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INTRODUÇAO Uma variedade de tumores benignos e malignos pode surgir no pulmão, porém 90% a 95% são carcinomas, aproximadamente 5% são carcinoides brônquicos e 2% a 5% são neoplasias mesenquimais e outros tipos diversos. Carcinomas O câncer de pulmão atualmente é o câncer diagnosticado com maior frequência no mundo entre os tipos principais (estimativa de 1,6 milhão de casos novos em 2008) e a causa de mortalidade por câncer mais comum mundialmente (1.380.000 mortes em 2008). Isso se deve, em grande parte, aos efeitos carcinogênicos do tabagismo. Nas próximas décadas, as alterações no hábito de fumar influenciarão muito na incidência e mortalidade do câncer de pulmão, assim como na prevalência dos vários tipos histológicos de câncer de pulmão. Desde o início dos anos 1990, a incidência e a mortalidade do câncer pulmonar têm diminuído em homens devido à queda das taxas de tabgismo nos últimos 35 anos. Contudo, a diminuição dos padrões de tabagismo entre as mulheres está bem atrás da observada nos homens. Desde 1987, a cada ano, mais mulheres morreram mais de câncer de pulmão do que de câncer de mama, que por mais de 40 anos tinha sido a principal causa de morte por câncer em mulheres. O câncer de pulmão ocorre mais frequentemente entre as idades de 40 e 70 anos, com um pico de incidência entre os 50 ou 60 anos. Apenas 2% de todos os casos aparecem antes dos 40 anos de idade. O carcinoma broncogênico e a causa líder de mortalidade relacionada a câncer no mundo para homens e mulheres. No Brasil, a incidência se aproxima de 30.000 casos anuais. Cerca de 80% dos casos diagnosticados são de carcinomas de células não pequenas. Entretanto, somente 25% desses doentes são operáveis na hora do diagnóstico. Uma vez que um desses tumores é diagnosticado, o estadiamento deve ser determinado usando-se informações clínicas, radiológicas e patológicas. O objetivo primário do estadiamento é separar pacientes entre aqueles que apresentam doenças ressecáveis e irressecáveis. Ainda visa a identificar grupos de pacientes com diferentes prognósticos para o planejamento terapêutico correto. Além disso, facilita a comunicação entre os investigadores, permitindo maior homogeneidade entre os grupos e então comparabilidade entre os resultados clínicos de vários trabalhos. A relação entre a extensão anatômica da doença quando do diagnóstico e a sobrevida é a base do conceito do estadiamento oncológico. A sobrevida diminui progressivamente quanto mais avançada for a doença. Os procedimentos diagnósticos e o estadiamento devem ser realizados simultaneamente. Em 1946, Denoix propôs um sistema de classificação pela extensão anatômica do câncer levando em conta o tumor primário (T), linfonodos (N) regionais e metástases (M): sistema TNM. Em relação ao tumor primário, levou-se em consideração sua localização, o tamanho e a invasão de estruturas vizinhas. Quanto aos linfonodos, considerou-se sua localização nos diferentes níveis do mediastino e em relação ao tumor primário. As metástases foram relatadas como presentes ou ausentes. O câncer de pulmão é a doença maligna mais comum em todo o mundo. No Brasil, o Instituto Nacional de Câncer (Inca) estimou: O banco de dados Surveillance, Epidemiollogy and End Results (SEER) nos Estados Unidos, mostra que o câncer de pulmão é mais comumente diagnosticado entre 60-74 anos, com uma mediana de idade ao diagnóstico de 70 anos. Utilizando-se de modelos estatísticos, as taxas de novos casos de neoplasia de pulmão diminuíram 2,1% por ano nos últimos 10 anos e as taxas de mortalidade diminuíram 2,7% por ano no período de 2006-2015. Ainda assim, é considerada altamente letal, com sobrevida média cumulativa total em cinco anos variando entre 13 e 21% em países desenvolvidos e entre 7 e 10% em países em desenvolvimento. Como na maioria dos países, o câncer de pulmão é a principal causa de morte por câncer no Brasil. A taxa de sobrevida em 5 anos, padronizada pela idade, é de 18%, semelhante às taxas globais, que variam de 10 a 20%. As taxas de mortalidade (tanto as brutas quanto as ajustadas pela idade) em homens e mulheres diferiram em magnitude em todos os períodos (1980-2007), com um aumento relativo mais significativo nas mulheres que nos homens (78,4% vs. 8,2%), provavelmente em virtude de diferenças na prevalência do tabagismo. Além disso, as taxas de mortalidade por idade aumentaram em homens com idade igual ou superior a 65 anos e em mulheres de todas as idades. Classificação O câncer de pulmão emerge das células do epitélio respiratório e é dividido em dois grandes grupos: Lesões Precursoras (Pré-invasivas) Quatro tipos de lesões morfológicas epiteliais precursoras são reconhecidos: (1) displasia escamosa e carcinoma in situ, (2) hiperplasia adenomatosa atípica, (3) adenocarcinoma in situ, e (4) hiperplasia de células neuroendócrinas pulmonares idiopática difusa. Deve-se lembrar que o termo precursor não implica que a progressão para o câncer seja inevitável. Atualmente não é possível diferenciar as lesões precursoras que progridem daquelas que permanecem localizadas ou regridem. Fatores de risco O principal fator de risco é o tabagismo, sendo responsável por, aproximadamente, 85 a 90% dos casos. O cigarro contém muitas substâncias carcinogênicas. O risco para o câncer de pulmão aumenta com o número de maços de cigarros fumados por dia e com o número de anos (maços/anos). Outros fatores de risco incluem: DPOC, história familiar de câncer de pulmão, exposição a outros carcinógenos, como arsênio, cromo, asbesto, níquel, cadmio, berílio, sílica e diesel. Tabagismo Aproximadamente 80% dos cânceres de pulmão ocorrem em fumantes ativos ou naqueles que pararam de fumar recentemente. Há uma correlação quase linear entre a frequência do câncer de pulmão e a quantidade de maços/ano consumida. O risco aumentado torna-se 60 vezes maior entre fumantes pesados habituais (dois maços ao dia, por 20 anos) comparado com o de não fumantes. Contudo, como o câncer de pulmão se desenvolve em apenas 11% dos fumantes pesados, há outros fatores que predispõem os indivíduos a essa doença mortal. Por razões que ainda não estão claras, as mulheres têm maior suscetibilidade aos carcinógenos da fumaça do tabaco que os homens. Embora o abandono do hábito de fumar diminua o risco de câncer de pulmão com o tempo, ele pode nunca voltar aos níveis basais. De fato, as alterações genéticas que antecedem o câncer de pulmão podem persistir por muitos anos no epitélio brônquico de ex-fumantes. Fumar passivamente (proximidade aos fumantes) aumenta o risco de desenvolvimento de câncer de pulmão em aproximadamente duas vezes, quando comparado com não fumantes. Fumar cachimbo e charutos também aumenta o risco, mas de maneira mais modesta. Embora a duração e intensidade do tabagismo estejam bem correlacionadas com o risco de câncer, nem todas as pessoas expostas ao tabaco desenvolvem câncer. Alguns destes podem ser obra do acaso, mas é também provável que o efeito mutagênico dos carcinógenos do tabaco seja modificado por variáveis genéticas. Lembre-se de que muitos produtos químicos (pró-carcinógenos) são convertidos em carcinógenos através da ativação pelo sistema de enzimas mono-oxigenases P-450 altamente polimórficas. Os polimorfismos específicos do P-450 tem capacidade aumentada para ativar pró-carcinogênicos na fumaça do tabaco, e fumantes com essas variações genéticas parecem incorrer em um risco maior de câncer de pulmão. De maneira similar, os indivíduos cujos linfócitos do sangue periférico mostram quebras cromossômicas mais numerosas depois da exposição a carcinógenos relacionados ao tabaco (genótipo de sensibilidade mutagênica) apresentam um risco maior do que 10 vezes de desenvolvimento decâncer pulmonar quando comparados a grupos-controle, provavelmente por conta da variação genética em genes envolvidos no reparo do DNA. Carcinomas de células escamosas: Estas começam preferivelmente com uma hiperplasia de células basais de aparência inócua e com metaplasia escamosa e progridem para displasia escamosa e carcinoma in situ, o último estágio antes da progressão para um câncer invasivo. Infelizmente, os efeitos carcinógenos da fumaça do tabaco se estendem àqueles que vivem e trabalham com fumantes. O fumo passivo ou a fumaça de tabaco ambiental contém numerosos carcinógenos humanos para os quais não existe um nível de exposição seguro. Estima-se que, a cada ano, aproximadamente 3.000 adultos não fumantes morram de câncer pulmonar como resultado da inalação passiva da fumaça do tabaco. A fumaça de charutos e cachimbos também aumenta o risco, embora em proporções menores que a fumaça de cigarros. O uso de outros produtos de tabaco sem fumaça não é um substituto seguro para o fumo de cigarros ou charutos, uma vez que esses produtos poupam os pulmões mas causam câncer oral e podem levar à dependência de nicotina. Poluição do Ar Não é certo se a poluição do ar, por si só, aumenta os riscos de câncer no pulmão, mas ela provavelmente aumenta o risco nos indivíduos que fumam ou estão expostos a fumaça de tabaco de terceiros. Isso se dá por diferentes mecanismos. A exposição crônica a partículas do ar poluído pode causar irritação dos pulmões, inflamação e reparo, e você se lembra que as inflamações e reparos crônicos aumentam os riscos de vários tipos de câncer. Uma forma específica de poluição do ar que contribui para o aumento do risco de câncer de pulmão é o gás radônio. O radônio é um gás abundante em radioatividade que foi associado epidemiologicamente ao aumento do câncer de pulmão em mineradores de urânio, particularmente nos fumantes. Isso gerou uma preocupação de que a exposição em baixos níveis (p. ex., em casas bem isoladas em áreas com altos níveis naturais de radônio no solo) também poderia aumentar a incidência de cânceres de pulmão, mas esse ponto permanece incerto. Genética Molecular Como em outras formas de câncer, os carcinomas pulmonares relacionados ao tabagismo se originam por um acúmulo gradativo de mutações oncogênicas “condutoras” que resultam na transformação neoplásica das células epiteliais pulmonares. Algumas alterações genéticas associadas com câncer podem ser encontradas nos epitélios brônquicos “benignos” de fumantes sem câncer pulmonar, sugerindo que grandes áreas da mucosa respiratória são mutagenizadas pela exposição a carcinógenos da fumaça do tabaco (“efeito de campo”). Nesse solo fértil, as poucas células que acumulam um arsenal suficiente de mutações condutoras complementares para adquirirem todas as marcas registradas de câncer se transformam em carcinomas invasivos. Os carcinomas pulmonares caem em vários subgrupos histológicos principais, cada um com características moleculares distintas, como se segue: • Os carcinomas de células escamosas, que estão altamente associados com a exposição à fumaça do tabaco, são portadores de várias aberrações genéticas, muitas das quais são deleções cromossômicas envolvendo os loci supressores de tumor. Essas perdas, especialmente as que envolvem o 3p, 9p (local do gene CDKN2A) e 17p (local do gene TP53) são eventos iniciais na evolução do tumor, sendo detectadas em uma frequência notável nas células histologicamente normais da mucosa respiratória de fumantes. Os carcinomas de células escamosas mostram a frequência mais alta de mutações TP53 entre todos os tipos histológicos de carcinoma pulmonar. A superexpressão da proteína p53 (como observada na coloração por imuno- histoquímica), um marcador da mutação no TP53, também é um evento inicial, sendo relatada em 10% a 50% das displasias escamosas e em 60% a 90% dos carcinomas de células escamosas in situ. A perda de expressão do gene supressor de tumor do retinoblastoma (RB) é identificada por imuno-histoquímica em 15% dos carcinomas de células escamosas. O gene inibidor de cinase dependente de ciclina CDKN2A é inativado, e seu produto proteico, p16, é perdido em 65% de tumores. Recentemente, foi reconhecido que muitos carcinomas de células escamosas têm amplificação do FGFR1, um gene decodificador do receptor tirosina- cinase do fator de crescimento de fibroblastos. O carcinoma de pequenas células mostra a associação mais forte com o tabagismo, e apesar de suas caraterísticas histológicas divergentes, compartilha muitas características moleculares com carcinomas de células escamosas. Isso inclui frequentes aberrações com perda de função envolvendo o TP53 (75% a 90% dos tumores), RB (quase 100% dos tumores) e deleções no cromossomo 3p. Também é comum a amplificação dos genes da família MYC. O adenocarcinoma é marcado por mutações com ganho de função oncogênicas envolvendo componentes das vias de sinalização dos receptores do fator de crescimento. Todas são encontradas numa minoria de tumores, mas juntos, eles somam uma fração substancial de tumores como um todo. Elas incluem mutações de ganho de função em múltiplos genes decodificadores de receptores tirosina-cinase, incluindo EGFR, ALK, ROS, MET e RET, que também sofrem mutações em outras formas de câncer. Tumores sem mutações do gene tirosina-cinase geralmente têm mutações no gene KRAS, que você deve lembrar, está abaixo do receptor tirosina-cinase nas vias de sinalização dos fatores de crescimento. Câncer de Pulmão em Não Fumantes A OMS estima que 25% dos casos de câncer de pulmão no mundo ocorrem em indivíduos que nunca fumaram. Essa porcentagem provavelmente se aproxima dos 10%-15% em países ocidentais. Esses cânceres ocorrem mais comumente em mulheres, e a maioria é de adenocarcinomas. Os cânceres em não fumantes provavelmente apresenta mutações no EGFR, e quase nunca têm mutações KRAS; as mutações TP53 não são incomuns, mas ocorrem com menos frequência do que em cânceres relacionados ao tabagismo. Fisiopatogenia A combustão do tabaco produz pelo menos 60 carcinogênicos conhecidos. Há pelo menos duas vias em que o tabagismo causa o câncer de pulmão: O tempo para a carcinogênese ser completada é indeterminável, podendo ser necessários muitos anos para que se verifique o aparecimento do tumor. Teoricamente, a carcinogênese pode ser interrompida em qualquer uma das etapas, se o organismo for capaz de reprimir a proliferação celular e de reparar o dano causado ao genoma. Nas últimas décadas, a incidência do adenocarcinoma de pulmão aumentou mais rapidamente que o carcinoma epidermoide em homens e mulheres. Ao mesmo tempo, os cigarros filtrados com redução dos níveis de alcatrão e nicotina dominaram o mercado. O fumo dos cigarros modernos contém altas concentrações de nitrosamidas, que primariamente predispõem ao adenocarcinoma, em oposição a outros tipos histológicos. Quadro clínico Exames complementares O diagnóstico presuntivo de câncer de pulmão é feita na investigação de sintomas respiratórios (tosse, dispneia, dor torácica, hemoptise) e constitucionais (fadiga e emagrecimento), ou por achado radiológico atípico em exame realizado com outro propósito. Avaliação diagnóstica de rastreamento Diagnóstico precoce em indivíduos assintomáticos de alto risco, com tomografia de tórax de baixa dose sem contraste. Se for optado pelo rastreamento com tomografia de baixa dose, deve ser realizada anualmente até os 74 anos. Radiografia simples de tórax Na maioria dos casos, o exame inicial é a radiografia de tórax, exame de fácil acesso, mas de sensibilidade e especificidade insuficientes para o disgnóstico de malignidade. Dessa forma, ao ser suspeita de anormalidade, recomenda-sea complementação com tomografia computadorizada de tórax. A apresentação radiológica no câncer de pulmão pode ser bastante variada. Um padrão particular de câncer de pulmão é o nódulo solitário, que é definido como lesão ovulada ou arredondada, bem como circunscrita, não cavitária e menor que 3,0 cm de diâmetro. Esse tipo de lesão pode apresentar um dos padrões definidos como benignos de calcificação: concêntrica ou laminar, difusa ou uniforme, central, em ‘’pipoca’’. Outros tipos de calcificação (excêntrica ou pontilhada), quando identificados, devem ser considerados potencialmente malignos, particularmente em lesões de maiores dimensões. Comparação entre calcificação benigna e calcificação maligna observados em Rx simples de tórax. Na grande maioria, os nódulos >2cm são malignos, enquanto 50% dos nódulos < 2cm são malignos. Lesões malignas pulmonares periféricas frequentemente aparecem mal definidas e irregulares, com bordas espiculadas. Aproximadamente 90% dos nódulos espiculados são malignos. As lesões malignas costumam ser identificadas em lobos superiores, pelo padrão de disseminação dos gases no tabaco pela ação da gravidade. Tomografia computadorizada A tomografia computadorizada com administração de contraste venoso exógeno pode ajudar na avaliação de lesões indeterminadas, ou seja, para aquelas que não mostram achados típicos de malignidade ou as características especificas de benignidade. As lesões malignas tem a realçar em maior grau que a maioria das lesões benignas. Na figura a seguir, temos ume exemplo de um nódulo com carcteristicas benignas. Comparação de calcificação benigna em RX de tórax e TC em paciente com hemartoma. Comparação de calcificação benigna em RX de tórax e TC de pacientes com tuberculose. Tomografia computadorizada por emissão de pósitrons – PET-TC O exame de tomografia computadorizada por Emissão de Positrons (PET-TC) com fluoro-deoxi-glicose (FDG) permite avaliar a função metabólica, tendo a maior capacidade de distinguir tecidos benignos de malignos. As limitações do método estão presentes quando a lesão nodular é menor que 1 cm e ocorre também na avaliação de certos nódulos ne natureza inflamatório-infeccioso, principalmente na tuberculose. O câncer de pulmão pequenas células, na maioria dos casos, tem apresentação central nos exames de imagem. Os adenocarcinomas aparecem como nódulos com características espiculadas geralmente de localização mais periférica, o carcinoma epidermoide é usualmente encontrado perto das vias aéreas principais, porém o tumor pode crescer e se estender para a parede torácica. Comparação de adenocarcinoma de pulmão em TC,RX e PET-CT. Comparação de carcinoma espinocelular em RX de tórax e TC de tórax. Investigação O diagnóstico definitivo de câncer de pulmão é firmado pelo exame histopatológico ou citológico de espécime tumoral obtido por broncoscopia, mediastinocopia, biopsia pleural ou biopsia pleuropulmonar a céu ou videoassistida. Avaliação patológica e histologia do câncer de pulmão A avaliação patológica classifica o subtipo histológico do câncer de pulmão e a extensão da invasão. Ela determina se é primária de pulmão ou metastático, estabelece o status das margens cirúrgicas (margens negativas ou positivas), e os estudos moleculares se há alterações gênicas presentes. O câncer de pulmão é dividido em dois grandes grupos histopatológicos, cujo prognóstico e tratamento muda consideravelmente: - Neoplasia de pulmão de pequenas células (15%) - Neoplasia de pulmão de não pequenas células (85%). Tipos de estadiamento O estadiamento pode ser classificado em: estadiamento clínico ou patológico. O estádio clínico (cE) é baseado em informações obtidas pelo exame físico e por exames complementares prévios a qualquer tratamento. O estadiamento patológico (pE) baseia-se nos achados cirúrgicos e no exame anatomopatológico da peça ressecada. MÉTODOS DIAGNÓSTICOS NÃO INVASIVOS Histórico e exame físico Um levantamento cuidadoso do histórico clínico e um detalhado exame físico são essenciais. Acima de 95% dos pacientes com doença avançada apresentam sinais e sintomas relativos à doença, muito embora esses achados possam ser inespecíficos. Os achados clínicos dependem não só da localização do tumor como também da sua extensão locorregional ou a distância. Os tumores centrais mais frequentemente são acompanhados por tosse, hemoptise, atelectasias e pneumonia obstrutiva. Enquanto os de localização periférica podem causar dor por extensão, as estruturas anatômicas vizinhas como parede torácica, coluna ou plexo braquial também podem provocar derrame pleural. Sintomas sistêmicos como perda de peso, fadiga e anorexia são sugestivos da presença de metástases. Laboratório Testes de função hepática elevados são sugestivos de lesões metastáticas em fígados. Cálcio e fosfatase alcalina elevados são sugestivos de metástases ósseas. No entanto, têm acurácia limitada em determinar a extensão da doença. Radiografia de tórax Tomografia computadorizada (TC) Por características inerentes ao próprio exame, proporciona maiores detalhes anatômicos e é mais acurada na definição da localização, tamanho e características do nódulo ou massa que a radiografia de tórax. Os achados tomográficos que sugerem que um tumor central que está em íntimo contato com estruturas mediastinais possa ser tecnicamente ressecado são: contato com menos de 3 cm de extensão entre a massa e o mediastino, presença de plano gorduroso de clivagem entre tumor e a estrutura do mediastino ou contato circunferencial inferior a 90° com estruturas cilíndricas como a aorta e o esôfago. Em relação à invasão pleural, é preciso basear-se na presença de ângulo obtuso na imagem pleural, que significa provável envolvimento da pleura visceral e/ou parietal; no espessamento pleural associado à massa; no plano gorduroso de clivagem entre o tumor e a parede torácica; na destruição de costelas e massa na parede torácica. A modularidade pleural é indicativa de metástase mesmo na ausência de derrame pleural. O aumento do linfonodo é o único critério útil para a suspeita de malignidade. Os linfonodos com o menor diâmetro, com tamanho igual ou maior a 1 cm são geralmente considerados anormais. O falso-positivo desse teste varia entre 20 e 30%, especialmente pela alta prevalência de doenças infecciosas pulmonares (tuberculose e blastomicose) no Brasil, enquanto o falso- negativo está em torno de 21%. O uso de contraste endovenoso não é absolutamente necessário, mas pode ser útil para distinguir estruturas vasculares de linfonodos, bem como delinear invasão mediastinal por tumores centrais. A TC de tórax está indicada para todos os pacientes portadores de câncer de pulmão, ajudando na escolha da técnica invasiva mais apropriada para obtenção de material para a realização do estudo anatomopatológico. Finalmente, TC de tórax com protocolo deve também avaliar o abdome superior, onde se pode observar o fígado e a adrenal, que são locais comuns de metástases. Ressonância magnética (RM) A ressonância magnética é superior à TC na avaliação de tumor do sulco superior (avaliação de invasão), da invasão do corpo vertebral, parede torácica ou vascular. Isso ocorre porque a RM pode detectar diferenças na intensidade entre tecidos tumorais e normais. Tomografia por emissão de pósitrons (PET) As imagens se baseiam no aumento do metabolismo da glicose pelo tumor. O 18F-fluorodesoxiglicose é preferencialmente captado pelas células tumorais. A combinação do TC com o PET permite melhor definição das estruturas anatômicas e diferenciação principalmente entre linfonodos hilares e mediastinais, ou entre tumor primário central e metástases de nódulos linfáticos.Com isso, o número de pacientes corretamente estadiados aumentou, bem como melhorou o estadiamento extratorácico. Esse estudo pode levar à modificação do estadiamento em 35% dos casos. O PET pode apresentar falso-positivo em casos de doenças infecciosas como granulomas, e falso-negativo quando o tumor é pequeno (menor que 1 cm), ou caso de tumor carcinoide, e adenocarcinoma in situ, adenocarcinoma minimamente invasivo ou adenocarcinoma invasivo predominantemente lipídico. Diagnóstico em metástases extratorácicas Os locais mais comuns de metástases são adrenais, ossos, fígado e cérebro. Os exames mais usados para estadiamento extratorácico são: • avaliação do fígado e adrenal: TC abdome superior; • avaliação óssea: cintilografia óssea; • avaliação do cérebro: TC e RM cerebral. O histórico e o exame físico são os melhores preditores de doença metastática. Recomenda-se estadiamento completo para todos os pacientes com neoplasia de pulmão. DIAGNÓSTICO INVASIVO DO CÂNCER DE PULMÃO Existem diversos métodos invasivos disponíveis tanto para o diagnóstico quanto para o estadiamento do câncer de pulmão. A investigação de metástases e do comprometimento de linfonodos mediastinais é fundamental para a estratégia terapêutica e avaliação do prognóstico. Broncoscopia com biópsia A broncoscopia é um método diagnóstico e terapêutico que visualiza diretamente a árvore brônquica através do broncofibroscópio. No câncer de pulmão, tem grande valia, pois permite a realização de biópsias endobrônquicas e transbrônquicas para estudo anatomopatológico. Auxilia também na avaliação de paralisia de pregas vocais e permite medir a distância entra a massa tumoral e a carina. No estadiamento do mediastino, sua importância reside principalmente na punção aspirativa de linfonodos subcarinais e paratraqueais, porém com maior dificuldade técnicanesses últimos. Em razão de avanços recentes, esse método possibilita, ainda, avaliar alterações vasculares de mucosa, auxiliando no diagnóstico cada vez mais precoce de lesões. É realizado com anestesia local e sedação, tanto em pacientes internados como em pacientes ambulatoriais. As complicações mais comuns são sangramento, broncoespasmo e pneumotórax. Ultrassonografia endobrônquica (EBUS) Técnica recente e ainda pouco disponível, que utiliza um transdutor de ultrassom acoplado ao broncoscópio para acessar um grande número de linfonodos passíveis de punção aspirativa por agulha fina (PAF) nas cadeias traqueais altas, paratraqueais superiores e inferiores, subcarinais e hilares. Suas principais vantagens são visualização da via aérea, detectar presença de linfonodos e de vasos, pela visão direta do ultrassom no mesmo procedimento. Acessa linfonodos hilares e mediastinais posteriores. Tem baixa morbidade, porém ainda é um exame com alto custo no Brasil. Ultrassonografia endoscópica (EUS) A EUS utiliza o ecoendoscópio para avaliar o mediastino via esôfago, necessitando de anestesia local com ou sem sedação. É bastante seguro e efetivo, porém ainda não disponível na maioria dos serviços. Possibilita acessar linfonodos do ligamento pulmonar, paraesofágicos, subcarinais e janela aortopulmonar; já os anterolaterais à traqueia, que são os mais comumente afetados, são mais difíceis de serem acessados, sendo essa sua principal limitação. Também pode ser utilizado para diagnóstico de massas mediastinais volumosas (T4) e para metástases subdiafragmáticas, mas estas não constituem a principal indicação do exame. Os riscos de infecção ou sangramento são mínimos e a complicação mais descrita é febre transitória. Biópsia transtorácica A biópsia transtorácica por punção é um método bastante prático e simples que permite diagnóstico de massas periféricas passíveis de acesso por agulha. Pode ser feita ambulatorialmente ou em regime hospitalar, com anestesia local. O procedimento é realizado com visão direta por meio de ultrassom ou tomografia de tórax. Mediastinoscopia Esse procedimento é considerado padrão-ouro no estadiamento do mediastino. Deve ser realizado em centro cirúrgico e com anestesia geral. Faz-se uma incisão cervical pré- -traqueal com cerca de 2 cm de extensão, por onde é introduzido o aparelho, sendo possível acessar os linfonodos paratraqueais altos bilaterais e baixos bilaterais e subcarinais anteriores. A sensibilidade e a especificidade da mediastinoscopia são aproximadamente 90 e 100%, respectivamente. Não é bom método para acessar os linfonodos subcarinais posteriores, mediastinais inferiores, mediastinais anteriores nem da janela aortopulmonar. As complicações mais frequentes são paralisia do nervo laríngeo recorrente, geralmente transitório, lesões vasculares e pneumotórax. Videotoracoscopia (VATS) A toracoscopia é um procedimento diagnóstico e terapêutico, realizado com anestesia geral e em ambiente cirúrgico. Permite biopsiar lesões e/ou linfonodos, porém a principal limitação é a abordagem unilateral. Para acessar linfonodos contralaterais, seria necessário abordar os dois hemitóraces. É uma excelente arma propedêutica para derrame pleural, possibilita avaliar a cavidade pleural, biopsiar a pleura e no mesmo ato cirúrgico, proceder à pleurodese. A sensibilidade e a acurácia da VATS para diagnóstico e estadiamento do câncer de pulmão aproximam-se de 100%. Procedimento de Chamberlain ou mediastinotomia anterior É um procedimento clássico para acessar linfonodos da janela aortopulmonar e para-aórticos, importantes no estadiamento de tumores do lobo superior esquerdo. O acesso cirúrgico é feito por uma incisão no segundo ou terceiro espaço intercostal no bordo esternal esquerdo. Primeira alteração recomendada: subdividir T1 em T1a e T1b pelo tamanho: • T1a – tumor < 2 cm no maior diâmetro; • T1b – tumor > 2 cm, porém < 3 cm no maior diâmetro; • T2 – tumor > 3 cm, porém < 7 cm no maior diâmetro ou com qualquer desses achados: envolvimento do brônquio principal distando mais de 2 cm da carina principal, invasão de pleura visceral, associação com atelectasia ou pneumonia obstrutiva sem envolvimento de todo o pulmão. Em relação à invasão de pleura visceral, o International Union Against Cancer e o American Joint Committee on Cancer definiram que a invasão da pleura visceral como invasão abaixo da camada elástica (PL1) e até a superfície da pleura visceral (PL2). Segunda alteração recomendada: subdividir T2 em T2a e T2b pelo tamanho: • T2a – tumor > 3 cm, porém ≤ 5 cm no maior diâmetro; • T2b – tumor > 5 cm, porém ≤ 7 cm no maior diâmetro. Terceira alteração recomendada: reclassificar T2 > 7 cm como T3. Quarta alteração recomendada: reclassificar T4 por nódulos adicionais no lobo do tumor primário como T3: • T3 – tumor > 7 cm ou de qualquer tamanho que invade diretamente qualquer das seguintes estruturas: parede torácica (inclusive tumores de sulco superior), diafragma, nervo frênico, pleura mediastinal, parietal e pericárdio; tumor no brônquio principal a menos de 2 cm da carina, porém sem envolvimento dessa estrutura; ou associação com atelectasia ou pneumonia obstrutiva de todo o pulmão; ou nódulo além do tumor primário, no mesmo lobo. Quinta alteração: reclassificar os tumores M1 por nódulos adicionais em pulmão ipsilateral ao tumor primário como T4. • Nx – linfonodo regional não pode ser avaliado; • N0 – sem metástase em linfonodo regional; • N1 – metástase em linfonodo peribrônquico ipsilateral e/ou hilar ipsilateral e intrapulmonares, incluindo envolvimento por extensão direta; • N1a – única zona comprometida (hilar ou periférica); • N1b – múltiplas zonas supracitadas comprometidas; • N2 – metástase em linfonodo mediastinal ipsilateral e/ou subcarinal; • N2a – única zona comprometida (superior, zona aortopulmonar, subcarinal ou inferior);• N2b – múltiplas zonas supracitadas comprometidas; • N3 – metástase em linfonodo hilar e/ou mediastinal contralateral; escalênico ipsilateral ou contralateral; ou supraescalênico.
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