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Todo o conteúdo deste ebook foi desenvolvido pela Descola.org em parceria com o professor do curso. Olá Aluno, Você já viu ou provavelmente está vendo o curso "Vieses Inconscientes: Livre-se de condutas tendenciosas para conviver na diversidade". Esperamos que você tenha gostado do conteúdo e que tenha entendido que, por mais que sejamos abertos à mudança, vivemos numa sociedade coberta de vieses inconscientes. Você já aprendeu a origem dos vieses e os diversos tipos existentes. Viu que, como seres humanos, temos uma identidade heterogênea bastante complexa, formada por diversos componentes. Você entendeu a importância de compreender os vieses e abraçar a diversidade dentro da sua empresa, seja você um empreendedor, um gestor ou um colaborador. Neste ebook, falamos mais dos conceitos apresentados e relacionamos filmes e livros complementares, para que você siga aprofundando os conceitos abordados nas videoaulas e aprenda mais. Abraços, Equipe Descola Uma escola de inovação online ÍNDICEÍNDICE Renata Moraes Somos mais de 7 bilhões de pessoas no mundo. Sete bilhões de seres humanos diferentes entre si. Quantos estilos de vida cabem nesse conjunto? Quantos gostos? Quantas histórias? Quantas opiniões? É matematicamente impossível conhecer todo mundo. Mas é humanamente possível compreender a beleza das nossas diferenças. É humanamente possível compreender como a diversidade é uma característica positiva para nós como pessoas e como profissionais. Empresas e profissionais que abraçam a diversidade não só têm papel fundamental na evolução da sociedade como também possuem vantagem competitiva frente a outros que ainda estão um passo atrás nessa mudança. E é por isso que estamos aqui hoje. Para o nosso curso, trouxemos a Renata Moraes, uma profissional que trabalha há muitos anos em prol da diversidade nas empresas. Renata é formada em Jornalismo e teve uma experiência muito rica na ONU Mulheres, em que pode aprender mais sobre as questões de gênero no Brasil e no mundo. A professora não só atuou em conjunto com grandes empresas, como a Raizen, General Motors e Bank Of America, como também presta consultoria para pequenos empresários e profissionais autônomos através de sua empresa, a ImpulsoBeta, pioneira no movimento da diversidade de gênero em empresas no Brasil. Nestas experiências e discussões, a temática dos vieses sempre vem à tona. Dessa forma, Renata participa dos esforços cotidianos das empresas para avançar em diversidade, rumo a uma sociedade mais justa e representativa. https://www.linkedin.com/in/renatamoraes85/ Renata MoraesRenata Moraes 7 Um novo mundo a cada dia Se você perguntar aos seus pais sobre como era fazer amigos ou marcar encontros na juventude deles, a resposta obviamente vai ser diferente do que você está acostumado hoje. Se perguntar aos seus avós ou a pessoas da mesma geração que eles, o que você vai ouvir é alguma outra coisa diferente. E não é só dos meios de comunicação em si que estamos nos referindo. É claro, o fácil acesso à internet e a baixa no preço de produtos que cumprem essa função fez com que fosse mais difícil encontrar alguém que não esteja online. Mas as respostas que você vai ouvir deles vai muito além disso. As respostas vão envolver também muitas variáveis de comportamento. Antes, as amizades eram mais concentradas entre pessoas do mesmo sexo. Os encontros, muito raros e bem diferentes do que já é normal para nós. Quando crianças, as brincadeiras eram muito distintas. Quando adolescentes, as amizades eram construídas de outro jeito. Na vida adulta, o trabalho era algo bem distante do que é hoje na vida das pessoas. 9 10 Essas mudanças todas caracterizam a mudança de paradigma da nossa sociedade. Pensávamos de outra forma e tínhamos à disposição outros tipos de tecnologia. E é assim que a humanidade caminha: quebrando antigos paradigmas e os transformando, os reinventando. A geração de hoje é claramente muito impulsionada pela internet. O reflexo disso é a sociedade participativa que construímos. Temos cada vez mais voz, mais espaço para nos expressarmos, mais acesso à informação, mais poder. Neste contexto, vemos florescer o poder de atuação e aumentar a visibilidade de grupos dos mais diversos possíveis. Veganos, feministas, fãs de k-pop, LGBTQI+, deficientes, funkeiros, negros, nerds e por aí vai. Sejam relacionados a características permanentes ou a gostos pessoais, a lista é imensa. A grande maioria deles sempre existiu. O papel da internet, na nossa conjuntura social, não é criar estes grupos, mas sim exaltar a importância das diferenças. A importância da diversidade. É através da web que podemos aprender mais sobre as tribos indígenas brasileiras, por exemplo. Sobre as muitas vertentes que cabem dentro do feminismo. Sobre como somos seres complexos e como sempre estamos nos unindo, tanto para nos sentirmos acolhidos por pessoas como nós quanto para aprender mais sobre quem somos. Mas você vive nos dias de hoje e sabe que as coisas não são tão bonitas assim. Em meio à beleza da diversidade, vemos crescer também discussões que envolvem a liberdade de expressão em detrimento do espaço do outro e os tristes discursos de ódio. Repare nos programas de humor: vivemos um movimento enorme rumo à extinção das piadas machistas e racistas. Não tem graça diminuir outros grupos só por serem diferentes de você. Não tem graça se valer das dificuldades dos outros para ser notado. Dessas mudanças necessárias, as respostas da sociedade também são diversas: tem aqueles que entendem o impacto de forma positiva, criando redes de suporte aos grupos, e aqueles que veem de um jeito negativo, retratando a sociedade de hoje como a “geração mimimi”. Vai dizer que você nunca ouviu alguém dizer que “o mundo hoje tá chato”? O fato é que toda a nossa história como sociedade, incluindo o nosso futuro, envolve a diversidade. Somos diferentes no modo de pensar, no modo de responder a estímulos sociais, no modo de receber críticas. Somos moldados por diferentes opiniões e, muitas vezes, deixados nos guiar por opiniões externas. Nos deixamos levar sem questionar o porquê de determinados discursos e atitudes. É aí que perdemos muito: como indivíduos, como profissionais, como pais (ou futuros pais) ou em qualquer papel que venhamos a exercer. Num mundo tão diferente e tão cheio de coisa nova para aprender e para apreciar todos os dias, por que se fechar numa bolha só sua e perder todas as oportunidades lá fora? A beleza do mundo está em sua diversidade. 11 Um jeito cômodo de olhar para o mundo Será que todos os cariocas realmente são folgados? Todos os taxistas são mal-educados? Todos os orientais são muito bons em exatas? Tecnologia é coisa de homem? Quando a gente lê assim, escrito literalmente, já dá para perceber como é rasa essa generalização, e que no fundo não faz sentido nenhum. É só parar para buscar informações que você já vai ver que isso é uma coisa que a gente repete por costume. Quer ver só? Em 2011, o Brasil formava cerca de 40 mil engenheiros. Enquanto isso, na China, eram formados 700 mil! São quase 18 vezes mais profissionais em um ano. É por isso que a gente acha que eles são tão bons em matemática. Na verdade, eles formam muito mais pessoas nessa área do que nós, o que faz com o que número absoluto e proporcional de chineses engenheiros seja muito maior que o de brasileiros. Outro exemplo: por mais que a gente associe os cargos de programação e da área de TI em geral a homens, a primeira pessoa do mundo que escreveu um algoritmo para ser processado em uma máquina foi Ada Lovelace, uma mulher britânica que viveu no século XIX. Muito antes de construirmos este viés, Ada já estava lá, fazendo história. Ada Lovelace 13 Essas diferentes opiniões externas e aquelas às quais estamos tão acostumados, que já nem nos questionamos mais, são o que chamamos de vieses. É um jeito simplificadode entender o mundo, o caminho mais curto que seu cérebro pode fazer para compreender alguma situação, já que ele não se questiona sobre os porquês. É por isso que pensamos de uma forma em detrimento de outra diante de algum cenário: tudo é fruto da construção das nossas experiências, daquilo que vivemos. Por conta disso, também, as pessoas reagem de formas tão diferentes às mesmas situações. Cada uma delas percorreu um caminho para chegar até o ponto em que vocês se encontram. Cada uma age sob um viés. A partir dessa perspectiva, conseguimos enxergar alguns padrões nas pessoas e em nós mesmos. Um exemplo bastante em pauta são casos em que há relação violenta entre pais e filhos, o que faz com que as crianças carreguem essas marcas para sua vida adulta. Os vieses são um processo cultural e cognitivo. Por serem criados num ambiente pouco propício ao seu desenvolvimento emocional, os filhos tendem a, por exemplo, aceitar relacionamentos abusivos no futuro, já que estão acostumados àquelas condições e acreditam que aquilo seja o “normal”. Em outras palavras, os filhos enxergam o mundo sob um viés que minimiza o impacto de qualquer tipo de violência nas relações interpessoais. 14 Do ponto de vista biológico do funcionamento do cérebro, os vieses existem como um encurtador das conexões cerebrais para diminuir o nosso consumo energético. Você já deve ter percebido como cansa refletir sobre determinado assunto. Isso acontece justamente porque você está gastando energia para tornar suas reflexões possíveis. Vendo por esse lado, a gente consegue entender também a importância dos vieses em alguns cenários, como a sua função de mecanismo de defesa. Se você se deparar com um predador no meio da rua, o seu instinto é sair correndo sem ficar refletindo se aquele realmente é um risco à sua vida. O problema começa quando, por exemplo, ao se deparar com um jovem negro de capuz, o seu pensamento enviesado é o de atravessar a rua com medo de ser assaltado. Só por conta da cor da pele do rapaz e por suas vestimentas. Ou quando você, inconscientemente, prefere contratar um homem em vez de uma mulher, porque ele não precisa se afastar por meses numa possível licença maternidade. Por ser um encurtador de caminho, os vieses, muitas vezes, valem-se de estereótipos construídos histórica e socialmente. São aqueles discursos que generalizam negros, nordestinos, gays e outras várias minorias. E é aí que entra o nosso esforço mental e nosso gasto extremamente necessário de energia para deixar de disseminar discursos que nem ao menos sabemos se fazem sentido. 15 O inconsciente e o papel dos sistemas cerebrais na formação dos vieses Essa história de vieses não é coisa da pós-modernidade. Até porque os vieses são um modelo de funcionamento da nossa mente. E aí não faltam estudiosos que se aprofundaram no entendimento do nosso cérebro. Trouxemos três estudiosos que, unindo suas teorias, podem explicar a origem dos vieses desde o século XX. Vamos conhecer mais sobre eles: 17 Médico neurologista, Sigmund Freud ficou conhecido como o pai da psicanálise. Sua contribuição é fundamental para entendermos a origem dos vieses, porque é através dos estudos de Freud que foi trazido à luz os conceitos de consciente e inconsciente. Em resumo, Freud compreendeu que nós nunca tomamos decisões ao acaso, que nenhum processo mental ocorre sem um motivo. Toda ação realizada por nós é baseada em tudo aquilo que é armazenado na nossa mente, por mais que você não tenha plena consciência do processo e das mvotivações. Para quem tem perfeitas condições mentais, essa história de "não sei porque agi de determinada forma" não existe. No fundo da sua mente, há uma motivação clara para todo e qualquer passo que você dá. Isso acontece porque a nossa mente é composta por uma parte consciente muito pequena, sendo a maioria dela formada pelo inconsciente. É como um iceberg grande e profundo: a pequena parte da ponta é a consciência, e todo o resto, invisível e com maior volume, é a inconsciência. Consciência e inconsciência Sigmund Freud 18 O inconsciente funciona como um depósito de informações, sentimentos e memórias, que queremos ou não esquecer. Nessa mistura de bilhões de conexões, tem coisa que a gente nem sabe que sabe. Por exemplo, algum episódio da sua infância, que nem precisa ser conscientemente tão marcante, pode ter gerado alguma memória positiva ou algum trauma no seu inconsciente, que sempre ficou adormecido durante toda sua vida. De repente, em um dia qualquer, você sofre algum tipo de gatilho que faz com que as conexões tragam aquele episódio ou os seus sentimentos em relação a ele à tona. Nessa dinâmica de funcionamento do inconsciente como um depósito, é fácil guardar nele uma porção de vieses sem explicação. Afinal, às vezes você nem sabe que está armazenando aquele tipo de informação. É por meio dessas formações inconscientes que surgem os vieses, pouco debatidos e pouco trazidos para o espaço consciente. 19 Outro médico que sustentou as ideias de Freud é Carl Jung, juntamente com seu conceito do inconsciente coletivo. Como o nome dá a entender, o inconsciente coletivo é uma espécie de herança psíquica humana, que carrega consigo todos aqueles ideais e mitos populares e que é baseada nas experiências repetidas ao longo de diversas gerações. É como se nossa mente fosse moldada não só por aquilo que a gente vive, mas também por aquilo que já se foi, que a geração anterior à nossa viveu. Somos diretamente influenciados por elas, pois fomos todos criados por pessoas de outras gerações, construindo o ciclo praticamente inquebrável do inconsciente coletivo. Inconsciente coletivo Carl Jung 20 Um exemplo muito claro e simples do inconsciente coletivo são aqueles ditados e expressões populares, que a gente nem sabe de onde veio, mas continua disseminando por aí. Frases como "mulher no volante, perigo constante" ou "mulheres têm um dom natural para maternidade" são exemplos de como, mesmo sem querer, nos deixamos levar por discursos que não fazem sentido. O inconsciente coletivo é um espaço muito propício à propagação de vieses, justamente pelo fato de acreditarmos e/ou reproduzirmos ideias, contextos e cenários que nem ao menos vivenciamos para sustentar nossos argumentos a favor. 21 Em estudos mais atuais voltados ao recente campo da neurociência do comportamento, o professor Antonio Pereira, do Instituto do Cérebro da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, traz à luz explicações relacionadas às estruturas físicas do nosso cérebro. Para explicar os vieses inconscientes escondidos por trás da nossa mente, Antonio apresenta dois sistemas cerebrais responsáveis por grande parte da tomada de nossas decisões: Sistemas cerebrais de tomada de decisão Antonio PereiraAntonio Pereira 22 Sistema 1 Sistema 2 Decisões rápidas e sem análise Controle de decisões impulsivas O sistema 1 é formado por duas estruturas cerebrais: Amígdala: um conjunto de neurônios que, dentre outras funções, é responsável pela tomada de decisões rápidas. Hipocampo: principal estrutura de armazenamento de memórias a longo prazo, que servem de base para as decisões. A união dessas duas estruturas resulta em um sistema que simplifica as decisões baseadas em memórias que conseguimos resgatar rapidamente no nosso cérebro. É através do sistema 1 que disseminamos vieses inconscientes, já que esse sistema não envolve nenhuma outra estrutura capaz de realizar análises aprofundadas. O sistema 2, por outro lado, atua somente com o córtex pré-frontal. Esta é uma região responsável pelos pensamentos complexos, as reflexões e as tomadas de decisão analíticas. Este sistema é o que nos faz ser críticos e reflexivos diante de determinadas situações. Como dissemos anteriormente, nem sempre os contextos permitem a ação do sistema 2, como é o caso das situações de perigo. Mas é também nosso dever compreendera necessidade da reflexão na maior parte do tempo. É um sistema de reação, julgamento e simplificação. É um sistema de avaliação, justificativa e análise. Reage Considera Opina Analisa as opções Simplifica Avalia Julga Justifica 23 Os dois sistemas podem atuar em conjunto em algumas situações. Por exemplo, se você dirige, sabe que depois de um tempo, você praticamente pilota no automático quando faz um caminho frequente - rumo ao trabalho, por exemplo. Sabe o caminho, os radares, onde há semáforos etc. Você está sendo guiado pelo sistema 1, o de simplificação das decisões. Afinal, você já tomou aquelas mesmas decisões na manhã anterior. Agora, se vai fazer uma viagem mais longa, dirigir sob condições adversas ou visitar um lugar ao qual nunca foi, sua atenção é redobrada. Você presta atenção em todas as sinalizações na rua, dirige mais devagar e consegue absorver melhor possíveis perigos no caminho. É o seu sistema 2 te ajudando a analisar e avaliar as opções ao longo da rota. Além de suas funções avaliativas e analíticas, o sistema 2 também é responsável pelo desenvolvimento do que conhecemos como maturidade biológica. A maturidade biológica pode ser definida popularmente como o amadurecimento das nossas ideias. 24 O córtex pré-frontal, ao receber estímulos do ambiente, desenvolve sua capacidade e torna o indivíduo mais "capacitado" a tomar decisões. É por isso que as pessoas mais velhas têm muito mais discernimento e capacidade de decidir sobre si mesmas do que as crianças ou adolescentes, por exemplo. Quanto mais velhos, mais críticos e reflexivos ficamos, por conta do acúmulo de experiências que desenvolvem o córtex pré-frontal. Já que é diretamente ligada aos estímulos externos, as pessoas desenvolvem sua maturidade biológica de formas diferentes. Alguns são mais avançados do que outros por conta das diferentes experiências, sejam elas sociais, emocionais, profissionais, psicológicas etc. E aqui cabe mais um ponto de atenção para observar os vieses. Pode ser que nesse processo de desenvolvimento da maturidade biológica tenhamos absorvido algum viés inconscientemente, que pode atrapalhar decisões futuras. 25 Exatas não é coisa de homem nem de mulher: é de quem gosta de fazer contas Unindo todos os conceitos históricos e sociais que abordamos até aqui sobre o inconsciente coletivo, as experiências individuais e o sistema cerebral 1, acabamos fazendo associações estereotipadas do outro. São aquelas coisas ínfimas repetidas há décadas, como “rosa é cor de menina, azul é cor de menino”. Ou, como a Renata traz no curso, “exatas é coisa de homem, humanas é de mulher”. Esse tipo de conexão que fazemos sem ao menos perceber são associações implícitas, resultados dos vieses por trás da nossa mente. Mesmo sabendo que qualquer pessoa pode usar qualquer cor e escolher qualquer carreira, continuamos a disseminar estes discursos. E por mais que acreditemos estar longe desse tipo de associação, é difícil quem consiga enxergar sob um olhar que é sem 100% sem vieses. Se você é gestor de uma empresa, por exemplo, acha que não tem esse viés de gênero e contrata uma mulher para cuidar do time de programação: muito bem, você inseriu uma pessoa do sexo feminino em meio a um setor de tecnologia e exatas. Mas não para por aí. As associações implícitas estão impregnadas por toda parte: na hora da avaliação, pode haver diversas críticas a respeito de como “as mulheres são mais devagar para fazer contas”, mesmo que isso não faça a menor diferença para o cargo. 27 O resultado desses comportamentos é um ambiente sem diversidade e preconceituoso Pouca inovação é gerada justamente pela homogeneidade entre os perfis com quem você convive ou que contrata. Para ilustrar bem todo este contexto de associação implícita e involuntária, trouxemos um case da ESPN. Assista: http://dsco.la/invisible-players O vídeo mostra grandes momentos de partidas e apresentações de esportes como futebol, basquete e surfe, perguntando às pessoas quem elas acreditam serem os autores dos feitos. Em quase mil palpites, não há nenhuma menção a atletas mulheres. Até mesmo quando respondem outras mulheres, que tendem a ser mais empáticas umas às outras, a associação implícita imediata evidencia o estereótipo que carregamos de que atletas de alta performance são sempre homens. 28 Se você chegou até aqui, sabe que também tem vieses, como todo ser humano. Para te ajudar a compreender melhor as associações implícitas que sua mente faz de forma automática, deixamos um teste da Universidade Harvard para constatar diferentes tipos de vieses. Você pode acessá-lo neste link: http://dsco.la/associacao-implicita Este teste foi criado pelo Project Implicit (Projeto Implícito), formado por pesquisadores e desenvolvedores de universidades do mundo inteiro. O objetivo é compreender e investigar a cognição social implícita - aqueles pensamentos e sentimentos que estão fora da consciência e do controle consciente. O projeto existe desde 1998 e, além dos estudos e da pesquisa feita ao redor do mundo, eles também oferecem serviços de consultoria e workshops sobre os vieses inconscientes de inclusão e liderança. Sua contribuição serve não só para o campo acadêmico como também para o corporativo. Além do teste que a professora apresenta, sobre gêneros e sua relação com ciências humanas e exatas, há ainda outros seis tipos. Os temas dos testes não foram selecionados ao acaso: são trazidos aqui porque refletem os vieses mais comuns e que são discussões em âmbito global. Antes de fazer qualquer teste de associação implícita (TAI), você precisa responder algumas perguntas que ajudam a mapear o seu perfil e conectar suas respostas a ele. 29 Testa a nossa preferência por rostos brancos ou negros e até mesmo a neutralidade em relação a eles. Trabalha através da associação de palavras e sentimentos bons e ruins e a conexão com faces brancas e negras. O teste traz uma forma de avaliar o nacionalismo. Funciona também com a associação de palavras boas, como amor e alegria, e de palavras ruins, como horrível e malvado, com palavras e ícones que estejam relacionadas ao Brasil e aos Estados Unidos, como bandeiras, mapas, cidades, pessoas famosas etc. Mostra a nossa preferência por corpos magros ou corpos gordos, avaliando também através da ligação entre palavras boas e ruins e imagens de pessoas magras e obesas. Reflete sobre como somos levados a escolher entre aquilo que está relacionado aos heterossexuais ou aos homossexuais. O teste trabalha em cima da associação entre ícones, palavras e imagens do universo heterossexual e gay, como fotos de casais de homens, heteronormativos, palavras que remetem aos grupos etc., e sentimentos bons e ruins. Bastante conectado com o primeiro tipo, este teste revela se existe preferência pela pele clara ou pela pele escura. A diferença aqui é que é testada estritamente a cor da pele, através de desenhos coloridos, e não os traços do rosto, como no teste de raça. Por fim, o teste de idade indica como nosso cérebro enviesado pode nos induzir à preferência por pessoas jovens ou por pessoas idosas. Aqui são mostrados rostos de idosos e de jovens e associados também com palavras boas e ruins. Países Peso Os temas são: Raça Sexualidade Cor da Pele Idade 30 Ao fim do teste, é disponibilizado não só o seu resultado, mas também um comparativo com as respostas de outras pessoas. Vale a pena tirar um tempo para realizar o teste com calma e concentração, nem que seja relacionado àquele viés que você já conseguiu identificar. Faça para entender a profundidade das associações que seu cérebro faz e saber por onde começar na sua jornada. “Cantar e cantar e cantar a beleza de ser um eterno aprendiz.” Gonzaguinha Somos seres complexos. Demoramos milhões de anos para evoluirmos e chegarmos até um sistema biológico tão complexo, capaz dedar conta de muitas das nossas necessidades de forma involuntária. Enquanto você está parado lendo este ebook, bilhões de células dentro do seu corpo trabalham para manter o sangue correndo, o ar entrando e saindo do pulmão, o cérebro fazendo conexões para que você entenda o que estamos falando aqui. É a nossa complexidade biológica, inata, presente desde o primeiro momento da nossa vida (e muito antes dela também). Além da nossa biologia, somos socialmente complexos. Podemos ter nascido em famílias bastante heterogêneas, mas o nosso contato com o mundo se dá nos mais variados momentos. Logo na primeira infância, frequentamos escolas ou creches, que já nos expõe a uma prévia de como é o mundo lá fora. A escola, a faculdade, o primeiro emprego, as aulas de guitarra, de dança, a academia, o curso livre que você fez no verão passado. Ou simplesmente sair à rua, pegar a fila no restaurante, viajar no ônibus. Até mesmo quando o contato com outra pessoa não é tão direto, elas estão lá, expressando suas diferenças e vivendo nos mesmos espaços que nós. 33 Todas essas interações formam quem somos. Tudo que há por fora em todos os âmbitos da nossa vida são espelhos para nós, independentemente se gostamos ou não. Você pode não gostar de camisas polo, mas vê por aí um monte de pessoas usando. Você sabe que elas existem e que são uma opção de vestuário. Estamos todos imersos num grande sistema complexo que a gente conhece como sociedade. Em sociedade, estamos o tempo todo interagindo com o meio externo. E assim, de pouco em pouco, vamos formando a nossa identidade. Vamos aprendendo com o novo, com o outro. Vamos crescendo e compreendendo quem somos. Somos únicos não porque somos muito especiais. Não tem nada de presunção. Somos únicos porque as combinações possíveis de gostos, desejos e desgostos é praticamente infinita. Dentre as muitas variáveis e seus valores possíveis, podemos representar essa complexidade através da Roda da Identidade. Observe: Assim como a sua digital, a sua identidade pessoal é sua marca única. É aquilo que comprova quem você é de fato. 34 Roda da identidade A Roda da Identidade é uma ilustração sobre a complexidade da identidade das pessoas. Simboliza o quanto cada um de nós é moldado por diferentes facetas que vai acumulando ao longo da vida. Cada um dos espaços dentro da roda possui milhares de respostas, e é por isso que as possibilidades são quase ilimitadas. Pense numa pessoa conhecida que você considera ser o oposto de quem você é. Tente preencher o máximo de variáveis da Roda da Identidade que dizem a respeito a você e ao outro. Temos certeza que você vai encontrar pelo menos um ponto em comum com ela: pode ser o gênero, o status parental, a área de atuação ou a religião. Por terem combinações infinitas, as chances de não encontrar nenhuma paridade é ínfima. 35 Mas o que isso tudo tem a ver com os vieses inconscientes? 36 Discutir nossas identidades multifacetadas quando queremos aprender a lidar com os vieses é um convite para pararmos de rotular as outras pessoas, inclusive nós mesmos. É um chamado para sairmos do viés que nos leva a querer formar conceitos rápidos sobre tudo, inclusive sobre o outro, e nos permitirmos conhecer verdadeiramente as pessoas. Diante de uma roda que demonstra a complexidade das nossas identidades, não seria natural querer agregar todo mundo sob um mesmo rótulo, sob um mesmo julgamento. Quando a gente se permite compreender a verdadeira identidade das pessoas, entendemos que temos muito mais em comum com ela do que imaginávamos. 37 “Quem vê só um lado do mundo, só sabe uma parte da verdade.” Emicida Vivemos num mundo que é fisicamente igual para todo mundo. A cidade é a mesma, a temperatura do ar num mesmo local é a mesma, os governantes são os mesmos durante, pelo menos, 4 anos. Além da nossa identidade, o que faz então com que o mundo seja socialmente tão diverso (e, muitas vezes, desigual)? A grande diferença social entre nós é a perspectiva de mundo sob a qual vivemos. Pense na cidade de São Paulo como exemplo. Uma das cidades mais populosas do mundo abriga em seu território mais de 12 milhões de pessoas. Nem todas elas possuem acesso à educação de qualidade, saúde, saneamento básico, meios para se locomover e até mesmo a liberdade de andar sem medo na rua. São inúmeras as variáveis envolvidas, incluindo aspectos sociais, econômicos, geográficos etc. Suponha que uma empresa paulistana abriu uma vaga em seu time. A empresa fica situada em determinado endereço da cidade. Num município com mais de 1,5 mil km2, as pessoas residem em locais muito distantes uns dos outros, inclusive de seus trabalhos. 39 Por mais que sejamos muito diferentes, concorremos de igual para igual no mundo, na maioria das vezes. Se a vaga for na zona norte, dificilmente um jovem do extremo da zona sul, uma área carente de São Paulo, teria condições de aplicar para a vaga. O tempo gasto para chegar ao trabalho faria com que a desistência fosse a melhor opção. E é nesse contexto que surgem questões como os privilégios. Os privilégios são vantagens que temos em relação a outras pessoas em algumas situações, não por mérito nosso, mas apenas como reflexo e consequência do meio em que vivemos. Para entender melhor e refletir sobre isso, vamos pensar sobre a presença de jovens negros na universidade. No final dos anos 1990, dentre os alunos do ensino superior, apenas 2% eram negros. Na mesma época, o Censo do IBGE revelou que a população brasileira era composta por quase 50% de pessoas autodeclaradas pretas ou pardas. Seria este realmente um retrato fiel da capacidade intelectual deste grupo ou apenas um reflexo de uma sociedade pautada no privilégio? Quase vinte anos depois, o número de jovens negros na universidade chegou a quase 8%. Uma porcentagem ainda muito baixa, mas que só atingiu essa quantidade devido aos impulsos de programas de ação afirmativa e inclusão de negros nas universidades. Estas leis tentam, ao máximo, diminuir o privilégio de uma raça sobre outra. Funciona assim não só em vestibulares, mas também nos concursos públicos. É a mesma coisa com jovens de baixa renda. Por não terem o poder aquisitivo necessário, estudam em colégios públicos, que geralmente possuem menor rigor e excelência no ensino em comparação a escolas particulares. Seria o caso, então, de desmerecer o conhecimento daqueles que estudaram na rede pública pelo fato de que não tiveram a instrução necessária só porque não nasceram em famílias com certa estabilidade financeira? Outro grupo que também recebe o respaldo legal do Estado são as pessoas com deficiência (PcD). Por sua dificuldade de encontrar colocação profissional, o Brasil criou a Lei 8213/91, que prevê a contratação de PcD em empresas de vários portes. Negócios com mais de 100 colaboradores e menos de 200, por exemplo, precisam ter em seu quadro 2% de funcionários com deficiência. A proporção cresce conforme aumenta o número de colaboradores. 40 Repare no seu ambiente de trabalho. Quantos negros há no time? Quantas pessoas de regiões periféricas foram contratadas? Quantas mulheres exercem cargos de liderança? Por mais que nada disso seja de propósito, os gestores podem estar contratando somente aquelas pessoas que eles conseguem enxergar dentro da perspectiva de mundo que eles têm. http://dsco.la/associacao-implicita http://dsco.la/privilegio Além do vídeo que mostramos no curso, deixamos aqui outro com a mesma ideia. Por mais que seja em inglês, você consegue entender do que se tratam os privilégios. A corrida é um paralelo à nossa sociedade, que nos faz chegar a algum lugar, mas coloca as pessoas de diferentes classes, raças e sexos em pontos de partida diferentes. Assista: 41 http://dsco.la/privilegio Os vieses mais frequentes que você pode identificar Com tantas associações que o cérebro faz, unidas ao inconsciente coletivo,formam-se diversas percepções de mundo. O resultado é um mundo, muitas vezes, cheio de possibilidades para formação de preconceitos e vieses. E quando a gente fala muito, são muitos mesmo. Até o ano de 2018, foram identificados mais de 150 tipos de vieses, que refletem como a complexidade do ser humano e da sociedade pode gerar complicações em nossas relações. Trouxemos aqui os vieses mais comuns nas relações entre as pessoas e que mais podem afetar em seu ambiente profissional. 43 Sabe quando você se dá muito bem com uma pessoa que é muito parecida com você? Vocês gostam do mesmo estilo de música, curtem os mesmos filmes, têm uma percepção muito parecida sobre o futuro do trabalho e por aí vai. É muito fácil lidar com pessoas que têm uma vida parecida com a sua. E tudo bem. O problema acontece quando você deixa de perceber valor e qualificação em pessoas que gostam de outras coisas e vivem outras realidades, numa tentativa de diminuir o outro para exaltar o seu eu. Falando assim, parece uma coisa horrível a se fazer. Mas é tão inconsciente, que a gente às vezes se pega agindo dessa forma. Com a ascensão do funk no Brasil, houve muita discussão sobre a qualidade musical do gênero. Pessoas que apreciavam outros ritmos mais consolidados, especialmente o rock e suas vertentes, classificavam o gênero de outra forma: "funk nem é música". Isso é, de certa forma, enviesar seu pensamento através da afinidade. É apenas julgar como bom aquilo que agrada você. Viés de afinidade 44 Você provavelmente tem vários grupos de amigos diferentes. Os do trabalho, da família, do futebol, da aula de dança, da escola do seu filho ou da sua faculdade. São vários perfis diferentes de pessoas que existem em meio a realidades completamente distintas. É maravilhoso estar em contato com tanta gente diferente, mas é preciso tomar cuidado com o quanto de influência os grupos exercem sobre suas opiniões e suas decisões. Lembra que seus pais falavam que “você não é todo mundo”? Pois bem, nós crescemos, nos tornamos todos adultos e, ainda assim, tem hora que nos esquecemos de que a gente não é os outros. Tem hora que a gente esquece que a opinião do grupo não necessariamente é a mesma que a nossa. Mesmo assim, nos deixamos levar por esse viés e acatamos aquilo que é decidido pelo todo. Acabamos valorizando mais o que o grupo faz e nos esquecemos de quem somos individualmente, das nossas preferências e, em casos mais complexos, até dos nossos valores. Você já deve ter assistido a algum daqueles filmes adolescentes em que o aluno novo não é muito bem aceito pelo grupo de jovens populares. Eles nem conhecem a pessoa, não sabem como ela é direito e já decidem que Viés de grupo ela não vai fazer parte da roda. Aí sempre tem aquele personagem que acaba conhecendo o novo estudante, gosta dele, vê como ele é bacana, mas que, ainda assim, não se relaciona com ele quando está em grupo. É um exemplo óbvio do grupo exercendo poder de influência sobre os indivíduos que fazem parte dele. Como se o grupo em si fosse mais forte que a soma de pessoas que o compõe. 45 Além das influências dos grupos, a gente também sofre interferência da opinião pública. Assistimos a TV todos os dias, lemos jornais, ouvimos rádio, acessamos a Internet, vamos ao cinema… enfim, uma porção de opções para sermos impactados por informações de terceiros. Usamos estes meios para nos informarmos e nos entretermos, mas não devemos esquecer de que tudo foi formulado por determinados grupos de pessoas. Estes grupos devem ser responsáveis pela neutralidade em relação a alguns assuntos e por deixarem que os receptores interpretem de acordo com seus juízos de valor. Mas nem sempre é assim. É neste contexto que a gente vê surgir espaço para as fake news, por exemplo, que se apoiam no viés de percepção das pessoas que só acreditam naquilo que querem, naquilo que mais as beneficiam ou não pesquisam para atestar a veracidade da informação. Embora nos traga muitas coisas boas, a internet é acaba sendo um canal que permite a propagação dessas notícias, que surgem em muitos sites diferentes abordando os mais diversos temas imagináveis. Como aliado das redes sociais, os aplicativos de troca de mensagens também aparecem como espaços muito propícios à disseminação de conteúdo baseado no viés de percepção das pessoas. Viés de percepção 46 Quem nunca executou alguma função no “modo automático”? O exemplo que a gente deu no capítulo sobre a origem dos vieses, de pessoas que dirigem para o trabalho todos os dias, nada mais é do que um viés de status quo. Tem coisa que a gente já está tão acostumado a fazer, que nem para mais para se questionar sobre o porquê disso ou daquilo. Este é, justamente, o pilar do viés de status quo: o costume. Como consequência, o costume mascara o nosso senso crítico. Nem ao menos nos questionamos sobre a origem daquele costume. Acontece muito em empresas que já têm algum tempo no mercado. Suponhamos que um profissional esteja em posse do mesmo cargo há 10 anos. São 10 anos fazendo a mesma coisa. Tem dia que ele já nem precisa pensar no que fazer quando chegar ao trabalho. Se por um lado isso poupa esforço mental e baixa o consumo energético, esse comportamento enviesado pelo status quo muitas vezes deixa passar algum tipo de melhoria de produtividade, já que não há mais o questionamento sobre o que não é mais suficiente depois de uma década. Viés de status quo 47 Identificou-se com algum tipo de viés? Todos eles refletem diretamente a ação do sistema 1 do nosso cérebro, que toma decisões, reage a situações e julga comportamentos de forma simplificada. 48 Você, como um profissional desenvolvido e um cidadão consciente, tem o dever de trazer estas generalizações para o campo da análise e compreender que todos temos nosso devido valor, baseado justamente em nossas diferenças. Continue com a gente, que vamos te ajudar nessa tarefa. 49 A influência do meio em nossos comportamentos Essa infinidade de vieses e comportamentos enviesados presentes no nosso dia a dia exercem influência direta em nossos comportamentos, por mais que não seja tão óbvio num primeiro momento. Mas eles o fazem, porque é cientificamente comprovada a ação do meio em nossos comportamentos. Fique tranquilo, vamos entender mais sobre isso. Quem comprovou essa teoria foi Burrhus Frederic Skinner, num estudo que ficou conhecido como behaviorismo (ou psicologia comportamental). Skinner comprovou, por meio de várias pesquisas e testes, como os seres humanos são Então, se você vive em um ambiente pouco diverso ou que reproduz vieses de diferentes tipos, você automaticamente é moldado por estes estímulos do meio. Não é culpa sua: é uma resposta psicológica (ou biológica) automática. As pessoas são um produto do meio que vivem. moldados pelos incentivos do meio externo através de respostas e estímulos. 51 É a mesma coisa com os reforços negativos. Eles são uma tentativa de fazer sua mente lembrar, mesmo que inconscientemente, que aqueles comportamentos não geram uma boa consequência, de forma que você não repita posteriormente. Da mesma forma, se os meios em que você está presente valorizam a diversidade e são representativos, automaticamente a sua percepção é mais abrangente sobre as nossas diferenças como seres sociais. Um dos temas mais interessantes que dão suporte ao estudo do behaviorismo é o de reforços positivos e negativos. Para você entender melhor, pense no mundo corporativo: na maioria das empresas, os colaboradores recebem algum tipo de recompensa quando têm uma boa conduta e alta produtividade. Podem ser os bônus de final de ano quando o time bate a meta, por exemplo. Este é um reforço positivo. Nesse mesmo contexto, se você se exalta com algum colega de trabalho, não faz suas entregas no prazo ou deixa de cumprir alguma regra previamente acordada, você é penalizado, seja por meio de advertências verbaise escritas ou até algum tipo de desconto no seu salário. Neste caso, é um reforço negativo. Os reforços positivos servem para que as pessoas repitam o comportamento praticado anteriormente. É uma recompensa que reforça para seu inconsciente que aquilo que você está fazendo é correto. E não é à toa que se reforça positivamente: quando são recompensados corretamente, em doses certas, as pessoas acabam criando bons hábitos, fazendo com que suas boas atitudes sejam seu novo “normal”. Seguindo essa lógica, quanto mais diverso for um ambiente, mais diverso ainda ele se tornará com o passar do tempo.. Pode parecer redundante, mas é porque se trata de um ciclo interminável. Também funciona para ambientes pouco saudáveis: quanto mais violento, mais influenciará as pessoas a continuarem a agir assim. 52 Faça um exercício com as pessoas ao seu redor. Olhe para a cidade que elas cresceram, as escolas que estudaram, a profissão dos pais delas, as empresas que elas trabalham e trabalharam. Como isso influencia a forma que elas enxergam a vida hoje e a maneira que desenvolveram seus valores? Depois, reflita sobre você mesmo. Sob que vieses você vive diariamente? Qual o resultado deles em suas escolhas? Exercício 53 No capítulo 11. Impacto nas pessoas, você vai compreender melhor de que maneiras os vieses agem na sua vida. Dentro do ambiente profissional, o resultado dos vieses inconscientes também é pouco saudável. Por conta daqueles vários vieses e muitos outros envolvendo mulheres no mercado de trabalho, ainda carregamos esse reflexo até os dias de hoje. Por mais que sejam mais qualificadas academicamente, as mulheres são ultrapassadas de forma esmagadora pelos homens nos cargos de liderança. Em 2018, as mulheres representavam 57% das pessoas no ensino superior, em dados do INEP. No ano anterior, a consultoria McKinsey divulgou uma pesquisa que comprovava que empresas com mulheres na liderança aumentavam em 21% a chance de a empresa ter um desempenho financeiro acima da média. Mesmo assim, novamente em dados de 2018, pessoas do sexo feminino só ocupavam 6% dos cargos de liderança, segundo a consultoria multinacional LHH. 54 Por mais que isso pareça coisa de empresas mais tradicionais, as startups também não escapam dos números. Numa pesquisa feita pela StartSe em 2018, através de um questionário respondido por 35 companhias de portes diversos, as mulheres só representavam 30% do quadro de colaboradores, sendo em maioria responsáveis por áreas de comunicação e muito pouco presentes em cargos de desenvolvimento de sistemas. Um cenário parecido com o das mulheres é o da inclusão de profissionais LGBT nos quadros empresariais. Um levantamento feito pela Santo Caos, em entrevista com 230 profissionais LGBT de 14 estados do país, revelou que 40% deles já sofreram algum tipo de preconceito por conta do gênero e/ou orientação sexual. Em pesquisa global, aplicada em diversos países em 2015, constatou-se que 61% dos LGBT nem sequer revelam sua orientação no trabalho. Além das motivações sociais, o que isso impacta no seu negócio? Qual a grande diferença em contratar perfis diversificados de forma representativa? Vem que a gente te mostra. 55 Por que a diversidade é positiva para o seu negócio? Muito além de só fazer “fazer bonito”, a diversidade é também uma vantagem competitiva frente aos seus concorrentes. Há muitos benefícios secundários, além do social, e a gente listou aqui os três mais importantes, que são observados diretamente com maior facilidade: 57 Apostar na diversidade é quase um sinônimo de apostar na inovação. Aquele ditado "duas cabeças pensam melhor do que uma" é uma verdade neste contexto. Pessoas com diferentes referências conseguem chegar a ideias mais inovadoras, que agregam maior valor. Acontece coisa parecida quando você vai fazer um brainstorm. Esta é uma atividade que deve ser executada em grupo, pois é com as divergências de pensamentos que aparece uma maior quantidade de pontos e observações. Também funciona aquele paralelo de que um brainstorm não funciona sozinho: para ter sucesso, é preciso obrigatoriamente haver mais de uma pessoa participando. Antonio Carlos Jobim já dizia: "é impossível ser feliz sozinho". Também é impossível ter diversidade e representatividade sozinho. Inovação Caminhando nesse sentido, já existem diversas iniciativas que buscam acelerar a inovação através da inserção de perfis diversificados nas empresas. Um exemplo é o Projeto Entre, realizado pela agência Publicis Brasil. O Entre é um programa de capacitação de jovens criativas, que auxilia na inserção de mulheres nas áreas de criação das agências publicitárias, um ambiente ainda muito masculino. Em 2019, depois de muitos esforços como os da Publicis, o número de mulheres na criação atingiu 26% nas 31 maiores agências do país. Ainda há muito o que ser feito para atingir a igualdade de gêneros na criação, mas caminhamos rumo a uma publicidade mais inovadora e representativa. 58 Conexão com clientes Outra vantagem é a conexão gerada com clientes quando se é uma marca representativa. Eles se sentem muito mais confortáveis e confiantes quando encontram pessoas parecidas com eles dentro das empresas com quem fazem negócios. Isso pode até ser explicado pelo viés de afinidade, que a gente viu lá atrás. Quando os clientes se veem representados em algum lugar, na propaganda e principalmente dentro do ambiente de trabalho, é mais fácil valorizarem o negócio, pois sentem que aquilo tem valor para ele. Um exemplo de conexão com o público foi a contratação de Maria Júlia Coutinho para apresentar o Jornal Nacional em 2019. Maju foi a primeira apresentadora negra da história deste telejornal da Rede Globo, e a sua primeira aparição na bancada rendeu nada menos que a maior audiência do ano. 59 A diversidade também tem reflexos dentro do seu time como um todo. Quando você trabalha num lugar que não tem ninguém parecido com você, é muito mais difícil se manter lá dentro, por diversas questões. Se vocês, por exemplo, não gostam de nada parecido, o ambiente de trabalho fica muito mais pesado, já que não tem ninguém para você rir e contar do seu final de semana. O ideal é que todas as pessoas se sintam representadas dentro da empresa. Dessa forma, é muito mais difícil alguém querer sair, já que o lugar, da forma que é constituído, o recebe tão bem e é tão confortável e acolhedor. A consultoria PwC é um exemplo de cuidado na hora de compreender os diferentes perfis de seus colaboradores. Ao concluir que a taxa de mulheres que se desligavam da empresa depois da licença maternidade era muito alta (cerca de 50%), eles implantaram diversos incentivos, incluindo horários de trabalho flexíveis, possibilidade de home office duas vezes por semana, compensação das 40 horas semanais para descansar um dia por semana, entre outras iniciativas. Engajamento e retenção de colaboradores 60 Estamos falando constantemente sobre como os vieses estão presentes no nosso dia a dia, de forma inconsciente, mas não é só nas nossas relações um com o outro que eles podem afetar. Seja na hora de criar ou de divulgar um produto ou serviço da sua empresa, é importante sempre ter em mente que, quanto maior a representatividade envolvida na equipe, maiores as chances de você ter sucesso. Quando não abraçam a diversidade, as empresas não só deixam de aproveitar estes benefícios, como também acabam caindo em polêmicas de rejeição e cases de insucesso. Veja: CASES No Carnaval de 2015, a Skol apostou numa campanha que, em uma de suas peças, trazia os dizeres "esqueci o 'não' em casa", numa tentativa de mostrar as oportunidades de beijar alguém durante a época. O problema é que a campanha, além de qualquer intenção, bate de frente com a luta das mulheres em busca de respeito e igualdade, especialmente em eventos de grande público como o Carnaval.A repercussão foi péssima. Mulheres de todo o país manifestaram-se contra o desrespeito às suas causas e o incentivo à cultura machista do país e das propagandas de cerveja. Na época, era maioria esmagadora as campanhas que se aproveitavam do corpo da mulher e o objetificavam numa tentativa de induzir o consumo. Peça publicitária “Esqueci o ‘não’ em casa” SKOLSKOL Muito provavelmente, esse tipo de episódio acontece por falta de uma equipe de mulheres presentes na idealização das campanhas. A chance de uma peça como essa ser aprovada por um time composto por mulheres é muito menor do que se fossem apenas homens lidando com a mesma situação. Com a resposta das ruas, a Skol repensou o posicionamento da marca. Foi aí que surgiram temas como "redondo é sair do quadrado" e "viva a diferença". Um pouco mais tarde, nos anos seguintes, a Skol trouxe a proposta de recriar antigos pôsteres da marca, justamente aqueles que tinham como tema principal o corpo feminino padrão. Para essa ação, a Skol convidou ilustradoras de todo Brasil para redesenharem as peças, na tentativa de desconstruir os estereótipos femininos e trazer à tona a importância das lutas das mulheres por igualdade e respeito. Com o slogan "redondo é sair do passado", este é o resultado da campanha: SKOL Reposter http://dsco.la/reposter-skol 63 A italiana Gucci é uma das maiores grifes do mundo, fundada na década de 1920 e sonho de consumo de muitos consumidores de alta renda. Entre diversas polêmicas no mundo da moda, a Gucci também esteve envolvida em um caso de insucesso com o lançamento de uma peça preta, de gola alta, com lábios grossos e vermelhos. Referência ao Blackface em peça de roupa GUCCIGUCCI A peça, de forma intencional ou não, fazia referência a uma prática bastante comum nos séculos XIX e XX, o chamado Blackface. O Blackface foi uma prática muito usada para representar personagens negros no teatro, cinema e televisão através de atores brancos. Os atores brancos pintavam-se com carvão, de forma exagerada, para interpretar os negros, que embora fossem retratados, não eram bem-vindos aos palcos. Na época, a discriminação com os negros era extremamente comum e institucionalizada. Após o ocorrido, famosos como o rapper 50 Cent pronunciaram-se contra a marca. O rapper chegou a queimar suas roupas da Gucci em uma de suas publicações no Instagram, afirmando que precisava se livrar das roupas e que não mais apoiava a marca. As falhas com a população negra dentro do mundo da moda podem ser, muitas vezes, explicadas justamente pela falta de representação do grupo dentro destas grandes grifes. Não é só usar a luta dos negros como tema das coleções e/ou colocar negros nas passarelas dos grandes desfiles: a luta começa de dentro, em cada cargo que faz parte do negócio. A própria Gucci, depois do episódio, publicou um pedido de desculpas por seu posicionamento e anunciou um plano para fomentar a diversidade dentro da empresa. A ideia é aumentar o número de pessoas negras no quadro de colaboradores, principalmente em cargos de liderança, e também investir em cursos, treinamentos e palestras para conscientizar os colaboradores sobre temas sociais como o racismo. 65 A Xiaomi é uma empresa chinesa de produtos eletrônicos, dentre eles o Mi Band 2, segunda geração de uma pulseira rastreadora fitness. O wearable monitora a quantidade passos, as calorias consumidas, o trajeto percorrido, os batimentos cardíacos, entre outras informações. O problema é que, por uma falha de design, a Mi Band 2 não reconhece peles escuras e, por consequência, não tem uso para nenhuma das funcionalidades que citamos. Embora apresente um preço altamente competitivo, muito abaixo de seus concorrentes, a pulseira da Xiaomi aparentemente não passou por testes de qualidade feito por pessoas negras. Wearable que não reconhece pele negra XIAOMIXIAOMI Em fóruns especializados, negros reclamaram da dificuldade que encontraram no uso do wearable, tendo até que recorrer a truques caseiros, como inserir um pedaço de papel branco entre a pele e a pulseira. O problema se dá porque o sensor óptico da pulseira não consegue penetrar em peles mais escuras, impedindo o seu reconhecimento. E este não é o único caso de não reconhecimento de negros por sensores automatizados. Acontece também com outros monitores de batimento e até mesmo saboneteiras automáticas. Sendo assim, se a problemática é a tecnologia utilizada, é papel das empresas encontrarem uma forma de abranger todas as pessoas, sem fazer distinção entre elas. 67 Certo, mas o que eu ganho quando convivo em harmonia com a diversidade? O poder das transformações pessoais em cada um Se os vieses impactam tão diretamente as empresas como um todo, certamente eles também têm influências sobre nós, como pessoas. Afinal, toda empresa é formada por um conjunto de indivíduos e, por consequência, pelo conjunto de vieses que cada um carrega. Trazer à consciência os vieses que ficam escondidos na nossa mente é um primeiro passo para transformar as instituições e as sociedades, porque, como você sabe, a mudança começa dentro de nós. Quanto mais convivemos com pessoas diferentes dentro de ambientes que fomentam essa diversidade, mais benefícios e transformações pessoais temos como resultado. Passamos cerca de 8 horas do nosso dia no trabalho. Se considerarmos um sono de 8 horas, significa que metade do tempo acordado é gasto com as pessoas que dividem o emprego com você. Pense em quantas coisas boas (e ruins) você carrega desse lugar para dentro da sua casa, da sua faculdade ou da sua família naquelas 8 horas restantes do dia. 69 Vamos pensar em alguns exemplos. Imagine que você trabalha numa empresa com um time composto 90% por homens e apenas 10% de mulheres. A chance de piadas machistas ou soluções pouco representativas saírem deste grupo é muito maior do que se as proporções fossem inversas. Agora imagine que você tem dois filhos em casa, um menino e uma menina. Já imaginou como pode impactar na educação dos seus filhos o ambiente de trabalho que você vive? Os filhos homens devem ter oportunidades diferentes das filhas mulheres só pelo fato de terem sexos diferentes? É claro que não, mas, muitas vezes, de forma inconsciente, uma resposta contrária a essa fica esboçada nas atitudes dentro das famílias. Não é só o histórico familiar que dita muito sobre o comportamento dos pais ou futuros pais, mas também o seu ambiente profissional. Como a gente viu, as pessoas são um produto do meio em que vivem. Se vivem em um ambiente machista, aumentam as chances de reproduzirem comportamentos como este dentro e principalmente fora do trabalho. É uma via de mão dupla: pessoas conscientes constroem ambientes de trabalho representativos, e estes mesmos ambientes, quando diversos, moldam pessoas com muito mais consciência sobre seus direitos, deveres, privilégios e lutas. E não é só sobre o gênero. Diariamente, pessoas sofrem com algum tipo de preconceito, por menor que ele seja, que são chamados de microagressões. As microagressões são manifestações muito sutis de discriminação contra diferentes raças, etnias, religiões e outros grupos. 70 71 Por serem tão leves, as microagressões quase sempre passam despercebidas, já que são muito pouco debatidas. Ainda assim, esta é uma forma de preconceito que vem até na nossa própria fala. É julgar, por exemplo, que todas as pessoas do oriente são japonesas, enquanto o traço dos olhos puxados é característica de muitos grupos além do Japão. É achar, sob o olhar de um estrangeiro, que todas as mulheres brasileiras sabem sambar e tem um "corpo violão". É acreditar que quem gosta de funk é menos inteligente. Nem sempre os orientais são bons em matemática. Nem sempre as pessoas de origem latina gostam de reggaeton ou outro ritmo originário dessas regiões. Nem sempre os europeus têm cabelos loiro, lisos e olhos azuis. No começo destecapítulo, a gente trouxe a importância de cada colaborador como responsável por uma parte da empresa. Sem eles, não seria possível existir de fato um negócio. Por isso é tão importante que tenhamos consciência das nossas atitudes e principalmente das motivações por trás delas, a fim de evitar o enviesamento das nossas decisões. Essa é uma questão muito importante para todos os funcionários como indivíduos, mas principalmente para o time de contratação de novos talentos. Sem saber que participavam de um teste, os profissionais reproduziram aquilo que já sabemos que acontece em diversos postos de trabalho: o preconceito racial representado pela preferência inconsciente por pessoas brancas em relação às negras. Esta é uma luta diária, que não será vencida da noite para o dia. Assim como esta, existem centenas de outras questões que foram levantadas aqui e nos mais diversos ambientes que você frequenta. Chegou a hora de colocar a mão na massa e entender como cada um de nós é importante e faz parte dessa batalha. O Governo do Paraná, numa tentativa de mostrar às áreas de recursos humanos das empresas o racismo institucional enraizado, produziu o seguinte vídeo: http://dsco.la/racismo-institucional Somos protagonistas da mudança que queremos ver no mundo O processo de reconhecer seus vieses e começar um percurso rumo à quebra dele é longo e, por muitas vezes, bastante difícil. Mas se você chegou até este curso e percorreu todo o caminho até aqui, você já está um passo mais próximo de vencer os vieses e quebrar os paradigmas. Diante deste desafio, a gente te convida a conhecer o modelo de inspiração para superar seus vieses, criado pela PwC. A PwC é uma consultoria que auxilia empresas a crescerem em diversos aspectos, desde a aceleração da transformação digital e o desenvolvimento da inovação até a transformação do capital humano e a criação de experiências diferenciadas para os clientes. Um de seus pilares é trabalhar os vieses inconscientes que podem atrapalhar na hora de transformar a diversidade numa vantagem competitiva. Isso tudo pode parecer muito coisa do mundo corporativo, mas lembre sempre que é o conjunto de indivíduos que fazem uma empresa ser o que ela é. O modelo para superar os vieses sugere posturas para alcançar a mudança. É feito em formato de ciclo, que ilustra bem como a mudança deve ser feita de forma contínua. Vamos lá? Você vai passar por 6 fases: 73 74 Não é problema nenhum ter vieses. Você não se torna uma pessoa ruim ou um profissional menos qualificado por conta disso. Todo mundo tem algum tipo de viés, por mais enraizado que ele esteja. Só de estar aqui com a gente, aprendendo mais sobre o tema e percebendo o quão comum ele é, você já completou a primeira fase. Depois de reconhecer, é preciso identificar seus vieses. Em que momentos você os deixa transparecer? Já tentou pensar de outra forma, usando a empatia para se colocar no lugar de outra pessoa? Esta é uma fase mais difícil que a anterior, porque exige autocrítica intensa e profunda, até entender que muita coisa que parece normal para você pode ser, na verdade, um viés inconsciente que prejudica o seu desenvolvimento. COMO FAZER? COMO FAZER? Esta é uma fase muito mais reflexiva do que mão na massa. É o momento de reconhecer que, como qualquer pessoa, todos nós somos passíveis de enviesar nossas decisões e atitudes baseados em diversos fatores. Se você for branco, converse com pessoas de outra cor. Se for homem, fale com colegas de outro gênero. Se trabalha no setor privado, conheça profissionais do setor público. Se mora nas grandes metrópoles, busque entender como é a rotina de alguém que mora no interior. E vice-versa. Anote tudo o que encontrar de divergência entre o que você pensa e o que o outro tem a dizer. Entenda que os vieses são naturais do ser humano. Converse com pessoas diferentes. 1 2RECONHECER QUE VOCÊ TEM VIÉSES IDENTIFICAR QUAIS SÃO SEUS VIESES 75 Desafie os seus vieses e saia da sua zona de conforto para testá- los. Você logo vai perceber que quase nenhum deles faz sentido na prática. A partir desta fase, você começa a navegar em mares desconhecidos, que podem te travar no começo, mas que valem todo o esforço. Com os resultados das suas experiências, busque conectar-se com as outras pessoas que são diferentes de você. Como a gente disse, a diversidade não só gera inovação para os negócios, mas também favorece as transformações pessoais. Deixe de lado aquilo que “sempre foi assim” e conecte-se com o novo. Este é o momento de consolidar seus conhecimentos sobre as diferenças e compreender o seu papel como sendo fundamental para a mudança que você quer ver no mundo. COMO FAZER? COMO FAZER? Das suas anotações da fase anterior, busque por aquelas que mais te chamam atenção, aquelas que você via com clareza de uma forma e, na verdade, funcionam de outra. Será que os homens são mesmo mais capazes de liderar grandes grupos? Será que todas mulheres realmente nasceram para ser mães? Teste as hipóteses e, mais uma vez, anote os resultados. Compare o que você achava, o que o outro acha e o que você pensa agora depois da experiência. Além de conversar com aquelas pessoas da etapa 2, permita- se também viver um dia como eles, enxergar o mundo sob o ponto de vista delas. Somos todos diferentes e vemos as situações com uma riqueza de detalhes muito distinta entre nós. Saia do lugar e faça acontecer. Acompanhe a rotina de pessoas diferentes de você. 3 4SAIR DA ZONA DE CONFORTO FAZER CONEXÕES COM O DIFERENTE 76 Por fim, seja um agente de mudança nos ambientes em que você estiver. Esta é a fase de levar para o outro todo o aprendizado sobre a superação dos seus vieses. É o momento de colocar em prática não só aquele viés que você conseguiu superar, mas também a mudança no mundo, ou pelo menos nos espaços em que você está inserido. Por ser um ciclo, o modelo de superação de vieses influencia sua visão de forma contínua. Enquanto a etapa 5 se encarrega de trabalhar a disseminação da mudança para fora, esta última fase trata da quebra de paradigma dentro de você. É um momento de refletir sobre a própria prática de mudar, de trabalhar o autoquestionamento sobre a superação de vieses como um todo, sem especificar algum tema ou assunto. COMO FAZER? COMO FAZER? Quando ouvir alguém reproduzindo clichês, ofereça suas opiniões contrárias baseadas neste modelo e em todas as suas outras reflexões. Quando falarem dentro da sua empresa que o RH só contrata profissionais de faculdades de renome ou de cursos específicos, por exemplo, mencione as pessoas talentosas que você conhece que não estudaram em tais lugares ou tais cursos. Procure sempre compreender o que te leva a pensar de determinada forma e o que você pode fazer para melhorar. Embora esta seja a última etapa, o modelo é um ciclo, então o melhor uso dele é usando a fase 6 para reconhecer e identificar mais uma vez outro viés que ainda esteja inconsciente para você. Seja o contraponto das discussões. Esteja sempre questionando seus posicionamentos. 5 6DISSEMINAR A QUEBRA DE PARADIGMA PROMOVER A AUTORREFLEXÃO 77 1 3 5 2 4 6 O seu principal aliado em todas as fases e até os momentos posteriores à superação do viés é o autocontrole. Ter controle sobre suas atitudes e pensamentos é uma característica fundamental para tornar as pessoas mais racionais e fazer com que elas tomem decisões de maior qualidade. A habilidade do autocontrole pode também parecer complicada no início, mas ela caminha junto com o modelo de superação de vieses. Quanto mais você se questiona, mais você compreende que somos todos passíveis de fazer julgamentos precipitados, baseados unicamente na nossa visão de mundo. Reconhecer que você tem vieses Resumindo o ciclo e visualizando todas as fases, o modelo fica assim: Sair da zona de conforto Disseminar a quebra de paradigma Identificar quais são seus vieses Fazer conexões como diferente Promover a autorreflexão 1 2 3 4 5 6 DICA Use as ferramentas que você preencheu nos capítulos anteriores para te ajudar a começar o ciclo de superação de vieses. Com as atividades, você consegue enxergar mais fácil quais são os vieses mais claros, que são pelos quais você precisa começar. 78 Como os vieses podem atrapalhar a boa gestão Dentro das empresas, o time de recursos humanos e os cargos de gestão são alguns dos responsáveis por contratar novos talentos e avaliá-los quando se tornam colaboradores. Acontece que esse time e essas pessoas são seres humanos igual todo mundo. Eles também têm suas crenças e seus vieses, embora devam representar a missão, a visão e os valores da empresa. Mesmo que, num primeiro momento, a gente pense na gestão de pessoas como um papel exclusivo do RH e dos gestores propriamente ditos, você não deve esquecer que você é o próprio gestor da sua carreira. Sendo assim, também é imprescindível que você tome cuidado com os vieses dentro da sua vida profissional. O processo de contratação de pessoas passa por diversas fases, desde a atração dos talentos até posteriores treinamentos depois de contratados. Vamos entender todas as fases sob a perspectiva de uma empresa e também de um profissional. O primeiro passo é a etapa de atração de talentos. 79 80 Na linguagem utilizada: Nos locais de divulgação: Além de cuidar dos profissionais que já estão dentro da empresa, é preciso atentar-se aos detalhes em relação à atração de talentos. O ideal é que, desde os primeiros contatos com os possíveis candidatos, a comunicação reflita a imagem da empresa ou de como ela quer ser depois dos processos de contratação que respeitam a diversidade. Pensando nisso, existem alguns pontos a serem cuidados. É preciso prestar atenção: As imagens utilizadas precisam retratar bem a diversidade dentro da empresa. Deixe de lado aquelas fotos que aparecem na primeira página de bancos de imagens pobres, que só mostram homens, brancos, nenhum deficiente, mulheres de cabelo liso e por aí vai. Evite colocar todos os termos no masculino ou usar palavras que só atinjam pessoas de determinadas classes sociais. A linguagem também é um dos termômetros que medem o quão inclusiva está a divulgação da vaga. Optar por divulgação só em locais de acesso exclusivo a determinados grupos deixa a sua atração de talentos enviesada. Divulgar só em faculdades de alto padrão, por exemplo, acaba excluindo pessoas de classes sociais mais baixas. Nas fotos divulgadas: O OLHAR DA EMPRESA Seguindo estes passos na hora de formatar a divulgação e a comunicação da vaga, você pode responder a duas perguntas básicas para perceber, desde o início, se sua atração está enviesada: Quando você divulga uma vaga, os interessados têm o mesmo perfil (os mesmos gostos, as mesmas origens etc.)? Quando você contrata, são pessoas muito parecidas? É essencial compreender que as origens e os gostos das pessoas não devem ser confundidos com acreditar na missão da empresa. Este é um erro bastante comum nas contratações: o de achar que contratar pessoas iguais facilita a homogeneização da visão da empresa em busca de um bem comum. Lembre-se: pessoas diferentes podem acreditar nas mesmas coisas, como você viu na Roda da Identidade. 1 2 81 82 Se sentir que o processo de atração de talentos estão enviesados, por menor que seja o grau, você pode recorrer a algumas alternativas: Pergunte se elas se sentem atraídas por aquela vaga. Sentem-se representadas? Gostariam de trabalhar no local que está descrito na vaga? Aquilo condiz com a realidade da empresa? Fale com pessoas diferentes e perceba o impacto da sua comunicação em perfis com backgrounds distintos. Como um homem branco de classe média alta e uma mulher negra homossexual veem a divulgação? Teste a recepção com diferentes perfis:Converse com as minorias dentro da empresa: 83 UTILIZE LINGUAGEM INCLUSIVA DICAS NÃO INDIQUE PREFERÊNCIA POR PERFIS EXCLUSIVOS CRIE AÇÕES DE DIVERSIDADE Sempre que conseguir, dê preferência às palavras que não têm gênero específico (como gerente, em vez de administrador ou administradora, por exemplo). Veremos mais dicas no capítulo 18. Linguagem Inclusiva Escrever na vaga que prefere mulheres sem filhos, pessoas solteiras, com experiências em grandes empresas ou estudos em grandes institutos é praticamente pedir para ter um time sem diversidade. Aposte em eventos que dão espaço para os grupos que são minorias dentro das empresas, como eventos de liderança voltado para mulheres, de recrutamento de jovens de baixa renda etc. O OLHAR DO PROFISSIONAL Se você está em busca de um emprego e já tem uma vaga em vista, procure na comunicação deles pessoas parecidas com você. É uma forma de perceber se o RH se preocupa com a representação de diferentes perfis. Também é um sinal de que, caso você seja contratado, há muitas chances de ser uma empresa que valoriza a diferença e a encara como uma vantagem competitiva. Além de ser uma vantagem para empresa, a diversidade também é um espaço de conforto para receber pessoas diferentes, e aí a vantagem é toda sua. 84 Se quiser ver mais descrições tão bacanas quanto a da Enext, dá uma olhada neste link: http://dsco.la/vagas-criativas PARA SE INSPIRAR Tem muita empresa por aí que já abandonou os modelos padronizados das descrições de vagas e apostou em linguagens muito mais próximas do público. Para divulgar uma vaga de estágio em Criação, a Enext abusou da informalidade, uma marca bastante comum do perfil de pessoas que buscam justamente por estágios. O resultado foi este: Vai dizer que uma pessoa, no meio da sua faculdade, não se sente atraído por uma comunicação tão despojada quanto essa? Além da simplicidade, a empresa também trouxe memes jovens e exemplos bem descolados. É isso aí meu/minha jovem, tá precisando de uma sanguessuga nesse olho pra aliviar a pressão? É aqui mesmo que a gente vai te ajudar. (Sanguessuga opcional) Olha aí o que você vai aprender: As melhores práticas do comércio virtual Conceitos sólidos de design com mestres da área (Os cara são bruxão) Quebrar um coco com sua testa Conhecer desde startups até grandes monstros do e-commerce Aceitar o amor incondicional UX (Já ouviu falar? Com certeza ela já ouviu falar de você) Fora a zoeira, você vai trabalhar com as principais marcas do mercado: Arezzo, Fast Shop, Staples, Le Lis Blanc, John John, Xiaomi, Canon, Americanas, Sephora, Livraria Cultura, Droga Raia & Drogasil, Dpaschoal, SCHUTZ (você pegou a ideia). ACABOOOOOOO!!!!!! • • • • • • • • • • ENEXT 85 86 Os vieses na etapa de seleção de talentos Depois de atrair os candidatos através da sua comunicação ou de candidatar-se para uma vaga, a etapa seguinte é a de seleção. Dependendo da empresa, a fase de seleção pode ter algumas diferenças. Podem haver entrevistas online, presenciais, dinâmicas de grupo, avaliações em forma de testes ou provas e por aí vai. Independentemente das atividades envolvidas, a atenção com relação aos vieses deve ser a mesma em todas elas. Mesmo que hoje não faça parte do time de entrevistadores, futuramente você pode participar dos painéis de seleção. Se é um empreendedor, sabe da dificuldade que é montar um time para seguir com você, que vise os mesmos ideais e que esteja disposto a acreditar no seu negócio como você. Então aí vão alguns pontos e dicas. 87 88 A etapa de seleção é o primeiro contato direto com os candidatos. É nesse momento que se tem uma noção um pouco mais precisa de como é o perfil dos participantes da seleção, assim como também é hora de mostrar como é a empresa e dar seriedade à etapa através de um processo sério e consistente. Se você participa do time de Recursos Humanos da empresa, algumas medidas devem ser tomadas para tornar o processo seletivo consistente: O OLHAR DA EMPRESA 89 Orienteos entrevistadores sobre suas crenças pessoais Oriente os entrevistadores para evitar projeções pessoais Todos os entrevistadores e recrutadores precisam estar na mesma página. Para isso, é necessário definir os critérios que vão guiar todo o processo, para não abrir espaço para os selecionadores interpretarem de forma individual o perfil dos candidatos. Cada pessoa tem um conceito diferente sobre o que é ser o candidato ideal, então por mais que haja o alinhamento interno sobre o perfil a ser contratado e os critérios objetivos a serem seguidos, ainda assim, cada pessoa tem um julgamento diferente. Para evitar que estas crenças influenciem no processo, o ideal é, se possível, conversar com cada pessoa envolvida diretamente com a seleção, a fim de entender quais são seus vieses mais aparentes e orientá-las no sentido contrário, puxando-as para a neutralidade pessoal. Mais uma vez, o viés de afinidade se faz presente de forma bastante natural em diversos âmbitos. É necessário orientar os recrutadores para que eles não exerçam nenhum tipo de projeção pessoal sobre os candidatos, dando preferência para aqueles que são parecidos com ele (que estudaram na mesma faculdade, que tem os mesmos hobbies, que nasceram na mesma cidade etc.). Na mesma conversa individual sobre as crenças pessoais, é preciso também mostrar aos colaboradores como é normal projetarmos nossos desejos e preferências em outras pessoas, mas que isso precisa ser evitado na seleção dos talentos. Defina critérios objetivos Um termômetro para entender se você está no caminho certo na sua seleção é observar como era o perfil de pessoas no início. Se sua etapa de atração foi bem executada, você provavelmente tinha pessoas muito diferentes, com formações variadas. Se essa heterogeneidade convergiu, ao final, em pessoas muito parecidas entre si, talvez você precisa se atentar aos caminhos que a seleção tomou. É importante ressaltar que essas características iguais não se tratam apenas de capacitação profissional ou acadêmica. São igualdades, por exemplo, no jeito de se vestir, na cor da pele, na origem social e em muitos outros fatores pessoais e sociais. 90 91 CRIE FLUXOS DE ENTREVISTA DICAS DIVERSIFIQUE O TIME DE SELEÇÃO FIQUE ATENTO ÀS LEIS VIGENTES Estruture um roteiro de forma a entrevistar todas as pessoas igualmente, passando pelos mesmos processos e respondendo às mesmas perguntas. Dessa forma, você facilita o trabalho dos entrevistadores e consegue uma linearidade no processo. Chame pessoas de diferentes áreas, com backgrounds diferentes, para participar da seleção. Essa diversidade enriquece o processo, sendo bom tanto para a empresa quanto para o candidato. Existem leis que reservam vagas para minorias que necessitam de políticas públicas para conseguir colocação profissional igualitária. É o caso, por exemplo, das pessoas com deficiências na Lei 8213/91, que falamos anteriormente. 92 O OLHAR DO PROFISSIONAL Durante as atividades de seleção da empresa, preste atenção nas perguntas que são feitas. Alguns questionamentos nada têm a ver com a vaga ou com as funções a serem desempenhadas pelo profissional contratado, evidenciando um enviesamento da empresa. As mulheres são os principais alvos dessas perguntas pouco profissionais, incluindo questões sobre filhos, família, estado civil etc. Diante de perguntas subjetivas (e até invasivas), aquelas que você claramente consegue distinguir das que realmente têm um fundo profissional, o ideal é pedir para que o entrevistador esclareça a razão de estar perguntando tal coisa. Ele provavelmente não saberá responder, o que já dá a entender que aquilo não é uma técnica definida nem um critério objetivo de avaliação de candidatos. Além de se atentar à fala, olhe também para o ambiente. Observe os próprios entrevistadores: eles são todos iguais? Representam um perfil bem homogêneo? Pode ser que eles sejam a cara da empresa, então se são todos iguais, sem nenhum tipo de representatividade, pode ser que dentro da empresa também não haja muita diversidade. PARA SE INSPIRAR Percebendo a necessidade de representar a diversidade dentro da empresa, muitas marcas andam apostando em processos de seleção específicos para minorias, como é o caso do Google. Com o programa de estágio Next Step, o Google visa tornar a empresa mais inclusiva e representativa através da contratação de jovens negros. Uma das grandes diferenças desse programa é não trazer o inglês como requisito mínimo de contratação. Em um comunicado, a empresa mostra dados que afirmam que apenas 5% da população brasileira têm fluência em outro idioma, e que esse número é expressivamente menor entre os jovens negros. Para começar a mudança neste cenário, os estagiários selecionados também receberão um curso intensivo de inglês dentro do próprio escritório do Google, para capacitar os jovens, facilitando sua efetivação ou futuras contratações em outras empresas. O campo de atuação dentro do Google também é bastante diverso, incluindo as áreas de recursos humanos, financeiros, marketing, vendas etc. Por conta disso, a empresa aceita alunos de qualquer curso de graduação. A ideia é que a inclusão seja feita em todas as áreas, para trazer representatividade à todas as pontas. 93 A responsabilidade das boas avaliações para sua carreira profissional Depois da contratação, as etapas seguintes referem-se a momentos em que o novo colaborador já está dentro empresa, participando das tarefas e contribuindo para o desenvolvimento delas. Uma importante etapa, que veremos agora, é a de avaliação dos funcionários. A avaliação é um momento importante da carreira do profissional, pois é através dela que seus possíveis caminhos podem ser traçados. Um profissional bem avaliado tem maior chance de receber propostas para grandes projetos, então é necessário não enviesar o processo para, mais uma vez, manter a diversidade de pessoas em cargos mais altos ou projetos de grande visibilidade. As avaliações são comprovadamente diferentes para cada tipo de pessoa. Kieran Snyder, CEO da Textio, fez uma pesquisa nos Estados Unidos com 180 profissionais, sendo 105 homens e 75 mulheres. Nesta amostra, Kieran demonstrou como as mulheres são avaliadas de forma muito pior do que os homens. A diferença é visível: 71 mulheres dizem ter recebido feedbacks negativos de seus gestores, ao passo que 23 homens afirmam o mesmo. Por outro lado, enquanto 81 homens dizem ter obtido apenas feedbacks construtivos, somente duas mulheres afirmam o mesmo! Há uma disparidade gritante entre os números, que nos faz pensar e nos atentar ao que pode ser melhorado nas avaliações das empresas. 95 96 Dada a importância da avaliação para a carreira do seu colaborador, é preciso ser muito responsável nessa etapa. Uma das características que mais definem uma avaliação enviesada é a interpretação dos mesmos comportamentos de formas distintas para cada pessoa, dependendo do seu perfil. Mulheres e homens, negros e brancos, heterossexuais e homossexuais, entre outros pares diferentes, têm julgamentos completamente distintos na maioria das vezes. Os pequenos exemplos e as microagressões podem ilustrar bem o que estamos falando aqui. Se um homem é incisivo em suas perguntas e respostas, é interpretado como um profissional firme, sério e competente; se uma mulher age da mesma forma, ela é grossa, pouco feminina ou “está de TPM”. Se, por alguma razão, um colaborador que é do Rio de Janeiro delega suas tarefas para outro colega, ele se torna o “carioca folgado”, mesmo que ele tenha algum motivo verdadeiro para sua atitude. O que há em comum nestes exemplos e em várias situações que podem afetar a avaliação é a generalização entre os colaboradores. Tome cuidado com os vieses de percepção, não deixando a opinião pública e seus estereótipos invadirem a sua avaliação. O OLHAR DA EMPRESA 97DEFINA CRITÉRIOS OBJETIVOS DICAS NÃO COMPARE UM COLABORADOR COM O OUTRO DE FEEDBACKS EM TEMPO REAL Mais uma vez, é preciso definir precisamente os critérios de avaliação, para não se deixar levar por seus vieses. Todos os colaboradores merecem e devem ser avaliados com neutralidade, sem nenhum tipo de critério subjetivo. Não é porque o funcionário é seu amigo que ele merece tratamento diferenciado daqueles que você não é muito chegado. Se um deles faz horas extras e o outro não, não significa que um tenha mais valor que o outro. Indo de encontro à dica anterior, é preciso definir um padrão de qualidade claro para avaliar todos de forma objetiva, sem vieses ou diferenciação entre profissionais. Se duas pessoas da mesma área conseguem atingir as mesmas metas no mesmo tempo, mas por caminhos diferentes (ambos sem prejudicar a empresa), não existe superioridade entre eles, mesmo que você prefira um método a outro. Sempre que possível, ofereça sua avaliação sobre as atividades correntes assim que elas ocorrem. Esse processo facilita tanto para o RH ou o gestor quanto para o próprio profissional, já que é possível entender praticamente na hora o que há de bom e de ruim, baseado nos fatos concretos que acontecem. 98 O OLHAR DO PROFISSIONAL Como profissional, você tem pelo menos uma noção mínima de como anda o seu desempenho dentro do ambiente de trabalho. Você sabe no que trabalhou, o que deu certo, o que não deu, o que foi construtivo e o que não serviu de nada. Se o seu feedback avaliativo nada tem a ver com aquilo que você imagina do seu trabalho, talvez seja o caso de prestar atenção e tentar entender o que levou àquele julgamento. Procure entender motivos concretos para que sua avaliação tenha sido aquela. Quais os casos específicos que exemplificam? Em que momentos você apresentou determinadas atitudes? Caso só existam suposições e subjetividade, pode ser que sua avaliação tenha sido feita com algum tipo de viés, em maior ou menor grau. Lembrando sempre que, antes disso, é preciso ser sincero sobre o seu próprio desempenho. Não adianta achar que você é perfeito em tudo que faz e querer saber porque recebeu uma avaliação pedindo mais proatividade, por exemplo. Autocrítica é tudo. 99 PARA SE INSPIRAR A Hidrovias do Brasil (HBSA), uma empresa de navegação, é um dos exemplos para ficar de olho. Ela oferece um processo bastante estruturado para seus líderes conduzirem avaliações de desempenho. A empresa detalha as atitudes que merecem pontuações positivas ou negativas, evitando assim a subjetividade na observação dos gestores. São definidos parâmetros que devem ser levados em consideração para checar se todos estão conversando com a cultura da empresa. A empresa também realiza um treinamento de vieses inconscientes focado em melhorar a assertividade da avaliação, para que os gestores possam perceber quando estiverem deslizando em vieses e, assim, aprender a gerir seu autocontrole. 99 Aprendendo a lidar com os vieses para guiar o futuro profissional Além da avaliação, outro momento importante da vida profissional dos novos e dos antigos colaboradores é o das ações de treinamento e desenvolvimento. Assim como a avaliação, há muita responsabilidade nessas ações para com os funcionários, pois elas dizem muito sobre as portas que vão se abrir em sua jornada. Enquanto o treinamento lida com os novos talentos durante seu período de adaptação e aprendizado inicial, as ações de desenvolvimento cuidam do progresso do profissional ao longo de sua carreira dentro da empresa. Ambos exigem muita atenção, pois também são muito passíveis de enviesamento. 101 102 O setor de RH é um dos principais responsáveis pela permanência dos colaboradores dentro da empresa e por seu desenvolvimento nessa estadia. Tanto para o treinamento quanto para o desenvolvimento, o encarregado pelas tarefas tem outros pontos de atenção a serem notados. O OLHAR DA EMPRESA Nesse momento, é preciso ter a sutileza de identificar possíveis vieses que regem o negócio. Pode ser que, lá no fundo, a empresa tenha algum tipo de predileção por determinado modelo de liderança. Já que é agora o momento de capacitar o outro, também é hora de deixar de lado esses vieses, para não atrapalhar as ações. Por mais que você ainda não tenha um time muito diverso, cada colaborador tem suas necessidades específicas. Cada um deles precisa de uma atenção diferenciada, com base naquilo que ele realmente necessita dado o seu contexto social fora da empresa. Quanto mais representativo o seu time, a disparidade entre as necessidades tende a ser cada vez maior. IDENTIFIQUE CRENÇAS ENVIESADAS MAPEIE NECESSIDADES ESPECÍFICAS Mesmo com tudo isso, ainda é preciso tomar cuidado também com a discriminação entre pessoas diferentes. Você acha que um homem e uma mulher que atuam no mesmo setor necessitam de treinamento diferente? Será que um profissional gay precisa ser alertado sobre seu comportamento e seus trejeitos, pelo simples fato de ser homossexual? A gente chegou até aqui na caminhada, então você certamente já consegue identificar os possíveis vieses envolvidos nessa etapa. Depois de identificar os pontos anteriores, os processos ficam muito mais fluidos. Por muitas vezes, eles podem parecer mais complexos, o que é normal: se estamos lidando com pessoas, estamos cara a cara com a diversidade dos mundos que cada um carrega dentro de si. Essa sensação de complexidade também pode ser explicada pela quebra na decorrência do sistema 1, que nos faz pensar de forma impulsiva. Quando aprendemos a entender as infinitas possibilidades de cada colaborador como pessoa, o sistema 2 entra em ação e nos leva à reflexão, de forma mais analítica. Assim é possível fechar o ciclo do papel do RH de forma completa. 103 PASSE UM TEMPO COM OS TIMES DICAS ATENTE-SE À DISPONIBILIDADE DE CADA UM FAÇA TESTES COM PEQUENOS GRUPOS Você conseguirá oferecer melhores programas de treinamento e desenvolvimento se entender o que cada um precisa de fato. Antes de fazer qualquer generalização, use seu tempo para diminuir as chances de erro nos programas de treinamento e desenvolvimento. Não adianta criar um programa superbacana de capacitação que funciona depois do horário do expediente se a maioria não pode ficar, seja por morar longe, estudar, ter filhos etc. Não é porque um colaborador tem disponibilidade que os outros devem ter também. A possibilidade de estender o horário não torna um colega melhor ou mais focado do que o outro. Sempre que possível, faça alguma versão de teste dos processos de treinamento e desenvolvimento. Por exemplo, se você contratou recentemente um profissional, converse com a pessoa que você considera mais parecida com ele dentro da empresa e teste o treinamento. Assim é possível obter feedbacks que impactam diretamente na melhoria do processo. 104 O OLHAR DO PROFISSIONAL Mesmo que você, como profissional, tenha um papel mais passivo nessa fase, não significa que não deva expressar suas opiniões a respeito das ações de treinamento e desenvolvimento dentro da empresa. Quando for um funcionário efetivamente, busque participar dos processos de treinamento, para agregar um olhar diferente a respeito da etapa. Assim você consegue aproximar-se dos novos colaboradores e ajudá-los a ter uma experiência mais acolhedora e rica. Nas ações de desenvolvimento, sejam elas palestras, cursos ou viagens, mostre sempre como você se sente, seja positiva ou negativamente. O feedback direto aos responsáveis pelos programas de desenvolvimento não deve parecer só como uma atitude arrogante ou que diminui o outro. Na verdade, se todos os colaboradores opinassem sobre como se sentem e sobre as ações na prática, os programas de desenvolvimento das empresas seriam muito mais precisos e eficazes. 105 PARA SE INSPIRAR O Grupo Pão de Açúcar (GPA) temuma universidade corporativa que oferece capacitação para profissionais de diferentes níveis hierárquicos dos distintos negócios do grupo. Estão sempre mapeando oportunidades de atender necessidades específicas. Em 2019, o grupo criou um programa de desenvolvimento de liderança feminina, pelo qual todas as mulheres em posição de gerência deviam passar, para lidar com alguns desafios típicos vivenciado pelas mulheres em suas carreiras. Outro exemplo é a consultoria Falconi, que tem um programa intensivo de treinamento de todos os novos consultores. Os trainees e outros colaboradores contratados em início de carreira recebem uma imersão de treinamentos que poderiam até ser considerados básicos para um consultor - como Excel, matemática financeira e metodologias de planejamento. Isso permite que pessoas com as mais diversas formações possam tornar-se consultores na empresa, porque todo o arsenal de ferramentas para atuarem é oferecido nesses treinamentos. 105 106 O fim de uma jornada e o começo da mudança A jornada para desconstrução dos vieses não é fácil. No início, com o reconhecimento de que todos somos seres humanos passíveis de enviesamento, essa tarefa é um exercício de sinceridade com a gente mesmo, quando assumimos que a nossa visão pode não ser neutra. Depois, ao longo das transformações, é um exercício de autocontrole. É necessário lutar contra os pensamentos rápidos e confortáveis, que nos levam a conclusões precipitadas diante de situações que nem imaginamos. É um exercício de ir contra a inércia, um conceito da física que explica a tendência natural dos corpos de estarem em repouso. Você precisa sair do repouso da sua mente e pensar no menos óbvio, no pouco explorado. 107 108 Ao fim da jornada, as mudanças são visíveis e acontecem em dois âmbitos: Você muda O mundo muda As transformações pessoais depois de compreender e superar seus vieses são gratificantes. Você se torna uma pessoa muito mais compreensível, sensata e ponderada sobre sua relação com o outro. Isso reflete diretamente no mundo exterior, e assim... Quando você sai da inércia e estimula o movimento, todo o ambiente em volta de você se transforma também, porque agora as pessoas têm uma referência de quebra de paradigma. Elas sentem-se motivadas a desafiar o óbvio, o costume e o "sempre foi assim" e a tornar-se seres humanos melhores. A quebra de vieses faz de você um agente de transformação. Uma vez que você começa a enxergar o mundo sob outra perspectiva, você sempre vai carregar essas sementes com você: a da empatia, da responsabilidade social, do respeito à diversidade e da inclusão. Por onde for, você tem o poder de transformar: seja suas atitudes ou a de seus colegas. 109 Seja a mudança que você quer ver no mundo. Mahatma Gandhi 110 Nosso idioma é um reflexo dos nossos vieses como sociedade A linguagem é o nosso instrumento de poder mais valioso dentro de uma sociedade. É através da linguagem que construímos a nossa fala e nos comunicamos, nos expressamos, nos indignamos, nos fazemos ser notados. Em cada cultura, essas expressões são feitas em idiomas diferentes. São quase 7 mil idiomas espalhados pelo mundo, construídos através da história e baseados nos costumes de cada uma e nas próprias línguas de outros grupos. Pois é, muitas línguas nascem umas das outras, e é aí que acontece esse sincretismo linguístico. A língua portuguesa, por exemplo, nasceu do latim. Mas até se transformar no que é hoje, passou por uma porção de modificações ao longo dos séculos. Essas modificações, na maioria das vezes, refletem a própria história das nações. Sofremos influência de diversos outros países, culturas e idiomas, até chegarmos ao português que falamos hoje. A construção de uma língua, além de tudo, é também um processo histórico e social. No meio de tantos costumes, acabamos incorporando ao idioma uma porção de palavras e expressões pejorativas, baseadas em vieses tão antigos, que a gente mal consegue identificar. Até porque a gente não fica analisando palavra por palavra que falamos. A gente só usa as palavras como um suporte da comunicação. Mas é preciso se atentar a alguns casos. 111 112 NADA TAMBÉM. É mais uma situação em que a palavra reflete um comportamento enviesado, que deve ser evitado. TROQUE POR: Maltratar, ofender, atormentar.TROQUE POR:Caluniar, difamar, desqualificar. TROQUE POR: Aqui vai uma lista de palavras e expressões que talvez você não tivesse conhecimento de sua real origem. Para cada termo, vamos sugerir uma outra forma de se expressar: Esta é uma das palavras mais comuns que carregam a discriminação em sua origem. Denegrir significa "tornar negro", usado com essa acepção em muitos cenários. Por exemplo, se alguém fala mal de outro publicamente, ele está "denegrindo" a outra? Não! Até porque tornar negro não é algo ruim. Somos muito influenciados a pensar no adjetivo "negro" como algo negativo, mas não deve ser assim. Frequentemente usado de modo pejorativo, para ofender pessoas geralmente do sexo masculino. Aparece em várias situações, como por exemplo quando o homem demonstra sentimento em público, usa roupas cor de rosa e outras cores “de mulher”, chora por alguma razão etc. É uma tentativa de diminuir o sexo feminino, mesmo que de forma não intencional. O verbo tem o sentido de “maltratar” outra pessoa. Até aí tudo bem. O problema é a sua origem: o radical jud- vem justamente da palavra “judeu”, um povo historicamente vitimado, principalmente na Segunda Guerra Mundial. Maltratar alguém não é fazer com ela o que foi feito com os judeus. Uma ofensa, da mesma forma que a palavra anterior, mas referindo-se aos homossexuais. Pode ter variação para outras palavras, como “gay” ou “veado”. Frequentemente é utilizada como um xingamento, como se a orientação sexual do outro fosse ofensa. NADA. Não use. Não existe situação que justifique o uso de um adjetivo com essa conotação. TROQUE POR: DENEGRIR MULHERZINHA JUDIAR BICHA 113 Lista de devedores, lista de caloteiros.TROQUE POR: Cabelo crespo.TROQUE POR:Serviço mal-feito, trabalho incompleto. TROQUE POR: Se um trabalho é mal-feito, frequentemente é taxado como “serviço de preto”, diminuindo a força de trabalho do negro e sua própria identidade. A cor de um profissional nada tem a dizer sobre a qualidade do seu trabalho. É a mesma situação do verbo “denegrir”. Essa expressão representa aquelas atividades que não são muito bacanas, por serem cansativas e/ou pouco divertidas. É como se alguém convidasse você para ir pagar um boleto na lotérica: não tem nada de interessante nisso. Só com essa descrição, já é possível entender a problemática por trás. Por que algo que não é divertido seria “de índio”? Se um cabelo não é liso ou com cachos abertos, é comum ouvirmos que é um “cabelo ruim”, quando simplesmente se trata de um cabelo crespo. Nossa sociedade, mesmo que inconscientemente, valoriza muito traços europeus: pele clara e cabelos lisos. Ultimamente, entretanto, podemos acompanhar a crescente valorização dos crespos e cacheados, com influenciadores exaltando a beleza negra e a indústria investindo em produtos de beleza para este público. Se alguém deixa de pagar uma conta, se não honra com seus compromissos ou falta com responsabilidade em algum contexto, essa pessoa entra nas chamadas “listas negras”. Bem, agora que já vimos várias outras palavras, você mesmo já consegue perceber. É mais um caso de inferiorização do negro, usando-o como adjetivo pejorativo. programa chato, simplesmente, ou outras expressões que realmente denotem como a atividade é pouco convidativa. TROQUE POR: SERVIÇO DE PRETO PROGRAMA DE ÍNDIO CABELO RUIM LISTA NEGRA Os exemplos que trouxemos aqui são só uma pequena lista. A língua portuguesa carrega consigo muitas referências históricas, que refletem a construção do nosso país. Por conta disso, existem mais centenas (talvez milhares) de palavrase expressões pejorativas com algum tipo de discriminação. É sempre interessante fazer o exercício de observação da sua fala, para identificar e banir esse tipo de comunicação, tanto no ambiente profissional quanto no pessoal. Outra questão que envolve a nossa linguagem é a flexão de gênero das palavras. Sempre que falamos ou escrevemos para mais de uma pessoa, se uma delas for homem, generalizamos para o masculino. Mesmo que você esteja, por exemplo, palestrando para 250 mulheres e 50 homens, você vai dizer “boa tarde a todos”, e não “boa tarde a todas”. 114 Essa também é uma construção histórica e social. A gente não vai desconstruir nada disso, se não levaríamos mais um curso inteiro para discutir. O que a gente quer frisar, na verdade, é a possibilidade de escolher outras palavras sempre que possível. Para escrever uma vaga, por exemplo, faça um esforço para encontrar sinônimos que não tenham gênero. Em vez de dizer que o profissional precisa "ser bom" em algo (e não "boa"), diga que é necessário "ter habilidade" com aquilo. Competente, hábil, capaz, resiliente, pontual, experiente… Todos adjetivos uniformes. São muitas as possibilidades que tornam sua comunicação muito mais inclusiva, atingindo muito mais pessoas. Sempre que conversamos com grupos de pessoas de diferentes sexos, o ideal é tornar a comunicação o mais pessoal possível, usando essas palavras que não têm flexão de gênero para representar o maior número de indivíduos numa mesma fala. 115 116 O uso de vieses e estereótipos para induzir o consumo Quantas vezes você já comprou uma peça de roupa que não precisava? Um livro que nunca leria? Um aparelho eletrônico que hoje está jogado no fundo do armário? Pois bem, todos nós já passamos por alguma situação parecida. Na maioria das vezes, você realmente não precisa daquilo. E aí vem a frase clássica: “comprei por impulso”. Você comprou por impulso mesmo, e isso é explicado por conta da ação do sistema 1, que vimos anteriormente. O sistema 1 é responsável pelo desejo e pelo comportamento de compra compulsivos, bloqueando a reflexão e análise. É só quando você chega em casa que o sistema 2 acende: é aí que você pensa que realmente não precisava ter comprado. As propagandas que nos impactam todos os dias são quase que completamente responsáveis por induzir nosso cérebro a fazer essas conexões. Vai dizer que você nunca viu um comercial na TV de um novo aparelho celular e ficou com aquela vontade de comprar? Mas como as propagandas conseguem nos persuadir tanto? 117 118 Entre diversos fatores, um dos mais relevantes é a forma como elas são construídas: baseadas em estereótipos carregados de vieses. As propagandas são sempre muito rápidas. Pode ser um cartaz na rua, um banner no site ou um filme na TV. É preciso contar histórias de um jeito simples, então não tem como ficar construindo os personagens. É por isso que o uso de estereótipos e vieses é tão comum: para encurtar a história. Para mostrar uma professora em uma propaganda, por exemplo, eles colocam um óculos bem evidente, para dar a entender logo de cara que a moça tem essa profissão. Se a propaganda é na praia, dificilmente você verá corpos gordos. Se for alguma coisa relacionada com futebol, a chance de ter uma mulher no elenco é bem mais baixa. Os movimentos sociais que ocorrem mundo afora afetam também a publicidade. Cada vez mais, as agências optam por representatividade em suas campanhas. Mas ainda estamos bem longe de ter uma publicidade sem vieses. Como consumidores, não conseguimos mudar de uma vez esse cenário. Mas temos poder de voz para conduzir mais essa mudança. Nesse caso, sempre que possível, precisamos expressar nosso descontentamento diante de propaganda enviesadas, que podem ferir alguma minoria. Propagandas de materiais de limpeza que só mostram mulheres. Comerciais de fralda que trazem apenas bebês brancos, loiros e de olhos azuis. Peças de perfumes que expõem as mulheres como submissas aos homens. São muitos os exemplos por aí, com uma frequência mais alta do que a gente gostaria. E, mais uma vez, é bom sempre reforçar que nós temos o poder de mudar. Exercitar a superação dos seus vieses é uma tarefa que deve ser rotineira, em todas as situações do seu dia a dia. As agências e as marcas perceberam tanto esse novo posicionamento dos consumidores que começaram a caminhar no sentido de trazer a representatividade para seus trabalhos, tanto na criação publicitária quanto de novos produtos. E não é só para "fazer bonito", como a gente falou lá atrás. Esse movimento acontece porque os consumidores não só criticam, como também deixam de consumir marcas nas quais não acreditam. É a força do coletivo mostrando que representatividade importa. 119 120 A mudança está só começando O futuro está em nossas mãos. Você sabe disso há muito tempo, talvez desde que era criança. Mas tem muito mais responsabilidade nisso do que parece. Porque o futuro realmente pertence a nós. Sendo responsáveis por ele, temos o difícil papel de fomentar em nossa sociedade a igualdade entre as pessoas de diferentes gêneros, cores, etnias, religiões. Embora o Estado auxilie na inclusão de minorias que não estão representadas, nós, como sociedade, temos uma influência ainda maior. Porque somos nós que estamos nos lugares, quaisquer que ele sejam. Somos nós os responsáveis pelo acolhimento do outro. Com uma tarefa tão complexa como essa, é preciso sempre refletir sobre nossos vieses e tudo aquilo que pode afetar o outro, mesmo que de forma inconsciente. 121 122 A mudança deve acontecer todos os dias. Vivemos a era pós-digital. A internet já não é mais uma novidade: ela se tornou parte de nossas vidas, e isso é uma prévia de como funcionarão as próximas gerações. Por ser tão enraizada na nossa rotina, ela também se torna uma ferramenta poderosa para conhecermos mais sobre o outro. Ainda assim, a gente vê por aí repercutir uma série de textos, vídeos, fotos e postagens em geral que vão contra tudo o que vimos por aqui. Com tanta informação disponível, é difícil saber o que é verdade e o que não é, para que possamos nos posicionar do jeito certo e não façamos generalizações sem fundamento. Baianos não são preguiçosos. Cariocas não são folgados. Gays não são incompetentes. Pessoas com piercings e tatuagens não são delinquentes. Mulheres não são escandalosas. Homens não são relaxados. Orientais não são superinteligentes. Somos todos DIFERENTES e merecemos todos oportunidades IGUAIS. As pessoas podem ser Podem ser preguiçosas, folgadas, relaxadas. Assim como podem ser competentes, extrovertidas, inovadoras. Características não têm nada a ver com a pessoa ser homem ou mulher, negra ou branca. Cada um tem seu jeito, suas qualidades e defeitos, independentemente de quem são no contexto social. 123 124 Aprofunde seus estudos com mais 6 livros Selecionamos uma lista com 6 títulos bem variados, mas que ainda assim giram em torno dos vieses inconscientes que estudamos. Aproveite! 125 Nada do que fazemos é por acaso. A cor da blusa que você escolheu hoje, a música que você decidiu ouviu, o que você quis almoçar. Essas e todas as outras centenas de escolhas que você faz diariamente podem ser explicadas por razões inconscientes. E é este o tema do livro de Leonardo. Em leitura leve, com humor simples, o autor investiga como o inconsciente é capaz de moldar nossos comportamentos. Numa linguagem facilitada e acessível, Luiz comenta a obra de Freud baseado na teoria da psicanálise. Ele analisa diversos conceitos e, o central deles, é a questão do inconsciente, que apresentamos como fator muito importante para a formação e o entendimento dos vieses. Leitura recomendada para quem desejar se aprofundar no tema do funcionamento da nossa mente. http://dsco.la/subliminar http://dsco.la/freud-inconsciente http://dsco.la/motivacao-nas- organizacoes LeonardoMlodinow Cecília Whitaker Bergamini Durante o curso, aprendemos que cada colaborador tem perfis e motivações diferentes. Diante disso, é preciso aprender a motivá-los da forma correta, de acordo com suas expectativas e seus objetivos pessoais. Cecília traz essa perspectiva para seu livro, que tem como subtítulo uma frase que resume a obra: nem todos fazem as mesmas coisas pelas mesmas razões. Motivação nas Organizações é indicado principalmente para gestores e profissionais da área de RH. Subliminar: Como o Inconsciente Influencia Nossas Vidas Freud e o inconsciente Luiz Alfredo Garcia-Roza Motivação nas Organizações 126 Fátima traz ao livro uma perspectiva mais humana e aplicada da Declaração Universal dos Direitos Humanos. Muito ligado ao que falamos sobre a Roda da Identidade, a autora mostra como, apesar de sermos muito diferentes, somos todos iguais em um ponto: somos seres humanos. O livro traz discussões sobre temas como racismo, homofobia ou bullying. http://dsco.la/tem- lugar-ai-pra-mim http://dsco.la/as-cientistas http://dsco.la/publicidade- contraintuitiva Numa discussão mais aprofundada do que vimos sobre os estereótipos da comunicação, Francisco aborda em seu livro uma espécie de resistência às propagandas tradicionais, enfrentando- as com a problematização dessa realidade. É uma leitura útil não só para profissionais envolvidos com a propaganda, mas também para todos os interessados no tema, já que somos todos impactados e influenciados por estas publicações. Fátima Mesquita As Cientistas: 50 Mulheres que Mudaram o Mundo Publicidade Contraintuitiva: Inovação no Uso de Estereótipos na Comunicação Para desconstruir de vez a ideia de que as exatas são coisa de homem, Rachel elencou 50 mulheres que fizeram história na ciência. Em um livro ilustrado muito intuitivo, cada par de página conta um pouco mais sobre alguma mulher incrível mundo afora. Serve como uma espécie de guia para quem quer conhecer mais sobre as descobertas femininas na ciência, seja através de nomes famosos, como a química Marie Cury, ou menos conhecidos, como a física e matemática Katherine Johnson. Rachel Ignotofsky Francisco Leite Tem Lugar Aí Pra Mim? Um livro sobre Direitos Humanos e Respeito à Diversidade 127 5 filmes e 3 séries para continuar seus estudos Para fechar com chave de ouro a sua jornada, a gente deixa aqui a recomendação de alguns filmes e séries para você aprender e se entreter ao mesmo tempo. 129 Damien é um cara supermachista que, depois de bater a cabeça, se vê num mundo completamente às avessas: agora são os homens se tornaram donos de casa, tendo seus corpos objetificados e hipersexualizados, enquanto as mulheres são chefes de grandes corporações, pouco românticas e taxadas de infiéis. O filme mostra de um jeito muito leve e reflexivo os preconceitos e estereótipos escondidos em nossas atitudes como sociedade, evidenciando a estranheza que seria se os papéis fossem invertidos. O filme conta a história de Katherine, Dorothy e Mary, três mulheres negras que, em plena segregação racial nos Estados Unidos, fizeram história com seus cálculos matemáticos que possibilitaram a ida do primeiro americano ao espaço. Grandes amigas, as três lutam contra o preconceito por serem não só negras, mas também mulheres, num contexto muito complicado para sua ascensão pessoal e profissional. Não Sou Um Homem Fácil Estrelas Além do Tempo Filmes 130 Primeiro filme de super-herói a ser indicado ao Oscar na história, Pantera Negra é um marco importante de valorização da cultura negra. O filme mostra a disputa pelo trono de Wakanda, uma nação africana muito desenvolvida tecnologicamente. O interessante de observar aqui, entre muitos pontos, é a inserção majoritária de atores negros, à frente e atrás das câmeras. A representatividade negra é o ponto central da história e do papel social do filme, que fez história com sua repercussão pelo mundo. Um clássico do cinema nacional, Cidade de Deus retrata desde os primeiros minutos o preconceito sofrido pelos jovens da periferia do Rio de Janeiro. Só por serem moradores das favelas (a própria Cidade de Deus, que intitula o filme), são tratados como cidadãos inferiores. Mesmo que não estejam envolvidos com o crime ou o tráfico, os meninos são torturados pela polícia e presos injustamente, pelo simples enviesamento da opinião pública a respeito da periferia. Pantera Negra Cidade de Deus Filmes 131 Por muito tempo, acreditávamos que o comportamento dos bebês era resultado exclusivamente da combinação genética de seus pais. Com os avanços da neurociência, foi possível descobrir que as características das crianças, desde recém- nascidas, têm muito mais a ver com a qualidade das relações sociais que o cercam desde cedo. É um filme que convida todo mundo para se tornar um agente da mudança do futuro da sociedade. Baseada no livro de Margaret Atwood, a série retrata a distopia de Gileade, uma sociedade tomada por cenários de desastres naturais e pela queda brusca na taxa de natalidade. Por conta deste último problema, as mulheres são tratadas como propriedades do Estado, já que são capazes de gerar filhos e repovoar o mundo. Neste contexto, a série retrata a inferioridade e a servidão das mulheres, que são tratadas desta forma mesmo em utopias, além da resistência criada por Offred, uma das servas. O Começo da Vida The Handmaid’s Tale Filmes Séries 132 Séries A série da Netflix mostra a vida de duas mulheres de 70 anos, Grace e Frankie. As amigas se veem perdidas quando seus maridos decidem se separar delas e se casar um com o outro. A trama central, entretanto, vai muito além da homossexualidade, girando em torno da vida na terceira idade. Em diversos momentos, a série retrata de forma cômica, mas ainda bastante sensível, os preconceitos sofridos pelos idosos em diferentes contextos - seja em suas carreiras profissionais, em suas dificuldades de lidar com novas tecnologias ou em suas manias. Feita para desmistificar os vieses que cobrem o autismo, Atypical é uma série descontraída e bastante informativa. Ela conta a história de Sam, um adolescente autista, e todas as suas descobertas da juventude. Cercado de preconceito nos lugares em que frequenta, Sam tenta viver uma vida normal, mesmo que dentro de sua própria casa sua mãe insista em tratá-lo como especial. Grace and Frankie Atypical 133 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 Botão 1: Botão 2: Botão 6: Botão 5: Botão 9: Botão 10: Botão 3: Botão 7: Botão 11: Botão 4: Botão 8: Botão 12: Botão 14: Botão 13: Botão 18: Botão 17: Botão 22: Botão 21: Botão 15: Botão 19: Botão 16: Botão 20: Botão 23: Botão 24: