Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 MÓDULO I: DOENÇAS INFECCIOSAS E PARASITÁRIAS ANA LUÍZA A. PAIVA – 5° PERÍODO 2022/1 OBJETIVOS 1. Caracterizar as hepatites e suas principais etiologias. 2. Analisar os aspectos epidemiológicos, manifestações clínicas e métodos diagnósticos das hepatites virais (H.V.). 3. Descrever os possíveis tratamentos, formas de prevenção e prognóstico das H.V. (agudas). 4. Explicar as estratégias para segurança do paciente enfatizando a higienização das mãos como prevenção na transmissão desta e de outras doenças. REFERÊNCIAS Ministério da Saúde. Boletim Epidemiológico de Hepatites Virais. Brasília, jul., 2021. Ministério da Saúde. Manual técnico para o diagnóstico das hepatites virais. Brasília, 2018. Ministério da Saúde. Guia de Vigilância em Saúde. Brasília. 5ª ed., 2021. Clínica Médica, volume 4: Doenças do Aparelho Digestivo, Nutrição e Doenças Nutricionais. – 2 ed. Barueri, SP; Manole, 2016. INTRODUÇÃO E EPIDEMIOLOGIA As hepatites virais são doenças infecciosas causadas por diferentes vírus hepatotrópicos que cursam com necroinflamação do fígado, provocando manifestações clínicas e laboratoriais relacionadas à lesão hepática inflamatória. No período de 1999 a 2020, foram notificados 689.933 casos confirmados de hepatites virais no Brasil. • Hepatite A: 168.579 (24,4%) • Hepatite B: 254.389 (36,9%) • Hepatite C: 262.815 (38,1%) • Hepatite D: 4.150 (0,6%) A distribuição dos casos variou entre as cinco regiões brasileiras. • Nordeste: maior proporção das infecções pelo vírus A (30,1%). • Sudeste: maiores proporções dos vírus B e C, com 34,2% e 58,9%. • Norte: 74,9% do total de casos de hepatite D (ou Delta). De 2000 a 2019, foram identificados, no Brasil, 78.642 óbitos por causas básicas e associadas às hepatites virais dos tipos A, B, C e D. • Hepatite A: 1,6% • Hepatite B: 21,3% • Hepatite C: 76,2% • Hepatite D: 0,99% As hepatites A e E são os dois tipos que nunca se tornam crônicos; enquanto as hepatites B, C e D apresentam uma fase aguda inicialmente e, posteriormente, podem evoluir para a forma crônica. ETIOLOGIAS E TRANSMISSÃO As hepatites virais mais frequentes são causadas por cinco vírus: o vírus da hepatite A (HAV), o vírus da hepatite B (HBV), o vírus da hepatite C (HCV), o vírus da hepatite D (HDV) e o vírus da hepatite E (HEV). Estes vírus têm em comum a predileção para infectar os hepatócitos (células hepáticas). HEPATTE A O HAV é um vírus de RNA, do gênero hepatovirus e da família Picornaviridae. É transmitida pela via fecal-oral e está relacionada às condições de saneamento básico, higiene pessoal, relação sexual desprotegida (contato boca-ânus) e qualidade da água e dos alimentos. A transmissão por via parenteral é rara, mas pode ocorrer se o doador estiver na fase de viremia do período de incubação. Hepatites Virais Problema 10 2 MÓDULO I: DOENÇAS INFECCIOSAS E PARASITÁRIAS ANA LUÍZA A. PAIVA – 5° PERÍODO 2022/1 Embora a transmissão sexual do HAV não seja comum, foram reportados surtos de hepatite A relacionados à transmissão sexual nas Américas e na Europa. Quanto à fisiopatologia, o HAV possui capacidade de resistir ao pH ácido, passando pelo estômago, replicando-se no trato digestivo, e atravessa o epitélio intestinal, chegando às vias mesentéricas e ao fígado pelo sistema porta. O vírus se replica no hepatócito e é excretado pelos canais biliares, atingindo o intestino por meio da bile, onde, normalmente, é eliminado nas fezes. O período de incubação é, em média, de 28 dias, podendo variar de 15 a 50 dias. HEPATITE B O HBV é o único vírus de DNA. Ele pode determinar um amplo espectro de doença, desde infecção aguda a infecção crônica. A transmissão se dá por via parenteral (compartilhamento de agulhas e seringas, tatuagens, piercings, procedimentos odontológicos ou cirúrgicos, etc.). e, sobretudo, pela via sexual, sendo a hepatite B considerada uma IST. Outros líquidos orgânicos, como sêmen, secreção vaginal e leite materno podem igualmente conter o vírus e constituir fontes de infecção. A transmissão vertical (de mãe para filho) também é causa frequente de disseminação do HBV em regiões de alta endemicidade. A infecção crônica pelo HBV ocorre, primariamente, por transmissão vertical ou pela infecção na infância. Quanto a sua fisiopatologia, seu DNA possui quatro fases de leitura, que codificam os genes para: o antígeno de superfície (gene S, HbsAg) – sendo o HbsAg marcador de infecção tanto aguda quanto crônica; antígeno-core (gene C, HbcAg); a polimerase do HBV (gene P) – importante alvo dos antivirais – e uma pequena proteína com funções transativadoras (gene x, HbxAg). Além disso, o gene C tem dois códons de iniciação, podendo produzir dois produtos diferentes: HbcAg, retido nas células hepáticas até a montagem e incorporados aos vírions; e o HbeAg, secretado no soro – por isso o HbeAg é um marcador de replicação viral. O vírus se replica predominantemente nos hepatócitos, podendo ocorrer sua replicação também nas células-tronco do baço, pâncreas e medula óssea. O mecanismo de lesão hepática não está relacionado a um efeito citopático direto do vírus, mas à resposta imune dos hospedeiros. Linfócitos T citotóxicos geram apoptose das células hepáticas infectadas, gerando a lesão. HEPATITE C O HCV C é um vírus de RNA, pertencente à família Flaviridae, e possui elevada diversidade genética, contando com alto número de genótipos. A transmissão ocorre, principalmente, por via parenteral (compartilhamento de agulhas e seringas, tatuagens, piercings, procedimentos odontológicos ou cirúrgicos, etc.). A transmissão sexual é pouco frequente – menos de 1% em parceiros estáveis e ocorre, principalmente, em pessoas com múltiplos parceiros e com prática sexual de risco (sem uso de preservativo). A transmissão vertical da hepatite C é rara quando comparada à da hepatite B. A cronificação da doença ocorre de 70% a 85% dos casos. Quanto à sua fisiopatologia, vírus se replica intensamente no fígado e os linfócitos citotóxicos têm papel essencial na resposta imune, assim como na lesão hepática. Esses linfócitos geram diretamente os hepatócitos por apoptose, semelhantemente ao que ocorre na hepatite B. A resposta imune, no entanto, é menos intensa, raramente resultando em hepatite fulminante. HEPATITE D 3 MÓDULO I: DOENÇAS INFECCIOSAS E PARASITÁRIAS ANA LUÍZA A. PAIVA – 5° PERÍODO 2022/1 O HDV vírus da hepatite D é um vírus de RNA de fita única, pertencente à família Deltaviridae e ao gênero deltavírus. A infecção pelo HDV é dependente de uma infecção pelo HBV associada e por isso, possui mecanismos de transmissão idênticos aos do HBV (transmissão via parenteral e sexual) A infecção pode ocorrer em dois padrões: como coinfecção – em que o indivíduo se infecta simultaneamente pelo HDV e pelo HBV – e superin- fecção aguda do HDV em portadores de HBV. Menos de 5% das pessoas coinfectadas desenvolvem a forma crônica da doença. A superinfecção causa um quadro de hepatite aguda grave, com um período de incubação curto, que leva a cronificação da hepatite D em 80% dos casos. HEPATITE E O HEV se trata de um vírus de RNA, da família Caliciviridae A transmissão é fecal-oral. Essa via de transmissão favorece a disseminação por contaminação dos reservatórios de água e contaminação de alimentos. A transmissão pelo sangue (transmissão parenteral) e da mãe para o filho (transmissão vertical perinatal) podem ocorrer, mas é rara. QUADRO CLÍNICO HEPATITE AGUDA Período prodrômico ou pré-ictérico: ocorre após o período de incubação do agente etiológico e anteriormente ao aparecimento da icterícia. Os sintomas são inespecíficos: anorexia, náuseas, vômitos, diarreia ou, raramente, constipação,febre baixa, cefaleia, mal-estar, astenia e fadiga, aversão ao paladar e/ou ao olfato, mialgia, fotofobia, desconforto no hipocôndrio direito, urticária, artralgia ou artrite, e exantema papular ou maculopapular. Esse período pré-ictérico dura geralmente 1 semana, podendo estender-se até 3 semanas. Algumas manifestações podem falar a favor de uma etiologia, como artralgia/artrite, urticária, glomerulonefrite, doença do soro e exantema sendo mais comuns na hepatite B. É importante ressaltar que essa fase pré-ictérica pode acabar durando por todo o curso da infecção aguda, em formas subclínicas ou anictéricas de hepatite aguda. Fase ictérica: com o aparecimento da icterícia, em geral, há diminuição dos sintomas prodrômicos. Observa-se hepatomegalia dolorosa, com ocasional esplenomegalia. O início de urina com coloração escura marca o início da fase ictérica. Nessa fase, a icterícia surge e a náusea e a fadiga se agravam. As fezes podem ficar esbranquiçadas nos casos de icterícia grave e pode haver prurido. A duração dessa fase pode variar, bem como sua intensidade. Alguns dias até uma semana são geralmente os períodos de duração, podendo estender-se por 4 a 8 semanas. Fase de convalescença: segue-se ao desaparecimento da icterícia. A recuperação completa ocorre após algumas semanas, mas a fraqueza e o cansaço podem persistir por vários meses. A maioria dos pacientes evolui para cura, em particular nas hepatites A e E. Porém, 55% a 80% dos casos de hepatite C e 2% a 10% dos adultos com hepatite B irão evoluir para forma crônica – além disso, no caso da hepatite B, 95% dos recém- nascidos e 20% das crianças irão evoluir para forma crônica. 4 MÓDULO I: DOENÇAS INFECCIOSAS E PARASITÁRIAS ANA LUÍZA A. PAIVA – 5° PERÍODO 2022/1 A forma crônica da infecção pelo HEV é rara, apenas tendo sido reportada em indivíduos imunossuprimidos. HEPATITE CRÔNICA As hepatites virais crônicas estão relacionadas aos vírus B, C e D e, com maior raridade, ao vírus E. A cronicidade é caracterizada pela detecção de material genético ou de antígenos virais por um período de 6 meses após o diagnóstico inicial. A infecção crônica pode cursar de forma oligo/ assintomática ou sintomática, normalmente com agravamento da doença hepática em longo prazo. Nesses casos, os indivíduos apresentam sinais histológicos de lesão hepática (inflamação, com ou sem fibrose) e marcadores sorológicos ou virológicos de replicação viral. Indivíduos com infecção crônica pelo HBV, que não apresentam manifestações clínicas, com replicação viral baixa ou ausente e que não apresentam evidências de alterações graves à histologia hepática, são considerados portadores assintomáticos. Nessas situações, a evolução tende a ser benigna; contudo o vírus ainda pode ser transmitido, o que constitui fator importante na propagação da doença. HEPATITE FULMINANTE Termo utilizado para designar a insuficiência hepática aguda, caracterizada pelo surgimento de icterícia, coagulopatia e encefalopatia hepática em um intervalo de até 8 semanas. Trata-se de uma condição rara e potencialmente fatal, cuja letalidade é elevada (40% a 80% dos casos). A fisiopatologia está relacionada à degeneração e à necrose maciça dos hepatócitos. O quadro neurológico progride para o coma ao longo de poucos dias após a apresentação inicial. Todos os cinco tipos de hepatites virais podem causar hepatite fulminante. DIAGNÓSTICO EXAMES INESPECÍFICOS Aminotransferases (transaminases): a aspartato aminotransferase (AST/TGO) e a alanino aminotransferase (ALT/TGP) são marcadores de agressão hepatocelular. Nas formas agudas, chegam a atingir, habitualmente, valores até 25 a 100 vezes acima do normal, embora se limitem a níveis mais baixos em alguns pacientes, principalmente naqueles acometidos pela hepatite C. Em geral, essas enzimas começam a elevar-se uma semana antes do início da icterícia e normalizam-se em aproximadamente três a seis semanas de curso clínico da doença. Nas formas crônicas, na maioria dos casos, elas não ultrapassam 15 vezes o valor normal e, não raro, em indivíduos assintomáticos, é o único exame laboratorial sugestivo de doença hepática. Bilirrubinas: elevam-se após o aumento das aminotransferases e, nas formas agudas, podem alcançar valores 20 a 25 vezes acima do normal. Apesar de haver aumento tanto da fração não conjugada (indireta) quanto da conjugada (direta), essa última se apresenta predominante. Na urina, pode ser detectada precocemente, antes mesmo do surgimento da icterícia. Outros exames auxiliam na avaliação da função hepática, como: dosagem de proteínas séricas, fosfatase alcalina, gama-glutamiltransferase, atividade de protrombina, alfafetoproteína e contagem de leucócitos e plaquetas. EXAMES ESPECÍFICOS HEPATITE A Anti-HAV IgM: a presença desse marcador define o diagnóstico de hepatite aguda A. É detectado a partir do segundo dia do início dos sintomas da doença e começa a declinar após a segunda semana, desaparecendo após três meses. Anti-HAV IgG: esse marcador está presente na fase de convalescença e persiste 5 MÓDULO I: DOENÇAS INFECCIOSAS E PARASITÁRIAS ANA LUÍZA A. PAIVA – 5° PERÍODO 2022/1 indefinidamente, proporcionando imunidade específica ao vírus. Também está presente no indivíduo vacinado contra hepatite A. Anti-HAV total: anticorpos contra o vírus da hepatite A das classes IgM e IgG, simultaneamente. HAV-RNA: é o material genético do vírus. TESTES SOROLÓGICOS PARA HEPATITE A INTERPRETAÇÃO ANTI-HAV TOTAL ANTI-HAV IGM Infecção aguda pelo HAV/ infecção recente Reagente (+) Reagente (+) Infecção passada/imunidade (por contato prévio com o HAV ou por vacina) Reagente (+) Não reagente (-) Suscetível Não reagente (-) Não reagente (-) HEPATITE B HBsAg (antígeno de superfície do HBV): pode ser detectado por meio de testes rápidos ou laboratoriais na grande maioria dos indivíduos com hepatite B crônica ou aguda. Juntamente do HBV-DNA, é um dos primeiros marcadores da infecção, detectável em torno de 30 a 45 dias após a infecção, e pode permanecer detectável por até 120 dias nos casos de hepatite aguda. Ao persistir além de 6 meses, caracteriza a infecção crônica. Anti-HBc IgM (anticorpos da classe IgM contra o antígeno do capsídeo do HBV): é um marcador de infecção recente, que geralmente surge 30 dias após o aparecimento do HBsAg e é encontrado no soro por até 32 semanas após a infecção. Anti-HBc total: anticorpos contra o vírus da hepatite B das classes IgM e IgG, simultaneamente. Anti-HBs (anticorpos contra o antígeno de superfície do HBV): quando presente nos títulos adequados (pelo menos 10 UI/mL), esse marcador confere imunidade ao HBV. Seu surgimento, normalmente, está associado ao desaparecimento do HbsAg (cura funcional), constituindo um indicador de imunidade. Está presente isoladamente em pessoas que foram vacinadas contra o HBV. HBV-DNA (DNA do HBV): é o material genético do vírus. Sua quantificação corresponde à carga viral circulante no indivíduo. Por ser um indicador direto da presença do vírus, pode ser usado como teste complementar no diagnóstico da infecção pelo HBV. HBeAg: antígeno da partícula “e” do vírus da hepatite B, marcador de replicação viral. Anti-HBe: anticorpo específico contra o antígeno “e” do vírus da hepatite B TESTES SOROLÓGICOS PARA HEPATITE B INTERPRETAÇÃO/CONDUTA HBSAG ANTI-HBC TOTAL Início de fase aguda –Necessário repetir sorologia após 30 dias Reagente (+) Não reagente (-) Hepatite aguda ou crônica – Solicitar anti-HBc IgM Reagente (+) Reagente (+) Cura (desaparecimento do HBsAg) – Solicitar anti-HBs Não reagente (-) Reagente (+) Suscetível – Indicar vacina ou pedir anti-HBs para confirmarsoroconversão, caso a pessoa informe que já foi vacinada Não reagente (-) Não reagente (-) INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS SOROLÓGICOS PARA HEPATITE B CONDIÇÃO DE CASO HBSAG ANTI- HBC TOTAL ANTI- HBC IGM HBEAG ANTI- HBE ANTI- HBS Suscetível /sem contato prévio com HBV (–) (–) (–) (–) (–) (–) 6 MÓDULO I: DOENÇAS INFECCIOSAS E PARASITÁRIAS ANA LUÍZA A. PAIVA – 5° PERÍODO 2022/1 Período de incubação (+/–) (–) (–) (–) (–) (–) Hepatite B aguda (+) (+) (+) (+/–) (+/–) (–) Final da fase aguda (–) (+) (–) (–) (+) (–) Hepatite B crônica (+) (+) (–) (+/–) (+/–) (–) Hepatite B curada (–) (+) (–) (–) (+/–) (+) Imunizado por vacinação (–) (–) (–) (–) (–) (+) HEPATITE C Anti-HCV (anticorpo contra o HCV): pode ser detectado por meio do teste rápido ou teste sorológico laboratorial. Constitui o marcador que indica contato prévio com o vírus. É detectado na infecção aguda ou crônica e no paciente curado, não indicando, portanto, a fase da doença. Após a infecção, esse marcador demora de 8 a 12 semanas para ser detectado, mantendo-se reagente indefinidamente. HCV-RNA (RNA do HCV): é o material genético viral. A presença do HCV-RNA é uma evidência da presença do vírus; por isso, testes para detecção desse marcador são utilizados para complementar o diagnóstico da infecção. O HCV-RNA costuma ser detectado entre uma e duas semanas após a infecção. O resultado não detectado pode indicar cura natural,clareamento viral ou resposta sustentada ao tratamento. Quando o primeiro resultado desse teste for não detectado, pode ser necessária a indicação da repetição do teste após três a seis meses. HEPATITE D Anti-HDV total: anticorpos contra o vírus da hepatite D das classes IgM e IgG, simultaneamente. HDV-RNA: é utilizado como marcador de replicação viral, tanto na fase aguda quanto na fase crônica da doença, e como controle de tratamento. Pode ser detectado 14 dias após a infecção. Na infecção pelo vírus da hepatite D, observam- se as formas de ocorrência a seguir: • Superinfecção: situação de portador crônico do HBV infectado pelo vírus delta. • Coinfecção: infecção simultânea pelo HBV e pelo vírus delta em indivíduo suscetível. INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS SOROLÓGICOS PARA HEPATITE D FORMAS HBSAG ANTI- HBC TOTAL ANTI -HBC IGM ANTI- HDV TOTAL ANTI -HBS Coinfecção (+) (+) (+) (+) (–) Superinfecção (+) (+) (–) (+) (–) Cura (–) (+) (–) (+) (+) Hepatite E Anti-HEV IgM: anticorpo específico para hepatite E em todos os indivíduos infectados recentemente. O teste para detecção do anti-HEV IgM torna-se reagente de quatro a cinco dias após o início dos sintomas, desaparecendo de quatro a cinco meses depois. Anti-HEV IgG: anticorpo indicativo de infecção pelo vírus da hepatite E no passado. Está presente na fase de convalescença e persiste indefinidamente. Anti-HEV total: anticorpos contra o vírus da hepatite E das classes IgM e IgG, simultaneamente. HEV-RNA: é o material genético viral. INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS SOROLÓGICOS PARA HEPATITE E INTERPRETAÇÃO ANTI-HEV TOTAL ANTI-HEV IGM 7 MÓDULO I: DOENÇAS INFECCIOSAS E PARASITÁRIAS ANA LUÍZA A. PAIVA – 5° PERÍODO 2022/1 Hepatite E aguda Infecção recente Reagente (+) Reagente (+) Infecção passada/imunidade Reagente (+) Não reagente (-) Suscetível Não reagente (-) Não reagente (-) TRATAMENTO HEPATITE AGUDA Não existe tratamento específico para as formas agudas, exceto para hepatite C e hepatite B aguda grave. O tratamento é feito no domicílio e baseado em medidas de suporte; Para as demais hepatites, se necessário, faz-se apenas tratamento sintomático para náuseas, vômitos e prurido. Como norma geral, recomenda-se repouso relativo até a normalização das aminotransferases. A única restrição dietética está relacionada à ingestão de álcool. No acompanhamento desses pacientes, deverá haver consulta de reavaliação, sendo as duas primeiras a cada 2 semanas. As consultas seguintes devem ter intervalo de 4 semanas entre si, com seguimento laboratorial das aminotransferases, tempo de protrombina, bilirrubinas e albuminas, até que haja duas dosagens normais com intervalos de 4 semanas; PREVENÇÃO A vacina hepatite A purificada é recomendada em todas as crianças de 15 meses de idade. INDICAÇÃO DA VACINA HEPATITE A VACINA N° DE DOSES IDADE (IDADE- LIMITE) VOL. DOSE/ VIA DE ADM. Vacina hepatite A Única 15 meses (4 anos, 11 meses e 29 dias) 0,5 mL/IM A vacina hepatite B é recomendada, de forma universal, a partir do nascimento. A vacina hepatite B protege também contra infecção pelo HDV. Dose de vacina hepatite B no momento do nascimento + 3 doses adicionais da vacina pentavalente, aos 2, 4 e 6 meses de idade. INDICAÇÃO DA VACINA HEPATITE B VACINA N° DE DOSES IDADE (IDADE-LIMITE) VOL. DOSE/ VIA DE ADM. Vacina hepatite B Única Dose ao nascer (30 dias de vida) 0,5 mL/IM Pentavalente 3 doses 2 meses, 4 meses e 6 meses 0,5 mL/IM A imunoglobulina humana anti-hepatite B (IGHAHB) deve ser administrada nos recém- nascidos de mulheres com HBV (HBsAg reagente) com a primeira dose de vacina hepatite B. As demais doses serão aplicadas aos 2, 4 e 6 meses com a vacina pentavalente. A imunoglobulina pode ser administrada, no máximo, até 7 dias de vida, pois essa ação previne a transmissão perinatal da hepatite B em mais de 90% dos recém-nascidos. A IGHAHB também é indicada para pessoas não vacinadas, ou com esquema incompleto, após exposição ao vírus da hepatite B. PROGNÓSTICO Hepatite A – geralmente após 3 meses o paciente já está recuperado. Apesar de não haver forma crônica da doença, há a possibilidade de formas prolongadas e recorrentes, com manutenção das aminotransferases em níveis elevados por vários meses. A forma fulminante, apesar de rara (menos que 1% dos casos), apresenta prognóstico ruim. 8 MÓDULO I: DOENÇAS INFECCIOSAS E PARASITÁRIAS ANA LUÍZA A. PAIVA – 5° PERÍODO 2022/1 O quadro clínico é mais intenso à medida que aumenta a idade do paciente. Hepatite B – a hepatite aguda B normalmente tem bom prognóstico: o indivíduo resolve a infecção e fica livre dos vírus em cerca de 90% a 95% dos casos. As exceções ocorrem nos casos de hepatite fulminante (<1% dos casos), hepatite B na criança (90% de chance de cronificação em menores de 1 ano e 20% a 50% para aquelas que se infectaram entre 1 e 5 anos de idade) e pacientes com algum tipo de imunodeficiência. Entre os pacientes que não se livram do vírus e tornam-se portadores crônicos, o prognóstico está ligado à presença de replicação do vírus (expressa pela presença do HBe-Ag e/ou HBV- DNA > 30 mil cópias/ml). A presença destes marcadores determina maior deposição de fibrose no fígado, o que pode resultar na formação de cirrose hepática. Hepatite C - a cronificação ocorre em 60% a 90% dos casos, dos quais, em média, um quarto a um terço evolui para formas histológicas graves num período de 20 anos. Este quadro crônico pode ter evolução para cirrose e hepatocarcinoma, fazendo com que o HCV seja, hoje em dia, responsável pela maioria dos transplantes hepáticos no ocidente. O uso concomitante de bebida alcoólica, em pacientes portadores do HCV, determina maior propensão para desenvolver cirrose hepática. Hepatite D – na superinfecção o índice de cronicidade é significativamente maior (80%) se comparado ao que ocorre na coinfecção (3%). Na coinfecção pode haver uma taxa maior de casos de hepatite fulminante. Já a superinfecção determina, muitas vezes,uma evolução mais rápida para cirrose. Hepatite E – não há relato de evolução para a cronicidade ou viremia persistente. Em gestantes, porém, a hepatite é mais grave epode apresentar formas fulminantes. A taxa de mortalidade em gestantes pode chegar a 25%, especialmente no terceiro trimestre, podendo ocorrer em qualquer período da gestação. Também há referências de abortos e mortes intra-uterinas. 9 MÓDULO I: DOENÇAS INFECCIOSAS E PARASITÁRIAS ANA LUÍZA A. PAIVA – 5° PERÍODO 2022/1
Compartilhar