ou permissivas. Propõe, ainda, três critérios de avaliação, asseverando que, frente a qualquer norma jurídica se possa examiná-la por uma tríplice ordem de problemas: 1) se a norma é justa ou injusta; 2) se é eficaz ou ineficaz; e 3) se é válida ou inválida. (4) Antes, porém, de adentrarmos na essência da norma jurídica, mister se faz observar que a multiplicidade facetaria do termo norma comporta as mais variadas classificações, que são diferentemente dispostas segundo a ótica de cada autor. ARNALDO VASCONCELOS afirma que tal diversidade classificatória não decorre de meras razões pessoais de ordem doutrinária e que, mesmo restritas ao meio acadêmico tais classificações não perdem sua importância, já que se tornam indispensáveis do ponto de vista da prática jurídica, por motivos metodológicos de ordenação dos conhecimentos. (5) Página 8 de 35 Buscando identificar as classificações da norma que se afiguram mais relevantes, o autor elege os seguintes critérios: quanto à destinação (normas de Direito e normas de Sobredireito), quando ao modo de existência (normas explícitas e normas implícitas), quanto à fonte (teorias de Kelsen e Savigny, apontando como formas de expressão do Direito ou normas jurídicas, a lei, o costume, a jurisprudência, a doutrina e os princípios gerais do direito), quanto à matéria (normas de Direito Público, normas de Direito Privado e normas de Direito Social). Segundo MIGUEL REALE "(...) há regras de direito cujo objetivo imediato é disciplinar o comportamento dos indivíduos, ou as atividades dos grupos e entidades sociais em geral; enquanto que outras possuem um caráter instrumental, visando a estrutura e funcionamento de órgãos, ou a disciplina de processos técnicos de identificação e aplicação de normas, a fim de assegurar uma convivência juridicamente ordenada". Quando propõe a dogmática analítica ou a ciência do direito como teoria da norma, TÉRCIO SAMPAIO FERRAZ JUNIOR passa a identificar o direito como expressão normativa, que é um conceito nuclear para a dogmática analítica e um fenômeno complexo. As normas que interessam peculiarmente ao jurista, no universo múltiplo de normas, são as jurídicas. Com fins didáticos, TÉRCIO SAMPAIO FERRAZ JUNIOR oferece-nos algumas classificações dos diversos tipos de normas jurídicas, alertando que não há critérios rígidos nem um sistema classificatório, no sentido lógico da expressão. A classificação das normas jurídicas, idealizada por FERRAZ JUNIOR afigura-se como uma das mais completas e revela critérios que podem ser adotados como modelo, em face do que cuidaremos de especificá-la em seus pontos essenciais, embora de forma resumida. Seus critérios são estabelecidos segundo um ponto de vista semiótico (teoria dos signos – signos lingüísticos das palavras) das noções de relação sintática, semântica e pragmática. Quanto aos critérios sintáticos, o autor classifica as normas pela sua relevância, pela subordinação e pela estrutura. O critério da relevância classifica as normas em primárias e secundárias. No passado, a doutrina atribuía o epíteto de normas primárias àquelas que estabelecem um preceito para a ação e, de secundárias, às que prevêem sanção. TERCIO SAMPAIO FERRAZ JUNIOR observa que Kelsen inverteu essa ordem classificatória, priorizando em relevância as normas dotadas de previsão sancionatória. Para o notável jurista austríaco, primárias são as normas dotadas de sanção, podendo ser classificadas em termos secundários aquelas que apenas contêm o mandamento, sem prever sanção. Atualmente, segundo FERRAZ JUNIOR, a avaliação da importância cedeu lugar à mera relação inclusiva: se uma norma tem por objeto outra norma, ela é secundária; se tem por objeto a própria ação, é primária. Página 9 de 35 O critério da subordinação as classifica em normas-origem (primeiras de uma série, remontando até a norma fundamental) e normas-derivadas (que são as demais normas decorrentes da primeira); o critério da estrutura aponta a existência de normas autônomas (que têm por si um sentido completo) e normas dependentes (que exigem combinação com outras normas para expressar seu sentido). O critério semântico, por sua vez, segundo TÉRCIO SAMPAIO FERRAZ JUNIOR, leva em conta o âmbito de validade das normas e reporta-se aos destinatários, à matéria, ao espaço e ao tempo. No âmbito dos destinatários, classificam-se em gerais (comuns – destinadas à generalidade das pessoas) e individuais (particulares – que disciplinam o comportamento de uma pessoa ou grupo); quanto à matéria, as normas podem ser gerais-abstratas (que têm por facti species um tipo genérico), especiais (disciplinam o tipo genérico de forma diferente) e excepcionais (contidas nas gerais-abstratas, mas que excepcionam seu conteúdo). O critério do espaço diz respeito ao limite espacial de incidência da norma (nacional, estadual, municipal – local, etc.). Já o critério do tempo diz respeito à vigência, classificando as normas em permanentes (quando a lei não atribui prazo de vigência – vigem indefinidamente) e provisórias ou temporárias (aquelas para a qual a lei prevê previamente um prazo de cessação). Quanto ao tempo, ainda podem ser irretroativas (em princípio todas o são), ou retroativas (retroagem para beneficiar o agente), de incidência imediata (cujo início de vigência se dá a partir da publicação) ou de incidência mediata (sujeitas à vacatio legis). Há ainda o critério da finalidade, segundo o qual as normas jurídicas classificam-se em normas de comportamento (disciplinadoras da conduta) e normas programáticas (que expressam diretrizes, intenções, objetivos). Pelo critério pragmático, a asserção pode ser modalizada por funtores. As normas distinguem-se pelo funtor. O termo funtor vem da lógica. Trata-se de operadores lingüísticos que nos permitem mobilizar as asserções. Assim, diz Tércio, a asserção "isto é comprar" pode ser modalizada por funtores como: é proibido comprar, é permitido comprar, é obrigatório comprar. Já MARIA HELENA DINIZ cataloga as normas jurídicas segundo critérios diferenciados, dentre os quais relacionamos: quanto à imperatividade, quanto ao autorizamento, quanto à hierarquia, quanto à natureza de suas disposições, quanto à aplicação, quanto ao poder de autonomia legislativa e quanto à sistematização. Quanto à imperatividade as normas podem ser impositivas (ou de imperatividade absoluta), ordenando a ação ou abstenção de conduta, sem qualquer alternativa ou opção diferenciada, ou dispositivas (de imperatividade relativa), que por sua vez subdividem-se em permissivas, supletivas ou também impositivas por interpretação doutrinária ou jurisprudencial. Página 10 de 35 Quanto ao autorizamento, classificam-se em mais que perfeitas (que autorizam duas sanções – nulidade do ato e restabelecimento do status quo, com aplicação de pena ao violador), perfeitas (autorizam a declaração do ato que as viola, mas não a aplicação de pena ao violador),menos que perfeitas (autorizam a aplicação de pena ao violador, mas não a nulidade do ato) e imperfeitas (cuja violação não acarreta qualquer conseqüência jurídica). Quanto à hierarquia, a autora as classifica como normas constitucionais, leis complementares, leis ordinárias, delegadas, medidas provisórias, decretos legislativos e resoluções, decretos regulamentares, normas internas e normas individuais. Quanto à natureza das suas disposições as normas podem ser substantivas (definem e regulam relações jurídicas, criam direitos e impõem deveres – normas de direito material) e adjetivas (regulam o modo ou processo de efetivar as relações jurídicas – normas de direito processual). Quanto à aplicação podem ser classificadas em de eficácia absoluta (insuscetíveis de emenda e com força paralisante total da lei que as contraria), de eficácia plena (apresentam todos os requisitos necessários para disciplinar as relações jurídicas), de eficácia relativa restringível (de aplicabilidade imediata, mas passíveis de redução de sua eficácia pela atividade legislativa – eficácia limitada), e de eficácia relativa complementável (possibilidade mediata de produzir efeitos, dependendo de norma posterior – eficácia contida). Finalmente, as classificações quanto ao poder de autonomia legislativa, onde as normas podem ser nacionais e locais (embora oriundas da mesma fonte legiferante, podem vigorar em todo o país ou só em parte dele), federais, estaduais e municipais (conforme se tratem de leis da União, dos Estados federados ou dos municípios); e quanto à sistematização: esparsas ou extravagantes (se editadas isoladamente), codificadas (corpo orgânico sobre certo ramo do direito em códigos) e consolidadas (reunião de leis esparsas vigentes sobre determinado assunto). Além destas, muitas outras classificações são oferecidas pela doutrina, revelando que inexiste uniformidade ou um padrão rígido de exigência de adoção de critérios metódicos para classificar as normas jurídicas. Todas as classificações idealizadas são válidas no sentido de apresentar focos de visão da norma jurídica, conforme a ótica em que esteja sendo investigada, daí porque a função didática de tais proposições é voltada ao processo cognitivo, de apreensão do objeto do conhecimento, que é a norma jurídica cientificamente estudada. Página 11 de 35 NORMA JURÍDICA no contexto do livro "TEORIA DA SOBERANIA COM PROBLEMA DA NORMA JURIDICA E DA DECISÃO” Segundo o livro “TEORIA DA SOBERANIA COM PROBLEMA DA NORMA JURIDICA E DA DECISÃO”, de Autor Ari Marcelo Sola, de 1997 Porto Alegre. De modo, o problema de longa data da limitação do Estado pelo direito não é resolvido, as eliminado, pois o ní-górdio do dilema Estado-Direito é cortado pela raiz. Deixando o Estado de ser de um produto histórico ou uma força social anterior ao direito e que a ele tem de se submeter, não se pode deixar de impor sua identidade com o direito, pois qualquer situação criada pelo Estado será fixada por normas jurídicas. Pág. 52 Segundo ainda o livro citado acima, a especificidade do Estado e do Direito não é investigada com os métodos das ciências naturais, orientadas para explicação do real através da lei da causalidade. Em lugar do nexo de causalidade, o conceito central da teoria jurídica é o de norma jurídica, que vincula certas condições (uma ação humana) a determinadas conseqüências (um ato coativo) em termos de imputação. A partir desta premissa, tanto o Estado como o Direito formam um complexo normativo, que não pode ser analisado desde uma perspectiva jurídica, na esfera da realidade natural do “ser”, mas sim, no plano normativo ideal do “dever-ser”. Com isto, toda a gama de conceitos clássicos da dogmática do direito público será redefinida em termos de categorias puramente normativas. Dogmática esta que dizia ser insubstituível a abstração dos fenômenos jurídicos das normas, mas que se converteu em uma doutrina do poder do Estado, entendido como dominação ou coação fática. Seguindo o livro vemos que Kelsen também reviu radicalmente sua posição sobre lógica do Direito, passando a sustentar que “um conflito de normas não se pode comparar a uma contradição lógica, mas a uma situação em que duas forças atuam em direções opostas”. Quanto ao princípio “lex posterior”, aceitou que “não existe no campo da lógica nada análogo. Não é nenhum princípio lógico na medida em que entram em consideração normas jurídicas - mas um princípio jurídico positivo; não é, também, um princípio lógico análogo de pensamento jurídico, nenhum princípio de interpretação. Somente pode ser aplicado pela interpretação se um princípio jurídico positivo, ou seja, um princípio válido dentro de uma norma jurídica for norma de direito positivo”. Não deixa de ser espantoso o fato de Schmitt considerar que o conceito formal de lei do Estado de direito repousa sobre a idéia de “norma jurídica” entendida não como “voluntas” mas como “ratio”. Página 12 de 35 É verdade que algumas obscuridades da obra de Kelsen tenham contribuído para deixar a impressão de uma separação entre o normativo e o volitivo: a censura sofrida pela noção imperialista de norma jurídica em suas primeiras obras em favor de sua concepção como juízo hipotético; a distinção posterior entre normas Jurídicas como imperativos das proposições jurídicas como juízos hipotéticos e, por fim, a defesa apaixonada da norma fundamental, durante anos a fio, como sentidos de um ato de pensamento e não de vontade. Bobbio, seguindo seu mestre, distinguiu dois tipos de fundamento de validade da norma jurídica: 1-validade formal, quando a norma é derivada de uma norma superior válida; validade material, quando a prescrição é logicamente coerente com as outras normas válidas do ordenamento. O velho professor discordou tanto de uma como de outra! “No que concerne à primeira, não se pode concordar com ela, porque Bobbio pressupõe evidentemente que a validade da norma inferior resulta logicamente da validade da norma superior (...) Contra a regra 2, deve-se observar que Bobbio aqui admite existir entre duas normas não coerentes uma contradição lógica, o que não é o caso. Duas normas jurídicas, em conflito uma com a outra, podem ambas valer. Conflitos de normas são possíveis e efetivamente existentes, enquanto não afastadas em virtude de determinação jurídico-positiva”. Ross, em termos análogos, comenta que para Kelsen “a norma em si mesma, de acordo com seu conteúdo imediato, expressa o que os indivíduos devem fazer. O que significa dizer, então, que os indivíduos devem fazer o que devem fazer?”. “A opinião prevalecente na doutrina dogmática é de que a norma jurídica é uma espécie de imperativo despsicologizado, isto é, um comando no qual não se identifica o comandante, nem o comandado (...). É a posição entre outros de Olivecrona, de Bobbio e, num certo sentido, também de Kelsen”. Por outro lado, também só se justifica como obstinação a persistência dos realistas jurídicos em desconsiderar a norma jurídica nas leis, nos procedentes judiciais ou em outras fontes de direito como misteriosas entidades supra-sensíveis e em construir a ciência do direito apenas a partir de proposições fáticas sobre o comportamento humano, suscetíveis de observação empírica, como se não soubessem que a realidade do mundo externo é problemática. Normas, “diretivos”, “imperativos de existência”, “dever-ser”, talvez algum destes termos seja mais apropriado para indicar o objeto do direito. Pág. 189 O cerne da objeção de Olivecrona é que> “as normas não são ‘declarações de vontade’ ou comandos de uma única vontade suprema, mas imperativos independentes que provêm de diferentes fontes”. Ele dá alguns exemplos para justificar sua oposição â idéia da vontade. O primeiro é o do direito costumeiro inglês, que levou centenas de anos para se formar, não se sabendo a origem de muitasde suas regras. Página 13 de 35 O segundo é tomado do processo legislativo da monarquia constitucional em seu próprio país: É possível a aprovação de uma lei pelo parlamento a partir de um projeto elaborado por juristas não parlamentares e sua promulgação pelo rei sem conhecer-lhe o texto. Ver, que a norma, nas diferentes teorias, participe ora de formas hipotéticas, ora de formas imperativas, que dela se diga ser sempre interpretável, albergando múltiplos sentidos, mas também imponível sem discussões, sendo premissa de discussões. Normas jurídicas são decisões. Através delas, garantimos que certas decisões serão tomadas. Elas estabelecem assim controles, isto é, pré- decisões, cuja função é determinar outras decisões. Embora isto não signifique uma redução de norma a norma processual, o ponte de vista pragmático não deixa de ressaltar este aspecto procedimental do discurso normativo. As formas analógicas, contudo são de uma sintaxe relativamente pobre, por isso mesmo formas de expressão conotativas, que desconhecem recursos sintáticos elementares, como o uso do não para a negação. Por isso, o uso da farda pelo policial pode também assinalar prepotência, abuso de autoridade, e serão as condições situacionais que poderão diminuir a conotatividade, indicando se o policial, numa sociedade corrupta, ao mostrar o caderno de multas não estaria antes sugerindo o suborno. Normas Jurídicas são entendidas como discursos, portanto, do ângulo pragmático, interações em que alguém dá a entender a outrem alguma coisa, estabelecendo-se, concomitantemente, que tipo de relação há entre quem fala e quem ouve. Ou seja, o discurso normativo não é apenas constituído por uma mensagem, mas, também, por uma definição das posições de orador e ouvinte. Ao nível sintático da análise, a idéia mais comum é de que as normas permissivas não existem como normas independentes, isto é, não é um tipo à parte das normas de obrigação/proibição. Assim, quando o editor normativo usa a expressão “permitir” o faz apenas para descrever o fato de que uma ação não está nem proibida nem é obrigatória, portanto, que não há norma sobre aquela ação. Esta tese se funda na pressuposição de todo sistema normativo admitir a chamada “norma de clausura”, segundo a qual tudo o que não esteja juridicamente proibido ou não seja obrigatório, estaria automaticamente permitido. Entre as normas permissivas independentes costumam-se incluir as declarações de direitos humanos constantes nas modernas Constituições. Von Wright reconhece-as como normas permissivas, mas não sem pôr em relevo o seu “peculiar aroma moral”, pois eles parecem, de um lado, garantir a liberdade do sujeito contra a intervenção de terceiros, de outro, uma autoproibição, que a própria autoridade se dá a si mesma de interferir, uma espécie de autocompromisso dificilmente compatível com o sentido prescritivo das normas jurídicas; por isso mesmo, reconhece igualmente o caráter não satisfatório da solução. Página 14 de 35 A) Normas de obrigação/proibição: através dos operadores “é proibido” e “é obrigatório” uma determinada ação ou omissão é qualificada juridicamente como obrigatória ou proibida; com isso dá-se igualmente uma determinação jurídica da relação entre emissor e receptor como relação complementar imposta; B) Normas permissivas que constituem exceção a uma norma geral de obrigação/proibição: através do operador “é permitido, porém, que” determinada ação ou omissão é qualificada juridicamente como facultativa ou permitida, tendo em vista uma proibição ou obrigação geral; a determinação jurídica da relação como simétrica depende de uma imposição de complementaridade geral, da qual constitui uma exceção; C) Normas permissivas independentes: através do operador “é permitido” uma determinada ação ou omissão é qualificada como facultativa ou permitida, sem que haja, sobre o mesmo conteúdo, norma geral de obrigação/proibição; a relação entre emissor e receptor é determinada, juridicamente, como relação simétrica imposta ou pseudo-simétrica; D) Ausência de norma: o silêncio do editor torna uma ação ou omissão nem obrigatória, nem proibida, nem permitida ou facultativa, mas, juridicamente, indecidível; a relação entre emissor e receptor pode ser, então, indiferente simétrica ou complementar, não ocorrendo, em nenhum dos casos, nem imposição de complementaridade, nem pseudo-simetria. Por fim, temos os seguintes operadores normativos básicos: obrigatório que, proibido que, permitido que; os seguintes comportamentos: obrigatório, proibido, permitido. As seguintes relações: complementaridade imposta, pseudo-simetria. A combinação de operadores, comportamentos e relações nos dá, por fim, as seguintes qualificações, conforme o quadro abaixo: OPERADORES COMPORTAMENTOS RELAÇÃO QUALIFICAÇÃO Obrigatório que Obrigatório Complementaridade imposta Obrigatoriedade Proibido que Proibido Complementaridade imposta Proibição Permitido que Permitido Pseudo-Simétrica Permissão Silêncio normativo Indecidível Indeterminada Inqualificação Página 15 de 35 CONCEITO BÁSICO DE DIREITO De forma simples e concisa, podemos elaborar a seguinte conceituação: “Direito é um conjunto de regras obrigatórias que disciplinam o convívio social humano”. Essas regras obrigatórias são chamadas de normas jurídicas. A norma jurídica é elemento fundamental para a constituição e existência do direito. CARACTERÍSTICA DA NORMA JURÍDICA Entre as principais características da norma jurídica podemos citar: A) COERCIBILIDADE: é a possibilidade de a conduta transgressora sofrer coerção, isto é, repressão, uso da força. As normas jurídicas destinguem-se pelo tato de contagem com as força coercitiva do Estado para impor-se sobre as pessoas. O mesmo já não ocorre nas regras extra jurídicas (que estão fora do mundo jurídico). Assim, se alguém desrespeita uma norma religiosa (exemplo: o católico que não vai a missa), sua conduta ofende apenas aos ensinamentos de sua religião. O estado não reage as esta ofensa, já que, no Brasil vivemos num regime de liberdade de crenças e convicções. A norma religiosa não possui coercibilidade. Entretanto, se uma pessoa mata alguém, sua conduta fere uma conduta prevista no código penal, e essa conduta tipificada provocará a reação punitiva do estado. Em resumo: resguardando o direito, existe a coerção (força) potencial do estado, que se concretiza com alguma forma de sanção (punição). A sanção deve ser aplicada à pessoa ou instituição que transgrediu a norma jurídica. Caracterizando-se somente em sanções nos casos de desobediência ou transgressão do dever jurídico. B) SISTEMA IMPERATIVO ATRIBUITIVO: em decorrência da coercibilidade, a norma jurídica assume uma característica imperativa e atributiva. Imperativa, porque tem o poder de imperar, a impor a uma parte o cumprimento de um dever. Atributiva, porque atribuí à outra parte o direito de exigir o cumprimento do dever imposto pela norma. E por isso que se costuma dizer: “o direito de um, é o dever do outro”. C) PROMOÇÃO DA JUSTIÇA: conteúdo da norma jurídica deve ter como finalidade estabelecer justiça entre os homens. Justiça é a virtude de dar a cada um o que é seu, solucionando de modo equilibrado os interesses em conflito. A prática da justiça é a alimentação pelos ideais de ordem e segurança, poder e paz, cooperação e solidariedade. No plano teórico, costuma-se reconhecer que a normas jurídicas tendem a realizar os ideais da justiça. Ou seja, a justiça seria o objeto que dá sentido à existência na norma jurídica. Do contrário, ela não seria uma norma legítima, e sim arbritrária. Em termos práticos, entretanto, sabemos que a forma jurídica e o processo judicial que visa a sua aplicação ainda estão distantes de realizar, a contento, os ideais de justiça. Infelizmente,permanece viva a contundente advertência do jurista Rui Barbosa (18409-1923): “Em nosso país, a lei não exprime o consentimento da Página 16 de 35 maioria; são as minorias, as oligarquias mais acanhadas, mais impopulares e menos respeitáveis, as que põem, e dispõem; as que mandam, e desmandam em tudo”. FONTES DO DIREITO A palavra fonte tem o significado comum de lugar de onde a água surge, nasce ou jorra. É nesse sentido que se diz: a praça desta cidade tem uma bela fonte. Mas podemos usar essa palavra num sentido amplo quando falamos, por exemplo, em fontes do direito ou fontes da norma jurídica. Nesse caso, queremos saber qual é a origem do direito, de onde provém às normas. São quatro as fontes formais clássicas do direito: A) A lei B) O costume jurídico C) A jurisprudência D) A Doutrina Jurídica A LEI A lei é a mais importante fonte formal do direito. Entende-se por lei a norma jurídica escrita emanada de poder competente. A lei está presente na legislação, que é conjunto das leis vigentes em um país. A apresentação escrita da lei está relacionada à própria origem etimológica desta palavra, pois lei vem do latim Légere, que significa ler. Portanto, lei é o texto escrito, feito para ser lido. Em sentido técnico estrito, a lei é a mesma norma jurídica ordinária elaborada pelo poder legislativo. Distingui-se, por exemplo, dos decretos, dos regulamentos e das portarias expedidos pela administração pública (Poder executivo). COSTUME JURÍDICO O costume é a norma que não faz parte da legislação. É criado espontaneamente pela sociedade, sendo produzido por uma prática geral, constante e prolongada. Nas sociedades primitivas o costume era a principal fonte do direito. Não existiam leis escritas. As normas se fixavam pelo uso repetido de uma regra que se transmitia oralmente de geração a geração. Página 17 de 35 Nos dias atuais, o costume deixou de ser principal fonte do direito. Entretanto, ainda mantém seu valor como forma alternativa ou suplementar, nos casos em que a lei for omissa, isto é, na falta da lei. O costume também é utilizado quando a própria lei expressa o autoriza. Devemos salientar que o costume não poderá ser aplicado se for contrário de uma determinação expressa em lei. Do ponto de vista legal, somente uma nova lei pode revogar a lei antiga, mas, na prática, sabemos que há casos de leis que não são efetivamente aplicadas, por serem contrária aos hábitos tradicionais da comunidade. A aplicação do costume varia conforme o ramo do direito. Em direito comercial o costume tem considerável importância. Já no direito penal, o costume, com força de lei, é radicalmente proibido. Segundo o código penal, não há crime sem lei anterior que o defina. Dessa maneira, ninguém pode ser criminalmente condenado por ter desrespeitado apenas um costume. JURISPRUDÊNCIA Jurisprudência é o conjunto de decisões judiciais reiteradas (repetidas) sobre determinadas questões. A jurisprudência é dinâmica: vai-se formando a partir das soluções adotadas pelos órgãos judiciais ao julgar casos jurídicos semelhantes. Ao longo do tempo, o sentido dos julgados varia, adequando o direito à s mudanças histórico-siciais. Além disso, conforme a situação, não há consenso dos julgados, mas apenas uma tendência que vai formando uma jurisprudência dominante. DOUTRINA JURÍDICA A doutrina jurídica é o conjunto sistemático de teorias sobre o direito elaborado pelos juristas. A doutrina é produto da reflexão e do estudo que os grandes juristas desenvolvem sobre o direito. Assim como ocorre com a jurisprudência, a doutrina é dinâmica e em muitas situações, permite enfoque plural. Página 18 de 35 PRINCIPAIS RAMOS DO DIREITO O direito pode ser dividido em dois ramos básicos: Direito Público e Direito Privado. Essa famosa classificação do direito já era, de certa forma, conhecida na antiga Roma. Podemos conceituar esses dois ramos do direito, basicamente, do seguinte modo: Direito Público – regula os interesses predominantes da sociedade, considerada como um todo. Nas relações de direito público, o estado participa como sujeito ativo (titular do poder jurídico) ou como sujeito passivo (destinatário do dever jurídico), mas sempre como órgão da sociedade e, portanto, sem perder a posição de supremacia ou poder de império. Exemplo: Cobrança de impostos, ação criminal, matéria constitucional etc. Direito Privado – regula as relações entre particulares. Nas relações jurídicas de Direito Privado, o Estado pode participar como sujeito ativo ou passivo, em regime de coordenação com os particulares, isto é, dispensando sua supremacia ou poder de império. Exemplo: locações de bens, cobrança de dívidas, casamento etc. Na verdade, não existe uma diferença tão rígida entre Direito Público e Direito Privado. Entre os juristas que se dedicam ao tema há muita controvérsia sobre os critérios satisfatórios para se delimitar, com exatidão as fronteiras entre esses dois ramos. De modo geral, podemos agrupar os princípios ramos do direito da seguinte maneira, com base na distinção entre Direito Publico e Privado. NOÇÃO GERAL DOS RAMOS DO DIREITO DIREITO PÚBLICO Direito Constitucional – regula a estrutura básica do Estado fixada na constituição, que é a lei suprema da Nação. Direito Administrativo – regula a organização e funcionamento da administração Pública e dos órgãos que executam serviços públicos. Direito Penal – regula os crimes e contravenções, determinando as penas e medidas de segurança. Direito Tributário – é o setor do direito financeiro que se ocupa dos tributos, como, por exemplo, os impostos e as taxas. Direito Processual – regula as atividades do poder judiciário e das partes em conflito no decorrer do processo judicial. Direito Internacional Público – regula as relações entre estados, por meio de normas aceitas como obrigatórias pela comunidade internacional. Página 19 de 35 DIREITO PRIVADO Direito Civil – Regula de um modo geral, o Estado e a capacidade das pessoas e suas relações no que se refere à família, às coisas (bens), às obrigações e sucessão patrimonial. Direito Comercial – regula a prática de atos mercantis pelo comerciante e pelas sociedades comerciais. Direito do Trabalho – regula as relações de trabalho entre empregado e empregador, preocupando-se, ainda, coma condição social dos trabalhadores. Direito do Consumidor – regula as relações jurídicas entre fornecedor e consumidor. Direito Internacional Privado – regula os problemas particulares ocasionados pelo conflito de leis de diferentes países. A NORMA JURÍDICA NOS PLANOS DA VALIDADE, EXISTÊNCIA E EFICÁCIA Segundo assevera TÉRCIO SAMPAIO FERRAZ JUNIOR, a questão da validade jurídica das normas e do próprio ordenamento jurídico é uma questão de zetética, logo, uma questão aberta. Do ângulo dogmático, porém, é uma questão fechada, portanto, diferente, pois não se pergunta que é validade e como se define, mas sim, busca-se identificar a validade das normas dentro de um dado ordenamento jurídico. A doutrina aponta, com base em Kelsen, a existência de duas teorias que têm lugar conforme o conhecimento jurídico-científico dirija-se às normas que devem ser aplicadas ou aos atos de produção e aplicação, quais sejam: a teoria estática e a teoria dinâmica. Para a primeira, o Direito afigura-se um sistema de normas, estudado em seu estado de repouso. As normas de direito positivo são confrontadas entre si, numa unidade coerente e sistemática, sob o enlace dedutivo de preceitos normativos e da norma básica, mostrando o uno (sistema) no múltiplo (pluralidade de normas). Para a teoria dinâmica, o Direito é estudado em movimento, tendo por objeto o processo jurídico em que é produzido e aplicado, só interessando à CiênciaJurídica os atos de produção e aplicação do Direito, enquanto formam o conteúdo das normas jurídicas. HANS KELSEN situa os fatos e acontecimentos da vida no campo ontológico do ser, ao passo que a norma, que empresta ao fato o caráter de ato jurídico ou antijurídico quer significar algo que deve ser. Diz KELSEN que, "Com o termo ‘norma’, se quer significar que algo deve ser ou acontecer, especialmente que um homem se deve conduzir de determinada maneira”. (24) O ato de vontade, segundo a ótica kelseniana, fixa a norma e quando dirigido como um comando regulador da vontade de outrem estabelece um "dever ser", uma prescrição. Página 20 de 35 Considerando que a norma resulta da emanação da vontade de seu criador ou constituinte, conclui-se que esta norma manifesta-se como o sentido subjetivo dos atos que a prescrevem. E nessa ótica vem a afirmativa de que "o sentido subjetivo de um ato humano dirigido à conduta de outrem só é interpretado como o sentido objetivo desse ato se for uma norma válida”. PLANO DA VALIDADE Na visão da dogmática jurídica, uma norma, para ser válida, deve primeiramente estar integrada no ordenamento jurídico, onde se cumprirão seus processos de formação e produção, em conformidade com as diretrizes e requisitos do próprio ordenamento. "Cumprido esse processo", diz TERCIO SAMPAIO FERRAZ JUNIOR, "temos uma norma válida." (...) "Sancionada a norma legal, para que se inicie o tempo de sua validade, ela deve ser publicada. Publicada a norma, diz-se, então, que a norma é vigente. (...) Vigente, portanto, é a norma válida (pertencente ao ordenamento) cuja autoridade já pode ser considerada imunizada, sendo exigíveis os comportamentos prescritos”. Mas não é este o único sentido que se atribui à validade da norma. LUIZ ANTONIO RIZZATTO NUNES, assevera que a validade tanto pode referir-se ao aspecto técnico-jurídico ou formal quanto ao aspecto da legitimidade. "No primeiro caso, fala-se de a norma jurídica ser válida quando criada segundo os critérios já estabelecidos no sistema jurídico (...). No outro, fala-se do fundamento axiológico, cuja incidência ética seria a condição que daria legitimidade à norma jurídica, tornando-a válida”. Induzem à reflexão as ponderações lançadas por REINALDO DE SOUZA COUTO FILHO, ao dizer que no ordenamento jurídico nacional, a validade de uma norma jurídica depende do critério adotado pelo titular do Poder Constituinte, seja originário ou derivado, não pelo jurista que representa apenas um agente interpretador dos critérios de validade adotados pela norma jurídica, sem qualquer poder real de criação do Direito. Segundo o autor, os que têm uma visão do Direito como linguagem afirmam que o jurista tem um papel fundamental no preenchimento do conteúdo semântico de uma norma, mas, ainda assim, o mesmo não tem o poder de criar, pois ninguém nega que o Direito, hodiernamente, se origina basicamente do Estado. E complementa: "A validade da norma jurídica pode ser vista como o vínculo estabelecido entre a proposição jurídica, considerada na sua totalidade lógico-sintática e o sistema de Direito posto, de modo que ela é válida se pertencer ao sistema, mas para pertencer a tal sistema dois aspectos devem ser observados: a adequação aos processos anteriormente estabelecidos para a criação da proposição jurídica (exceto no caso da recepção pela Constituição) e a competência constitucional do órgão criador. Por isso, o jurista não tem o condão de criar uma norma jurídica válida. No mesmo diapasão, que vincula a validade da norma à condição de emanar de uma autoridade superior e mediante o processo legislativo próprio, Página 21 de 35 é o ensinamento de MIGUEL REALE, quando afirma: "Para empregarmos uma expressão popular, densa de significado, a primeira impressão que nos dá a lei é de algo feito ‘para valer’, isto é, de uma ordem ou comando emanado de uma autoridade superior.” NORBERTO BOBBIO, ao tratar da solução dos conflitos gerados pela antinomia de duas normas válidas, aponta a existência de quatro âmbitos distintos de validade da norma jurídica: temporal, espacial, pessoal e material. Este mesmo entendimento é esposado por ANDRÉ FRANCO MONTORO, quando afirma que "Toda norma jurídica tem, assim, um âmbito temporal, espacial, material e pessoal, dentro dos quais ela tem vigência ou validade”. PAULO DE BARROS CARVALHO situa a questão da validade como relação de pertinência da norma com o sistema e assevera: "Se partirmos do postulado segundo o qual o sistema é formado pelo conjunto das normas válidas, a validade passou a ser critério indispensável para pensar-se o sistema de direito positivo. Mas os conceitos fundantes são sempre de difícil delimitação e a validade experimenta forte instabilidade significativa entre os vários modelos conhecidos. Daí porque Diego Martin Farrell declare que ‘Las normas jurídicas se consideran válidas cuando concuerdan con el critério adoptado por el jurista. Puede decirse, entonces, que la validez no es una propiedad de las normas, sino una relación entre la norma y el criterio elegido: cuando la norma se ajusta al criterio se la considera válida”. E conclui PAULO DE BARROS CARVALHO: “... ao dizermos que uma norma ‘n’ é válida, estaremos expressando que ela pertence ao sistema ‘S’. Ser norma é pertencer ao sistema, o ‘existir jurídico específico’ a que alude Kelsen". Assim, para que uma norma possa ser considerada válida é necessário, primeiramente, que tenha integrado o ordenamento jurídico vigente, através de processo legítimo de criação normativa. PLANO DA EXISTÊNCIA OU VIGÊNCIA Segundo KELSEN, "com a palavra ‘vigência’ designamos a existência específica de uma norma. Quando descrevemos o sentido ou o significado de um ato normativo dizemos que, com o ato em questão, qualquer conduta humana é preceituada, ordenada, prescrita, exigida, proibida; ou então consentida, permitida ou facultada. Se, como acima propusemos, empregarmos a palavra ‘dever ser’ num sentido que abranja todas estas significações, podemos exprimir a vigência (validade) de uma norma dizendo que certa coisa deve ou não deve ser, deve ou não ser feita". Há outras considerações importantes lançadas pelo notável autor alemão, para explicitar que a existência de uma norma positiva torna-se autônoma e independente em relação à existência da vontade que a criou, afirmando KELSEN que, em verdade, quando a norma entra em vigor, o ato de Página 22 de 35 vontade de seu instituidor já deixou de existir. (36) A norma, portanto, expressa sua força e impõe a conduta, mesmo que seu instituidor já não queira que isso ocorra e continua valendo mesmo quando este já não mais figure no rol dos vivos. A propósito, segundo KARL LARENZ, "a teoria ‘objectivista’ da interpretação afirma não apenas que a lei, uma vez promulgada pode, como qualquer palavra dita ou escrita, ter para outros uma significação em que não pensava o seu autor – o que seria um truísmo -, mas ainda que o juridicamente decisivo seja, em lugar do que pensou o autor da lei, uma significação ‘objectiva’, independente dele e imanente à mesma lei. Com o que se sustenta, antes de tudo, que há uma oposição fundamental entre a interpretação jurídica e a histórico-filosófica. Enquanto esta procura descobrir nas palavras o sentido que o autor lhes ligou, o fim da interpretação jurídica será patentear o sentido racional da lei olhada como um ‘organismo espiritual’, no dizer de Kohler. As opiniões e intenções subjectivas do legislador, dos redactores da lei ou das pessoas singulares que intervieram na legislação, não têm relevo; a lei é ‘mais racional’ do que o seu autor e, uma vez vigente, vale por si só." Para PAULO DE BARROS CARVALHO, "Viger é ter força para disciplinar, para reger, cumprindo a norma seus objetivos finais. A vigência é propriedade das regras jurídicas que estão prontas para propagar efeitos, tão logo aconteçam,no mundo fático, os eventos que elas descrevem. Há normas que existem e que, por conseguinte, são válidas no sistema, mas não dispõem dessa aptidão. A despeito de ocorrerem os fatos previstos em sua hipótese, não se desencadeiam as conseqüências estipuladas no mandamento. Dizemos que tais regras não têm vigor, seja porque já o perderam, seja porque ainda não o adquiriram". Pode-se de tais excertos inferirem, portanto, que o termo "vigência" traduz a existência específica de uma norma e que não se confunde com validade. Uma norma pode ser válida, se regularmente completou o processo de integração ao ordenamento jurídico, cumprindo os requisitos de produção para que sua gênese atendesse às exigências do ordenamento, mas pode ainda não ser vigente, por depender da verificação de condição suspensiva ou de vacância, ou mesmo ter tido sua vigência exaurida ou encerrada. Ao contrário, toda norma vigente haverá que ser necessariamente válida, posto que a validade seja sinônimo de integração ao ordenamento, que por sua vez é pressuposto para a vigência. Da mesma forma, uma norma pode ter vigência, mas não ser dotada de eficácia, posto que vigência e eficácia também constituem características diferentes da norma jurídica. A vigência de uma norma pode ser temporária ou indeterminada, conforme disponha o seu instituidor no momento da elaboração. Se fixado um período delimitado de vigência, esta cessará ao término do mesmo, quando chegará ao seu termo final. Na ausência de fixação de prazo de vigência, presume-se a indeterminação. Página 23 de 35 A vigência também poderá ser obstada pela ocorrência de revogação, seja na hipótese de ab-rogação (supressão total da norma anterior), ou derrogação (supressão parcial da norma anterior). No primeiro caso a norma perde seus efeitos totalmente, enquanto que, no segundo, apenas em relação à parte regulada por nova lei ou cujos efeitos tenham sido expressamente revogados. Dependendo, ainda, no momento em que a norma ingressa no mundo jurídico ou faz incidir seus efeitos, poderemos falar em vigência imediata, vigência futura, ou mesmo em vigência retroativa, que se dá quando as disposições da norma jurídica alcançam um fato ocorrido no passado. O ordenamento pátrio aceita a retroatividade da norma, em certos casos. A regra, entretanto, é que a norma em vigor tem efeito imediato e geral, valendo para o futuro, respeitados o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada. PLANO DA EFICÁCIA Quando falamos em eficácia da norma, devemos tomar a expressão em dois sentidos, que são a eficácia social e a eficácia jurídica. A eficácia social, segundo JOSÉ AFONSO DA SILVA, "designa uma efetiva conduta acorde com a prevista pela norma; refere-se ao fato de que a norma é realmente obedecida e aplicada; nesse sentido, a eficácia da norma diz respeito, como diz Kelsen, ao ‘fato real de que ela é efetivamente aplicada e seguida, da circunstância de uma conduta humana conforme a norma se verificar na ordem dos fatos’. É o que tecnicamente se chama efetividade da norma. Eficácia é a capacidade de atingir objetivos previamente fixados como metas". Tratando-se de normas jurídicas, complementa o autor, a eficácia consiste na capacidade de atingir os objetivos nela traduzidos, que vêm a ser, em última análise, realizar os ditames jurídicos objetivados pelo legislador. Por isso é que se diz que a eficácia jurídica da norma designa a qualidade de produzir em maior ou menor grau, efeitos jurídicos, ao regular, desde logo, as situações, relações e comportamentos de que cogita; nesse sentido, a eficácia diz respeito à aplicabilidade, exigibilidade ou executoriedade da norma, como possibilidade de sua aplicação jurídica. MARIA HELENA DINIZ aponta a seguinte distinção: "Como se vê, a eficácia é condição da validade. A eficácia de uma norma consiste em que esta é, em geral, efetivamente cumprida e, se não cumprida, é aplicada. A validade consiste em que a norma deve ser cumprida, ou, se não o for, deve ser aplicada. Assim, se uma norma proíbe matar animal de uma certa espécie, ao ligar a tal matar uma pena como sanção, perderia sua validade se aquela espécie de animal desaparecesse e, por conseguinte, não fosse possível nem o cumprimento nem a aplicação da norma jurídica." Página 24 de 35 Vigência, validade e eficácia, portanto, podem até interagir no que diz respeito à norma, mas constituem qualidades distintas da mesma e não precisam necessariamente coexistir em todas as hipóteses. Tanto é assim que uma norma pode ser válida, vigente e eficaz; pode ser válida e vigente e não ter eficácia; pode ser válida e não possuir vigência nem eficácia, como também pode apresentar-se destituída de todas essas qualidades, não possuindo validade, nem vigência, nem eficácia. Assim, por exemplo, se uma determinada norma, editada segundo o processo técnico-normativo, portanto válida, devidamente sancionada e publicada, logo vigente, que disponha que todos os carros deverão possuir obrigatoriamente um determinado item de segurança, que por força da quebra ou desativação da única indústria que o produzia, deixou de existir no mercado, será ineficaz quanto a esta imposição. HANS KELSEN assinala que uma norma jurídica é considerada como objetivamente válida apenas quando a conduta humana que ela regula lhe corresponde efetivamente, pelo menos numa certa medida e que, se uma norma nunca é aplicada nem respeitada em parte alguma, não será considerada como norma válida. Contra esta assertiva insurge-se FERRAZ JUNIOR, para quem a ineficácia de uma norma, faltando-lhe o mínimo de eficácia a que se refere Kelsen, nem assim deixaria de ser válida, posto que a norma editada validamente entrou para o ordenamento jurídico, ainda que nunca tenha produzido efeitos. Lembra, ainda, que a eficácia social ou efetividade de uma norma não se confunde com sua observância, já que há normas que nunca são obedecidas e mesmo assim guardam relevância social. As que não são observadas por longo tempo caem no desuso, podendo falar-se na perda de seu sentido normativo, mas não da validade. A eficácia, no sentido jurídico, diz respeito com a capacidade da norma de produzir efeitos. Essa capacidade possui uma larga faixa de incidência, podendo ser total ou parcial e, ainda, cabendo falar-se em normas que são apropriadas a produzir efeitos mais ou menos intensos e relevantes. Em sede de Direito Constitucional, costuma-se dizer que a eficácia social precede a eficácia jurídica, pois uma constituição que não atende aos anseios de seu povo e não merece observância jamais chega a ser respeitada como uma Lei Maior. No campo das legislações ordinárias, entretanto, ocorre o inverso, a nosso ver. Só após integrar o ordenamento jurídico e tornar-se apta a produzir efeitos, logo, dotada de validade, vigência e eficácia, é que uma lei poderá passar pelo crivo da observância social, para ter eficácia social. Neste caso, a eficácia jurídica é que precede à social. Finalmente, a eficácia de uma norma pode ainda sofrer limitações ou mesmo depender de outra norma para se realizar. É o caso das normas de Página 25 de 35 eficácia limitada ou de eficácia contida, que a despeito de erigirem previsão de conduta, asseveram que determinado conceito ou fator será ditado por norma complementar, ou nos termos da lei, quando a lei ainda não foi editada. Obviamente, por estar umbilicalmente dependente da validade, qualquer fator externo que alcance a norma para invalidá-la ou obstar seus efeitos, total ou parcialmente, como ocorre nos casos de revogação, declaração de inconstitucionalidade ou suspensão de efeitos por liminar dotada de amplitude erga omnes, atingirá na mesma intensidade a sua eficácia. RELAÇÃO ENTRE NORMA E SANÇÃO Os autores, como Kelsen, da segunda fase, que sustentam esta ligação, são obrigados a reconhecer uma distinçãoentre normas independentes (que prevêem a sanção) e dependentes (que tem a sanção em outra norma). Esta distinção tem dois defeitos: primeiro, ela confunde as relações entre as normas num “sistema” (de validade) com as “conexões” entre elas, independentemente do sistema (conexão entre a previsão de uma conduta com a previsão de sanção para o comportamento contrário); segundo, ela acaba por sustentar que na sanção está a causalidade genética do direito, o que nos conduz a dificuldades no sentido de se distinguir entre normas jurídicas e normas que representam uma ordem particular e sem caráter geral, como a ordem de um bandoleiro, que ameaça sua vítima, para que lhe entregue algo. Assim, por exemplo, Kelsen, depois de reconhecer a sanção como elemento essencial da norma e de distinguir entre normas independentes e dependentes, acaba por recorrer a uma norma última, hipotética, não sancionadora, que deve fundar toda a ordem jurídica. Podemos reconhecer que uma das características da norma jurídica está em que nelas a sanção é sempre prevista ou por ela mesma ou por outra norma, sem que isto nos obrigue a afirmar que na sanção esteja à causalidade genética do direito. A ameaça de sanção aparece na norma ao nível do relato. Assim, uma norma prescreve: “é obrigatório cumprir o contrato”, o conteúdo do relato é “cumprir o contrato”, cuja negação interna é “não cumprir o contrato”, que seria condição de aplicação de uma prescrição de sanção: “é obrigatório pagar a multa”. Note-se que, na prescrição da sanção, “pagar multa” é o conteúdo do relato da norma sancionadora. Assim, tanto a norma que manda cumprir o contrato, como a que manda pagar a multa, definem relações meta- complementares, de autoridade e sujeito, o que se determina através dos operadores ou funtores, mas não pelo conteúdo do relato. Em outras palavras, a relação meta-complementar não é constituída pela sanção, mesmo numa norma que se esgote em prescrevê-la. Na realidade, a ameaça de sanção faz parte da norma no seu aspecto dialógico e não no seu aspecto monológico. Neste sentido, ela é argumento de persuasão, consistindo para o endereçado – o sujeito normativo- a autoridade. Página 26 de 35 Em determinadas circunstâncias. Trata-se, pois, de elemento de ligação para o controle de um discurso superveniente: dado um comportamento do sujeito, seguir-se-à uma reação do editor, que pode ser a aplicação da sanção, ou novo procedimento discursivo, que levará àquela aplicação ou ainda à edição de nova norma, este último caso, como observa Capella, ocorrendo com freqüência nas transgressões do direito internacional. Isto é, se tomamos um contrato em que A esteja obrigado a pagar 1.000 a B e B a entregar X a A, o que chamamos de aspecto-cometimento meta- complementar da norma, não é a relação entre A e B, mas a que ocorre entre ambos e o editor da norma contratual que eventualmente são os próprios sujeitos, mas enquanto assumem, graças a uma norma permissiva, a posição de editores (autonomia privada). Ou seja, entre as partes contratantes pode haver uma relação de simetria que, como tal, não é jurídica, mas, em face da norma contratual que os une, se torna jurídica. A questão da validade das nos jurídicas é tema de muitas facetas. Nele estão implicados problemas relativos ao fundamento da ordem jurídica, que relevam, por sua vez, discussões em torno dos conceitos de legalidade e legitimidade. Validade também se toma no sentido de afetividade, de cumprimento e de aplicação das normas. Não se podem esquecer ainda as discussões em torno da validade, como termo primitivo da lógica deôntica, ou as especulações sobre o sentido lógico-transcendental do valer como categoria básica do pensar normativo. A Dogmática Jurídica costuma assumir o termo nas suas implicações práticas, girando suas discussões em torna da capacidade de norma em resolver tais e tais conflitos, criando-se, então conceitos como direito vigente, direito eficaz, normas em vigor, suspensão da vigência, da eficácia, que procuram enquadrar questões como a do âmbito de aplicação, retroatividade e irretroatividade, nulidade e anulabilidade, etc. É verdade que o objetivo temático de nossa análise cumpre já uma função limitadora. Estamos interessados na norma como discurso normativo. Isto nos obriga de princípio, a discutir a validade como uma qualidade lingüística do discurso. Não se trata, porém, de opção meramente epistemológica, ditada pelo ângulo da abordagem. Capella observa que os fatos reais, em razão dos quais predicamos “validez” das normas jurídicas, têm a peculiaridade de ser fatos relativos a linguagem. Assim, “vermelho” ou “quente” são predicáveis a objetos cuja matéria não é linguagem. Ao contrário, “ter sílabas” é predicável a objetos cuja “matéria” é linguagem. Isto significa que a própria linguagem, além de ser veículo de expressão, pode ser ela própria objeto. Distinguimos, pois entre entidades não-lingüísticas (a casa é vermelha), entidades lingüísticas (“vermelho” é uma palavra) e propriedades de relações entre entidades lingüísticas (“vermelho” tem três sílabas). Neste último caso, está “validade”, termo que se refere a propriedades de entidades lingüísticas. É claro que isto pressupõe que as normas jurídicas, que são válidas ou inválidas, sejam entidades lingüísticas. Para Ross, a norma é um “diretivo” que se encontra em relação de correspondência com certos fatos sociais. Para designar esta relação de correspondência, utiliza-se ele do termo “validade”. “Validade” distingue-se da Página 27 de 35 mera “regularidade” do comportamento referido, isto é, norma “válida” não é, necessariamente, aquela que é “regularmente” obedecida, mas a que é obedecida com consciência de seguir uma regra e da obrigação de fazê-lo assim. Ross fala em “experiência de validade”. Esta “experiência” qualifica peculiarmente a norma, podendo haver casos em que diretivos são obedecidos – por medo de sanção, por oportunismo – sem que se os considerem normas “validas”. Não se trata de uma relação entre a norma e a realidade jurídica, as da relação entre a norma e o aparelho sancionador: normas são regras sobre o uso da sanção, donde a norma “válida” ser aquela que prevê a atividade da “maquinaria jurídica”. Enquanto na discussão, no exemplo da hipótese científica, a manutenção das regras do diálogo implica uma prontidão do orador para modificar as suas asserções primárias, correlata do comportamento crítico do ouvinte homólogo em conceder ao orador a possibilidade de retomar a experiência fracassada, na discussão contra, de estrutura em princípio dialógica, pode ocorrer uma passagem para a estrutura monológica (como é o caso da norma jurídica), que implica uma recusa em modificar as asserções primárias, mesmo quando o decurso da discussão parece exigi-lo. Isto é já intuitivo quando vemos que uma norma jurídica é válida, mesmo que desrespeitada. A imunização do discurso normativo jurídico se caracteriza por ser conquistada a partir de outro discurso normativo, o que faz da validade uma relação pragmática entre normas, em que uma imuniza a outra contra as reações do endereçado, garantindo-lhe o aspecto-cometimento meta complementar. Isto é, cada norma, através dos funtores, define a relação entre orador e ouvinte, consideramos válida a norma, cujo aspecto-cometimento não apenas está definido como meta-complementar, mas está imunizado contra críticas através de outra norma. Se um ladrão, numa rua escura, exige de alguém o seu dinheiro, dizendo: “passa-me a carteira”, o funtor no caso - você está obrigado a passar-me a carteira – define a relação como complementar (o ladrão, nas condições, se determina como superior ao endereçado, podendo ameaçá-lo, inclusive com sanção). Mas a esta norma falta a relação de imunização, que não se funda na capacidade do ladrão de ameaçar com sanção, mas no caráter atribuído ao editor de autoridade. O ladrão é superior(pois pode usar de violência), mas não é autoridade, posição que, inclusive, excluí o uso da violência e não admite argumentação. Na teoria jurídica encontramos dois conceitos diferentes relacionados à afetividade das normas, que nem sempre são usados com a devida especificação. Do ângulo lingüístico, podemos dizer que há concepções meramente sintáticas da efetividade, caso em que a doutrina usa, embora com certa indecisão, o termo eficácia, no sentido de aptidão para produzir efeitos jurídicos por parte da norma, independentemente da sua efetiva produção. Chamemos esta noção de sintática, no sentido de que a efetividade está ligada à capacidade de o relato de uma norma dar-lhe condições de atuação ou depender de outras normas para tanto. Por outro lado, há concepções meramente semânticas da efetividade, como encontramos em Kelsen, segundo as quais a norma efetiva é a cumprida e aplicada concretamente em certo grau. Chamemos esta noção de semântica, no sentido de que se estabelece como Página 28 de 35 critério a relação entre o relato da norma com o que sucede na realidade referida. O problema da imperatividade é um dos mais complexos da literatura jusfilosófica. Com ele pisamos no controvertido chão do fundamento da validade, isto é, do caráter vinculatório das normas jurídicas. Na verdade, qualquer tentativa de fundar a imperatividade das normas jurídicas exige a presença de proposições das quais ela decorra. Se o discurso normativo fosse do tipo discussão, seria possível contentar-se com a consistência das conexões dedutivas, o que excluiria a indagação da imperatividade das próprias premissas, pois isto seria exigir proposições capazes de dizer algo sobre si próprias, o que nos poria dentro de uma antinomia semântica. A fundamentação de uma decisão tem uma função diferente da fundamentação de uma hipótese científica. Enquanto esta visa a produzir no ouvinte um sentimento de convicção, que se funda na verdade, a fundamentação do discurso-contra não exige que o ouvinte se renda, mas apenas que este reconheça que o autor da fundamentação está seguro do que diz (fundamentação persuasiva), donde ser função da fundamentação de uma decisão constituir um elemento de ligação e de controle de uma discussão superveniente, ou seja, fornecer indicações para o seu comportamento (por exemplo, numa decisão judicial, se desta deve ou não ser recorrida). Daí decorre para o problema da imperatividade esta situação paradoxal, que exige, não só a demonstração do caráter vinculatório das normas, mas das próprias premissas em que nos apoiamos. Normas são entendidas como discursos, portanto, interações em que alguém dá a entender a outrem alguma coisa, fixando-se, concomitantemente, a relação entre quem fala e quem ouve. Do ângulo da pragmática, é importante esta concepção do discurso como relação entre orador e ouvinte, enquanto mediados por mensagens. Os discursos normativos constituem um sistema interacional no sentido de que comunicadores normativos estão, ao falar, num processo constante de definição das suas relações, que determinam as suas falas como quaestiones. Note-se que normas não se confundem com os seus relatos, mas incluem os cometimentos. Normas jurídicas são discursos heterológicos, decisórios, estruturalmente ambíguos, que instauram uma meta- complementaridade entre orador e ouvinte e que, tendo por quaestio um conflito decisório, o solucionam na medida em que lhe põem um fim. Assim, o objeto dos sistemas normativos são normas (especificadas por seus atributos: validade e efetividade). O que dá a coesão do sistema, como um todo, são as relações entre elas. As relações são de imunização contra certas reações dos endereçados e de produção de certas reações (exigência e obediência). As relações, por sua vê, são reguladas por certas regras que dão ao sistema o seu parâmetro: imperatividade. O sistema normativo jurídico é do tipo aberto, estando em relação de importação e exportação de informações com outros sistemas (o dos conflitos Página 29 de 35 sociais, políticos, religiosos, etc.), sendo ele próprio parte do subsistema jurídico (que não se reduz a normas, mas incorpora outros modos discursivos). Concluindo-se com Capella que o critério de validade de uma norma é a efetividade e não a validade da norma que regula o ato de sua edição. É possível reconhecer que a inefetividade da norma derivada afeta a efetividade da norma-origem no sentido de que o sistema, globalmente, modifica a sua regulagem chegando até o clímax de uma nova situação ou novo estado. Em primeiro lugar, conforme as noções de validade/invalidade distinguem dois tipos básicos de normas: normas-origens e normas-derivadas. As origens são normas que guardam eventualmente, entre si, relações de invalidade, mas que, em si, não são nem válidas nem inválidas, mas apenas, efetivas, conforme as regras de calibração do sistema. As normas derivadas são, em relação às suas normas-origens, normas válidas, podendo ser inválidas em relação a outras normas-origens; em si, elas são efetivas ou infetivas. Enquanto a validade das normas derivadas não depende da sua efetividade das suas normas derivadas. Isto explica que, entre validade e efetividade, haja certa independência e certa dependência. Assim, uma norma derivada que é inefetiva não perde, por isso, a sua validade, mas, como isto, afeta a efetividade da norma-origem, ela pode tornar-se inválida em função da ivefetividade de sua norma-origem. Por último, a questão da legitimidade surge diante do caráter ideológico da própria calibração jurídica. O problema no contexto pragmático em que examinamos a norma jurídica refere-se não ao modo como o sistema normativo estabelece a sua imperatividade, mas a justificação do próprio modo como isto é feito. Numa linguagem icônica, quando fala em vontade mais forte e mais fraca, contribuindo, no contexto, para derivações patéticas e românticas. Apesar disso, em torno destas derivações muita tinta correu nos tinteiros doutrinais, aparecendo questões em larga escala que, assumindo o termo vontade numa forma hipostasiada de coisa, de algo que se tem, propuseram de modo equívoco o problema do endereçado da norma (os cidadãos? Um grupo? Os aplicadores?) – ma também do editor normativo (o povo? Seus representantes? Grupos de pressão?), do conceito de soberania (vontade última? Regulada?) de interpretação (vontade da lei? Do legislador?), etc. o modelo, além disso, tem que se haver com casos que parecem escapar-lhe como, por exemplo, os das declarações de princípios constantes nas modernas constituições, onde o caráter de comando é pouco visível, obrigando a doutrina a distinções do tipo normas primárias e secundárias ou independentes e dependentes, etc. Diz Kelsen, as ciências explicativas são as que tratam do ser, que tem por objeto realidade como ela é. As suas leis são as leis naturais e suas relações respectivas são de casualidade (A será B), necessárias, compondo elos infinitos. Enfim, a sua finalidade é teórica. Voltada pelo intelecto, consistindo na Página 30 de 35 contemplação da essência do objeto. Por outro lado, as ciências normativas tratam do dever ser, tendo por objeto a realidade como deve acontecer. As suas leis (proposições jurídicas) são normas de conduta, sendo as suas relações, pois, de imputação (se A deve ser B), obrigatórias, compondo elos finitos. A sua finalidade é pratica, voltada para a analise da ação humana dotada de vontade. Do exposto, advém que o direito é uma ciência normativa. A NORMA COMO OBJETO DA CIÊNCIA Kelsen faz um recorte epistemológico estabelece a norma como objeto da ciência do direito. Teoria Pura do Direito é a teoria pura do direito positivo. Expurgados os elementos meta jurídicos, excluídos conceitos indeterminados e juízos de valor, limitam a Jurisprudência à incidência de sua visualização às condições de validade e às relaçõeslógicas entre conceitos de natureza formal. Afirmada, pois, a cientificidade do Direito pela sua intencionalidade, pelo seu método e pelo seu objetivo. A ciência do Direito é uma atividade descritiva, cuja função é a de enunciar as normas jurídicas positivas, através da formulação de propostas jurídicas. No que tange à norma jurídica positiva, objeto da ciência jurídica temos que ela se apresenta como um esquema de interpretação e como um sentido de dever ser. Os fatos realizam-se no tempo e no espaço. Contudo, eles por si mesmos, como fatos da natureza, não tem uma significação jurídica. A norma positiva é que lhes da uma coloração jurídica, um sentido jurídico, transformando-os em fatos jurídicos (lícitos ou ilícitos). Tomando o exemplo de um homem que se encontre sob a mira de uma arma em um batalhão, temos que o fato por si só não se explica. Tanto pode se tratar-se de um homicídio, quanto de uma execução de sentença. A única atitude hábil para solucionar a questão é recorrer ao ordenamento jurídico. Neste sentido, o juízo em que se enuncia que um ato de conduta humana constitui um ato jurídico ou antijurídico é o resultado de uma interpretação normativa. Por outro lado, funciona a norma jurídica positiva como um sentido objetivo de dever ser oriundo de um ato de vontade, dirigido à vontade de outrem, isto é, como um mandamento vinculativo da conduta de outrem. O Direito é um sistema de normas que regula a conduta humana. Assim a norma é o sentido de um ato através do qual uma conduta é prescrita, permitida ou facultada. Segundo Kelsen, ser e dever ser são dados aprendidos imediatamente pela nossa consciência. A norma é um dever ser e o ato de vontade de que ele constituiu o sentido de ser. Da circunstancia de algo ser se não segue algo deva ser, assim como da circunstancia de que algo deve ser se não segue que algo seja. Desse modo, de um ser não decorre um dever se, e de um dever ser não decorre de um ser. Um sociólogo afirma que há crime na sociedade, mas o jurista assim não entende. Para esta, do fato de que exista crime na sociedade, Página 31 de 35 não decorre que deva existir. Pelo contrario, embora exista crime na sociedade, não deveria existir. Mas, observe-se, o dever ser não é completamente independente de um ser. O estabelecimento de uma norma efetiva-se sob o pressuposto de que seja possível um ser a ela correspondente. A conduta devida na norma e a existente na realidade são coisas diferentes, mas algo que é pode corresponder a um dever ser (substrato modalmente indiferente). A divisão do dever ser em dever ser em sentido subjetivo e dever ser em sentido objetivo. O primeiro diz respeito ao ato de vontade de um indivíduo que visa à conduta de outro. Seu único fundamento é à vontade de que impõe a realização do ato, revelando arbítrio. Este dever-ser não é vinculativo. Um ladrão que me ordena que entregue meu dinheiro não deva esperar de mim o cumprimento de sua ordem, pois esta não contém um fundamento de validade que me obrigue a tal ato. Isso mostra que nem toda ordem é uma prescrição. Por sua vez, no dever ser objetivo, o ato de vontade é qualificado por uma norma objetivamente valida, que tem seu fundamento em um outro dever ser, superior. Assim, a vontade de realização do ato esta fora do sujeito. O fiscal do imposto de renda, então, é um veiculo através do qual se exterioriza a vontade da norma, e uma ordem sua de confisco, por exemplo, deve ser cumprida vez que vinculante. A norma jurídica positiva é um sentido objetivo de dever-ser, que vincula os seus destinatários. Só pode impor uma norma quem esta autorizado por outra norma externa e superior, dentro de limites de competência. Uma norma procede de outra até chegar à constituição. Um dever ser decorre sempre de outro dever ser. Indaga-se, então, de onde vem o fundamento de validade de norma constitucional. A NORMA FUNDAMENTAL A norma fundamental (grundnorm) é o pressuposto de validade objetivo. Trata-se de uma norma fictícia (no sentido da vaihingeriana Filosofia do Como- Se: Contradiz a realidade e a si mesma), pressuposta por um ato de pensamento, pelo intelecto, e não posta por um ato de vontade. É algo sem o que não se explica a ordem jurídica sob a perspectiva cientifica, e as explicações não passariam do aspecto teleológico (causal). Ela existe no ponto onde já não mais cabe indagação acerca da razão da validade. Por isso, “devemos obedecer ao pai da Constituição”. Então, ela representa o supremo fundamento de validade de todas as normas jurídicas que formam o ordenamento jurídico. Deste modo, o fundamento de validade de norma positiva é forma, decorrente da forma de criação; pelo ato de fixação a norma entra em validade, admitindo-se a sua existência. Validade é a especifica existência da norma, no sentido de que deve ser cumprida e aplicada. Não imporá a legitimidade. Pode ser de um ato tirano ou de uma Assembléia, mas deve ser cumprido pelo simples fato de que é valida, isto é, porque existe e a validade de uma norma vai decorrer de outra, que lhe dá fundamento, assim por diante. Página 32 de 35 Uma norma só é considerada objetivamente valida quando a conduta humana por ela regulada lhe é efetivamente correspondente. Disso decorre a eficácia, como aplicação efetiva de atos coativos ou a observância de condutas capazes de ensejar a aplicação dos atos coativos, é condição de validade da norma. Daí que a norma deixa de ser considerada valida quando perde a sua eficácia. Assim como a eficácia é condição de validade, a norma precisa ser valida para ser eficaz (desuetudo). A observância e a aplicação do direito são as medidas de eficácia de ordem jurídica. Verifica-se, a validade da ordem jurídica tem seu fundamento na norma fundamental e, na eficácia, a sua condição de validade. NORMA E VALOR No que se refere à norma, igualmente necessita menção a sua relação com o valor. O valor pode implicar numa apreciação subjetivista, numa idéia de relação sujeito-coisa, num movimento dialético produzindo um conhecimento universal ou valor do objeto em si. Aqui nos interessa este último, relativo à norma jurídica positiva, produzida através de um juízo deôntico, ou seja, relativo a conduta humana, ao modo do dever-ser, e não por um juízo alético (do ser) ou axiológico (do valor). Para a teoria tridimensional, a norma deve pautar-se em um valor, pois o direito visa de modo imediato ao bem social e aos valores de convivência, possibilitando a afirmação de cada ser humano segundo sua virtude pessoal. O direito masca e reflete as tendências do espírito, na tutela e na realização de valores. Em concepção diversa, Kelsen afirma que da norma decorre o valor, e valor não implica uma relação entre realidade e norma, entre ser e dever ser. Valor é a relação de igualdade entre o substrato modalmente indiferente do ser e o substrato modalmente indiferente do dever ser, isto é, uma relação de conteúdos. Desta forma, o juízo de valor que exprime uma relação de uma conduta humana com uma norma presente como válida não se confunde com um juízo de valor subjetivo, que expressa a relação entre dois fatos reais. A norma funciona como um juízo de valor. Uma conduta determinada como devida pela norma pode corresponder a ela ou contrariá-la. Se uma conduta corresponde à norma objetivamente válida, é justa, valiosa, e o juízo segundo o qual uma conduta é como deve ser é um juízo de valor positivo. Contudo, se uma conduta determinada não corresponde ao dever ser, é injusta, desvaliosa, e o juízo de valor respectivo é negativo. Ressalte-se que o juízo de valor deve ser distinguido da norma constitutiva do valor. Os juízos de valor são verdadeiros ou falsos, conforma Página 33 de 35 existam ou não normas correspondentes à conduta real do ordenamento jurídico. A norma em si não é verdadeira ou falsa, mas válida ou não válida, vigente
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