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Amanda Schell – TXXI TECNICA OPERATORIA Introdução Um ferimento ou doença pode ocasionar a perda da integridade de grandes porções de pele. A lesão terá dois caminhos para seguir: ou o da regeneração tecidual ou da formação de cicatriz. A cicatrização é um processo imunocelular e bioquímico que busca reestabelecer a integridade tecidual. Esse processo envolve a interação de algumas células, citocinas ou mediadores solúveis e matriz extracelular. Fases da cicatrização Para facilitar o estudo o processo de cicatrização divide- se em três fases, porém há alguns autores que dividem em cinco. Nesse resumo, adotaremos como três fases, sendo elas: • Fase inflamatória – seu objetivo é limitar a dimensão do dano e prevenir lesão adicional. Seu inicio ocorre logo após a lesão e apresenta duração média de 5 dias. Suas principais características é a busca não só pela hemostasia , iniciada pela cascata de coagulação que libera grânulos contendo TGF-alfa, como também pela migração de leucócitos. Nessa fase teremos cinco principais eventos: 1. Vasoconstrição – ocorre devido à liberação de epinefrina, pela circulação periférica, e norepinefrina pelo sistema nervoso simpático. 2. Agregação plaquetária – as células lesadas liberam fatores tissulares que irão estimular as plaquetas aderirem ao subendotélio vascular e umas às outras. Tal ação provocará a liberação do conteúdo nos grânulos alfa, corpos densos e lisossomas. Os grânulos liberam fatores imunomoduladores, já os corpos densos liberam componentes que serão responsáveis por proporcionar energia ao processo. 3. Depósito de fibrina – nesse evento teremos a criação do coágulo, decorrente da conversão de fibrinogênio em fibrina catalisado pela trombina que é um produto das vias extrínseca e intrínseca. Outro papel da trombina é facilitar a migração de células inflamatórias por meio do aumento da permeabilidade vascular. 4. Migração de leucócitos – nessa etapa a ferida encontra- se com eritema, edema, calor e dor. A primeira célula imune a migrar para a ferida são os neutrófilos que irão aumentar constantemente, tendo o pico 24 a 48 horas após. Eles se ligarão as selectinas e produzirão radicais livres que irão ajudar na destruição bacteriana. Eles serão substituídos pelos macrófagos, esses irão contribuir para a angiogênese, fibroplasia e síntese de matriz extracelular por meio da secreção de citocinas e fatores de crescimento. 5. Ativação celular • Fase proliferativa – com início após 48h do trauma e pode durar até 14 dias, seu objetivo é a remodelação da nova matriz extracelular e síntese do colágeno. Essa fase apresenta os seguintes eventos: 1. Reepitelização – nas primeiras 24h após o trauma as células basais começam a proliferar e alongar para serem capazes de migrar para o outro lado da superfície da abertura da ferida. Essa migração requer o desenvolvimento de filamentos de actina, desaparecimento de desmossomas e hemidesmossomas, esses eventos dependem da mudança nas integrinas. 2. Migração de fibroblastos 3. Formação de tecido de granulação – esse tecido é uma combinação de inúmeros elementos, mas os principais fibroblastos e as células endoteliais 4. Angiogênese – estimulada pelo TNF-alfa; migração de células endoteliais e formação de capilares. 5. Síntese proteica – principalmente síntese de colágeno 6. Contração da ferida – caracterizada pela predominância de miofibroblastos, a gênese dos miofibroblastos é graças a liberação de TGF-alfa que estimula os fibroblastos a produzirem colágeno tipo e a transformarem em miofibroblastos.. • Fase de maturação – caracterizada pela deposição de colágeno de maneira organizada. Essa fase ocorre após 7 dias e vai até em torno de um ano. Essa fase é essencial para a formação da força tensil., isso ocorre pela substituição do colágeno tipo III por um mais espesso e a organização ao longo de linhas. A cicatrização tem sucesso quando há um equilíbrio entre a síntese e a degradação do colágeno. Tromboxano A2 e prostaglandinas também liberam substâncias vasoconstritoras. Formação inadequada de fibrina como ocorre na deficiência de fator XIII prejudica adesão celular e a quimiotaxia Na ausência de infecção, os neutrófilos têm meia- vida baixa e a fase inflamatória é curta. As cicatrizes jamais retornam à resistência da derme normal. Amanda Schell – TXXI TECNICA OPERATORIA Fatores que atrasam a cicatrização Há alguns fatores que influencia alterações na cicatrização. São esses: • Nutrientes – pacientes que tem uma má-nutrição tem mais propensão à deiscências de feridas abdominais e anastomoses. Quando o individuo apresenta baixa concentração de carboidratos, para a produção de energia, o organismo lança mão de aminoácidos resultando em uma perda proteica. Outro nutriente essencial são as vitaminas, a deficiência delas podem interferir em etapas de cicatrização, diminuição na formação do colágeno, formação de hematoma e sangramento. • Hipóxia – a redução da demanda de oxigênio interfere na produção de colágeno, angiogênese, reepitelização e deposição da matriz. • Diabetes – ocorre uma reduzida na ativação das células inflamatórias e quimiotaxia, logo tornando uma maior chance de infecção; menor deposição de colágenos → prejuízo na neovascularização. • Infecção – bactérias e seus produtos interferem na cicatrização, causando um retardo no processo. • Corticosteroides - o uso acaba por inibir a migração de macrógafos, proliferação de fibroblastos, síntese de colágeno e da matriz proteica. • Drogas antineoplásicas – inibem a cicatrização de feridas cirúrgicas e anastomoses intestinais • Tabagismo – provoca alterações na microvasculatura provocando uma dificuldade para cicatrização • Idade – quanto maior idade maior a dificuldade da cicatrização não só por conta do comprometimento da ativação do sistema imune, como também pela produção lenta do colágeno. Cicatrização patológica Quando há uma alteração no processo cicatricial, pode haver uma produção excessiva ou pouca produção de colágenos. Há dois principais exemplos de cicatrização patológica, são elas: • Cicatriz hipertrófica – comum em pacientes de pele clara e em superfícies de flexão; tamanho está relacionado com a injúria; há um maior processo inflamatório e tempo de permanência na fase de remodelação; tendência a regressão. • Queloide – ocorre pela produção exagerada de colágeno, tamanho não relacionado com a injúria; comum em negros e asiáticos; com predisposição genética. Tratamento da cicatrização patológica • Massagem – promoverá uma diminuição do colágeno na região por meio da digitopressão • Compressão – diminui a população das células e o tamanho por meio da compreensão dos vasos q reduziram o aporto nutricional para os fibroblastos • Injeção intralesional – a mais usada é a de triacinolona • Excisão cirúrgica – precisa ser intralesional; não deve ser usada para tratamento de queloides. • Betaterapia – radioterapia especifica, leva a morte dos fibroblastos; mais indicado para queloides.
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