Buscar

PPBS em Avaliação Psicológica no Contexto Jurídico-Criminal

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 3, do total de 11 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 6, do total de 11 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 9, do total de 11 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Prévia do material em texto

FUNDAÇÃO EDSON QUEIROZ
UNIVERSIDADE DE FORTALEZA
CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE -
CURSO DE PSICOLOGIA - CCS
DISCIPLINA: PRÁTICA INTEGRATIVA II
PROFESSOR: CARLOS VICTOR LEAL ADERALDO
OS PPBS EM AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA NO CONTEXTO
JURÍDICO-CRIMINAL
Cristina Rocha Gusmão - 2118932
Rayane Raiol de Souza - 2118457
Fortaleza
2021
Introdução
O presente artigo trata-se de um estudo sobre os PPBS em avaliação psicológica no
contexto jurídico criminal. Esta ação é fruto da disciplina de Prática Integrativa II, do curso de
Psicologia da Unifor e tem como objetivo identificar os PPBS nas avaliações psicológicas
nas esferas jurídicas e atuação dos psicólogos no trato das mesmas.
O autor Selosse (1990 apud COSTA et al., 2009) relata que a aproximação entre
Psicologia e Direito começou no campo da psicopatologia, a partir da realização de
diagnósticos de sanidade mental solicitados por juízes, realizados com base em testes
psicológicos com o intuito de oferecer mais elementos científicos através de pareceres
técnicos que os ajudassem a fundamentar, interpretar e elaborar suas decisões.
A Psicologia Jurídica emergiu da Psicologia em torno do século XX, e marcou sua
contribuição na psicologia como ciência no mundo. A necessidade de se ter maior
cientificidade e precisão de testemunhos no âmbito jurídico, foi um campo fértil no
surgimento e aprofundamento da criação de testes psicológicos e estudos sobre os
comportamentos psíquicos interligados com o Direito. Tem como objeto de estudo os
comportamentos e atuação principalmente nos casos de adoções, violência doméstica e
proposições novas maneiras de atuar em instituições penitenciárias, entre outros.
Apesar de ser uma área muito ampla, são poucos os psicólogos que atuam na
mesma. Diante da crescente da demanda e escalada violenta da criminalidade impulsiona e
reivindica a ampliação urgente de profissionais atuantes nesta área. Compor de forma
interdisciplinar as equipes dos tribunais, defensorias e varas da Infância, da Juventude e do
Idoso.
Diante do exposto acima apontamos ser importante e pertinente trazer essa pauta
para a disciplina de prática II como forma de contribuir e desnudar esta necessária e
promissora área de atuação do psicólogo e inter relacionar com os PPBs que são
explorados neste campo. Temos como objetivo discorrer sobre o entrelaçamento entre as
atuações em psicologia jurídica, a manutenção dos direitos sociais e os conceitos de
percepção, memória e emoção.
As referências bibliográficas utilizadas para fundamentar este documento são:
Documentos do Conselho Federal de Psicologia, entrevistas com 02 profissionais
experientes desta área, especialistas em avaliações psicológicas no âmbito jurídico e ainda
outros artigos científicos publicados nesta área
Metodologia
O presente trabalho trata das análises possíveis a partir das pesquisas realizadas
pelas autoras-estudantes. Foi utilizada a metodologia de pesquisa qualitativa, que possibilita
descrever acontecimentos ou fenômenos a partir da forma como são vistos pelos sujeitos
utilizados como objeto de pesquisa. Dentre as ferramentas utilizadas para coleta de dados
estão a pesquisa bibliográfica e a entrevista semiaberta. A pesquisa bibliográfica foi
realizada diante da seleção de 3 artigos triados a partir dos termos chave avaliação
psicológica, psicologia jurídica, artigos relacionados aos processos psicológicos básicos e a
seleção foi feita levando em consideração o quanto os documentos encontrados se
relacionavam com os objetivos da pesquisa e as teorias-base deste artigo.
A entrevista semiaberta foi escolhida como ferramenta por ser a mais indicada para a
finalidade desta coleta: esse tipo de entrevista parte de um roteiro semiestruturado que
confere um norte ao ato da entrevista, delineando que tipo de questionamentos precisam ser
respondidos, mas também permite ao entrevistado inserir novas informações, próprias de
sua trajetória acadêmica e profissional (as áreas exploradas pelo trabalho), que não estavam
inclusas a princípio no roteiro mas podem agregar em termos de ajudar o pesquisador a
compreender contextos diversos dentro daquilo que se estuda.
As entrevistas foram realizadas com dois psicólogos atuantes da área jurídica, sendo
o entrevistado 1 funcionário público integrante de um núcleo de penas alternativas e tendo
participado ativamente da expansão da psicologia jurídica principalmente em seu contexto
mais social no estado do Ceará, e a entrevistada 2 especialista em avaliação psicológica,
cuja atuação profissional se dá na atividade de perícia e avaliação de detentos. O primeiro
sujeito foi escolhido por conta da experiência no ramo e a segunda entrevistada foi uma
recomendação do primeiro sujeito, a partir do compartilhamento dos objetivos do trabalho.
As entrevistas foram realizadas de forma totalmente virtual e gravadas pelas entrevistadoras
mediante autorização dos participantes, tendo durações de 1h42min15seg (entrevistado 1) e
1h21min57seg (entrevistada 2). Após a realização das entrevistas foram feitas as suas
respectivas transcrições, que foram cuidadosamente estudadas para que se tornasse
possível a relação com a fundamentação teórica do trabalho.
As relações estabelecidas entre os resultados das entrevistas e os estudos já
publicados sobre a área foram discorridos em 3 temáticas principais: o uso da psicologia
enquanto ferramenta de garantia e manutenção dos direitos humanos pelos operadores do
direito, a avaliação psicológica nesse contexto e em ambos o entrelaçamento dos processos
psicológicos básicos escolhidos para aprofundamento com os resultados das pesquisas
realizadas.
Para a elaboração deste artigo, foram realizadas supervisões semanais com o
professor orientador da disciplina, que acompanhou todo o processo desde elaboração do
problema de pesquisa, orientação sobre a aplicação das ferramentas escolhidas, elaboração
de roteiro, procedimento e cuidados para a realização das entrevistas e sua transcrição até a
escrita do relatório final. Por se tratar de um trabalho científico, as autoras-estudantes
também irão preservar a identidade e quaisquer características de identificação dos
indivíduos entrevistados, não estando os resultados aqui obtidos vinculados à qualquer
natureza de interesse que não seja acadêmico e/ou social. Por este mesmo motivo, os
dados obtidos com as interações com os participantes serão restritos à esfera acadêmica.
Resultados e Discussão
PPBs no processo da Psicologia Jurídica
A identificação dos processos psicológicos básicos (memória, percepção,
inteligência, motivação e atenção) dentro de uma atuação na psicologia jurídica é uma
interface fundamental tendo em vista seu impacto direto na vida dos participantes diretos
nesta dinâmica. Para este artigo iremos abordar de forma mais aprofundada as seguintes
composições: Percepção, Memória e Emoção.
A percepção relaciona-se à interpretação que o sistema cognitivo, principalmente o
cérebro, tem da sensação recebida ou que ele mesmo é capaz de produzir (GAZZANIGA;
IVRY; MANGUNL, 2006). Possuímos dois tipos de percepção mencionadas por Wolfe
(2004). Percepções do tipo bottom up (de baixo para cima) e do tipo push down (de cima
para baixo). O primeiro tipo refere-se àquelas que se originam a partir de sensações
externas.No segundo caso, tratam-se de percepções que temos a partir de um fenômeno
interno.
Sobre o conceito de Memória, se trata da capacidade que os seres vivos têm de
adquirir, armazenar e evocar informações."A memória recolhe os incontáveis fenômenos de
nossa existência em um todo unitário; não fosse a força unificadora da memória, nossa
consciência se estilhaçaria em tantos fragmentos quantos os segundos já vividos" Ewald
Hering (1920).
Segundo a neurociência, a emoção é um complexo conjunto de padrões emocionais
a partir da união de determinadas reações químicas e neurais. Tem o papel de auxiliar o
indivíduo a conservar a vida funcionando como um regulador - biológico interno - desteprocesso psicológico é definida por Damásio (2000) como influenciadora de incontáveis
circuitos cerebrais, sendo assim também responsável por alterações profundas no cérebro e
no corpo. Outro ponto relevante sobre as emoções é a capacidade de, quimicamente,
manter experiências vivas na memória humana – processo iniciado pelo hipotálamo. Existe,
desta maneira, materiais químicos e neurais que produzem tristeza, alegria, vitimização,
empoderamento, fraqueza, entusiasmo, etc. que resgatam e fortalecem memórias humanas.
Além disso, memórias também podem despertar emoções, dessa forma, pode-se
dizer que estes dois processos estão intimamente ligados. Em relação a este processo
psicológico deve ser elucidado uma função muito importante do mesmo: a expressão.
Conforme Camargo. Pinto (1998) afirma ainda que a evocação de imagens (sendo imagens,
em neurociências, definidas como conteúdos ocorrendo na consciência) se dá de formas
muito mais intensas, claras e duradouras quando a essas são atribuídas algum valor
emocional.
No âmbito da psicologia jurídica os processos psicológicos básicos estão
profundamente ligados desde os aspectos avaliativos, como de registros, auxiliados na
garantia de direito dos sujeitos em todas as perspectivas envolvidas. Segundo é comentado
pelo entrevistado 1:
“Elas são percebidas não só na avaliação psicológica. Por exemplo, uma
avaliação especial, onde crianças que passaram por abusos vão ser
ouvidas, o psicólogo precisa saber da criança se está em desenvolvimento
psíquico suficiente para aguentar a demanda da situação. Em relação à
memória, dimensão das situações, em questão a responsabilidade”.
(ENTREVISTADO 1, 2021)
Obtivemos de ambos os nossos entrevistados o mesmo pensamento quanto à
questão destes processos aqui citados, é impossível uma prática psicológica que não se
baseie na experiência no indivíduo que está sendo atendido, mesmo quando não estamos
falando da esfera clínica. Esta fala deixa claro também o quanto as aproximações nos
atendimentos que realiza não se diferenciam tanto assim no cuidado com o outro em relação
a outras áreas da psicologia. Isto se faz importante ressaltar devido ao estigma atribuído a
quaisquer atuações em esfera jurídica. A segunda entrevistada relata um pouco da vivência
dessa discrimição, dizendo: “eu já escutei muito assim, ah, você trabalha com isso, com
esse tipo de gente?” (ENTREVISTADA 2, 2021). Esse tipo de fala é crucial para que
possamos de fato entender a sutileza com a qual se efetua a manutenção da desigualdade
social (e portanto, do acesso desigual à informação e aos direitos básicos) no nosso país.
Percebemos uma cisão entre “tipos” de gente. Existem “nós” e “eles”, e, de acordo com a
fala, não é interessante aproximar-se “deles”.
Enquanto ciência vista em muitos contextos como elitista, a psicologia precisa tomar
a frente de discussões como esta. Quando nos deparamos com ppbs como a memória e a
emoção e como elas se entrelaçam ao discurso de um apenado em regime fechado que
afirma não saber como “sair daquela situação”, diminuímos também uma barreira que
separa um sujeito que se julga destinado à ilicitude por uma determinação social dos sujeitos
que possuem mais opções diferentes para trilhar sua trajetória.
O entrevistado 2, chama atenção para a necessidade de não se ter uma só
abordagem teórica utilizada para fundamentar os PPBs e frisa a importância de se
aprofundar no embasamento científico para elaboração dos pareceres.
“Você tem a questão da psicanálise,um grupo de estudo da psicanálise, ela
mesmo não sendo uma profissão regulamentada, ela se põe além da
psicologia. Se embasem, estudem, fundamentem as bases de vocês,
precisamos ser psicólogos embasados, e ter cuidado com falas que vem
com resposta pronta”. (ENTREVISTADA 2, 2021)
Psicologia Jurídica e a Garantia dos Direitos Sociais
A Psicologia Jurídica inicia-se pelo estudo, passa pelo tratamento e pelo
assessoramento de várias etapas da atividade jurídica, até com os cuidados relacionados às
vítimas, infratores e profissionais do Direito (Freitas, 2009). França (2004) destaca que a
psicologia jurídica tem diversos setores, em Fóruns e prisões. Além de subdivisões:
Psicologia jurídica e o menor; Psicologia jurídica e o direito de família; Psicologia jurídica e o
direito civil; Psicologia jurídica do trabalho; Psicologia jurídica e o direito penal (fase
processual); Psicologia judicial ou do testemunho, jurado; Psicologia penitenciária (fase de
execução); Psicologia policial e das forças armadas; Vitimologia; Mediação; Formação e
atendimento aos juízes e promotores; Psicologia criminal; Psicologia penitenciária ou
carcerária; Psicologia jurídica e as questões da infância e juventude; Psicologia jurídica e
ministério público, Psicologia jurídica e direitos humanos; dano psíquico; Psicologia jurídica e
magistrados e Proteção a testemunhas.
Altoé (1999) citado por Freitas (2009) complementa ainda que o psicólogo jurídico
também tem em seu papel a emissão de pareceres técnicos sobre pedidos de indenizações
de danos morais, além de assessorar o governo sobre políticas públicas de prevenção à
violência social. E a orientação de advogados e promotoria sobre técnicas persuasivas e
argumentativas para melhor defender a clientela. Soria (1998) conforme citado por Freitas
(2009), complementa dizendo que a psicologia jurídica visa estabelecer um elo terapêutico
que compreende o vitimado, bem como com o infrator e aqueles que atuam no campo
jurídico. França (2004) tem um olhar diferenciado a esse respeito, e entende que precisa ser
objeto de estudo do psicólogo jurídico as consequências das ações jurídicas sobre o
indivíduo.
Na opinião do entrevistado 1 a psicologia jurídica contribui para a garantia dos
direitos da seguinte forma:
Você tem por exemplo, a questão da adoção, violência doméstica, mediação
comunitária,e diversas outras garantias de direito. Dentro da concepção
básica de direito à liberdade, o julgamento justo, a convivência social
comunitária e dentro de uma perspectiva de desenvolvimento humano,
então trabalhamos articulando com outras políticas, está tudo encarregado e
a gente está no meio articulando [...] A sociedade não tem tanta noção da
importância da psicologia jurídica para a garantia de direitos, pois o
psicólogo ainda é muito invisibilizado perante viés clínico. É como se
trabalhássemos com algo exotico, algo extravagante”. (ENTREVISTADO 1,
2021)
Para a entrevistada 2, ter um conhecimento mais aprofundado no caso dos apenados
traz um olhar sistêmico e deixa o profissional menos suscetível a cometer preconceitos
abusadores e negligências de direitos:
É como eu digo, é um mundo… a gente faz parte desse mundo mas assim,
é uma realidade completamente diferente assim, e para você conseguir
trabalhar com isso primeiro que você tem que ser filtro, não esponja, como
ele falou, você tem que conhecer sobre direito penal assim não precisa ser
aí eu conheço todas as horas não, mas assim, eu já consigo me familiarizar
com a linguagem “ah, é o artigo tal...” eu já sei que o artigo 33 é tráfico, 121
homicídio, 177 é roubo, você começa a se familiarizar até porque assim no
meu caso eu leio as denúncias com muito cuidado’.
Através da análise das entrevistas como um todo, fomos capazes de perceber que
ambos profissionais já enxergam a própria atuação como garantia desses direitos. Alguns
anos atrás, não se falava tanto sobre penas alternativas, evolução de pena sujeita a
acompanhamento psicológico para revisão do caso ou mesmo a quantidade de profissionais
por unidade (penitenciária). O aumento do reconhecimento (e da necessidade) da área
consta aqui como um fator muito positivo como força motriz de desenvolvimento.
Infelizmente, de acordo com nosso primeiro entrevistado, a população carcerária no Brasil
ao longo dos últimos 10 anos cresceu aproximadamente 260%, 13 vezes mais do que o
crescimento percentual da população absoluta do país. Por mais que não tenhamos
comparado esta informação comum órgão de pesquisa, quisemos expor aqui como um
registro perceptivo do próprio profissional que se dispôs a falar conosco. Deste modo, o
crescimento da área não tem dado conta de acompanhar a demanda que a supera em
crescimento. É preciso, mais do que nunca, que as psicologias sejam sociais e inclusivas em
suas atuações.
Avaliação Psicológica no Contexto da Psicologia Jurídica;
‘A Psiquiatria e Psicologia jurídica objetivam oferecer instrumentos aos profissionais
da área do Direito informações sobre a situação e aspectos psicológicos e psicopatológicos
dos envolvidos em um determinado caso (Taborda, 2004). Considera-se, entre os deveres
da Psicologia jurídica, o de contribuir ao aprimoramento da norma e do tecido social, de
forma que em cada laudo apresentado haja uma defesa de um bem moral, proteção do
doente mental, ou cidadão diferente, aquele que legitimamente deve-se defender daqueles
que possam causar perigo (Moraes & Fridman, 2004).
Através da Resolução Nº 002/2003, o Conselho Federal de Psicologia/CFP
determinou alguns requisitos para os instrumentos de avaliação psicológica, exigindo, para
serem aprovados, comercializados e usados em nosso país, a especificação do construto
que o instrumento pretende avaliar e as evidências empíricas de validade e fidedignidade
(CFP, 2007).
Na visão dos entrevistados os processos avaliativos tem se constituído como
instrumentos importantes na psicologia jurídica.
Entrevistado 1:
“Acho que a avaliação psicológica tem amadurecido muito,você tem uma
avaliação onde vai estudar o nível de estresse que a pessoa está sendo
submetida, o dano psicológico causado por um abuso profissional, coisa que
20 anos atrás não desciam a esse nível de responsabilidade. O tribunal de
justiça tem duas situações, que eles fazem, que causam preocupação, uma
em relação ao profissional voluntário, se você tem um voluntário porque não
contratar um remunerado, afinal não se esqueçam que somos
trabalhadores”.
Segundo o entrevistado 2:
“eu evitava olhar qual era o crime que eles tinham cometido justamente para
eu não ter essa visão preconceituosa que a gente acaba tendo e dizer não
não vou entregar porque ele fez isso. Porém quando eu ia enviar tipo para
uma empresa particular gostava de olhar, e aí como já é para empresa
privada ele podia abrir ou fechar portas, ele podia abrir se ele fosse um
ótimo profissional mas também fechar completamente as portas se ele
chegar lá e tiver um comportamento ruim”.
Um dos aspectos mais importantes acerca deste tema é que ambos relataram sobre
a avaliação não ser um instrumento de reafirmação dos estigmas contra o indivíduo, mas
sim de humanização. Através das avaliações, o psicólogo consegue compreender a
natureza dos processos psicológicos que estão ocorrendo com aquele sujeito e recomendar
o que esteja de fato mais alinhado com o nível de adequação ele, dentro das alternativas
possíveis.
Para a realização dessas avaliações, utiliza-se vários métodos e tipos de testes.
Papolo (1996), citado por França (2004) ressalta a importância de verificar a confiabilidade e
a validade dos instrumentos e do modelo teórico utilizado com a finalidade de verificar se
respondem ao objetivo do procedimento. Outro instrumento amplamente usado é a
entrevista, Taborda (2004) através dela consegue-se obter informações relevantes sobre a
história de vida do indivíduo e esses dados são importantes no que concerne às motivações
da prática do ato. A segunda entrevistada chegou a relatar como se atualiza em relação a
escolha dos testes e disse inclusive que observa os recortes de escolaridade e outros
fatores que podem interferir nos resultados, relembrando o cuidado e a seriedade que
necessitamos ter com os documentos gerados tanto no contexto da psicologia quanto
jurídico.
Desafios e potencialidades para a formação e atuação dos psicólogos na área da
psicologia jurídica
No que diz respeito à formação do psicólogo para atuação na área, Lago, Amato,
Teixeira, Rovinski e Bandeira (2009) ressaltam as necessidades de se avançar muito na
formação acadêmica do profissional da área no país. Sobre isso, Saffi, Bemvenuto, Caíres e
Rigonati (2002) afirmam que a maioria dos profissionais possui apenas graduação e aqueles
que buscaram a pós-graduação investiram na área clínica. Em consonância, França (2004)
entende que a psicologia judicial brasileira precisa avançar na quantidade de profissionais e
na qualidade do trabalho desenvolvido, na intensificação da produção e publicação de
conhecimento. Dourado (1969) aponta que "infelizmente, no que se refere à reeducação dos
criminosos, ou mesmo às medidas profiláticas, precisamos progredir mais"(p. 103).
Os profissionais abordados estão cientes das realidade de que tanto a atuação em si
não é regulamentada, como a formação na área não tem essa espécie de consolidação:
“Se vocês gostam se aprofundem nos estudos é uma área muito
interessante, assim eu cresci muito assim como pessoa mesmo por
conseguir enxergar essa outra realidade e é o que eu digo não posso fazer
nada área que eu sou apaixonada que eu quero trabalhar às vezes eu fico
cansada assim hoje eu tô extremamente cansada porque você passa o dia
corrigindo teste em isso cansa realmente mentalmente. (ENTREVISTADA 2,
2021)
No âmbito da produção e publicação de conhecimento vale destacar que, de fato, os
maiores números de bibliografia e pesquisas encontradas são referentes à atuação da
psiquiatria forense. Para Brito, Ayres e Amendola (2006), Bucher (1999), Costa e Santos
(2004), Costa, Penso e Almeida (2005), Penso e Sudbrack (2004), Sudbrack Do mesmo
modo para Altoé (1999), citado por Freitas (2009), as fortes transformações no campo da
psicologia jurídica ocorreram apenas a partir da década de 1980, assim, o psicólogo jurídico
deixou de ser apenas um perito encarregado de investigações de cunho técnico e passou a
atuar em outras esferas judiciais, o que possibilitou a humanização da área. Quanto a essa
transformação, para Cesca (2004), conforme citado por Granjeiros e Costa (2008), ainda há
necessidade de se construir uma relação mais consistente entre as áreas forenses citadas e
o lugar do psicólogo na instituição judiciária está para se aprimorar ainda mais.
Esperamos que o recente aumento de ofertas de formações espalhadas pelo Brasil
incentivem os profissionais a dominarem cada vez mais esse campo, e que estes possam
inserir-se num psicologia jurídica alinhada ao nosso contexto brasileiro, que é um contexto
de necessidade de mobilização.
Considerações Finais
A psicologia jurídica tem um papel cada vez mais relevante para a consolidação dos
direitos sociais da sociedade. Um instrumento regulatório de emancipação social, educação
psicológica e de acesso à liberdade e saúde mental. É importante cada vez mais a expansão
dos conhecimentos nesta área a visibilidade da atuação dos profissionais a valorização das
ações desenvolvidas , ampliação dos espaços de atuação e a interdisciplinaridade junto aos
demais profissionais pertinentes ao bem estar dos sujeitos envolvidos.
Faz urgente o aprofundamento acadêmico de estudos recorrentes e sistemático, o
estímulo à produção científica, a formação continuada de psicólogos para suprir as múltiplas
demandas da sociedade.
O aperfeiçoamento dos instrumentos de avaliação psicológica também é considerado
fundamental para acompanhar a dinâmica social mutante e rápida atual, que auxilia a atual
prática da psicologia jurídica.
Ressaltamos ainda que a mesma é uma área que tem uma ligação íntima com os
processos psicológicos básicos e que sem essa percepção não é possível exercer um bom
diagnóstico e consequentemente bons encaminhamentos aos sujeitos da ação. Destaco as
palavras do nosso entrevistado que para atuar nesse campo é preciso estar muito afinado
com os valores deste trabalho:
“E você tem assim é por isso que é tão importante você gostar do que você
tá fazendo, porque uma pessoa que começa a receber esse tipo de crítica
às vezes até de dentro da famíliaou então de amigos próximos e assim por
conta dessas eleições isso foi muito inflamado, também essa questão de da
segregação social mesmo assim você tem que gostar e ter convicção que
aquilo que você quer trabalhar e ficar tranquilo com isso porque trabalhar
com psicologia jurídica é nadar contra a sociedade, é nadar contra a maré
porque nem todo mundo tem essa visão de ressocialização é aquela velha
frase b****** bom é b****** morto, não sei porque tu perde tempo com isso,
as pessoas não conseguem entender que isso é uma coisa muito maior e se
a gente conseguir resgatar essas pessoas a violência vai diminuir, a
desigualdade social vai diminuir, as pessoas não conseguem enxergar as
coisas dessa forma [...] Então você tem que ter muita serenidade assim para
escutar certos tipos de comentários e pensar não, não vou nem me
estressar, ser filtro e não esponja, ser filtro, não esponja, porque além de
tudo ainda existe preconceito das pessoas tanto com o público com o qual
trabalho como comigo por trabalhar com esse público muito complicado.”
Referências
AZEVEDO, Mariza Seixas T. Comissão de Direitos Humanos – Conselho Federal de
Psicologia/SP. In: CONGRESSO IBERO-AMERICANO DE PSICOLOGIA JURÍDICA, 3., 2000, São
Paulo. Anais, São Paulo: Universidade Presbiteriana Mackenzie, 2000.
https://jus.com.br/artigos/64532/a-importancia-da-psicologia-juridica (acessado em 20/05/2021 às
18:05h);
http://processospsicologicos-basicos.blogspot.com.br/
http://www.psicoloucos.com/Materias/2d-semestre-processos-psicologicos-basicos.html
http://albafreud.blogspot.com.br/2011/01/processos-psicologicos-basicos.html
http://pt.scribd.com/doc/61321386/Processos-Psicologicos-Basicos
http://www.cyberneuro.net/consciencia.htm
https://guardias-da-maeterra.wixsite.com/guardiasterapias/single-post/2016/07/29/processos-psicol%
C3%B3gicos-b%C3%A1sicos
CAMARGO, Denise de. Emoção, primeira forma de comunicação. Curitiba: InterAÇÃO, 1999.
GREENE, Judith. Psicolinguística (Chomsky e a psicologia). Rio de Janeiro: Zahar, 1980.
LEITE, Luci. Representação e comunicação: o estudo de funções linguísticas em psicologia. Temas
psicol. vol.3 no.2. Ribeirão Preto, 1995.
https://processospsicologicos-basicos.blogspot.com.br/
http://www.psicoloucos.com/Materias/2d-semestre-processos-psicologicos-basicos.html
https://albafreud.blogspot.com.br/2011/01/processos-psicologicos-basicos.html
http://pt.scribd.com/doc/61321386/Processos-Psicologicos-Basicos
http://www.cyberneuro.net/consciencia.htm
LURIA, Alexander R. Curso de Psicologia Geral. Volume III. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,
1991.
MONTEIRO, Manuela; TAVARES, Pedro. Ser humano. Porto: Porto Editora, s/d.
OLIVEIRA. Sobre diferenças individuais e diferenças culturais: o lugar da abordagem
histórico-cultural. In: AQUINO, J. G., (org.). Erro e fracasso na escola: alternativas teóricas e práticas.
São Paulo: Summus, 1997.
PRIMI; MUNIZ, NUNES. Definições contemporâneas de validade de testes psicológicos. Universidade
São Francisco: Itatiba, s/d.
WECKER, Lisiane. Aquisição da linguagem. (s/r)

Outros materiais