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IX Colóquio Técnico Científico de Saúde Única, Ciências Agrárias e Meio Ambiente O IMPACTO DO ESTRESSE TÉRMICO NA REPRODUÇÃO DE FÊMEAS BOVINAS Juliana Melka de Carvalho Abreu Melo1*, Anna Maria Fernandes da Luz1, Manuela Conceição Souza1, Pedro Henrique Santos Aguiar1, Shayenne Eduarda Costa Sampaio1 e Cláudio Luís Nina Gomes2 1Discente no Curso de Medicina Veterinária – Universidade Estadual do Maranhão - UEMA – São Luís/MA – Brasil – *Contato: julianamelka1999@gmail.com 2Doscente no Curso de Medicina Veterinária - Universidade Estadual do Maranhão - UEMA - São Luís/MA - Brasil INTRODUÇÃO A bovinocultura brasileira têm atingido elevados patamares que exigem exponencial eficiência, qualidade e quantidade6. Grande parte do rebanho brasileiro de bovinos está localizada em região tropical onde apresentam temperaturas elevadas, ultrapassando a zona de termoneutralidade da espécie5, uma vez que os animais encontram-se expostos por longos períodos a fatores ambientais como radiação, variação climática e umidade relativa do ar9. A criação em sistema extensivo em tais áreas2, prejudica a homeostase e o gasto energético do animal, resultando em alterações endócrinas e reprodutivas nos bovinos6. O estresse térmico é um dos principais fatores para a redução da eficiência da produção pecuária no cenário de constante mudança climática1, pois seus impactos provocam quedas de 40-60% em períodos frios para 10-20% nos períodos mais quentes na qualidade do rebanho7. O efeito mais dramático para os produtores de leite do fenômeno do estresse térmico é a diminuição da fertilidade dos bovinos4, com a ocorrência de falhas na formação de gametas, manutenção da prenhez, mau crescimento do feto2 e alterações no comportamento de estro5. Nos últimos anos, tem-se estudado os efeitos do choque térmico no sistema reprodutivo de fêmeas bovinas2. Com as mudanças climáticas, países tropicais como o Brasil enfrentarão dificuldades na reprodução do rebanho bovino em razão do estresse térmico acentuado5. É fundamental entender as implicações do efeito no organismo das vacas reprodutoras para desenvolver-se meios de prevenção em função da extensão do sistema pecuário2. Desta forma, a presente revisão de literatura objetivou explicitar a forma em que o estresse térmico pode influenciar nas taxas reprodutivas de fêmeas bovinas. METODOLOGIA O presente estudo baseou-se nas referências disponíveis no banco de dados da plataforma Google Acadêmico, através de artigos científicos relevantes e recentes acerca da temática, utilizando as seguintes palavras-chave para a busca: “choque térmico”, “estresse térmico”, “reprodução”, “bovinos” e “fêmeas”. RESUMO DE TEMA A produção de bovinos de corte no Brasil é feita principalmente pelo modelo extensivo, o que expõe os animais a condições climáticas que nem sempre resultam em conforto para os mesmos2. Um conjunto de fatores ambientais são capazes de impor uma condição de estresse ambiental no seu organismo, como a radiação solar, variação de climática e umidade relativa do ar, associadas também a fatores genéticos da raça, adaptação e processos moleculares2. O aumento de temperatura tem sido evidenciado em áreas tropicais, onde criam-se rebanhos de bovinos, animais homeotérmicos que mantém a sua temperatura corporal com o equilíbrio do calor metabólico produzido, mas, no caso do choque térmico, há a falha na dissipação do calor corporal e da sua dissipação no ambiente2. A busca pela sombra, menor consumo de alimento, associado à perda de peso e o aumento dos níveis plasmáticos de cortisol são sinais de que o bem estar animal está sendo afetado pelo estresse térmico2, sendo o estresse uma resposta biológica resultante de eventos externos e internos que interferem na homeostasia do animal2. As respostas fisiológicas incluem alteração na taxa de respiração, na frequência cardíaca, perda de água pela urina e pelo conteúdo fecal, e na temperatura da pele do animal para a adaptação, além de aspectos comportamentais1. Os ciclos reprodutivos das fêmeas são controlados por hormônios hipotalâmicos, gonadotrofinas e esteróides secretados pelo ovário2. Os hormônios associados à adaptação a elevadas temperaturas são o hormônio do crescimento (GH), prolactina, hormônios da tireóide, mineralocorticóides, catecolaminas e hormônios antidiuréticos1. O estímulo da regulação térmica alcança o hipotálamo pelo sistema nervoso central e resulta na liberação de corticotrofina (CRH)6. Este hormônio age na hipófise anterior que realiza a secreção do hormônio adrenocorticotrófico (ACTH), liberado na corrente sanguínea6. Tal processo culmina com a estimulação do córtex adrenal e então com a secreção de corticosteróides, mineralocorticóides e glicocorticóides, o que, em circunstâncias normais, realizaria função inibidora do hipotálamo6. A reprodução é controlada por meio de hormônios que são em boa parte secretados pelo eixo hipotálamo-hipófise-gonadal6. Os hormônios relacionados à reprodução da fêmea bovina são hormônio liberador de gonadotrofinas (GnRH), gonadotrofinas (GNS), hormônio do folículo estimulante (FSH), hormônio luteinizante (LH), estrógeno, progesterona, prostaglandina e ocitocina, sendo esses hormônios regulados pelo sistema hipotálamo-hipófise-ovariano6. O choque térmico aciona o eixo hipotálamo-hipofisário adrenal com a liberação de cortisol e o eixo simpato-medular adrenal que aumenta a concentração de adrenalina: em razão do suprimento das funções hipotalâmicas, há uma redução das gonadotrofinas, gerando falhas na ovulação e, portanto, o menor número de prenhez2. Compreende-se então que a queda da produção de LH está associada à ação inibitória do CRH sobre o GnRH, afetando a hipófise e prejudicando o estímulo das gônadas6. Os níveis plasmáticos de progesterona podem ser aumentados ou diminuídos de acordo com o tipo de estresse - agudo ou crônico - e do estado metabólico do animal4. Tal alteração endócrina reduz a atividade folicular que altera o mecanismo ovulatório, provocando diminuição na qualidade oocitária e embrionária4. A modificação no ambiente uterino também reduz a possibilidade de implantação de embrião4. Para que ocorra a reprodução, o ciclo estral deve se manifestar com suas funções normais6. O estro em vacas tem duração de 14 a 18 horas, enquanto naquelas expostas a elevadas temperaturas possuem redução para entre 8 e 10 horas6. Dessa forma, o diagnóstico do cio nas vacas é dificultado, bem como a monta natural e o processo de inseminação artificial6. O aumento nas taxas de retorno ao cio e da perda embrionária culminam na menor taxa de prenhez, tanto pela perda de condição corporal quanto pela habilidade esteroidogênica, de crescimento folicular, maturação do oócito, fertilização e da função endometrial2. A hipertermia dentro do trato reprodutivo da fêmea ainda é capaz de inviabilizar o oócito e a fertilidade do espermatozóide, pois o aumento da temperatura em 0,5°C no dia da inseminação pode inferir na redução de até 12,8% do sucesso da prenhez bovina2. Altas temperaturas são responsáveis por direcionar a distribuição de sangue no organismo para a periferia - para a pele e mucosa nasal - restringindo o desenvolvimento fetal pelo menor suprimento do útero gravídico1,2. Se mesmo com o estresse térmico a matriz conseguir realizar uma gestação completa, o bezerro pode sofrer morte pós-natal e apresenta maior susceptibilidade a doenças e parasitas, consequência da exposição a altas doses de cortisol, afetando o desenvolvimento do embrião6. Alterações nas condições climáticas devem agravar tais problemas nas próximas décadas, e animais leiteiros são mais suscetíveis ao estresse térmico, uma vez que a produção do leite provoca grande tensão metabólica de calor3. A reprodução in vitro é considerada uma alternativa mailto:julianamelka1999@gmail.com IX Colóquio Técnico Científico de Saúde Única, Ciências Agrárias e Meio Ambiente favorável para evitar os efeitos do estresse térmico calórico, uma vez que etapas essenciais - maturação oocitária e desenvolvimento inicial do embrião- ocorrerão em ambientes controlados e monitorados5. Hormônios têm sido utilizados para elevar a incidência do cio e ovulação após o puerpério2,4. Sabe-se também que a administração de GnRH no momento da inseminação artificial pode facilitar com a concepção da vaca, podendo induzir o desenvolvimento folicular e a ovulação4. A inseminação artificial a tempo fixo é uma técnica capaz de aumentar a fertilidade pela detecção do cio, concentração do trabalho de campo e pela seleção de sêmen de qualidade no corpo do útero2. Atualmente, o Brasil é o maior exportador de carne do mundo, portanto o impacto da menor criação de bezerros no mercado de carne é significativo2. É necessário reconhecer o ambiente em que o rebanho é exposto para a elaboração de avaliação e desenvolvimento de alternativas para o aumento do bem estar desses animais e promover o sucesso na reprodução do rebanho2, 9. CONSIDERAÇÕES FINAIS É possível compreender que o estresse térmico é um estado anormal que promove impactos negativos à homeostase do animal, gerando funções irregulares por todo o organismo6. A partir do reconhecimento da influência do estresse térmico no período de atividade de estro, na queda das taxas de prenhez e no aumento da perda embrionária de fêmeas bovinas, é essencial buscar meios para reduzir os efeitos do choque térmico com o planejamento de estratégias aplicadas para a redução e prevenção do fenômeno, evitando consequências negativas no sistema endócrino e reprodutor de fêmeas bovinas que culminam em falha reprodutiva e perdas econômicas dos produtores. O desenvolvimento de técnicas de manejo faz-se essencial para acompanhar as exigências da indústria pecuária e leiteira do mercado Brasileiro. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. NIYAS, P. A. A., et al. Adaptation of livestock to environmental challenges. J Vet Sci Med Diagn 4, v. 3, p. 2, 2015. 2. BERLITZ, C. G. B. Impacto do estresse ambiental na reprodução de bovinos de corte, 2019. 3. CARABAÑO, M. J., et al. Breeding for resilience to heat stress effects in dairy ruminants: A comprehensive review. Journal of Animal Science: Breeding and Genetics symposium, v 95, n 4, p 1813-1826, 2017. 4. DE RENSIS, F.; SCARAMUZZI, R. J. Seasonal heat stress: Clinical implications and hormone treatments for the fertility of dairy cows. Theriogenology, v. 84, n. 5, p. 659-666, 2015. 5. FIALHO, A. L. L., et al. Efeito do estresse térmico calórico agudo e crônico sobre a qualidade oocitária de bovinos de raças adaptadas. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia 70: 64-72, 2018. 6. LIMIRO, W. B. Influência do estresse térmico na reprodução de bovinos, 2020. 7. MORELLI, P. Estresse térmico na reprodução de vacas leiteiras, 2009. 8. OLIVEIRA, E., et al. Efeitos do estresse térmico sobre a produção de bovinos de leite no município de Marilândia-ES. Enciclopédia Biosfera 9.16, 2013. 9. RICCI, G. D., et al. Estresse calórico e suas interferências no ciclo de produção de vacas de leite: revisão. Veterinária e Zootecnia: 9-18, 2013. 10. RODRIGUES, A., et al. Influência do sombreamento e dos sistemas de resfriamento no conforto térmico de vacas leiteiras. Agropecuária Científica no Semiárido, v. 6, n. 02, p. 14-22, 2010. APOIO: GRUPO DE ESTUDOS EM NEONATOLOGIA, OBSTETRÍCIA E PEDIATRIA VETERINÁRIA - GENEO UEMA
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