Buscar

GIL, Antonio Carlos Métodos e técnicas de pesquisa social 7 Rio de Janeiro Atlas 2019

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 5 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

GIL, Antonio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. 7. Rio de Janeiro Atlas 2019.
4. Ética na pesquisa social 
· Ética é um termo derivado do grego ethos, que tem o significado de caráter ou modo de ser. Designa o conjunto de valores morais e princípios que norteiam a conduta humana na sociedade. Refere-se, portanto, a um conceito de natureza essencialmente filosófico.
· Também é utilizado para referir-se à conduta de pesquisadores nas múltiplas etapas do processo de pesquisa.
· Considerando relevância da Ética, elaborou-se o presente capítulo, que é dedicado às principais questões éticas que envolvem a pesquisa social. Após estudá-lo cuidadosamente, você será capaz de:
· ■Reconhecer a importância das considerações éticas na pesquisa social.
· ■Descrever as principais questões éticas na pesquisa social.
· ■Identificar alternativas para superação de questões éticas na condução das pesquisas.
· ■Reconhecer situações que requerem a submissão de projetos a comitês de ética em pesquisa.
4.1 Participação voluntária 
· Considerando esse caráter intrusivo da pesquisa, é preciso garantir que os participantes de um projeto de pesquisa estejam cientes de que sua participação é voluntária e que eles têm a liberdade de se retirar do estudo a qualquer momento, sem prejuízo algum. Assim, se um dirigente de empresa ou um professor solicitar aos seus empregados ou aos seus alunos que preencham um questionário, precisa informar que sua participação é voluntária e que, portanto, os empregados ou os alunos não precisam temer que sua não participação possa prejudicar sua vida funcional ou acadêmica.
· Embora a participação voluntária constitua uma exigência ética, o pesquisador precisa estar consciente de que quando um sujeito selecionado para compor a amostra nega-se a participar, os resultados da pesquisas poderão ficar comprometidos.
4.2 Danos aos participantes
· Transpostos para o campo da pesquisa social, esses dois princípios estabelecem que não pode haver danos aos participantes, independentemente de sua aceitação para participar voluntariamente da pesquisa. É pouco provável que nas pesquisas sociais diferentemente do que ocorre nas pesquisas em saúde – os participantes estejam sujeitos a danos à sua saúde física. Mas é evidente que ao longo de seu curso poderão estar sujeitos a danos psicológicos. Os participantes poderão ser solicitados a fornecer informações acerca de comportamentos reconhecidos como socialmente indesejáveis. Também podem ser solicitados a manifestar que consideram impopulares ou a revelar características pessoais que lhes provocam desconforto, tais como baixos rendimentos, condições precárias de habitação e ocupação de baixo status social (BABBIE, 2017).
· Um exemplo já clássico de danos provocados em participantes de pesquisa social é o da pesquisa conduzida em 1971 pelo psicólogo Philip Zimbardo, conhecida como Experimento da Prisão de Stanford. A experiência consistiu na simulação de uma prisão em que foram atribuídos papéis de guardas prisionais e de prisioneiros a estudantes voluntários, visando estudar os efeitos psicológicos da vida numa prisão.
· Previa-se que o experimento tivesse a duração de quinze dias e que cada participante poderia se afastar do estudo a qualquer momento. O experimento, no entanto, foi interrompido ao fim do sexto dia, porque os participantes começaram a vivenciar seus papéis com tamanha intensidade a ponto de confundir a representação com a realidade vivida e a identificar-se com os personagens que representavam. Alguns estudantes que desempenhavam o papel de guardas tornaram-se violentos, passaram a abusar da autoridade e a humilhar os estudantes que desempenhavam o papel de prisioneiros (HANEY; BANKS; ZIMBARDO, 1973).
· Evidentemente, qualquer pesquisa social envolve algum risco de ferir os participantes. Se, pois, a condução de um projeto de pesquisa tornar provável a ocorrência de efeitos desagradáveis para os participantes, o pesquisador precisa justificar firmemente as razões para fazê-lo. Será necessário demonstrar que os benefícios produzidos pela pesquisa compensem eventuais injúrias aos participantes.
4.3 Anonimato e confidencialidade
· Anonimato e confidencialidade são termos que se referem a conceitos diferentes, mas tendem a ser utilizados de forma intercambiável. Convêm, porém, estabelecer as diferenças entre os dois conceitos.
· O anonimato ocorre quando em nenhum momento o pesquisador ou qualquer pessoa associada ao projeto de pesquisa tem condições de conhecer a identidade dos participantes. Quando ocorre, as informações obtidas não permitem a identificação de quem as forneceu. Isso significa que nenhuma pesquisa em que os dados são obtidos mediante entrevista pessoal pode ser considerada anônima. Já as pesquisas em que os dados foram obtidos mediante questionários enviados pelo correio, por e-mail, ou depositados em urnas podem ser consideradas anônimas.
· Garantir o anonimato é fundamental para obtenção de informações relativas a assuntos que de alguma forma podem constranger os participantes. Como comportamento sexual e uso de drogas. Mas pode-se admitir, também, que muitas pessoas não se sintam à vontade também para informar acerca de seus rendimentos ou das dificuldades com que se deparam no dia a dia em seu trabalho.
· A confidencialidade ocorre quando o pesquisador tem a possibilidade de identificar a pessoa que forneceu as respostas, mas garante que suas informações permanecerão em sigilo. Ou, ainda, que as informações obtidas não serão acessadas por outras pessoas ou instituições, que não serão utilizadas com outras finalidades e que serão protegidas contra falseamento ou perda. Assim, quando a forma adotada para coletar dados não garante o anonimato dos respondentes, o pesquisador deve deixar claro para os respondentes que as informações obtidas serão protegidas pela confidencialidade.
4.4 Engano 
· Há situações em que os pesquisadores preferem não se identificar como tal ou ocultar sua filiação com a instituição que promove a pesquisa. Também há situações em que os pesquisadores deliberadamente fornecem informações falsas ou incompletas aos participantes. A justificativa que esses pesquisadores apresentam é a de que agindo assim os respondentes fornecerão informações mais adequadas.
· Caso o projeto de pesquisa inclua o uso do engano, o pesquisador precisa elaborar cuidadosa justificativa, que demonstre que a pesquisa não pode ser adequadamente conduzida se não envolver a condição de engano. Convêm também, que a justificativa descreva as alternativas ao engano e uma explicação do motivo pelo qual foram rejeitadas. A justificativa deve também esclarecer de que maneira e em que momento ocorrerá a situação de engano. Deverá, ainda, indicar se o engano implica a elevação do risco a que estão sujeitos os participantes. Seria conveniente indicar pesquisas semelhantes em que foi utilizado o engano com a descrição dos danos reais ou reações dos participantes. E também a confirmação de que o projeto atende a todos os requisitos para que os participantes possam renunciar ao consentimento.
4.5 Relato dos resultados
· As obrigações éticas dos pesquisadores não se referem apenas aos sujeitos da pesquisa, mas à comunidade científica. Essas obrigações dizem respeito à maneira como a pesquisa foi conduzida e seus resultados são apresentados. O que significa que uma pesquisa conduzida deliberadamente com falhas metodológicas graves não pode ser considerada ética. Caso tenham ocorrido falhas ao longo do processo de pesquisa ou os resultados tenham se mostrado deficientes, isto deverá ser indicado no relatório. Os pesquisadores têm obrigação de informar seus leitores acerca das limitações da pesquisa. Precisam indicar falhas que por ventura tenham ocorrido na elaboração dos instrumentos de pesquisa e na coleta dos dados.
· Importante atenção deve ser dedicada à apresentação dos resultados, sobretudo em pesquisas de caráter explicativo. Pode ocorrer que as hipóteses formuladas não tenham sido confirmadas. O pesquisador não pode encobriresse fato. Mesmo que possa significar que a pesquisa não tenha valido a pena. Vale a pena apresentar resultados negativos. Se as hipóteses não foram confirmadas, é necessário deixar claro. A ciência progride através da honestidade. Os pesquisadores precisam dizer a verdade.
4.6 Comitês de ética de pesquisa 
· Com vistas a garantir a observância de princípios éticos na pesquisa, universidades e instituições de pesquisa vêm constituindo comitês de ética. Esses comitês são responsáveis pela avaliação e acompanhamento dos aspectos éticos nas pesquisas que envolvem seres humanos. No Brasil, são constituídos, em observância à Resolução CNS 196/96, como colegiados interdisciplinares para defender os interesses dos sujeitos em sua integridade e dignidade e para contribuir no desenvolvimento da pesquisa dentro dos padrões éticos.
· A principal responsabilidade dos comitês de ética é garantir que os riscos a que estão sujeitos os participantes da pesquisa sejam mínimos. Assim, os pesquisadores são solicitados a submeter seus projetos a esses comitês, que podem se recusar a aprová-los caso não garantam a observância de princípios éticos, ou solicitar que os responsáveis pela pesquisa procedam às reformulações necessárias.
· Uma das principais exigências dos comitês para a aprovação dos projetos é a exigência do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, que precisa descrever minuciosamente os potenciais riscos a que estão sujeitas as pessoas que participam da pesquisa. A pesquisa só pode se efetivar com os participantes que, após terem lido o termo, manifestem sua concordância mediante assinatura.
· Nem todos os pesquisadores sociais, no entanto, submetem seus projetos previamente a um comitê de ética. Isto porque as diretrizes e normas referentes à pesquisa no Brasil são estabelecidas pelo Conselho Nacional de Saúde, órgão vinculado ao Ministério da Saúde. Esta situação tende a dificultar seu conhecimento e observância em outros campos que não o da saúde. Mais ainda porque essas diretrizes são estabelecidas por uma resolução, documento que não tem força de lei.

Outros materiais