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jusbrasil.com.br 21 de Março de 2022 [Pensar Criminalista]: STF decide que são lícitas as prorrogações sucessivas de interceptação eletrônica Publicado por BLOG Anna Cavalcante há 6 minutos 0 visualizações Olá! O Supremo finalizou, no dia 17/03, o julgamento do RE 625.263/PR, que discutiu a possibilidade de prorrogações sucessivas do prazo de autorização judicial para a interceptação telefônica. No tema de repercussão de nº 661, a Suprema Corte ratificou o seu entendimento sobre o tema (Inq. 2.424/RJ) e, por unanimidade, foi fixada a seguinte tese: https://annapaulacavalcante.jusbrasil.com.br/ https://annapaulacavalcante.jusbrasil.com.br/ São lícitas as sucessivas renovações de interceptação telefônica, desde que, verificados os requisitos do artigo 2º da Lei nº 9.296/1996 e demonstrada a necessidade da medida diante de elementos concretos e a complexidade da investigação, a decisão judicial inicial e as prorrogações sejam devidamente motivadas, com justificativa legítima, ainda que sucinta, a embasar a continuidade das investigações. São ilegais as motivações padronizadas ou reproduções de modelos genéricos sem relação com o caso concreto. A meu sentir, a tese fixada encontra perfeito respaldo no texto do art. 5º da Lei das interceptações telefônicas, que a seguir reproduzo: Lei 9.296/1996 Art. 5° A decisão será fundamentada, sob pena de nulidade, indicando também a forma de execução da diligência, que não poderá exceder o prazo de quinze dias, renovável por igual tempo uma vez comprovada a indispensabilidade do meio de prova. (Destaquei) Da leitura atenta do dispositivo legal acima, é claro não haver uma limitação de renovação da diligência se comprovadamente demonstrada a necessidade da medida. Ao contrário, parece-me forçosa a interpretação dada por uma corrente que considerava que a expressão “uma vez" apontava para a possibilidade de somente ser possível a realização da prorrogação da interceptação telefônica por uma única vez. Lembrando que a interceptação telefônica é diligência investigativa, deferida pelo Judiciário, para afastar o sigilo telefônico do indivíduo (art. 5º, XII, da CF) e assim apurar a prática de condutas criminosas. Trata-se de direito fundamental que deriva de outro de igual status, qual seja o direito à intimidade e à vida privada (art. 5º, X, da CF). Observe-se que na parte inicial do art. 5° da Lei 9.296/1996 concede-se o prazo máximo de 15 dias para a diligência. Esse prazo se justifica porque sendo uma violação às garantias do indivíduo, a interceptação telefônica não poderá ser realizada de forma desarrazoada. Todavia, na prática, sabemos que em situação mais complexas, prazo tão ínfimo é incapaz de trazer os resultados pretendidos pela investigação criminal. Não raro, grupos criminosos precisam ser acompanhados por um período de tempo maior para que se consiga alcançar todos os envolvidos na atividade ilícita. É exatamente por isso que a parte final do mesmo dispositivo legal permite a flexibilização desse prazo, renovando-o enquanto necessário para as investigações. E, aqui, friso que na sua decisão o Supremo foi enfático ao dizer da possibilidade de prorrogações sucessivas, desde que fundamentada a necessidade da manutenção da diligência no caso concreto. Para os que militam na advocacia criminal, é interessante ter atenção à decisão de prorrogação da diligência, observando se ela não está fundada em uma mera repetição de argumentos, sem uma detida análise do seu cabimento naquele novo contexto. Por exemplo, não me parece adequado que a decisão de prorrogação da interceptação se limite a uma ratificação da decisão anterior ou utilização de argumentações genéricas. Ao contrário, é necessário que o magistrado demonstre, naquela nova realidade, a necessidade de manutenção das investigações, seja por restarem dúvidas sobre a atividade criminosa, por ainda não restarem elucidados fatos importantes, ou quaisquer outros motivos plausíveis e devidamente justificados. Lembrando, ainda, que quando falamos na fundamentação das decisões judiciais no processo criminal é imprescindível a observância do art. 315, §2º, do CPP. Não se esqueçam: interceptação telefônica deferida por decisão considerada não fundamentada gera a nulidade da prova, devendo ser desentranhada dos autos! Por fim, destaco as lições de Renato Brasileiro sobre a necessidade do pedido da prorrogação ser feito no decurso do prazo anterior, para que haja solução de continuidade da diligência e a prova não seja considerada ilegal. Havendo necessidade de renovação do prazo da interceptação, esta deve se dar antes do decurso do prazo fixado na decisão originária, evitando - se uma solução de continuidade na captação das comunicações telefônicas. Como o controle judicial deve ser prévio, seja no tocante à concessão inicial da interceptação, seja em relação à renovação do prazo, se as interceptações se prolongarem por período "descoberto" de autorização judicial, os elementos aí obtidos devem ser considerados inválidos, por violação ao preceito do art. 5°, XII, da Constituição Federal. (LIMA, 2020, p. 539) Até a próxima, amigos e amigas! ____________________ Referências: BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm > https://www.linkedin.com/in/anna-paula-cavalcante-g-figueiredo/ http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm ________. Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941. Código de Processo Penal. Disponível em < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto- lei/del3689compilado.htm > ________. Lei nº 9.296, de 24 de julho de 1996. Regulamenta o inciso XII, parte final, do art. 5° da Constituição Federal. Disponível em < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9296.htm > ________. Supremo Tribunal Federal. Inquérito nº 2.424/RJ, Relator Ministro Cezar Peluso, Tribunal Pleno, julgado em 26/11/2008, DJe-055 DIVULG 25/03/2010, PUBLIC 26/03/2010, EMENT VOL-02395-02 PP-00341. Disponível em < https://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp? docTP=AC&docID=609608 > ________. ________. Notícias - STF decide que prorrogações sucessivas de interceptações telefônicas são lícitas. Disponível em < http://portal.stf.jus.br/noticias/verNoticiaDetalhe.asp? idConteudo=483627&ori=1 > ________. ________. Recurso Extraordinário nº 625.263/PR (Tema 661 da Repercussão Geral), Relator Ministro Gilmar Mendes, Redator do acórdão Ministro Alexandre de Moraes, julgado em 17/03/2022. Disponível para consulta em < http://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=3906320 > LIMA, Renato Brasileiro de. Legislação criminal especial comentada - Volume único. 8 ed. rev. e ampl. Editora JusPodivm, 2020. MARTINS, Flávio. Curso de direito constitucional. 5 ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2021. ____________________ http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del3689compilado.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9296.htm https://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&docID=609608 http://portal.stf.jus.br/noticias/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=483627&ori=1 http://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=3906320 https://www.linkedin.com/in/anna-paula-cavalcante-g-figueiredo/ https://www.linkedin.com/in/anna-paula-cavalcante-g-figueiredo/ Disponível em: https://annapaulacavalcante.jusbrasil.com.br/artigos/1424386931/pensar- criminalista-stf-decide-que-sao-licitas-as-prorrogacoes-sucessivas-de-interceptacao-eletronica https://www.linkedin.com/in/anna-paula-cavalcante-g-figueiredo/
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