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1 MÓDULO I: DOENÇAS INFECCIOSAS E PARASITÁRIAS ANA LUÍZA A. PAIVA – 5° PERÍODO 2022/1 OBJETIVOS 1. Caracterizar as helmintíases mais prevalentes na nossa região (Áscaris, Taenia, Ancylostoma/necator, Strongyloides, Enteróbios, Tricocephalus). 2. Descrever o diagnostico clínico/laboratorial dessas helmintíases, identificando os métodos disponíveis do exame parasitológico de fezes e suas indicações específicas. 3. Propor o tratamento para essas parasitoses. REFERÊNCIAS Ministério da Saúde. Doenças infecciosas e parasitárias: guia de bolso – 8ª. ed. Brasília, 2010. Ministério da Saúde. Guia de Vigilância em Saúde. Brasília. 5ª ed., 2021. MARTINS, Mílton de A.; CARRILHO, Flair J.; ALVES, Venâncio Avancini F.; CASTILHO, Euclides. Clínica Médica, Volume 7: Alergia e Imunologia Clínica, Doenças da Pele, Doenças Infecciosas e Parasitárias. Editora Manole, 2016. TAVAREA, Walter; MARINHO, Luiz Alberto Carneiro. Rotinas de Diagnóstico e Tratamento das Doenças Infecciosas e Parasitárias, 4ª ed. São Paulo: Editora Atheneu, 2015. INTRODUÇÃO Os helmintos são classificados em nematelmintos (Áscaris, Ancylostoma/necator, Strongyloides, Enteróbios, Tricocephalus) se caracterizam por apresentar corpo cilíndrico e alongado e platelmintos (Taenia) que se caracteriza por ser achatado dorsoventralmente. A ocorrência de helmintíase é mais comum nos países em desenvolvimento, onde as precárias condições socioeconômicas, a falta de acesso à água potável e o saneamento inadequado, associados à falta de informação específica sobre a transmissão dos parasitos, configuram grave problema de saúde pública, afetando as populações mais vulneráveis. No Brasil, estas infecções estão presentes em todas as regiões, ocorrendo principalmente nas zonas rurais e periferias de centros urbanos que se destacam pela ausência de saneamento básico e pouco conhecimento sobre transmissão e prevenção. As crianças em idade escolar apresentam um importante papel epidemiológico na disseminação dessas doenças, pois constituem um grupo altamente susceptível. As helmintíases não são doenças de notificação compulsória, ASCARIDÍASE O Ascaris lumbricoides é conhecido popularmente como “lombriga” ou “bicha” e é um nematódeo pertencente à família Ascarididae e gênero Ascaris. É o helminto que apresenta o maior tamanho corporal, podendo atingir 30 cm. A ascaridíase é a infecção por nematódeos mais comum em pessoas, aparecendo em cerca de 807 milhões a 1,2 bilhão de pessoas em todo o mundo, contribuindo para a desnutrição em áreas com más condições sanitárias. Cerca de 60 mil pessoas morrem todos os anos de ascaridíase. estas, cerca de 2 mil pessoas (em sua maioria crianças) morrem porque os vermes bloqueiam seu intestino ou os dutos biliares. As crianças em idade escolar e pré-escolar são as mais acometidas pela doença, pois estão mais frequentemente em contato com o solo e apresentam hábitos de higiene mais precários. TRANSMISSÃO As pessoas adquirem o A. lumbricoides por meio da ingestão de ovos embrionados presentes em mãos sujas, em alimentos crus mal lavados, como hortaliças, legumes e frutas, ou pela ingestão de água não tratada ou não filtrada. Helmintíases Problema 11 2 MÓDULO I: DOENÇAS INFECCIOSAS E PARASITÁRIAS ANA LUÍZA A. PAIVA – 5° PERÍODO 2022/1 Hábitos inadequados de higiene como não lavar as mãos após utilizar instalações sanitárias, antes da alimentação, ou na manipulação de alimentos são importantes formas de contágio. OBS: Uma fêmea de Ascaris elimina, em média, junto com as fezes, cerca de 200.000 ovos por dia. Período de incubação: o período pré patente da infecção (desde a infecção com ovos embrionados até a presença de ovos nas fezes do hospedeiro) é de 60 a 75 dias. PATOGÊNESE Os ovos são deglutidos e chegam até o intestino, onde se dá a eclosão e a liberação das larvas. Estas, então, atravessam ativamente a parede intestinal, caem na corrente sanguínea, ganham o sistema porta intra-hepático, veia cava inferior e atingem o coração direito. Os vasos linfáticos abdominais também podem servir de acesso às larvas, que através do ducto torácico alcançam a veia cava superior e o coração, de onde são levadas aos pulmões. Nos pulmões, as larvas rompem a parede alveolar e juntamente com as secreções brônquicas são expectoradas e deglutidas para novamente atingirem a luz intestinal, onde se transformarão em vermes adultos. QUADRO CLÍNICO Manifestações Pulmonares: a passagem das larvas pelos pulmões pode desencadear um quadro de pneumonite, conhecido como síndrome de Löffler que cursa com eosinofilia importante. As crianças são as mais afetadas. Tosse, febre baixa e dispneia são sintomas comuns, assemelhando-se a uma crise de asma. Manifestações Gastrintestinais: dor abdominal, náuseas, diarreia e alterações do apetite podem estar presentes. Quando há grande número de parasitas, pode ocorrer quadro de obstrução intestinal. Manifestações Ectópicas: vermes adultos são eliminados pela boca e pelo ânus. Em alguns casos, podem obstruir o colédoco e levar a colecistite e icterícia, assim como obstruir o canal pancreático e desencadear pancreatite aguda. Podem também ascender até o fígado e formar abscesso hepático. DIAGNÓSTICO Hemograma: eosinofilia é a alteração mais frequente. Anemia hipocrômica e microcítica pode estar presente em pacientes com carga parasitária elevada, principalmente em crianças. Os ovos dos áscaris são pesados; desta maneira, os métodos de sedimentação são os mais indicados no diagnóstico da ascaridíase, como o de Kato-Katz (contagem de ovos por grama de fezes que permite avaliar a intensidade da infecção) ou pelos métodos de sedimentação espontânea (método Lutz, também chamado de Hoffman, Pons e Janer -HPJ) para a visualização dos ovos dos helmintos. TRATAMENTO Levamizol, 150mg, VO, em dose única para adultos; crianças abaixo de 8 anos, 40mg; acima de 8 anos, 80mg, também em dose única. (1ª escolha) Mebendazol, 100mg, 2 vezes ao dia, durante 3 dias consecutivos. (Não é recomendado seu uso em gestantes). Albendazol (ovocida, larvicida e vermicida), 400mg/ dia, em dose única para adultos; em crianças, 10mg/kg, dose única; O Mebendazol e Albendazol são mais utilizados na pratica, pois são mais acessíveis e estão disponíveis pelo SUS. 3 MÓDULO I: DOENÇAS INFECCIOSAS E PARASITÁRIAS ANA LUÍZA A. PAIVA – 5° PERÍODO 2022/1 Deve-se sempre avaliar a posologia e dose do medicamento de melhor adaptação para o paciente na hora de realizar a escolha do medicamento. Geralmente o medicamento com intervalos de dose maiores, ou mesmo dose única contribui para a aderência do tratamento pelo paciente de forma correta. Tratamento da obstrução intestinal: Piperazina, 100mg/kg/ dia + óleo mineral, 40 a 60ml/dia + antiespasmódicos + hidratação. Nesse caso, estão indicados sonda nasogástrica e jejum + Mebendazol, 200mg ao dia, dividido em 2 tomadas, por 3 dias O controle de cura poderá ser feito através do exame de Hoffman no 7°, 14° e 21° dia após o tratamento. TENÍASES São parasitoses intestinais causadas por platelmintos da classe Cestoda e família Taeniidae,(vermes chatos com corpo segmentado) com dois representantes: Taenia solium e Taenia saginata. A infecção humana por T. saginata é mais frequente. As tênias podem medir entre 3 a 6 m, ou mais, e sobrevivem por até 30 anos. Abate clandestino de animais, sem inspeção e controle sanitário, é muito elevado na maioria dos países da América Latina, o que contribui para alta incidência dessa helmintíase. TRANSMISSÃO Teníase é adquirida pela ingesta de carne de boi (T. saginata) ou de porco (T. solium) mal cozida, que contém as larvas. Quando o homem acidentalmenteingere os ovos de T. solium, adquire a Cisticercose. Período de incubação Cisticercose: Varia de 15 dias a anos após a infeccao. Teníase - Cerca de 3 meses após a ingesta da larva, o parasita adulto ja e encontrado no intestino delgado humano. PATOGÊNESE A Teníase é provocada pela presença da forma adulta da Taenia solium ou da Taenia saginata, no intestino delgado do homem. A Cisticercose é causada pela larva da Taenia solium nos tecidos, ou seja, é uma enfermidade somática. QUADRO CLÍNICO A Teníase é uma parasitose intestinal que pode causar dores abdominais, náuseas, debilidade, perda de peso, flatulência, diarreia ou constipação. A infestação pode ser percebida pela eliminação espontânea de proglotes do verme, nas fezes. Em alguns casos, podem causar retardo no crescimento e desenvolvimento das crianças, e baixa produtividade no adulto. As manifestações clínicas da Cisticercose dependem da localização e da resposta imunológica do hospedeiro. As formas graves estão localizadas no SNC e apresentam sintomas neuropsiquiátricos (convulsões, distúrbio de comportamento, hipertensão intracraniana) e oftálmicos. DIAGNÓSTICO 4 MÓDULO I: DOENÇAS INFECCIOSAS E PARASITÁRIAS ANA LUÍZA A. PAIVA – 5° PERÍODO 2022/1 Hemograma: não se altera ou encontra discreta eosinofilia. Como a maioria dos casos de Teníase é oligossintomático, o diagnóstico comumente é feito pela observação do paciente pois os proglotes são eliminados espontaneamente e nem sempre são detectados nos exames parasitológicos de fezes. A pesquisa de proglotes é feita em fezes emitidas em várias evacuações, em dias alternados, através da tamisação da matéria fecal (peneiragem) ou por swab anal. Para a pesquisa de ovos nas fezes pelo método de Lutz é necessário esmagar uma proglote grávida. Os testes sorológicos podem auxiliar no diagnóstico das teníases (imunofluorescência indireta (IFI), ELISA, hemaglutinação e biologia molecular através de probes de DNA) TRATAMENTO Para infecção intestinal (sem neurocisticercose): Praziquantel, 5 a 10 mg/kg, por via oral, em dose única, para eliminar vermes adultos (1ª escolha) Niclosamida: única dose de 2g é dada em 4 comprimidos (500 mg cada) que são mastigados um de cada vez e engolidos com uma pequena quantidade de água. Para crianças, a dose é 50 mg/kg (máximo de 2 g). Albendazol é empregado na dose única diária de 400 mg (dois comprimidos) por 3 dias consecutivos. Mebendazol é usado na dose de 200 mg (comprimidos) de 12 em 12 horas, durante 4 dias seguidos. Para cisticercose: corticoides, anticonvulsivantes e, algumas vezes, albendazole ou praziquantel e/ou cirurgia O controle de cura para as teníases consiste na observação prolongada do paciente, durante 3 meses, caso não tenha havido a expulsão total da tênia, pois após esse período o paciente eliminará novos proglotes grávidos, o que indica insucesso do tratamento e motivo para sua repetição ANCILOSTOMÍASE O Ancylostoma duodenale e o Necator americanus pertencem à família Ancylostomidae e gêneros Ancylostoma e Necator, respectivamente. No Brasil, mais de 80% das infecções ocorrem pelo N. americanos. São parasitos de aproximadamente 1 cm de tamanho e que habitam a região do duodeno. Os ancilostomídeos tem uma ampla cavidade bucal, provida de lâminas (N. americanus) e dentes (A. duodenale), que lhes permitem aderir à parede do intestino do hospedeiro em busca de alimento (tecido e sangue), fato este que pode promover um acentuado quadro de anemia, o que explica a endemia ser conhecida popularmente como “amarelão” e “doença do Jeca Tatu”. É predominante na área rural, em resultado da falta de instalações sanitárias, possibilitando a existência de locais intensamente contaminados com fezes nas proximidades das casas. TRANSMISSÃO A ancilostomíase ocorre principalmente pela penetração ativa das larvas infectantes do A. duodenale ou N. americanus na pele íntegra do hospedeiro,ou por via oral. O contágio ocorre quando há contato direto da pele com solo contaminado com larvas infectantes ou por sua ingestão com água. PATOGÊNESE As larvas dos ancilóstomos, após penetrarem pela pele, ganham a corrente sanguínea e as larvas perfazem o ciclo pulmonar (ciclo de Looss), 5 MÓDULO I: DOENÇAS INFECCIOSAS E PARASITÁRIAS ANA LUÍZA A. PAIVA – 5° PERÍODO 2022/1 atravessam os alvéolos, atingem a traqueia, a laringe e são deglutidas ou expelidas pela tosse. As larvas que são deglutidas alcançam o intestino delgado, seu habitat natural, e atingem a maturidade em 2 meses, ocorrendo o acasalamento. Os vermes adultos vivem permanentemente presos à mucosa do intestino por meio de suas cápsulas bucais, sugando sangue necessário à sua oxigenação. Estima-se que cada A. duodenale cause a perda de 0,15 mL (0,15 cm³) de sangue por dia, enquanto o N. americanus 0,03 mL (0,03 cm³). QUADRO CLÍNICO Eritema e prurido no local da penetração das larvas. Infecções leves, pode apresentar-se assintomática. Apresentações clínicas importantes, como um quadro gastrointestinal agudo caracterizado por náuseas, vômitos, diarreia, dor abdominal e flatulência, também podem ocorrer; Em crianças com parasitismo intenso, pode ocorrer hipoproteinemia e atraso no desenvolvimento físico e mental. Com frequência, dependendo da intensidade da infecção, acarreta anemia ferropriva, cujos sintomas incluem palidez, astenia, cefaléia, palpitações e edema. Nos pulmões, a passagem larvária pode cursar com síndrome de Löeffler (tosse não produtiva, broncoespasmo, eosinofilia sanguínea e infiltração intersticial na radiografia do tórax). DIAGNÓSTICO O diagnóstico de certeza é feito pelo exame de fezes, usando-se as técnicas de flutuação, como os métodos de Willis ou de Faust, uma vez que os ovos dos ancilostomídeos possuem baixo peso específico (ovos leves). A visualização dos ovos não permite a distinção da espécie infectante. Obs: O exame deve ser realizado com fezes recém-eliminadas; em fezes envelhecidas (de um dia para o outro – 24 h) pode haver a saída das larvas de ovos, podendo ser confundido com larvas de estrongiloides. Avalia-se a intensidade da infecção pela quantidade de ovos eliminados por grama de fezes pelos métodos de Stoll ou Kato-Katz. Considera-se a infecção ancilostomótica leve ou moderada quando o paciente elimina até 12.600 ovos/g de fezes; e intensa quando o número de ovos eliminados ultrapassa esse número. Hemograma: avaliar a anemia hipocrômica e microcítica, revelando também eosinofilia. TRATAMENTO Albendazol, 400 mg por via oral em dose única Mebendazol, 100 mg por via oral duas vezes por dia por 3 dias, ou 500 mg em dose única. Ambos são indicados como alternativas para 1º opção terapêutica Nitazoxanida: alternativa Os pacientes com anemia devem ser tratados com sais ferrosos (sulfato ferroso), porque esses sais são bem absorvidos por via oral. Controle de cura é realizado no 7º, 14º e 21º dias após o tratamento, mediante exame parasitológico de fezes ENTEROBÍASE Também conhecido por oxiuríase, é uma helmintíase intestinal causada pelo Enterobius vermicularis, um helminto pequeno, de coloração branca, lembrando o aspecto de uma linha. Na fase adulta, a fêmea mede cerca de 10 mm e tem a parte posterior do corpo bastante afilada. O macho é bem menor e apresenta a parte posterior de seu corpo enrolado ventralmente TRANSMISSÃO Predominantemente fecal-oral. São diversos os modos de transmissão: Auto infecção externa ou direta: Do ânus para a cavidade oral, por meio dos dedos ou pela contaminação de fômites (vestimentas, roupas de 6 MÓDULO I: DOENÇAS INFECCIOSAS E PARASITÁRIAS ANA LUÍZA A. PAIVA – 5° PERÍODO 2022/1 cama, mobília, tapetes, brinquedos,assento de privadas) Obs: Os óvulos podem sobreviver em fômites por 3 semanas à temperatura ambiente. Auto-infecção indireta: Ovos presentes na poeira ou alimentos atingem o mesmo hospedeiro que os eliminou. Heteroinfecção: Os ovos presentes na poeira ou alimentos atingem um novo hospedeiro. Retroinfecção: Migração das larvas da região anal para as regiões superiores do intestino grosso, chegando até o ceco, onde se tornam adultas. Auto-infecção interna: Processo raro no qual as larvas eclodem ainda dentro do reto e depois migram até o ceco, transformando-se em vermes adultos Infecções por oxiuros também tem sido atribuídas por contato anal-oral entre adultos. PATOGÊNESE O ciclo evolutivo dessa helmintíase é do tipo direto, ou seja, não há passagem de formas larvárias pelo fígado e pelo pulmão. Após a ingestão dos ovos, estes vão eclodir na luz do intestino delgado. As larvas, então liberadas, migram lentamente até a região do ceco, no intestino grosso, transformando-se em vermes adultos. No ceco, os vermes copulam e cada fêmea produz cerca de 11.000 ovos2,7. Durante a noite, quando a temperatura do corpo baixa, as fêmeas grávidas iniciam sua migração até o orifício anal, ocorrendo a postura na região perianal e perineal. Os ovos em contato com o meio externo, a uma temperatura média de 30ºC, levam cerca de 6 horas para tornarem-se infectantes. QUADRO CLÍNICO Os sintomas são determinados principalmente pela presença do verme na região perianal e perineal, desencadeando prurido anal e vulvar; que costuma ser mais intenso durante a noite. Queixas digestivas vagas como dor abdominal, náuseas, vômitos e diarreia podem estar presentes. Em meninas, a presença do verme no aparelho genital feminino pode provocar vulvovaginite, excitação sexual, e corrimento vaginal. Em alguns casos, é possível encontrar o verme nas roupas íntimas ou na região perianal durante as crises de prurido. DIAGNÓSTICO O diagnóstico laboratorial reside no encontro do parasito e de seus ovos. Como dificilmente é conseguido nos parasitológicos de fezes de rotina, deve-se pesquisar diretamente na região perianal, o que deve ser feito pelos métodos de Hall (swab anal) ou de Graham (fita gomada), cuja colheita é feita na região anal, seguida de leitura em microscópio. TRATAMENTO Uma dose única dos seguintes, repetida em 2 semanas, é eficaz para erradicar oxiúros (mas não os ovos) em > 90% dos casos: Pamoato de pirantel 11 mg/kg (dose máxima de 1 g) por via oral (1ª escolha) Mebendazol 100 mg por via oral (independentemente da idade) Albendazol 400 mg por via oral 7 MÓDULO I: DOENÇAS INFECCIOSAS E PARASITÁRIAS ANA LUÍZA A. PAIVA – 5° PERÍODO 2022/1 Gel ou pomada de petrolato (contendo ácido carbólico) ou outros cremes ou unguentos antipruriginosos, usados na região perianal podem aliviar o prurido. Observações 1. Recomenda-se a repetição mensal das dosagens durante um período de 6 meses. 2. Todos os comunicantes do paciente devem ser submetidos ao tratamento, inclusive os assintomáticos. O mebendazol em dose única de 100 mg (um comprimido ou 5 mL de suspensão) poderá ser utilizado nos comunicantes, com eficácia de 90%. 3. O controle de cura deverá ser feito pelo método de Grahamou pelo swab anal após o 8o dia do tratamento, por 7 dias consecutivos ou cinco exames em dias alternados. ESTRONGILOIDÍASE É uma helmintíase causada por Strongyloides stercoralis TRANSMISSÃO A transmissão ocorre quando as larvas infectantes (L3), presentes no meio externo, penetram através da pele, no homem. PATOGÊNESE Após a penetração da larva filariforme através da pele íntegra, ela migra por via hematogênica aos pulmões, atinge a árvore traqueobrônquica e é deglutida. A larva então amadurece, transformando-se em verme adulto, que se estabelece na mucosa do duodeno e do jejuno. Vermes adultos podem viver por até 5 anos nesse ambiente, causando, juntamente com os ovos e as larvas, um processo inflamatório crônico com edema e fibrose que pode diminuir a superfície de absorção da mucosa intestinal. Os ovos produzidos pela fêmea adulta liberam a larva rabditoide, não infectante. Esta é eliminada nas fezes e, no solo, transforma-se em larva filarioide, infectante, reiniciando o ciclo. Passam- se em média 3 a 4 semanas entre a penetração dérmica e a eliminação da larva nas fezes. Entretanto, a larva rabditoide pode permanecer no trato gastrintestinal e amadurecer em larva filarioide no interior do tubo digestivo. A larva filarioide penetra pela pele perianal ou mucosa intestinal, completando um ciclo de autoinfecção, favorecendo a hiperinfecção e a doença disseminada. Obs: Esses mecanismos explicam a manutenção da infecção por longos períodos, de até 40 anos, em um único indivíduo. QUADRO CLÍNICO Na estrongiloidíase aguda, a manifestação inicial pode ser um exantema pruriginoso e eritematosa no local em que as larvas entraram na pele. Pode-se desenvolver tosse à medida que as larvas migram pelos pulmões e pela traqueia. Larvas e vermes adultos no trato gastrintestinal podem causar dor abdominal, diarreia e anorexia. A estrongiloidíase crônica pode persistir por anos em razão da autoinfecção. Pode ser assintomática ou caracterizada por sintomas gastrointestinais, pulmonares e/ou cutâneos. As queixas gastrointestinais são dor abdominal, diarreia e constipação intermitentes. Larva currens (infecção rastejante) é uma forma de larva migrans cutânea específica da infecção por Strongyloides; resulta da autoinfecção. A erupção geralmente começa na região perianal e é acompanhada por prurido intenso. Tipicamente, larva currens é uma lesão cutânea eritematosa, urticariforme, linear ou serpiginosa, de migração rápida (até 10 cm/hora). . 8 MÓDULO I: DOENÇAS INFECCIOSAS E PARASITÁRIAS ANA LUÍZA A. PAIVA – 5° PERÍODO 2022/1 Quando os vermes, sobretudo as larvas, atingem órgãos e tecidos que não fazem parte do ciclo habitual do parasita, fala-se em estrongiloidíase disseminada. Trata-se de situação clínica de extrema gravidade, frequentemente associada a infecção por enterobactérias que atingem a circulação sanguínea, seja por meio de translocação ou carreadas pelas larvas do parasita. Apresenta elevados índices de letalidade, sobretudo se houver retardo no diagnóstico e no tratamento específico. Complicações - Síndrome de hiperinfecção; síndrome de Löefler; síndrome de má absorção. DIAGNÓSTICO Exame parasitológico de fezes (EPF): detecta a larva após a 3ª ou 4ª semana de infecção. ( cerca de 25% dos pacientes infectados apresentam repetidos EPF negativos) Técnica de Baerman-Morais: método de concentração adequado para pesquisa de larvas, pode aumentar a sensibilidade deste exame, mas mesmo a análise de três amostras de fezes pode não encontrar as larvas. Aspiração do fluido duodenojejunal ou teste de fita (Enteroteste®) podem ser necessários nos casos com suspeita clínica e análise de fezes persistentemente negativa. O exame do escarro para pesquisa de larvas, utilizando-se o método de Baerman Morais, é recomendado em todo caso de suspeita de estrongiloidíase disseminada. TRATAMENTO Infecção não Complicada Ivermectina, 200 mcg/kg por via oral uma vez ao dia, durante 2 dias Tiabendazol 50 mg/kg/dia, VO, em duas doses, máximo de 3 g/dia, por 2 dias ou 25 mg/kg/dia, VO, em dose única, máximo de 3 g/dia, por 5 a 7 dias Cambendazol 5 mg/kg, VO, dose única (adulto 360 mg). Repetir 10 dias após Albendazol 800 mg, VO, em duas doses, por 3 dias, OU 400 mg, VO, em dose única, por 3 dias Obs: Os 3 primeiros têm mostrado maior eficácia, girando em torno de 90% a 96%. O albendazol apresenta eficácia de apenas 60%, porém é mais utilizado na prática médica pois é maisacessível pelo SUS. Infecção Disseminada Ivermectina, 200 mcg/kg por via oral uma vez ao dia, durante 2 dias Tiabendazol 50 mg/kg/dia, VO, em duas doses, máximo de 3 g/dia,por 5 a 7 dias Albendazol 800 mg, VO, em duas doses, por 3 dias Controle de cura - Três exames parasitológicos de fezes, após 7, 14 e 21 dias do tratamento. TRICURÍASE A Tricocefalíase ou Tricuríase é uma doença causada pelo verme Trichocephalus trichiurus ou Trichuris trichiura, helminto que tem cerca de 3 a 5 cm de comprimento e possui a parte anterior de seu corpo bem afilada, lembrando um chicote ou um fio de cabelo. Estima-se que 604 a 795 milhões de pessoas estejam infectadas em todo o mundo. As crianças apresentam as cargas parasitárias mais altas e as sintomatologias mais pronunciadas. TRANSMISSÃO A infecção é disseminada pela via fecal-oral. PATOGÊNESE O T. trichiura não faz ciclo pulmonar, e sua evolução é restrita ao tubo digestório. 9 MÓDULO I: DOENÇAS INFECCIOSAS E PARASITÁRIAS ANA LUÍZA A. PAIVA – 5° PERÍODO 2022/1 Após a ingestão dos ovos, estes sofrem a ação das secreções digestivas dando saída às larvas na porção final do intestino delgado. As larvas penetram nas criptas glandulares do ceco, onde permanecem por 2 dias. Posteriormente, dirigem-se à mucosa do intestino grosso transformando-se em vermes adultos. QUADRO CLÍNICO A infecção é assintomática na maioria dos adultos. A sintomatologia mais exuberante ocorre especialmente em crianças desnutridas e de baixa idade, e é representada por irritabilidade, insônia, anorexia, diarréia prolongada, por vezes disenteria, enterorragia e, eventualmente, prolapso retal em crianças de baixa idade. DIAGNÓSTICO Hemograma: eosinofilia, quando presente, geralmente é pouco expressiva. Anemia hipocrômica e microcítica é um achado comum em crianças com infecções moderadas e graves. O diagnóstico parasitológico é feito através de técnicas para ovos pesados, como os métodos de Hoffman e Pons e Janer. O método de Kato-Katz poderá ser realizado para se determinar a quantidade de ovos por grama de fezes (quantitativo). O exame direto das fezes coradas com lugol também pode ser útil. TRATAMENTO Mebendazol 100 mg por via oral duas vezes ao dia por 3 dias. Albendazol 400 mg por via oral uma vez ao dia por 3 dias, ou Nitazoxanida: em um estudo desenvolvido em crianças no México, a nitazoxanida apresentou eficácia de 100% no tratamento da tricuríase. Geralmente esses fármacos não devem ser usados durante a gestação. O controle de cura é feito com o exame de Hoffmanno 7°, 14° e 21° dia após o tratamento.
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