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FUNDAÇÃO EDSON QUEIROZ UNIVERSIDADE DE FORTALEZA CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE - CURSO DE PSICOLOGIA - CCS DISCIPLINA: PRÁTICA INTEGRATIVA II PROFESSOR: CARLOS VICTOR LEAL ADERALDO OS PPBS EM AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA NO CONTEXTO JURÍDICO-CRIMINAL Cristina Rocha Gusmão - 2118932 Rayane Raiol de Souza - 2118457 Fortaleza 2021 Introdução O presente artigo trata-se de um estudo sobre os PPBS em avaliação psicológica no contexto jurídico criminal. Esta ação é fruto da disciplina de Prática Integrativa II, do curso de Psicologia da Unifor e tem como objetivo identificar os PPBS nas avaliações psicológicas nas esferas jurídicas e atuação dos psicólogos no trato das mesmas. O autor Selosse (1990 apud COSTA et al., 2009) relata que a aproximação entre Psicologia e Direito começou no campo da psicopatologia, a partir da realização de diagnósticos de sanidade mental solicitados por juízes, realizados com base em testes psicológicos com o intuito de oferecer mais elementos científicos através de pareceres técnicos que os ajudassem a fundamentar, interpretar e elaborar suas decisões. A Psicologia Jurídica emergiu da Psicologia em torno do século XX, e marcou sua contribuição na psicologia como ciência no mundo. A necessidade de se ter maior cientificidade e precisão de testemunhos no âmbito jurídico, foi um campo fértil no surgimento e aprofundamento da criação de testes psicológicos e estudos sobre os comportamentos psíquicos interligados com o Direito. Tem como objeto de estudo os comportamentos e atuação principalmente nos casos de adoções, violência doméstica e proposições novas maneiras de atuar em instituições penitenciárias, entre outros. Apesar de ser uma área muito ampla, são poucos os psicólogos que atuam na mesma. Diante da crescente da demanda e escalada violenta da criminalidade impulsiona e reivindica a ampliação urgente de profissionais atuantes nesta área. Compor de forma interdisciplinar as equipes dos tribunais, defensorias e varas da Infância, da Juventude e do Idoso. Diante do exposto acima apontamos ser importante e pertinente trazer essa pauta para a disciplina de prática II como forma de contribuir e desnudar esta necessária e promissora área de atuação do psicólogo e inter relacionar com os PPBs que são explorados neste campo. Temos como objetivo discorrer sobre o entrelaçamento entre as atuações em psicologia jurídica, a manutenção dos direitos sociais e os conceitos de percepção, memória e emoção. As referências bibliográficas utilizadas para fundamentar este documento são: Documentos do Conselho Federal de Psicologia, entrevistas com 02 profissionais experientes desta área, especialistas em avaliações psicológicas no âmbito jurídico e ainda outros artigos científicos publicados nesta área Metodologia O presente trabalho trata das análises possíveis a partir das pesquisas realizadas pelas autoras-estudantes. Foi utilizada a metodologia de pesquisa qualitativa, que possibilita descrever acontecimentos ou fenômenos a partir da forma como são vistos pelos sujeitos utilizados como objeto de pesquisa. Dentre as ferramentas utilizadas para coleta de dados estão a pesquisa bibliográfica e a entrevista semiaberta. A pesquisa bibliográfica foi realizada diante da seleção de 3 artigos triados a partir dos termos chave avaliação psicológica, psicologia jurídica, artigos relacionados aos processos psicológicos básicos e a seleção foi feita levando em consideração o quanto os documentos encontrados se relacionavam com os objetivos da pesquisa e as teorias-base deste artigo. A entrevista semiaberta foi escolhida como ferramenta por ser a mais indicada para a finalidade desta coleta: esse tipo de entrevista parte de um roteiro semiestruturado que confere um norte ao ato da entrevista, delineando que tipo de questionamentos precisam ser respondidos, mas também permite ao entrevistado inserir novas informações, próprias de sua trajetória acadêmica e profissional (as áreas exploradas pelo trabalho), que não estavam inclusas a princípio no roteiro mas podem agregar em termos de ajudar o pesquisador a compreender contextos diversos dentro daquilo que se estuda. As entrevistas foram realizadas com dois psicólogos atuantes da área jurídica, sendo o entrevistado 1 funcionário público integrante de um núcleo de penas alternativas e tendo participado ativamente da expansão da psicologia jurídica principalmente em seu contexto mais social no estado do Ceará, e a entrevistada 2 especialista em avaliação psicológica, cuja atuação profissional se dá na atividade de perícia e avaliação de detentos. O primeiro sujeito foi escolhido por conta da experiência no ramo e a segunda entrevistada foi uma recomendação do primeiro sujeito, a partir do compartilhamento dos objetivos do trabalho. As entrevistas foram realizadas de forma totalmente virtual e gravadas pelas entrevistadoras mediante autorização dos participantes, tendo durações de 1h42min15seg (entrevistado 1) e 1h21min57seg (entrevistada 2). Após a realização das entrevistas foram feitas as suas respectivas transcrições, que foram cuidadosamente estudadas para que se tornasse possível a relação com a fundamentação teórica do trabalho. As relações estabelecidas entre os resultados das entrevistas e os estudos já publicados sobre a área foram discorridos em 3 temáticas principais: o uso da psicologia enquanto ferramenta de garantia e manutenção dos direitos humanos pelos operadores do direito, a avaliação psicológica nesse contexto e em ambos o entrelaçamento dos processos psicológicos básicos escolhidos para aprofundamento com os resultados das pesquisas realizadas. Para a elaboração deste artigo, foram realizadas supervisões semanais com o professor orientador da disciplina, que acompanhou todo o processo desde elaboração do problema de pesquisa, orientação sobre a aplicação das ferramentas escolhidas, elaboração de roteiro, procedimento e cuidados para a realização das entrevistas e sua transcrição até a escrita do relatório final. Por se tratar de um trabalho científico, as autoras-estudantes também irão preservar a identidade e quaisquer características de identificação dos indivíduos entrevistados, não estando os resultados aqui obtidos vinculados à qualquer natureza de interesse que não seja acadêmico e/ou social. Por este mesmo motivo, os dados obtidos com as interações com os participantes serão restritos à esfera acadêmica. Resultados e Discussão PPBs no processo da Psicologia Jurídica A identificação dos processos psicológicos básicos (memória, percepção, inteligência, motivação e atenção) dentro de uma atuação na psicologia jurídica é uma interface fundamental tendo em vista seu impacto direto na vida dos participantes diretos nesta dinâmica. Para este artigo iremos abordar de forma mais aprofundada as seguintes composições: Percepção, Memória e Emoção. A percepção relaciona-se à interpretação que o sistema cognitivo, principalmente o cérebro, tem da sensação recebida ou que ele mesmo é capaz de produzir (GAZZANIGA; IVRY; MANGUNL, 2006). Possuímos dois tipos de percepção mencionadas por Wolfe (2004). Percepções do tipo bottom up (de baixo para cima) e do tipo push down (de cima para baixo). O primeiro tipo refere-se àquelas que se originam a partir de sensações externas.No segundo caso, tratam-se de percepções que temos a partir de um fenômeno interno. Sobre o conceito de Memória, se trata da capacidade que os seres vivos têm de adquirir, armazenar e evocar informações."A memória recolhe os incontáveis fenômenos de nossa existência em um todo unitário; não fosse a força unificadora da memória, nossa consciência se estilhaçaria em tantos fragmentos quantos os segundos já vividos" Ewald Hering (1920). Segundo a neurociência, a emoção é um complexo conjunto de padrões emocionais a partir da união de determinadas reações químicas e neurais. Tem o papel de auxiliar o indivíduo a conservar a vida funcionando como um regulador - biológico interno - desteprocesso psicológico é definida por Damásio (2000) como influenciadora de incontáveis circuitos cerebrais, sendo assim também responsável por alterações profundas no cérebro e no corpo. Outro ponto relevante sobre as emoções é a capacidade de, quimicamente, manter experiências vivas na memória humana – processo iniciado pelo hipotálamo. Existe, desta maneira, materiais químicos e neurais que produzem tristeza, alegria, vitimização, empoderamento, fraqueza, entusiasmo, etc. que resgatam e fortalecem memórias humanas. Além disso, memórias também podem despertar emoções, dessa forma, pode-se dizer que estes dois processos estão intimamente ligados. Em relação a este processo psicológico deve ser elucidado uma função muito importante do mesmo: a expressão. Conforme Camargo. Pinto (1998) afirma ainda que a evocação de imagens (sendo imagens, em neurociências, definidas como conteúdos ocorrendo na consciência) se dá de formas muito mais intensas, claras e duradouras quando a essas são atribuídas algum valor emocional. No âmbito da psicologia jurídica os processos psicológicos básicos estão profundamente ligados desde os aspectos avaliativos, como de registros, auxiliados na garantia de direito dos sujeitos em todas as perspectivas envolvidas. Segundo é comentado pelo entrevistado 1: “Elas são percebidas não só na avaliação psicológica. Por exemplo, uma avaliação especial, onde crianças que passaram por abusos vão ser ouvidas, o psicólogo precisa saber da criança se está em desenvolvimento psíquico suficiente para aguentar a demanda da situação. Em relação à memória, dimensão das situações, em questão a responsabilidade”. (ENTREVISTADO 1, 2021) Obtivemos de ambos os nossos entrevistados o mesmo pensamento quanto à questão destes processos aqui citados, é impossível uma prática psicológica que não se baseie na experiência no indivíduo que está sendo atendido, mesmo quando não estamos falando da esfera clínica. Esta fala deixa claro também o quanto as aproximações nos atendimentos que realiza não se diferenciam tanto assim no cuidado com o outro em relação a outras áreas da psicologia. Isto se faz importante ressaltar devido ao estigma atribuído a quaisquer atuações em esfera jurídica. A segunda entrevistada relata um pouco da vivência dessa discrimição, dizendo: “eu já escutei muito assim, ah, você trabalha com isso, com esse tipo de gente?” (ENTREVISTADA 2, 2021). Esse tipo de fala é crucial para que possamos de fato entender a sutileza com a qual se efetua a manutenção da desigualdade social (e portanto, do acesso desigual à informação e aos direitos básicos) no nosso país. Percebemos uma cisão entre “tipos” de gente. Existem “nós” e “eles”, e, de acordo com a fala, não é interessante aproximar-se “deles”. Enquanto ciência vista em muitos contextos como elitista, a psicologia precisa tomar a frente de discussões como esta. Quando nos deparamos com ppbs como a memória e a emoção e como elas se entrelaçam ao discurso de um apenado em regime fechado que afirma não saber como “sair daquela situação”, diminuímos também uma barreira que separa um sujeito que se julga destinado à ilicitude por uma determinação social dos sujeitos que possuem mais opções diferentes para trilhar sua trajetória. O entrevistado 2, chama atenção para a necessidade de não se ter uma só abordagem teórica utilizada para fundamentar os PPBs e frisa a importância de se aprofundar no embasamento científico para elaboração dos pareceres. “Você tem a questão da psicanálise,um grupo de estudo da psicanálise, ela mesmo não sendo uma profissão regulamentada, ela se põe além da psicologia. Se embasem, estudem, fundamentem as bases de vocês, precisamos ser psicólogos embasados, e ter cuidado com falas que vem com resposta pronta”. (ENTREVISTADA 2, 2021) Psicologia Jurídica e a Garantia dos Direitos Sociais A Psicologia Jurídica inicia-se pelo estudo, passa pelo tratamento e pelo assessoramento de várias etapas da atividade jurídica, até com os cuidados relacionados às vítimas, infratores e profissionais do Direito (Freitas, 2009). França (2004) destaca que a psicologia jurídica tem diversos setores, em Fóruns e prisões. Além de subdivisões: Psicologia jurídica e o menor; Psicologia jurídica e o direito de família; Psicologia jurídica e o direito civil; Psicologia jurídica do trabalho; Psicologia jurídica e o direito penal (fase processual); Psicologia judicial ou do testemunho, jurado; Psicologia penitenciária (fase de execução); Psicologia policial e das forças armadas; Vitimologia; Mediação; Formação e atendimento aos juízes e promotores; Psicologia criminal; Psicologia penitenciária ou carcerária; Psicologia jurídica e as questões da infância e juventude; Psicologia jurídica e ministério público, Psicologia jurídica e direitos humanos; dano psíquico; Psicologia jurídica e magistrados e Proteção a testemunhas. Altoé (1999) citado por Freitas (2009) complementa ainda que o psicólogo jurídico também tem em seu papel a emissão de pareceres técnicos sobre pedidos de indenizações de danos morais, além de assessorar o governo sobre políticas públicas de prevenção à violência social. E a orientação de advogados e promotoria sobre técnicas persuasivas e argumentativas para melhor defender a clientela. Soria (1998) conforme citado por Freitas (2009), complementa dizendo que a psicologia jurídica visa estabelecer um elo terapêutico que compreende o vitimado, bem como com o infrator e aqueles que atuam no campo jurídico. França (2004) tem um olhar diferenciado a esse respeito, e entende que precisa ser objeto de estudo do psicólogo jurídico as consequências das ações jurídicas sobre o indivíduo. Na opinião do entrevistado 1 a psicologia jurídica contribui para a garantia dos direitos da seguinte forma: Você tem por exemplo, a questão da adoção, violência doméstica, mediação comunitária,e diversas outras garantias de direito. Dentro da concepção básica de direito à liberdade, o julgamento justo, a convivência social comunitária e dentro de uma perspectiva de desenvolvimento humano, então trabalhamos articulando com outras políticas, está tudo encarregado e a gente está no meio articulando [...] A sociedade não tem tanta noção da importância da psicologia jurídica para a garantia de direitos, pois o psicólogo ainda é muito invisibilizado perante viés clínico. É como se trabalhássemos com algo exotico, algo extravagante”. (ENTREVISTADO 1, 2021) Para a entrevistada 2, ter um conhecimento mais aprofundado no caso dos apenados traz um olhar sistêmico e deixa o profissional menos suscetível a cometer preconceitos abusadores e negligências de direitos: É como eu digo, é um mundo… a gente faz parte desse mundo mas assim, é uma realidade completamente diferente assim, e para você conseguir trabalhar com isso primeiro que você tem que ser filtro, não esponja, como ele falou, você tem que conhecer sobre direito penal assim não precisa ser aí eu conheço todas as horas não, mas assim, eu já consigo me familiarizar com a linguagem “ah, é o artigo tal...” eu já sei que o artigo 33 é tráfico, 121 homicídio, 177 é roubo, você começa a se familiarizar até porque assim no meu caso eu leio as denúncias com muito cuidado’. Através da análise das entrevistas como um todo, fomos capazes de perceber que ambos profissionais já enxergam a própria atuação como garantia desses direitos. Alguns anos atrás, não se falava tanto sobre penas alternativas, evolução de pena sujeita a acompanhamento psicológico para revisão do caso ou mesmo a quantidade de profissionais por unidade (penitenciária). O aumento do reconhecimento (e da necessidade) da área consta aqui como um fator muito positivo como força motriz de desenvolvimento. Infelizmente, de acordo com nosso primeiro entrevistado, a população carcerária no Brasil ao longo dos últimos 10 anos cresceu aproximadamente 260%, 13 vezes mais do que o crescimento percentual da população absoluta do país. Por mais que não tenhamos comparado esta informação comum órgão de pesquisa, quisemos expor aqui como um registro perceptivo do próprio profissional que se dispôs a falar conosco. Deste modo, o crescimento da área não tem dado conta de acompanhar a demanda que a supera em crescimento. É preciso, mais do que nunca, que as psicologias sejam sociais e inclusivas em suas atuações. Avaliação Psicológica no Contexto da Psicologia Jurídica; ‘A Psiquiatria e Psicologia jurídica objetivam oferecer instrumentos aos profissionais da área do Direito informações sobre a situação e aspectos psicológicos e psicopatológicos dos envolvidos em um determinado caso (Taborda, 2004). Considera-se, entre os deveres da Psicologia jurídica, o de contribuir ao aprimoramento da norma e do tecido social, de forma que em cada laudo apresentado haja uma defesa de um bem moral, proteção do doente mental, ou cidadão diferente, aquele que legitimamente deve-se defender daqueles que possam causar perigo (Moraes & Fridman, 2004). Através da Resolução Nº 002/2003, o Conselho Federal de Psicologia/CFP determinou alguns requisitos para os instrumentos de avaliação psicológica, exigindo, para serem aprovados, comercializados e usados em nosso país, a especificação do construto que o instrumento pretende avaliar e as evidências empíricas de validade e fidedignidade (CFP, 2007). Na visão dos entrevistados os processos avaliativos tem se constituído como instrumentos importantes na psicologia jurídica. Entrevistado 1: “Acho que a avaliação psicológica tem amadurecido muito,você tem uma avaliação onde vai estudar o nível de estresse que a pessoa está sendo submetida, o dano psicológico causado por um abuso profissional, coisa que 20 anos atrás não desciam a esse nível de responsabilidade. O tribunal de justiça tem duas situações, que eles fazem, que causam preocupação, uma em relação ao profissional voluntário, se você tem um voluntário porque não contratar um remunerado, afinal não se esqueçam que somos trabalhadores”. Segundo o entrevistado 2: “eu evitava olhar qual era o crime que eles tinham cometido justamente para eu não ter essa visão preconceituosa que a gente acaba tendo e dizer não não vou entregar porque ele fez isso. Porém quando eu ia enviar tipo para uma empresa particular gostava de olhar, e aí como já é para empresa privada ele podia abrir ou fechar portas, ele podia abrir se ele fosse um ótimo profissional mas também fechar completamente as portas se ele chegar lá e tiver um comportamento ruim”. Um dos aspectos mais importantes acerca deste tema é que ambos relataram sobre a avaliação não ser um instrumento de reafirmação dos estigmas contra o indivíduo, mas sim de humanização. Através das avaliações, o psicólogo consegue compreender a natureza dos processos psicológicos que estão ocorrendo com aquele sujeito e recomendar o que esteja de fato mais alinhado com o nível de adequação ele, dentro das alternativas possíveis. Para a realização dessas avaliações, utiliza-se vários métodos e tipos de testes. Papolo (1996), citado por França (2004) ressalta a importância de verificar a confiabilidade e a validade dos instrumentos e do modelo teórico utilizado com a finalidade de verificar se respondem ao objetivo do procedimento. Outro instrumento amplamente usado é a entrevista, Taborda (2004) através dela consegue-se obter informações relevantes sobre a história de vida do indivíduo e esses dados são importantes no que concerne às motivações da prática do ato. A segunda entrevistada chegou a relatar como se atualiza em relação a escolha dos testes e disse inclusive que observa os recortes de escolaridade e outros fatores que podem interferir nos resultados, relembrando o cuidado e a seriedade que necessitamos ter com os documentos gerados tanto no contexto da psicologia quanto jurídico. Desafios e potencialidades para a formação e atuação dos psicólogos na área da psicologia jurídica No que diz respeito à formação do psicólogo para atuação na área, Lago, Amato, Teixeira, Rovinski e Bandeira (2009) ressaltam as necessidades de se avançar muito na formação acadêmica do profissional da área no país. Sobre isso, Saffi, Bemvenuto, Caíres e Rigonati (2002) afirmam que a maioria dos profissionais possui apenas graduação e aqueles que buscaram a pós-graduação investiram na área clínica. Em consonância, França (2004) entende que a psicologia judicial brasileira precisa avançar na quantidade de profissionais e na qualidade do trabalho desenvolvido, na intensificação da produção e publicação de conhecimento. Dourado (1969) aponta que "infelizmente, no que se refere à reeducação dos criminosos, ou mesmo às medidas profiláticas, precisamos progredir mais"(p. 103). Os profissionais abordados estão cientes das realidade de que tanto a atuação em si não é regulamentada, como a formação na área não tem essa espécie de consolidação: “Se vocês gostam se aprofundem nos estudos é uma área muito interessante, assim eu cresci muito assim como pessoa mesmo por conseguir enxergar essa outra realidade e é o que eu digo não posso fazer nada área que eu sou apaixonada que eu quero trabalhar às vezes eu fico cansada assim hoje eu tô extremamente cansada porque você passa o dia corrigindo teste em isso cansa realmente mentalmente. (ENTREVISTADA 2, 2021) No âmbito da produção e publicação de conhecimento vale destacar que, de fato, os maiores números de bibliografia e pesquisas encontradas são referentes à atuação da psiquiatria forense. Para Brito, Ayres e Amendola (2006), Bucher (1999), Costa e Santos (2004), Costa, Penso e Almeida (2005), Penso e Sudbrack (2004), Sudbrack Do mesmo modo para Altoé (1999), citado por Freitas (2009), as fortes transformações no campo da psicologia jurídica ocorreram apenas a partir da década de 1980, assim, o psicólogo jurídico deixou de ser apenas um perito encarregado de investigações de cunho técnico e passou a atuar em outras esferas judiciais, o que possibilitou a humanização da área. Quanto a essa transformação, para Cesca (2004), conforme citado por Granjeiros e Costa (2008), ainda há necessidade de se construir uma relação mais consistente entre as áreas forenses citadas e o lugar do psicólogo na instituição judiciária está para se aprimorar ainda mais. Esperamos que o recente aumento de ofertas de formações espalhadas pelo Brasil incentivem os profissionais a dominarem cada vez mais esse campo, e que estes possam inserir-se num psicologia jurídica alinhada ao nosso contexto brasileiro, que é um contexto de necessidade de mobilização. Considerações Finais A psicologia jurídica tem um papel cada vez mais relevante para a consolidação dos direitos sociais da sociedade. Um instrumento regulatório de emancipação social, educação psicológica e de acesso à liberdade e saúde mental. É importante cada vez mais a expansão dos conhecimentos nesta área a visibilidade da atuação dos profissionais a valorização das ações desenvolvidas , ampliação dos espaços de atuação e a interdisciplinaridade junto aos demais profissionais pertinentes ao bem estar dos sujeitos envolvidos. Faz urgente o aprofundamento acadêmico de estudos recorrentes e sistemático, o estímulo à produção científica, a formação continuada de psicólogos para suprir as múltiplas demandas da sociedade. O aperfeiçoamento dos instrumentos de avaliação psicológica também é considerado fundamental para acompanhar a dinâmica social mutante e rápida atual, que auxilia a atual prática da psicologia jurídica. Ressaltamos ainda que a mesma é uma área que tem uma ligação íntima com os processos psicológicos básicos e que sem essa percepção não é possível exercer um bom diagnóstico e consequentemente bons encaminhamentos aos sujeitos da ação. Destaco as palavras do nosso entrevistado que para atuar nesse campo é preciso estar muito afinado com os valores deste trabalho: “E você tem assim é por isso que é tão importante você gostar do que você tá fazendo, porque uma pessoa que começa a receber esse tipo de crítica às vezes até de dentro da famíliaou então de amigos próximos e assim por conta dessas eleições isso foi muito inflamado, também essa questão de da segregação social mesmo assim você tem que gostar e ter convicção que aquilo que você quer trabalhar e ficar tranquilo com isso porque trabalhar com psicologia jurídica é nadar contra a sociedade, é nadar contra a maré porque nem todo mundo tem essa visão de ressocialização é aquela velha frase b****** bom é b****** morto, não sei porque tu perde tempo com isso, as pessoas não conseguem entender que isso é uma coisa muito maior e se a gente conseguir resgatar essas pessoas a violência vai diminuir, a desigualdade social vai diminuir, as pessoas não conseguem enxergar as coisas dessa forma [...] Então você tem que ter muita serenidade assim para escutar certos tipos de comentários e pensar não, não vou nem me estressar, ser filtro e não esponja, ser filtro, não esponja, porque além de tudo ainda existe preconceito das pessoas tanto com o público com o qual trabalho como comigo por trabalhar com esse público muito complicado.” Referências AZEVEDO, Mariza Seixas T. 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