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História do Xadrez 02 1. A Origem do Xadrez 4 Como e Onde Surgiu o Xadrez 4 A Origem do Chaturanga 5 Características do Xadrez 7 O jogo de Xadrez na Idade Média 8 2. A Origem do Xadrez Moderno 15 Sobre as Regras do Xadrez 16 3. História do Xadrez no Brasil 22 Os Primeiros Campeonatos de Xadrez no Brasil 22 Quem trouxe o Xadrez para o Brasil 28 A História do Xadrez na Matemática 29 O Xadrez como Ferramentas de Ensino 32 4. Referências Bibliográficas 37 03 4 HISTÓRIA DO XADREZ 1. A Origem do Xadrez Fonte: Revista Zunai1 xadrez é um jogo tão antigo que, durante todos os anos de sua existência, várias histórias fo- ram associadas a sua origem. Como e Onde Surgiu o Xa- drez A primeira história que é con- tada mundialmente trata-se de uma lenda; Na Índia havia uma pequena cidade chamada Taligana, e o único filho do poderoso rajá foi morto em uma sangrenta batalha. 1 Retirado em https://revistazunai.com.br/tabuleiro-de-xadrez/ O rajá entrou em depressão e nunca havia conseguido superar a perda do filho. O grande problema era que o rajá não só estava mor- rendo aos poucos, como também es- tava se descuidando em relação ao seu reino. Era uma questão de tem- po até que o reino caísse totalmente. Vendo a queda do reino, um brâmane chamado Lahur Sessa, cer- to dia foi até o rei e lhe apresentou um tabuleiro contendo 64 quadra- dos, brancos e pretos, além de diver- sas peças que representavam fiel- O 5 HISTÓRIA DO XADREZ mente as tropas do seu exército, a in- fantaria, a cavalaria, os carros de combate, os condutores de elefantes, o principal vizir e o próprio rajá. Fonte: https://revistazunai.com.br O sacerdote disse ao rajá que tal jogo poderia acalmar seu espírito e que sem dúvida alguma, iria curar- se da depressão. De fato, tudo o que o brâmane disse acontecera, o rajá voltou a governar seu reino, tirando o a crise de seu caminho. Era inexplicável como aquilo tudo aconteceu, sendo um único ta- buleiro com peças o responsável por tirar a tristeza do rajá. Como recom- pensa, o brâmane foi agraciado com a oportunidade de pedir o que qui- sesse. Logo de primeira, ele recusou tal oferta, pois achava que não fosse merecedor de tal proposta, mas me- diante insistência do rajá, ele fez um simples pedido. O brâmane pediu simplesmente um grão de trigo para a primeira casa do tabuleiro, dois para a segunda, quatro para a tercei- ra, oito para a quarta e assim suces- sivamente até a última casa. O rajá chegou a achar graça, tamanha a in- genuidade do pedido. Entretanto, o humilde pedido do brâmane não era tão humilde as- sim. Após fazerem vários cálculos de quanto trigo eles teriam que dar para ele, descobriram que seria ne- cessário toda a safra do reino por in- críveis dois mil anos para atender ao pedido do sacerdote. Impressionado com a inteligência do brâmane, o rajá o convidou para ser o principal vizir (espécie de ministro, conselhei- ro do rajá) do reino, sendo perdoado por Sessa de sua grande dívida em trigo. Na verdade, o que o brâmane apresentou para o rajá não foi o jogo de xadrez, foi a chaturanga, uma das principais variantes do jogo de xa- drez moderno. A Origem do Chaturanga Chaturanga é um antigo jogo de tabuleiro indiano que se acredita ter originado o Jogo de Xadrez, o Shogi e o Makruk, e é relacionado com o Xiang Qi (ou Janggi). Surgiu provavelmente no século VI, sendo considerado o predecessor do Xa- tranje que, por sua vez, veio a origi- nar o xadrez moderno. 6 HISTÓRIA DO XADREZ Não é possível estabelecer uma comparação entre o chaturanga e jogos de tabuleiro mais antigos. O conhecimento de jogos de tabuleiros indianos mais antigos é vago porque a literatura brâmane e Sutras era re- ligiosa e quase totalmente poética. Somente literaturas posteriores in- cluíam objetos seculares. Embora termos indicando jogos de tabuleiro sejam vagos em relação as regras, o termo Ashtāpada (8x8) e dasapada (10x10) são úteis pois empregam o mesmo tabuleiro monocromático que outras variantes de xadrez anti- gas. O significado da palavra Ashtā- pada é estabelecido por Patandjáli no livro Mahābhāshya escrito no sé- culo II, como um tabuleiro em que cada linha tem oito casas monocro- máticas, sendo o termo um objeto familiar. Chaturanga é um adjetivo composto por duas palavras, chatur que significa "quatro" e anga que significa "membro" e tem o signifi- cado literal de "quadripartido". Em seu sentido original aparece no Rigveda em referência as quatro partes do corpo humano e no Shata- patha Brahmana. O termo apareceu também no Mahābhārata que existe desde o século V, Ramáiana (século V a.C.), Nitisara (Kamandaki) do iní- cio da era cristã e no Atarvaveda Parsistas (~250) tanto com a palavra bata (exército) ou como substantivo neutro ou feminino no sentido de "exército composto por quatro membros" e "exército" em geral, fi- cando claro o uso da palavra como nome do exército em sânscrito. O significado destas quatro partes fica claro da conexão da pala- vra chaturanga com bigas, elefantes, cavalaria e infantaria no Ramáiana, no Mahābhārata e no Amarakosa no qual o exército é expressamente cha- mado de hasty-ashwa-ratha-pada- tam que era a composição do exér- cito desde século IV a.C. de acordo com relatos gregos da invasão do no- roeste indiano por Alexandre, o Grande. O historiador grego Megás- tenes passou algum tempo na corte de Pataliputra no século III a.C. e afirmou que havia seis divisões no exército: Elefantes, Bigas, Cavalaria, Soldados, suprimentos e barcos. Fonte: https://s-media-cache- ak0.pinimg.com/originals/.jpg 7 HISTÓRIA DO XADREZ Outra grande possibilidade que se apresenta em diversas histó- rias sobre a origem do xadrez, é que Ares, o deus da guerra, teria criado um tabuleiro para testar suas táticas de guerra (que eram bem limitadas, pois Ares nunca foi conhecido por ter tática nas suas batalhas, ele era simplesmente agressivo, atacando sem precisão alguma na maioria das vezes). Entretanto, cada peça do ta- buleiro representava uma parte do seu exército, e assim foi, até que Ares teve um filho com uma mortal, e passou para ele os fundamentos do jogo. A partir de então, o jogo teria chegado ao conhecimento dos mor- tais. Características do Xadrez O xadrez é um jogo especial por combinar várias características. Em primeiro lugar, o acaso não exis- te no xadrez: ninguém ganha uma partida porque “teve sorte, nem per- de porque “teve azar”. Trata-se de um jogo movido apenas pelo raciocí- nio dos dois jogadores, que são os únicos responsáveis pelo resultado. Nesse sentido, pode ser dito que tra- ta-se de um jogo perfeitamente exis- tencialista nele estamos, como nu- ma expressão de Sartre, “sós e sem desculpas”. Em segundo lugar, o xadrez é de extrema complexidade. Jogado num tabuleiro de 64 casas, cada jo- gador tem inicialmente 32 peças de seis tipos, cada qual com importân- cia, movimentos e possibilidades de captura específicos. Apenas os qua- tro primeiros lances podem produzir cerca de 72 mil diferentes posições. Os dez primeiros lances podem ser jogados de cerca de 170 seguido de 27 zeros maneiras diferentes. Trata-se, portanto, de um jogo de possibilidades inesgotáveis. Em terceiro lugar, o xadrez é especial por sua antiguidade histórica. Sua origem é controversa. Alguns pes- quisadores acham que surgiu no Egito ou na China, mas geralmente considera-se que o xadrez teve ori- gem num jogo com o nome sânscrito de chaturanga, que já existia na re- gião do Ganges, na Índia, no início do século VII. É possível que tenha sido inventado vários séculos antes.De qualquer forma, é jogado, com poucas variações importantes, por mais de mil anos. Outra característica notável do xadrez é que as partidas podem ser registradas e posteriormente re- produzidas, lance a lance. Com isso, o acervo histórico de partidas vai sendo sempre aumentado e, como todo acervo, o do xadrez possibilita a existência de uma memória sobre o jogo que é uma fonte de aprendiza- gem e prazer estético. Existe, por exemplo, um problema de xadrez 8 HISTÓRIA DO XADREZ composto por um califa árabe cha- mado Mutasin Billah em 840 d.C. Temos também o registro de uma partida jogada em China, Coréia e 940 d. C. e vencida por um grande jogador árabe de origem turca cha- mado Al Suli (c.880-946), que en- cantava a corte em Bagdá no início do século X. Sobre esse jogador che- gou até nós o comentário de um ho- mem importante da época que, per- guntado sobre a beleza das flores de um determinado jardim, respondeu que a forma de Al Suli jogar xadrez, isto é, seu estilo era mais bonita do que aquele jardim e todas suas flo- res. O fato de podermos reproduzir essa partida e igualmente sentir seu encanto e beleza preservados por 1050 anos é uma característica que confere ao xadrez um lugar único entre todos os jogos. Finalmente, o xadrez é um jo- go especial por sua extraordinária difusão através das mais variadas culturas e civilizações. O jogo de Xadrez na Idade Mé- dia No início do século VII na Ín- dia o jogo chamado chaturanga, era considerado precursor direto do xa- drez. Esse jogo foi disseminado atra- vés do continente asiático principal- mente pelos budistas, e adaptado ao acervo cultural de diversos países, como Japão. A difusão para o Oeste é razo- avelmente bem documentada. O jogo alcançou a Pérsia por volta de 625, recebendo o nome de chatrang. Após a conquista árabe da Pérsia (631-51), o jogo, agora batizado com o nome árabe shatranj, conheceu uma época de grande florescimento. O islamismo proibia os jogos de azar, mas o shatranj era considerado um jogo de guerra, e, por isso, per- mitido. Vários califas tornaram-se aficionados do jogo, e os melhores jogadores recebiam dinheiro para jogar, ensinar e escrever livros. O shatranj foi levado para a Rússia a partir do século IX, princi- palmente através da rota de comér- cio Mar Cáspio-Volga. Cristãos bi- zantinos difundiram o jogo pelos Bálcãs e Vikings fizeram o mesmo na região do Báltico, tudo isso num pe- ríodo anterior à conquista mongol de 1223. Os mongóis também apre- ciaram o jogo, especialmente na cor- te do imperador Tamerlão. O sha- tranj chegou à Europa Ocidental en- tre os séculos VIII e X por três rotas: inicialmente com os invasores mou- ros da Península Ibérica; depois, através do Império Bizantino no Leste, e, finalmente, com os sarrace- nos (invasores islâmicos da Sicília). Por volta do ano 1000 o jogo já era amplamente conhecido na Europa. 9 HISTÓRIA DO XADREZ Fonte: https://upload.wikimedia.org A Igreja a princípio se opôs ao jogo, possivelmente devido ao uso frequente de apostas. Surgiram al- guns editos proibindo o clero de jo- gar, notadamente um do cardeal. Damiani em 1061. Entretanto, por volta do século XIII essa proibição foi relaxada ou esquecida, e o xadrez passou a gozar de popularidade en- tre várias ordens religiosas. Alguns de seus membros in- clusive usaram o xadrez em alego- rias conhecidas como “moralida- des”, comuns na literatura europeia da Idade Média, e que tentavam dar uma explicação simbólica ou alegó- rica do jogo, encontrar paralelos en- tre a organização da vida e atividade humanas e o xadrez. Essas alegorias geralmente consideravam o jogo como emblemático da condição so- cial da época. Vejamos um exemplo dessas “moralidades”. A mais antiga conhe- cida é da metade do século XIII, e fi- cou conhecida como “moralidade de Inocêncio”, por ter sido atribuída ao papa Inocêncio III (papa entre 1198 e 1216). Ao que tudo indica, no en- tanto, foi obra de um monge galês. O texto diz o seguinte: “Este mundo todo é como um tabuleiro de xadrez: uma casa é branca, outra casa é preta, e assim representa o duplo estado de vida ou de morte, de graça ou pecado. A fa- mília que habita esse tabuleiro é for- mada pelos homens deste mundo, que tal como as peças saídas todas da mesma bolsa procedem todos de um só ventre materno. E, tal como as peças, assumem seus postos nos di- ferentes lugares deste mundo, cada um com sua própria denominação. O primeiro é o Rei, depois a Rainha, em terceiro lugar a Torre, em quarto o Cavalo, em quinto o Bispo e em sexto o Peão. E o caráter do jogo é tal que um toma o outro e, com o jogo terminado, assim como todos ti- nham saído da mesma bolsa, a ela voltam. E então já não há diferença entre o Rei e o pobre Peão, pois aca- bam do mesmo modo o rico e o po- bre. E com frequência acontece que, quando se devolvem as peças, o Rei fica por baixo, no fundo do saco; e assim também acontece com os grandes que ao sair deste mundo são sepultados no inferno; enquanto os pobres são levados ao seio de Abraão.” Temos aqui uma alegoria bas- tante explícita do nascimento e mor- 10 HISTÓRIA DO XADREZ te como comuns a toda a humani- dade. Essa imagem foi muito popu- lar através de toda a Idade Média, e mesmo depois. É mencionada, por exemplo, no Dom Quixote, de Mi- guel de Cervantes. Aliás, há muitas referências ao xadrez em fontes lite- rárias medievais, principalmente ro- mances. Há passagens sobre reis re- solvendo questões de Estado através do jogo, condenados jogando en- quanto esperavam a execução, tabu- leiros mágicos feitos pelo mago Mer- lin etc. Rabelais tem uma longa des- crição de um jogo de “xadrez vivo”, isto é, com pessoas ocupando o lugar de peças. Mas voltemos à “morali- dade”, que prossegue descrevendo agora o movimento das peças: “A Rainha move-se e toma [isto é, captura peças adversárias] na diagonal [essa é uma regra an- tiga], de modo torto, pois a mulher é tão cobiçosa que só toma tortamen- te, por obra da rapina e da injustiça. A Torre é o justiceiro que percorre toda a terra em linha reta como sinal da justiça com que tudo julga e de que por nada deve seu ofício cor- romper-se. O movimento do Cava- leiro é composição de reto e torto. O reto, representando o direito que tem, em justiça, como senhor da propriedade, de cobrar impostos e de impor justas penas conforme o exija o delito; representando as in- justas extorsões a que submete os súditos. Os Bispos movem-se oblí- qua e tortuosamente duas casas [ou- tra regra de movimento antiga] por- que muitos prelados se pervertem pelo ódio, amor, presentes, ou favo- res para não corrigir os delinquentes nem ladrar contra os vícios, tratan- do os pecados como um terreno ar- rendado por uma taxa anual. E as- sim enriquecem o diabo, fomentan- do os vícios ao invés de extirpá-los esse tornam procuradores do diabo. Os Peões são os pobres que andam uma casa em linha reta, pois enquanto o pobre permanece na sua simplicidade vive honestamente, mas, para tomar, se corrompe e o faz tortamente, pois pela cobiça se bens ou honras, sai do reto caminho com falsos juramentos, adulações ou mentiras.” Finalmente, há uma passa- gem interessante sobre o desfecho do jogo; “O diabo diz: xeque! inci- tando ao mal e ferindo com o dardo do pecado. E se o atingido não sai ra- pidamente dizendo: livre! pela peni- tência e compunção do coração, o di- abo lhe diz: mate! levando sua alma ao inferno de onde não se poderá li- vrar de modo algum.” A parte referente aos movi- mentos do Rei, foi deixada porque aqui há um ponto importante. Deve ter ficado claro que o princípio sub- jacente aos movimentos das peças, para o autor da “moralidade”, éque 11 HISTÓRIA DO XADREZ um movimento reto simboliza um movimento/ação moralmente cor- reto, justo; um torto ou na diagonal significa um movimento/ação mo- ralmente incorreto, injusto. Ora, o Rei move-se e captura uma casa em todas as direções com movimentos, portanto, “retos” e “tortos”. Entre- tanto, a figura real era considerada de origem divina e fonte da justiça, e, portanto, não podia fazer movi- mentos “tortos” na vida. Qual a solu- ção? O moralista falsificou os movi- mentos da peça, suprimindo os mo- vimentos “tortos” e dizendo que o Rei se movia apenas retamente. No entanto, naquela época como hoje essa peça se movia e capturava em todas as direções. Temos aqui um exemplo claro de que o interesse maior dessas “mo- ralidades” era com a alegoria e não com o jogo. Isso não quer dizer que as moralidades não tenham tido im- portância para o desenvolvimento do jogo na Europa. Possivelmente elas divulgaram o xadrez e ajudaram a diminuir o preconceito eclesiástico inicial. Mas, como o historiador do xadrez Murray nota, “para o mora- lista a fábula era de muito maior im- portância do que os detalhes do jogo, e os detalhes tinham que se en- caixar na explicação, e não o inver- so.” O xadrez fornecia apenas a mol- dura para as alegorias. O alvo das “moralidades” era outro. Nem todas as alegorias medi- evais, é bom notar, eram de fundo religioso. Há um poema francês do século XIV, chamado Les échecs amoureux que é a descrição, movi- mento por movimento, de um jogo entre uma dama e seu pretendente. O paralelo entre amor e xadrez apa- rece também num livro publicado em 1497 pelo espanhol Luís Lucena, intitulado Repetición de amores e arte de axedrez. Por volta de 1475, ocorreram algumas mudanças significativas nas regras do jogo, que modificaram o xadrez árabe e deram origem ao xadrez moderno na Europa Ociden- tal. Basicamente, o ritmo do jogo foi acelerado e algumas peças substitu- ídas. Os primeiros livros sobre a nova forma do jogo foram todos es- critos na Península Ibérica. Na segunda metade do século XVI, o jogo teve um grande desen- volvimento, e os melhores jogadores passaram a ser patrocinados por mecenas, inclusive reis. Nessa época também começaram a surgir tor- neios. O mais antigo documentado ocorreu em 1575 na corte de Felipe II da Espanha, quando se enfrenta- ram jogadores espanhóis e italianos. Venceu o italiano Giovanni Leonar- do, que recebeu mil ducados, uma capa de arminho e durante vinte anos sua cidade natal Cutri, da Calá- bria, esteve isenta de tributos. 12 HISTÓRIA DO XADREZ Desde então, o xadrez atraves- sou todas as tendências históricas e modas culturais que surgiram. A partir de 1730, passou a ser muito jo- gado em cafés, como o de la Régen- ce, em Paris, um dos mais famosos pontos de encontro de xadrez de to- dos os tempos, com frequentadores ilustres como Voltaire, Rousseau, Robespierre, Benjamin Franklin, Napoleão e Richelieu. O xadrez tam- bém não ficou alheio ao igualita- rismo iluminista da fase pré-revolu- cionária. Cinquenta anos antes da tomada da Bastilha, foi publicado o livro fundador do xadrez moderno, por um compositor de música e jo- gador de xadrez chamado Philidor (1726-95) L’ analyse des échecs, que teve enorme sucesso. Nesse livro, é pela primeira vez descrita a estraté- gia do jogo como um todo e afirmada a importância decisiva da formação de peões, até então os elementos menos considerados do jogo, por se- rem o de menor poder ofensivo. Mas era época do Iluminismo, e os peões foram revalorizados por Philidor numa frase famosa: “eles são a alma do xadrez.” A partir daí, a teoria sobre o jogo foi desenvolvida de forma inin- terrupta. Surgiram várias “escolas” que preconizavam diferentes estilos ou maneiras de conduzir as partidas de xadrez, como a “Escola Modenen- se” (de Modena, uma cidade itali- ana), que em geral se opunha aos en- sinamentos de Philidor, preconizan- do a importância fundamental do ataque rápido e direto ao Rei inimi- go através das peças. No final do sé- culo XIX, Wilhelm Steinitz (1836- 1900) desenvolveu críticas ao xadrez de estilo “romântico”, que defendia o ataque rápido a todo custo, e mos- trou a importância da defesa e do acúmulo de pequenas vantagens ao longo do jogo. Ele propunha uma apreciação científica, objetiva do jogo de xadrez. Já um adversário seu, o médico alemão de origem ju- daica Siegbert Tarrasch (1862- 1934), via a partida de xadrez como a imagem de uma guerra: a fase de abertura da partida correspondia à mobilização, ao desenvolvimento estratégico e ao engajamento nos combates iniciais; o meio da partida era a batalha propriamente dita, on- de se decidia a vitória, e o final, a re- alização da superioridade obtida nas fases anteriores. Em sua teoria do jogo, Tarrasch distinguia três ele- mentos principais: as forças, o es- paço e o tempo, que seriam permu- táveis entre si, um podendo trans- formar-se no outro. Na década de 1920 surgiu, em reação a princípios considerados formalistas e ortodo- xos como os de Tarrasch, um movi- mento batizado de “hiper modernis- 13 HISTÓRIA DO XADREZ mo”, cujos expoentes permitiam ao adversário ocupar a posição central do tabuleiro mantendo no entanto um controle estratégico, à distância, desse centro para depois contra-ata- car e demolir suas posições. Para se ter uma ideia da varie- dade de estilos e concepções a res- peito do jogo. Hoje em dia, o tempo das “escolas” passou, importando mais o estilo individual para deter- minar a maneira pela qual os gran- des jogadores atuam. Essas “esco- las” têm a ver, é bom notar, com grandes jogadores, e não com a mai- oria absoluta de jogadores amado- res, que não dominam sutilezas teó- ricas a respeito de estratégia, nem são virtuosos táticos jogam apenas por distração. Uma afirmação que parece bastante plausível em relação aos jo- gos em geral é que eles estão intrin- secamente relacionados às caracte- rísticas sociais e culturais das socie- dades em que são jogados, que são ritualizações de componentes cultu- rais dessas sociedades, e que não po- dem ser “compreendidos” sem que o analista leve em consideração esses vínculos. Essa afirmação segue um esquema de pensamento bastante característico das ciências humanas contemporâneas, e que é aplicado em vários contextos e a vários obje- tos. A história do jogo de xadrez, no entanto, coloca alguns problemas à universalidade dessa afirmação, porque trata-se de um jogo transcul- tural, presente em culturas e mesmo civilizações muito distantes no tem- po, no espaço e em características culturais. Uma crítica “nominalista” poderia dizer que “xadrez” é apenas uma palavra que, apesar de comum a diferentes culturas, representa na realidade jogos diversos, posto que jogado e representado culturalmen- te de diferentes formas. Isso pode ser válido para outros jogos, talvez mesmo para a maioria, mas no caso do xadrez esse argumento é fraco. As “moralidades”, “escolas” e outras apropriações culturais do jogo são claramente acessórias. Para além delas, permanece uma estrutura de jogo razoavelmente imutável e que atravessou dessa forma diferentes contextos culturais através de vários séculos. 15 HISTÓRIA DO XADREZ 2. A Origem do Xadrez Moderno Fonte: Revista Zunai2 tualmente o xadrez tem gran- des adeptos sendo um dos jo- gos mais populares do mundo, pra- ticado por milhões de pessoas em torneios (amadores e profissionais), clubes, escolas, pela Internet, por correspondência e informalmente. Há uma estimativa de cerca de 605 milhões de pessoas em todo o mun- do que sabem jogar xadrez e destas, 7,5 milhões são filiadas a uma das fe- derações nacionais que existem em160 países em todo o mundo. Em 19 de novembro, data do nascimento de José Raúl Capablan- ca é comemorado todos os anos “O Dia Internacional do Enxadrismo”, foi o único hispano-americano a se 2 Retirado em https://revistazunai.com.br/os-maiores-mitos-sobre-xadrez/ sagrar campeão mundial, conside- rado um dos maiores enxadristas de todos os tempos. Entre 1450 e 1850, o xadrez começou a ter mudanças vi- síveis em relação ao que conhece- mos hoje em dia. Foi nesse período que diversas peças ganharam movi- mentos que conhecemos atualmen- te, claro, todos esses movimentos e peças tendo como origem a Chatu- ranga. O elefante (o antecessor do moderno bispo) somente podia mo- ver-se em saltos por duas casas nas diagonais. O vizir (o antecessor da dama) somente uma casa nas diago- nais. Os peões não podiam andar duas casas em seu primeiro movi- mento e não existia ainda o roque. A 16 HISTÓRIA DO XADREZ Os peões somente podiam ser pro- movidos a vizir, que era a peça mais fraca, depois do peão, em razão da sua limitada mobilidade. As regras do xadrez que conhecemos hoje co- meçaram a ser feitas em 1475, só não se sabe ao certo onde ocorreu esse início. Alguns historiadores diver- gem entre Espanha e Itália. Foi neste período que os peões ganharam a mobilidade que conhe- cemos hoje em dia, que se resume em mover-se duas casas no seu pri- meiro movimento e tomar outros peões en passant. Nessa época tam- bém foram definido os novos movi- mentos dos bispos e da rainha e, o mais importante, a rainha tornou-se a peça mais importante do jogo, sen- do a única capaz de se movimentar para qualquer lado e avançar ou re- cuar quantas casas quiser. Os movimentos das demais peças, juntamente com o resto das regras que englobam todo o xadrez, só foram formalmente modificadas no meio do século XIX, e tais regras ainda se mantêm até hoje. A partida de xadrez é dispu- tada em um tabuleiro de casas claras e escuras, sendo que, no início, cada enxadrista (o nome que se dá ao jo- gador de xadrez) controla dezesseis peças com diferentes formatos e ca- racterísticas. O objetivo da partida é dar xeque-mate (também chamado simplesmente de mate) no rei adver- sário. O dia internacional do xadrez celebra-se anualmente a 20 de julho, comemorando o dia em que se fun- dou a Federação Internacional de Xadrez (FIDE) em 1924. Sobre as Regras do Xadrez O xadrez é um dos jogos mais complexos que o Homem já criou. O seu principal objetivo é conquistar o “rei” de seu adversário. Para jogar é necessário um tabuleiro composto por oito colunas e oito linhas, o que resulta em 64 casas possíveis para a mobilidade das peças. As peças são compostas de oito peões, duas tor- res, dois cavalos, dois bispos, uma rainha e um rei. Para realçar a sua complexidade é costume dizer que o número de combinações possíveis de movimentos em xadrez, supera o número de estrelas no universo. Sobre as regras do jogo, são 32 peças, 16 brancas e 16 pretas. Sendo que ambas as cores possuem: 2 Tor- res. 2 Cavalos. 2 Bispos. 1 Dama. 1 Rei. 8 Peões. Tabuleiro - tabuleiro de 64 casas, claras e escuras. Objetivo - Impor o xeque-mate ao adversário ou o seu rendimento. Apesar de ser um jogo fácil de aprender a jogar de forma básica, só um grupo muito pequeno de pessoas o consegue dominar com elevada 17 HISTÓRIA DO XADREZ mestria e mesmo assim só após mui- ta prática. A mais antiga forma de xadrez como já dito apareceu na Índia no século VI, derivado de antiquíssimo jogo hindu conhecido por “Chatu- ranga”, nome que aludia às quatro armas do exército indiano: elefante, cavalo, carro e infantaria. Poderíamos então ser levados a considerar os indianos como o po- vo inventor do xadrez, visto que sua história começou na Índia. Isso não significa no entanto que essa forma primitiva de xadrez fosse parecida com a que jogamos hoje. De fato, pode-se perceber isso só por saber que a forma mais antiga de xadrez era jogada por quatro jogadores. Este modelo inicial no entanto intro- duziu as diferentes peças correspon- dentes às variadas posições e que o tornam um claro ancestral do xadrez moderno. Fonte: https://http2.mlstatic.comxadrez- com-4-quatro-jogadores Da Índia, o referido protótipo de xadrez atingiu a Pérsia, hoje Irão. É de onde provêm os termos xeque e xeque-mate, tendo os persas modifi- cado grandemente o jogo tornando- o mais parecido com o que jogamos hoje. Os persas podem não ser can- didatos a ser o povo que inventou o xadrez mas, no entanto, contribuí- ram grandemente para o seu desen- volvimento por terem modificado o jogo e por serem um ponto de passa- gem através do qual o xadrez chegou à Europa. Foi durante o século XIII que o xadrez ganhou uma posição firme no continente Europeu e se tornou real- mente popular. Foi também nesta época que o xadrez moderno nasceu, desde as regras que conhecemos hoje, tais como a capacidade do peão ser promovido uma vez atingido o quadrado mais distante e a rainha ser a peça mais poderosa, regras que foram postas em prática em Espa- nha e Itália. Assim, pode-se dizer que os italianos e espanhóis foram os “criadores” do xadrez, particular- mente na sua forma atual. Tal como é jogado atualmente, o Xadrez assume um carácter Medi- eval. Assemelha-se à guerra conven- cional e a um jogo da Corte, con- forme pode ser visto pelos nomes e pelo movimento das peças sobre o tabuleiro de 64 casas. 18 HISTÓRIA DO XADREZ Independentemente de quem consideramos ser os seus invento- res, é importante lembrar que todos estes povos contribuíram fortemen- te em fazer do xadrez o jogo extre- mamente complexo e agradável que é hoje. O xadrez é um jogo de racio- cínio e inteligência, famoso no mun- do todo. Mas poucos conhecem a história desse jogo. Antigos manuscritos de xa- drez, denominados Mansubas, sur- giram em Bagdá, durante a Idade de Ouro Árabe. No início do século IX o califa de Bagdá Haroun-al-Rachid deu a Carlos Magno um jogo de xa- drez em mármore. No século IX, o xadrez foi introduzido na Europa, tornando-se popular em todo o con- tinente. As regras e os movimentos das peças do xadrez foram determi- nadas no século XV, garantindo ao jogo o status de passatempo favorito da sociedade aristocrática europeia na Idade Média. A origem do xadrez é certa- mente o maior mistério existente no mundo. Atribui tanto a origem do xadrez ao Rei Salomão quanto aos sábios mandarins contemporâneos de Confúcio. Mas outras pessoas também atribuem a origem do xa- drez aos Egípcios. O documento mais antigo, sobre o jogo do xadrez, é provavelmente a pintura mural da câmara mortuária de Mera, em Sa- karah (nos arredores de Gizé, no Egito). Ao que parece, essa pintura, que representa duas pessoas jogan- do xadrez, ou algo semelhante, data de aproximadamente 3000 anos an- tes da era cristã. Segundo alguns his- toriadores do mais autorizados, que se dedicaram ao assunto, parece que seu berço foi a Índia, aonde teria surgido por volta do século V ou VI de nossa era, derivado de antiquís- simo jogo hindu que é conhecido por “Chaturanga”, isto é 4 lados. Daí teria passado à Pérsia aonde foi buscar o mundo islâmico, que por sua vez o transmitira à Eu- ropa por duas vias distintas: Se- gundo uns, pela invasão muçulmana da Península Ibérica, e segundo ou- tros, durante seu confronto Oci- dente-Oriente quando da Primeira Cruzada. No Brasil, o jogo existe desde 1808, quando D. João VI ofe- receu a Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro, um exemplar do pri- meiro trabalho impresso sobre a matéria, de Autoria de Lucena. O objetivo do jogo do xadrez é muito simples: basta formar uma es- tratégia para capturar o rei inimigo.Dar xeque não significa "comer" a maior parte das peças inimigas, não é preocupando-se só em pegar as pe- ças inimigas que você vai chegar no xeque, é preciso só cercar o rei de modo que este não tenha mais como se defender. 19 HISTÓRIA DO XADREZ A principal diferença entre o jogo atual e seu antecessor ficava por conta de limitação de movimento das peças. O atual Bispo era conhe- cido como Elefante e se movimen- tava apenas por duas casas diago- nais a cada jogada. A Dama, peça mais poderosa do xadrez moderno, era conhecida como Vizir, e tinha mais valor apenas que os peões, já que seu movimento era restrito a uma única casa diagonal. Os peões, por sua vez, não eram possibilitados de se mover duas casas em sua pri- meira jogada, e não existia o roque. As primeiras mudanças passa- ram a ocorrer no século XII, mas foi em 1475 que regras foram aplicadas para tornar o xadrez algo mais pare- cido com o que vemos atualmente. Não se sabe exatamente se a origem das alterações é a Itália ou a Espa- nha, mas os movimentos conhecidos na atualidade foram todos reajusta- dos nessa época e difundidos rapida- mente pela Europa. A partir dessas modificações nas regras, o jogo ganhou mais des- taque e passou a ter táticas mais ela- boradas, tanto para a abertura quanto os finais das partidas, além de publicações de inúmeros livros a respeito. Foi na França, no século XVIII, que eventos de xadrez passa- ram a ganhar repercussão. Os mes- tres da época se enfrentavam em partidas épicas, cujo palco eram as coffee houses, distribuídas pelas maiores cidades europeias. No sé- culo seguinte, os clubes de xadrez ti- veram um rápido desenvolvimento e partidas por correspondência entre cidades tornaram-se comuns. Jor- nais passaram a destacar o jogo e publicações foram feitas contendo ideias avançadas dos mais célebres enxadristas do momento. As cafeterias mais importantes da época para os jogadores de xadrez foram a Slaughter’s Coffee House, de Londres, e a Café de la Régence, de Paris. Muitos dos principais no- mes da época passaram por essas ca- sas, incluindo Philidor, um jovem considerado um gênio por muitos jogadores, Kermeur, Deschapelles, Saint-Amant e personalidades de re- nome fora do xadrez, como Benja- min Franklin. Franklin, embora fosse de um país até então com pouca expressão no jogo, contribuiu muito durante os anos que viveu em Paris e frequen- tou os cafés. Suas publicações se es- palharam pela Europa antes mesmo de chegar ao seu país natal e, além de estratégias de jogo, seus textos continham também lições éticas, co- mo formas de se comportar nos mo- mentos de vitória ou derrota. O xa- drez se torna um esporte. O primeiro torneio com as re- gras modernas de xadrez foi reali- zado em Londres, no ano de 1851. O 20 HISTÓRIA DO XADREZ alemão Adolf Anderssen, renomado na época e considerado o então me- lhor enxadrista no mundo, sagrou- se campeão. Os alemães dominaram os campeonatos de xadrez por mui- tos anos, passando por campeões como Steinitz, Zukertort e Lasker, conhecido por ser o primeiro a utili- zar táticas psicológicas contra seus adversários. Apenas em 1921 o cu- bano José Raul Capablanca pôs fim à hegemonia alemã no esporte. Para concretizar o xadrez como um esporte, em 1924 foi criada a Federação Internacional de Xa- drez, FIDE, que segue até hoje pro- movendo os campeonatos mundiais da categoria, nos quais inúmeros en- xadristas já se tornaram campeões com técnicas inovadoras, trazendo ao esporte partidas realmente me- moráveis e tornando-o muito mais que um simples jogo de tabuleiro. A Itália contribui com as obras de Carrera (1617) e de Greco (1688), que foram os precursores do xadrez moderno. No século XVII e princí- pios do século XVIII surgiram ou- tros valores como o árabe Felipe Stamma (1735), o francês André Da- nican Philidor (1740), e os italianos Ercole do Rio, Loky e Ponziani. Para o estudo do xadrez e sua melhor compreensão se propõem a divisão de sua história e desenvolvi- mento em dois grandes períodos: o antigo e o moderno. Antigo: desde sua origem até início do século XVII, quando se consolida as regras fundamentais. Moderno: se inicia na Espanha e compreende de 1600 até os nossos dias. Para seu estudo foi dividido em duas etapas, considerando as carac- terísticas técnicas do jogo. Romântica ou Clássica: (1600- 1886), caracterizada pelos sacrifí- cios e combinações ao estilo de um dos mais representativos enxadrista desta etapa, o norte americano Paul Charles Morphy, e Científica: (1886), definida tecnicamente pelo austríaco Wilhelm Steinitz, que a partir de um estudo profundo da obra de Morphy e de outros famosos jogadores da etapa anterior, criou as bases para o estudo do xadrez com critérios formais. Wilhelm Steinitz (1886-1894) é oficialmente o primeiro campeão mundial de xadrez. O título de Cam- peã Mundial Feminino começou a ser disputado em 1927, em Londres, durante o Torneio das Nações, nome inicial das Olimpíadas de Xadrez. Vera Menchik foi a primeira campeã e reinou até a sua morte, em 1944. 22 HISTÓRIA DO XADREZ 3. História do Xadrez no Brasil Fonte: Dicas Xadrez3 xadrez é um jogo onde a lógica e raciocínio são essenciais. A sorte não existe e somente a capaci- dade de concentração dos competi- dores que vai definir quem é o ven- cedor. A origem desse jogo é contro- versa, lendas contam que foi um jogo criado na Índia e se chamava chaturanga. As regras eram diferen- tes e 4 pessoas jogavam. Outra lenda é a de que foi um jogo idealizado pelo Rei Salomão que não queria mais jogos que en- volvessem sorte e habilidade física, mas que só dependesse da inteligên- cia e estratégia dos competidores. A 3 Retirado em http://dicasxadrez1.blogspot.com/2012/06/historia-do-xadrez-no-brasil_5.html lenda conta que o Rei Salomão criou uma competição para que desenvol- vessem um jogo com esses critérios e alguém inventou o xadrez. Os Primeiros Campeona- tos de Xadrez no Brasil A história do xadrez no Brasil é longa, os primeiros campeonatos nacionais já eram disputados em 1927. O primeiro campeão foi João de Souza Mendes Junior, ele venceu o campeonato que foi disputado no Rio de Janeiro. Além de enxadrista, O 23 HISTÓRIA DO XADREZ Mendes também era médico otorri- nolaringologista, médico sanitarista do Instituto Oswaldo Cruz. Mendes disputou diversos campeonatos de xadrez e foi um importante jogador pra a história do xadrez no Brasil. O primeiro campeonato femi- nino de xadrez foi disputado em 1960 e a vencedora foi Dora de Cas- tro Rúbio. O torneio ocorreu na ci- dade de Brusque e foi lá que Dora se consagrou a primeira mulher a ga- nhar um torneio de xadrez nacional no Brasil. O grande nome da história do xadrez no Brasil é o enxadrista Hen- rique Costa Mecking, o Mequinho. É considerado o melhor jogador de xa- drez do Brasil e já chegou se tornar o terceiro no ranking mundial, no ano de 1977. Porém Mequinho abando- nou os tabuleiros durante um longo período para tratar de uma grave do- ença. O xadrez no Brasil é um jogo que goza de muitos adeptos, mas sempre com períodos de hiatos e efervescências entre as gerações. É no império, durante o século XIX, que o jogo começa a se estruturar oficialmente, particularmente na corte do Rio de Janeiro. O primeiro torneio de xadrez efetuado no Brasil, em 1880, contou com a participação de Machado de Assis (que foi o pri- meiro brasileiro a ter um problema de xadrez publicado), Arthur Napo- leão (grande divulgador e pioneiro do jogo no Brasil), João Caldas Vi- ana Filho, visconde de Pirapitinga (o primeiro grande enxadrista brasi-leiro e provavelmente o maior joga- dor surgido no Brasil até 1930), Charles Pradez (suíço que residiu al- guns anos no Rio de Janeiro), Joa- quim Navarro e Vitoriano Palhares. Na literatura enxadrística, o Xadrez Básico, escrito pelo médico e mestre nacional Orfeu D’Agostini, influenciou gerações de enxadristas brasileiros, assim como o Manual de Xadrez, de Idel Becker e publicado em 1948. O Xadrez Básico tornou-se um best-seller no Brasil, tendo sido publicado pela primeira vez no ano de 1954. Na atualidade, um dos au- tores mais importantes é o MI Ru- bens Filguth que escreveu uma bio- grafia de um dos mais importantes enxadristas brasileiros, intitulada Mequinho, o perfil de um gênio e a obra de referência Xadrez de A a Z, dentre outras obras. Henrique Mecking, mais co- nhecido como Mequinho, é conside- rado o mais importante enxadrista brasileiro, tendo alcançado o seu auge no ano de 1977, quando foi con- siderado o terceiro melhor jogador do mundo, superado apenas por Anatoly Karpov e Viktor Korchnoi. Todavia, uma doença grave, a mias- 24 HISTÓRIA DO XADREZ tenia, que compromete seriamente o sistema nervoso e os músculos, fez Mequinho abandonar as competi- ções em 1978. No estágio mais grave da doença passou a frequentar os cultos da Renovação Carismática Católica. Ao se recuperar, passou a dedicar-se integralmente à religião, mas sempre alimentou a esperança de voltar a jogar xadrez. Finalmente voltou a jogar em 1991, num match de seis partidas contra o grande mestre Pedrag Nikolić. Em 2001, venceu Judit Polgar, a maior enxa- drista do mundo. Mequinho vem participando de diversos torneios pela Internet e é atualmente um Grande Mestre Internacional, com uma pontuação de 2.565 no rating FIDE, ocupando a quarta posição no ranking brasileiro no início de 2008. No ano de 2009, a CBX organizou o I Campeonato Brasileiro pela Inter- net, disputado nos servidores do In- ternet Chess Club, cujo campeão foi o GM Henrique Mecking após final contra o GM Rafael Leitão, sendo o título decidido em um tie-brake. Em 2011, o campeão brasileiro pela Confederação Brasileira de Xa- drez (CBX) é o GM Rafael Leitão, tí- tulo conquistado no 78º Campeo- nato Brasileiro Absoluto de Xadrez realizado em Campinas. A campeã brasileira é Artêmis Cruz (ainda sem título FIDE), título conquistado no 51º Campeonato Brasileiro Femini- no, realizado no Balneário Cambo- riú. Machado de Assis era apaixo- nado pelo jogo de xadrez. Seu inte- resse por este divertimento levou-o a ocupar posição destacada nos cír- culos enxadrísticos do tempo do Im- pério, percursores do xadrez no Bra- sil. Mantinha correspondência com as seções especializadas dos periódi- cos da época, compondo problemas (foi o primeiro brasileiro a ter um problema de xadrez publicado) e enigmas, e, indo mais além, partici- pou do primeiro torneio de xadrez efetuado no Brasil, em 1880. Sua primeira referência literária explí- cita ao xadrez data de 1864, no conto "Questão de Vaidade"; a data faz su- por que seu professor provavelmen- te tenha sido Arthur Napoleão, pia- nista, compositor, editor de partitu- ras musicais luso-brasileiro, que chegou a acompanhar ao Brasil, de volta de uma de suas viagens à Eu- ropa, a futura esposa de Machado, Carolina Xavier de Novais. Napo- leão, divulgador obstinado do xa- drez em diversas revistas, jornais e clubes brasileiros, era precoce; aos dezesseis anos de idade, o virtuose luso radicado no Brasil enfrentara o famoso campeão do mundo Paul Charles Morphy em Nova Iorque. “Tudo pode ser, contanto que me salvem o xadrez.” – Macha- do de Assis, em crônica de 12/ 01/1896. 25 HISTÓRIA DO XADREZ Conforme confessa em crônica de 5 de maio de 1895, na sua coluna dominical A Semana na Gazeta de Notícias, Machado já frequentava o Clube Fluminense em 1868 com a fi- nalidade de jogar xadrez. Mais tarde, passou a praticar no Grêmio de Xadrez, que funcionava em cima do Club Politécnico, na Rua da Constituição, número 47. Em 15 de junho de 1877, foi publicado na re- vista Ilustração Brasileira, na pri- meira seção de xadrez brasileira, sob a responsabilidade de Napoleão, o primeiro problema de xadrez de au- tor brasileiro publicado no Brasil: a autoria era justamente de Machado de Assis, que já escrevia crônicas no periódico. Este problema acabou sendo publicado também no livro Caissana Brasileira, de Arthur Na- poleão, segundo livro sobre xadrez publicado no Brasil (o primeiro foi O Perfeito Jogador de Xadrez, de 1850) e o mais icônico livro brasi- leiro sobre xadrez publicado no sé- culo XIX. O livro, lançado em 1898, é uma coletânea de 500 problemas de xadrez criadas por diversos auto- res, além de trazer bibliografia e his- tórico do jogo no Brasil. Sobre o pro- blema de Machado, Napoleão es- creve: "Como o poeta francês Alfred de Musset, Machado de Assis com- pôs um bonito 2 lances." Em abril de 1878, a Ilustração Brasileira deixa de sair. Três anos depois da pioneira publicação do problema enxadrís- tico machadiano na Ilustração Bra- sileira, a Revista Musical e de Belas- Artes, fundada e editada por Napo- leão e Leopoldo Miguez em 1879, anuncia o primeiro torneio de xa- drez disputado no Brasil, em 1880. Participariam seis dos melhores amadores da Corte: Machado de As- sis, Arthur Napoleão, João Caldas Viana Filho, visconde de Pirapitinga (o primeiro grande enxadrista brasi- leiro e provavelmente o maior joga- dor surgido no Brasil até 1930), Charles Pradez (suíço que residiu al- guns anos no Rio de Janeiro), Joa- quim Navarro e Vitoriano Palhares. Após as primeiras rodadas do tor- neio, o resultado parcial divulgado mostrava Machado de Assis lide- rando com seis pontos, seguido de Arthur Napoleão (cinco e meio), Cal- das Vianna (quatro e meio), Charles Pradez (quatro), Joaquim Navarro (um) e Vitoriano Palhares (um). Ma- chado de Assis terminou o torneio em terceiro lugar, atrás apenas de Arthur Napoleão e João Caldas Vi- anna. A revista termina em 1880 e o Jornal do Comércio, em 1886, passa a publicar aos domingos uma coluna de Napoleão. Num artigo em retros- pecto dos torneios de xadrez, publi- cados por este jornal em 3 de janeiro de 1886, não há menção da partici- pação de Machado entre os dispu- tantes. 26 HISTÓRIA DO XADREZ Estes fatos foram pesquisados e coletados em revistas e jornais da época existentes na Biblioteca Naci- onal por Herculano Gomes Mathias em "Machado de Assis e o jogo de xadrez", artigo publicado nos Anais do Museu Histórico Nacional, vo- lume 13, 1952-1964, que estabelece também uma cronologia das men- ções enxadrísticas em relação a Ma- chado de Assis. Após o primeiro tor- neio brasileiro de xadrez, cada vez mais rareiam documentos que rela- cionem Machado ao jogo, mas seu interesse se manteve. Em 4 de ja- neiro de 1882, fundava-se no Rio o Clube Beethoven, casa restrita com saraus íntimos e concertos de mú- sica clássica que, em pouco tempo, contava com uma sala de xadrez. Através do Almanaque Laemmert de 1884, é possível constatar que aderi- ram ao Clube novos sócios enxadris- tas, como Napoleão, Charles Pradez, Caldas Vianna e Machado de Assis. Machado de Assis, que também ser- via na direção do clube funções de bibliotecário, lamenta o fim do clube em crônica de 5 de julho de 1896: " Mas tudo acaba, e o clube Beetho- ven, como outras instituições idênti- cas, acabou. A decadência e a disso- lução puseram termo aos longos dias de delícias." Herculano Gomes Mathias nota, porém, que nos tor- neios efetuados pelo clube, a partir de 1882, não consta a participação de Machado de Assis, nem mesmo no Club dos Diários, onde jogava muito, ao contrário de Caldas Vi- anna e de Arthur Napoleão, cujos nomes estão na relação de associa-dos. Ainda assim, em crônica de 2 de janeiro de 1896, lemos uma referên- cia ainda entusiasmada: "Meu bom xadrez, meu querido xadrez, que és o jogo dos silenciosos " Mathias ava- lia: "A qualidade do jogo de Ma- chado examinada através do estudo de suas partidas, e a facilidade com que solucionava os problemas publi- cados na imprensa dão-nos uma ideia lisonjeira de sua força como jo- gador. Vê-se que Machado de Assis, no que toca aos parceiros Arthur Na- poleão e João Caldas Viana, estava em boa companhia." Tabuleiro de xadrez que per- tenceu a Machado de Assis. Nos anos 60, o tabuleiro estava na posse do Marechal Estevão Leitão de Car- valho. Em 1997, o tabuleiro de ma- deira e vidro, em estilo imperial, era mantido junto a diversos outros mó- veis de Machado, como sua cama e mesa da sala de jantar, em más con- dições de conservação na biblioteca do Centro de Letras e Artes da Uni- Rio. Um ano depois, a Academia Brasileira de Letras se apropriou de todo seu mobiliário e acervo e fez um cuidadoso restauro que foi até mes- mo mostrado em exibição. Só exis- 27 HISTÓRIA DO XADREZ tem seis tabuleiros de xadrez escul- pidos em madeira no mundo, sendo este o único na América do Sul. Em artigo intitulado "Macha- do de Assis, o enxadrista", de 2008, para a Revista Brasileira, publicada pela Academia Brasileira de Letras, o enxadrista e analista de sistemas Cláudio de Souza Soares considera estes dados históricos todos para analisar se a mentalidade enxadrista de Machado de Assis poderia revelar algo de sua genialidade. Considera alguns momentos proeminentes em que o jogo aparece em sua obra. No conto "Antes que Cases..." (1875), a personagem Ângela diz para o per- sonagem Alfredo: "- A vida não é um jogo de xadrez." No romance Iaiá Garcia (1878), volta atrás, ao descre- ver que "Das qualidades necessárias ao xadrez, Iaiá possuía as duas es- senciais: vista pronta e paciência be- neditina; qualidades preciosas na vida, que também é um xadrez, com seus problemas e partidas, umas ga- nhas, outras perdidas, outras nulas." Cláudio de Souza Soares afirma: "A discrição e a obstinação de Machado eram características de um grande enxadrista. Quanto mais sua obra se afirmar, mais ele se torna um ho- mem retraído, calado, metido con- sigo. Em 1880, época de sua mais in- tensa atividade enxadrística, ele pú- blica, originalmente como folhetim, o romance que para muitos é o divi- sor de águas em sua carreira: Memó- rias Póstumas de Brás Cubas." Anos mais tarde, no romance Esaú e Jacó (1904), Machado de As- sis explica seu método de criação li- terária, comparando a narrativa a um jogo de xadrez: "Por outro lado, há proveito em irem as pessoas da minha história colaborando nela, ajudando o autor, por uma lei de so- lidariedade, espécie de troca de ser- viços, entre o enxadrista e os seus trebelhos." ("trebelho" é qualquer peça de xadrez) O jogo ainda é men- cionado em vários outros contos: "Questão de vaidade", "Astúcias de Marido", "História de uma Lágri- ma", "Rui de Leão", "Qual dos Dois", "Quem Boa Cama Faz", "A Carto- mante" e em diversas crônicas. Em seu artigo, Cláudio de Souza Soares sentencia: "Para a mente de um ro- mancista-enxadrista, a associação do jogo com a literatura soa natural. A leitura de um livro é apenas uma das possibilidades que o arranjo de suas jogadas, ou histórias, pode con- ter. Esse é o princípio da combinató- ria. Esse é o princípio do jogo que Machado propõe aos seus leitores. Enquanto um livro de Macha- do de Assis for exumado de uma es- tante e lido, é porque a partida con- tinua. Estamos em xeque. O próxi- mo movimento de Machado de Assis é um enigma. A ressaca no olhar 28 HISTÓRIA DO XADREZ inesgotável de Capitu é apenas um deles. Pistas essenciais para o estudo da obra do grande escritor brasileiro poderão ser descobertas nos labirin- tos do tabuleiro, no contínuo movi- mento de suas peças? Como ele pró- prio nos aconselha em Iaiá Garcia, será preciso manter a vista pronta e a paciência beneditina, pois aqui (e assim é a própria vida) jogamos xa- drez."" O interesse de Machado de As- sis pelo xadrez prolongou-se por muitos anos, conforme revela sua correspondência com o amigo Joa- quim Nabuco que, em 1883, lhe en- via de Londres retalhos de jornais com transcrições de partidas, aten- dendo ao pedido do amigo. Em crô- nica de 25 de fevereiro de 1894, evo- ca os personagens Próspero e Mi- randa da última peça de Shakespe- are, A Tempestade, para escrever: " diria à bela Miranda que jogasse co- migo o xadrez, um jogo delicioso, por Deus! imagem da anarquia, on- de a rainha come o pião, o pião come o bispo, o bispo come o cavalo, o ca- valo come a rainha, e todos comem a todos. Graciosa anarquia, tudo isso sem rodas que andem, nem urnas que falem!" Em 1927, na introdução do seu livro Xadrez Elementar, Eu- rico Penteado escreveu, em retros- pecto e homenagem: "Enfim, uma era nova parecia surgir para o xadrez nacional, quase moribundo, após os dias brilhantes de Caldas Vianna, Arthur Napoleão, Machado de Assis e outros. Quem trouxe o Xadrez para o Brasil O xadrez tornou-se conhecido pelos brasileiros em 1808 graças a dom João 6º. Nessa época, o impe- rador trouxe para o país o primeiro exemplar impresso de um trabalho sobre o jogo. A primeira competição oficial, no entanto, só foi realizada 72 anos depois. O primeiro brasileiro a con- quistar renome internacional no es- porte foi o Grande Mestre Henrique da Costa Mecking, o Mequinho, campeão brasileiro em 1967 e de 1974 a 1979. O xadrez jogado atualmente, tem sua origem datada no período medieval. A forma de mexer as peças do jogo foi sendo alterada com o pas- sar do tempo. O primeiro lugar onde ele apa- receu, no entanto, ainda é um misté- rio. Pesquisas apontam seu surgi- mento tanto na época do rei Salo- mão, que governou Israel de 961 a.C. a 922 a.C., outros, aos sábios man- darins contemporâneos de Confúcio (551 a.C. a 479 a.C.). Porém há indí- cios de que o xadrez já era disputado no Antigo Egito. 29 HISTÓRIA DO XADREZ O documento mais antigo so- bre o jogo é a pintura mural da câ- mara mortuária de Mera, em Sa- karah (nos arredores de Gizé, no Egito). A pintura representa algo se- melhante a duas pessoas jogando xadrez e data de aproximadamente 3.000 anos. A História do Xadrez na Ma- temática Os jogos estão presentes no ensino por apresentarem uma rele- vância no desenvolvimento cogni- tivo e promover simulações de situ- ações problemas, que requerem or- ganização de procedimento de solu- ções. Estudos relacionam o jogo de Xadrez com o ensino de Matemática por proporcionar situações que re- querem tomadas de decisões, pensa- mento crítico e que possibilitam aprendizagem através dos erros, si- tuações vistas em problemas mate- máticos, tendo sua aplicação na área da Matemática bastante vasta e não necessariamente de nível elementar. Os Parâmetros Curriculares Nacionais de Matemática (PCN) identificam os jogos como um ins- trumento importante para o desen- volvimento do aluno, pois os jogos levam o estudante a buscar um raci- ocínio para resolver situações pro- blemas que exijam soluções, por meio de uma situação prazerosa e interativa. Esse projeto tem por in- tuito atender às exigências de tais Parâmetros, uma vez que se objetiva a formação de cidadãos críticos e au- tônomos. Para muitos, o xadrez é uma ciência, outros afirmam que é um es- porte. Considerando o xadrez um jogo, como vários outros jogos que existem pelo mundo, disputado por duas pessoas, o xadrez é um dos poucos jogos que exercita a mente das pessoas de forma intensa e, para alguns, prazerosa. Ele aumenta a au- toestima, melhora a concentração, exercita a paciênciae faz enxergar que se deve obedecer a um sistema de regra e de ordens, tal como na so- ciedade, mostrando que devem ser respeitados os padrões de compor- tamento e as pessoas com as quais se convivem. Pode-se dizer que o jogo é um instrumento de extrema importân- cia didática, pois, mais que uma di- versão, é um meio que pode auxiliar na aprendizagem, disciplinar o tra- balho do aluno e ensiná-lo compor- tamentos básicos que podem ser ne- cessários na formação de sua perso- nalidade. O aluno quando inicia uma partida de xadrez fica à mercê de re- gras e de limites, porque a violação dessas regras traz consigo uma puni- ção. Essa punição mostra que o joga- dor deverá ter limites que deverão 30 HISTÓRIA DO XADREZ ser respeitados. Com isso, o jogador terá que aprender a ceder, a respei- tar e a aceitar o ponto de vista dos demais, passando a limitar sua pró- pria liberdade em favor dos outros. Ele começa a perceber que as regras são necessárias em todos os âmbitos de sua vida para que os aconteci- mentos sejam mais organizados. Em uma partida de xadrez, o respeito mútuo entre os participan- tes se faz sempre presente. Da mes- ma forma que o Judô, o Caratê e ou- tros esportes de luta têm um caráter disciplinador e de respeito entre os adversários, o xadrez também de- senvolve esse mesmo respeito aos oponentes. O cumprimento ao ini- ciar e ao finalizar uma partida e o respeito pelo silêncio do seu adver- sário que está pensando em uma jo- gada, ajudam a inserir no aluno par- ticipante de uma partida de xadrez aspectos comportamentais que se- rão refletidos no seu dia a dia. O xa- drez é um jogo que na sua própria regra valoriza a conduta e o respeito ao seu adversário. Um exemplo para esse fato é a situação em que um rei não pode ficar na casa vizinha do seu oponente. Essa regra coloca em evi- dência o respeito que um jogador deve ter em relação ao seu adversá- rio. Todo jogo dotado de regras con- tribui para a formação sócio afetiva do aluno, portanto, como o xadrez é um jogo com regras específicas, po- de-se concluir que este tem grande influência social. A relação entre o professor e aluno sempre passará pela relação da afetividade, onde podemos desta- car o carinho, a atenção, o amor e o respeito mútuo entre ambas as par- tes. Esse respeito deverá ser recípro- co, no qual um reconhece o outro co- mo um ser único. O xadrez engran- dece esse respeito entre o aluno e professor. O aluno enxerga na figura do professor um mestre no conheci- mento do xadrez. Essa figura de mestre engrandece a imagem do professor. O lado social do jogo de xadrez se faz presente quando a au- toestima e a autoconfiança de quem joga aumenta. Qual criança não se sente valorizada ao aprender a jogar xadrez? Quantos pais não ficam or- gulhosos de um filho ao simples- mente saber que ele está disputando uma partida de xadrez? O xadrez contribui de uma forma efetiva para a autoestima dos jogadores, mas sem egos inflados, já que derrotas são inevitáveis para qualquer joga- dor. Poucos jogos ensinam a impor- tância da concentração, como no xa- drez, um deslize na concentração pode levar o aluno à derrota ou à vi- tória. Alunos que praticam xadrez aprendem que a concentração é uma peça fundamental de um bom joga- dor - essa característica é fundamen- tal para o bom desempenho escolar 31 HISTÓRIA DO XADREZ de qualquer aluno. Um aluno que aprende a se concentrar na hora dos estudos, é um aluno com boas con- dições de aprendizado. O xadrez al- cança várias competências. No Projeto Xadrez nas Esco- las da Federação Internacional de Xadrez - FIDE (2004) cita-se algu- mas competências que o xadrez pode desenvolver: 1. Uma atitude favorável ao xa- drez, a qual permita apreciá-lo como elemento gerador de cultura. 2. A capacidade de atenção, me- mória, raciocínio lógico, inteligência e imaginação. 3. Estabelecer vínculos entre os conhecimentos e experiências enxa- drísticas e a vida cotidiana, indivi- dual e social. 4. Favorecer a assimilação das características do xadrez que contri- buam com o harmonioso desenvol- vimento intelectual, moral e ético da personalidade e que propiciem sua autonomia cognitiva. 5. Priorizar a resolução de pro- blemas. 6. Contribuir para a elevação da autoestima. 7. Favorecer o desenvolvimento da linguagem enxadrística e sua ha- bilidade de argumentação. 8. Tomar em conta, de maneira equilibrada, as diferenças individu- ais. Esse contexto coloca o xadrez como um grande aliado do professor no processo de aprendizado do alu- no e também na formação de um aluno crítico e participativo da sua sociedade. Infere-se assim que o xa- drez é um jogo que consegue desen- volver a autoestima e a autoconfi- ança, que melhora a concentração e o comportamento dos alunos pe- rante os professores e os seus cole- gas e que representa uma impor- tante ferramenta pedagógica. Mui- tos fatores são apresentados para o possível fracasso no aprendizado da matemática, entre eles a falta de ha- bilidades específicas. A forma como o conteúdo é trabalhado, pode ser também, uma das razões desse pro- cesso. Infelizmente, entre nós, o en- sino de Matemática fica quase que apenas nos níveis de conhecimento e utilização de métodos e procedi- mentos, isto é, o aluno aprende a ter- minologia e as fórmulas e treina fa- zer substituições para resolver pro- blemas de rotina. A Matemática fica transformada em algo rígido, aca- bado, chato, sem finalidade. A utilização de atividades lúdi- cas é considerada por muitos como um meio para favorecer o ensino de matemática. O xadrez demonstra-se como sendo uma atividade lúdica que apresenta fatores que facilitam, 32 HISTÓRIA DO XADREZ de uma forma mais prazerosa, o aprendizado de matemática. Nesse contexto, o aluno poderá apresentar as seguintes melhorias: Compreender e apreciar o pa- pel da Matemática como ins- trumento de evolução da hu- manidade; Planejar ações e projetar solu- ções para problemas novos que exijam iniciativa e criativi- dade; Compreender e transmitir ideias Matemáticas, por es- crito ou oralmente; O raciocínio para aplicar a Ma- temática no dia a dia proporci- onando confiança na sua capa- cidade de resolver problemas complexos; Utilizar métodos matemáticos para resolver problemas roti- neiros e problemas abertos; Perceber que existem proble- mas sem solução definida e problemas com ausência ou excesso de informações; Avaliar se os resultados obti- dos na solução de situações problemas são ou não são ra- zoáveis; Fazer estimativas mentais de resultados com cálculos apro- ximados; Saber aplicar técnicas básicas de cálculo aritmético; Saber empregar o pensamento algébrico, incluindo o uso de gráficos, tabelas, fórmulas e equações; Saber utilizar os conceitos fun- damentais de medidas em si- tuações concretas; Conhecer as propriedades das figuras geométricas planas e sólidas, relacionando-as com os objetivos de uso comum no dia- a- dia; Utilizar a noção de probabili- dade para fazer previsões de eventos ou acontecimentos; Integrar os conhecimentos al- gébricos e geométricos para resolver problemas, passando de um desses conhecimentos para outro, a fim de enriquecer a interpretação do problema, encarando-o sob vários pontos de vista. O Xadrez como Ferramentas de Ensino O conhecimento fragmentado vem sendo cada vez mais questio- nado como sendo um dos problemas da educação, “o conhecimento está cada vez mais fragmentado, por causa das disciplinas escolares, e por isso, que se diz cada vez mais, faça- mos interdisciplinaridade”. O xa- drez possui lendas, mitos, verdades e mentiras em sua volta, isso traz um vasto material para ser trabalhado em sala de aula. O xadrez éum jogo milenar com muita história para contar, sendo também um jogo de socialização entre alunos, professo- 33 HISTÓRIA DO XADREZ res e comunidade. O xadrez repre- senta uma possibilidade para reali- zação de um trabalho interdiscipli- nar. Podem-se envolver as seguintes disciplinas: Artes: trabalho da confecção de pe- ças com materiais reciclados. Inglês: trabalho com palavras téc- nicas do xadrez, para poder se utili- zar nos jogos on-line, onde o inglês é essencial. Educação física: trabalhar a soci- alização e realizar torneios entre os alunos. Entre os torneios pode ser realizado o xadrez humano, onde os alunos representam peças de um ta- buleiro de xadrez. História: trabalhar a lenda da ori- gem do xadrez e a evolução do xa- drez com a evolução da sociedade, mostrando que as peças foram mu- dando com a evolução da sociedade. Informática: jogar de forma on- line partidas e torneios como tam- bém trabalhar com programas espe- cíficos de xadrez. Geografia: trabalhar com as carac- terísticas dos países que deram a ori- gem ao xadrez como a Pérsia e a Ará- bia, bem como os países europeus que apresentaram importância para o desenvolvimento do jogo. Português: trabalhar sobre a lite- ratura no jogo do xadrez, culmi- nando com uma amostra sobre poe- sias com o tema de xadrez. Em uma perspectiva interdis- ciplinar, os alunos se sentem mais motivados, mais capazes de lidar com questões e problemas comple- xos, e mais engajados em pensa- mentos de nível mais alto. Eles aprendem a ver conexões e a lidar com a contradição. Mostram mais criatividade e atenção, e até mesmo, melhor assimilação em virtude das múltiplas conexões, além de ganhar perspectiva em relação às discipli- nas. O aprendizado, quando basea- do na prática e na descoberta, assim como o jogo de xadrez também en- coraja as conexões, como os mode- los de aprendizado processuais e di- alógicos, que põem peso na consci- ência do papel do pensamento críti- co. A sala de aula deve ser um espaço multifacetado, um local de cresci- mento pessoal e interpessoal, que permita a busca de experiências sig- nificativas; um local de incentivo à descoberta, que leve à construção de conhecimento; um local que desen- volva a capacidade de raciocínio; um local de desenvolvimento da com- preensão ética, sendo o professor um modelo de integridade profissio- nal. A simples prática do xadrez não garante o desenvolvimento de habilidades específicas e a formação de um aluno conhecedor de diferen- 34 HISTÓRIA DO XADREZ tes áreas, mas ele representa uma importante ferramenta pedagógica para a formação do aluno. Cada vez mais os profissionais da educação veem no xadrez mais do que um jogo milenar, eles percebem que ele pode representar uma importante ferra- menta no processo educacional. O xadrez é realmente um excelente exercício para o cérebro e exige mui- to das emoções. A pessoa adquire um senso prático de organização, concentração e desenvolve de forma muito especial a memória. O xadrez trabalha a imaginação, memoriza- ção, planejamento e paciência. Nas escolas do primeiro mun- do, o xadrez é praticado há décadas, onde os alunos além de todo esse de- senvolvimento citado melhoram muito sua disciplina, relacionamen- to com as pessoas, respeito às leis, às regras. O xadrez representa uma ati- vidade que desenvolve diversas ha- bilidades nos jogadores, podendo também desenvolver várias áreas das expressões humanas. O xadrez não passa de um pu- nhado de tocos de pau, dispostos so- bre uma tábua quadriculada, situada entre duas criaturas incompreensi- velmente absortas, que, dominadas por uma espécie de autismo, desper- diçam inutilmente seu tempo, olhando para este brinquedo sem graça, enquanto o mundo ao seu re- dor pode desmoronar sem que se apercebam disso. Esta é a interpre- tação do homem vulgar, insensível e apático; incapaz de enxergar as es- sências, homem que se conforma com uma visão superficial das coisas e se deixa seduzir pelas aparências de outras atividades menos belas e eloquentes. Para o homem mediano, o xadrez é um mero acessório, útil tão somente porque contribui para desenvolver diferentes faculdades mentais, melhorando o desempenho escolar nas crianças, intensificando a acuidade mental nos adultos e pre- servando por mais tempo a agilidade mental nos idosos. Porém, para o homem espirituoso, criativo e em- preendedor, o xadrez é uma das mais ricas fontes de prazer, um meio no qual se encontram elementos para representar as mais admiráveis concepções artísticas, um campo pelo qual a imaginação pode voar li- vremente, produzindo, com encan- tadora beleza, ideias deliciosamente sutis e originais. O xadrez é uma das raras e preciosas atividades em que o ho- mem pode explorar ao fundo suas emoções, atingindo estados de pra- zer tão sublimes, tão ternos, tão in- tensos, que só podem ser igualados pelas sensações proporcionadas pe- lo amor e pela música. Muitos países europeus como a França, Rússia, Alemanha desenvolvem nas escolas o xadrez como atividade curricular. 35 HISTÓRIA DO XADREZ Essas atividades vêm demonstrando uma melhoria no rendimento esco- lar dos alunos por trabalhar e desen- volver certas habilidades nos estu- dantes. Dentre as habilidades que podem ser desenvolvidas destacam- se: a concentração, atenção, paciên- cia, análise e síntese, imaginação, criatividade, organização nos estu- dos, entre outras. Além dessas devemos desta- car também o raciocínio logico. Es- sas habilidades são frequentes de se- rem exigidas dentro de questões ma- temáticas, mas também abrangem outras áreas do conhecimento. Um aluno que consegue desenvolver es- sas habilidades durante a sua vida escolar apresenta grandes condições de ter um sucesso acadêmico. O jogo de xadrez se desenvolve na mente do jogador, ele não é um jogo de sorte ou azar, e sim, um jogo que necessita da utilização de várias competências a serem desenvolvidas durante a partida. Com o xadrez o aluno rea- liza uma série de exercícios, nos quais ela realiza uma série de combi- nações de lances a serem realizados, tendo um número muito grande de possibilidades a serem analisadas e decidas. Isso reforça habilidades co- mo reflexão, observação de análise e de síntese. O jogador deverá mental- mente visualizar o tabuleiro como um todo e não fragmentado apenas na parte da sua jogada ou do seu oponente, as peças interagem neces- sitando assim de uma visão geral. Essa mesma habilidade demonstra como o xadrez é importante para de- senvolver uma questão de elementos gerais, em que uma parte está ligada a outras. Em uma partida de xadrez, a concentração e a atenção são habi- lidades que são desenvolvidas de uma forma constante. A cada lance o jogador deverá ficar atento a sua jo- gada e à jogada de seu adversário, deverá concentrar-se para melhor posicionar suas peças para sua de- fesa e para realizar a melhor estraté- gia de ataque. Essas atenção e con- centração contribuem para que o aluno possa resolver questões que envolvam essas habilidades, seja na matemática ou em qualquer outro conteúdo. Uma única jogada poderá decretar a vitória ou a derrota em uma partida. O jogador fica a uma constante pressão, jogada após jo- gada e a cada momento uma nova estratégia, deverá ser formada, uma nova decisão deverá ser tomada. Quando o aluno chega em uma ava- liação por escrito ele deverá encon- trar a melhor solução em um deter- minado tempo e local, dessa forma o aluno que pratica o xadrez está me- lhor preparado para enfrentar essas situações. 36 36 37 HISTÓRIA DO XADREZ 37 4. Referências Bibliográficas CASTRO, C. Uma história cultural do xa- drez. Cadernos de Teoria da Comunicação,Rio de Janeiro, v.1, nº2, p.3-12,1994. História do xadrez. Virtuous Tecnologia da Informação, 2013-2019. Disponível em: <http://www.soxadrez.com.br/conteu- dos/historia_xadrez> Acesso em: 18 de se- tembro de 2019. PINTO. F. P. et al. O JOGO DE XADREZ E O ENSINO DA MATEMÁTICA. UNIVER- SIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ – UTFPR. I Simpósio Nacional de Ensino de Ciência e Tecnologia – 2009. Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciência e Tecnologia – PPGECT. REZENDE, S. Xadrez na escola – Uma abordagem didática para principiantes. 2ª edição. Rio de janeiro: Editora Ciência Moderna Ltda., 2013. SANTOS, P.S. dos. O que é xadrez. Editora Brasiliense, São Paulo SP. 1ª edição, 2017. 03 8
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