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ACIDENTES POR ANIMAIS PEÇONHENTOS Acidentes envolvendo cobras, aranhas e escorpiões. V I N I C I U S D A S I L V A S A N T O S - M E D I C I N A - U N I V E R S I D A D E F E D E R A L D E P E R N A M B U C O INTRODUÇÃO • Animais peçonhentos x animais venenosos: São chamados peçonhentos os animais que conse- guem inocular o veneno em sua vítimas. • Principais representantes pra prova/vida: • Ofidismo: Cobras, lembrar de 4 espécies. • Araneísmo: Aranhas, 3 espécies. • Escorpionismo: Escorpião, 1 espécie. OFIDISMO ESPÉCIES DE COBRAS (4 PRINCIPAIS) • Jararaca (Gênero Bothrops) → Acidente botrópico: é o acidente mais comum! As ações do seu veneno: o Proteolítica: Ação local, uma grande destruição tecidual com necrose, edema e bolhas. o Coagulante: Aumento do tempo de coagulação e consumo de fatores, CIVD. o Hemorrágica: Tendência à sangramento espontâneo. • Surucucu (Gênero Lachesis) → Acidente laquético: Possui um veneno com as mesmas características do acidente botrópico. Além disso, no laquético há: o Clínica parassimpática: Sialorreia, miose, bradicardia. o Áreas florestais: Acidente restrito a zonas florestais. • Cascavel (Gênero Crotalus) → Acidente crotálico: O que chama atenção é uma reação proteolítica mínima (não afeta a pele tão abruptamente). Ação: o Neurotóxica: Fáscies miastênica (ptose palpebral, diplopia, extensão do pescoço e boca caída) pela dificuldade da Acetilcolina se ligar na JNM, acarretando em uma fraqueza crânio-caudal (típica da miastenia) o Miotóxica: Mialgia generalizada, CPK aumentada por agressão muscular e rabdomiólise (o que mata muito por IRA!) o Ação coagulante discreta • Coral (Família Elapidae) → Acidente elapídico: Tem semelhança ao acidente crotálico (tem ação neurotóxica). As principais diferenças são: o Sem ação miotóxica o Sempre grave: A progressão crânio-caudal da fraqueza é muito mais rápida e envolve musculatura respiratória acessória! *EXISTE COBRA CORAL VERDADEIRA E FALSA! Na verdadeira, os anéis dão uma volta completa, enquan- to na falsa a barriga os anéis não se completam. A cobra coral rubro-negra (2 cores), é falsa! EPIDEMIOLOGIA • Acidente ofídico mais comum: Botrópico (90%). • Acidente ofídico menos comum: Elapídico, apesar de ser sempre um acidente grave! • Acidente ofídico que mais mata: Crotálico! • Perfil da vítima: Homem (15-49 anos), rural com picada acometendo o membro inferior. IDENTIFICAÇÃO DA COBRA 1. Peçonhenta ou não Peçonhenta? As cobras peçonhentas tem uma estrutura entre a narina e os olhos chamada de FOSSETA LOREAL e geralmente possuem presas avantajadas. a. Exceção: Cobra coral (acidente elapídico), sem fosseta e com presas discretas. 2. Diferenciando pela anatomia: Se tem fosseta temos 3 opções; Jararaca, Surucucu e Cascavél, a diferenciação é pela cauda! a. Cauda lisa: Jararaca b. Cauda com chocalho: Cascavel c. Cauda com escamas: Surucucu. V I N I C I U S D A S I L V A S A N T O S - M E D I C I N A - U N I V E R S I D A D E F E D E R A L D E P E R N A M B U C O 3. Diferenciado pela clínica: a. Reação local importante? Botrópico ou Laquético! A principal diferença nesses casos é que o laquético tem ação parassim- pática e principalmente na floresta. b. Reação local fraca e ação neurotóxica? Crotálico ou Elapídico! A principal diferen- ça é a miotoxicidade do crotálico (rabdo). CASOS PARA TREINAR O CONHECIMENTO CLASSIFICAÇÃO DE GRAVIDADE ACIDENTE BOTRÓPICO PREVENÇÃO • Uso de luvas e botas em ambiente rural • Acabar com os roedores: O principal alimento das cobras. • Evitar caminhar em matas altas e mexer em entulhos “Quem come alguém é comido também” → A cobra tem um predador natural, que é o gambá: Uma outra alternativa, se não for possível exterminar os roedores é criar gambás no seu território. O QUE NÃO FAZER? Evitar os ditados populares que dizem que dar cachaça é bom, fazer torniquete para conter a ação do veneno ou até arrancar o membro acometido nunca devem ser feitos! ABORDAGEM MEDIDAS GERAIS • Cuidados locais: Repouso e limpeza com água e sabão da região. • Profilaxia antitetânica: Realizar se o doente não lembra quando tomou as vacinas ou se não tomou. • Notificação compulsória: Notificar ao SINAN, se te der um branco, a ficha tem umas diferenciações no verso. MEDIDAS ESPECÍFICAS • Soroterapia: Prescrever sempre! Independente do quadro clínico. A dose varia com a gravidade! o Soro Antibotrópico (SAB): 2-12 FA. o Soro Antibotrópico-laquético (SABL): 5-20 o Soro Anticrotálico: 5-20 FA. o Soro antielapídico: 10 FA (Todos graves!) CASOS ESPECIAIS • Desbridamento da área de necrose: Nos acidentes botrópicos e laquéticos. o Fasciotomia: Se houver síndrome compar- timental pela ação proteolítica regional. • Prevenção de IRA por rabdomiólise: Nos acidentes crotálicos, fazer hidratação venosa, manitol, bicarbonato. • Recuperar a força da musculatura acessória: Em acidentes elapídicos, pela progressão da fraqueza. Devemos fazer neostigmina, que vai aumentar a V I N I C I U S D A S I L V A S A N T O S - M E D I C I N A - U N I V E R S I D A D E F E D E R A L D E P E R N A M B U C O acetilcolina na fenda sináptica e aumento da força de contração. TABELA DE SOROTERAPIA ARANEÍSMO • 3ª maior causa de acidente por a. peçonhento • 25 mil casos em 2012: E 11 óbitos, números bem expressivos no país, mesmo que menores. • Etiologia não identificada: Não sabemos qual a aranha causadora em cerca de 30% dos casos. MECANISMO DE AÇÃO GERAL • Ativação de canais de sódio de células eletro excitáveis: Ou seja, neurônio e músculo. • Mecanismo contrário do anestésico local: o Ativação de células sensitivas: Dor. o Ativação de células autônomas: Simpático e Parassimpático, depende. o Ativação de células motoras: Contraturas! TIPOS DE ARANHAS (3 PRINCIPAIS) • Aranha-marrom (Loxosceles): É a aranha da prova! Acidentes mais frequentes, corresponde a 38% dos casos, é a mais grave. o 99% Cutânea: Placa marmórea! • Aranha armadeira (Phoneutria): 14,1% dos casos e acidentes mais comuns no sudeste/sul. o Errantes e agressivas: Ela é nômade pois não consegue fazer teia muito bem. o Faz picada em extremidades: Em geral! o Clínica: Dor imediata e intensa, clínica sistêmica (diag dif. com escorpião). • Viúva-negra (Latrodectus): Apenas 0,5% dos casos e quase todos eles restritos ao nordeste (RARO). o Clínica: Contratura e flexões, é o principal! Acomete os canais de sódio nos miócitos. (Fáscies latrodectísmica) LOXOCELES (ARANHA MARROM) • Encontrada em todo país, principalmente no sul • Principais espécies: Loxoceles intermédia (mais comum de Curitiba), laeta e gaucho. • Principais locais: Coxa (20,1%), tronco (15,7%), braço (12%) e perna (18,4). Maioria leve! (73,9%). QUADRO CLÍNICO MECANISMO: Ocorre pela ação da enzima enfingomie- linase sobre o endotélio e hemácias, causando inflama- ção intensa e ativação com sistema complemento. Possui instalação lenta! Pode evoluir de duas formas: • Forma cutânea (99% dos casos): • Loxoscelismo evidente: Lesão característica por base eritematosa, com ou sem enduração, área de isquemia no centro, mesclada com áreas violáceas, com ou sem bolhas hemorrágicas. Acompanha dor em queimação e a lesão pode evoluir para necrose em alguns dias, com formação de escara. As lesões hemorrágicas focais entremeadas com áreas de isquemia são chamadas de placa marmórea. • Loxoscelismo provável: Lesão sugestiva (equimose, dor em queimação, com ou sem enduração) acompanhada de rash. • Loxoscelismo possível: Apresenta lesão incaracte- rística (eritema, dor discreta, prurido, vesícula ou bolha e poucas horas de evolução) ou necrótica seguida de infecção, fazendo diagnóstico diferencial com outras doençasulcerosas. • Loxoscelismo edematoso: Manifestação de com edema de face ou genitália. V I N I C I U S D A S I L V A S A N T O S - M E D I C I N A - U N I V E R S I D A D E F E D E R A L D E P E R N A M B U C O • Forma cutâneo-visceral ou hemolítica (1%): • Hemólise intravascular: Principal diferencial, cursando com anemia, icterícia e hemoglobinúria. • CIVD: Pode evoluir para coagulação disseminada. • Insuficiência renal aguda: Principal causa de morte, multifatorial. • Exames laboratoriais: Anemia, plaquetopenia, reticulose, hiperbilirrubinemia indireta, diminuição da haptoglobina, coagulograma alterado e elevação das escórias nitrogenadas. CONFIRMAÇÃO DIAGNÓSTICA • Empírica: Paciente viu a aranha e levou até o serviço de saúde, associado a quadro clínico. • Não sentiu a picada: Nem viu a aranha, mas apresenta lesão característica ou lesão sugestiva com exantema morbiliforme disseminado ou lesão incaracterística por mais de 72h. • Associação local + sistêmica: Presença de cefaleia, tontura, mialgia, náusea, vômitos, exantema e febre nas primeiras 24h. TRATAMENTO • Soroterapia: Soro Antiloxoscélico, deve ser administrado o quanto antes, pois sua eficácia diminui bastante após 24-36h. • Corticoterapia: Prednisona 40-60 mg/dia em adultos e 1mg/kg/dia em crianças durante 5-10 dias. Mais eficaz se aplicada nas primeiras 48h. • Dapsona: 50-100 mg/dia, VO, 10-14 dias. O ATB pode ser útil para tentar modular a inflamação. PHONEUTRIA (ARMADEIRA) • Aranha-armadeira ou aranha-macaca: Conhecidas assim pela postura de defesa e por pular em cima. • Espécies: Phoneutria nigriventer, keyserlingi e fera QUADRO CLÍNICO • Manifestações locais: Dor de início imediato, podendo estar acompanhado de edema, eritema, parestesias e sudorese no local da picada. • Sistêmicos: 8% dos casos, sudorese, tremores, convulsões, taquicardia, arritmias, distúrbios visuais e até choque. • Exames: Podem mostrar leucocitose com neutrofilia, hiperglicemia, acidose metabólica e taquicardia sunisal. TRATAMENTO • Soroterapia Antiaracnídea (SAA): Está indicada para casos moderados e graves. • Analgesia intensa: Dipirona e meperidina, compressa morna.. • Terapia local: Infiltração anestésia local ou troncular, imersão com água morna e compressas quentes são boas medidas no controle da dor. LATRODECTUS (VIÚVA NEGRA) • Quase todos os casos no nordeste • Somente as fêmeas causam acidentes: Costumam matar o macho na copulação. • Principais espécies: Latrodectus curacaviensis e Latrodectus geometricus. V I N I C I U S D A S I L V A S A N T O S - M E D I C I N A - U N I V E R S I D A D E F E D E R A L D E P E R N A M B U C O QUADRO CLÍNICO • Manifestações locais: Dor de leve intensidade com posterior sensação de queimação. • Manifestações sistêmicas: Dor irradiada e espasmos nos MMII, contração muscular intermi- tente, tremor, dor com rigidez abdminal (abdome em tábua). • Fáscies latrodectísmica: Eritema e sudorese em face e pescoço + edema palpebral + blefatoconjun- tivite + expressão de dor + trismo de masseteres. • Outras manifestações incomuns: Opressão precordia, taquicardia, hipertensão, náuseas, vômitos, sialorreia e priapismo. • Exames: Podem dar alterações inespecíficas como leucocitose, linfopenia, hiperglicemia e hiperfosfatemia, além de ECG com FA, BAV, alterações do segmento ST e aumento do intervalo QT. TRATAMENTO • Analgésicos sistêmicos: Dipirona, o que tiver no serviço, medida mais importante. • Benzodiazepínicos: Diazepam 5-10mg IV a cada 4h, se necessário (crianças 1-2mg). • Gluconato de cálcio 10%: 10-20ml IV a cada 4h, se necessário (crianças 1mg/kg) • Clorpromazina: 25-50mg IM, a cada 8h, se necessário. *O soro antilactrodéctico encontra-se em fase experimental, por isso não devemos fazer! ESCORPIONISMO INTRODUÇÃO • Maior número de notificações no Brasil: Supera os outros peçonhentos, até a cobra. o É mais comum e mais grave que aranha! o Mais comum em MMSS • Mais casos no sudeste e nordeste: 60 mil notificações no país em 2012. • Urbanos: Local onde ocorrem os acidentes. • Curso benigno e com baixa letalidade (0,2%) • Risco elevado em crianças: Menores que 14 anos, principalmente na faixa dos 10 anos. PRINCIPAIS ESPÉCIES • Tityus serrulatus: Escorpião-amarelo, principal causa de acidentes escorpiônicos. • Tityus bahiensis: Escorpião marrom. • Titys stigmurus, meruendus e paraensis: Escorpião -preto, menos comum dos tityus. QUADRO CLÍNICO • Mecanismo: Parecido com as aranhas! Ativação de canais de sódio, despolarizando terminações nervosas pós-ganglionares e liberação de acetil- colina e catecolaminas. • Dor: De alta intensidade, instalação imediata e dura até 24h. • Eritema e sudorese localizada • Envenenamento sistêmico grave: Em crianças principalmente, cursa com confusão mental, hiper ou hipotensão arterial, sialorreias, arritmias, EAP e choque. EXAMES • ECG: Várias alterações, desde bradicardia sinusal até supradesnivelamento de ST com presença de onda Q de necrose. • Radiografia: Aumento da área cardíaca e congestão pulmonar. • Laboratório: Em casos graves, o paciente pode manifestar leucocitose com neutrofilia, elevação da amilase, CK e CK-MB, hiperglicemia, hipocalemia e hiponatremia. DIAGNÓSTICO: Clínico! O principal diagnóstico diferencial são os acidentes por aranha armadeira. TRATAMENTO • Sintomático: Analgesia, hidratação, infiltração de anestésico sem vasoconstritor (lidocaína 2%) ou anestésico sistêmico. • Soros: Antiescorpiônico (SAEsc) ou Antiaracnídeo (SAA) em pacientes com sistemas moderados a graves, o SAA é indicado em dúvida não esclarecida e os acidentes devem ser administrado como: • Se Bradicardia sinusal + baixo DC e BAVT: Tratamento com atropina 0,01 a 0,02 mg/kg. • Se Hipertensão arterial persistente associada ou não a EAP: Nifedipina 0,5mg/kg sublingual.
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