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Gestão de Informação e Novas Tecnologias SEST – Serviço Social do Transporte SENAT – Serviço Nacional de Aprendizagem do Transporte ead.sestsenat.org.br CDU 005.94:004 80 p. :il. – (EaD) Curso on-line – Gestão de Informações e Novas Tecnologias – Brasília: SEST/SENAT, 2016. 1. Gestão da informação. 2. Tecnologia da informação. I. Serviço Social do Transporte. II. Serviço Nacional de Aprendizagem do Transporte. III. Título. 3 Sumário Apresentação 6 Unidade 1 | Tecnologia da Informação e Sociedade da Informação 7 1 Introdução 8 2 Tecnologia da Informação e Sociedade da Informação 13 2.1 A Revolução do Controle 13 2.2 Crise de Controle 16 2.3 Racionalização e Burocracia 17 2.4 Novas Tecnologias de Controle 20 2.4.1 Controle da Produção 20 2.4.2 Controle da Distribuição 21 2.4.3 Controle da Demanda e do Consumo 22 2.5 Sociedade da Informação 25 Glossário 28 Atividades 29 Referências 30 Unidade 2 | Logística e Competitividade 31 1 Logística 32 2 Outros Conceitos de Logística 34 3 Impacto das Novas Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) sobre a Logística 38 3.1 Desenvolvimentos Quanto à Cadeia de Valor 38 3.2 Possibilidades de Inovação nos Negócios Trazidas pelas TICs 41 Glossário 44 Atividades 45 Referências 46 4 Unidade 3 | Impacto da Logística sobre a Informática 47 1 Introdução 48 2 A Abordagem Logística de Ponta: Controle pelos Fluxos Físicos e Informacionais 49 2.1 Fluxos Físicos 49 2.2 Fluxos de Informação 50 3 A Amplitude da Difusão da Informática na Logística 51 4 A Comunicação com o Fluxo de Materiais 53 4.1 Acompanhamento Preciso dos Deslocamentos dos Materiais 54 4.2 Acompanhamento Preciso das Operações Físicas de Transformação 56 5 A Comunicação com Outros Sistemas Informatizados 57 5.1 A Necessidade de se Comunicar com os Parceiros 57 5.2 O Exemplo da Grande Distribuição 58 5.3 O Exemplo do Setor de Transportes 59 6 Funcionalidades de Suporte à Decisão 60 6.1 A Necessidade de Suporte à Decisão 60 6.2 Os Limites da Informática Clássica em Atender à Logística 61 Atividades 63 Referências 64 Unidade 4 | Aplicações de TICs em Transportes 65 1 Comunicação e Coleta de Informação de Baixa Tecnologia 66 1.1 Telefones Celulares 66 1.2 Radiocomunicação Bidirecional 67 1.3 Pager (palavra inglesa: pronuncia-se pêi-ger) 67 2 Comunicação e Coleta de Informação de Alta Tecnologia 68 2.1 Localização Automática de Veículo (AVL) e Comunicação via Satélite (SATCOM) 68 2.2 Computadores de Bordo (On-Board Computers – OBCs) 70 5 3 Tecnologias para Processamento da Comunicação e da Informação 71 3.1 Intercâmbio Eletrônico de Dados (Electronic Data Interchange – EDI) 71 3.2 Roteamento e despacho apoiado por computador (Computer-aided routing and dispatching, CAR and CAD) 73 3.3 Sistema de Acompanhamento da Manutenção Veicular (Maintenance Tracking Software – MTS) 74 3.4 Internet 75 Atividades 77 Referências 78 Gabarito 79 6 Apresentação Prezado(a) aluno(a), Seja bem-vindo(a) ao curso Gestão de Informações e Novas Tecnologias! Neste curso, você encontrará conceitos, situações extraídas do cotidiano e, ao final de cada unidade, atividades para a fixação do conteúdo. No decorrer dos seus estudos, você verá ícones que têm a finalidade de orientar seus estudos, estruturar o texto e ajudar na compreensão do conteúdo. Este curso possui carga horária total de 30 horas e foi organizado em 4 unidades, conforme a tabela a seguir. Fique atento! Para concluir o curso, você precisa: a) navegar por todos os conteúdos e realizar todas as atividades previstas nas “Aulas Interativas”; b) responder à “Avaliação final” e obter nota mínima igual ou superior a 60; c) responder à “Avaliação de Reação”; e d) acessar o “Ambiente do Aluno” e emitir o seu certificado. Este curso é autoinstrucional, ou seja, sem acompanhamento de tutor. Em caso de dúvidas, entre em contato através do e-mail suporteead@sestsenat.org.br. Bons estudos! Unidades Carga Horária Unidade 1 | Tecnologia da Informação e Sociedade da Informação 12 h Unidade 2 | Logística e Competitividade 6 h Unidade 3 | Impacto da Logística sobre a Informática 7 h Unidade 4 | Aplicações de TICs em Transportes 5 h 7 UNIDADE 1 | TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO E SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO 8 Unidade 1 | Tecnologia da Informação e Sociedade da Informação Caro(a) aluno(a), bem-vindo(a) à primeira unidade do Curso Gestão de Informações e Novas Tecnologias. Aqui trataremos de definir os mais básicos aspectos da informação e suas tecnologias, para, então, aprofundarmo ainda mais nas unidades seguintes. Bons estudos! 1 Introdução Pode-se dizer que o mundo industrial avançado se tornou uma sociedade da informação. Nos países mais desenvolvidos, a maior parte da força de trabalho agora trabalha, primariamente, em tarefas informacionais, tais como análise de sistemas e programação de computadores. Enquanto isso, a riqueza cada vez mais está associada a bens informacionais, como os microprocessadores e serviços de informática, como o processamento de dados. Para as economias de, pelo menos, meia dúzia de países – especificamente os de ponta –, o processamento de informação, há muito tempo, já deixou para trás o processamento de matéria e energia. c Mas porquê? Entre as inúmeras coisas que os seres humanos valorizam, porque seria a informação, envolvendo bens e serviços, que dominaria as maiores e mais avançadas economias do mundo? 9 Embora haja uma inumerável quantidade de livros e artigos proclamando o advento da Sociedade da Informação, poucos autores se dedicaram a encontrar respostas para essas questões básicas. A questão central é: porque os computadores eletrônicos se tornaram tão centrais para a sociedade moderna, se tudo o que eles podem fazer é transformar informação de uma forma a outra? Como pode nossa inteira Era, popularmente descrita nos anos 1960 como a Era do Computador, ser associada a uma atividade aparentemente tão modesta, como o processamento de informação? c Mesmo se pudermos explicar a crescente importância da informação e seu processamento nas economias modernas, imediatamente confrontaremos outra questão: Por que agora? Já que a informação sempre desempenhou um papel importante em todas as sociedades humanas. Temos que explicar porque só recentemente a informação emergiu como uma commodity (insumo econômico básico) distinta e crítica. A cultura material também tem sido crucial no desenrolar da história humana, e precisou haver uma revolução – a Industrial –, para que o capital destronasse a Terra (a propriedade de terras) como a principal base econômica. A que “revolução” tecnológica e econômica de magnitude comparável com a revolução industrial podemos atribuir a emergência da Sociedade da Informação? A resposta mais plausível a todas as perguntas acima é o que chamamos de Revolução do Controle, um complexo de rápidas mudanças nos arranjos tecnológicos e econômicos por meio dos quais a informação é coletada, armazenada, processada e comunicada, para permitir a tomada de decisões formais, ou programadas, que dão à sociedade poder de controle sobre suas próprias ações coletivas. 10 Desde suas origens, nas últimas décadas do século XIX, a Revolução do Controle continuou imbatível e, na década de 1970, foi acelerada pelo desenvolvimento da tecnologia de microprocessadores e da difusão da digitalização, até chegar à Internet do final do século XX e seus efeitos. Em termos da magnitude e penetração do seu impacto sobre a sociedade, não menos intelectual ecultural do que material, a Revolução do Controle já parece ter sido tão importante para o século XX quanto foi a Revolução Industrial para o século anterior. Mas a história por si só não pode explicar porque é a informação que cada vez mais assume o papel crucial na economia e na sociedade. A resposta tem de ser buscada na natureza de todas as coisas vivas, em última instância, na relação entre informação e controle. A vida, na verdade, implica controle, tanto em células e organismos quanto em economias nacionais ou qualquer outro sistema propositado (com propósitos objetivos e claros). Quando conseguimos enxergar a economia como sistema concreto de processamento material (empenhado continuamente na extração, reorganização e distribuição, desde as matérias-primas naturais até o consumo final) o impacto da industrialização assume novo significado para nós. Até a Revolução Industrial, mesmo as maiores e mais desenvolvidas economias funcionavam literalmente a passo humano, com a velocidade de processamento só ligeiramente auxiliada pelo uso da força animal, do vento e da água, e o controle do sistema de processamento auxiliado em igual proporção por modestas estruturas burocráticas. Sem a menor dúvida, o maior efeito da industrialização, sob essa perspectiva, foi aumentar a velocidade do sistema de processamento material de toda uma sociedade, precipitando uma crise de controle, um período em que as inovações em tecnologias de processamento da informação e de comunicação estiveram em atraso em relação àquelas relativas à energia, e sua aplicação à manufatura e ao transporte. A Sociedade da Informação, conclui-se, não é tanto o resultado de alguma recente mudança social, mas sim de aumentos na velocidade do processamento material, com origem há mais de um século atrás. 11 Os microprocessadores, as tecnologias de processamento e comunicação e a internet, ao contrário do que muita gente pensa, não são novas forças só recentemente liberadas sobre uma sociedade despreparada, e sim apenas o último capítulo do desenvolvimento histórico da Revolução do Controle, em resposta à Revolução Industrial (figura 1). Figura 1: Desenvolvimento da revolução do controle Crescente velocidade dos FLUXOS MATERIAIS E FINANCEIROS Sociedade da Informação: crescente demanda por TRABALHO em informação Sociedade da Informação: crescente demanda por CAPITAL em informação Crescente demanda econômica por CONTROLE Crescente demanda econômica por INFORMAÇÃO REVOLUÇÃO DA INFORMAÇÃO = REVOLUÇÃO DO CONTROLE 12 Assim, explica-se porque tantas das contribuições do computador já eram antecipadas na época dos primeiros sinais da crise de controle, na metade do século XIX, época que marca a origem da Sociedade da Informação. e Em resumo, podemos dizer que: i. A economia é um sistema de processamento material controlado pela sociedade (sobretudo através do mecanismo de mercado, no capitalismo), continuamente engajado na extração, reorganização e distribuição de matéria, desde o meio ambiente natural (matérias-primas naturais) até o meio ambiente social (mercado consumidor final); ii. à medida que a economia se desenvolve, os fluxos materiais que ela processa aumentam em velocidade, quantidade e complexidade, estimulando a pesquisa teórica sobre a ação produtiva. As inovações tecnológicas resultantes aumentam a capacidade do transporte e do processamento de matéria; iii. pelo mesmo raciocínio, à medida que a economia se desenvolve, os fluxos informacionais que ela processa também aumentam em velocidade, quantidade e complexidade, estimulando a pesquisa teórica sobre o controle da ação produtiva. As inovações tecnológicas resultantes aumentam a capacidade da comunicação e do processamento de informações. 13 2 Tecnologia da Informação e Sociedade da Informação 2.1 A Revolução do Controle Poucos observadores da virada do século XIX para o século XX perceberam a revolução nos métodos de controle do sistema produtivo que estava começando naquele tempo nos Estados Unidos, Inglaterra, França e Alemanha. h O mais notável observador, entre os que perceberam o que estava acontecendo, foi o alemão Max Weber (1864-1920), que dirigiu sua atenção para a mais importante tecnologia de controle de sua época: a burocracia. Por mais de meio século após a análise inicial de Weber, a burocracia continuou a reinar como a mais importante tecnologia da Revolução do Controle. Somente após a Segunda Guerra Mundial, com a invenção do computador, a tecnologia de controle começou cada vez mais a se confundir com a tecnologia computacional, culminando com a invenção dos microprocessadores, no início dos anos 1970, e da internet, no início dos anos 1990. Começando nos Estados Unidos, no final do século XIX, a Revolução do Controle merece o nome de revolução porque representou abrupta aceleração do avanço tecnológico. De fato, no espaço de tempo de uma geração, podemos situar virtualmente todas as tecnologias básicas para a comunicação e a informação ainda em uso quase 150 anos depois. Observe a lista a seguir. • fotografia e telegrafia (1830s) • impressora rotativa (1840s) 14 • máquina de escrever (1860s) • cabo transatlântico para comunicação (1866s) • telefone (1876) • cinema (1894) • telégrafo sem fio (1895) • gravador de fita magnética (1899) • rádio (1906) • televisão (1923) Estamos aqui adotando o significado mais geral da palavra “controle”, definida como “influência proposital em direção a determinado objetivo”; influência de um agente sobre outro, controlador sobre controlado, significando que o primeiro causa mudanças no comportamento do segundo; e é proposital, no sentido de que a influência é na direção de algum objetivo anterior do agente controlador. São inseparáveis do conceito de controle as atividades gêmeas de processamento de informação e comunicação recíproca, fatores complementares de qualquer forma de controle (ver figura 2). Figura 2: Controle, informação e comunicação recíproca O processamento de informações é essencial para toda atividade dotada de propósito, que é por definição dirigida a algum objetivo, e, portanto, deve envolver a contínua comparação entre situações correntes (reais) e a situações desejadas (imaginadas), um problema típico de processamento de informações. Controlador Estado Desejado Ação de Controle Estado Atual Comunicação RecíprocaProcessamento de informação Controlado 15 Simultaneamente à comparação entre situações, mencionada acima, a interação bidirecional entre controlador e controlado também precisa existir para, por um lado, comunicar a influência do primeiro sobre o segundo e, por outro, para que o segundo possa comunicar de volta ao primeiro sobre os resultados da ação comandada (este fluxo reverso de informação, de volta ao controlador, é chamado de feedback, em inglês). Por conta de as atividades de processamento da informação e comunicação serem elementos inseparáveis da função controle, a capacidade de uma sociedade de manter controle – em todos os níveis de relacionamento, desde o interpessoal até o internacional – será diretamente proporcional ao nível de desenvolvimento de suas tecnologias da informação e comunicação. Aqui, o termo “tecnologia” não é usado no sentido usual e restrito da ciência prática ou aplicada, mas no sentido mais geral, de qualquer extensão intencional de um processo natural, isto é, do processamento de matéria, energia, ou informação que caracteriza qualquer sistema vivo. A respiração, por exemplo, é uma função totalmente natural do ser vivo e, portanto,não pode ser considerada uma tecnologia. Já a capacidade do homem respirar embaixo d’água, por outro lado, implica alguma extensão tecnológica da função respiração. O equipamento de mergulho é, portanto, uma tecnologia. e Por essas razões, a tecnologia pode ser considerada como um equivalente aproximado da capacidade de fazer, ou agir, excluídas aquelas capacidades que ocorrem naturalmente em sistemas vivos. A tecnologia, então, define os limites do que a sociedade, através da economia, pode realizar. No entanto, cada avanço na capacidade de fazer deve corresponder a um avanço comparável no poder de controlar. É como dizia um antigo anúncio de uma marca de pneus: “força sem controle não é nada”. 16 c A história da navegação marítima pode nos servir de exemplo: durante séculos a exploração comercial da tecnologia de navegação marítima ficou restrita à navegação costeira, pois não havia sido inventada ainda a correspondente tecnologia de controle: meios seguros de posicionamento no globo terrestre, e mapas precisos, o que, como sabemos, retardou bastante a conquista dos mares. 2.2 Crise de Controle A industrialização significou a quebra das barreiras ao transporte e à comunicação que isolavam mercados locais, consequentemente, estendeu a distribuição de bens e serviços a mercados nacionais e até globais. Esse fato, por sua vez, perturbou o equilíbrio de mercado sob o qual a produção era regulada, baseado na comunicação direta entre produtor e consumidor. A crise que se seguiu exigiu novos meios de comunicação e informação, até então desnecessários, para reintegrar um sistema econômico cada vez mais baseado em diferenciação e interdependência. Por outro lado, com a industrialização, há um aumento brutal dos fluxos de commodities (mercadorias básicas) através da economia – fluxos agora dirigidos pela produção industrial (máquinas) e distribuição em massa (ferrovia) movidas a vapor. Por séculos, a maioria dos bens tinha sido movimentada, ao longo de estradas e canais, à velocidade dos animais de carga, e quando o clima permitia. Essa infraestrutura, controlada por pequenas organizações com poucos níveis hierárquicos, suportava até economias nacionais. De repente, devido ao advento da força a vapor, os bens podiam ser movidos à velocidade total da produção industrial, noite e dia, e sob virtualmente quaisquer condições de clima, não somente de cidade a cidade, mas através de continentes inteiros, pelo mundo todo. 17 Isso criou problemas ligados à informação e comunicação tanto no nível macro (as economias nacionais) quanto no nível microeconômico (das pessoas que trabalhavam em setores de uma mesma empresa ou economia, cada vez mais isolados uns dos outros, e perdendo de vista os objetivos comuns de seus esforços coletivos). 2.3 Racionalização e Burocracia Entre as soluções tecnológicas para a crise de controle, prevalente – no sentido de servir para controlar a maioria das outras tecnologias – foi a burocracia formal, pioneiramente analisada por Max Weber na virada do século XIX para o século XX, com rápida difusão. A organização burocrática, aplicada no mundo desde pelo menos o ano 3000 A.C., tende a aparecer sempre que uma atividade coletiva precisa ser coordenada por várias pessoas em direção a objetivos explícitos e impessoais, isto é, precisa ser controlada. Em sua forma moderna, todavia, a administração burocrática apareceu do meio para o fim da Revolução Industrial. De acordo com Weber, a burocracia se caracteriza por vários e importantes aspectos de qualquer sistema de controle, em especial a orientação impessoal da estrutura, caracterizada por uma divisão de trabalho e de responsabilidades bem marcadas, autoridade hierárquica, e funções especializadas de decisão e comunicação. Weber identificou outra tecnologia de controle associada à burocracia, que ele chamou de racionalização. O significado do termo, na acepção de Weber, está ligado à constatação de que o nível de controle pode ser aumentado não só pelo aumento da capacidade de processamento de informação, mas também pelo decréscimo da quantidade de informação a ser processada. 18 O aumento da capacidade de processamento, realizado no tempo de Weber pela burocratização, tem seu equivalente hoje na computadorização. Já a redução da informação a ser processada, realizada naquela época pela racionalização, hoje corresponde ao conceito de pré-processamento. A racionalização pode ser definida, essencialmente, como a destruição ou não consideração da parte não relevante da informação, de forma a facilitar seu processamento. Um exemplo é a adoção de formulários padronizados para a coleta de informação, limitando o escopo da informação coletada. Outro exemplo de racionalização, agora ao nível macro, foi o estabelecimento dos fusos horários, que organizaram o tempo mundial em termos de 24 zonas, a partir do meridiano de Greenwich, na Inglaterra. 19 Assim, o que era antes um problema de sobrecarga de informação, por exemplo, para as ferrovias, foi resolvido pela desconsideração parcial do fato da hora solar ser, na verdade, diferente em cada ponto do planeta, ou seja, em cada nó dos sistemas de transporte ou comunicações. Revolução Industrial (Séc. XIX) Tecnologias da Informação: A crescente demanda por Tecnologias de controle Na Revolução Industrial (Weber. 1864 - 1920) Séc. XX Burocracia Aumento da capacidade de processamento da informação Computadorização Pré-Processamento Racionalização Diminuição da quantidade e/ou complexidade da informação a processar Controlador Des-Humanização da Entrutura de decisão: Divisão do trabalho e da responsabilidade; Autoridade hierárquica; Funções especializadas de decisão e de comunicação; Conjunto formal de regras de decisão e resposta. Racionalização Destruição ou desprezo de informação: Formalização das relações inter-pessoais; Formulários padronizados; Fusos horários, etc. Racionalização: um movimento “do governo de homens à administração de coisas” Saint-Simon (1760-1825) 20 2.4 Novas Tecnologias de Controle O rápido desenvolvimento da racionalização e da burocracia, do meio ao fim do século XIX, levou a uma sucessão de dramáticas inovações em tecnologia de processamento e comunicação de informações. Essas inovações, algumas das quais são apresentadas no quadro abaixo, serviram para amenizar a crise de controle da sociedade industrial em três áreas distintas da atividade econômica: produção, distribuição e consumo de bens e serviços. 2.4.1 Controle da Produção O controle da produção foi facilitado pela contínua organização e pré- processamento das operações industriais. O maquinário tornou-se crescentemente controlado por duas novas tecnologias de processamento de informação: dispositivos de feedback, tais como o regulador de Watt para máquinas de vapor (1788) e controladores pré- programados, como os do tear de Jacquard (1801). Em 1890, Hollerith estendeu a ideia dos cartões perfurados de Jacquard para a tabulação dos dados do censo dos Estados Unidos, fundando a International Business Machines, ou IBM, empresa ícone, até hoje dedicada ao processamento de informações. 21 h A racionalização e controle da produção continuou avançando, através de um acúmulo de outras inovações industriais: as peças intercambiáveis (depois de 1800), a integração da produção dentro das fábricas (anos 1820 e 1830), o desenvolvimento de novas técnicas de contabilidade, a profissionalização da administração (anos 1860 e 1870), a produção em processo contínuo (fins dos anos1870 e começo dos 1880), a “administração científica” de Taylor (1911), a moderna linha de produção de Ford (depois de 1913), e o controle estatístico de qualidade (anos 1920), entre outros. 2.4.2 Controle da Distribuição A infraestrutura crescente de transporte nos Estados Unidos, incluindo as redes de ferrovias, as linhas de barcos a vapor, e os sistemas de tração urbanos, dependiam para seu controle de uma correspondente infraestrutura de processamento de informações e de comunicações, que começou pelo telégrafo. As duas infraestruturas, de transporte e de comunicações, continuaram evoluindo em conjunto, formando uma teia de distribuição e controle que progressivamente abraçou a América do Norte. Numa sinergia entre as duas tecnologias, as companhias de telegrafia usavam a faixa de domínio das ferrovias para passar seus cabos, e a ferrovia usava os serviços de telegrafia para coordenar os fluxos de trens e o tráfego. Essa coevolução da ferrovia e da telegrafia possibilitou o desenvolvimento de uma outra infraestrutura de comunicação para o controle da distribuição e do consumo: o sistema postal. 22 A comercialização do telefone nos anos 1880, e especialmente o desenvolvimento de linhas telefônicas de longa distância, nos anos 1890, adicionou um terceiro componente à crescente infraestrutura americana de telecomunicações. Controlado por esta infraestrutura florescente, um sistema organizado emergiu rapidamente para a distribuição da produção em massa para o mercado nacional americano e para os mercados mundiais. e Importantes inovações na racionalização e controle deste sistema incluíram o surgimento do comerciante de commodities e a classificação padronizada de commodities (1850), as lojas de departamentos, as cadeias de lojas, os atacadistas (1860), as técnicas de monitoração do estoque (1870), a embalagem por máquina (1890), a franquia (em 1911 o método padrão de distribuição de automóveis) e o supermercado (1920). 2.4.3 Controle da Demanda e do Consumo A produção e a distribuição em massa não podem ser completamente administradas sem o controle de uma terceira área da economia: a demanda e o consumo. e Tal controle exige: (i) meios para a comunicação de informação sobre bens e serviços para audiências nacionais, de modo a estimular ou reforçar a demanda por estes produtos; ao mesmo tempo, requer: (ii) meios de colher informação sobre as preferências e comportamento desta audiência –feedback do controlado ao controlador (embora hoje os papeis de controlador e controlado estejam cada vez mais invertidos). 23 No primeiro caso, a inovação mais importante surgiu com a invenção da primeira impressora rotativa de potência, possibilitando a impressão em massa de anúncios e catálogos para serem distribuídos pelo serviço postal, atendido pela ferrovia. Seguiram-se os jornais diários, o rádio e a TV, como meios de massa para difusão de mensagens comerciais. No segundo caso, encontramos as inovações no âmbito das chamadas tecnologias de feedback de massa: pesquisa de mercado (1911), Bureau de Auditoria de Circulação (1914), entrevistas domiciliares (1916), teoria da amostragem estatística de grande escala (1930), e pesquisas de opinião por amostragem (1936), entre outros. Analise o quadro com esses conteúdos. Quadro 1: Inovações selecionadas em controle por setor da economia Período Produção Distribição Consumo Genérco 1830-40 - Fabrica de máquinas- ferramenta - Telégrafo - Jornal popular 1840-50 - Sistema americano de manufatura - Bolsa de commodities - Agência de propaganda - Organização em grande escala 1850-60 - Consultoria industrial - Selo postal - Bolsa futuros - Papel de polpa - Typeseller - Sist. de controle de processos hierárquico 1860-70 - Tecnologia de processamento continuo - Papel morda -Cabo transatlântico - Caixeiro viajante - Propaganda tipo display - Lei da marca registrada - Burocracias modernas, múltiplos departamentos 1870-80 - Processamento contínuo de materiais -Ordem postal - Cadeias de lojas -Telefone -Jornal diário ilustrado - Publicidade de pg. inteira - Máquina de escrever com teclado QWERTY 1880-90 - Controle de custos -Resgistro de tempos - Hora padrão uniforme - Postagem expressa - Linotipo - Jornal de anúncios - Tabulador de cartões perfurados 24 1890-1900 - Estudos de tempo - Telefone a moeda - Traveller Checks - Máquina de venda - Outdoors padronizados - Campanhas publicitárias de US$ 1 milhão - Mimeógrafo -Calculadora com quatro operações 1900-10 - Fabrica de automóveis projetada p/ processamento - Relógios de pulso - Rádio transatlântico - Girocompasso - Agência moderna de publicidade - Livro- texto de publicidade - classificador automático de cartões -Tabuladores por mesa de conexão 1910-20 - Administração científica - Linha de produção em movimento - Arquitetura de processamento de River Rouge (Ford) -Inter- comunicação por rádio -Franchising - Loja self-service - Correio aéreo - Pesquisa formal de mercado - Auditoria de circulação -Livro-texto de pesquisa de mercado - Photostat - Tubulador de Impressão 1920-30 - Controle à distância da transmissão de eletricidade - Controle de feedback - Controlador pneumático - Drive-in - Shopping center - Supermercado - Correio aéreo transcontinental - Facsimile - telefone transatlântico - Rádio comercial em rede nacional - Anúncios luminosos dinâmicos - Medição da audiência radiofônica - Organização corporativa descentralizada - Calculadora com múltiplos registros 1930-40 - controle de qualidade: curso e livro-texto - Laboratório de controle de qualidade - Livro sobre relações humanas - Serviço de teletipo - Cabo coaxial moderno - Correio aéreo transatlântico - Rádio automotivo - Índice de vendas no varejo - Pesquisa de opinião nacional - Anúncios animados - TV comercial - Máquinas conectadas para computação - Máquina de escrever elétrica - Calculadora eletrônica 25 2.5 Sociedade da Informação Um resultado importante da Revolução do Controle foi a emergência da chamada Sociedade da Informação. Esse conceito data do final dos anos 1950, com o trabalho pioneiro do economista F. Machlup, que pela primeira vez mediu o setor da economia americana associado ao que ele chamou de “produção e distribuição de conhecimento” (MACHLUP, 1962), e concluiu que a sociedade americana estava se tornando rapidamente uma Sociedade da Informação. O impacto da Sociedade da Informação está talvez melhor representado nas tendências exibidas pela composição da força de trabalho americana. Como pode ser visto na Figura 3, ao final do século XVIII, a força de trabalho americana estava essencialmente concentrada na agricultura, responsável por acolher aproximadamente 90% de seus trabalhadores. A maioria dos trabalhadores americanos continuou a trabalhar nesse setor até cerca de 1850, e a agricultura permaneceu como primeira empregadora até a primeira década do século XX. Emergindo rapidamente, no entanto, estava um novo setor industrial, que empregou pelo menos um quarto dos trabalhadores americanos entre 1840 e 1870, chegando a um pico de participação de 40% da força de trabalho durante a 2ª Guerra Mundial. Em 1985, no entanto, somente 40 anos após a 2ª Guerra Mundial, o setor industrial já era responsável por somente metade daquele percentual, e continuavacaindo acentuadamente. Enquanto isso, o setor de informação, já em 1960, obteve maior do que o pico histórico de participação do setor industrial (com mais de 40%), em 1985 alcançava perto da metade da força de trabalho. 26 Figura 3: Força de trabalho civil dos Estados Unidos por quatro setores entre 1800 e 1980 Fonte: Beniger, 1986. Os anos 1970 marcaram o começo de um estágio inteiramente novo no desenvolvimento da Sociedade da Informação, pelo início e contínua proliferação desde então da tecnologia dos microprocessadores. Essa proliferação foi, no entanto, acompanhada de um fenômeno de implicações muito mais importantes sobre a sociedade, que foi a progressiva convergência de todas as tecnologias da informação (meios de massa, telecomunicações e computação) em uma só infraestrutura de controle, apelidada na Europa de telemática (telecomunicações + informática). Informação Serviços Agricultura Indústria 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 1800 ‘20 ‘40 ‘60 ‘80 ‘20 ‘40 ‘60 ‘801900 Anos P o r ce nt o 27 Crucial para a telemática foi a crescente digitalização: a codificação por meio de valores descontínuos (usualmente binários) de tudo o que até então era representado por sinais analógicos, variando continuamente no tempo, seja uma conversa telefônica, uma transmissão de rádio ou uma imagem de TV. Pelo fato dos computadores digitais processarem sinais em código binário, a progressiva digitalização dos conteúdos dos meios de massa e das comunicações começou a apagar distinções até então existentes entre a comunicação da informação e seu processamento, bem como entre as pessoas e as máquinas. A digitalização tem o potencial de tornar a comunicação das pessoas com as máquinas, entre máquinas, e mesmo das máquinas com as pessoas, tão fácil quanto a comunicação entre pessoas. Também ficam apagadas, com a digitalização, as distinções entre diferentes tipos de informação: números, palavras, imagens e sons, e, eventualmente, gostos, odores e outras sensações, os quais vêm sendo progressivamente representados digitalmente, facilitando seu armazenamento, processamento e comunicação por meios eletrônicos. Dessa forma, a digitalização promete transformar os diversos meios de informação em um meio generalizado para o processamento e troca de informações pelo sistema social, da mesma forma que, séculos atrás, a instituição de moedas nacionais e taxas de câmbio oficiais ajudaram a integrar mercados locais em uma única economia mundial. c Podemos, portanto, esperar que os efeitos da digitalização sejam tão profundos para a macrossociologia quanto foram os efeitos da instituição das moedas nacionais para a macroeconomia. De fato, os sistemas eletrônicos digitais já substituem em grande escala o uso da moeda em inúmeros tipos de transação. 28 Glossário Burocracia: sistema de execução da atividade pública, esp. da administração, por funcionários com cargos bem definidos, e que se pautam por um regulamento fixo, determinada rotina e hierarquia com linhas de autoridade e responsabilidade bem demarcadas. Código binário: o sistema binário é um sistema de numeração formado por apenas dois algarismos: 0 (zero) e 1 (um). Ou seja, só admite duas possibilidades, sempre opostas, antagônicas, como: tudo / nada; ligado / desligado; presença / ausência, direito / esquerdo, alto / baixo, verdadeiro / falso, aceso / apagado... Commodities: são produtos que funcionam como matéria-prima, produzidos em escala e que podem ser estocados sem perda de qualidade, como petróleo, suco de laranja congelado, boi gordo, café, soja e ouro. Commodity vem do inglês e originalmente tem significado de mercadoria. 29 a 1) Julgue verdadeiro ou falso. O processamento de informações nem sempre é essencial para toda atividade dotada de propósito, que é por definição a dirigida a algum objetivo. Portanto, a contínua comparação entre situações correntes (reais) e as situações desejadas (imaginadas) – um problema típico de processamento de informações – nem sempre é necessária. Verdadeiro ( ) Falso ( ) 2) Julgue verdadeiro ou falso. Referente ao controle de distribuição é correto dizer que: as companhias de telegrafia usavam a faixa de domínio das ferrovias para passar seus cabos, e a ferrovia usava os serviços de telegrafia para coordenar os fluxos de trens e o tráfego. Verdadeiro ( ) Falso ( ) Atividades 30 Referências BALLOU, R. H. Gerenciamento da cadeia de suprimentos: logística empresarial. Porto Alegre: Makron Books, 2006. ________. Logística empresarial. São Paulo: Atlas, 1997. BENIGER, James R. The Control Revolution: Technological and Economic Origins of the Information Society. Cambridge: Harvard University Press, 1986. MACHLUP, Fritz. The Production and Distribution of Knowledge in the United States. New Jersey: Princeton University Press, 1962. NOVAES, A. G. Logística e gerenciamento da cadeia de distribuição. Rio de Janeiro: Campus, 2006. 31 UNIDADE 2 | LOGÍSTICA E COMPETITIVIDADE 32 Unidade 2 | Logística e Competitividade Nesta unidade, trataremos a respeito da logística para o funcionamento de empresas e como isso se relaciona à competitividade das mesmas. Prepare-se e bons estudos! 1 Logística A logística é fator determinante da competitividade das empresas e da economia de uma nação, especialmente na era da globalização. O Brasil está em clara desvantagem logística em relação aos seus principais competidores no comércio internacional, e pior: especialistas denunciam o crescimento vertiginoso dos custos logísticos brasileiros nas últimas décadas. e O aumento dos custos logísticos brasileiros é geralmente atribuído ao acréscimo dos custos de transporte, especialmente do transporte rodoviário. Tal aumento nos custos de transporte está ligado ao baixo investimento realizado em construção e manutenção da infraestrutura física correspondente, nas últimas décadas. Porém, muito embora a infraestrutura de transporte seja responsável por prover a capacidade necessária para a movimentação de cargas e seu manuseio, melhorar a oferta dessa infraestrutura física não é condição suficiente para a melhoria da competitividade logística das empresas e da economia do País. 33 O conceito de logística engloba e ultrapassa o mero conceito de transporte físico, ao incorporar também o movimento através do espaço da informação que controla as próprias operações de transporte, em associação com a produção e o consumo de bens e serviços. Em outras palavras, o conceito de logística remete à ideia de transporte controlado por informação. Pode-se ilustrar essa ideia através da Figura 4. Figura 4: Logística e transporte controlado por informação h O objeto da atuação da logística é a cadeia de suprimentos, um sistema cujas partes incluem fornecedores de insumos, instalações produtivas, serviços de distribuição e clientes, ligados entre si por um fluxo direto de materiais, comandado por um fluxo inverso de informações. Figura 5: Cadeia de suprimentos Transporte e Armazenagem Logística Informação e comunicação Armazenamento Fluxo inverso de informação Fluxo direto de materiais Fábrica Processo de agregação de valor ClientesFornecedores 34 2 Outros Conceitos de Logística A eficiência logística será tanto maior quanto mais preciso for o controle do fluxo de materiais, realizado pelo transporte, pelo fluxo de informações, ditado pela lógica da cadeia de suprimentos aonde se insere a empresa. A cadeia completa de suprimentos vai desde os fornecedores das matérias-primas mais primárias até os clientesdo produto final, passando por diversos elos fornecedor- cliente encadeados. Figura 6: Cadeia de suprimentos completa Tradicionalmente, esse encadeamento dá-se por meio do mercado, como mostra a Figura 6, havendo necessidade de estoques para contrabalançar o risco de falhas de fornecimento, já que as fábricas são independentes entre si, e, portanto, seguem padrões próprios de eficiência e efetividade. Entretanto, para produzir produtos personalizados sem incorrer em custos proibitivos (realizar a denominada “customização em massa”), como o mercado consumidor exige hoje, é necessário melhorar a eficiência e a efetividade da cadeia de suprimentos como um todo. Assim, a estratégia principal das empresas para se adaptarem às novas condições concorrenciais, antes caracterizadas pela “economia da estabilidade e da indiferenciação” e agora pela “economia da volatilidade e da diferenciação”, tem sido a adoção da integração logística de toda a cadeia de suprimentos, ilustrado pelo esquema a seguir. Fluxo de informações de “A” Espaço de cotrole de “A” Fluxo de materiais de “A” Transporte segue objetivos próprios de “A” Fábrica “A” Processo de adição de valor M er ca d o M er ca d o Logística de saída de “A” Logística de entrada de “A” Fluxo de informações de “B” Espaço de cotrole de “B” Fluxo de materiais de “B” Transporte segue objetivos próprios de “B” Fábrica “B” Processo de adição de valor Logística de saída de “B” Logística de entrada de “B” Fluxo de informações de “C” Espaço de cotrole de “C” Fluxo de materiais de “C” Transporte segue objetivos próprios de “C” Fábrica “C” Processo de adição de valor Logística de saída de “C” Logística de entrada de “C” 35 Isso significa estender a toda a cadeia de suprimentos o controle informatizado já implantado anteriormente nos processos de agregação de valor internos às empresas, em resposta a crises capitalistas anteriores. Nesse contexto, o transporte (e o armazenamento) de cargas, que atende a extensas e importantes partes da cadeia de suprimentos, tende a sofrer pressões cada vez maiores para que desenvolva sua capacidade organizacional e tecnológica de se integrar ao fluxo informacional dos clientes. f Coloca-se cada vez mais, portanto, a demanda econômica por um transporte (e armazenamento) inteligente, controlado, conceito que, como já vimos, equivale ao de logística. Embora a demanda por mais inteligência no transporte e armazenamento de cargas origine-se da área privada, em sua busca por maior competitividade, existem potencialmente importantes benefícios públicos associados. A redução do “desperdício” de transporte (e armazenamento) ao longo da cadeia de suprimentos, permitido pela integração logística, pode significar economia de energia, menos danos ao meio ambiente, menos acidentes de tráfego e, em especial, menos gastos públicos com ampliação e manutenção de infraestrutura. Naturalmente, as tecnologias da informação e comunicação desempenham papel-chave no processo de integração logística dos diversos elos fornecedor-cliente da cadeia de suprimentos, o qual se apoia no fluxo inverso de informações, que desencadeia os fluxos materiais diretos. Fábrica “A” Processo de adição de valor Fábrica “B” Processo de adição de valor Fábrica “C” Processo de adição de valor Integração fornecedor-cliente através da logística Integração fornecedor-cliente através da logística Fluxo de informações integrado Espaço de controle intregado Fluxo de materiais integrado Objetivos do transporte ditados pela integração logística 36 Isso explica porque os Sistemas de Informação e Comunicação são cada vez mais empregados na gestão logística da cadeia de suprimentos, tirando partido das chamadas Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) para melhorar o controle dos fluxos logísticos e dar suporte às decisões logísticas. Esses sistemas utilizam-se de tecnologias de hardware (dispositivos eletrônicos físicos), software (programas) e redes de comunicação, para compor módulos destinados a atender essencialmente às funcionalidades abaixo descritas, necessárias a qualquer sistema produtivo (como descreve o esquema a seguir): 1. Detecção de eventos físicos – coleta de dados relacionados à circulação de materiais, insumos ou produtos, associados ao processo de agregação de valor representado pelas diversas transformações produtivas em sequência, que caracterizam a cadeia de produção; 2. Tratamento, armazenamento e processamento de dados – filtragem, estruturação, armazenamento e interpretação dos dados colhidos, para dar suporte à decisão, sugerindo alternativas de ação sobre o fluxo logístico, visando a harmonização e o controle global da cadeia produtiva; 3. Atuação sobre o fluxo material logístico – uso de dispositivos de funcionalidade inversa à dos coletores de dados, permitindo a transformação de informações em ações físicas capazes de influir sobre o processo que se deseja controlar; 4. Transmissão bi-direcional de dados e informações – meios para a troca informacional entre o processo controlador, responsável pelo processamento do fluxo logístico de informações, e os detectores e atuadores associados ao processo controlado, que processa os fluxos físicos, ou materiais, da cadeia logística. Fornecedores 3. Atuação 1. Detecção Fluxo Material Fluxo Informacional 4. Comunicação Recíproca Controlador 2. Processamento informacional Controlado Processamento material Clientes 37 À medida que o ambiente logístico se torna mais complexo, devido às novas estratégias competitivas das empresas, associadas à globalização da produção e à segmentação dos mercados consumidores, as tecnologias da informação e comunicação aparecem como um dos poucos aspectos da logística que oferecem a promessa de, simultaneamente, aumentar o valor e baixar os custos do que é produzido. b As tecnologias da informação e comunicação possibilitam às empresas manter informações-chave em formato acessível, processar requisitos, e tomar decisões operacionais e de planejamento. Assim, a adoção e implementação adequada de hardware, software e tecnologia de redes é hoje um pré- requisito para o sucesso em logística, que cada vez mais se confunde com o sucesso empresarial. f Nos países desenvolvidos, estima-se que as empresas já gastem mais em sistemas de informação do que em custos de estocagem. Esta tendência representa uma mudança fundamental na estratégia logística, na direção de maiores gastos com ativos informacionais (conhecimento) do que com ativos físicos, tais como centros de distribuição e estoques. Na verdade, o que se constata é uma tendência generalizada ao que vem sendo chamado de “desmaterialização”, a troca de ação (física) por cognição (informação e comunicação) nos sistemas produtivos e seus produtos. Isso acontece porque, entre outras coisas, enquanto os custos da ação física aumentam (demandam energia cada vez mais cara e causam problemas ambientais), os custos da comunicação e informação diminuem rapidamente. Por essa razão, na logística moderna, há a tendência cada vez maior da troca de “transporte e armazenagem” por “informação e comunicação”, como vimos. 38 3 Impacto das Novas Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) sobre a Logística O desenvolvimento da tecnologia da informação tem tido impacto sobre a logística de cargas de pelo menos três formas: 1. O aumento do conteúdo informacional dos produtos contemporâneos, ligado a uma tendência generalizada de “desmaterialização”(ou “virtualização”), mudou a natureza dos produtos a serem transportados e, em alguns casos, criou novas opções de distribuição (substituição de transporte por comunicação); 2. O uso da tecnologia da informação para “integrar” cadeias produtivas de suprimento, com forte ênfase na redução de estoques, tem redefinido o papel do transporte de cargas (coordenação das ações comerciais com as ações de movimentação, que são a sua realização concreta); 3. O desenvolvimento da tecnologia da informação trouxe novas possibilidades de gestão e controle da própria função de transporte de cargas (comunicação com os materiais: acompanhamento de sua movimentação e das operações físicas realizadas sobre eles). 3.1 Desenvolvimentos Quanto à Cadeia de Valor Na perspectiva tradicional dos processos de negócio (vide figura à frente), cada estágio da sequência da agregação de valor era vista como uma atividade econômica independente. As trocas de materiais e bens entre estágios de produção ocorriam no mercado aberto. A otimização da eficiência era fragmentada, uma vez que restrita às fronteiras de cada firma independente, que fazia o papel de um elo separado da cadeia. 39 A escala de produção era uma variável-chave da competitividade, e a integração “horizontal” (com empresas do mesmo tipo) o caminho preferido para alcançá-la. h A cadeia de agregação de valor envolvia a utilização de múltiplos estoques, usados para proteção contra as incertezas quanto às ações dos outros participantes da cadeia. O transporte era um agente passivo no processo de produção, e visava seus próprios objetivos internos, que eram geralmente ligados à minimização de custos, na suposição de que era isto que o usuário (o processo produtivo) queria. A perspectiva contemporânea dos processos de negócio é bastante contrastante (ver esquema a seguir): o processo de produção é agora contemplado como uma cadeia integrada de atividades agregadoras de valor, estendendo-se “verticalmente”, desde a extração e processamento básico das matérias-primas mais básicas, até a distribuição final dos produtos em pontos de venda do varejo. As firmas presentes ao longo da cadeia, independentemente de terem um mesmo proprietário ou não, se tornam parceiras, com a informação fluindo sem restrições entre elas, de modo a reduzir a incerteza e, consequentemente, a necessidade de estoques entre estágios de produção. As operações ao longo da cadeia, incluindo o transporte, são altamente controladas, coordenadas e sincronizadas. Fluxo de informações de “A” Espaço de cotrole de “A” Fluxo de materiais de “A” Transporte segue objetivos próprios de “A” Fábrica “A” Processo de adição de valor M er ca d o M er ca d o Logística de saída de “A” Logística de entrada de “A” Fluxo de informações de “B” Espaço de cotrole de “B” Fluxo de materiais de “B” Transporte segue objetivos próprios de “B” Fábrica “B” Processo de adição de valor Logística de saída de “B” Logística de entrada de “B” Fluxo de informações de “C” Espaço de cotrole de “C” Fluxo de materiais de “C” Transporte segue objetivos próprios de “C” Fábrica “C” Processo de adição de valor Logística de saída de “C” Logística de entrada de “C” 40 A logística, como área de estudo, desempenhou um papel-chave no desenvolvimento dessa nova perspectiva de negócios. Ela provê o quadro de referência dentro do qual a informação substitui os estoques, as atividades são coordenadas, e a sequência das atividades produtivas pode ser otimizada, considerando-se a cadeia produtiva como um todo. Tradicionalmente, como vimos anteriormente, o estoque era usado para proteção contra incompatibilidades entre elos adjacentes da cadeia de fornecimento, e contra incertezas operacionais. f Agora, devido ao grande avanço das tecnologias de informação e comunicação, tornou-se viável a troca de estoque por informação, e, uma vez que a informação e a comunicação estão se tornando cada vez mais baratas em relação ao transporte e a estocagem, a tendência de substituição deve ser cada vez maior. A troca eletrônica de dados (EDI – Electronic Data Interchange) está permitindo a otimização da troca estoque/informação, considerando a cadeia produtiva como um todo. O advento dos Sistemas Especialistas, e de outros tipos de sistemas da Inteligência Artificial, sugere que, no futuro, a otimização logística se tornará cada vez mais sofisticada e com maior abrangência. Novos formatos de organização da produção têm surgido, indo desde: (i) a propriedade centralizada ao longo da inteira cadeia de processos, frequentemente internacional; Fábrica “A” Processo de adição de valor Fábrica “B” Processo de adição de valor Fábrica “C” Processo de adição de valor Integração fornecedor-cliente através da logística Integração fornecedor-cliente através da logística Fluxo de informações integrado Espaço de controle intregado Fluxo de materiais integrado Objetivos do transporte ditados pela integração logística 41 (ii) os complexos arranjos contratuais entre firmas, que preveem a divisão dos riscos e formalizam a cooperação; e (iii) as elaboradas dependências interorganizacionais comuns na indústria japonesa, para quem a integração da produção é fortemente cultural. Em qualquer caso, a qualidade e a confiabilidade da entrega do produto tornaram- se centrais para a competitividade, e o próprio conceito de produto é definido não somente pela natureza do bem vendido, mas por uma combinação do bem e da qualidade de serviço com a qual este é entregue ao consumidor final. Nesse ambiente de negócios, as tradicionais fronteiras entre bens e serviços ficaram borradas, e muitos produtos híbridos apareceram (exemplos conhecidos incluem os programas de computador, filmes fotográficos tipo Polaroid, terminais de autosserviço de diversos tipos etc.). Como os produtos tornam-se cada vez mais leves, em termos do seu conteúdo material (através do uso de materiais plásticos e melhores conceitos de desenho industrial), e mais ricos em informação (através do uso de microprocessadores), observa-se que há uma tendência real à “desmaterialização” do que é produzido. 3.2 Possibilidades de Inovação nos Negócios Trazidas pelas TICs O ímpeto da tecnologia e da inovação em produtos é na direção da personalização do projeto do produto para cada consumidor específico. Neste contexto, uma tarefa cada vez maior para a logística é achar jeitos cada vez mais inovadores de permitir ao mercado o nível de escolha desejado, ao mesmo tempo em que mantém o custo de distribuição e a eficiência produtiva da indústria em níveis aceitáveis. Alguns observadores preveem que, naqueles setores varejistas que hoje em dia preferem o formato “grandes superfícies”, o varejo tradicional, envolvendo o deslocamento do cliente por carro até a loja, pode ser substituído por um formato de distribuição no qual os produtores interagem com os consumidores diretamente, através das telecomunicações, e usam serviços de entrega em domicílio para dispensar o uso dos pontos de venda convencionais do varejo. 42 Em longo prazo, é provável que as lojas se tornem cada vez menos centrais ao comércio, à medida que a distribuição direta, a partir de armazéns acionados eletronicamente, crescer. Empreendedores especializados em logística podem, no futuro, começar a organizar novas modalidades de distribuição, não mais tendo, como atualmente, alguns produtores como origem e múltiplos clientes como destinos, mas sim alguns consumidores como destino e múltiplas instalações produtivas como origens (“Just-for-You”, ou abreviadamente “J4U”), como mostra a figura a seguir. Mudanças de última hora nos pedidos ou nos destinos serão acomodadas via telecomunicação com o trem de carga ou camionete de entrega, que disporá de recursos para o acabamento do produto a bordo (permitindo, entre outros, montagem final, separação, impressão, etiquetagem, embalagem). Princípios de distribuição a valor agregado sempre foram aplicados pelo setor de transportes (por exemplo a tradicional separação de cartas nos trens postais americanos), mas o potencial completo do veículo de entrega como local de agregação de valor merece ser desenvolvido, dada a disponibilidade cada vez maior de computadores e equipamentos miniaturizados de manufatura que podem ser embarcados. Poucas Origens (Fábricas) Distribuição Convencional Múltiplos destinos (Clientes) Distribuição Just-for-you Múltiplas Origens (Fábricas) Poucos Destinos (Clientes) 43 O conhecimento mais acurado dos requisitos do consumidor, trazido por novas tecnologias como a internet, aliado à competência tecnológica de realizar o ajuste fino dos parâmetros da distribuição enquanto ela acontece, resultará na capacidade de oferecer níveis superiores de serviço ao consumidor. f O papel da função marketing continuará sendo o de descobrir consumidores e explorar, compreender e comunicar as necessidades destes; o papel da manufatura continuará sendo ligado à busca de baixos custos unitários, através da inovação técnica, eficiência produtiva e padronização de componentes. Já o papel da logística, será cada vez mais o de apontar as necessidades de consumidores específicos (quanto ao espaço, tempo e especificações de projeto), e entregar o produto acabado, de forma a atender àquelas necessidades de modo criativo e econômico. Apoiando esse processo, haverá um uso crescente de sistemas informatizados na logística, cada vez mais complexos, inclusive com recurso à inteligência artificial. Além de iniciativas para avançar a performance e coordenação dos veículos, na forma de veículos e infraestruturas “inteligentes”, haverá inteligência embarcada presente na consignação de cargas, na forma de informação incorporada à própria carga, através de etiquetas codificadas legíveis eletronicamente. Observa-se igualmente a evolução do que é chamado por alguns autores de “sistemas de governança de transporte”, com o objetivo de diminuir os custos e aumentar a eficiência da cadeia de valor de transportes, através da redução de mão de obra e do aumento da velocidade. Vê-se o futuro do transporte, tanto de carga como de passageiros, como fundamentalmente dependente da infraestrutura de informação, tão dependente, ironicamente, quanto foi, no passado, da informação da infraestrutura de transporte. Como se sabe, até a invenção do telégrafo, as informações, em forma de texto escrito em papel, se moviam à velocidade do cavalo, ou do trem. 44 e Assim, os ganhos em transporte nas próximas décadas deverão vir da otimização do uso (isto é, da “alavancagem”) da infraestrutura existente, através da influência recíproca cada vez maior entre os progressos em transporte e em telecomunicações. O cenário futuro, portanto, indica que a firma de transporte de carga desempenhará um papel capital nos processos produtivos de seus clientes, cada vez mais integrados em cadeias de agregação de valor. Seu papel será o de prover as ligações entre fornecedores e produtores nos vários estágios da cadeia, com materiais e bens fluindo sob cuidadoso controle, de forma a minimizar os níveis de estoque, e responder, precisa e rapidamente, às tendências de consumo ditadas pelo mercado. A firma de frete desempenhará um papel ainda mais importante nos estágios finais da cadeia de produção, ajudando a tornar flexível tanto a escolha de destinos, em espaço e tempo, quanto a configuração do produto (através do acabamento do mesmo durante a distribuição). Tudo isto, como vimos, só será possível através da sinergia cada vez maior do transporte com as tecnologias da informação e comunicação, de acordo com a própria definição da abordagem Logística. Glossário Inteligência artificial: é uma área de pesquisa da computação dedicada a buscar métodos ou dispositivos computacionais que possuam ou multipliquem a capacidade racional do ser humano de resolver problemas, pensar ou, de forma ampla, ser inteligente. Valor agregado: valor econômico adicionado ou simplesmente valor adicionado ou, ainda, valor agregado é uma noção que permite medir o valor criado por um agente econômico. É o valor adicional que adquirem os bens e serviços ao serem transformados durante o processo produtivo. 45 a 1) Julgue verdadeiro ou falso. Pode-se afirmar que o conceito de logística remete à ideia de transporte controlado por informação. Verdadeiro ( ) Falso ( ) 2) Julgue verdadeiro ou falso. Pode-se afirmar que a adoção e implementação adequada de hardware, software e tecnologia de redes é hoje um pré-requisito para o sucesso em logística. Verdadeiro ( ) Falso ( ) Atividades 46 Referências BALLOU, R. H. Gerenciamento da cadeia de suprimentos: logística empresarial. Porto Alegre: Makron Books, 2006. ________. Logística empresarial. São Paulo: Atlas, 1997. BENIGER, James R. The Control Revolution: Technological and Economic Origins of the Information Society. Cambridge: Harvard University Press, 1986. MACHLUP, Fritz. The Production and Distribution of Knowledge in the United States. New Jersey: Princeton University Press, 1962. NOVAES, A. G. Logística e gerenciamento da cadeia de distribuição. Rio de Janeiro: Campus, 2006. 47 UNIDADE 3 | IMPACTO DA LOGÍSTICA SOBRE A INFORMÁTICA 48 Unidade 3 | Impacto da Logística sobre a Informática 1 Introdução A informática está presente em quase todas as atividades de transporte e, mais amplamente, na logística. Exemplo: Exemplo, entre outras: controle da circulação dos meios de transporte (cavalos mecânicos, carretas, contêineres, vagões, motoristas, etc.); gestão dos estoques; cálculo dos planos de produção; gestão da manutenção dos equipamentos de manuseio; realização dos atos de comando; entrega; faturamento e pagamento; suporte à decisão na escolha das implantações das firmas industriais; e consolidação e análise de informações técnicas e comerciais. É até mesmo certo que sem a informática e os sistemas aos quais ela está associada, a gestão dos múltiplos fluxos que são de responsabilidade da função logística seria muito mais difícil. Além disto, a organização da circulação física, que ela controla, não seria capaz de responder às exigências atuais de rapidez, confiabilidade e continuidade. A importância cada vez maior da abordagem logística na gestão das empresas e a forte dependência destas por tecnologias de informação e comunicação (TICs), tem pressionado-as a evoluir em direção a sistemas cada vez mais abertos e inteligentes. A logística pressiona a informática associando-a a dispositivos diversos (buscando a sinergia entre múltiplas 49 tecnologias), integrando-a em redes de comunicação que permitem a troca eletrônica de dados entre parceiros da cadeia produtiva, e demandando o uso de técnicas de programação de última geração, oriundas do campo da Inteligência Artificial. 2 A Abordagem Logística de Ponta: Controle pelos Fluxos Físicos e Informacionais 2.1 Fluxos Físicos A logística se define, após os anos 1980, como a tecnologia do controle da circulação física de materiais. A adoção da abordagem logística por uma empresa, não importando se ela fabrique produtos, os distribua, ou os transporte,corresponde a uma manifestação da necessidade de exercer este controle. Porém, a adoção da abordagem logística é cada vez mais uma opção fundamental da empresa, no sentido de integrar o controle da circulação física nas estratégias globais da empresa. h Essa opção resulta num esforço permanente de constituição de uma rede de circulação dos fluxos físicos regulada por uma rede de circulação de informações (plenamente controlada pela empresa), como modo de gestão das operações de circulação de mercadorias, sejam elas executadas por meios próprios ou externalizadas (terceirizadas). Com a generalização da abordagem logística, novas formas de gestão dos fluxos aparecem. Elas buscam, ao mesmo tempo, a continuidade (nada de rupturas) e a fluidez (limitação das capacidades) dos fluxos físicos, sempre tentando responder o mais exatamente possível à demanda, sem atrasos nem faltas, e com uma maior transparência. 50 Tais objetivos criam novas restrições na gestão das operações de transporte (no sentido amplo) realizadas ao longo de cadeias logísticas complexas. Eles demandam perfeito domínio de acontecimentos aleatórios e conduzem à reavaliação periódica das relações entre os diversos parceiros dessas cadeias. 2.2 Fluxos de Informação Se a primeira preocupação dos especialistas em logística foi, por longo tempo, a gestão técnica (física) de todas as operações que realizam o deslocamento de produtos, agora essa preocupação é a circulação e exploração das informações relativas aos fluxos físicos que é julgada essencial. e O coração do dispositivo logístico torna-se a rede de comunicação e informação, que permite, ao mesmo tempo, a concepção, o acompanhamento, o controle e a regulação da gestão das atividades da empresa. Ora, a organização do fluxo de informações ligado à realização da circulação física como um todo não pode ser realizado senão com a ajuda da informática, como meio de criar, coletar, transmitir, tratar, memorizar e permitir o acesso à informação logística. Isso se deve ao fato de que os modos de acesso à informação devem ser capazes de responder às restrições operacionais da logística. Por exemplo, o transporte internacional em contêineres não tolera mais os retardos devidos ao processamento da documentação correspondente, da mesma forma que a fabricação usando a estratégia Just-in-Time (JIT) não suporta erros no encaminhamento dos diversos produtos semiacabados ao longo do processo produtivo interno da fábrica. A informação permite, ao mesmo tempo, comandar a movimentação da mercadoria (levando em conta eventuais modificações dos termos do transporte), e registrar o seu desenrolar (para melhorar decisões futuras). 51 3 A Amplitude da Difusão da Informática na Logística A ascendência da abordagem logística, observada já há mais de 25 anos, tem sido um poderoso fator de mutações, tanto no setor de transportes quanto na indústria. Essa abordagem conduz a evoluções nas técnicas de exploração, nas estruturas organizacionais e nos métodos de gestão. A informática desempenha grande papel nessas mutações: ela permite que elas aconteçam (oferecendo soluções), as provoca (permite melhorar seus métodos), e as acompanha (pela realização dos sistemas). A informática responde à imperativa necessidade de gerir as informações associadas à circulação dos fluxos físicos, o que explica a extensão de sua influência. As evidências da amplitude do seu emprego são múltiplas. Por um lado, temos sua presença sobre a rede física: (i) nos pontos nodais das redes de transporte (plataformas interiores, portos, aeroportos etc), onde se gerem os estoques (entrepostos, lojas, pontos de venda); (ii) nos locais de produção; ou (iii) nas sedes das empresas, junto à direção logística. Por outro lado, temos o número sempre crescente de tarefas e operações logísticas a que a informática dá suporte ou realiza diretamente, traduzindo-se num papel cada vez mais diversificado do computador na gestão das empresas. Tomemos o exemplo da gestão de estoques: o computador calcula (atualização do nível de estoque a cada saída ou entrada), supervisiona (compara o nível com o limite estabelecido de ressuprimento), decide (determina o lugar ótimo para, no armazém, estocar a mercadoria recebida), conduz certas operações diretamente (dirige carrinhos automáticos de ressuprimento através do armazém) etc. 52 O principal fator que conduziu a essa influência foi, sem dúvida, independentemente da pressão que a logística exerceu e da melhoria das técnicas de gestão das empresas, a evolução da própria informática, com sucessivas inovações tecnológicas em software, hardware e periféricos. Com a difusão da microinformática, o computador se transformou em sistema distribuído e amigável, vetor de informação e de capacidade de tratamento local desta. Paralelamente, a democratização da tarefa de produção de software para microcomputadores, graças a numerosos programas de suporte, permitiu aos usuários melhor definir suas necessidades e, por vezes, responder a elas sem a ajuda de especialistas externos. Diga-se também que o desenvolvimento do mercado de programas de suporte à programação também acelerou o processo de informatização de numerosas funções de gestão clássicas e o aumento da capacidade de memória, acompanhado do crescimento da oferta de sistemas de gestão de bases de dados, como um fator determinante da informatização de mais e mais funções logísticas. Enfim, o desenvolvimento das possibilidades e métodos de comunicação entre sistemas computacionais permitiu integrar sistemas isolados através de redes de comunicação, aumentando as possibilidades de acesso a dados e programas e também na outra direção de sua difusão. Dessa forma, a informática se integrou às ferramentas da gestão logística e ocupou um espaço cada vez maior e irreversível. Mas a evolução dos sistemas de informação logística, iniciada apenas há uma dezena de anos, continua evoluindo a taxas cada vez maiores. Essa evolução orienta-se na direção de uma crescente “inteligência” desses sistemas, tanto na qualidade da informação manipulada quanto no processamento passível de ser realizado sobre esta. 53 4 A Comunicação com o Fluxo de Materiais Para dar suporte ao controle da circulação física, a informática logística deve estar o mais próximo possível do “terreno”, ou “chão de fábrica”, o nível mais operacional da empresa. Se os sistemas que a informática permite não puderem se comunicar diretamente com os materiais que circulam, sua intervenção ficará limitada às funções permitidas pela entrada manual de dados. O tempo e a mão de obra que as entradas de dados manuais pressupõem, bem como o risco de erros de digitação, limitam a aplicação da informática logística à gestão clássica: manutenção teórica de estoques, gestão administrativa da frota de transporte, acompanhamento das operações comerciais clássicas etc. É claro que o desenvolvimento dessa informática clássica de gestão é uma base sobre a qual a evolução da informática logística tem que evoluir. No entanto, a capacidade de comunicação direta dos sistemas computacionais atuais com os materiais distribuídos sobre a rede física, os permite alargar enormemente seu campo de atuação e melhorar sua performance. Essa capacidade pressupõe a difusão ao longo da cadeia logística de dispositivos eletrônicos para a alimentação automática e instantânea do sistema de informações logísticas, pela aquisição de dados no momento mesmo em que as operações físicas se desenrolam. Portanto, o sistema informacional logístico pode continuamente diagnosticar o estado da circulação físicae decidir por uma intervenção imediata através de ações de regulação, quando, por exemplo, acontecer um evento imprevisto, ou aleatório. e A comunicação do sistema de informação com os materiais se desenvolve segundo dois eixos principais: o acompanhamento exato (i) dos deslocamentos destes materiais (matérias-primas, produtos em processamento, ou produtos acabados), e (ii) das operações industriais que os transformam (reorganizam). 54 4.1 Acompanhamento Preciso dos Deslocamentos dos Materiais Os sistemas de informação logística apresentam hoje a capacidade de estar em contato direto e permanente com os materiais que se movimentam ao longo da cadeia logística. Ao longo de todo o ciclo de sucessivos pares transformação-transporte, a mercadoria (matérias-primas, produtos em processamento ou produtos acabados) é hoje portadora de informações sobre si própria, através de etiquetas com códigos de barras, magnéticas, ou, mais recentemente, eletrônicas (os chamados transponders), que podem ser lidas em pontos-chave da rede (plataformas, entrepostos, zonas de estocagem, pontos de venda, etc.). Os transponders são dispositivos eletrônicos miniaturizados, capazes de transmitir um código de identidade quando interrogados eletronicamente por uma antena. O barateamento dos transponders está permitindo a ascendência do conceito RFID (Radio Frequency Identification), que promete a possibilidade de identificação por radiofrequência de qualquer material ao qual for agregado um minúsculo transponder de baixo custo. Essa captura de informações realizada diretamente sobre o fluxo físico, permite o acompanhamento dos objetos de que o fluxo é constituído. A coleta de dados o mais perto possível de suas fontes, em tempo real, permite desenvolver sistemas de consulta (quais as condições atuais de circulação?), e até mesmo de pilotagem dos fluxos (gestão operacional, e, talvez mesmo, tática). 55 O exemplo mais conhecido na grande distribuição é certamente o desenvolvimento conjunto da codificação das unidades de consumo (código de barras EAN 13) e das unidades de expedição (códigos de barra ITF 14 ou 16), bem como dos sistemas de leitura ótica (scanners nas caixas de supermercados e sistemas em entrepostos). Além da possibilidade de ganhos diretos de produtividade em certas operações (saídas de caixas de lojas, gestão de estoques nos entrepostos, separação automática de pacotes em esteiras, etc), a leitura sucessiva dos códigos de barra ao longo de todo o circuito permite aos distribuidores informar as decisões de ressuprimento (dos pontos de venda e dos entrepostos) e de transporte associados. Numerosos setores de atividade desenvolveram sistemas de identificação comparáveis: a indústria automobilística, para a gestão da produção em fluxo tendido (acompanhamento dos materiais em processamento), os serviços de entrega expressa (acompanhamento dos pacotes), os armadores (acompanhamento dos contêineres) etc. Para “seguir” os produtos, o sistema de informações logístico “compreende” os códigos lidos (o que exige interface com a técnica de leitura e conhecimento do princípio de codificação e da significação dos códigos elementares) e explora as informações “anexas” à coleta (o contexto das operações físicas). e Com tais informações, o sistema pode, por exemplo, (i) conhecer em permanência e com exatidão, os fluxos que entram e saem de um dado processo de interesse logístico, (ii) preparar as expedições com um mínimo de erros, (iii) fazer rapidamente, e sem erro, inventários físicos, (iv) gerir de modo otimizado os estoques em tempo real, (v) calcular o “volume” dos pedidos, etc. Por meio dessas aplicações da informática, os estoques se transformam em polos de informação sobre a cadeia produtiva, dado que qualquer imprevisto ou erro na administração dos fluxos aparecerá como estoque. 56 É nestes pontos fixos que podem ser coletados com a maior confiabilidade as informações de acompanhamento dos fluxos, que permitem elaborar o diagnóstico da realização dos deslocamentos. É também aí que é possível agir (ação corretiva, senão proativa) para reorientar os fluxos, em caso de eventos imprevisíveis na cadeia de suprimento, antes ou após a empresa. 4.2 Acompanhamento Preciso das Operações Físicas de Transformação A decisão de reorientar os fluxos só pode ser revestida de segurança se o sistema de informações logísticas “conhecer” também as condições técnicas de realização das operações de transformação dos materiais que fluem. Para tanto, o sistema deve ser capaz de se comunicar com os meios físicos que realizam essas operações. Para tal finalidade, a integração de sistemas automatizados, ou mesmo robotizados, aos meios de transformação material (notadamente na produção industrial e nos centros de manuseio), representa fonte importante de informações (cadências, tempos de utilização, incidentes, etc.) sobre a realização técnica das operações logísticas (conhecimento de sua qualidade e confiabilidade). O possível acompanhamento automático do funcionamento dos sistemas técnicos (em fabricação, transporte, ou durante as operações anexas) desemboca na detecção e no diagnóstico de eventuais eventos imprevisíveis (panes, faltas, atrasos), para poder remediá-los o mais rapidamente possível, ou para informar os parceiros da cadeia sobre eles, nos casos em que esses eventos não puderem ser controlados e, portanto, colocarem em risco outros elos da cadeia produtiva. A difusão de sistemas de informação e comunicação (nem sempre baseados na informática) embarcados nos meios de transporte (navios, caminhões, equipamentos de manuseio etc.) é também fonte de conhecimento sobre a realização no tempo e no espaço das operações. É o caso dos sistemas de rádio telefone e derivados como o RADIOCOM 2000, de sistemas por satélite como o GEOSTAR nos Estados Unidos, o LOCSTAR na Europa (localização e transmissão de dados), ou o INMARSAT (telecomunicações), além dos sistemas baseados em telefonia celular. 57 Esses sistemas, quando conectados a um centro de decisão, representam a possibilidade de dispor de um sistema interativo de gestão, em tempo real, de uma rede logística complexa, eventualmente composta de múltiplos subconjuntos operacionais. Os prestadores de serviços de encomenda expressa, os transportadores, e os armadores, estão entre os profissionais que exploram há muito tempo essas possibilidades, em particular para a otimização da exploração dos ativos (minimizar a operação em vazio, maximizar o coeficiente de carregamento). 5 A Comunicação com Outros Sistemas Informatizados A busca do ótimo global da circulação logística pressupõe ir além das otimizações locais, que representam os sistemas examinados anteriormente. Essa busca passa necessariamente pela comunicação entre os sistemas logísticos de cada parceiro na cadeia logística, o que explica a agregação a esses sistemas de funções de comunicação e sua conexão a redes de trocas de dados. 5.1 A Necessidade de se Comunicar com os Parceiros Equacionada a circulação de informações logísticas dentro de cada empresa, visando a otimização contínua da exploração econômica, o que agora está em foco é a circulação entre empresas, para tornar efetiva a sinergia e a competitividade logística, na escala global das cadeias de produção formadas pelas empresas. A capacidade das empresas de se informar e de informar, isto é, de se comunicar, se possível estendendo seu conhecimento ao conjunto da rede logística, torna-se, consequentemente, fator determinante de seu sucesso. 58 Além da transferência de dados comerciais e técnicos ligados às trocas
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