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PEDIATRIA (UE) Traumas e lesões associadas . TRAUMA CRÂNIO ENCEFÁLICO . ● Maior causa de morbimortalidade em jovens ● No Brasil, é a principal causa morte em crianças com idade superior a 5 anos. ● Corresponde a 50% óbitos na adolescência. TIPOS DE LESÃO: ● PRIMÁRIA: ● É o resultado direto da lesão mecânica provocada pelo trauma, podendo ser causada por dois mecanismos – impacto ou aceleração e desaceleração (cisalhamento dos neurônios, levando a lesão axonal difusa). ● Ocorre no momento do trauma e, em geral, não pode ser amenizada pela intervenção médica, mas sim por meio de medidas de prevenção primária. ● SECUNDÁRIA: ● É causada no SNC em decorrência de resposta fisiológica sistêmica ao trauma inicial. ● As causas mais comuns são: hipoxemia, hiper ou hipocapnia, hipotensão arterial, hipertensão intracraniana (HIC), crises convulsivas, hipertermia, distúrbios hidroelétricos e metabólicos, principalmente de sódio e glicose. ● A prevenção e correção dos fatores causadores da lesão cerebral secundária são medidas mais eficazes no tratamento da criança com TCE. PARTICULARIDADES SOBRE AS LESÕES: FRATURA DE CRÂNIO ● Quando ocorre, entende-se que houve força significativa envolvida no trauma. ● Dividida em 2 tipos: ● Lineares: corresponde a 90% dos casos ● Com afundamento: são mais graves ● Necessita de correção cirúrgica e geralmente envolve lesões da dura máter e de parênquima cerebral (muitas vezes cursa com convulsões). ● Podemos encontrar escape de LCR, possibilidade de lesão dural, déficits focais, comprometimento estético importante, depressão maior ou igual a espessura da tábua óssea. FRATURA DE BASE DE CRÂNIO ● Acomete de 6 a 14% das crianças com TCE. ● Sinais para identificação: ● equimoses periorbitária e retroauricular (sinal de guaxinim); ● escape de LCR pelo nariz/conduto auditivo; ● coleção de sangue retrotimpânica; ● paralisia facial e perda auditiva; ● pneumoencéfalo (ar entre tecido cerebral e crânio). ● Complicações: ● fístula liquórica ● meningite ● alteração dos pares cranianos (paralisia de nervo facial) ● Em casos de suspeita de fratura de base de crânio, é contraindicado a passagem de sonda nasogástrica, por risco de infecção e de alojamento intracraniano da sonda. HEMATOMAS EPIDURAIS E EXTRADURAIS ● Ocorrem geralmente secundário a algum sangramento arterial, sendo mais comum a artéria meníngea média. ● Se localizam no espaço epidural (entre a calota craniana e a dura máter). ● Podemos ter hematomas epidurais sem lesão óssea. ● Possuem melhor prognóstico do que hematomas subdurais, sendo a chance de dar hipertensão intracraniana é relativamente menor. HEMATOMAS SUBDURAIS ● É, geralmente, secundário a um sangramento venoso adjacente a lesões do parênquima cerebral. ● Relacionado a contusões cerebrais na maioria das vezes. ● Se ocorrer desvio da linha média, é necessária uma abordagem cirúrgica. HEMATOMA INTRAPARENQUIMATOSO ● Encontrado profundamente no parênquima cerebral. ● Aumentos localizados de níveis tensionais. ● São tratados de forma conservadora. AVALIAÇÃO E TRATAMENTO: ● Seguir os preceitos do ATLS; ● Escala de coma de Glasgow (ECG), extremamente importante na classificação de gravidade do paciente. FATORES DE RISCO E EVOLUÇÃO DESFAVORÁVEL: ● ECG 3 a 4 na admissão; ● Pupilas fixas e dilatadas; ● Hiperglicemia (resposta metabólica ao trauma). ● Convulsões pós-traumáticas; ● pH menos que 7,2; ● Cisternas basais não visíveis na primeira TC; ● Presença de coagulopatias. . ESCALA DE COMA DE GLASGOW . CLASSIFICAÇÃO DA GRAVIDADE: ● A escala de Glasgow tem sua adaptação para a versão pediátrica, especificada para crianças menores ou maiores de 1 ano. ● LEVE: 14 – 15; ● MODERADA: 9 -13; ● GRAVE: 3 – 8. . ATENDIMENTO AO TCE GRAVE . ● TCE grave se caracteriza por uma ECG entre 3 e 8. ● Assegurar via aérea definitiva; ● Sedação se necessário ⇒ tomar cuidado com o uso da quetamina, que tende a aumentar a PA e pode causar aumento da pressão intracraniana; ● SRI ⇒ Sequência rápida de intubação usada para evitar o aumento da alta de pressão intracraniana. ● Após IOT, manter PaCO2 entre 35 a 40 mmHg. ● Evitar hipotensão, haja visto que este é o pior fator prognóstico do TCE pelo fato de que gera redução da perfusão cerebral. ● Por isso, a reposição volêmica deve ser rigorosa. COMPLICAÇÕES: ● Hipotensão: ● Diminuição da PPC (pressão de perfusão cerebral); ● PPC: PAM (pressão arterial média) – PIC (pressão intracraniana). ● Hipertensão intracraniana (HIC): ● PIC acima de 20mmHg; ● Tríade de Cushing - hipertensão, bradicardia, alterações respiratórias; ● Anisocoria; ● Decorticação/descerebração; ● Diminuição 3 ou mais pontos na ECG; ● PCR súbita. ● Medidas para tratamento da HIC: ● Cabeceira elevada 30°; ● Monitorar PIC com cateter PIC e sempre buscar manter a PIC abaixo de 20 mmHg; ● Garantir boa oxigenação: saturação de oxigênio maior ou igual a 95%; ● Drenagem liquórica se PIC elevada; ● Solução salina hipertônica de manitol: 0,5 mg/Kg; ● Coma por barbitúrico (tiopental). ● Craniectomia descompressiva: ● Utilizada na HIC refratária ao tratamento clínico⇒ consiste na retirada de um flap ósseo com abertura da dura-máter para alívio da hipertensão intracraniana e diminuição dos efeitos deletérios do edema cerebral ⇒ se essa pressão não for aliviada através do alívio no crânio, o cérebro pode expandir para o centro respiratório - PERIGO! ● Indicada em casos de: ○ HIC refratária; ○ TC de crânio, edema e ingurgitamento cerebral difuso; ○ Ausência de episódios de PIC menor que 40 mmHg; ○ Escala de Glasgow maior que 3 em alguma avaliação de internação ⇒ paciente apresenta um nível de consciência; ○ Herniação cerebral. OBSERVAÇÕES IMPORTANTES: ● Convulsões podem ocorrer em 25–55% das TCEs graves; ● Uso de fenitoína profilática por 2 semanas; ● Suporte nutricional a fim de evitar infecções; ● Corrigir hiperglicemia (>200) com insulina regular; ● A convulsão leva a hipóxia cerebral, aumento de pressão intracraniana e deve ser evitada nas TCEs graves. . TCE MODERADO OU LEVE . ● Idade, história e mecanismo de trauma. ● Sinais de alarme: vítima fatal, maus tratos (síndrome do bebê sacudido), alteração no nível de consciência, vômitos, sinais focais e convulsões pós trauma, hematoma subgaleal (principalmente se em região frontal). CONDUTAS: ● Crianças < 1 ano: TC e observar por pelo menos 6 h; ● Crianças > 1 ano: TC em caso de sinais de alarme; ● TC NORMAL: Alta após observação com orientações de cuidados e sinais de alerta; ● ALTERAÇÃO NA TC: hospitalização e observação por 24h, buscando sinais de gravidade. . TRAUMA ABDOMINAL . TRAUMA ABDOMINAL FECHADO (TAF): ● Ocorre por quedas, atropelamentos e acidentes automobilísticos. ● Particularidades nas crianças: menor massa muscular e gordura parede abdominal, caixa torácica mais complacente ⇒ consequente proteção frágil dos órgãos abdominais (principalmente fígado e baço). ● SINTOMAS: ● Podem ser precoces e insidiosos. ● Os precoces geralmente são hemorragias maciças e os insidiosos apresentam-se mais lentamente. ● DIAGNÓSTICO: ● Exame clínico e imagens; ● TC de abdômen é o padrão ouro. A TC deve ser feita apenas em pacientes estáveis ⇒ primeiro estabiliza-se o paciente e depois pensa em ir para TC. ● Indicação de TC de abdômen: ● Evidência externa de trauma abdominal; ● FAST positivo (líquido livre na cavidade); ● Impossibilidade de exame físico confiável, como no TCE grave. ● Laparotomia precoce: ● Em casos do paciente apresentar: choque grave, pneumoperitônio ou rotura diafragmática. PRINCIPAIS ÓRGÃOS ATINGIDOS: ● BAÇO: O baço é o órgão mais acometido no trauma abdominal contuso. ● FÍGADO: É importante lembrar que a lesão hepática é a maior causa de morte em crianças. ● Suspeitar quando presente dor em ombro direito, aumento de enzimas hepáticas e dor à palpação no quadrante superior direito. ● PÂNCREAS: 10% dos casos de trauma abdominal. ● Causa mais comum de pancreatite na criança. No examefísico, nota-se massa em epigástrio e dor abdominal difusa, e vômitos. ● Na maioria das lesões o tratamento é conservador. 10% dos tratamentos são cirúrgicos e consistem na drenagem de pseudocisto. MANEJO DO TRAUMA HEPÁTICO: ● PACIENTE HEMODINAMICAMENTE ESTÁVEL: ● na maioria das vezes, conservador, isto é, observação seriada com exame de imagem, como US e TC. ● PACIENTE HEMODINAMICAMENTE INSTÁVEL: ● A primeira medida é determinar as possíveis causas do choque, realizadas por LPD (Lavado Peritoneal Diagnóstico) e FAST (Avaliação Focalizada com Sonografia para Trauma). ● A LPD é pouco usada em pacientes pediátricos e determina a presença de sangue peritoneal, mas não define a origem do sangramento. ● A FAST pode indicar o local do sangramento e guiar o manejo imediato, mas não é capaz de diferenciar os graus de lesão hepática, além de ser examinador-dependente. SÍNDROME DO CINTO DE SEGURANÇA: ● Lesão abdominal provocada pelo uso inadequado desse dispositivo. ● Lesão do músculo reto abdominal e de órgãos internos. ● Incidência de 0,5 a 1,38% nos acidentes automobilísticos; ● Cinto 3 pontos: reduz força impacto em 92% e mortalidade 50%; ● Cinto 2 pontos: menos seguro e causa mais lesão abdominal, de coluna e intracraniano. ● Solicitar US para pesquisa de rotura do músculo reto abdominal e lesões intra abdominais . TRAUMA TORÁCICO . ● 28% crianças politraumatizadas. ● 4º lugar em frequência de lesões ● Particularidades da criança: caixa torácica mais complacente e maior transferência de energia para estruturas intratorácicas ⇒ sempre suspeitar de lesões e hemorragias pulmonares em acidentes de grande impacto. ● Presente em 70% dos acidentes automobilísticos e 10% quedas, 10% esmagamentos e 10% agressões. ● SINAIS CLÍNICOS: ● Desconforto respiratório; ● Simetria da parede torácica; ● Retrações da fúrcula, intercostal e subcostal; ● Ausculta pulmonar; ● Percussão torácica; ● Oximetria de pulso. ● TIPOS DE TRAUMA TORÁCICO: ● Risco iminente de vida: apresenta deterioração rápida dos sinais clínicos e exige tratamento emergencial; ● Exemplo: pneumotórax hipertensivo ⇒ . ● Lesões potencialmente letais: faz-se avaliação e monitoração; ● Exemplo: contusão pulmonar. TRAUMAS MAIS COMUNS: ● PNEUMOTÓRAX HIPERTENSIVO: ● Nestes casos faz-se punção de alívio. ● HEMOTÓRAX: ● Faz-se reposição volêmica, drenagem, e caso a drenagem tenha mais que 2 ml/kg/h deve-se fazer exploração cirúrgica. ● CONTUSÃO PULMONAR: ● Lesão mais frequente, em 25 a 75% dos casos. ● RX inicial pode estar normal. ● Na suspeita, realiza-se RX seriado. ● TC de tórax é o mais sensível e deve ser solicitado quando o RX mostra opacificação. ● OBSTRUÇÃO DE VIAS AÉREAS: ● O paciente pode apresentar insuficiência respiratória, respiração estridulosa com retração. ● O tratamento é feito por meio da aspiração, manobra para anteriorização da mandíbula, e se necessária intubação. ● HEMOTÓRAX: ● Sangue na cavidade torácica. ● Observa-se diminuição do murmúrio vesicular, percussão maciça, opacidade no raio-x de tórax do lado acometido. ● Pode desviar a traqueia para o lado contralateral. ● O tratamento consiste em drenagem torácica e reanimação fluídica. ● Caso não haja comprometimento grave da ventilação e oxigenação, faz-se a primeiramente a reanimação fluídica e posteriormente a drenagem torácica. ● TÓRAX FLUTUANTE: ● Assincronismo do movimento da parede respiratória. ● Raio-x de tórax faz o diagnóstico. ● O tratamento é feito por meio do decúbito do paciente para o lado da lesão das fraturas a fim de estabilizar o tórax. ● Caso persista a insuficiência respiratória, a conduta é a intubação. ● Tamponamento cardíaco: abafamento de bulhas, distensão venosa cervical e hipotensão. Pulso paradoxal e choque obstrutivo. ● Faz-se raio-x de tórax e ECG, que mostra aumento do intervalo PR. ● Pode ser necessária a drenagem do tamponamento por meio da punção de Marfan. ● PNEUMOTÓRAX ABERTO: ● Ferimento aberto no tórax com sinais de pneumotórax. ● Faz-se a oclusão do ferimento com gaze e vaselina. Após oclusão o tórax é drenado. ● O local de drenagem é diferente do local da lesão. ● PNEUMOTÓRAX HIPERTENSIVO OU BILATERAL: ● Diminuição do murmúrio unilateral ou bilateral. ● Desconforto respiratório, diminuição do retorno venoso e distensão venosa, hipotensão, timpanismo à percussão do hemitórax envolvido. ● O pneumotórax gera desvio da traqueia para o lado contralateral ao pneumotórax. ● O raio-x de tórax mostra hipertransparência com desvio da traquéia para o lado contralateral. ● Tratamento por punção de alívio e drenagem. . LESÕES POR ABUSO FÍSICO . ● Qualquer lesão acidental provocada na criança e causada por um responsável, por qualquer razão’. ● Grupo socioeconômico mais baixo apresenta maior chance de abuso. ● Além disso, com os pais mais jovens existe maior probabilidade de agressão física. SUSPEITA: ● Divergências entre histórias relatadas pelos familiares; ● Intervalo prolongado entre o tempo de lesão e a procura por atendimento; ● Mecanismo trauma não compatível com o desenvolvimento motor da criança; ● Discrepância entre história e o grau de lesão; ● História traumas repetidos; ● Lesões em estágios evolutivos diferentes. ● Manifestações clínicas mais comuns: ● Lesões pele: 39,8%; ● Trauma na cabeça: 12,5%; ● Queimaduras: 10%; ● Fraturas: 7%. ● Nas fraturas atentar-se a fraturas metafisárias de ossos longos ou fraturas em espiral, pois podem ser provocadas por adultos. ● Lesões provocadas por abuso físico deixam cicatrizes emocionais: depressão, ansiedade, distúrbios do apetite, queixas psicossomáticas. ● A função do médico é comunicar às autoridades competentes e interromper o ciclo violência.
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