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128 Unidade IV Unidade IV Abordaremos o complexo da articulação temporomandibular (ATM) através de sua anatomia e biomecânica, além da inspeção e palpação de algumas estruturas ósseas e de tecidos moles. Também falaremos sobre a coluna vertebral, apresentando uma descrição geral dessa articulação e, depois, mais especificamente, dos movimentos e da musculatura da coluna cervical, torácica e lombar. Vamos ressaltar a importância de alguns testes utilizados, como o teste dos miótomos e a palpação para a identificação de pontos-gatilhos ou alterações de sensibilidade. Por último, discutiremos a avaliação postural, utilizando como referência a posição anatômica e os eixos e planos de movimentos. 7 COMPLEXO DA ARTICULAÇÃO TEMPOROMANDIBULAR 7.1 Descrição Anatomia e biomecânica A articulação temporomandibular (ATM) está inserida em um complexo denominado de sistema estomatognático, que comporta subsistemas como a fala, a mastigação, o sistema respiratório e a deglutição (BIASOTTO-GONZALEZ, 2005). Sua complexidade vai além: em razão do íntimo relacionamento com a coluna cervical através dos componentes estruturais que influenciam direta e indiretamente a postura mandibular, devemos considerar a participação estrutural e mecânica da cabeça e do pescoço (NEUMANN, 2015). A ATM é uma articulação do tipo sinovial, condiliano e gínglimo, que corresponde às estruturas entre a fossa articular do osso temporal bilateralmente e os côndilos mandibulares. É, ainda, uma articulação interdependente. Uma em cada lado da mandíbula deve ser considerada em conjunto em qualquer tipo de observação. Entre suas estruturas ósseas, há o disco intra-articular, que divide completamente suas cavidades. Seu revestimento é diferenciado, de fibrocartilagem, com discreto poder de reparo, e não de cartilagem hialina (MAGEE, 2006). Os estabilizadores estáticos são os ligamentos que se encontram nas paredes laterais da articulação e sua cápsula articular, que possui maior mobilidade em sua porção anterior e posterior e maior poder estabilizador em sua porção laterolateral. Além disso, a cápsula oferece uma pressão negativa de empuxo que também favorece a estabilidade dessa articulação (NEUMANN, 2015). 129 SEMIOLOGIA APLICADA À FISIOTERAPIA Observação Pelo fato de a ATM estar inserida em um conjunto de subsistemas, vale lembrar que a avaliação das disfunções temporomandibulares, bem como o tratamento específico vigente, pode agregar uma equipe multiprofissional para uma avaliação mais específica e criteriosa. As articulações em conjunto realizam, principalmente, movimentos para a direção anterior (abertura) e em menor proporção para os lados (lateralidades). Durante o movimento de abertura da boca, ocorrem a translação e a rotação dos côndilos na fossa. A proporção em mm para a amplitude desses movimentos é de 4 x 1; a cada 4 mm de abertura, temos 1 mm de lateralidade. As articulações são inervadas pelo nervo mandibular, mais precisamente por seu ramo auriculotemporal. O disco, por sua vez, não possui inervação e vascularização em sua zona intermediária, somente em sua periferia. Para os movimentos e como estabilizadores dinâmicos, é de grande valia a sinergia dos músculos da cabeça e também do pescoço. Existe uma íntima relação dessas articulações com a coluna cervical e o complexo do ombro. Isso é resultado das estruturas musculares biarticulares que cruzam essas estruturas e possuem funções em comum. Por esse motivo, a avaliação e a inspeção da ATM devem ocorrer em conjunto com a observação e a avaliação clínica dessas outras estruturas (BIASOTTO-GONZALEZ, 2005). Saiba mais Estudos recentes mostram a associação das disfunções temporomandibulares com as condições de cefaleias e os fatores psicossociais. Para maior suporte do avaliador, existem questionários que podem auxiliar o clínico e facilitar a observação da influência dessas alterações nos pacientes. Para conhecer mais detalhes desses estudos, sugerimos a leitura do texto a seguir: PELICIOLI, M. et al. Physiotherapeutic treatment in temporomandibular disorders. Revista Dor, v. 18, n. 4, out./dez. 2017. 130 Unidade IV 7.2 Exame físico A seguir, detalharemos o exame físico. Em posição de repouso, considerar a boca discretamente aberta. Os lábios ficam próximos um do outro, e os dentes não estão em contato: Figura 137 Em congruência máxima, os dentes se encontram cerrados: Figura 138 131 SEMIOLOGIA APLICADA À FISIOTERAPIA O padrão capsular corresponde à limitação da abertura bucal em amplitude máxima: Figura 139 7.2.1 Geral Veremos a seguir os aspectos analisados no exame físico. Inspeção e observação • Marcadores anatômicos: — osso frontal; — osso temporal; — osso parietal; — occipital; — zigomático; — maxilar; — mandíbula; — côndilo; — nasal. 132 Unidade IV Palpação • Estruturas ósseas: — Mandíbula: – Côndilos: os côndilos são palpados de forma simultânea bilateralmente. Para ter certeza do posicionamento, pode-se solicitar ao paciente que realize leve abertura e fechamento da boca. Nesse movimento, o terapeuta sentirá o deslizamento dos côndilos em seus dedos. – Colo: o colo se encontra exatamente inferior ao côndilo e também é palpado bilateralmente. – Ramo: seguindo para o ângulo, o examinador será capaz de sentir toda a extensão dos ramos mandibulares. – Ângulo: os ângulos são as porções mais inferiores da mandíbula. Apontam para o mento, formando com os ramos uma angulação de 90 graus. – Mento: o mento é a porção mais anterior e proeminente da mandíbula. Corresponde ao término da palpação óssea desse osso, que é o mento. — Zigomático: – Arco zigomático: o arco zigomático é palpado bilateralmente na região superior das bochechas. Observa-se, aqui, a origem proximal do músculo masseter. — Hioide: está localizado na região superior da coluna cervical em sua porção anterior. O osso hioide não está articulado a nenhum outro osso; sua estabilidade, no entanto, se dá apenas por tecidos moles, como músculos e ligamentos. Pode ser testada sua mobilidade laterolateral através de uma pegada em pinça com o dedo polegar e médio. — Osso temporal: osso fino que recobre lateralmente a calota craniana. Possui três porções distintas: escamosa, petrosa e timpânica. — Osso frontal: palpacão superior às sobrancelhas até a face mais anterior do couro cabeludo. — Ossos parietais: direito e esquerdo; pode-se averiguar discrepâncias nas alturas através da sutura. — Osso occipital: porção mais posterior da cabeça. Nessa região, é possível observar alterações dos músculos curtos de pequeno braço de alavanca, que correspondem à cervical superior. 133 SEMIOLOGIA APLICADA À FISIOTERAPIA Articulação temporomandibular A figura a seguir apresenta a palpação lateral e posterior: Figura 140 – Palpação lateral e posterior • Tecidos moles: — Músculo masseter: a palpação desse músculo deve acompanhar o trajeto desde sua origem proximal no arco do osso zigomático, seguindo na direção de suas fibras, até sua inserção distal no corpo da mandíbula. Figura 141 – Palpação do músculo masseter — Músculo temporal: este é um músculo penado com origem proximal vasta na fossa do osso temporal. A direção de suas fibras se estendem para a região dos processos coronoides da mandíbula. 134 Unidade IV Figura 142 – Palpação do músculo temporal — Músculo pterigoideo medial: os pterigoideos mediais estão inferiores aos masseteres com inserção na face posterior do ângulo da mandíbula. Figura 143 – Palpação do músculo pterigoideo medial — Músculos supra-hioideos: os músculos supra-hioideos se encontram entre a porção inferior da mandíbula e superior do osso hioide. São eles, respectivamente: – digástrico; – estilo-hioideo; 135 SEMIOLOGIA APLICADA À FISIOTERAPIA – milo-hioideo; – gênio-hioideo. Alça fibrosa para o tendão digástrico intermediário Músculo masseter Glândula parótida Platisma (removido) Processo mastoide Osso hioide Bainha carotídea Cartilagem cricoideMúsculo esternotireoideo Espaço supra-esternal (de Burns) Incisura jugular Manúbrio esternal Músculo peitoral maior Músculo deltoide Músculo trapézio Clavícula Cabeça clavicular do músculo esternocleidomastoideo Ventre inferior do músculo omo-hioideo Músculos escalenos Músculos esterno- hioideo (intacto) Ventre superior do músculo omo-hioideo (intacto) Músculo tíreo-hioideo Artéria carótida externa Veia jugular interna Músculo digástrico (ventre posterior) Músculo estilo-hioideo Glândula submandibular Músculo milo-hioideo Músculo digástrico (ventre anterior) Cabeça esternal do músculo esternocleidomastoideo Fáscia cervical superficial (recobrindo) e margem seccionada Fáscia visceral (pré-traqueal) sobre a glândula tireoide e traqueia Cartilagem tireoide Fáscia dos músculos infra-hioideos Figura 144 – Músculos da região anterior do pescoço Movimentos ativos Os movimentos ativos devem ser solicitados para inspeção. Dá-se o comando verbal para que o paciente realize de forma ativa os movimentos de abertura e fechamento, a lateralização direita e esquerda, a protusão e a retração. O avaliador observa se há assimetrias entre os lados, restrição e qualidade dos movimentos analisados e presença de desconforto, estalido ou dor. 136 Unidade IV A) B) Figura 145 – Avaliação da abertura da boca com paquímetro (A) e régua (B) Para mensurar as amplitudes ativas da articulação temporomandibular, pode-se utilizar régua ou paquímetro. As amplitudes são avaliadas em milímetros. • Abertura: como padrão de normalidade, considera-se arco de movimento de 40-45 mm. • Lateralidade E e D: para os movimentos de lateralidade, consideramos a relação de 4 para 1, sendo a cada 4 mm de abertura 1 mm de lateralidade. 137 SEMIOLOGIA APLICADA À FISIOTERAPIA Figura 146 – Avaliação da lateralidade • Protusão: o paciente projeta para anterior a mandíbula. A mensuração é realizada em milímetros, e o movimento é realizado através da ação simultânea dos pterigoideos. Figura 147 – Avaliação da protusão • Retração: o paciente projeta para posterior a mandíbula. A mensuração é realizada em milímetros, e o movimento acontece através da ação simultânea dos músculos temporais bilateralmente. 138 Unidade IV Figura 148 – Avaliação da retração Para correção das medidas, consideramos o alinhamento dos incisivos centrais a fim de observar as diferenças estruturais. As correções de overbite e overjet mensuram estaticamente as coberturas estruturais. Overbite para a distância em mm que o incisivo superior cobre o inferior, e overjet para a distância dos incisivos em uma relação de distância anteroposterior, observando o transpasse quanto à profundidade. Figura 149 – Avaliação do overbite e overjet 139 SEMIOLOGIA APLICADA À FISIOTERAPIA 7.3 Avaliação clínica Veremos a seguir como é realizada a avaliação da força muscular. Músculos masseter, temporal e pterigoideo medial A figura a seguir demonstra a avaliação dos músculos masseter, temporal e pterigoideo medial: Figura 150 – Avaliação do grupo muscular: masseter, temporal e pterigoideo medial Pterigoideo lateral Veja agora como é feita a avaliação do músculo pterigoideo lateral: Figura 151 – Avaliação do músculo pterigoideo lateral 140 Unidade IV Músculos supra-hioideos A seguir, a figura demonstra como é feita a avaliação do grupo muscular supra-hioideo: Figura 152 – Avaliação do grupo muscular supra-hioideo Ausculta articular É necessário observar o comprometimento intra-articular, como estalidos e crepitações. Figura 153 – Avaliação da ausculta articular da ATM 141 SEMIOLOGIA APLICADA À FISIOTERAPIA Músculos periarticulares A figura a seguir mostra um algômetro/dinamômetro de pressão para mensuração em Nm da sensibilidade dos músculos periarticulares Figura 154 – Instrumento de avaliação: algômetro Mobilidade Durante os movimentos, podemos observar as simetrias estruturais e dinâmicas. É necessário visualizar se ocorre o posicionamento centralizado e alinhado dos incisivos mediais em repouso. Essa é a condição que utilizamos como linha de base para observar as assimetrias encontradas durante os movimentos. Os desvios observados durante os movimentos ativos são descritos como desvio e deflexão. Caracterizamos como desvios as assimetrias observadas durante o movimento de abertura, no qual o indivíduo apresenta um desvio em formato de “S”. Ao término da abertura da boca, é possível observar novamente o alinhamento dos incisivos. Esse padrão de movimento nos mostra possíveis alterações unilaterais dos discos intra-articulares. Para o padrão de abertura em deflexão, observamos, ao término do movimento de abertura, que o mento do paciente (centro do osso da mandíbula) tende a apontar para um dos lados. Esse padrão também caracteriza possíveis disfunções unilaterais da articulação temporomandibular. 7.4 Testes especiais São considerados testes especiais: • Sinal de Chvostek: consiste no espasmo dos músculos periarticulares da articulação temporomandibular. O clínico realiza uma percussão leve na região periauricular do nervo facial. Esse sinal está presente em até 10% dos indivíduos normais. • Teste para sinovite: através da pegada do polegar nos molares, é realizada uma pressão para a direção posterior. • Teste para capsulite: através da pegada do polegar nos molares, é realizada uma pressão para a direção lateral aos molares. 142 Unidade IV • Teste para tendinopatia: através da pegada do polegar nos molares, o clínico realiza uma pressão para a direção anterior. Observação Os testes especiais devem ser utilizados para aumentar a confiabilidade do avaliador para a hipótese diagnóstica. Deve-se considerar o raciocínio clínico a partir da observação da história diagnosticada do paciente, bem como dos movimentos ativos e passivos avaliados. 8 COLUNA VERTEBRAL 8.1 Descrição geral sobre a articulação A coluna vertebral é composta por 33 vértebras, sendo sete na região cervical, 12 na região torácica, cinco na região lombar, cinco na região sacral e quatro que formam o cóccix. No geral, cada vértebra é formada por um corpo vertebral, dois processos transversos laterais, um processo espinhoso posterior, facetas articulares superiores e inferiores e o orifício vertebral. No entanto, para cada região da coluna vertebral, suas vértebras têm características próprias. Na região cervical, suas duas primeiras vértebras, por exemplo, atlas e áxis, localizadas logo abaixo da base do crânio, possuem características diferenciadas do restante das vértebras cervicais. Atlas (C1) Atlas (C1) Áxis (C2) Áxis (C2) C7 C7 T1 T1 T12 T12 L1 L1 L5 L5 Sacro (S1-5) Sacro (S1-5) Vértebras lombares Vértebras torácicas Vértebras cervicais Vista anterior Vista lateral esquerda Vista posterior Sacro (S1-5) Cóccix CóccixCóccix Figura 155 – Imagem ilustrativa da coluna vertebral 143 SEMIOLOGIA APLICADA À FISIOTERAPIA Corpo vertebral Pedículo Processo transverso Processo articular superior Processo mamilar Lâmina Processo espinhoso Processo acessório Forame vertebral Figura 156 – Imagem ilustrativa da 2º vértebra lombar (vista superior) As articulações da coluna vertebral são de dois tipos (sem contar as articulações especiais): diartroses e anfiartroses. As diartroses são as articulações caracterizadas como juntas verdadeiras. Possuem superfície cartilaginosa, cápsula e líquido sinovial. São formadas pelas facetas articulares das vértebras e articulações costovertebrais nas costelas. As anfiartroses não são especificamente articulações, mas permitem movimento, não possuem líquido sinovial e são semimóveis – os discos vertebrais e as junções ligamentares, por exemplo. Entre cada vértebra, em toda a extensão da coluna vertebral, existe o disco intervertebral. O disco é peça fundamental para a funcionalidade da coluna vertebral. Além de agir como um dissipador de energia, evitando sobrecarga direta sobre a articulação, permite, junto com todo o complexoligamentar, mobilidade suficiente para que a coluna seja ao mesmo tempo funcional e estável. Os discos, formados pelo ânulo fibroso, pelo núcleo pulposo e pela placa terminal, também possuem características diferentes em cada região da coluna vertebral. Por exemplo: na região cervical e lombar, os discos assumem uma forma com altura maior na sua parte anterior e, na região torácica, ligeiramente maior em sua parte posterior. Dessa forma, a coluna vertebral assume sua forma lordótica cervical e lombar e cifótica na região torácica. 144 Unidade IV Curvatura torácica Curvatura sacral Curvatura lombar Curvatura cervical São quatro curvaturas na coluna vertebral Figura 157 – Imagem ilustrativa das curvaturas da coluna vertebral Considerando toda a anatomia e a forma dos discos intervertebrais, ele executa papel importante no carregamento e na distribuição das cargas compressivas. Tecido fibroso; bandas concêntricas de 30 graus. Inseridas na parte óssea – Fibras de Sharpey. Colágeno I - periferia / Colágenos II - centro Mucopolissacarídeos; 70/90% água. Maior e mais hidratado L e C. Hidrata e desidrata 30-50% área de secção transversa Placa terminal: cartilagem, osso subcondral Corpo vertebral Corpo vertebral Disco intervertebral Anterior Anterior Posterior Posterior Anel fibroso (AF) Núcleo pulposo (NP) Bandas concêntricas NP AF Figura 158 – Figura ilustrativa do disco vertebral 145 SEMIOLOGIA APLICADA À FISIOTERAPIA Coluna torácica Quando avaliamos a coluna torácica, devemos ter em mente que essa é a região da coluna mais rígida porque é composta, em quase toda a sua extensão, pelo gradil costal, criando uma proteção importante para os nossos órgãos vitais, como coração e pulmão. As 12 vértebras torácicas são maiores que as vértebras cervicais e menores que as vértebras lombares. Possuem processos transversos maiores e duas facetas articulares que se ligam às costelas, formando as articulações costovertebrais (costelas e corpo vertebral), as articulações costotransversais (costelas e processos transversos), as articulações costocondrais (costelas e cartilagem costal) e as articulações esternocostais. Quanto mais inferior analisamos os processos transversos, mais se nota uma perpendicularidade, até que se assemelhem às vértebras lombares. Figura 159 Coluna lombar O segmento lombar da coluna vertebral, devido à sua localização, exerce papel muito importante para a funcionalidade do corpo como um todo. É esse segmento que dá a base necessária para toda a parte superior do tronco e os membros superiores exercerem suas funções, além de dar estabilidade e movimento para todo o membro inferior, transmitindo e absorvendo carga. Portanto, deve ser estável o suficiente para suportar todo o tronco e permitir mobilidade suficiente para que o corpo seja funcional. Possuímos cinco vértebras lombares, que são as maiores de toda a coluna vertebral. Suas facetas articulares são perpendiculares, e as lâminas são amplas. 146 Unidade IV Ainda em relação à sua localização, pela proximidade com articulações adjacentes, como quadril e sacroilíaca, o examinador deve, sempre que avaliar esse segmento da coluna vertebral, atentar-se para essas articulações. Figura 160 - Vétebra lombar (vista superior) e temporal (vista lateral) 8.2 Músculos da coluna vertebral A musculatura que atua diretamente na coluna vertebral está, em sua maior parte, localizada no tronco. É responsável por realizar movimentos fundamentais para a funcionalidade do corpo humano: flexão; extensão; flexão para direita e esquerda; rotação para direita e esquerda e circundução. Além disso, essa musculatura também é responsável por manter a postura ereta, respondendo a todo momento à ação da gravidade através da musculatura antigravitacional. Músculos menores, que possuem sua origem ou inserção diretamente nas vértebras, fazem com que estas se mantenham unidas, exercendo, assim, papel importante na estabilidade da articulação. Possuímos, também, músculos que não estão diretamente ligados à coluna, mas que estão diretamente ligados à sua movimentação – por exemplo, a musculatura abdominal e os músculos da região pélvica. 8.3 Cervical Exame físico Para iniciar a avaliação da coluna cervical, o paciente pode estar sentado ou em pé e deve estar devidamente despido, de maneira que o avaliador consiga avaliar a cintura escapular, as vértebras torácicas, a coluna cervical e a cabeça. O primeiro aspecto a ser observado deve ser a posição da cabeça e do pescoço: se há sinais de torcicolo, se o paciente apresenta um aumento da lordose cervical ou se há uma projeção anterior da cabeça. 147 SEMIOLOGIA APLICADA À FISIOTERAPIA A) B) C) Figura 161 – Vista anterior, posterior e lateral da cervical Outro aspecto importante a se observar é o alinhamento dos ombros, que, se assimétricos, podem indicar contratura ou espasmo muscular na região de trapézio superior ou do músculo elevador da escápula. Devemos lembrar que é comum o membro dominante do paciente ter o ombro levemente mais elevado. Movimentos ativos Durante a avaliação dos movimentos ativos da coluna cervical, o avaliador deve posicionar o paciente em sedestação. Os movimentos ativos a serem realizados são a flexão (80 a 90º), a extensão (70º), a flexão lateral para direita e esquerda (20 a 45º) e a rotação para direita e esquerda (70 a 90º). Já os movimentos passivos podem ser realizados – com o paciente em decúbito dorsal – pelo examinador quando o paciente apresentar alguma amplitude de movimento incompleta, a fim de determinar o end feel do movimento, ou seja, a sensação ao final do arco de movimento, para tentar determinar se a limitação está acontecendo por um bloqueio ósseo, estrutural ou por questões relacionadas ao tecido mole. Para determinar o end feel, o examinador deve realizar passivamente o movimento desejado e, ao final, observar se a resistência para o ganho final da amplitude apresenta uma sensação mais rígida ou se apresenta uma limitação que, passivamente forçada, cede ao movimento. Ainda durante o teste dos movimentos passivos, o examinador pode conseguir identificar a presença de um padrão capsular, que acontece quando existe uma limitação na amplitude de movimento para flexão lateral e rotação com uma extensão sem limitação. 148 Unidade IV A) B) C) D) Figura 162 – Movimentos ativos da coluna cervical Observação Para a articulação atlanto-occipital, observaremos, no início do arco de movimento de flexo-extensão, as alterações pela queixa clínica do paciente. Quanto mais amplo é o movimento, mais níveis inferiores participam do arco. O mesmo pode ser considerado para os movimentos rotacionais. 149 SEMIOLOGIA APLICADA À FISIOTERAPIA Quadro 9 – Dermátomos Ação Músculos Raiz nervosa Flexão anterior da cabeça Reto anterior da cabeça Reto lateral da cabeça Longo da cabeça Músculos hioideos Oblíquo superior da cabeça Esternocleidomastoideo C1-C2 C1-C2 C1-C3 Nervo alveolar inferior Nervo facial Nervo hipoglosso Alça cervical C1 Acessório C2 Extensão da cabeça Esplênio da cabeça Semiespinal da cabeça Longuíssimo da cabeça Espinal da cabeça Trapézio Reto menor posterior da cabeça Reto maior posterior da cabeça Oblíquo superior da cabeça Oblíquo inferior da cabeça Esternocleidomastoideo C4-C6 C1-C8 C6-C8 C6-C8 Acessório C3-C4 C1 C1 C1 C1 Acessório C2 Flexão lateral da cabeça Trapézio Esplênio da cabeça Longuíssimo da cabeça Semiespinal da cabeça Oblíquo inferior da cabeça Reto lateral da cabeça Longo da cabeça Esternocleidomastoideo Acessório C3-C4 C4-C6 C6-C8 C1-C8 C1 C1-C2 C1-C3 Acessório C2 Rotação da cabeça Trapézio Esplênio da cabeça Longuíssimo da cabeça Semiespinal da cabeça Oblíquo inferior da cabeça Esternocleidomastoideo Acessório C3, C4 C4-C6 C6-C8 C1-C8 C1 Acessório C2 Flexão do pescoço Longo do pescoço Escaleno anterior Escaleno médio Escaleno posterior C2-C6 C4-C6 C3-C8 C6-C8 150 Unidade IV AçãoMúsculos Raiz nervosa Extensão do pescoço Esplênio do pescoço Semiespinal do pescoço Longuíssimo do pescoço Levantador da escápula Iliocostais cervicais Espinais do pescoço Multífido Interespinais do pescoço Trapézio Reto maior posterior da cabeça Rotadores curtos Rotadores longos C6-C8 C1-C8 C6-C8 C3-C4 Escapular dorsal C6-C8 C6-C8 C1-C8 C1-C8 Acessório C3-C4 C1 C1-C8 Flexão lateral do pescoço Levantador da escápula Esplênio do pescoço Iliocostais do pescoço Longuíssimo do pescoço Semiespinal do pescoço Multífido Intertransversos Escalenos Esternocleidomastoideo Oblíquo inferior da cabeça Rotadores curtos Rotadores longos Longo do pescoço C1-C8 Escapular dorsal C4-C6 C6-C8 C6-C8 C1-C8 C1-C8 C1-C8 C3-C8 Acessório C2 C1 C1-C8 C1-C8 C2-C6 Rotação do pescoço Levantador da escápula Esplênio do pescoço Iliocostais do pescoço Longuíssimo do pescoço Semiespinal Multífido Intertransversos Escalenos Esternocleidomastoideo Obliquo inferior da cabeça Rotadores curtos Rotadores longos C3-C4 Escapular dorsal C4-C6 C6-C8 C6-C8 C1-C8 C1-C8 C1-C8 C3-C8 Acessório C2 C1 C1-C8 C1-C8 151 SEMIOLOGIA APLICADA À FISIOTERAPIA Quadro 10 – Miótomos Raiz nervosa Ação do teste Músculos C1-C2 Flexão do pescoço Reto lateral, reto anterior da cabeça, longo da cabeça, longo do pescoço, esternocleidomastoideo. C3 Flexão lateral do pescoço Longo da cabeça e pescoço, trapézio, escaleno médio. C4 Elevação do ombro Diafragma, trapézio, levantador da escápula, escaleno anterior e médio. C5 Abdução do ombro Romboides maior e menor, deltoide, supra-espinal, infra-espinal, redondo menor, bíceps, escalenos anterior e médio. C6 Flexão do cotovelo e extensão do punho Serrátil anterior, latíssimo do dorso, infra-escapular, redondo maior, peitoral maior, bíceps, coracobraquial, braquial, braquiorradial, supinador, extensor radial longo do carpo, escalenos anterior, médio e posterior. C7 Extensão do polegar e desvio ulnar Peitoral maior e menor, tríceps, flexor superficial e profundo dos dedos, flexor longo do polegar, pronador quadrado, flexor ulnar do carpo, abdutor longo do polegar, extensor longo e curto do polegar, extensor do dedo indicador, abdutor curto do polegar, flexor curto do polegar, oponente do polegar, escalenos médio e posterior. T1 Intrínsecos da mão Flexor profundo dos dedos, músculos intrínsecos da mão, flexor curto do polegar, oponente do polegar. Teste dos miótomos Para descartar uma possível lesão neurológica, o examinador deve realizar a avaliação dos miótomos cervicais. Para isso, são realizados testes de contração isométrica resistida. 152 Unidade IV A) B) C) D) E) F) G) H) Figura 163 – Avaliação dos miótomos 153 SEMIOLOGIA APLICADA À FISIOTERAPIA Lembrete Para comprometimento de raízes nervosas, o clínico pode utilizar como base as alterações encontradas em dermátomos e miótomos especificamente para identificar a qual nível correspondem os sintomas do paciente. Palpação Durante a palpação da coluna cervical, o examinador deve se atentar à presença de pontos-gatilhos, alteração de sensibilidade, espasmos musculares e outros sinais que podem indicar alguma patologia. Começando com o paciente em decúbito ventral, na região posterior da coluna cervical, a primeira estrutura a ser palpada é a protuberância occipital externa. O examinador palpa a região posterior e inferior do crânio na linha média e move os dedos distalmente até encontrar um gap. A parte óssea encontrada anteriormente ao gap é a protuberância occipital externa. Ainda posteriormente, o examinador pode palpar os processos espinhosos e as facetas articulares das vértebras cervicais. O primeiro processo espinhoso mais evidente a ser palpado é o de C2. Escorregando os dedos posteriormente, podemos palpar o processo espinho de C1, menos evidente. Outro ponto importante durante a palpação dos processos espinhosos é que, para localizar e diferenciar a vértebra C6 de C7, o examinador pode realizar a flexão e a extensão passiva, observando, dessa maneira, que a vértebra C6 será aquela que se move enquanto a C7 permanece imóvel. Partindo para a região lateral da coluna cervical, todos os processos transversos podem ser palpados; dessa vez, o da vértebra C1 é o mais evidente. Para identificá-lo, o examinador deve localizar o processo mastoide (abaixo e atrás do lobo da orelha), escorregar os dedos para baixo e um pouco para a frente, até achar uma região mais dura. Ao pressionar essa região, ele encontrará o precoce transverso de C1. Para localizar os outros processos transversos, o examinador deve lembrar a forma lordótica da coluna cervical e que os demais processos transversos podem ser identificados mais anteriormente a partir de C1. Na região anterior, podemos palpar o osso hioide, que se localiza anteriormente às vértebras C2 e C3; a cartilagem tireoide, que se localiza anteriormente às vértebras C4 e C5; e a cartilagem cricoide, que se move durante a deglutição do paciente. 154 Unidade IV Mandíbula Processo transverso de C1 Processo espinhoso Tubérculo carotídeo Primeiro anel da cartilagem cricoide Cartilagem tireoide Osso hioide Processo mastoide Articulação facetária Protuberância occipital externa C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7 Figura 164 – Imagem ilustrativa das vértebras cervicais Observação Os chamados tender points apresentam dor pontual no ponto de pressão aplicado pelo clínico. Já os trigger points apresentam dor irradiada para outra parte do corpo mediante pressão aplicada no ventre muscular do músculo. Medida do corpo e das partes: goniometria e perimetria Para avaliação das amplitudes de movimento, podemos utilizar o goniômetro ou o inclinômetro. As medidas são adquiridas em graus. Para utilização do goniômetro, o braço fixo deve permanecer no eixo articular, e o braço móvel deve acompanhar o segmento que está sendo avaliado. A) B) C) D) Figura 165 – A) Mensuração da amplitude do movimento de flexão; B) mensuração do movimento de extensão da coluna cervical; C) mensuração dos movimentos rotacionais direita e esquerda; D) mensuração dos movimentos de inclinação ou flexão lateral direita e esquerda Para mensuração da amplitude de movimento com o inclinômetro, o clínico deve posicionar o dispositivo no topo da cabeça do paciente e solicitar verbalmente a realização dos movimentos que devem ser avaliados. 155 SEMIOLOGIA APLICADA À FISIOTERAPIA A) B) C) D) E) Figura 166 – Avaliação dos movimentos de cervical Observação Para os resultados obtidos com a goniometria, devemos considerar uma margem de erro de 5 graus de variância, uma vez que existe uma grande imprecisão de manejo do dispositivo. 8.3.1 Testes de função e de força muscular Músculos flexores anteriores da cabeça Para mensuração da força dos músculos que realizam o movimento de flexão da cabeça em relação ao pescoço, o paciente deve estar posicionado em decúbito dorsal, com os cotovelos flexionados e as mãos acima da cabeça. O teste é realizado através da flexão da coluna cervical pela elevação da cabeça da maca, com o queixo deprimido e levado em direção ao esterno. O avaliador deve aplicar uma força contra o osso frontal na direção posterior. 156 Unidade IV O teste não deve ser realizado com o pescoço em extensão, como pode ser visto nas figuras a seguir, pois, nessa posição, há maior atividade dos músculos esternocleidomastoideos, junto à força dos escalenos e à porção de inserção dos músculos trapézios superiores na porção das clavículas anteriormente. A) B) Figura 167 – Avaliação dos músculos flexores anteriores da cabeça Músculos flexores anterolaterais do pescoço O paciente deve ser posicionado em decúbito dorsal, com a cabeça posicionada em rotação lateral. O clínico aplicará uma resistência na região do osso temporal do paciente, gerando uma força na direção posterior. Os principais músculos que realizam esses movimentos e são testados nesse posicionamento são os esternocleidomastoideose os escalenos. Figura 168 – Avaliação dos músculos anterolaterais do pescoço Músculos flexores posterolaterais do pescoço O paciente deve estar em decúbito ventral, com os cotovelos flexionados e as mãos acima da cabeça, repousando sobre a maca. Deve-se posicionar a cabeça do paciente em extensão posterolateral do pescoço, com a face direcionada para o lado que estiver sendo testado. O avaliador deve realizar uma pressão contra a face posterolateral da cabeça, na direção oposta, anterolateral. 157 SEMIOLOGIA APLICADA À FISIOTERAPIA Figura 169 – Avaliação dos músculos flexores posterolaterais do pescoço Músculos trapézio fibras superiores Para realização do teste, o paciente deve estar sentado e posicionado com elevação da extremidade acromial da clavícula e da escápula e extensão posterolateral do pescoço, levando o osso occipital em direção ao ombro elevado, com a face voltada para a direção oposta. O avaliador deve aplicar uma pressão contra o ombro, na direção da depressão, e contra a cabeça, na direção da flexão anterolateral. Figura 170 – Avaliação do músculo trapézio superior 8.3.2 Testes especiais Teste de compressão Para realização do teste de compressão, o paciente deve estar sentado. O avaliador ficará atrás do paciente, com os cotovelos apontados para os ombros do paciente. Nesse momento, o examinador deve aplicar uma força na direção inferior (descendente) pelo topo da cabeça do paciente. 158 Unidade IV Caso ocorra a reprodução dos sintomas clínicos apresentados pelo paciente previamente, consideramos o teste positivo. Figura 171 – Teste de compressão cervical Teste de Spurling O paciente deve estar sentado e assumir o posicionamento de flexão lateral do pescoço. O avaliador aplica uma resistência em direção inferior no topo da cabeça do paciente. O teste é positivo quando o paciente referir dor para o mesmo lado da inclinação durante o teste. Esse teste é utilizado para avaliar condições de radiculopatias. Os sintomas podem aparecer em toda a extensão do membro superior em trajeto de dermátomo, dependendo do nível cervical comprometido. Figura 172 – Teste de Spurling 159 SEMIOLOGIA APLICADA À FISIOTERAPIA Teste de Valsalva O paciente deve assumir uma posição sentada para realização deste teste. O examinador deve instruir o paciente a prender a respiração e, depois, realizar e manter uma pressão como se estivesse evacuando. O teste é positivo se, ao manter a pressão, os sintomas clínicos do paciente se reproduzem. Figura 173 – Teste de Valsalva Teste de Adson Para realização deste teste, o paciente deve permanecer sentado ou em pé, posicionado em frente ao examinador. O terapeuta deverá observar a palpação do pulso através da artéria radial do paciente. Após essa etapa, deverá ser realizada uma abdução de 30 graus associada a uma hiperextensão do membro superior. Mantendo o braço do paciente nessa posição, o examinador deverá observar se o pulso se apresenta igual ou diminuído. O teste, quando positivo, é indicativo de síndrome do desfiladeiro torácico. 160 Unidade IV Figura 174 – Teste de Adson Sinal de Lhermitte Para realização deste teste, o paciente deverá estar sentado sobre uma maca com os membros inferiores estendidos. O avaliador deverá ficar atrás do paciente. Com uma das mãos, auxiliará o movimento de flexão da coluna cervical do paciente; com a outra mão, deverá realizar a flexão do tronco do paciente. Durante o movimento, deve ser observada a reação do paciente. O teste é positivo quando a reação do paciente é semelhante a um arrepio e/ou desconforto do tipo parestesia. Em pacientes com suspeita de meningite, essa manobra poderá provocar uma forte dor do tipo ardência ou agulhada. Também nesse teste devemos ficar atentos para a reação de proteção neural que pode ser manifestada pelo paciente através de uma flexão de joelhos, a fim de minimizar o estiramento neural provocado pela flexão da coluna. Figura 175 – Sinal de Lhermitte 161 SEMIOLOGIA APLICADA À FISIOTERAPIA Teste de distração O paciente deve estar em decúbito dorsal, e, previamente à realização do teste, seus sintomas devem ser avaliados. O examinador deve usar uma pegada na região do queixo do paciente e, com a outra mão, realizar uma pegada na região do osso occipital do paciente. Uma força de tração deve ser aplicada, e, nesse momento, os sintomas do paciente devem ser reavaliados. O teste é positivo quando ocorre a redução dos sintomas durante o movimento de tração. Esse teste deve ser utilizado quando houver suspeita diagnóstica de radiculopatia. Figura 176 – Teste de distração cervical Teste de Soto-Hall Para realização deste teste, o paciente deve estar deitado em decúbito dorsal na maca. O examinador deverá instruir o paciente a realizar a flexão da coluna cervical ativa. Em seguida, o terapeuta, com a palma da mão sobre o osso esterno, deve empurrar com leve pressão para baixo, enquanto a outra mão realiza uma força de forma contrária sob a região do osso occipital. Esse teste poderá revelar doença óssea ou ligamentar da coluna cervical através dos resultados de dor sob a pressão exercida pelo terapeuta. Figura 177 – Teste de Soto-Hall 162 Unidade IV Teste de percussão espinal Para realização deste teste, o paciente deve estar sentado com a cabeça ligeiramente flexionada. O examinador deverá percutir o processo espinhoso e a musculatura associada a cada vértebra cervical com martelo neurológico. Se houver dor radicular, pode indicar fratura vertebral com comprometimento neurológico ou herniações com extravasamento para a medula. Esse não é um teste específico, pois outras condições também podem ter como resposta os mesmos sintomas. Figura 178 – Teste de percussão espinal 8.4 Torácica Inspeção Durante a inspeção da região torácica da coluna do paciente, devemos, primeiramente, observar se existe alguma alteração na postura global. O ideal é que o paciente esteja com o corpo desnudo, expondo pescoço, tronco e região pélvica. Começamos observando o paciente em pé, desde o tornozelo até a região de pescoço e cabeça. Em seguida, verificamos se existe algum desvio fora do normal. Hoje em dia, o conceito de postura normal já não é mais usado para justificar dores ou lesões, mas é de extrema importância entender a anatomia de cada paciente e saber identificar diferentes desvios e posturas que cada paciente pode adotar. Durante a inspeção e observação da região torácica, podemos nos deparar com uma condição cifótica aumentada. Normalmente, a região torácica apresenta uma cifose em torno de 40º; porém, existem casos em que essa curvatura é maior. O examinador deve saber identificar essa curvatura, assegurar-se de que realmente há a presença de uma cifose excessiva e observar a posição escapular desse paciente. Escápulas planas podem dar a falsa impressão de uma curva cifótica aumentada. 163 SEMIOLOGIA APLICADA À FISIOTERAPIA Existem quatro tipos de cifose: dorso de curvo, que consiste na diminuição da inclinação pélvica com cifose toracolombar ou torácica; corcunda, que consiste em uma angulação posterior acentuada (denominada giba); dorso chato, na qual acontece uma diminuição da inclinação pélvica com uma coluna vertebral móvel, ao contrário da dorso curvo; e corcunda de viúva, em que ocorrem fraturas de diversas vértebras por consequência de osteoporose ou menopausa. Outra deformidade que pode ser observada durante a inspeção do paciente é a escoliose. A escoliose consiste em uma deformidade na qual existem uma ou mais curvas na coluna lombar ou torácica. A escoliose pode ser estrutural ou não. Pode existir somente uma curvatura lateral na região torácica e somente na região lombar ou toracolombar. A escoliose não estrutural pode ser causada por contraturas no quadril, irritação de raízes nervosas ou inflamação na região da coluna. Portanto, é de responsabilidade do examinador saber identificar tais fatores. Figura 179 – Imagem ilustrativa de tipos de escoliose Outra deformidadeque podemos encontrar é o peito de pombo (pectus carinatum), na qual o esterno encontra-se posicionado para frente e para baixo. É uma deformidade congênita que pode interferir na eficácia da respiração. O peito de sapateiro (pectus excavatum) também é uma deformidade congênita, na qual o esterno encontra-se empurrado para trás, além do tórax de barril, em que o esterno está para frente e para cima. Lembrete A escoliose não estrutural pode ser causada por contraturas no quadril, irritação de raízes nervosas ou inflamação na região da coluna. Por isso, é de responsabilidade do examinador saber identificar tais fatores. 164 Unidade IV Movimentos Para avaliar os movimentos da coluna torácica, o paciente deve estar em pé. Os movimentos realizados são: flexão anterior de 20º a 45º, extensão de 25º a 45º, flexão lateral (direita e esquerda) de 20º a 40º, rotação (direita e esquerda) de 35º a 50º, expansão costovertebral de 3 cm a 7,5 cm, além dos movimentos combinados com coluna lombar e cervical durante a maioria dos movimento funcionais da coluna vertebral. A) B) C) D) Figura 180 – Avaliação dos movimentos da coluna torácica 165 SEMIOLOGIA APLICADA À FISIOTERAPIA Quadro 11 – Movimentos da coluna torácica Movimento Músculos Flexão da coluna torácica Reto do abdome Oblíquo externo Oblíquo interno Extensão da coluna torácica Espinal do tórax Iliocostal do tórax Longuíssimo do tórax Semiespinal do tórax Multífido Interespinais Rotação e flexão lateral da coluna torácica Iliocostal do tórax Longuíssimo do tórax Intertransversos Oblíquo interno Semiespinal do tórax Multífido Oblíquo externo (lado contrário) Transverso do abdome Elevação das costelas Escaleno anterior Escaleno médio Escaleno posterior Serrátil posterior Iliocostal do pescoço Elevador da costela Peitoral maior e menor Serrátil anterior Depressão das costelas Serrátil posterior Iliocostal lombar Longuíssimo do tórax Reto do abdome Oblíquo interno Oblíquo externo Transverso do abdome Quadrado lombar 8.4.1 Testes especiais Quando pensamos especificamente na região torácica da coluna vertebral, testes especiais devem ser realizados se o avaliador suspeitar de algum problema ou se deparar com algum sinal clínico que pode ter relação com algum comprometimento que envolva a medula espinal. Existem três testes realizados com maior frequência para testar a neurodinâmica desse paciente, como veremos a seguir. Teste de distensão dural na posição sentada (slump) O examinador posiciona o paciente sentado, com os membros inferiores livres, e solicita que incline o tronco para frente, fletindo a coluna. O avaliador se posiciona ao lado do paciente, com uma mão na base do crânio do paciente. Enquanto o paciente mantém a cabeça e o pescoço em posição neutra, ou seja, somente com a inclinação do tronco, o avaliador questiona se os sintomas foram desencadeados. Se a resposta for não, o avaliador flexiona o pescoço do paciente. Nesse momento, o paciente estará 166 Unidade IV com o tronco e o pescoço flexionados, e o avaliador deverá questionar novamente sobre a exacerbação dos sintomas ou não. Se a resposta ainda for negativa, o avaliador deverá realizar a extensão do membro inferior a ser avaliado (no qual o paciente relata sintomas) e questionar novamente o paciente sobre a presença de sintomas. O teste é considerado positivo quando os sintomas do paciente são desencadeados, indicando compressão da dura-máter e da medula espinal ou de raízes nervosas. Figura 181 – Slump test Distensão da raiz de 1º nervo torácico O paciente é posicionado com o membro superior a 90º, o antebraço em flexão e pronação a 90º. O avaliador pede, então, que o paciente posicione as mãos atrás do pescoço, distendendo o nervo ulnar e a raiz de T1. O teste é considerado positivo quando o paciente relata sintomas na região escapular e nos membros superiores. Palpação Durante a palpação, o examinador deve investigar a presença de espasmos musculares, dor à palpação, edema, alteração de temperatura e qualquer outro sinal. Devemos começar a palpação pelo osso esterno, localizado na linha média do tórax. O examinador deve saber identificar e palpar o manúbrio do esterno, seguido pelo corpo e, por fim, pelo processo xifoide, observando a presença de alterações ou dor. Depois, realiza-se a palpação das costelas e das articulações esternocostais, a fim de perceber alguma reação de dor, aumento de volume ou alteração de sensibilidade. 167 SEMIOLOGIA APLICADA À FISIOTERAPIA Ao palpar a clavícula, o examinador deve percorrer todo o seu trajeto ósseo, desde sua junção com o esterno até sua junção na articulação acromioclavicular, para verificar a presença de algum calo ósseo ou proeminência anormal. Figura 182 – Avaliação da palpação da clavícula O abdome deve ser palpado também na busca de pontos dolorosos ou qualquer indicativo de lesão. Figura 183 – Palpação de abdome Lembrete As 12 vértebras torácicas são maiores que as vértebras cervicais e menores que as vértebras lombares. Possuem processos transversos maiores e duas facetas articulares que se ligam às costelas. 168 Unidade IV Posteriormente, o examinador deve palpar a escápula, buscando pontos dolorosos na sua borda medial, lateral e parte superior, onde se originam os músculos importantes na estabilização do tronco e dos membros superiores. Ainda na parte posterior do tronco, devemos palpar os processos espinhosos das vértebras torácicas, observando se existe alguma anormalidade ou presença de dor e movendo os dedos de 2 cm a 3 cm lateralmente, onde se localizam as facetas articulares. Figura 184 – Palpação escapular 8.5 Lombar A dor lombar (DL) é uma queixa e pode ser resultado de diferentes doenças. A nomenclatura DL se dá pela localização da dor entre a região baixa da coluna, podendo se estender até a linha glútea e gerar uma dor irradiada para os membros inferiores. Muitas vezes, a dor lombar é utilizada como diagnóstico. O impacto da DL a torna um dos problemas de saúde pública mais relevantes (IHME, 2017). Estima-se que aproximadamente 540 milhões de pessoas podem apresentar essa queixa em algum momento da vida (BUCHBINDER et al., 2018). Nos Estados Unidos, estima-se que as despesas na área da saúde relacionadas à dor lombar atingem um valor próximo a 90 bilhões de dólares por ano, e, quando acrescentamos a perda de produtividade e o afastamento do trabalho, esse gasto passa para cerca de 635 bilhões de dólares. No Brasil, em 2016, foram gastos em torno de 714 milhões de dólares com desordens da coluna vertebral, representando 58% dos gastos na área da saúde (CARREGARO; SILVA; VAN TULDER, 2018). Uma possível explicação para a baixa resolução e os números cada vez mais expressivos, em relação à incapacidade e ao impacto econômico com o passar do anos, é a dificuldade em diagnosticar e diferenciar esses pacientes, para, assim, propor a abordagem mais indicada. Inspeção Quando começamos a observar um paciente com alguma queixa na região da coluna lombar, devemos verificar desde o modo como ele chega ao examinador, como se movimenta e quais estratégias usa para a locomoção e a marcha. 169 SEMIOLOGIA APLICADA À FISIOTERAPIA Antes de iniciar o exame no paciente, também é importante investigarmos a presença de alguma bandeira vermelha. Bandeiras vermelhas são sinais de advertência que podem indicar uma patologia grave. Devemos perguntar sobre a existência ou não de um trauma, se apresenta uma dor constante e progressiva, se perdeu peso nos últimos meses, se apresenta algum histórico de câncer (ou na família) e se já apresentou episódio de perda de urina ou fecal. Esses são alguns exemplos de questionamentos que devem ser feitos. Caso a resposta do paciente a essas perguntas seja positiva, devemos orientá-lo a buscar ajuda médica o quanto antes. Bandeiras vermelhas: • história de trauma; • dor constante e progressiva; • histórico de câncer; • perda de peso; • perda de fezes e/ou urina; • anestesia emsela em torno do ânus, do períneo ou genitais; • fraqueza motora disseminada ou progressiva. Para começarmos a examinar a região lombar do paciente, devemos examiná-lo primeiramente em pé, em postura relaxada, para identificar a presença ou não de aumento na curva lordótica, escoliose e desalinhamento da pelve. Normal Hiperlordose Figura 185 – Imagem ilustrativa de hiperlordose lombar 170 Unidade IV Movimentos Para o examinador avaliar os movimentos da coluna lombar, o ideal é posicionar o paciente em pé. Quando nos deparamos com um paciente que possui queixa nessa região da coluna vertebral, é comum encontrarmos um padrão de evitação do movimento que pode gerar dor. Porém, durante a avaliação, o examinador, na medida do possível, deve ser capaz de conseguir acessar esses movimentos para entender como, quando e de que maneira os sintomas do paciente são exacerbados. Os movimentos básicos a serem avaliados primeiramente são: flexão (40º a 60º), extensão (20º a 35º), rotação para direita e esquerda (3º a 18º) e flexão lateral direita e esquerda (15º a 20º). O examinador, quando informado pelo paciente da presença de dor ou intensificação dos sintomas, ou quando identifica limitação, deve solicitar ao paciente que permaneça no movimento, no seu máximo de amplitude possível, por 10 a 20 segundos, para confirmar se realmente existe a exacerbação dos sintomas. Esse tipo de abordagem vale também para os movimentos combinados. Se o paciente relatar que a exacerbação acontece nesses tipos de movimentos, o examinador deve exigir o mesmo. Visto que a presença de sintomas na região lombar está muito mais relacionada a movimentos combinados, devemos incluí-los na avaliação. Não devemos realizar somente movimentos em um único plano (flexão e extensão pura); é necessário acrescentar movimentos ativos, como flexão lateral com flexão, flexão lateral com extensão, extensão com rotação e flexão com rotação. Esses padrões de movimentos combinados já podem indicar a origem do problema do paciente. Podemos suspeitar de uma síndrome facetária, por exemplo, se os sintomas do paciente se acentuarem durante os movimentos de extensão com flexão lateral. É possível suspeitar ou eliminar problemas (caso os testes de movimentos ativos combinados agravem os sintomas) de origem radicular, interferência de musculatura de quadril, déficits neurológicos, parestesia e rigidez. Caso contrário, se os sintomas do paciente não forem exacerbados em movimentos ativos, devemos procurar outras origens (avaliar quadril e articulação sacroilíaca, por exemplo). Por ser uma região diretamente ligada a funções comuns do dia a dia, como marchar, sentar, levantar e correr, é importante que o examinador inclua em sua avaliação a observação desse paciente em determinadas tarefas, para investigar possíveis compensações e identificar qual é o padrão adotado por esse paciente. 171 SEMIOLOGIA APLICADA À FISIOTERAPIA A) B) C) D) E) F) G) Figura 186 – Movimentos ativos de coluna lombar 172 Unidade IV Quadro 12 – Músculos da região de coluna lombar Ação Músculos Raiz nervosa Flexão anterior Psoas maior Reto do abdome Oblíquo externo e interno do abdome Transverso do abdome Intertransversos L1-L3 T6-T12 T7-T12-L1 T7-T12-L1 L1-L5 Extensão Eretores da espinha Iliocostal do lombo Longuíssimo torácico Transversoespinal Interespinais Quadrado lombar Multífido Rotadores Glúteo máximo L1-L3 L1-L3 L1-L5 L1-L5 L1-L5 T12-L1-L4 L1-L5 L1-L5 L1-L5 Flexão lateral Latíssimo do dorso Eretores da espinha Iliocostal do lombo Longuíssimo torácico Transversos Intertransversos Quadrado lombar Psoas maior Oblíquo externo Toracodorsal L1-L3 L1-L3 L1-L5 L1-L5 L1-L5 T12-L1-L4 L1-L3 T7-T12 Rotação Transversos Rotadores Multífido L1-L5 L1-L5 L1-L5 Outros aspectos devem ser analisados na realização dos movimentos. Durante a flexão da coluna lombar, por exemplo, podemos e devemos observar se o paciente realiza uma compensação com o quadril, se existe um padrão muito maior de flexão de quadril do que das vértebras lombares propriamente ditas. Durante a extensão, também devemos observar se o paciente poupa as vértebras lombares e realiza uma extensão de tronco compensada por uma anteriorização da pelve. Essas compensações podem estar acontecendo por um mecanismo de defesa do paciente, para evitar a dor, ou também por uma hipomobilidade articular das vértebras lombares e torácicas do paciente. Cabe ao avaliador questionar o paciente sobre a presença ou não de dor na realização dos movimentos, tentar excluir as compensações e, por fim, questionar novamente quanto à presença ou não de dor na região ou aumento dos sintomas. 173 SEMIOLOGIA APLICADA À FISIOTERAPIA 1 – Flexão normal de lombar e quadril 2 – Flexão limitada de quadril e excessiva de lombar 3 – Flexão limitada de lombar e excessiva de quadril Figura 187 – Avaliação do movimento de flexão anterior do tronco Além dos movimentos ativos, a fim de garantir a integridade muscular e descartar qualquer fraqueza muscular de origem neurológica, devemos avaliar os miótomos. Para isso, o paciente é posicionado em decúbito dorsal, e cada miótomo é avaliado individualmente. As articulações a serem testadas devem estar em posição neutra, e o examinador deve aplicar uma resistência isométrica na musculatura a ser testada por, pelo menos, 5 segundos em ambos os membros individualmente. Quadro 13 – Miótomos lombares Raiz nervosa Ação do teste Músculos L1-L2 Flexão do quadril Psoas, ilíaco, grácil, pectíneo, adutor longo, adutor curto. L3 Extensão do quadril Quadríceps, adutores longo, magno e curto. L4 Dorsiflexão de tornozelo Tibial anterior, quadríceps, tensor da fáscia lata, adutor magno, obturador externo, tibial posterior. L5 Extensão dos pododáctilos Extensor longo do hálux, extensor longo dos dedos, glúteos médio e mínimo, obturador interno, semimembranáceo, semitendíneo, poplíteo, fibulares longo e curto, extensor curto dos dedos. S1 Flexão plantar do tornozelo Eversão do tornozelo Extensão do quadril Flexão de joelho Gastrocnêmio, sóleo, glúteo máximo, obturador interno, piriforme, bíceps da coxa, semitendíneo, poplíteo, fibulares longo e curto, extensor curto dos dedos. S2 Flexão de joelho Bíceps da coxa, piriforme, sóleo, gastrocnêmio, flexor longo dos dedos, flexor longo do hálux, músculos intrínsecos do pé. S3 Músculos intrínsecos do pé, flexor curto do hálux, flexor curto dos dedos, extensor curto dos dedos. 174 Unidade IV A) B) C) D) E) F) Figura 188 – Avaliação dos miótomos lombares 8.5.1 Testes especiais (CHAD) Teste de Sorensen O paciente deve se posicionar em decúbito ventral, apoiado somente com os membros inferiores na maca, mantendo todo o tronco (acima das cristas ilíacas) para fora da maca e os membros inferiores fixos. O paciente deve cruzar os braços sobre o tórax, e o examinador solicita que o paciente mantenha a posição do tronco sem apoio no plano horizontal durante o tempo que conseguir. O examinador deve cronometrar o tempo. É definida uma nota de corte para os pacientes que apresentaram dor ou não de 28 e 29 segundos. • Confiabilidade: CCI 0,78. • Sensibilidade: 92,3. • Especificidade: 94. 175 SEMIOLOGIA APLICADA À FISIOTERAPIA A) B) Figura 189 – Teste de Sorensen Teste de centralização Com o paciente em pé ou decúbito dorsal, o examinador solicita que ele realize todas as direções de movimento (flexão, extensão, movimentos combinados) e as repita de 5 a 20 vezes, até que ocorra a centralização ou periferização definitiva. O teste é considerado positivo para sintomas discogênicos quando acontece a centralização dos sintomas. • Confiabilidade: NT. • Sensibilidade: 40. • Especificidade: 94. Figura 190 – Teste de centralização 176 Unidade IV Teste de distensão dural na posição sentada (slump) O examinador posiciona o paciente sentado, com os membros inferiores livres, e solicita que incline o tronco parafrente, fletindo a coluna. O avaliador se posiciona ao lado do paciente, com uma mão na base do crânio dele. Enquanto o paciente mantém a cabeça e o pescoço em posição neutra, ou seja, somente com a inclinação do tronco, o avaliador questiona se os sintomas foram desencadeados. Se a resposta for não, o avaliador flexiona o pescoço do paciente. Nesse momento, o paciente estará com o tronco e o pescoço flexionados, e o avaliador deverá questionar novamente sobre o aumento dos sintomas ou não. Se a resposta ainda for negativa, o avaliador deverá realizar a extensão do membro inferior a ser avaliado (no qual o paciente relata sintomas) e questionar novamente sobre a presença de sintomas. O teste é considerado positivo para herniação do núcleo pulposo ou radiculopatia lombar quando os sintomas do paciente são desencadeados, indicando compressão da dura-máter e da medula espinal ou de raízes nervosas.. • Confiabilidade: NT. • Sensibilidade: 83. • Especificidade: 55. Figura 191 – Slump test Elevação da perna reta (Lasègue) O paciente deve estar em decúbito dorsal, com pescoço e cabeça em posição neutra. O examinador apoia o calcanhar de um membro do paciente e, com o membro contralateral em extensão, realiza uma flexão de quadril com o joelho em extensão, até que ocorra a exacerbação dos sintomas. 177 SEMIOLOGIA APLICADA À FISIOTERAPIA O teste é considerado positivo para herniação do núcleo pulposo ou radiculopatia lombar quando os sintomas são reproduzidos.. • Confiabilidade: NT. • Sensibilidade: 78. • Especificidade: 64. Figura 192 – Teste de Lasègue Palpação dos nervos isquiáticos, tibial e fibular comum O paciente deve estar em decúbito dorsal para teste do nervo fibular comum e em decúbito ventral para teste dos nervos isquiáticos e tibial. O examinador aplica uma pressão suave na parte posterior da cabeça da fíbula (para nervo fibular), a meio caminho entre a linha da tuberosidade isquiática até o trocânter maior do fêmur (nervo isquiático) e no ponto médio da prega poplítea (para nervo tibial). O teste é positivo para dor na perna relacionada a dor lombar quando o paciente relatar dor ou desconforto se comparado ao lado contralateral.. • Confiabilidade: Kappa 0,96. • Sensibilidade: 85. • Especificidade: 60. 178 Unidade IV Figura 193 – Palpação dos nervos isquiáticos, tibial e fibular Teste de tensão do nervo femoral O paciente permanece em decúbito ventral, e o examinador coloca uma das mãos na espinha ilíaca posterosuperior do mesmo lado em que irá fletir o joelho passivamente. Então, o examinador começa a fletir o joelho do paciente até iniciarem os sintomas. Pode ser realizado o aumento de extensão de quadril para elevar a sensibilidade do teste. O teste é positivo para hérnia de disco lombar lateral quando os sintomas são reproduzidos.. • Confiabilidade: NT. • Sensibilidade: 84. • Especificidade: NT. A) B) Figura 194 – Tensão do nervo femoral 179 SEMIOLOGIA APLICADA À FISIOTERAPIA Teste de extensão lombar passiva O paciente deve estar em decúbito dorsal, e o examinador realiza passivamente a extensão da coluna lombar com os membros inferiores em extensão, segurando os membros inferiores do paciente pelo tornozelo. O teste é positivo para instabilidade quando o paciente relata dor, sensação de peso na região lombar e sensação de que está saindo do lugar.. • Confiabilidade: NT. • Sensibilidade: 85,7. • Especificidade: 45,5. Figura 195 – Teste de extensão lombar passiva Sinal do pinçamento doloroso O paciente fica em decúbito dorsal, e o examinador solicita que o paciente eleve suas pernas, mantendo o joelho em extensão cerca de 30 cm para fora da maca. Depois, solicita que retorne as pernas para a maca. O teste é positivo para instabilidade quando o paciente realiza uma queda rápida das pernas na maca. • Confiabilidade: NT. • Sensibilidade: 39,8. • Especificidade: 72,6. 180 Unidade IV Figura 196 – Sinal do pinçamento doloroso Finalizados os testes especiais, se o avaliador desconfiar de envolvimento neurológico relacionado aos sinais clínicos do paciente, é importante realizar a avaliação de reflexos patelar (L3-L4), posteriores de coxa mediais (L5-S1), posteriores de coxa laterais (S1-S2), tibial posterior (L4-L5) e calcanear (S1-S2). Figura 197 – Avaliação dos reflexos neurológicos Seguindo na avaliação dos aspectos neurológicos, quando o paciente apresentar sinais clínicos que indiquem lesão neurológica, o examinador deve avaliar os dermátomos para buscar alterações de sensibilidade, possível lesão de nervo periférico e nível de acometimento. Deve passar as mãos em todas as fases da perna e do pé, no abdome, nas costas, na coxa anterior e posterior, medialmente e lateralmente à coxa em ambos os membros, e buscar diferenças na sensibilidade quando comparados. 181 SEMIOLOGIA APLICADA À FISIOTERAPIA Níveis dos principais dermátomos C5 Clavículas C5, 6, 7 Partes laterias dos membros superiores C8; T1 Faces mediais dos membros superiores C6 Polegar C6, 7, 8 Mão C8 Dedos anelar e mínimo T4 Nível dos mamilos T10 Nível do umbigo T12 Regiões inguinais ou virilhas L1, 2, 3, 4 Superfícies anteior e interna dos membros inferiores L4, 5; S1 Pé L4 Face medial do hálux L5; S1, 2 Faces externa e posterior dos membros inferiores S1 Margem lateral do pé e quinto pododáctilo S2, 3, 4 Períneo Intumescência lombossacral Filamento terminal interno (parte pial) Filamento terminal externo (parte pial) Cone medular (término da medula espinal) Cauda equina Sacro Término do saco dural Nervo coccígeo Cóccix Relacionamento dos nervos com a coluna Nervos cranianos Nervos torácicos Nervos lombares Nervos sacral e coccígeo Nervo espinal de C8 sai abaixo da vértebra C7 (existem 8 nervos cervicais, mas somente 7 vértebras cervicais) Nervo espinal de C1 sai acima da vértebra C1 Nervos espinais e dermátomos sensitivos Padrão dematomal Intumescência cervical Base do crânio Figura 198 – Imagem ilustrativa das delimitações das regiões de inervação sensitiva Palpação Quando realizamos a palpação da região lombar a fim de localizar a origem da dor ou do desconforto do paciente, devemos, durante toda a avaliação, questionar o paciente a cada palpação quanto à presença ou não dos sintomas. Começando pela parte anterior da região lombar, o examinador posiciona o paciente em decúbito dorsal e inicia a palpação pela cicatriz umbilical, localizada na altura de L3-L4, que é o ponto de inserção dos quadrantes abdominais. Nessa região, palpamos algumas vísceras, como o apêndice no quadrante inferior direito, o fígado no quadrante superior direito e os rins quadrantes superiores direito e esquerdo, para descartar qualquer dor ou desconforto proveniente dessas estruturas. Dependendo do paciente, o examinador pode conseguir palpar, saindo da marca de L4-L4 (cicatriz umbilical) e descendo até L4, L5, S1, as facetas articulares anteriores desse paciente e o ligamento longitudinal. 182 Unidade IV Descendo para a região inguinal, o examinador pode palpar as espinhas ilíacas ântero-superiores e a sínfise púbica. Nessa região, além de buscarmos sintomas de hérnia, abcesso e infecção na palpação dos linfonodos, o examinador deve palpar os tendões, as origens e as inserções de musculaturas que estão localizadas nessa região, como adutores, psoas e quadríceps femoral, e questionar o paciente sobre a presença de desconforto ao palpar cada estrutura. Na crista ilíaca, podemos palpar a musculatura flexora de quadril (psoas maior e menor e ilíaco) em busca de espasmos e contraturas musculares. Pode-se observar o alinhamento entre as cristas e o alinhamento na região da sínfise púbica. Ligamento pubofemoral Ramo superior do púbis Ramo inferior do púbis Ligamento iliofemoral Ligamento isquiofemoral Zona orbicular Trocanter maior Trocanter maior Trocanter maior Crista intertrocantérica Trocanter menor Espinha ilíaca antero-superior Espinha ilíaca antero-superior Espinha ilíaca antero-inferiorEspinha ilíaca antero-inferior Eminência iliopúbica Lábio do acetábulo (fibrocartilagíneo) Artéria obrutratória Ramo anterior Ramo posterior Ramo acetabular Membrana obturadora Ligamento transverso do acetábulo Túber isquiático Túber isquiático Protusão da membrana sinovial Espinha isquiática Trocanter menor Linha intertrocantérica Colo do fêmur Cabeça do fêmur Cartilagem articular Face semilunar (articular do acetábulo) Linha intertrocantérica Ligamento da cabeça do fêmur (cortado) Trocanter menor Gordura na fossa do acetábulo (coberta pela membrana sinovial) Ligamento iliofemoral (ligamento em Y de Bigelow) Vista anterior Vista posterior Articulação aberta: vista lateral Bolsa iliopectínea (sobre o espaço nos ligamentos) Figura 199 Já no aspecto posterior, o examinador começa palpando os processos espinhosos da coluna lombar. Para ter uma referência de qual vértebra lombar está palpando, o examinador deve posicionar as mãos nas cristas ilíacas e seguir posteriormente até a linha média do tronco; o processo espinhoso que tocar ali é referente a L4-L5, e, a partir daí, todas as outras vértebras lombares devem ser palpadas. O examinador deve buscar sinais de espasmos musculares, dor à palpação, desalinhamento e alguma depressão entre as vértebras que possa indicar escorregamento. 183 SEMIOLOGIA APLICADA À FISIOTERAPIA Ao palpar o processo espinhoso de uma vértebra lombar, se o examinador posiciona os quirodáctilos lateralmente de 2 cm a 3 cm, ele chega às facetas articulares da vértebra, que são mais profundas e possuem a musculatura paravertebral sobreposta à região, podendo dificultar a palpação das facetas. Retornando ao processo espinhoso de L5, se o examinador descer os quirodáctilos, chegará ao sacro, que também possui processos espinhosos. Porém, pela sua anatomia mais fundida, é muito difícil diferenciá-los na palpação. Ainda durante a palpação na parte posterior, o examinador pode palpar a espinha ilíaca póstero-superior e realizar a palpação de toda a crista posteriormente, tentando rastrear algum sintoma de dor ou desconforto. Mais distalmente, entre o sacro e o trocânter maior do quadril, o examinador pode palpar a musculatura glútea e piriforme em busca de espasmos, nódulos anormais e alteração de sensibilidade. Logo abaixo das pregas glúteas, realizando uma pressão maior para vencer todo o tecido mole sobreposto, o examinador localiza a tuberosidade isquiática. Movendo mais lateralmente, ele pode palpar o troncânter maior do quadril, músculo tensor da fáscia lata. Espinha ilíaca póstero-superior Espinha ilíaca póstero-superior Face auricular (para o sacro) Espinha ilíaca antero-superior Espinha ilíaca antero-superior Asa do ílio (face glútea) Linha intermédia Tubérculo ilíaco Lábio externo Crista ilíaca Acetábulo Face semilunar Limbo (margem) do acetábulo Incisura do acetábulo Ramo superior do púbis Tubérculo púbico Tubérculo púbico Fase sinfisial Eminência iliopúbica Linha arqueada Ramo superior do púbis Linha pectínea do púbis Crista obturatória Crista obturatória Ramo inferior do púbis Ramo inferior do púbis Linha intermédia Lábio interno Tuberosidade ilíaca Crista ilíacaTúber isquiático Túber isquiático Corpo do ísquio Corpo do ísquio Incisura isquiática menor Incisura isquiática menor Espinha isquiática Espinha isquiática Corpo do ílio Corpo do ílio Incisura isquiática maior Incisura isquiática maior Linhas glúteas Posterior Anterior Inferior Ramo do ísquio Ramo do ísquio Ílio Ísqui Púbis Vista medial Vista lateral Forame obturado Forame obturado Espinha ilíaca antero-inferior Espinha ilíaca antero-inferior Asa do ílio (com a fossa ilíaca) Espinha ilíaca póstero-inferior Espinha ilíaca póstero-inferior Figura 200 184 Unidade IV 8.6 Avaliação multidimensional Em 90% dos casos de dor lombar, não é possível associar sintomas a exames clínicos e complementares. Por isso, na maioria das vezes, ela é definida como dor lombar não específica (DLNE) (FOSTER et al., 2018). Há uma multidimensionalidade de fatores que contribuem para o surgimento ou a persistência dos sintomas, como os fatores psicológicos, sociais, genéticos e biológicos que estão envolvidos na modulação da dor (JULL, 2017). Na maior parte das áreas da medicina, o diagnóstico é considerado a chave para a eficácia do tratamento. Porém, quando tratamos a dor lombar, esse não é o cenário mais comum; o foco dos estudos clínicos ainda é muito direcionado à subdivisão desses pacientes baseada apenas em características biológicas da doença. Contudo, em 90% dos casos, em que não existe uma causa específica, a multidimensionalidade de fatores que podem influenciar na DLNE dificulta a classificação desses pacientes. Portanto, torna-se extremamente necessária uma avaliação multidimensional desses pacientes, substituindo a avaliação puramente física, que envolve somente aspectos biológicos da dor. Através de questionários validados e com boas propriedade psicométricas, fisioterapeutas musculoesqueléticos podem facilmente investigar todos esses aspectos sociais e comportamentais da dor (NIJS et al., 2013). Na teoria, o modelo biopsicossocial é representado por três esferas, que englobam aspectos psicológicos, biológicos e sociais, e valoriza a importância do entendimento de cada aspecto e sua influência na dor de cada indivíduo (JULL, 2017). A prevalência de depressão e ansiedade em paciente com DLNE é de 48,5% e 55%, respectivamente (SAGHEER; KHAN; SHARIF, 2013). A depressão está diretamente associada à maior intensidade e duração da dor e ao prognóstico ruim ao tratamento, o que produz maior incapacidade e afeta progressivamente a qualidade de vida. Sendo assim, a depressão é um dos fatores associados à incapacidade no paciente com dor lombar (HUNG; LIU; FU, 2015). Outro fator comum em pacientes com DLNE é o distúrbio do sono. O sono é essencial para manter normais as condições emocionais, físicas e mentais. Os distúrbios do sono levam à diminuição de horas de trabalho e ao maior risco de lesão musculoesquelética. Estudos mostram que aproximadamente 50% dos pacientes com DLNE apresentam algum distúrbio relacionado ao sono (BAHOUQ et al., 2013). A dor associada a distúrbios do sono pode afetar a qualidade de vida, o nível de atividade física, a vida social e os aspectos emocionais; por isso, contribui diretamente para um mau prognóstico do paciente com DLNE. É de extrema importância o entendimento da dor e de todos os seus aspectos para a tomada de decisão quando tratamos dos paciente com DLNE. A educação do paciente sobre a dor é uma das ferramentas adequadas (NIJS et al., 2013) para o manejo da dor no paciente com DLNE (MILES et al., 2011). Portanto, a teoria biopsicossocial, que ressalta que os fatores associados à incapacidade, como os aspectos cognitivos, ambientais e sociais, podem influenciar na cronicidade da dor, vem sendo agregada e deve ser valorizada na avaliação e no tratamento de pacientes com dor lombar, na tentativa de melhorar o direcionamento do tratamento e torná-lo cada vez mais eficaz. 185 SEMIOLOGIA APLICADA À FISIOTERAPIA Psico Social Bio Biomecânica Sono Dor ForçaFunção Depressão/ Ansiedade Catastrofização Cinesiofobia Profissão Situação socioeconômica Nível de escolaridade Figura 201 – Diagrama biopsicossocial 8.7 Avaliação postural 8.7.1 Definição O conceito de postura, definido há décadas, diz respeito a um estado de equilíbrio muscular e esquelético que protege as estruturas de suporte do corpo contra uma lesão ou deformidade, em posição ereta, deitada, agachada ou encurvada. O termo também é utilizado para descrever o alinhamento corporal associado à orientação do corpo no ambiente. Porém, o termo referente à posturologia, atualmente, ainda não é considerado um conceito fixo e é compreendido como parte da fisionomia fixa das estruturas inerentes do corpo, determinadas pela herança genética, ou parte da fisionomia móvel,determinada pela patologia ou pela cultura. Portanto, a postura é definida pelas genealogias entrelaçadas dos vários usos e significados associados ao próprio termo “postura”, e não necessariamente pelas reivindicações daqueles que definem qual postura deve ser. Desse modo, possui múltiplos significados abrangentes que exemplificam as genealogias inerentes a qualquer compreensão do corpo humano. Com base na sustentação do corpo, atuam diversas estruturas ósseas que incluem toda a coluna vertebral, desde a coluna cervical até a coccígea e axial, envolvendo os membros distais, as estruturas musculares que circundam a coluna vertebral, desempenhando papel importante na sustentação da coluna vertebral e na estabilização do tronco, e, por fim, as estruturas ligamentares, que se adaptam facilmente aos movimentos realizados. Portanto, os componentes estáticos e dinâmicos do nosso corpo se complementam para melhor adequação da coluna vertebral diante de situações diárias. A coluna vertebral comporta quatro curvas na vista sagital: a lordose cervical, a cifose torácica, a lordose lombar e a cifose sacral. Essas são responsáveis por permitir maior eficiência na absorção de energia e na mobilidade da coluna vertebral. Em um plano frontal, é considerada uma estrutura óssea retilínea, fazendo com que a presença das curvaturas no plano sagital aumente a resistência à compressão axial dez vezes mais. No decorrer da formação embrionária, as curvaturas consideradas primárias são caracterizadas por terem conservado suas formas no embrião, e as secundárias como o resultado de adaptação do esqueleto. 186 Unidade IV Sendo assim, as curvas dorsal e sacral são consideradas primárias, e a cervical e lombar secundárias, uma vez que, a partir do desenvolvimento da posição pronada, o recém-nascido eleva a cabeça, promovendo um estímulo para a adaptação da lordose cervical. Assim, a partir da posição sentada, e evoluindo para a postura bípede, inicia-se a formação da lordose lombar. Durante centenas de anos, as bases literárias sobre esse tema englobavam diversas vertentes que nos levavam a considerar o sistema postural como um sistema estruturado com múltiplas funções, como: lutar contra a gravidade e manter a postura ereta; opor-se às forças externas em situações necessárias; situar-se no espaço-tempo estruturado que nos envolve; equilibrar-se durante o movimento e guiar e reforçar o movimento. Desse modo, deu-se a importância necessária para a realização de uma avaliação física com ênfase na análise postural. Na prática clínica, essa avaliação é realizada durante a análise do exame físico. Dessa forma, é considerada uma abordagem qualitativa com baixa sensibilidade e baixa confiabilidade intra e interavaliadores. Durante o exame físico, há determinados conceitos e fundamentos da postura que devem ser esclarecidos para melhor abordagem. Posição anatômica A posição anatômica é considerada uma referência para definições e descrições dos planos e eixos corporais. Considera-se a posição anatômica do corpo aquela posição ereta, com a face direcionada para frente, os membros superiores ao lado do corpo, as palmas direcionadas para frente e os dedos e polegares estendidos. Figura 202 – Posição anatômica 187 SEMIOLOGIA APLICADA À FISIOTERAPIA Eixos Os eixos são as linhas sobre as quais o movimento ocorre. Existem três tipos de eixos em ângulo reto entre si: • Eixo sagital: localizado no plano sagital, estende-se horizontalmente na direção ântero-posterior. Os movimentos de abdução e adução ocorrem sobre esse eixo no plano coronal. • Eixo coronal: localizado no plano coronal, estende-se horizontalmente na direção laterolateral. Os movimentos de flexão e extensão ocorrem sobre esse eixo no plano sagital. • Eixo longitudinal: estende-se verticalmente na direção craniocaudal. Os movimentos de rotação medial e lateral, abdução e adução horizontal do ombro ocorrem sobre esse eixo no plano transverso. Planos Os três planos básicos de referência derivam das dimensões no espaço e formam ângulos retos entre si: • Plano sagital: é vertical e se estende na direção ântero-posterior. O plano sagital mediano divide o corpo nas metades direita e esquerda. • Plano coronal: é vertical e se estende na direção laterolateral. O plano coronal ou frontal divide o corpo nas porções anterior e posterior. • Plano transverso: é horizontal e divide o corpo nas porções superior e inferior, craniana e caudal, respectivamente. Plano sagital Plano coronal Plano transverso Figura 203 – Planos anatômicos do corpo humano 188 Unidade IV Lembrete Os eixos são as linhas sobre as quais o movimento ocorre. São eles: eixo sagital, coronal e longitudinal. Os planos são referências que derivam das dimensões no espaço. São eles: plano sagital, coronal e transverso. Tipos de alinhamento postural A curvaturas fisiológicas da coluna vertebral consistem em uma curva convexa anteriormente no pescoço (lordose cervical), uma curva convexa posteriormente na região dorsal (cifose torácica) e uma curvatura convexa anteriormente na região lombar (lordose lombar). De acordo com a linha de pensamento de Kendall e McCreary (2005), em uma postura alterada, a pelve pode estar inclinada anteriormente, posteriormente ou lateralmente. Em uma postura cifótica-lordótica, a pelve inclina-se para frente, criando um aumento da curva anterior dessa região e gerando maior lordose. Na postura com dorso plano e sway back, a pelve inclina-se para posterior, e a coluna lombar se torna plana. Alinhamento ideal Postura cifótica-lordótica Postura com o dorso plano Postura com deslocamento posterior do dorso (sway- back ou relaxada) Figura 204 – Tipos de alinhamento postural Método clássico de avaliação postural Através de inúmeros pesquisadores, foi-se elaborando um sistema de avaliação postural, de maneira a integrar todos os componentes a serem analisados nos planos sagital, frontal e axial e as considerações a respeito dos tipos de alinhamento postural. 189 SEMIOLOGIA APLICADA À FISIOTERAPIA Equipamentos de avaliação Durante uma avaliação postural clássica, pode-se utilizar diversos equipamentos para execução: • Linha ou fio de prumo: a linha é suspensa a partir de um suporte acima da cabeça, e o peso de chumbo é fixado em contato com o chão. • Caneta marcadora: a caneta é utilizada para marcações em pontos de referências anatômicas e para melhor visualização de desvios. • Fita métrica: a fita é utilizada para mensurar o comprimento de membros e as circunferências, seja abdominal, seja de cintura pélvica, seja do membro. • Vestimenta adequada: para melhor visualização de todo o corpo humano e referências anatômicas, solicita-se ao paciente que utilize roupas que cubram as regiões íntimas (um biquíni para as mulheres e uma sunga para os homens), possibilitando melhor análise das estruturas. Referências anatômicas Segundo Ferreira et al. (2010), para padronizar um método de avaliação postural, consideram-se algumas estruturas do corpo para tomada de referências anatômicas: tragus, acrômio, espinha ilíaca ântero-superior (EIAS), trocânter maior do fêmur, linha articular do joelho, ponto médio da patela, tuberosidade da tíbia, maléolos laterais, maléolos mediais, ponto médio entre o segundo e terceiro metatarso, processo espinhal de C7 e T3, ângulo inferior da escápula, espinha ilíaca póstero-superior (EIPS), linha medial da perna, tendão calcâneo e calcâneo. Figura 205 – Referências anatômicas 190 Unidade IV Desse modo, percebe-se que a avaliação postural é minimamente detalhada, subjetiva e descritiva e aponta possíveis diagnósticos ou causas de desfechos sobre a dor, sendo um complemento ao exame físico do paciente. Alguns pesquisadores incluem testes para flexibilidade e comprimento muscular e teste de força muscular para posterior execução do raciocínio clínico e interpretação dos achados dos testes. 8.7.1.1 Testes de flexibilidade e comprimento muscular Teste do ângulo
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