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A HIPERSEXUALIZAÇÃO DO CORPO FEMININO NEGRO EXPLICADA POR LÉLIA GONZALES ATRAVÉS DO CONCEITO FREUDIANO DO COMPLEXO DE ÉDIPO O Complexo de Édipo é uma das fases do desenvolvimento psicossexual, desenvolvidas por Sigmund Freud, e se caracteriza por um período em que o menino passa a sentir uma forte atração pela figura materna. Contudo, essa figura não necessariamente será sua mãe, mas sim sua cuidadora. E é a partir dessa abertura na teoria que Lélia Gonzales fará sua análise, sem deixar de lado a perspectiva do homem branco, afinal, é justamente nessa dinâmica interseccional entre sexismo e branquitude que o conceito surgiu. Como historicamente a figura cuidadora do homem branco, através do serviço de babá ou mesmo de emprega doméstica que também acumula a função de babá, é a “mãe preta” – que para Lélia Gonzales é uma, das três, representações da mulher negra na nossa sociedade – esse desejo proibido acaba sendo direcionado para a mulher negra. E, para Jaqueline Conceição, esse desejo acaba sendo exacerbado pois ele é duplamente proibido: primeiro pelo incesto não ser socialmente aceito e segundo pelo racismo que condena o envolvimento não-violento interracial. Dessa forma, essa relação interracial acaba tendo duas opções de saída, que retornam para as representações da mulher negra descritas pela Lélia: A mulata, hipersexualizada e colocada pela sociedade branca como tendo “a cor do pecado” – numa tentativa de inversão da culpa, assim, a mulher negra passa ser, por uma condição intrínseca à sua raça, quem corrompe a virtude da família tradicional (branca) ou a empregada doméstica, subalternizada e muitas vezes humilhada – o que para Lélia é uma consequência, violenta, da tentativa de negar e apagar esse desejo proibido de se relacionar com uma mulher negra. Ou seja, dentro dessa dinâmica sexista branca só restam dois lugares para a mulher negra: sexualizada/objetificada ou negada/apagada. Além disso, ainda temos o que Maria Aparecida da Silva Bento chamou de “pacto narcísico do racismo”, ou seja, é interessante, e até necessário, para a sociedade branca manter a população negra nesses lugares de inferioridade pois isso os mantém no local de superioridade e poder, equilibrando uma balança criada pelo darwinismo social que afirmava que para que alguns tivéssemos poder, outros precisariam não o ter. Ou seja, a branquitude acabou desenvolvendo esse pacto, não-dito, para defender seus privilégios, por acreditar, mesmo que de forma inconsciente, que permitir que negros assumam algum tipo de poder é arriscar suas próprias posições de poder. Por fim, analisando tudo que foi estudado e dito até aqui, pode-se sugerir que o primeiro passo para romper com essa estrutura de hipersexualização do corpo feminino negro é desconstruir as representações (e estereótipos) da mulher negra na sociedade, num trabalho interseccional entre sexualidade e raça. Porém, esse não será um trabalho fácil, afinal, é preciso convencer a população branca, sobretudo masculina, que eles também são atravessados negativamente pelo racismo e que intensificar esse sentimento narcisista branco também é prejudicial para eles. Referências: CONCEIÇÃO, Jaqueline. Lélia Gonzales: O racismo estrutural. Casa do Saber, 2021. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=X2ruqJntOWc. Acesso em: 06 de março de 2022. GONZALES, Lélia. Racismo e Sexismo na cultura brasileira. Revista Ciências Sociais Hoje, 1984, p. 223-244. Disponível em: https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/4584956/mod_resource/content/1/06%20- %20GONZALES%2C%20L%C3%A9lia%20- %20Racismo_e_Sexismo_na_Cultura_Brasileira%20%281%29.pdf. Acesso em: 25 de fevereiro de 2022. REIS, Marina de Oliveira. O pacto narcísico da casa-grande: a representação das mulheres negras a partir de Lélia Gonzales e Gilberto Freyre. Revistas USP. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/humanidades/article/download/154274/150497/331787. Acesso em: 06 de março de 2022. SOUZA, Mauricio Rodrigues de. A psicanálise e o complexo de Édipo: (novas) observações a partir de Hamlet. Psicol. USP, São Paulo, v. 17, n. 2, p. 135-155, jun. 2006. Disponível em http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1678- 51772006000200007&lng=pt&nrm=iso. Acesso: em 06 março. 2022. https://www.youtube.com/watch?v=X2ruqJntOWc https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/4584956/mod_resource/content/1/06%20-%20GONZALES%2C%20L%C3%A9lia%20-%20Racismo_e_Sexismo_na_Cultura_Brasileira%20%281%29.pdf https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/4584956/mod_resource/content/1/06%20-%20GONZALES%2C%20L%C3%A9lia%20-%20Racismo_e_Sexismo_na_Cultura_Brasileira%20%281%29.pdf https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/4584956/mod_resource/content/1/06%20-%20GONZALES%2C%20L%C3%A9lia%20-%20Racismo_e_Sexismo_na_Cultura_Brasileira%20%281%29.pdf https://www.revistas.usp.br/humanidades/article/download/154274/150497/331787
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