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Embalagens Metálicas Capítulo 4 29 4.1- INTRODUÇÃO A importância das chapas metálicas para fabricação das latas como forma de embalagem e acondicionamento se justifica pelas propriedades específicas do metal, tais como: - Impermeabilidade à luz, aos vapores de água e aos gases; - Condutividade térmica excelente; - Resistência aos equipamentos, ao vácuo fornecido, à pressão interna e aos choques; - Manutenção da esterilidade comercial do conteúdo; - Rigidez; - Fechamento a vácuo favorecido; - Fácil soldagem; - Manejo fácil, quando vazias ou cheias; - Fácil produção em massa; - Transporte mais favorável; - Menor necessidade de espaço para armazenar. As primeiras chapas empregadas para fabricação de latas se constituíram basicamente de aço base recoberto de estanho (folha de flandres). Todavia, durante os últimos anos foram desenvolvidas outras embalagens metálicas, principalmente pelo fato de que o estanho tornou-se um material potencialmente mais caro. Entre as embalagens desenvolvidas destacam-se as de alumínio, folha cromada e folha preta (não é estanhada e recebe revestimento especial). As embalagens metálicas são empregadas atualmente para um grande número de produtos alimentícios, dentre os quais se destacam: conservas (sucos, néctares, compotas, etc.), óleos, farinhas, café solúvel, leite em pó, refrigerantes, cervejas, etc. Em virtude da grande variedade de produtos alimentícios, as exigências às quais as latas devem responder são diversas. Não existe um tipo de lata ideal que convenha a todos os produtos, e da mesma forma seria impossível formular um determinado produto cuja perfeição lhe conferisse a propriedade de poder ser acondicionado em qualquer tipo de lata. Dois materiais básicos são utilizados na fabricação de embalagens metálicas: o aço e o alumínio. O aço é utilizado nas folhas-de-flandres, folhas cromadas, stancron e folhas não revestidas. O alumínio é utilizado nas latas de bebidas alcoólicas e não alcólicas, em embalagens descartáveis de alimentos congelados e prontos para o consumo e mais recentemente latas de sardinha, atum e outras muitas aplicações. 4.2- Materiais à base de aço O aço é classificado de acordo com sua constituição química, se apresenta em diversos tipos. A Tabela 4.1 lista alguns tipos mais comuns para embalagens de alimentos. Embalagens Metálicas Capítulo 4 30 Tabela 1- Tipos de aço e sua aplicação. L Caracteriza-se por possuir pequeno conteúdo de fósforo e de metais residuais. Produz folhas aplicadas em embalagens para produtos sujeitos a elevada corrosão (ameixas secas em xarope, picles, cerejas, etc.). MS Apresenta semelhança com o aço L, contendo, porém, maior quantidade de cobre. As folhas que apresentam esse aço se prestam para acondicionar chucrutes. MR Contém maior quantidade de fósforo do que o aço L. As folhas deste aço são preferidas como material de embalagem para abacaxi, sucos cítricos, pêssego, pêra, etc. MC É submetido à refosforização, com o objetivo de dar às latas maior qualidade de rigidez. Fonte: EVANGELISTA (1994) 4.2.1 - Folha de flandres A folha de flandres pode ser definida como sendo uma chapa de aço delgada, recoberta nas duas faces por uma camada de estanho bem fina. A chapa de aço é o produto fundamental na fabricação da folha-de-flandres. O teor de carbono da chapa de aço geralmente está entre 0,06 a 0,15%, valores estes que dão ao aço boas propriedades de ductilidade, isto é, para que a lata possa se deformar durante a estampagem, sem sofrer rompimentos. Quanto mais mole se desejar a chapa e quanto maior for a estampagem a que estará sujeita, menor deverá ser o teor de carbono. A folha de flandres no caso de ser utilizada para alimentos, deve ter as seguintes condições: - Receber revestimentos protetores; - Ser resistente; - Conduzir calor; - Ter maleabilidade; - Permitir soldagem segura; - Baixo custo. As três primeiras propriedades têm características de proteção do produto; a de maleabilidade visa possibilitar as manobras de formação do recipiente, de envasamento e de fechamento (por dobragem de bordos, sem rompimento da folha); a capacidade de soldagem segura representa uma das condições precisas para o fechamento hermético da lata. 4.2.2- Folhas cromadas Embalagens Metálicas Capítulo 4 31 A flutuação de preços do estanho e a escassez de sua oferta foram os principais motivos pelos quais os grandes produtores de folhas-de-flandres do Japão investiram na pesquisa para obtenção de uma folha isenta de estanho que reunisse propriedades similares às das folhas-de-flandres. Uma das alternativas encontrada para substituir a folha-de- flandres foi a folha cromada. As folhas cromadas são obtidas a partir de folhas de aço não revestidas em bobinas que são alimentadas em linhas muito semelhantes às linhas de estanhamento eletrolítico, por eletrodeposição de cromo metálico e revestimento com uma camada fina, transparente amorfa e não metálica geralmente de óxido, produzida por tratamento eletroquímico. A figura 4.1 traz um corte esquemático da folha cromada. Filme de óleo Óxido cromo Cromo Metálico Aço - Base Figura 1 – Corte transversal esquemático da folha cromada (SOLER, 1983). As principais vantagens das folhas cromadas, são: - Ótima aderência de vernizes e tintas; - Boa resistência à corrosão atmosférica; - Ótima resistência aos efeitos do enxofre; - Mais econômica do que a folha - de- flandres. Das desvantagens, citam-se: - Baixa resistência mecânica da camada de cromo; - Necessidade de envernizar as duas faces; - Alta dureza superficial; - Impossibilidade de soldar a liga; - Ausência de proteção catódica para aço-base. O sistema de soldagem empregado para latas de folha-de-flandres não se emprega no caso do uso de folhas cromadas. Neste caso, empregam-se cimentos à base de nylon para a junção do corpo da lata. Embalagens Metálicas Capítulo 4 32 Esse material pode ser empregado para muitos produtos em que a proteção catódica geralmente fornecida pelo estanho não é requerida, como nos alimentos de baixa acidez. É excelente para acondicionar alimentos com alto teor protéico ou rico em alimentos sulfurosos. Usam-se as folhas cromadas: - Nas tampas e fundos, com envernizamento destinadas a conservas vegetais e doces de frutas em geral; - Fundos e corpos de latas de três peças para bebidas carbonatadas e cerveja, recebendo duas camadas de verniz interno (neste caso, geralmente a tampa de faz de alumínio para facilitar a abertura da embalagem); - Embalagens de duas peças (corpo e tampa) destinadas a produtos cárneos e produtos de pesca, sempre com revestimento interno; - Latas para óleos comestíveis (corpos). 4.2.2.1 - Determinação da camada de cromo em folhas cromadas A metodologia empregada baseia-se na análise quantitativa do cromo metálico e do óxido de cromo, presentes na folha. O cromo metálico é retirado por eletrólise e determinado colometricamente na forma de complexo com difenil-carbazida. O filme de oxido é extraído por uma solução de hidróxido de sódio e analisado quantitativamente pelo mesmo método citado. 4.2.3 – Revestimentos para embalagens de aço A aplicação doverniz no interior das embalagens é realizada com o objetivo de se prevenir contra o ataque de produtos que contenham compostos considerados corrosivos ou excessivamente ácidos ao metal. Há várias classes de revestimentos e, dentro delas grande diversidade de tipos: - Revestimento de estanho; - Revestimentos óleo-resinosos; - Revestimentos sintéticos; - Outros revestimentos (fosfatização, cromagem, etc.). 4.2.3.1- Revestimento de estanho O estanhamento da folha de aço visa impedir o contato direto do interior da lata com o produto, evitando a sua corrosão e o isolamento da sua face externa com a atmosfera, impossibilitando seu enferrujamento. Embalagens Metálicas Capítulo 4 33 O estanhamento se faz, imergindo as folhas-de-flandres em banho de estanho fundido. Dois são os processos objetivando o estanhamento: de imersão e eletrolítico. O estanho é um elemento que normalmente se incorpora ao produto, quando se utiliza folha de flandres. O limite máximo de estanho estabelecido é de 250mg/Kg na maioria dos países, porém este valor só é alcançado quando não se utiliza o verniz interno nas latas. 4.2.3.2- Revestimento óleo-resinosos e sintéticos Os vernizes utilizados no contato com alimentos são compostos macromoleculares, constituídos por uma resina base e outros componentes que lhes conferem propriedades particulares. São aplicados em formas de soluções ou dispersões, num solvente orgânico apropriado, e se transformam, por evaporação do solvente e eventual reação química, em uma película sólida que fica aderida ao suporte metálico. Os revestimentos óleo-resinosos são constituídos de uma solução de resina (gomas naturais), mais um óleo secativo. Os principais revestimentos óleo-resinosos são: esmaltes sanitários; lata C-esmaltada; vários revestimentos brancos e vernizes externos contendo óleo-resinosos. A quase totalidade dos produtos de frutas tropicais, como por exemplo, néctares, compotas, sucos, etc., são embalados em latas de folhas de flandres. A aplicação ou não de verniz interno irá depender da proteção que se queira dar ao produto. As finalidades destes revestimentos são: Protetora - Impede o aparecimento de manchas negras na superfície interna da lata (produzidas por enxofre do produto); impossibilita (em latas sem estanhamento) a ação do hidrogênio do recipiente sobre as antocianinas modificando a cor do produto. Econômica - Faculta a redução da camada de estanho, sem problemas de corrosão por alimentos ácidos. Para que se alcance a utilização correta destes revestimentos, é preciso que nele encontremos os seguintes requisitos: - Ausência de substâncias nocivas ou tóxicas, como, por exemplo, o chumbo e o arsênico; - Não propagar, ao produto, odor, sabor e cor inconvenientes; - Consistência necessária para que sejam facilmente aplicados, distribuídos e aderidos à lata; - Elasticidade suficiente para suportar as manobras de elaboração da lata (estampagem, formação dos bordos, agrafagem, etc.); - Resistência às temperaturas, principalmente as de esterilização; - Resistência a arranhões e à ação de golpes e quedas; - Indiferença ao contato prolongado com os integrantes do produto. Embalagens Metálicas Capítulo 4 34 Estes requisitos, infelizmente, não existem em todos os revestimentos. Por isso, nos casos previstos, terão de ser adaptados, na lata, ao produto a ser acondicionado. Para tal, é imprescindível que se conheçam as condições que contra-indicam a sua aplicação: - O pH e acidez do alimento enlatado; - Presença ou não de enxofre; - O processo térmico a ser empregado; - O tipo de estampagem escolhida para a peça revestida. - 4.2.3.2.1 - Controle de qualidade dos revestimentos a. Determinação da camada seca de esmalte ou verniz: A determinação da camada seca é de grande importância no estudo da proteção que esse revestimento poderá oferecer ao produto alimentício com o qual esta em contato. O objetivo do teste é determinar a valor unitário da camada de verniz agregada à lata. A retirada da camada de verniz é efetivada por meio de um solvente apropriado. O resultado é expresso em mg/por l² ou mg/cm². b. Porosidade: A porosidade dos revestimentos orgânicos pode ser avaliada com o auxílio de reagentes químicos como SBCl3 ou CUSO4 + HCL, que revelam as descontinuidades do verniz. Após o ensaio é realizada a contagem do número de poros. Outro ensaio é realizada a contagem do número de poros. Outro ensaio baseia em métodos eletroquímicos, os quais determinam as correntes existentes entre um eletrodo e a lata quando esta contém um meio eletrolítico (NACL, ácidos, etc.). Quanto maior se for a corrente maior será a porosidade da camada de verniz. c. Identificação dos vernizes: Muitos métodos têm sido apresentados na identificação dos vernizes, principalmente das famílias a que os mesmos pertencem (óleo- resinosos, epóxi, etc.). Atualmente o desenvolvimento nesta área não permite que se determine exatamente o tipo sem o auxílio da técnica de espectrofotometria de infravermelho. Normalmente este equipamento possui um custo elevado e impossibilita que pequenas e medias empresas possam adquiri-lo, portanto sugere- se, que se procurem institutos ou universidades que o possuam para uma identificação mais acurada desses vernizes. Os ensaios apresentados podem ser realizados se houver a necessidade de equipamentos específicos, portanto possíveis de serem introduzidos no controle de qualidade da indústria de embalagens. Evidentemente, existem outros ensaios que podem ser introduzidos pela indústria, ou então pode-se recorrer a laboratórios credenciados com vista a sua realização. yagosoh Highlight Embalagens Metálicas Capítulo 4 35 Tabela 2 - Principais características e utilização dos revestimentos óleo-resinosos. REVESTIMENTOS ÓLEO-RESINOSOS (GOMAS NATURAIS) Tipos de Revestimentos Características Lata-C-esmaltada O revestimento contém pigmentos com compostos de zinco. pigmentos com compostos de zinco. Uso: Alimentos sulfurados (ricos em S) Esmaltes sanitários Similares às latas C-esmaltadas, porém sem compostos de Zn. Uso: alimentos cítricos e alguns produtos em salmoura que não contenham enxofre. Fonte: EVANGELISTA (1994) Tabela 3 - Principais características e utilização dos revestimentos e sintéticos. REVESTIMENTOS SINTÉTICOS (OBTIDOS POR SÍNTESE) Revestimentos fenólicos Caracterizam-se por sua ótima resistência física, porém pouca resistência relativa; por causa desta particularidade utilizam-se camadas finas. Essa característica e a de ter preço alto equilibram a aplicação destas delgadas películas. São empregados para cobrir ambas as faces de latas destinadas ao acondicionamento de pescado, carnes e determinados vegetais. Revestimentos de epoxi Utilizados em formas simples ou misturados com outros revestimentos: epoxi-esteres, epoxi-fenólicos, epoxi-vinílicos. Têm várias qualidades positivas, como flexibilidade, adesividade e resistência química; a par dessas propriedades, uma particularidade negativa: os revestimentos de epoxi são débeis aos tratamentos a vapor. Internamente, são aplicados em latas à pressão e como revestimento básico (envases de bebidas carbonatadas). Epoxi-fenólicos: entre inúmeras e excelentes características se destacam a sua flexibilidade, capacidade adesiva e resistência física ao ressecamento e ao processamento. Usados em latas para embalar carnes. Epoxy + vinilo: empregados em embalagens para cervejas. Revestimentos de polibutadieno Usados em latas para envasar cerveja (em camada dupla),bebidas carbonatadas ou não e frutas e hortaliças (camada única). Com óxido de zinco, podem ainda ser utilizadas em latas contendo produtos com enxofre. Embalagens Metálicas Capítulo 4 36 Revestimentos vinílicos Alto preço, maior que o dos revestimentos óleos-resinosos. Propriedades excelentes; latas com cervejas e refrigerantes não transmitem nenhum sabor desagradável, pois a fina camada no interior da lata é resistente mecânica e quimicamente. Seus pontos fracos: pequena adesividade para a folha de flandres simples, mesmo recobrindo revestimento básico, os vinis ficam vermelhos e se soltam das latas, se estas são tratadas por vapor, em calor elevado. Nos revestimentos comuns de vinilo, as resinas são dissolvidas em solventes; nos organossóis, resinas de alto peso molecular e de grande resistência química, são dispersas do mesmo modo em que os pigmentos são dissociados nas tintas para pintura de automóveis. Pelo coamento dos organossóis, a frações dispersas de resina se fundem, com auxílio de plastificantes, formando um filme. Por sua particular flexibilidade, os organossóis oferecem coberturas mais espessas. Resinas acrílicas Utilizadas, de preferência, como litografia externa da lata. Sua propriedade principal é a claridade (ausência de cor). Boa resistência a temperaturas elevadas. Tabela 4- Propriedades gerais dos vernizes. Tipos de Vernizes Propriedades Acrílico Epoxi- fenóli- co Óleo resi- noso Fenólico Polibutadieno Vinílico SABOR 1 1 2 2 2 1 FLEXIBILIDADE 1 1 1 2 2 1 ADERÊNCIA 1 1 1 1 1 2 COR 1 3 2 3 2 1 CUSTO 3 2 1 1 1 3 RESISTÊNCIA À SOLDAGEM 1 1 2 1 1 3 RESISTÊNCIA ÁCIDA 1 1 1 1 1 1 ESCALA : 1 = bom; 2 = regular; 3 = ruim. Fonte: EVANGELISTA (1994) Embalagens Metálicas Capítulo 4 37 Tabela 5 - Tipos de revestimentos sintéticos. REVESTIMENTOS FENÓLICOS REVESTIMENTOS DE EPOXY REVESTIMENTOS DE POLIBUTADIENO Simples Fenólico-vinilo Simples Epoxi-fenólicos Epoxi + vinilo Simples Polibutadieno + vinilo Fonte: EVANGELISTA (1994). Além destes revestimentos temos ainda os revestimentos vinílicos e as resinas acrílicas. 4.3 - Alumínio O alumínio é produto da hidrólise de alumina pura, que por sua vez, se origina da bauxita tratada. Quando empregado em escala industrial, o alumínio requer propriedades especiais que só podem ser obtidas a partir de ligas com outros metais. Assim, é possível melhorar sua resistência mecânica, característica de deformação e resistência à corrosão ácida. As embalagens de alumínio podem ser rígidas ou flexíveis; o grau de rigidez deste metal depende da espessura de sua folha, da qualidade de sua liga e têmpera e do feitio e tamanho da embalagem.Como exemplo, Madi e Ortiz, citados por SOLER et alii (1991), colocam os seguintes elementos como os principais constituintes de ligas com alumínio: - Cobre: reduz sensivelmente a resistência à corrosão; - Magnésio: melhora a resistência à corrosão; - Manganês: aumenta um pouco a resistência à corrosão; - Ferro: é provavelmente o responsável mais freqüente pela corrosão por microfuros. O alumínio, como material de embalagem, oferece vantagens e desvantagens: Tabela 6 - Principais vantagens e desvantagens do alumínio como material de embalagem. VANTAGENS DESVANTAGENS É átoxico; Fraca resistência à corrosão ácida; Por sua grande maleabilidade, permite vários processos de deformação plástica: extrusão, estiramento, estampagem, etc; Por sua moleza em relação à folha de flandres, é de mais difícil agrafagem; Tem ação protetora contra o calor; Durante a esterilização em autoclave, necessita de dispositivos de compressão, por não tolerar altas pressões; É leve; É resistente à corrosão e formação de sulfetos; Embalagens Metálicas Capítulo 4 38 É impermeável aos gases e à umidade; Demonstra elevada capacidade de refletir; Tem reduzido poder emissivo; Tem baixa densidade: 2,7 contra 7,8 do ferro; Apresenta apreciável condutividade térmica (os alimentos podem ser cozidos na própria embalagem); Não provoca enegrecimento no interior da lata (formação de sais incolores e inofensivos ao conteúdo); Não confere cheiro ou sabor metálico; Possibilita fácil transporte; Comparativamente, é de maior disponibili- dade, como matéria-prima; Sua reciclagem é economicamente viável; Facilidade na abertura das latas. Fonte: EVANGELISTA (1994) Pode-se dizer que os produtos onde o pH está compreendido entre 7,8 e 8,5 não atacam o alumínio sendo esta uma faixa que abrange uma gama de produtos alimentícios. Por outro lado, na presença de soluções condutoras (soluções de ácidos orgânicos) devem ser examinadas as possibilidades de corrosão. Sendo possível, faz-se a proteção necessária do metal. Uma solução viável consiste em se aplicar uma cobertura de verniz, como o epoxi- vinílico ou o epoxi-fenólico que são considerados excelentes. Uma outra solução seria a anodização que consiste em aumentar a espessura da película de alumínio. Sua espessura natural é inferior a 0,1, sendo que após a anodização são obtidos valores de espessura de 4 a 10, considerados geralmente bons para embalagem. 4.4 - TIPOS DE LATAS Quanto ao tipo de latas, de modo geral, encontram-se atualmente as seguintes possibilidades: latas de três partes e latas de duas partes. Para compotas, néctares e sucos, os tipos de latas empregadas são constituídos de um corpo normalmente cilíndrico e duas tampas (lata de três partes). A escolha dos materiais de embalagem para fabricação dessas latas está intimamente ligada ao produto a ser enlatado. As variáveis neste caso podem ser as seguintes: Embalagens Metálicas Capítulo 4 39 - corpo de folha-de-flandres e tampas de folha-de-flandres; - corpo de folha-de-flandres com fundo de folha não revestida e tampa de alumínio; - corpo de folha-de-flandres e tampa de folha cromada; - corpo de folha cromada, fundo de folha cromada e tampa de alumínio; Para produtos de massa (goiabada, por exemplo) podem ser empregadas latas de duas partes (corpo e tampa). As combinações dos materiais de embalagem neste caso são: - corpo de folha-de-flandres e tampa de folha-de-flandres; - corpo de folha-de-flandres e tampa de alumínio; - corpo de folha cromada e tampa de folha-de-flandres; - corpo de folha cromada e tampa de alumínio. As latas de alumínio possuem uma diferença essencial, quando comparadas às descritas anteriormente, que é o seu modo de fabricação. As latas de chapas de aço são obtidas pelas etapas de agrafagem do corpo e posteriormente a recravação do fundo e da tampa. Este modo de fabricação não se compatibiliza com o alumínio, visto que a soldagem da agrafagem é dificultada pela existência de estanho. Quase que na sua totalidade as latas de alumínio são compostas de duas partes: o corpo e a tampa. Segundo LAGHI (1979) a opção por embalagens de duas peças apresenta vantagens e desvantagens, dentre elas destacam-se : Vantagens: - não requerem a aplicação de solda, eliminando, desta forma, a presença de metais pesados como o chumbo; - não possuem agrafagem, eliminando os riscos de microvazamentos na junção (agrafagem e recravação) existente nas latas de três peças; - apresentam uma melhor "acomodação" do produto (pescado) ou apresentação e facilidade de consumo (doces de massa); Desvantagens: - produção com menor velocidade, quando comparadas às latas de três peças; - maior descarte de folha de flandresdurante a fabricação, com um custo final relativo superior às latas cilíndricas de três peças; - o verniz interno precisa apresentar propriedades específicas de adesão e efeito lubrificante, devido à operação de estampagem dos corpos; - maior custo de ferramentas, tanto para a manutenção como reposição, se comparado às velocidades de produção das latas de três peças; Embalagens Metálicas Capítulo 4 40 - as latas retangulares apresentam sérias dificuldades de recravação da tampa, com maior risco de microvasamento nas arestas. Tabela 7 - Características das latas usadas para embalagem de produtos de origem vegetal e animal. Produto Dimensões das latas Revestimento de estanho Revestimento interno-verniz Tipo de Aço-base Corpo Fundo Corpo Fundo L MR Abacaxi 307x409 603x700 211x414 75-25 75-25 Branco Branco X Abóbora 303x406 401x411 603x700 50-25 50-25 V V X Ameixa Preta 401x411 603x700 303x406 75-25 75-25 V* V X Aspargo HTF 303x406 211x400 603x700 135-25 25 25 25 Branco V V V X X Azeitonas 301x411 300x407 211x200 25 25 V* V X Batata 303x406 603x700 303x406 25 25 V V X Batata Doce 404x307 603x700 303x406 50-25 50-25 V* V X Beterraba 303x406 603x700 211x304 50-25 50-25 V* V X Cebola 211x304 603x700 50-25 50-25 V* V X Embalagens Metálicas Capítulo 4 41 303x406 Chucrute 303x406 401x411 603x700 100-25 25 Branco V X Cenoura 303x406 603x700 211x304 50-25 75-25 50-25 25 V* Branco V V X X Cereja 303x406 603x700 211x304 75-25 75-25 V* V X Cogumelo 211x212 202x204 211x300 50-25 25 Branco V X Ervilha 303x406 603x700 211x304 25 25 V V X Feijão c/ Carne de Porco em Molho de Tomate 300x407 307x214 307x510 25 25 V V X Feijão Verde HTF 303x406 603x700 211x304 100-25 50-25 25 25 50-25 25 Branco V* V* V V V X X X Framboesa 303x406 603x700 211x304 75-25 75-25 V* V X Geléia de Frutas/Frutas coloridas incluindo maçã 603x700 401x411 303x406 75-25 75-25 V* V X Milho 303x406 307x306 25 25 V V X Embalagens Metálicas Capítulo 4 42 603x700 Pasta de Tomate HTF 603x700 401x411 303x406 75-25 25 75-25 25 V V V V X X Pêra 303x406 401x411 603x700 75-25 25 Branco V X Pêssego 401x411 303x406 603x700 50-25 25 Branco V X Picles 603x700 303x406 211x304 100-25 100-25 V* V X Purê de Tomate HTF 603x700 401x411 303x406 75-25 25 75-25 25 V* V V V X X Quiabo 303x406 401x411 211x304 100-25 25 Branco V X Salada de Frutas 303x406 603x700 401x411 50-25 25 Branco V X Spagheti com Molho de Tomate 401x602 211x410 404x309 25 25 V* V X Suco de Abacaxi 404x700 211x414 307x409 75-25 75-25 Branco Branco X Suco de Grapefruit 404x700 307x409 202x314 75-25 75-25 Branco Branco X Suco de 404x700 75-25 75-25 Branco Branco X Embalagens Metálicas Capítulo 4 43 Laranja 211x212 307x409 Suco de Maçã 404x700 202x308 202x314 50-25 25 W* W X Suco de Tomate HTF 404x700 202x308 303x406 50-25 25 25 25 W* V W V X X Suco de Uva 404x700 202x314 202x308 75-25 25 W* W X Arenque 607x406x108 #1 (oval) 300x407 25 25 V V X Atum 307x113 211x109 401x205 25 25 V V X Camarão 307x113 211x300 301x106 25 25 V* V X Caranguejo 307x200 307x113 401x211 25 25 W W X Carne Refrigerada Fundo com Alumínio Anódico 314x202x304 314x202x201 400x400x100 25 25 25 25 V* V V X X Carne Cozida 401x309 300x407 211x300 25 25 V V X Corned Beef 25 25 V V X Embalagens Metálicas Capítulo 4 44 Frango 307x109 404x700 303x109 25 25 W W X Lagosta 211x400 211x203 208x314 25 25 W W X Marisco 307x202 404x700 211x400 25 25 V V X Ostra 211x400 211x300 211x304 25 25 V V X Presunto Refrigerado com Alumínio Anódico 710x506x300 904x606x308 512x400x211 25 25 V* V X Salmão 301x411 307x200 301x106 25 25 V V X Sardinha c/ molho de tomate ou mostarda (lata em 2 partes) 405x301x014, 5 Al 50-25 Al 25 V V V V X Sardinha em óleo (lata de alumínio em 2 partes) 405x301x014, 5 Al 25 Al 25 V V V V X X Notação: V – Uma camada de verniz W – Duas camadas de verniz * – Envernizamento da agrafagem após soldagem Al – lata de alumínio Embalagens Metálicas Capítulo 4 49 4.5 Controle de Qualidade dos Recipientes metálicos a. Exame de recravação O exame de recravação é o mais importante fator associado a integridade do produto alimentício. A vida do produto depende diretamente da vedação que essa recravação dará ao recipiente em relação ao ambiente externo. Define-se como recravação a operação responsável pela junção da tampa ao corpo da lata.suas dimensões, muitas vezes, são os fatores que diferenciam uma boa lata de uma que apresenta vazamento. No exame de recravação é comum a verificação das dimensões básicas, como altura, espessura, profundidade do rebaixo, comprimento dos ganchos do corpo e da tampa e porcentagem de sobreposição (“overlap”). A figura apresenta um corte esquemático de uma recravação, indicando cada uma das dimensões relacionadas acima. O exame de recravação pode ser realizado através de um projetor de recravação (com aumento de 40 vezes), onde podem ser obtidas as medidas dos diferentes elementos que compõem a recravação ou através do exame visual direto. O exame direto consiste em observar a recravação, externamente, em toda a sua extensão, realizando medidas necessárias para se comprovar se o fechamento foi correto. Devem ser notadas todas as anomalias ou detalhes que indiquem a presença de possíveis defeitos. As medidas da espessura, altura e profundidade do rebaixo devem ser determinadas através de um micrômetro. Uma vez de posse das medidas externas a recravação deve ser desmontada com o auxilio de ferramental próprio e então determinados os comprimentos dos ganchos do corpo da tampa. Deve-se observar também a presença de rugas nesses ganchos, pois estas em excesso, poderão comprometer a vedação da recravação. O cálculo da porcentagem de sobreposição é de fundamental importância, pois o seu valor é um dos principais parâmetros de avaliação do fechamento e da vedação das embalagens metálicas. Costuma-se aceitar o valor de 40% como o mínimo para a porcentagem de sobreposição. Medições mínimas: Largura* (não essencial se a sobreposição é medida oticamente) Espessura (opcional) Rebaixo (desejável, mas não essencial) Gancho do corpo* Gancho de tampa* (requerido se for usado micrômetro) Sobreposição* (essencial se usado sistema ótico) Aperto ou enrugamento * Exigências essenciais. Embalagens MetálicasCapítulo 4 50 b. Análise visual interna das latas (1) O exame visual interno das latas deve e pode ser efetuado por todas as indústrias que as utilizem. Esta análise pode ser realizada tanto nas latas novas, como naquelas que já contiveram produtos alimentícios, envernizadas ou não. No caso e latas novas, deve-se atentar para os seguintes detalhes: ferrugem, manchas, corpos estranhos, borrifos de solda interna e na agrafagem. Quando as mesmas foram envernizadas, deve-se observar a região da agrafagem com atenção, bem como, toda a área do corpo e das tampas. Este exame é fundamental na liberação do lote de latas, pois poderá ser responsável pelo uso de embalagens inadequadas que fatalmente provocaram problemas ao produto alimentício. Quando a lata foi utilizada, deve-se atentar principalmente para os seguintes aspectos: grau de corrosão, verniz destacado, porosidade do verniz, danos advindos do manuseio da folha-de-flandres durante a fabricação da lata. Este exame auxilia na interpretação de outras análises conduzidas paralelamente, tais como migração de metais ou presença de hidrogênio no espaço livre das embalagens. 4.6 CORROSÃO DE EMBALAGENS METÁLICAS POR PRODUTOS ALIMENTÍCIOS O ponto fraco das embalagens metálicas, como material para acondicionamento de alimentos, é a sua susceptibilidade à corrosão, podendo sofrer ataque de certos componentes do produto em menor ou maior proporção, dependendo do tipo de embalagem metálica empregado. Este ataque químico é fraco na maioria dos casos e seus efeitos não alteram sensivelmente a apresentação nem a qualidade dos alimentos. Porém, em determinados casos, o ataque pode causar alterações graves: estufamento da lata devido à excessiva produção de H2; perfuração da mesma; completo desestanhamento do interior; desenvolvimento de sabor e/ou cor estranha, indesejáveis no produto; etc. O grau de corrosão que um alimento provoca sobre uma embalagem metálica depende de vários fatores: a natureza do alimento, a temperatura de estocagem, a qualidade do revestimento e a camada de verniz protetor, caso haja. No caso da folha-de-flandres o estanho se dissolve mais lentamente em ácidos do que o ferro. Devido a sua tensão de dissolução, o ataque do estanho pelos alimentos é consideravelmente mais lento que o do ferro. A consistência do produto alimentício exerce grande influência na velocidade de corrosão. A corrosão será menos intensa quanto maior for a viscosidade ou a consistência apresentada pelo alimento na embalagem. Por exemplo, uma marmelada de frutas bem geleificada, é menos corrosiva do que a mesma fruta triturada ou em calda. O oxigênio do ar, presente no espaço livre das conservas, ou ocluso no próprio produto, tem uma influência marcante na corrosão interior da embalagem. Por este motivo, Embalagens Metálicas Capítulo 4 51 principalmente, procura-se na fabricação de conservas reduzir ao mínimo a proporção de oxigênio presente nas embalagens. Para isso recorre-se a diversos procedimentos, tais como, o branqueamento dos frutos, a desaeração dos líquidos (caldas, sucos concentrados, etc.), o preenchimento a quente, o pré-aquecimento dos recipientes cheios antes de se fechar (exaustão), a injeção de vapor no espaço livre e o fechamento a vácuo em atmosfera inerte. Alguns produtos químicos presentes nos alimentos, ou a eles incorporados, que têm uma acentuada influência na velocidade, extensão ou tipo de corrosão interior das embalagens de folhas-de-flandres, merecendo ser destacados os compostos de enxofre, os nitratos e os ânions complexos. BEZERRA e GUIMARÃES (1998) sugerem a divisão dos alimentos em quatro classes que agrupam comportamentos semelhantes em relação ao acondicionamento em embalagens metálicas: produtos sulfurados, produtos pouco agressivos, produtos ácido- agressivos e produtos não agressivos. a. Produtos sulfurados São aqueles que possuem proteínas ricas em enxofre, como a metionina, que se decompõe durante o tratamento térmico, liberando compostos de enxofre que se combina com o estanho e o ferro da lata. Entre esses produtos destacam-se: milho, ervilha, couve- flor, pescados, carne e crustáceos. Esses compostos reagem facilmente com o estanho presente na lata de folha de flandres produzindo o sulfeto de estanho. Esse fenômeno é conhecido por marmorização, e possui coloração violeta. Na presença de ferro, principalmente no espaço livre das latas, pode se formar também o sulfeto de ferro, de característica preta e pulverulenta (semelhante a pó). O processo de passivação e o uso de vernizes adequados podem minimizar o problema. Latas cromadas envernizadas também são uma solução, pois o sulfeto de hidrogênio não reage com o cromo. Os alimentos sólidos (carnes, pastas, peixes) necessitam de vernizes impermeáveis aos íons de enxofre, tais como os fenólicos, alguns epóxi-fenólicos ou óleo-resinosos. Neste último pode-se adicionar pasta de alumínio, para melhorar a barreira protetora e mascarar a marmorização. Para produtos que contenham uma fase líquida (vegetais em salmoura) o sulfeto de hidrogênio fica no espaço livre da lata, necessitando portanto de verniz óleo-resinoso com óxido de zinco. O óxido de zinco reage com o sulfeto de hidrogênio formando sulfeto de zinco, que é incolor, ao contrário dos sulfetos de ferro e estanho que são de cor escura. Latas cromadas envernizadas é uma solução para essa classe de produtos, pois cromo não reage com os sulfetos. Esta solução é utilizada preferencialmente para latas de duas peças (sardinha por exemplo). Como nenhuma dessas soluções é 100% eficaz, pode ser tomadas algumas precauções:: - evitar adição de substâncias ricas em anidrido sulfuroso (metabissulfito de sódio, açúcar refinado,etc); Embalagens Metálicas Capítulo 4 52 - evitar prejuízos ao verniz interno; - adotar um coeficiente de enchimento adequado; - resfriar o alimento imediatamente após a esterilização. b. Produtos pouco agressivos Entre os produtos pouco agressivos encontram-se aqueles que se beneficiam com a presença do estanho, pois este os auxilia na conservação da cor e sabor destes produtos, porém como o teor de estanho pode aumentar muito no produto final, é aconselhável o uso de vernizes. Como exemplos destes produtos, podemos citar o aspargo, a batata, o cogumelo, o palmito, o pêssego e o feijão branco que, na ausência do estanho sofrem escurecimento, pois são sensíveis ao ferro. Para evitar o escurecimento dos produtos, muitas soluções foram pesquisadas, tais como adição de cloreto de estanho no aspargo (25 ppm), deixar uma parte da lata descoberta (faixa de 2cm), deixar um filete de estanho nas dobras da lata. Produtos de tomate, vagem, alguns sucos, saladas de frutas, feijão e pescado com molho de tomate, espinafre, alcachofra, feijoada e compotas de frutas pouco agressivas e que não contenham antocianinas, como o abacaxi e a pêra, é recomendado o uso de latas envernizadas, pois isto reduzirá a corrosão e melhorará o aspecto interno da lata no momento de sua abertura. c. Produtos ácido-agressivos A corrosão ácida, produzida principalmente pelos ácidos dos alimentos, é o tipo de corrosão mais freqüente e de maior interesse nas indústrias de alimentos. Vegetais que possuem antocianinas, com morango, cereja, acerola, ameixa, beterraba e uva têm sua cor alterada pela ação redutora do estanho, portanto necessitam de latas envernizadas. Produtos ácidos como suco de laranja, abacaxi e limão podem produzir corrosão em pontos da lata, sendo necessário, às vezes, a aplicação de duas camadas de vernizes.
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