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Ginecologia e Obstetrícia - Habilidade Daniela Rocha Fonseca – 2022-1 Trabalho de Parto Prematuro • Define-se como prematuro ou pré-termo o recém- nascido com menos de 37 semanas completas de gestação, ou 259 dias, contadas a partir da DUM, não importando o seu peso. • O pré-termo tardio é aquele que nasce entre 34 e 36 semanas de gestação. • Prematuro extremo ( abaixo de 30 semanas) e Prematuro moderado (entre 30 e 34 semanas). Epidemiologia • A incidência de partos prematuros no mundo é estimada em torno de 5% a 18%. • A prematuridade é responsável por em torno de 75% de toda a morbidade e mortalidade neonatais. Etiologia • O parto pré-termo pode ser espontâneo ou realizado por indicação médica (Terapêutico ou eletivo). • O desencadeamento do trabalho de parto prematuro é multifatorial. • Prematuridade eletiva: Indicado para proteger mãe/feto em caso de patologias. Exemplo: estado hipertensivo materno Fatores de risco • Idade materna menor que 15 anos ou maior que 40 anos; • Estado socioeconômico e cultural adverso; • Ausência de controle pré-natal; • História materna de um ou mais abortos espontâneos no segundo trimestre; • Pequeno intervalo interpartal; • Grande multiparidade; • Parto prematuro prévio, morte fetal anterior. • Fatores individuais: Atividade física aumentada, tabagismo, etilismo, uso de drogas ilícitas, situações de estresse materno. Complicações maternas • Gestação múltipla; • Síndromes hipertensivas da gravidez; • Doença hemolítica perinatal; • Polidrâmnio; • Inserção baixa da placenta, descolamento prematuro da placenta, rotura prematura das membranas ovulares, corioamnionite; • Crescimento fetal restrito, • Insuficiência istmocervical, presença de colo uterino curto. • O relato de um parto prematuro prévio indica 25% de chance de novo parto pré-termo e 50% quando a gestante referiu dois partos prematuros em seu passado obstétrico. Identificação do trabalho de parto prematuro • Presença de contrações uterinas regulares e alterações cervicais progressivas. • Duas ou três contrações em 10 minutos • Dilatação cervical superior a 1 a 2 cm, ou esvaecimento maior que 80%. Casos duvidosos: Ultrassonografia transvaginal para avaliação morfológica do colo e a pesquisa da fibronectina fetal. Prognóstico • Responsável por 75% da mortalidade neonatal e 50% das lesões neurológicas; • Retardo de crescimento; • Alterações visuais e auditivas; • Enterocolite necrotizante; • Síndrome da angústia respiratória. ❖ Fibronectina: É um marcador inflamatório/infeccioso do trabalho de parto prematuro. - Qualquer problema na interface materno-fetal, como infecção ascendente, contrações mecânicas e isquemia, antes do parto, pode causar liberação da fibronectina fetal para a vagina. - Sua presença na secreção cervicovaginal como fator preditivo para o parto prematuro pode ser utilizada para selecionar gestantes que necessitem de medidas terapêuticas. - Quando ausente, evita-se o uso desnecessário de medicamentos, tranquilizando-se ambos, gestante e obstetra. Prevenção do parto prematuro • Uso da progesterona : - Gestantes com alto risco para parto prematuro (Parto prematuro anterior, submetidas à cerclagem cervical e portadoras de malformações uterinas) devem receber 100mg de progesterona por via vaginal diariamente a partir de 24 e até 34 semanas de gestação. - Para aquelas que apresentarem comprimento cervical ≤ 1,5cm em ultrassonografia transvaginal realizada entre 20 e 25 semanas, independentemente de fatores de risco presentes, deve ser considerado o uso de 200mg de progesterona vaginal diariamente até pelo menos 34 semanas. - Para fins de prevenção, toda gestante que for submetida a uma ultrassonografia nesse período deve ter uma avaliação do comprimento cervical por via transvaginal. Conduta • Toda gestante em TPP deve ser assistida em unidade com recursos adequados. • A mulher e sua família também devem receber aconselhamento sobre a morbidade e mortalidade associadas a idade gestacional e à eficácia limitada do tratamento. • Não existem evidências que apoiem o uso do repouso em leito como forma de prevenir o parto prematuro, assim como do uso da hidratação. Tratamento 1. Tocolíticos: • O uso de agentes tocolíticos ou inibidores das contrações uterinas deve ser iniciado assim que se concluir o diagnóstico de trabalho de parto prematuro, respeitadas as contraindicações para o seu uso. • O principal objetivo da tocólise é ganhar tempo necessário para a ação da corticoterapia e/ou transporte maternofetal com segurança. → Contraindicações: • Maternas: Corioamnionite, sangramento grave, condições clínicas maternas, hipertensão induzida pela gravidez; • Fetais: Morte fetal, anomalias fetais incompatíveis com a vida, comprometimento fetal, crescimento intrauterino restrito grave ou idade gestacional >34 semanas; • Deve-se assegurar internação para monitoração adequada do feto, estado de hidratação materna e atenção às complicações do tratamento. → Medicamentos: ❖ Nifedipina (Primeira escolha): • Bloqueador do canal de calcio • Cápsulas de ação rápida de 10mg. • Oferecer 10mg VO a cada 20 minutos até quatro doses OU 20mg VO em dose única, e se necessário 20mg após 90–120 minutos se a atividade uterina persistir. • Se após a 2ª dose mantiver atividade uterina, considerar falha terapêutica e utilizar outro agente. • A dose de manutenção é de 20mg VO a cada 4 a 8 horas por no máximo 72 horas. • As contraindicações são: Hipotensão materna (PA <90/50mHg) e bloqueio atrioventricular. ❖ Indometacina: • Dose de ataque de 50mg VO (ou 100mg/via retal) e dose de manutenção de 25mg/VO (1 comp.) cada 4 a 6 horas por no máximo 48–72 horas OU - 100mg/via retal a cada 24 horas (no máximo duas doses). - O uso da indometacina em dose única de 100mg por via retal é importante naquelas gestantes que serão transferidas para centros de atenção secundária ou terciária. • As contraindicações são: Disfunção renal ou hepática, úlcera péptica ativa, asma sensível a AINE, desordens de coagulação, trombocitopenia, oligohidrâmnio (Rotura de membranas) e após 32 semanas (Para evitar complicações, como o fechamento precoce do ducto arterioso). ❖ Agentes betamiméticos: • Deve-se ter cuidado com o uso de betamiméticos e hidratação venosa devido ao risco aumentado de edema agudo de pulmão. • Podem elevar a glicemia materna. • Salbutamol: Solução de 5mg (ou 10 amp.) em 500ml SG 5% (0,01mg/ml). - Iniciar a 10μg/min (60ml/hr em bomba de infusão ou 20 gotas/min) e aumentar 10μg/min de 20 em 20 minutos até inibição das contrações ou efeitos colaterais maternos indesejáveis (pulso >120 bpm, dor torácica, hipotensão, etc.). - Manter por 60 minutos. - Diminuir 10μg/min de 30 em 30 minutos até menor dosagem efetiva para inibição das contrações. Manter por 12 horas. • Terbutalina: Solução de 5mg (ou 10 amp.) em 500ml SG 5% (0,01mg/ml). - Iniciar a 10μg/min (60ml/hr em bomba de infusão ou 20 gotas/min). - Aumentar 10μg/min de 20 em 20 minutos até inibição das contrações ou efeitos colaterais maternos indesejáveis (pulso >120 bpm, dor torácica, hipotensão, etc.). Manter por 60 minutos. - Diminuir 10μg/min de 30 em 30 minutos até menor dosagem efetiva para inibição das contrações. Manter por 12 horas. • Ritodrina: Solução de 50mg (ou 5 ampolas) em 500ml SG 5% (0,1 mg/ml). Iniciar a 50μg/min (30ml/hr em bomba de infusão contínua ou 10 gotas/min) por via intravenosa. - Aumentar 50μg/min de 20 em 20 minutos até inibição das contrações ou efeitos colaterais maternos indesejáveis (pulso >120 bpm, dor torácica, hipotensão, etc.). Manter por 60 minutos. - Diminuir 50μg/min de 30 em 30 minutos até menor dosagem que mantivero útero inibido. Manter por 12 horas. ❖ Antagonista de ocitocina: • Atosibano: É um antagonista da ocitocina com potente ação tocolítica, mas não demonstrou-se sua superioridade em relação a nifedipina, além de apresentar alto custo. 2. Corticosteroides: • A administração de corticoides para amadurecimento pulmonar fetal se constitui na principal estratégia para a redução da morbimortalidade perinatal associadas a prematuridade (Como redução da ocorrência de síndrome de membrana hialina, hemorragia intraventricular e enterocolite necrotizante). • Atuam nos pulmões fetais, principalmente nos pneumócitos do tipo 2, acelerando a maturidade pulmonar com produção de surfactante, favorecendo as trocas gasosas alveolares • Os efeitos atingem seu benefício máximo se o parto ocorrer entre 24 horas e 7 dias após a última dose do medicamento. • Entretanto, mesmo se o parto ocorrer fora desse prazo ainda existem benefícios e, portanto, toda mulher com risco de parto prematuro deve receber corticoterapia, exceto quando houver contraindicações ao seu uso. • As opções disponíveis são: - Betametasona 12mg IM de 24 em 24 h por 2 dias - Dexametasona 6mg IM de 12 em 12 h X 4 doses. • Indicações: IG ≥ 24 e ≤ 34 semanas. • Contraindicações: Evidencias clinicas de infecção e/ou parto iminente. • Repetição das doses: O benefício a curto prazo é evidente para doses repetidas, mas ainda há dúvidas em relação a longo prazo. - Sugere-se repetição da dose se apresentar novo episódio com risco elevado de parto pré-termo antes de 32 semanas e após 7 dias da dose de ataque inicial, com um máximo de 3 doses. - Nesse caso a droga de escolha deve ser a betametasona em dose de 12mg. → Efeitos colaterais: • Aumento de cerca de 30% na contagem total de leucócitos e cerca de 45% de redução na contagem de linfócitos dentro de 24h após injeção. - As contagens retornam aos valores basais dentro de três dias. - Gestantes com contagem total de leucócitos maior que 20.103 células/cc após a administração de esteroides devem ser avaliadas para pesquisa de infecção. • Hiperglicemia materna = Em gestantes diabéticas em uso de insulina pode ser necessário aumento significativo das doses. • Diminuição ou aumento da frequência cardíaca fetal basal, diminuição ou aumento da variabilidade, diminuição dos movimentos fetais e alterações nos parâmetros biofísicos fetais. - Tais alterações não podem ser confundidas com comprometimento do bem-estar fetal, pois são transitórias e retornam ao normal no quarto dia após a administração da primeira dose de corticoide. • Possibilidade de contrações uterinas em gestações múltiplas com três ou mais fetos. 3. Antibióticos: • Não existem evidências que justifiquem o uso de antibióticos com o objetivo de prolongar a gestação e aumentar a eficácia da tocólise. • Os mesmos só devem ser utilizados para profilaxia da sepses neonatal pelo estreptococo do grupo B (EGB) em gestantes em trabalho de parto ou com rotura de membranas anterior a 37ª semana, com risco iminente e significativo de parto prematuro, que tenham cultura positiva para EGB, ou se a cultura não foi realizada. • Em geral, utiliza-se: - Penicilina G 5 milhões UI IV seguida por 2.5 milhões UI IV de 4 em 4h OU; - Ampicilina 2,0g IV seguida por 1,0g IV de 4 em 4h. - Se a gestante for alérgica a Penicilina, usar Clindamicina 900mg IV de 8 em 8h. • A eficácia é maior quando o intervalo entre a última dose e o parto for > 4 horas, mas a profilaxia deve ser realizada ainda que se vislumbre um intervalo menor que 4 horas até o parto. Dar preferência para a penicilina. - O antibiótico deve ser mantido até a inibição efetiva (durante a tocólise) ou até o parto, o que ocorrer antes. - Em algumas situações pode ser mantido por mais de 48 horas se o parto não tiver ocorrido e houver risco significativo de ocorrer brevemente. • Outras indicações para profilaxia de infecção por EGB independentemente da idade gestacional em gestantes com cultura não realizada: - Membranas rotas >18h; - Bacteriúria por EGB; - História de recém-nascido prévio infectado por EGB; - Temperatura intraparto ≥ 380C. • Gestantes com cultura negativa para EGB não precisam de profilaxia em nenhuma situação. Outras recomendações e cuidados • Dieta regular; • Dados vitais a cada 4h; • Contagem de movimentos fetais duas vezes ao dia (após o almoço e jantar); • Cardiotocografia basal duas vezes por semana; • Comunicar se temperatura axilar ≥ 37,8oC, contrações uterinas, diminuição de movimentos fetais, dor torácica, pulso materno >100, leucócitos >15.000, BCF >160. • Avaliação diária: - Contrações uterinas; - Diminuição dos movimentos fetais (<6 movimentos em um período de 1 hora); - Temperatura; - Taquicardia materna ou fetal; - Dor uterina; • Avaliar resultados de exames solicitados. • Alta: - A alta pode ser dada após 24 horas sem contrações. - Não há benefícios comprovados do uso de medicação tocolítica em nível ambulatorial com o objetivo de prevenir trabalho de parto prematuro recorrente. • Referir para consulta no pré-natal de alto risco. • Orientações para a alta - Atenção para eliminação de fluidos vaginais; - Atenção para sinais e sintomas de TPP; - Contagem de movimentos fetais duas vezes ao dia; - Retorno ao hospital se necessário (presença de contrações, eliminação de sangue ou fluido pelos genitais, diminuição dos movimentos fetais). • Se a tocólise falhar ou o trabalho de parto não puder ser inibido, não há nenhum benefício comprovado para o recém-nascido prematuro do uso rotineiro do fórceps e da episiotomia. - Devem ser utilizados apenas para outras indicações (ex.: estado fetal não tranquilizador). • Não existem evidências de que o uso rotineiro da cesariana possa melhorar o prognóstico de recém- nascidos prematuros. - Embora a sua realização possa reduzir a mortalidade neonatal em recém-nascidos de extremo baixo peso, a morbidade neonatal pode ser extremamente alta, não justificando o procedimento.
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