Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
A queda representa uma das grandes síndromes geriátricas e um evento marcante na vida do idoso. Pode potencializar um declínio funcional, constituir uma manifestação de alguma doença ou sinalizar uma patologia aguda. Queda: define-se como o deslocamento não intencional do corpo para um nível inferior à posição inicial com incapacidade de correção em tempo hábil, determinado por circunstâncias multifatoriais e comprometendo a estabilidade. Sua incidência aumenta consideravelmente com a idade, um idoso acima de 65 anos cai pelo menos 1 vez ao ano. A maioria das quedas resulta de uma interação complexa entre diversos fatores que comprometem os sistemas envolvidos com a manutenção do equilíbrio, associando-se a alterações fisiológicas próprias do envelhecimento, condições patológicas, efeitos adversos de medicações ou uso concomitante de medicamentos, riscos ambientais, calçados ou comportamentos inadequados. As consequências, além de escoriações, contusões e possíveis fraturas, incluem o medo de cair, a restrição das atividades e, consequentemente, o isolamento social, o declínio na saúde e o aumento do risco de institucionalização. Além do prejuízo físico e psicológico, provocam um enorme impacto financeiro, aumentando os custos com cuidados de saúde. QUEDAS E FRATURAS As quedas em idosos apresentam consequências graves: fratura, traumatismo cranioencefálico e são responsáveis por admissões na unidade de emergência. – cerca de 95% das fraturas de quadril decorrem de uma queda; - a mortalidade após 1 ano da ocorrência de fratura de fêmur é em torno de 30%, e idade mais avançada e sexo masculino são considerados os grupos de maior risco. Fatores de risco São categorizados como: • Intrínsecos (relacionados ao indivíduo) • Extrínsecos • Modificáveis • Não modificáveis O que permite não só identificar idosos de maior risco, como também aqueles que mais se beneficiaram de intervenções capazes de modificar alguns desses fatores. FATORES INTRÍNSECOS Sociodemográficos: incidência de quedas aumenta com a idade (> 75 anos) e naqueles com história prévia de quedas; Sexo feminino e pele branca – Não modificável Moram sozinhos/tem baixo suporte social – possivelmente modificável Capacidade físico funcional: limitação para atividades de vida diárias, com comprometimento na mobilidade e/ou deficit de marcha caracterizado por redução de velocidade e alteração de equilíbrio; Distúrbios sensoriais e neuromusculares: deficit visual estão associados a quedas. Há maior risco de queda para aqueles com: • Perda de visão/contraste • Redução na percepção de profundidade • Redução de acuidade visual • Diminuição da sensibilidade vibratória e tátil • Redução da força muscular e um maior tempo de reação Fatores psicológicos: • Medo de cair • Deficit de atenção • Comportamento de risco Condições de saúde e doenças crônicas: muitas quedas podem resultar de doenças crônicas ou, ainda, sinalizar a presença de condições agudas. • AVE • Declínio cognitivo • Doença de Parkinson • Depressão • Incontinência urinária • Osteoartrose • Hipotensão postural Medicações Polifarmácia: está associado a desfechos adversos em geriatria, tendo como evento a queda. Geralmente associados a reações Quedas e Fraturas - geriatria adversas das medicações ou a prescrição inadequada. Psicotrópicos: podem predispor quedas por sua ação sedativa e psicomotora • Benzodiazepínicos • Antidepressivos • Antipsicóticos Fatores Extrínsecos Dividem-se em FATORES AMBIENTAIS e RELACIONADOS A ATIVIDADES. Ambientes inseguros, mal planejados, com defeitos de construção ou barreiras arquitetônicas promovem um grande risco. Em idosos, uma grande proporção de quedas acontece em casa e os riscos ambientais estão frequentemente arrolados como causa. A relação entre a capacidade funcional do idoso e o meio em que vive é importante para determinar o risco de cair. Além dos fatores ambientais, outros fatores extrínsecos têm sido avaliados, como: calçados, órteses (óculos) e dispositivos auxiliares de marcha (bengala, andador, muleta) Óculos multifocais podem predispor quedas, já que prejudicam a percepção de profundidade e a sensibilidade de contraste a distância no campo visual inferior, impedindo a detecção de obstáculos. Avaliação do idoso caidor e do risco de cair A admissão do idoso no pronto atendimento por conta da queda pode representar uma oportunidade para identificar idosos de alto risco para eventos e instituir medidas de intervenção. A diretriz de avaliação geriátrica orienta que na avaliação do idoso que se apresenta com queixa de queda no pronto atendimento deve iniciar com a seguinte pergunta: • Se o paciente fosse um jovem de 20 anos saudável, ele teria caído? Se a resposta for “não”, esse indivíduo necessita da avaliação geriátrica ampla direcionada para identificação dos múltiplos fatores de risco para quedas. Abordagem na emergência A anamnese deve ser detalhada e direcionada para a queda. Os dados mais importantes são: local da queda, quedas anteriores, dificuldade para se levantar e tempo que permaneceu no chão, mecanismo de queda, perda de consciência, uso de álcool, capacidade funcional. É importante sempre buscar a identificação de fatores precipitantes ou outros diagnósticos diferenciais que não apenas a perda da homeostase do controle postural. IMPORTANTE: não é recomendado realizar um conjunto de exames complementares para o idoso na emergência em virtude da queda, no entanto, quando possível, é desejável realizar um eletrocardiograma, um hemograma, eletrólitos e nível sérico de medicamentos. Os exames de imagem devem ser direcionados pela clínica. Detectando os fatores relacionados com quedas História Clínica cuidadosa Exame clínico Teste funcional Interações entre os fatores intrínsecos, farmacológicos, ambientais e precipitantes que afetam o risco de queda em idosos Diagnósticos Diferenciais Crise epilética AVE Avaliação físico-funcional Tendo em vista que a etiologia das quedas é multifatorial, com aspectos biológicos, psicológicos e ambientais, admite-se que não exista um único teste físico-funcional capaz de predizer de maneira robusta o risco de queda. Para a avaliação do idoso caidor no pronto atendimento, a diretriz de avaliação geriátrica no departamento de emergência sugere apenas a realização do TUG Apesar da dificuldade de avaliar o medo de cair no ambiente de pronto atendimento, sabe- se que estados de ansiedade e medo de cair têm um impacto no equilíbrio corporal, constituindo-se em fatores que contribuem para o aumento do risco de quedas. Os objetivos da avaliação do paciente que caiu devem ser o tratamento adequado das lesões decorrentes do trauma, o diagnóstico e a intervenção nos fatores predisponentes de quedas e, por fim, a prevenção de complicações da queda e de possíveis futuras quedas. A presença de uma equipe multidisciplinar apresenta um papel importante na avaliação desse idoso. Todos os pacientes admitidos no hospital depois de uma queda deveriam ser avaliados por um fisioterapeuta e/ou um terapeuta ocupacional Estratégias de prevenção de quedas em idosos Testes físico-funcionais Escala de Berg (BBS) Time up and go test (TUG) Five step test Perfomace Oriented Mobility Assessment (POMA) Tendo em vista que quedas em idosos resultam da presença e combinação de diversos fatores de risco, as estratégias de prevenção disponíveis para reduzir a taxa de quedas e suas consequências devem ser direcionadas aos múltiplos fatores identificados por meio de uma avaliação multidimensional. Exercícios: treino funcional ou exercíciosterapêuticos. Devem ser prescritos e supervisionados por um fisioterapeuta/educador físico treinados, com duração miníma de 12 semanas e frequência de 1 a 3 vezes – treino de força, marcha e equilíbrio corporal Ajuste de medicamentos: a prescrição do idoso deve ser revisada periodicamente. Reposição de vitamina D: a vitamina D (colecalciferol) é comum entre os idosos e quando presente se associa a deficit de força muscular e maior risco de quedas. Logo deve-se atentar para o uso em idosos frágeis. Correção de deficit visuais: • Cirurgia de catarata Marca-passo: reduz a taxa de quedas em indivíduos com hipersensibilidade do seio carotídeo que apresentam quedas recorrentes inexplicadas Correção de hipotensão postural: avaliação e tratamento devem ser incluídos como componentes da intervenção multifatorial para prevenir quedas em idosos • Hidratação • Meias elásticas • Cintas abdominais • Controle da HAS Modificações ambientais: avaliação e modificação ambiental para reduzir as taxas de quedas Cuidado com pés e calçados: os idosos devem ser aconselhados a usar sapatos com saltos baixos e alta superfície de contato com o chão
Compartilhar