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INTOXICAÇÕES EXÓGENAS Os principais agentes, a clínica e os seus antídotos. V I N I C I U S D A S I L V A S A N T O S - M E D I C I N A - U N I V E R S I D A D E F E D E R A L D E P E R N A M B U C O INTRODUÇÃO → ABORDAGEM GERAL 1. Suporte clínico 2. Descontaminação 3. Antídoto • DEFINIÇÃO: Intoxicação é o efeito dose-depen- dente a determinados agentes. SUPORTE CLÍNICO • A prioridade é tratar o indivíduo, não a toxina! Por isso, temos que estabelecer condutas para salvar primordialmente o paciente. • Prioridades: Vias aéreas e circulação, são as regiõ- es do corpo do indivíduo que são mais perigosas. DESCONTAMINAÇÃO • Objetivo → Redução da absorção: O ponto chave é reduzir a absorção daquela substância pelo organismo do paciente. • Intoxicação oral: • Lavagem gástrica: É uma das estratégias, tem como fatores de limitação 1)A ingestão de uma substância corrosiva, pois há risco de retorno pro esôfago da substância. Além disso, 2)O tempo de contato, pois se o paciente ingeriu a substância por 2-3 horas, ela já saiu do estômago faz tempo. • Carvão ativado: É a principal estratégia! 1g/kg de peso do paciente. É um medicamento com carac- terística adsortiva (como uma esponja, para algumas substâncias). Nesse caso também existe uma 1)limitação de tempo, só que um pouco maior que a lavagem gástrica, 2)além de não servir para algumas substâncias (álcool, BZD, opiáceo). • Intoxicação cutânea: • Água: Lavar muito, abundantemente é a principal medida que deve ser tomada. ANTÍDOTO • Sempre que tiver, você faz! Benzodiazepínicos, opioides, dentre muitos outros. Se tiver disponível no serviço, faça. INTOXICAÇÃO POR ACETAMINOFENO (PARACETAMOL/TYLENOL) • O paracetamol é um importante analgésico e antitérmico usado no dia-a-dia • Dose máxima: 4g/dia. (Paracetamol costuma ter de 500-750 mg/cp em sua apresentação) • Para a intoxicação acontecer, a paciente tem que ingerir muito mais de 4g: 7-10g intoxicam. FISIOPATOLOGIA • Metabolismo: 90 % do Tylenol passa por um processo de glicuronidação e sulfatação e são excretados na urina. Os outros 10%, 5 passam livres pela urina e 5% serão metabolizados no fígado pelo citocromo p450! • Formação de um produto tóxico → NADPQI: É o resultado da metabolização do citocromo p450, um composto altamente tóxico. • Em doses normais, a NADPQI é inativada no organismo e eliminada na urina: Por uma enzima chamada de glutation. • Em overdose, as vias e o Glutation fica saturado e o NADPQI aumenta em grande quantidade: O NADPQI agride múltiplos sistemas, mas o grande alvo são os hepatócitos. • Hepatite fulminante: Por agressão via NADPQI. CLÍNICA • Primeiras 24h: Sintomas gerais, inespecíficos. • 24-48h: Hepatotoxicidade (principal!) cursando com insuficiência hepática. É comum apresentar também uma insuficiência renal (NTA). o Ins. hepática: Icterícia, alargamento do TAP, elevação das transaminases, ence- falopatia hepática. • 1-2 semanas: Recuperação (se não morrer). DIAGNÓSTICO • História clínica: De ingestão/overdose de Tylenol. • Exame físico: Icterícia, encefalopatia. • Laboratório: Alteração aguda da função hepática. • Dosagem sérica do acetaminofeno: Pode ser usada para diagnosticar e para o tratamento. TRATAMENTO: O tratamento segue aqueles 3 pilares da abordagem às intoxicações (resumo ao lado). 1) SUPORTE CLÍNICO: CONTROLAR A FALÊNCIA HEPÁTICA • Controlar: Hipoglicemia, coagulopatia • Se grave: Avaliar possibilidade de transplante hepático. 2)DESCONTAMINAÇÃO • Carvão ativado: Apenas deve ser administrado se ingestão do paracetamol em até 4h. V I N I C I U S D A S I L V A S A N T O S - M E D I C I N A - U N I V E R S I D A D E F E D E R A L D E P E R N A M B U C O 3)ANTÍDOTO • N-acetilcisteína: Funciona como um doador de Glutation, ou seja, aumentando a inativação da NADPQI. o Idealmente deve ser ADM nas primeiras 8h de ingestão: A depender da concentra- ção sérica de Paracetamol, deve-se administrar com > 8h de ingestão. Olhar gráfico, se estiver acima da linha terapêu- tica, administrar N-acetilcisteína. INTOXICAÇÃO DIGITÁLICA • Principal droga digitálica → Digoxina • Como age o digital? São drogas que visam aumen- tar a força de contração, por isso são utilizadas no tratamento da ICC de FE reduzida. Os digitálicos são inibidores da bomba de Na/K ATPase. o A bomba de Na/K ATPase joga Na pra fora e coloca K pra dentro: Regra da Nokia → N de Na, O de Out, K de potássio e I de In. FISIOPATOLOGIA • O digitálico inibe a bomba de Na/K ATPase, o que enche a célula de sódio • Quando a célula tá cheia de Na, há ação do tro- cador Na/Ca: Esse trocador joga Na fora e coloca Ca pra dentro. • Aumento da força de contração: Pelo acúmulo de cálcio no meio intracelular, é o efeito terapêutico do digitálico. • O digital tem uma dose terapêutica muito próxi- ma da dose tóxica MANIFESTAÇÕES • Consequências clínicas: Náusea, vômito, dor abdominal, alteração visual (borramento, cromatopsia principalmente xantopsia) • Alteração elétrica: Redução da condução (em nó sinusal e AV) e aumento de automatismo atrial e ventricular → Isso acarreta na presença de arritmia das mais diversas formas. • Hipercalemia: Pois o potássio não tá entrando na célula, tá ficando fora. *VAN GOGH TEVE INTOXICAÇÃO DIGITÁLICA: Por isso, em suas obras, a cor amarela era sempre preponderan- te nos quadros em uma fase chamada de fase amarela, ele tinha xantopsia por intoxicação digitálica (chá de dedaleira pelo médico de Van Gogh). ALTERAÇÕES ELETROCARDIOGRÁFICAS • Extrassístole ventricular: Mais comum e precoce! • Taquicardia ventricular bidirecional: Por conta do aumento do automatismo ventricular! É quase algo patognomônico de intoxicação digitálica! V I N I C I U S D A S I L V A S A N T O S - M E D I C I N A - U N I V E R S I D A D E F E D E R A L D E P E R N A M B U C O • Taquicardia atrial com BAV: Inúmeras ondas P e algumas sem QRS (BAV). Quase patognomônico! • BAV de 2º grau Mobitz I: Onda P bloqueada uma vez, esporádica, com alargamento até o bloqueio. • Fibrilação atrial: Raro na intoxicação digitálica! FATORES DE RISCO • Insuficiência renal: Depende da excreção renal! • Doenças cardíacas: Aumentam a sensibilidade ao remédio (miocardite, isquemia ativa). • Alterações eletrolíficas: Hipocalemia, HipoMg e HiperCa. • Drogas: Amiodarona, BCC, Ciclosporina, Diurético. • Idade avançada: Função renal mais prejudicada, mais sensível à ação farmacológica. TRATAMENTO 1) SUPORTE CLÍNICO • Correção eletrolítica: Dosar o potássio e avaliar. • Cuidado com arritmia: Fenitoína tem ação antiarritmica e pode ajudar, marca-passo s/n. 2)DESCONTAMINAÇÃO • Carvão ativado: Se intoxicação oral. 3)ANTÍDOTO • Anticorpo anti-Fab (DigiBind®): Fazer se arritmia grave ou hipercalemia grave. *SAIBA MAIS → EFEITO DIGITÁLICO: Mesmo em uso correto, o paciente pode apresentar alteração eletro- cardiográfica típica, um infradesnivelamento ST em formato de pá de pedreiro. REVISÃO: SISTEMA NERVOSO PERIFÉRICO SISTEMA NERVOSO PERIFÉRICO: É composto pelos nervos que emergem da medula espinhal. 2 TIPOS: • Sist. N. Somático (Voluntário): Função motora voluntária (soma é vontade!) • Sist. N. Autônomo (Involuntário): Funções neurovegetativas (FC, peris-talse do TGI), não depende do soma! *O segundo neurônio motor (somático) joga acetilco- lina na junção neuromuscular: É a acetilcolina que age nos receptores nicotínicos e coordena a contração muscular da maneira correta. O SN Somático não usa gânglios, o estímulo vai direto. *No sistema nervoso autônomo depende! Se for um estímulo mediado pelo SN Simpático é um neurotrans- missor, se for pelo Parassimpático é outro! Para atuar, o SN Autônomo utiliza gânglios! • SN Parassimpático:Mediado pela ação da acetil- colina em receptores muscarínicos. • SN Simpático: Mediado pela ação de catecolami- nas se ligando em receptores adrenérgicos. V I N I C I U S D A S I L V A S A N T O S - M E D I C I N A - U N I V E R S I D A D E F E D E R A L D E P E R N A M B U C O AÇÕES DO SISTEMA NERVOSO AUTÔNOMO • Parassimpático (descansar ou digerir): Miose, estimula a salivação, reduz a FC, contrai brônquios, estimula a atividade gástrica/pancreática, estimula a vesícula biliar e contrai a bexiga. • Simpático (luta ou fuga): Midríase, inibe a saliva- ção, relaxa os brônquios, acelera a FC, inibe a atividade gastro/pancreática, estimula a liberação de glicose hepática, aumenta NE e relaxa a bexiga. *PARA LEMBRAR: Receptor nicotínico você lembra de cigarro e fumar cigarro é uma ação voluntária (soma). SÍNDROME COLINÉRGICA (ORGANOFOSFORADOS E CARBAMATOS) • Definição: Conjunto de sinais e sintomas decorren- tes do aumento da acetilcolina na fenda sináptica. FISIOPATOLOGIA • Seja na fenda sináptica, seja na JNM, existe uma enzima que degrada acetilcolina e inibe sua ação: É a acetilcolinesterase! • A principal causa de síndrome colinérgica é a inibição de acetilcolinesterase: Pois nesse caso a acetilcolina vai ficar muito tempo na fenda! • Fármacos inibidores da acetilcolinesterase: São dois principais! Os CARBAMATOS e ORGANOFOS- FORADOS! o Carbamatos (reversíveis): Chumbinho, pesticidas, neostigmina, rivastigmina. o Organofosforados (irreversíveis): Agrotó- xicos! Diazinon, malation, gás sarin. *A diferença entre ambos é que os organofosforados inibem IRREVERSIVELMENTE a acetilcolinesterase! *Inibidores da colinesterase (neostigmina e rivastig- mina) podem causar quadro semelhante à intox! QUADRO CLÍNICO • Muscarínico (Parassimpática): • Miose: Pra repousar eu preciso de pouca luz! • Broncoconstricção: Não preciso de muito ar para descansar, diferente da luta ou fuga. • Incontinência urinária: Pela contração vesical! • Bradicardia: Pelo relaxamento muscular. • Sialorreia: Para facilitar a digestão. • Nicotínico (Somático): • Miofasciculações: Pela ação descoordenada da acetilcolina, que faz esses movimentos involunt. • Taquicardia: Pode acontecer, porém os sintomas muscarínicos tendem a prevalecer! • Fraqueza: Também pela ação colinérgica. DIAGNÓSTICO → CLÍNICO! • Clínica: História de exposição à carbamatos/ organofosforados + síndrome colinérgica. • Dosagem da acetilcolinesterase sérica: Sem utili- dade prática! Apenas para fins acadêmicos. TRATAMENTO (ANTÍDOTOS SÃO O PRINCIPAL) • Suporte clínico: Como sempre ideal, corrigir alterações sintomáticas e potenciais à vida, oxigê- nio, assistência ventilatória e tratar convulsão. • Descontaminação → Carvão ativado: Pode ser utilizado, se a ingestão foi recente. • Atropina: Antídoto para receptores muscarínicos! Na dose de 2-5 mg IV a cada 5-15 min até que as secreções sequem. • Pralidoxima: Antídoto para os receptores nicotíni- cos! Bolus de 30 mg/kg durante 30 min + manutenção. NÃO DEVEMOS ADMINISTRAR PRALI- DOXIMA SEM ATROPINA! INTOXICAÇÃO POR OPIOIDES • Principais fármacos: Morfina, fentanil, heroína, dolantina, codeína, tramadol. QUADRO CLÍNICO • Depressão respiratória: É o principal! O paciente apresenta uma frequência respiratória reduzida, um rebaixamento do nível de consciência, dessaturação. • Constipação: É quase uma regra, os opioides tem esse efeito e uma síndrome consuptiva é quase certa na intoxicação. • Miose • Náuseas e vômitos • Prurido: Comum de acontecer, principalmente na anestesiologia. V I N I C I U S D A S I L V A S A N T O S - M E D I C I N A - U N I V E R S I D A D E F E D E R A L D E P E R N A M B U C O TRATAMENTO • Suporte clínico: Avaliar via aérea e a necessidade de intubação orotraqueal no doente, geralmente tem que intubar! • Descontaminação → Carvão ativado: Apenas se no caso de intoxicação VO, se for IV ou intratecal não tem como! • Antídoto → Naloxone: É o principal, tem que saber! Na dose de 0,4-2 mg IV até o máximo de 10 mg (se necessário). A meia-vida do Naloxone geralmente é menor que a do opioide, por isso as vezes é preciso estar em cima do paciente ou fazer IM (monitorar pelo menos as primeiras 24h). INTOXICAÇÃO POR AD TRICÍCLICO • Exemplos de AD tricíclicos: Amitril, nortriptilina. • Ação: Inibe a recaptação de serotonina, noraepi- nefrina e dopamina. • Efeitos colaterais (inúmeros): o Bloqueio muscarínico: O paciente vai manifestar uma síndrome anticolinérgica (boca seca, dificuldade para urinar, redução da motilidade intestinal). o Alteração neurológica: Convulsão, seda- ção, midríase, coma. o Bloqueio alfa-adrenérgico: Hipotensão arterial. o Bloqueio de canais de Na cardíaco: QRS largo, QRS positivo em AVR (+), TODOS devem ser submetidoa a um ECG. TRATAMENTO • Suporte clínico: Avaliação geral do doente, drogas sintomáticas como um pró-cinético (domperidona) • Descontaminação: Pode ser feito com carvão ativado, mas incomum pelo tempo de ingestão. • Antídoto: Bicarbonato de sódio em bolus! É um importante quelante dos AD tricíclicos, deve-se manter o PH entre 7,50-7,55 (pois a acidemia leva ao aumento do risco de arritmias). o 850 mL de SG + 150 mL de BIC a 8,4%: Iniciar com 200-300 ml EV em 1h e monito- rar o pH sérico. INTOXICAÇÃO POR BETABLOQUEADORES • Principais exemplos: Atenolol, Carvedilol, Biso- prolol, Metoprolol. QUADRO CLÍNICO • Bradicardia/bradiarritmia e hipotensão: Por redução da contratilidade cardíaca. o Exceção → Acebutolo, carteolol, pindolol: Causa uma síndrome simpaticomimética. • Alterações do ECG: BAV, bloqueios de ramo, bradicardia, assistolia, prolongamento do QRS. • Anormalidades metabólicas: Hipercalemia (pela redução da entrada deste íon nas células), hipoglicemia (pois as catecolaminas, inibidas pelos betabloqueadores, mobilizam a glicose durante a hipoglicemia) e acidose (pelas crises convulsivas, choque e depressão respiratória). TRATAMENTO • Suporte clínico: Agentes vasopressores (dopamina , adrenalina, nora) e atropina se necessário para a hipotensão e bradicardia. • Descontaminação: Carvão ativado (se na janela). • Antídoto → Glucagon: 1ª linha no tratamento da intoxicação por betabloqueadores. Dose de ataque de 5 mg e manutenção com 2-5 mg/h. o Por quê? O glucagon ativa a adenilato ciclase em via independente de receptores beta, o que estimula a contratilidade cardíaca por uma via diferente. INTOXICAÇÃO POR BENZODIAZEPÍNICOS • Principais exemplos: Clonazepam, diazepam, midazolam, alprazolam, lorazepam. • Mecanismo: Os benzodiazepínicos são drogas depressoras do SNC (via potencialização do GABA). QUADRO CLÍNICO • Depressão do SNC → Apatia, sonolência, rebaixamento do nível de consciência: Ocorrem cerca de 30 min após a ingestão. • Coma e depressão respiratória: Raro! V I N I C I U S D A S I L V A S A N T O S - M E D I C I N A - U N I V E R S I D A D E F E D E R A L D E P E R N A M B U C O TRATAMENTO • Suporte clínico: Ventilatório, se paciente rebaixa- do e sem conseguirmos a avaliação adequada. • Descontaminação: Carvão ativado (se na janela, algumas literaturas dizem ser ineficaz). • Antídoto → Flumazenil: Antagonista competitivo dos receptores BZD, pode reverter a depressão do SNC (muito usado por anestesistas). RESUMÃO DAS INTOXICAÇÕES *PARA LEMBRAR ANTÍDOTO DE BZD: O Bernardo (Bê) é Fluminense! (Benzodiazepínico → Flumazenil) INTOXICAÇÃO POR DROGAS ILÍCITAS COCAÍNA E DERIVADOS • Principais exemplos: Cocaína, crack, oxi. • A cocaína deriva da planta Erythroxylum coca: Enquanto o crack é uma mistura de cocaína e outras substâncias como bicarbonato. • Mecanismo: Semelhante aos AD tricíclicos, inibe a recaptação de nora, dopa e serotonina QUADRO CLÍNICO• Agudo: Estimulação do SNC com elevação do humor, taquicardia, hipertermia, midríase (efeito simpaticomimético), aumenta o risco CV. • Após o efeito da droga: Disforia, rebaixamento. • Crônico: Perda da libido, impotência, ginecomastia TRATAMENTO • Suporte clínico: ECG, monitorar PA, avaliar vias aéreas para necessidade de IOT. • BZD: Diazepam 5mg IV, tratamento dos sintomas adrenérgicos e agitação. Em casos mais graves, a fentolamina deve ser utilizada na dose 1-5 mg. ANFETAMINAS (ECSTASY) • Mecanismo de ação: Simpaticomimético! • Efeitos agudos: Sensação de euforia, redução da fadiga, cefaleia, taquicardia, hipertensão. • Efeitos crônicos: Dependência e tolerância, déficit cognitivo e de memória. TRATAMENTO • Semelhante à cocaína e derivados: Evitar b-bloq e também haldol. • Hiponatremia: Por polidipsia psicogênica, o usuá- rio fica na rave e perde a noção da ingestão. V I N I C I U S D A S I L V A S A N T O S - M E D I C I N A - U N I V E R S I D A D E F E D E R A L D E P E R N A M B U C O INTOXICAÇÃO POR METAIS INTOXICAÇÃO POR CHUMBO (SATURNISMO) INTRODUÇÃO • O chumbo é um contaminante ambiental • Onde podemos encontrar? 1. Tintas de artistas, fumaça de madeira pintada 2. Cerâmicas vitrificadas: Copos, jarras, pratos. 3. Galerias de tiro ao alvo 4. Fabricação de baterias de automóveis 5. Fundições e indústrias de armamamentos METABOLISMO • Absorção: O chumbo pode ser absorvido pela inalação ou ingestão. • Atravessa as membranas no plasma e acumula-se nos tecidos moles: Principalmente os ossos. • 95-99% do chumbo no plasma se encontra ligado à hemoglobina: É sequestrado pelas hemácias. • Toxicidade: O chumbo tem afinidade com a membrana celular e mitocôndrias, interferindo na fosforilação oxidativa e prejudica vias de sinaliza- ção intracelular dependentes de cálcio e atividade da proteína quinase C cerebral. QUADRO CLÍNICO • Exposição aguda: • Crianças: Dor abdominal, irritabilidade, letardia, anorexia, palidez, ataxia e fala arrastada. • Adultos: Todos os da criança + cefaleia, artralgia, mialgia, perda da memória de curto prazo e libido. • Altos níveis de exposição: Leva a um quadro grave de encefalopatia, convulsões, coma e até morte. • Exposição crônica: • Crianças: Anemia (normo/normo), retardo mental, déficit cognitivo múltiplo (linguagem, audição, equilíbrio, comportamento e desempenho). o Linhas de chumbo nas placas epifisárias dos ossos longos • Adultos: Anemia (também normo/normo), neuro- patia periférica desmielinizante, distúrbios do tempo de reação, hipertensão, nefrite, DRC, aborto espontâneo e redução da quantidade de espermatozóides. o Linhas de Burton: “linha de chumbo” na borda gengival dos dentes. DIAGNÓSTICO • História de exposição: Na anamnese. • Pesquisa de pontilhados basofílicos: Achado nas hemácias por esfregaço do sangue periférico. • Dosagem sérica de chumbo: Obviamente elevada. • Dosagem de coproporfirina e protoporfirina: O primeiro na urina e o segundo no sangue, vão estar aumentados pois o chumbo interfere na incorpora- ção de ferro ao heme. TRATAMENTO • O uso de medicamentos deve se restringir aos casos graves: Por conta dos muitos efeitos adver- sos que apresentam. • Dimercarpol • Edetato dissódico de cálcio (EDTA) • D-penicilamina INTOXICAÇÃO POR BENZENO (BENZENISMO) INTRODUÇÃO • O que é o benzeno: É um hidrocarboneto aromáti- co que se apresença como um líquido incolor, lipossolúvel, voláril, inflamável e de odor típico. • Pode ser encontrado nos derivados de petróleo: Como gasolina, solventes e detergentes. • Quando inalados, ocupam espaço alveolar e resultam em hipóxia QUADRO CLÍNICO • Exposição aguda: • Irritante moderado das mucosas: Ocular e respira- tória, causando irritação, eritema. • Edema pulmonar: Se inalado em altas concent. V I N I C I U S D A S I L V A S A N T O S - M E D I C I N A - U N I V E R S I D A D E F E D E R A L D E P E R N A M B U C O • Efeitos neurológicos (principal): Narcose, sonolên- cia, tontura, náuseas, taquicardia, tremor, convul- sões, perda da consciência e até morte. • Exposição crônica: • Inespecíficos: Fadiga intensa, sonolência, cefaleia, lesões dermatológicas de difícil caracterização. • Efeitos hematológicos (principal): Depressão medular (pancitopenia), quadros de leucemias e aplasia de medula. DIAGNÓSTICO • Clínica compatível: Um paciente frentista de longa data, com história de exposição crônica e apresen- tando essa sintomatologia já é suficiente. Outro paciente típico é aquele com história de exposição crônica a pesticidas. • Dosagem de ácido trans-mucônico: Através da urina, é um exame específico. TRATAMENTO → Não existe nada específico: O negócio é tratar a abordagem geral do paciente, reduzir a exposição, etc. INTOXICAÇÃO POR MERCÚRIO (HIDRARGIRISMO) INTRODUÇÃO • Muitas ocupações envolvem exposição ao mer- cúrio: Garimpagem, trabalho com cloro-álcalis, fabricação de pesticidas, inseticidas e fungicidas, fabricação de instrumentos, lâmpadas, luzes de neon, baterias, papel, tinta, corante, equipamento elétrico, dentistas (indivíduos com obturações de amálgamas) e joalheria contendo mercúrio. METABOLISMO • 3 apresentações: elementar, orgânico e inorgânico o Elementar: Não é bem absorvido, mas é volátil e forma um vapor muito absorvível. o Inorgânico: Absorvido pelo intestino e pele o Orgânico: Absorvido por inalação e inges- tão (atravessa barreira hematoencef.). • Excreção: Feita pela urina e fezes, possui meia-vida de cerca de 60 dias. No entanto, pode se depositar no fígado e rins por muitos anos. • Lesão celular induzida por mercúrio: Ele se liga a grupos sulfidrila, interferindo em muitos processos enzimáticos e destruindo as células. QUADRO CLÍNICO MERCÚRIO ELEMENTAR/METÁLICO • Pneumonite, edema pulmonar não cardiogênico, sintomas neurológicos e polineuropatia. • Exposição crônica → Eretismo mercurial: Afeta o SNC, apresentando delirium, excitabilidade, perda da memória, insônia e timidez. o Tremor intencional característico: Ao exame físico. MERCÚRIO INORGÂNICO • Gastrointestinais: Diarreia, dor abdominal. • Renais: Síndrome nefrótica e insuficiência renal aguda. • Cardio: Mais raros! Pode haver hipertensão, taquicardia, colapso cardiovascular e até morte. MERCÚRIO ORGÂNICO (METILMERCÚRIO) • Presente principalmente em água contaminada pela indústria: Acidente na baía de Minamata, caso clássico no Japão em 1960. • Manifestações neurológicas: Parestesias intensas, disartria, ataxia, redução do campo visual, cegueira , microcefalia, espasticidade, paralisia e coma. • Toxicidade renal: Nefropatia membranosa que pode evoluir para síndrome nefrótica, é reversível se afastar o paciente da exposição • Avaliável pelos níveis de sangue (exposição recente) ou no cabelo (se crônica) TRATAMENTO • Dimercaprol: Escolha para a fase aguda. • DMSA (succímero) • D-penicilamina: Escolha para a fase crônica. INTOXICAÇÃO POR ARSÊNIO • Fontes de contaminação: Fundição e indústrias de microeletrônica, pesticidas, herbicidas, fungicidas METABOLISMO • O arsênio orgânico não é tóxico: É ingerido nos frutos do mar, peixes. • O arsênio inorgânico é tóxico: Pode ser absorvido pelo pulmão ou TGI e se deposita no fígado, baço, rins, pulmões e TGI. QUADRO CLÍNICO • Intoxicação aguda → Necrose da mucosa intesti- nal: Causa gastoenterite hemorrágica, perda de líquido, hipotensão, miocardiopatia tardia, necrose tubuilar aguda e hemólise. o Odor de alho no suor ou ar exalado • Intoxicação crônica: Diabetes, vasoespasmo, insuficiência vascular periférica e gangrena e múltiplos cânceres (pulmão, fígado, rins, bexiga). V I N I C I U S D A S I L V A S A N T O S - M E D I C I N A - U N I V E R S I D A D E F E D E R A LD E P E R N A M B U C O o Linhas de Mees: estrias brancas transver- sais nas unhas dos quirodáctilos. TRATAMENTO • Dimercaprol: Quelante de escolha, por 13 dias. • Succímero oral (DMSA): Segunda opção. OUTRAS SUBSTÂNCIAS (CONCEITOS CHAVE) EXTRA → ALTERAÇÃO PUPILAR NA INTOXICAÇÕES
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