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Lara Camila – Medicina – 5º Semestre DOENÇAS TIREOIDIANAS Regulação hormonal da tireoide Hipertireoidismo: estado hipermetabólico causado pelo aumento da função da glândula tireoide. As causas mais comuns gerais incluem: (1) Doenças de Graves, (2) Bócio multinodular e (3) tireoidite. Doença de Graves: doença autoimune no qual o corpo produz autoanticorpos contra receptores do TSH, que irão agir estimulando-o e, assim, aumentando a síntese de T3 e T4. Causa bócio, hipertireoidismo, oftalmopatia e, ocasionalmente, demopatia. Bócio uni ou multinodular tóxico (doença de Plummer): resulta de mutações do gene do receptor de TSH, causando ativação contínua da tireoide. Pacientes com bócio nodular tóxico não apresentam as manifestações autoimunes ou os anticorpos circulantes observados na doença de Graves. Os níveis de T3, T4 total ou T4 livre estarão elevados e o TSH sensível, supresso, se o paciente apresentar tireotoxicose (manifestações clínicas do excesso de T3 e T4 no metabolismo do indivíduo). Doença inflamatória da tireoide (tireoidite) Sub-aguda: resulta de alterações destrutivas da glândula e da liberação de hormônios armazenados, ocorrendo posteriormente o hipotireoidismo. Caracterizada por tireoidite de células gingantes, tem etiologia viral (caxumba, adenovírus, influenzae etc.), apresenta-se com tireoidite edemaciada e dor com irradiação para garganta, ouvidos e mandíbula. Aguda: condição rara e desencadeada por infecção bacteriana, fúngica, micobactérias etc. Não bacterianas acometem, geralmente, imunodeprimidos. Crônica: como exemplo, temos a tireoidite de Hashimoto -> há a produção de autoanticorpos que irão destruir o tecido da tireoide. Hipotireoidismo: causado pela deficiência do hormônio tireoidiano. Pode ser: ➢ Primário: causado por doença na tireoide (resulta de tireoidite de Hashimoto e pós-terapêutico, após tratamento com radioiodo ou cirurgia para hipertireoidismo ou bócio). ➢ Secundário: causado por doença no hipotálamo ou na hipófise (hipotálamo produz TRH insuficiente ou a hipófise produz TSH insuficiente. Às vezes, a secreção deficiente de TSH decorrente da deficiência de TRH é denominada hipotireoidismo terciário). Atividade metabólica no hipotireoidismo e no hipertireoidismo O T3 tem funções específicas em tecidos, mas também faz sinalização ao hipotálamo. Níveis reduzidos de T3 e T4 ocasionam redução da liberação de noradrenalina pelo sistema nervoso simpático e, assim, haverá: (1) Redução da captação de glicose pelo músculo, e assim, o paciente pode desenvolver uma hiperglicemia. (2) Redução da gliconeogênese hepática; (3) Redução da termogênese pelo tecido adiposo marrom; (4) Redução da lipólise no tecido adiposo branco, e assim, o paciente desenvolve acúmulo de gordura o que favorece a liberação de adipocinas pró-inflamatórias e inibição das adipocinas anti-inflamatórias, como a adiponectina. Níveis aumentados de T3 e T4 ocasionam aumento da liberação de noradrenalina pelo sistema nervoso simpático e, assim, haverá: (1) Aumento da captação de glicose pelo músculo, no entanto, o paciente pode desenvolver uma hiperglicemia devido ao aumento da produção hepática. O T3 atua diretamente no fígado por meio do TRβ, regulando genes envolvidos na gliconeogênese hepática, metabolismo do glicogênio e sinalização da insulina. Além disso, os hormônios tireoidianos atuam centralmente no hipotálamo para aumentar o fluxo simpático para o fígado. Como consequência, no fígado, ocorre diminuição da síntese de glicogênio e aumento da gliconeogênese e glicogenólise, levando a um aumento da produção de glicose. (2) Aumento da gliconeogênese hepática; (3) Aumento da termogênese pelo tecido adiposo marrom; (4) Aumento da lipólise no tecido adiposo branco; Anticorpos e tireoide: ANTI-TPO, TRAb e ANTI-TGB. ➢ ANTI-TPO – Anticorpos Antitireoperoxidase A tireoperoxidase é uma enzima presente nas células epiteliais da tireoide que participa da síntese dos hormônios tireoidianos. Mais de 90% dos pacientes do tireoidite de Hashimoto possuem anticorpos anti-TPO. No entanto, também estão presentes na doença de Graves, mas em menor frequência (cerca de 75% dos casos). Cerca de 15% da população geral sadia e das gestantes, sem doenças da tireoide, podem ter anticorpos anti- TPO positivos, sem que isso tenha significado clínico imediato. Além disso, esse anticorpos também são comuns em familiares de pacientes com doenças autoimunes da tireoide. O anti-TPO é útil, principalmente, para indivíduos com hipotireoidismo subclínico, pois se esses indivíduos tiverem anti-TPO elevado têm o dobro de chance do hipoT subclínico evoluir para hipoT franco, quando comparado com pacientes sem anticorpos anti-TPO. ➢ ANTI-Tg – Anticorpos Anti-tireoglobulina A tireoglobulina é uma substância precursora dos hormônios da tireoide, que costuma ficar estocada dentro do tecido tireoidiano. A presença do anti-Tg é muito comum na tireoidite de Hashimoto, presente em 80-90% dos casos. Em geral, pacientes com Hashimoto apresentam anti-TPO e anti-Tg positivos. No entanto, também estão presentes da doença de Graves, mas em menor frequência (cerca de 50-70% dos casos). Cerca de 15% da população saudável e das grávidas podem ter esses anticorpos detectáveis no sangue, sem que isso tenha relevância clínica. Ao contrário do anti-TPO, os anticorpos anti-tireoglobulina podem desaparecer após anos de tratamento do hipoT. ➢ TRAb – Anticorpos Anti-receptores de TSH Os receptores de TSH, localizados na tireoide, podem ser alvo de ataque de anticorpos anti-receptores de TSH, chamados de TRAb. Ao contrário do anti-TPO e anti-Tg, o TRAb encontra-se presente em até 95% dos casos de Graves e apenas em 20% dos pacientes com Hashimoto. Além disso, habitualmente, o TRAb não está presente na população em geral sadia. Os anticorpos anti-receptores de TSH podem atuar nos receptores de TSH estimulando-os e, assim, aumenta a produção de hormônios tireoidianos pela tireoide. No entanto, esse anticorpo também pode se ligar aos receptores de TSH e bloqueá-los, impedindo que o TSH atue sob a tireoide, provocando, assim, hipotireoidismo. SÍNDROME METABÓLICA Compreende um grupo de fatores de risco cardiometabólicos (obesidade, resistência à insulina, dislipidemia e hipertensão) que estão ligados a um risco aumentado de desenvolver diabetes tipo 2 e doença cardiovascular. Um paciente com fatores de risco + fatores genéticos que possui redução do tecido adiposo periférico, redução da expansibilidade do tecido adiposo subcutâneo e aumento da liberação de AGL há, como resultado, uma deposição de gordura visceral e ectópica. Um local ectópico é o músculo, onde o aumento da deposição de AGL promove a resistência à insulina (RI), inibindo a captação de glicose mediada pela insulina. O AGL vai realizar uma fosforilação errada do receptor de insulina – via AKT. Por outro lado, RI no tecido adiposo facilita a lipólise e aumenta o fluxo de AGL para o fígado, induzindo RI hepática e aumento a produção de glicose. Os AGL transbordam para o pâncreas, causando disfunção das células beta por lipotoxicidade, hiperglicemia e diabetes (devido à falha na secreção de insulina pelas células beta pancreáticas). O aumento da gordura hepática também promove a resistência hepática ao glucagon (RG) sobre o metabolismo dos aminoácidos, reduzindo a ureagênese e resultando em hiperaminoacidemia. O aumento dos aminoácidos estimula a produção de glucagon para compensar o RG hepático, e um ciclo vicioso é instalada (o eixo fígado-pâncreas). A hiperglucagonemia também leva a um aumento na liberação de glicose hepática. O estado global de RI resulta em hiperinsulinemia, que pode aumentar a reabsorção de sódio e aumentar a atividade do sistema nervoso simpático, contribuindo para a hipertensão.Tecido adiposo disfuncional inflamada torna-se mais resistente à insulina e libera adipocinas pró- inflamatórias, enquanto diminui a adiponectina antiinflamatória. No fígado, triglicerídeos e metabólitos tóxicos induzem lipotoxicidade, disfunção mitocondrial e estresse do retículo endoplasmático, levando a danos aos hepatócitos, apoptose e fibrose. Esses hepatócitos disfuncionais sintetizam e secretam a dipeptidil peptidase 4 (DPP4), que promove a inflamação de macrófagos AT e mais RI. OBS: NAFLD = Doença hepática gordurosa não alcoólica. ESTUDO DIRIGIDO Artigo: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC7238803/ 1. A Síndrome Metabólica corresponde a um conjunto de doenças cuja base é a resistência insulínica. Pela dificuldade de ação da insulina, decorrem as manifestações que podem fazer parte da síndrome. Não existe um único critério aceito universalmente para definir a Síndrome. Sobre este assunto responda as seguintes questões a seguir: a. Aponte os quatro componentes principais da Síndrome Metabólica e descreva de qual forma estes critérios são utilizados para definir a síndrome. Os componentes principais da SM consistem em diferentes características fisiológicas: (a) adiposidade corporal, especialmente a adiposidade central medida pela circunferência da cintura; (b) níveis de glicose sérica que refletem o diagnóstico de diabetes ou o risco para seu desenvolvimento; (c) anormalidades lipídicas relacionadas ao risco metabólico [triglicerídeos séricos elevados ou colesterol de lipoproteína de alta densidade e baixo (HDL-c)]; (d) aumento dos níveis de pressão arterial (PA). A presença de três ou mais anormalidades, em qualquer um dos elementos descritos, é necessária para definir a SM. 2. Aponte os fatores de risco que contribuem para o desenvolvimento da síndrome metabólica Para a maioria das pessoas o desenvolvimento da síndrome aumenta com o envelhecimento. O risco aumenta se a pessoa tem uma vida sedentária, sem atividade física e se tem: 1. aumento do peso, principalmente na https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC7238803/ região abdominal (circunferência da cintura); 2. histórico de diabetes na família; 3. níveis elevados de gordura no sangue; 4. pressão alta. A maioria das pessoas que tem a Síndrome Metabólica sente-se bem e não tem sintomas. Entretanto, elas estão na faixa de risco para o desenvolvimento de doenças graves, como as cardiovasculares e o diabetes. 3. As ações dos hormônios tireoidianos levam a efeitos específicos que influenciam os desfechos em relação à adiposidade corporal, níveis de glicose ou lipídios e a pressão arterial. Assim, explique ou esquematize por meio de um mapa conceitual o que se pede abaixo: a. Hormônios tireoidianos influenciando a adiposidade Os hormônios tireoidianos (T3 e T4) causam um aumento direto na utilização de trifosfato de adenosina (ATP), levando à aceleração das vias anabólicas e catabólicas no metabolismo dos macronutrientes, como lipólise/oxidação de ácidos graxos e aumento do turnover de proteínas. Além disso, os HTs estimulam o sódio/potássio (Na + / K + ) ATPase e o sarco/retículo endoplasmático Ca 2+ATPase (SERCA) que medeia o transporte de íons através das membranas, processos que requerem a utilização do ATP, levando ao aumento do seu consumo e contribuindo para a termogênese. Portanto, o hormônio tireoidiano aumenta a utilização de reservas energéticas, como os lipídios do tecido adiposo. Consequentemente, o indivíduo tem redução dos níveis de adipocinas inflamatórias, aumento das anti-inflamatórias contribuindo na prevenção de doenças cardiovasculares e diabetes tipo 2. Por outro lado, TSH (hormônio estimulante da tireoide) atua diretamente no tecido adiposo, induz a lipólise e inibe a sinalização da insulina por meio da fosforilação da proteína quinase B (Akt), contribuindo para a resistência insulínica. b. A adiposidade influenciando a função da tireoide A leptina é um hormônio produzido pelo tecido adiposo em proporção direta à quantidade de massa de tecido adiposo. A leptina atua principalmente nos neurônios hipotalâmicos para induzir saciedade e aumentar o gasto energético. Pacientes com mutações genéticas no gene da leptina ou no receptor da leptina são obesos, e a reposição crônica da leptina causa normalização do peso corporal. No entanto, a maioria dos pacientes obesos tem hiperleptinemia, mas são resistentes à ação central anorexigênica da leptina. A leptina aumenta a síntese e liberação de TRH que por sua vez estimula a secreção hipofisária de TSH, contribuindo para a resistência insulínica. c. Função tireoidiana atuando no metabolismo da glicose O hipotireoidismo está associado à resistência insulínica periférica devido à redução da captação de glicose e, por outro lado, o hipertireoidismo aumenta a glicemia devido ao aumento da produção hepática. O T3 atua diretamente no fígado por meio do TRβ, regulando genes envolvidos na gliconeogênese hepática, metabolismo do glicogênio e sinalização da insulina. Além disso, os hormônios tireoidianos atuam centralmente no hipotálamo para aumentar o fluxo simpático para o fígado. Como consequência, no fígado, ocorre diminuição da síntese de glicogênio e aumento da gliconeogênese e glicogenólise, levando a um aumento da produção de glicose. IMPORTANTE: T3 aumenta a translocação de GLUT 4 para a membrana plasmática no músculo esquelético e tecido adiposo, o que está associado a uma melhor tolerância à glicose = normoglicemia. Por outro lado, hipertireoidismo prejudica a secreção de insulina estimulada pela glicose e acelera a degradação da insulina. d. Função tireoidiana atuando sobre a pressão arterial Os hormônios tireoidianos apresentam importantes efeitos inotrópicos e cronotrópicos no coração e, concomitantemente, causam vasodilatação na circulação sistêmica, levando à diminuição da resistência vascular sistêmica. Os hormônios tireoidianos atuam positivamente sobre o retículo sarcoplasmático de cálcio ATPase (SERCA2), a miosina-tem cadeias-α (αMHC), a Na+/ K + ATPase, os canais de K + dependentes de voltagem, a translocase de nucleotídeo de adenina (ANT1) e o receptor β-adrenérgico. Assim, sabe-se que o hipertireoidismo induz taquicardia, aumento da contratilidade cardíaca e diminuição da pós-carga cardíaca, resultando em aumento do débito cardíaco, o que leva à hipertensão sistólica. Por outro lado, o hipotireoidismo conduz a hipertensão diastólica, associada a comprometimento da vasodilatação endotelial-dependente. HIPERTENSÃO ARTERIAL SISTÊMICA É uma doença crônica não transmissível (DCNT) definida por níveis pressóricos, em que os benefícios do tratamento (não medicamentoso e/ou medicamentoso) superam os riscos. Trata-se de uma condição multifatorial, que depende de fatores genéticos/epigenéticos, ambientais e sociais caracterizada por elevação persistente da PA, ou seja, PAS ≥ 140mmHg e/ou PAD ≥ 90mmHg, medida com a técnica correta, em pelo menos duas ocasiões diferentes, na ausência de medicação anti-hipertensiva. Regulação da pressão arterial sistêmica Sistema renina-angiotensina-aldosterona Etiologia da HAS ➢ Primária (85% dos casos); ➢ Secundária (HAS-S tem prevalência de 3% a 5%). Possíveis causas: 1- Hiperaldosteronismo primário (HAP): produção autônoma de aldosterona pelo córtex adrenal (decorrente de hiperplasia, adenoma e carcinoma). O aumento da aldosterona leva à espoliação do potássio, em troca da maior reabsorção de sódio. 2- Feocromocitona e paragangliomas São tumores de células argentafins que se localizam na medula adrenal (feocromocitomas) ou em regiões extra- adrenais (paragangliomas), que produzem catecolaminas e se associam ao quadro clínico de HAS. A ação das catecolaminas é de constringir a vasculatura e estimular a renina, ativando, consequentemente, o SRAA. 3- Hipertireoidismo Caracteriza-se por hipermetabolismoe concentrações elevadas de hormônios tireoidianos livres. Têm efeito cronotrópico positivo, aumentando a contratilidade cardíaca – o que leva a uma hipertensão sistólica. 4- Hipotireoidismo Caracteriza-se pela queda na produção dos hormônios tireoidianos. Hipertensão diastólica 5- Síndrome de Cushing Essa síndrome ocorre devido ao excesso de cortisol, que aumenta a retenção de sódio e água promovendo expansão de volume, sendo esse fato um dos fatores da síndrome relacionados com o aparecimento de HAS em cerca de 80% dos casos. 6- Acromegalia Decorre do excesso de hormônio de crescimento (GH) produzido por um adenoma da glândula pituitária ou por liberações do GH (aumenta a atividade simpática) em excesso devido a um tumor hipotalâmico. 7- Síndrome da apneia e hipopneia obstrutiva do sono (SAHOS) Pacientes com SAHOS possuem atividade simpática aumentada (aumenta catecolaminas), diminuição na sensibilidade dos barorreceptores (hipoxemia e acidose causam vasoconstrição), hiperrresponsividade vascular e alteração no metabolismo do sal e água (que podem contribuir para a elevação da PA) e apneia (hipoxemia e acidose que estimulam os quimiorreceptores carotídeo, causando vasoconstrição e consequente aumento da resistência vascular periférica). 8- Coarctação da aorta: “estreitamento” da aorta. 9- Hipertensão renovascular Caracteriza-se por elevação da PA decorrente de oclusão parcial ou completa de uma ou mais artérias renais ou de seus ramos; A hipertensão arterial é inicialmente muito grave, associada à piora da função renal, ou altamente refratária ao tratamento medicamentoso.
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