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FÍGADO E VIAS BILIARES ICTERÍCIA Conceito: cor amarelada da pele, mucosa e líquidos corporais, devida ao aumento da bilirrubina sérica acima dos valores de referências, tornando-se evidente quando esses níveis excedem 1-3 mg/dL Metabolismo: 80% provém da degradação da hemoglobina do SRE (sistema retículo endotelial) a medula óssea, baço, fígado e linfonodos. Primeiro local com icterícia: esclera do olho Pode ser avaliada em até 4 + (cruzes) Tipos de bilirrubina: • INDIRETA/ NÃO CONJUGADA: -lipossolúvel -tóxica (atravessa a BHE- barreira hematoencefálica) -transportada pela albumina -formada no sangue • DIRETA/ CONJUGADA: -hidrossolúvel -atóxica -sem transporte -formada no fígado -perceptível em níveis mais baixos que a indireta -eliminada na urina (urina cor de Coca-Cola) Dentro das hemácias, há a proteína hemoglobina, que é composta pelo grupo HEME, rico em ferro. Quando ocorre a renovação de hemácias (a cada 120 dias)/hemocaterese, é necessário remover o grupo heme, considerado tóxico ao corpo por conter em sua composição ferro e bilirrubina. O grupo heme é direcionado então para o fígado, para ser transformado em um composto mais solúvel e facilitar sua excreção pela urina (é preciso quebrá-lo para eliminá-lo); A bilirrubina é metabolizada pelas células do fígado e excretada na bile e, como é insolúvel em água, é transportada pela albumina. O ferro proveniente da quebra do grupo heme é reutilizado pelas outras hemácias, mas a bilirrubina precisa ser descartada. Hemácia quando é renovada → grupo heme → ferro + biliverdina → bilirrubina indireta circula no sangue ligada à albumina → como não é solúvel, não é excretada na urina, mas precisa ser eliminada de outra forma, senão atravessa a BHE → fígado faz a captação de bilirrubina indireta → a BI + ácido glicurônico, através da enzima UDP-glicuronil transferase = bilirrubina direta, tornando-se solúvel; assim, sai junto com a bile para o intestino delgado → sofre ação de bactérias no intestino delgado no íleo terminal ou no cólon ascendente → forma urobilinogênio. A partir da formação do urobilinogênio, ele pode ter 2 caminhos: • Vai para a urina: UROBILINA, dará a coloração amarela da urina; • Vai para o intestino grosso: ESTERCOBILINA, será excretada nas fezes e dá a coloração amarronzada para as fezes; BT (bilirrubina total) = BD + BI BT = 0,3-1,3 mg/dL BD= 0,1-0,4 mg/dL BI= 0,2-0,9 mg/dL *BD tem valores de referência menores, já que não é encontrada em grande abundância (não está no sangue, como é o caso da BI) Causas de icterícia: ACOLIA = fezes brancas Ocorre quando a BD não alcança o intestino, ocorre por patologias pós-hepáticas, como obstrução do ducto biliar, pois assim não há a formação do urobilinogênio. Se for obstrução parcial, há cor nas fezes, pois um pouco de bilirrubina é levada com a bile para o intestino e assim ocorre a formação do urobilinogênio. Se for obstrução total, não há nenhuma formação de urobilinogênio, então haverá acolia. Assim, a bilirrubina pode extravasar pro sangue, fígado e rim, tornando a urina escura: COLÚRIA Classificação: → ICTERÍCIA PRÉ-HEPATOCITÁRIO: ↑↑BI Paciente ictérico sem acolia (bilirrubina chega ao intestino) • Hemólise (anemia hemolítica, esplenomegalia) • Defeitos de captação (Gilbert) e transporte ao fígado (problemas na albumina) → ICTERÍCIA HEPATOCITÁRIA: ↑↑BD e ↑BI Paciente ictérico + colúria • Hepatite (hepatócito doente não consegue conjugar, ou seja, transformar BI → BD) • Defeitos de conjugação (Crigler Najar) → ICTERÍCIA PÓS-HEPATOCITÁRIA: ↑BD Paciente ictérico + acolia + colúria Não há a formação do urobilinogênio, em decorrência da obstrução, porém a BD vai extravasar pro rim e colorir a urina • Obstrução (câncer na cabeça do pâncreas, calculo no colédoco, vermes que sobem pelo colédoco e o obstruem...) HIPERBILIRRUBINEMIA NÃO CONJUGADA: aumento da bilirrubina indireta. Causas (referente a bilirrubina): • Maior produção: como na esplenomegalia, há um baço muito grande, por consequência há maior destruição das hemácias. Na anemia falciforme, as hemácias são destruídas com mais frequência, aumentando assim os níveis de bilirrubina. • Menor captação: drogas, Gilbert • Menor conjugação: hepatite, Crigler Najar HIPERBILIRRUBINEMIA CONJUGADA: aumento da bilirrubina direta. Causas: • Hepatocelular: hepatite, CMV, herpes, mononucleose • Colestática o Não obstrutiva intra-hepática: -cirrose -ICC (bomba cardíaca não funciona, há acúmulo de líquidos dentro do fígado, apertando os corredores/vias dentro dele mesmo). -gestação -uso de anticoncepcional oral -anabolizante -Clorpromazina (antipsicótico) o Obstrutiva: ▪ INTRAHEPÁTICA -congênito -cirrose biliar -metástases ▪ EXTRAHEPÁTICA -tumores -cálculos -parasitas Câncer de pâncreas → icterícia progressiva com emagrecimento e dor abdominal alta persistente; Leptospirose → mialgia nas panturrilhas, sufusão conjuntival hemorrágica (foto abaixo), exposição à urina de ratos; Doença de Gilbert → problema na captação da bilirrubina pelo hepatócito Icterícia em crises de stress físico 3-7% da população BT> 6 (80% é BI) Doença de Crigler Najar → defeito de conjugação, por deficiência de glicuniltransferase (BI → BD) Hepatite → náuseas, anorexia, febrícula, artralgias; As hepatites de maiores riscos são B e C Exemplo: BT: 3, 8 BD: 2,6 BI: 1,2 Como a BD> BI, o problema certamente não é pré- hepatocitário. A bilirrubina que aumentou mais é a causa da icterícia. SINAIS E SINTOMAS MAIS SUGESTIVOS DE ICTERÍCIA DE CAUSA HEPATOCELULAR • Aranhas vasculares: 88-97% (telangectasia com centros e ramos saindo do centro) • Eritema palmar: 95% • Circulação colateral: 98% • Ascite: 90% • Esplenomegalia: 83-90% SINAIS E SINTOMAS POSSÍVEIS EM UM QUADRO DE COLESTASE *ESTASE: lentidão do curso → COLESTASE: fluxo lento na via biliar • Icterícia (por BD) • Acolia • Colúria • Prurido (típico da BD pois é irritativa ao endotélio, acaba afetando terminações nervosas periféricas) • Escoriações (lesões por conta da coceira) • Xantomas (espalhados pelo corpo- devido a uma deficiência no metabolismo de gorduras) • Xantelasmas (na região das pálpebras) • Osteoporose (baixa absorção de vitamina D) • Esteatorreia (gordura nas fezes) • Vesícula palpável • Hepatomegalia dolorosa • Rash Cutâneo (enantema na pele) • Equimoses (baixa absorção de Vitamina K) • Baixa absorção de Vitaminas lipossolúveis (ADEK) Pela diminuição da secreção da bile (casos de obstrução), as vitaminas lipossolúveis são menos absorvidas (já que a bile tem a função de emulsificar gorduras); Vitaminas hidrossolúveis em excesso são eliminadas na urina, mas as lipossolúveis ficam armazenadas no corpo (tóxicas). Vitamina K ajuda na coagulação, em excesso pode provocar as equimoses. ICTERÍCIA OBSTRUTIVA Rach cutâneo Xantelasma Xantomas Câncer de cabeça de pâncreas A icterícia obstrutiva se desenvolve apenas se houver obstrução no ducto colédoco, do fígado até a ampola pancreaticoduodenal → a vesícula biliar sofre dilatação . Quando há obstrução no final do ducto cístico, ocorre icterícia. A estenose pode ocorrer por um processo inflamatório ou um processo cicatricial (por cirurgia) Os melhores locais para avaliar a presença da icterícia é a esclera e o palato. Obs.: cuidar com os pacientes que comem alimentos que causam hipercarotemia (cenoura, abóbora), pois podem apresentar coloração amarelada- porém nesses pacientes as esclerótidas estão normais. SÍNDROMES BILIARES COLECISTITE AGUDA: inflamação na vesícula. Resulta em icterícia. COLEDOCOLITÍASE: cálculos no ducto colédoco COLANGITE:inflamação do ducto colédoco. Não da icterícia. PANCREATITE AGUDA: COLELITÍASE → cálculos na vesícula biliar (ducto hepático E e D, ducto hepático comum e ducto cístico) Os cálculos são de colesterol (80%) e pigmentares. É assintomática na grande maioria dos casos (80%) Pode ocorrer cólica biliar e 15-20% dos casos Complicações em 5% dos casos: • Colecistite aguda: vesícula inflamou pois havia os cálculos • Colangite: cálculo desceu, impactando o colédoco • Pancreatite: calcula desceu, obstruindo o ducto pancreático. CÓLICA BILIAR: Dor de início súbito no HD e epigástrio, irradiando para o ombro direito e região subescapular direita, com aumento gradual e platô de 2h Náuseas e vômitos em 50% dos casos Geralmente a cólica biliar acontece depois de refeições gordurosas Posição antálgica: fletindo as pernas sobre o tronco VESÍCULA PALPÁVEL: Câncer de ducto colédoco A presença crônica de cálculos gera uma colecistite crônica, reduzindo a elasticidade da vesícula (parede fica enrijecida), fazendo com que sua obstrução por cálculo a distenda menos que por câncer em via biliar baixa. Caso houver um tumor de cabeça de pâncreas que obstrua o colédoco e a vesícula está saudável, a vesícula irá distender nitidamente, configurando a vesícula de Courvoisier Terrier. Há uma camada mais espessa nas duas vesículas de cima- pode ter ocorrido um processo inflamatório, que pode ter sido causado por cálculos. FÍGADO HEPATOPATIA CRÔNICA: é o fígado cronicamente doente. ANAMNESE: • Procedência de uma região endêmica de esquistossomose. • Sexo: no caso de mulheres pensar no uso de anticoncepcional ACO – doença Budd-Chiari: trombose da veia hepática, que está entre o fígado e a veia cava, que ocorre em mulheres tabagistas usuárias ACO. • Em caso de criança pode ser uma trombose portal por onfalite – infecção do cordão umbilical gerando trombose no sistema portal. • Em casos de adultos, principalmente homens, está muito envolvida com caso de cirrose HPP (história médica pregressa): uso de drogas, medicamentos, etilismo, exposição profissional (por exemplo, alguns agrotóxicos como os organofosforados que são tóxicos ao fígado), hepatites prévias (somente B e C podem gerar hepatopatia crônica), episódios de icterícia, tratamento para parasitoses, sintomas biliares (como os pruridos), infecções intra-abdominais (podem ter atingido o fígado), transfusões (pode ter se contaminado com hepatite), tromboses, infecções umbilicais. SINTOMAS: • Astenia (fraqueza)- é no fígado em que há síntese de glicose – fonte de energia • Emagrecimento. • Edema (fígado produz a proteína albumina- com o fígado doente, há hipoalbuminemia. Quando há deficiência de albumina, a pressão osmótica sanguínea diminui e o plasma se propaga em maior proporção para os espaços intercelulares dos tecidos, causando os inchaços/ edemas • Dor e crescimento abdominal. • Alopecia. • Redução da libido (fígado é responsável pela metabolização dos hormônios sexuais, se ele estiver doente, há menor quantidade de hormônios sexuais) • Sangramento digestivo. • Prurido. • Confusão mental. EXAME FÍSICO INSPEÇÃO • Emagrecimento. • Dispneia (possível derrame pleural)- se houver ascite, há maior pressão intra-abdominal, dificultando o movimento do diafragma. • Icterícia. • Pele escura – excessivamente bronzeada (HEMOCROMATOSE): doença congênita em que há acúmulo de ferro no organismo, podendo até gerar cirrose- o acúmulo de ferro irrita o fígado • Palidez nas mucosas: por conta de sangramento • Equimoses: devido a hepatopatia crônica, haverá menor absorção de vitamina K, que é importante para a cascata de coagulação Cabeça e pescoço: → Alopecia → Xantelasma → Turgência jugular: pois está com o fígado inchado → Fetor hapaticus: hálito característico do hepatopata crônica, sendo adocicado e fétido ao mesmo tempo. Tórax: → Ginecomastia: por conta da metabolização problemática do fígado, começa a ter mamas → Aranhas vasculares Extremidades: → Baqueteamento digital. → Unhas de Terry: branca até ¼ da unha → Contratura de Dupuytren: contratura, dois dedos não se levantam por fibrose. Indica alcoolismo. → Eritema palmar. → Prurido e escoriações. → Atrofia muscular (menor metabolismo proteico). → Pelagra (dermatite, diarreia e demência= 3Ds). Deficiência de vitaminas do complexo B. As áreas expostas ao sol ficam queimadas → Edema de membros inferiores. → Ausência de pelos. → Asterixis/ flepping: puxar a mão para trás e depois ela treme enquanto volta para a posição normal. “Bater de asas de morcego”. Indica comprometimento hepatoneurológico. → Xantomas. ABDOME: → Abdome globoso (caso da ascite) → Protrusão umbilical, em caso de ascite → Circulação colateral visível PALPAÇÃO • Hepatomegalia ou não: no início da cirrose, o fígado aumenta, mas em uma cirrose crônica, diminui de tamanho. Terá borda hepática nodular e rígida. • Esplenomegalia: a veia porta é formada pela veia esplênica e pela veia mesentérica superior. Como a veia porta passa no interior do fígado, se ele estiver comprometido, pode acabar comprimida, diminuindo a drenagem do baço e ele pode aumentar. • Tensão intra-abdominal: pelo acúmulo de líquido. Quando desconfiar que essa hepatopatia crônica é devido à cirrose? Quando haver sinais de hepatopatia crônica associados a esplenomegalia na hora do exame físico. Sensibilidade de 34% e especificidade de 90% para dizer que é cirrose hepática. PERCUSSÃO • Hepatimetria aumentada ou não • Espaço de Traube ocupado (baço cresceu)- macicez • Manobras de ascite positivas • Timpanismo central e macicez periférica em paciente em decúbito dorsal (água da ascite fica no fundo do abdome e ar- das alças intestinais- em cima.) AUSCULTA • RHA normais • Sinal de Curveilhier- Baumgarten: sopro sobre o umbigo por recanalização da veia umbilical HIPERTENSÃO PORTAL A hipertensão portal se refere ao aumento de pressão e estase (fluxo lento) no território venoso portal com consequente desvio de parcela de sangue através de colaterais naturais ou neoformadas até o sistema cava, gerando esplenomegalia, varizes esofagogástricas, circulação colateral e ascite. Dependendo de onde ocorre o ponto de hipertensão, uma parte determinada vai sofrer. CIRCULAÇÃO COLATERAL: A hipertensão portal causa uma inversão do fluxo venoso, fazendo com que o sangue passe diretamente para as cavas, sem passar pelo fígado; Formação das veias colaterais: ➢ COLATERAIS NATURAIS: à medida que vai ocorrendo a hipertensão portal, vai ocorrendo um inchaço nas veias naturais do abdome. ▪ Veia esplênica e coronária aumenta. ➢ RECANALIZAÇÃO DE COLATERAIS NATURAIS: caso as colaterais naturais não forem suficientes para reter o líquido, a veia umbilical, por exemplo, pode se encontrar colabada. ➢ NOVAS ANASTOMOSES: ligação de uma veia em outra, para alcançar na cava. Esses novos caminhos para atingir a cava faz com que o sangue não passe pelo fígado, que é um grande filtro de antígenos e de germes e assim, infecções sistêmicas podem ocorrer, como a encefalopatia hepática (ocorrem delírios por hepatopatia)- sinal de Asterixis. Regiões onde estão as colaterais naturais: • Cárdia: varizes esofágicas e gástricas • Parede abdominal: umbilicais e paraumbilicais salientes • Ânus e reto: hemorroidas • Vísceras: ramos esplâncnicos com ramos da cava inferior • Baço: esplênica e suas tributárias (pancreática e adrenal) e veia renal CIRCULAÇÃO COLATERAL TIPO PORTA: quando intensa, forma a CABEÇA DE MEDUSA (vasos dilatados que parecem estar saindo do umbigo de forma centrífuga) Sangue sai das regiões periumbilical, epigástricae face anterior do tórax e acaba voltando para as veias xifoidianas e longas torácicas para chegar na VCS; Pode se fazer a técnica dos dedos: colocar dois dedos indicadores, um mais acima e uma mais abaixo e então espremer o vaso, quando soltar o dedo de cima, o sangue volta e quando deixa só o dedo de cima, o sangue corre mais rápido. CIRCULAÇÃO COLATERAL TIPO CAVA INFERIOR PROFUNDA: aumento de pressão no sistema porta, refluindo para a veia mesentérica inferior e indo em direção às veias retais, ilíaca interna e cava inferior. Comum o paciente ter hemorróidas. Não aparecerá circulação colateral na parede abdominal pois é uma circulação colateral profunda. CIRCULAÇÃO COLATERAL TIPO CAVA INFERIOR SUPERFICIAL: O aumento de pressão no sistema porta reflui o sangue para as veias paraumbilicais, epigástricas inferiores e buscando as veias superficiais da parede abdominal. *As veias não estão saindo do umbigo! CIRCULAÇÃO COLATERAL TIPO CAVA SUPERIOR SUPERFICIAL: A hipertensão portal reflui o sangue para as veias paraumbilicais, indo para as veias epigástricas superiores e veias superficiais da parede abdominal. Isso faz com que a circulação colateral aparece mais na região do tórax. CIRCULAÇÃO COLATERAL TIPO CAVA SUPERIOR PROFUNDA: a hipertensão portal reflui o sangue para as veias gástricas direitas, veias gástricas curtas, veias esofagianas, veia ázigo e desembocam na VCS. Paciente terá VARIZES ESOFÁGICAS. Portanto, há 3 tipos de circulação colateral que podem ser visíveis superficialmente. No entanto, duas são profundas e apresentam-se como as hemorróidas e varizes esofágicas. Sendo assim, nem todo caso de hipertensão portal terá circulação colateral visível. Todo caso de circulação colateral visível é caso de hipertensão portal. ASCITE Principal causa: hipertensão portal (proveniente da CIRROSE) É um derrame de líquido na cavidade peritoneal, excluindo sangue (hemoperitônio) e pus (pioperitônio); A cirrose hepática diminui a produção de albumina, fazendo com que a pressão coloidosmótica diminuía, causando o extravasamento de plasma para o interstício, causando edemas, como a ascite. Além disso, a cirrose hepática causa a hipertensão portal, que também favorece o aparecimento de ascite Essa perda de líquido vascular diminui a pressão arterial, fazendo com mecanismos de retenção de água e sódio sejam ativados, o que irá piorar o caso de ascite. NEM TODO CASO DE HIPERTENSÃO PORTAL TERMINARÁ EM ASCITE Esquema da relação entre hipertensão portal, circulação lateral e ascite: Se o mecanismo for adequado para normalizar a queda de pressão, não desenvolverá ascite. Caso seja inadequado, haverá ascite. Causas da ascite: Dá para ter ascite sem ter hipertensão portal: síndrome nefrótica. Assim como a hipoalbuminemia também pode vir da síndrome nefrótica. O caso da hipoalbuminemia pode vir de 2 casos: ou há problema no fígado, diminuindo sua produção, ou há a produção pelo fígado, mas sua perda pelo rim. ICC e pericardite podem causar ascite pela diminuição do débito cardíaco. 1- CARCINOMATOSE PERITONEAL Pode ser desenvolvida através de um câncer de reto que gerou metástase no peritônio. O porquê de poder gerar ascite: • Obstrução linfática por células neoplásicas. • Aumento da permeabilidade dos capilares. • Obstrução portal por compressão ou metástases -- gerando hipertensão portal. • Mecanismos mistos. Para saber se a ascite é de origem neoplásica faz-se uma PARACENTESE DIAGNÓSTICA (drenagem do líquido abdominal) para pesquisar se há a presença de células neoplásicas. Para saber o ponto da hipertensão portal, realiza-se ultrassom. 2- TUBERCULOSE PERITONEAL Procurar no líquido ascítico a presença de BAAR (bacilo álcool ácido resistente) – para saber se pode ser uma ascite de causa tuberculosa. Geralmente em pacientes que já tiveram tuberculose pulmonar ou que ainda têm (por isso se diz que geralmente é secundária). O mecanismo da formação de ascite é pelo aumento da permeabilidade capilar. 3- ASCITE PANCREÁTICA Quando ocorre lesão do ducto pancreático com derramamento das enzimas pancreáticas na cavidade, essas enzimas não irão se ativar. Geralmente associada à pancreatite aguda, crônica ou trauma. É uma situação não comum. Nesse caso o líquido ascítico está mais amarelado do que o normal. Pesquisar no líquido a presença de amilase. Pensa-se em ascite pancreática quando o paciente já aparece com um quadro de pancreatite 4- ASCITE BILIAR Ela ocorre em caso de lesão da vesícula ou ducto biliar por trauma, cirurgia. Causando aumento progressivo do abdome. Haverá icterícia. O líquido abdominal é esverdeado e com bilirrubinas elevadas. 5- ASCITE QUILOSA (vem de “cisterna do quilo”) Obstrução dos ductos linfáticos. Causas: cirrose hepática, linfomas, traumas abdominais, trombose porta, obstrução intestinal. O líquido é turvo ou leitoso, com triglicerídeos aumentados. Nem todo paciente com hipertensão portal terá ascite. Entretanto, se o paciente tiver sinais de hepatopatia crônica, ele terá ascite por esse motivo. Já uma mulher, que chega dizendo que teve aumento da barriga repentino. Na sua anamnese diz que ela usa anticoncepcional e é tabagista, e fez uma viagem em que ficou 12h sentada (fez estase venosa), ela pode ter favorecido uma trombose. Portanto, ela tem ascite mesmo não tendo sinais de hepatopatia crônica. EXAME FÍSICO DO PACIENTE COM ASCITE: INSPEÇÃO: • Abdome globoso, batráquio ou avental • Pele lisa (pois fica esticada pelo volume de água interno) e brilhosa • Distensão umbilical • Circulação colateral ou não • Ver se há sinais de hepatopatia crônica PALPAÇÃO: • TÉCNICA DO RECHAÇO → achar alguma víscera palpável, empurrar e manter a mão. Se tiver água (ascite), irá voltar e bater novamente na mão, como o pato de brinquedo na banheira. É mais comum a palpação das alças intestinais, que estão “flutuando” no líquido ascítico. • TOQUE RETAL → por conta da ascite, há muito peso sobre o reto; por isso, sua mucosa fica macia, já que ao redor há muita água. O que é na região mais inferior do peritônio, chamada de “FUNDO DO SACO DE DOUGLAS”= fossa retovesical. As vezes a ascite nem aparece na barriga (já que o primeiro local a acumular água é ao redor do reto), mas fazendo o toque retal, já é possível saber se uma ascite está se desenvolvendo PERCUSSÃO: • Círculo de Skoda (primeira coisa a se fazer): se a pele fosse transparente, ao olharmos para a barriga de um paciente deitado com ascite veríamos uma poça de água no fundo e ar em cima. Quanto mais água tem, menos lugar para ar teremos. Skoda falou que devemos fazer uma percussão na parte mais alta do abdome. Teremos timpanismo, porque há ar. Faz-se uma linha reta desse ponto mais alto até o flanco esquerdo, indo percutindo (cerca de uns 5cm). Em um dado momento perceberemos que o timpanismo muda e passa a ser maciço. – Marcar com uma caneta o ponto em que começou a ser maciço. Fazer o mesmo em direção à fossa ilíaca esquerda, púbis, fossa ilíaca direita e flanco direito. Fazer uma linha unindo todos os pontos marcados – teremos o CÍRCULO DE SKODA. Quanto mais água, menor será o círculo formado, pois há muita região com macicez. Onde há timpanismo, há as alças intestinais. Se o semicírculo for irregular, é importante procurar outras causas que não sejam ascite, como o tumor de bexiga. • TÉCNICA DE PIPAROTE Segurar a barriga de um lado e do outro dar petelecos. Se houver água, o peteleco irá gerar uma onda mecânica que será sentida pela mão que está do outro lado. O peteleco é dado na altura do círculo de Skoda. Essa técnica serve para quando a ascite é de 3-5L(pode haver ascite sem piparote presente); Obs: as mãos no meio (as vezes, pede-se ao paciente para que as coloque) servem para bloquear a vibração que passaria pela camada de gordura abdominal. Deixando mais claro que a onda passada é devido ao conteúdo que está embaixo (água). • TÉCNICA DA MACICEZ MÓVEL Serve para ascites superiores a 0,5-1L (ou seja, é usada para detectar volumes menores de ascite); Pedir para que o paciente se deite em decúbito lateral. Se for água, o volume irá descer (macicez fica embaixo), e o lado que não estiver encostado na maca estará timpânico. Se fosse um câncer, o som percutido não iria mudar. Protrusão umbilical O timpanismo na região central é devido as alças intestinais, que ficam boiando por cima do líquido da ascite. • POSIÇÃO DE TRENDELENBURG: elevar os pés do paciente e baixar a cabeceira, deixando o pescoço e cabeça rebaixados em relação ao tronco e as pernas elevadas. Percutir o espaço de Traube: está livre, mas caso desconfiarmos que o paciente tenha ascite, colocamos ele na posição de Trendelenburg e percutirmos o espaço de Traube novamente. Se houver líquido, durante a posição, esse líquido vai em direção ao diafragma e irá ocupar o espaço de Traube, tornando a percussão do local maciça. AUSCULTA: • DUPLO TOM OU SINAL DE LIAN: fazer a técnica do papirote, mas ao invés de colocar a mão do outro lado, colocar o estetoscópio para auscultar. Se houver líquido, ouviremos o som da batida do dedo durante o peteleco e o som da água batendo na parede abdominal • SINAL DA POÇA OU SINAL DE PUDDLE: pede-se para o paciente ficar 5 minutos em decúbito ventral. Depois, pedir para o paciente ficar na posição genopalmar (geno=joelho, palmar=quatro). Se houver ascite, o líquido estará depositado na parte debaixo do abdome. Coloca-se o esteto bem no centro e com uma mão vai se fazendo papirote e indo com o esteto para o lado oposto que está a mão que produz a onda. A ideia é ouvir diferentes sons à medida que movemos o esteto nessa poça d’água. Ouvindo os sons da poça, subindo em direção ao seu nível, e quando passar da linha da poça apenas ouviremos a batida do dedo. O piparote é o mais específico para detectar ascite, pois se conseguimos detectar água batendo na mão, é 90% de chance de ser ascite. Porém, muitas vezes fazemos essa técnica, o paciente tem ascite, mas não conseguimos sentir – ou seja, há uma baixa sensibilidade.
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