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AIEs- Anti-inflamatórios esteroidais

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1 GIOVANA NUNES DE ASSUNÇÃO 
 
Considerações iniciais 
 São chamados também de corticoides ou 
corticosteroides; 
 O processo inflamatório se dá através de uma 
infecção, trauma ou reação imune; 
 Pode ocorrer a liberação de enzimas 
intracelulares, a ativação do sistema 
complemento, e a organização de substâncias 
pró-inflamatórias, como histamina, 
prostaglandinas, leucotrienos, citocinas e 
quimiocinas; 
 Essas substâncias irão de fato promover 
a reação inflamatória aguda. 
 A reação inflamatória aguda é caracterizada 
por edema, calor, rubor, dor e perda de 
função na região (alterações vasculares e 
exsudativas); 
 É produzido muita prostaglandina, um 
eicosanoide; 
 Prostaglandinas: São mediadoras do centro 
inflamatório (quando ocorre uma inflamação 
elas são recrutadas para o local) e trabalham 
na homeostase. 
Produção de prostaglandina 
 Ocorre através da cascata do ácido 
araquidônico. 
1. Ação catalisadora da fosfolipase A2 na 
membrana fosfolipídica libera o ácido 
araquidônico; 
2. O ácido araquidônico pode estimular duas vias: 
Ciclooxigenases ou Lipoxigenases; 
 
Via da Ciclooxigenase: 
3. Produção de algumas prostaglandinas: 
 Prostaglandina i2 (PGi2): Promove 
vasodilatação, hiperalgesia (sensibilidade 
exacerbada da dor) e é anti-agregante 
plaquetário. Possui atividade citoprotetora 
na mucosa gástrica (diminui o HCL e 
aumenta o muco); 
 Tromboxano A2 (TXA2): Indução da 
agregação plaquetária, mas também 
promove a vasoconstrição; 
 Prostaglandina D2 (PGD2): Vasodilatador, 
mas também promove a agregação 
plaquetária menos significativa que o TXA2; 
 Prostaglandina E2 (PGE2): Vasodilatadora e 
hiperalgésica. É responsável pelo centro 
termorregulador (sinaliza ao hipotálamo 
quando ele deve ou não aumentar a 
temperatura). Possui atividade 
citoprotetora na mucosa gástrica (diminui o 
HCL e aumenta o muco). Promove 
vasodilatação nos rins; 
 Prostaglandina F2α (PGF2α): 
Broncoconstritora e promove a contração 
do miométrio (responsável pelas cólicas); 
 PGE2 e PGI2: Sensibilizam as terminações 
nervosas das fibras nociceptivas 
(relacionadas com a hiperalgia). 
Citocinas 
 Há produção de citocinas no processo 
inflamatório, como interleucinas, quimiocinas, 
 
2 GIOVANA NUNES DE ASSUNÇÃO 
citocinas pró-inflamatórias, fatores de 
crescimento, entre outras; 
 São pro-inflamatórias e algumas possuem 
atividade anti-inflamatória, como é o caso dos 
interferons; 
 Interleucinas (IL-1, IL-6, IL-8, IL-13, IL-16): 
Responsáveis pela ativação de células 
inflamatórias; 
 Fatores de crescimento: Resposáveis por 
recrutarem células de defesa, como 
macrófagos e possuem atividade bactericida; 
 Quimiocicinas: Recrutam os leucócitos; 
 Interferons (IFNα, IFNβ e IFNϒ): Ativam os 
leucócitos (que são anti-inflamatórios) e 
possuem atividade antiviral na inflamação; 
 Citocinas pró-inflamatórias (TNFα) : 
Responsáveis por provocar febre, 
citotoxicidade, indução de citocinas 
inflamatórias, entre outros. 
 
 Gráfico de concentração plasmática X tempo 
de inflamação: 
 No início há a presença de susbtâncias 
pró-inflamatórias (TNF e IL-1); 
 Depois de um tempo, essas concentrações 
pro-inflamatórias diminuem e a 
concentração das substâncias anti-
inflamatórias (TNF-R, IL-1ra, IL-10, IL-8) 
aumentam, ou seja, posteriormente 
ocorrerá o recrumamento das células de 
defesa; 
 As citocinas anti-inflamtórias bloqueiam a 
ação das citocinas pro-inflamatórias. 
Eixo hipotálamo-hipófise-
suprarrenal 
 Responsável pela síntese do cortisol; 
 É ativado com a presença de citocinas e 
macrófagos; 
1. Hipotálamo produz CRH (hormônio liberador de 
corticotrofina), que estimula a produção de 
ACTH na hipófise; 
2. Adeno-hipófise produz o ACTH; 
3. Quando o ACTH é secretado, ocorre alibração 
de cortisol na suprarrenal; 
4. Cortisol medeia a inflamação, produzindo 
eicosanóides, serotonina, PAF (fator de 
ativação de plaquetas), bradicinina, etc. 
 Essa produção hormanal é contralada por 
feedback negativo (quando o cortisol é 
produzido em quantidades consideráveis é 
sinalizado para o hipotálamo e para a hipófise 
parar a estimulação); 
 Suprarrenal: 
 Cápsula: Região que envolve a glândula; 
 Córtex adrenal: 90% da constituição. É 
dividida em: 
 Zona glomerulosa: responsável por 
secretar aldosterona (categoria dos 
mineralocorticoides) atua 
principalmente nos rins promovendo 
retenção de sódio e excretando 
 
3 GIOVANA NUNES DE ASSUNÇÃO 
potássio. Assim, para que essa 
produção aconteça é necessário a 
presença de estímulos que são 
decorrentes da presença da 
angiotensina II e do potássio; 
 Zona fasciculada: responsável por 
secretar cortisol (categoria dos 
glicocorticoides) conhecido como 
“hormônio do estresse”. Para que 
ocorra essa produção se faz 
necessária a presença do hormônio 
ACTH (adrenocorticotrófico); 
 Zona reticular: responsável por 
secretar o hormônio DHEA 
(desidroepiandrosterona). Além disso, 
produz andrógenos e estrógenos 
 Medula adrenal: 10% da constituição. 
Produz catecolaminas (adrenalina e 
noradrenalina). 
 Biossíntese: O cortisol, a aldosterona e a DHEA 
advêm da síntese do colesterol; 
 Para que o cortisol seja sintetizado é 
necessário o ACTH. 
Cortisol 
 É o glicocorticóide humano mais importante; 
 É essencial para a vida e regula ou sustenta 
uma grande variedade de funções – isso se 
deve ao fato de que existem muitos 
receptores para o hormônio cortisol 
espalhados por vários órgãos do corpo; 
 Condições de estresse (necessita de aporte 
energético) cortisol estimula o fígado a realizar 
a gliconeogênese (produção de açúcar); 
 Todos os processos naturais que o cortisol 
provoca no organismo ocorrem por meio de 
transcrições genéticas. 
Efeitos do cortisol: 
 Estimula a gliconeogênese no fígado, liberando 
mais glicose no organismo; 
 Estimula o catabolismo proteico nos músculos; 
 Estimula a lipólise; 
 Estimula o aumento da pressão arterial; 
 Diminuição das células de defesa, inibindo a 
síntese de todas as substâncias da série 
branca em condições de estresse; 
 Aumento da concentração de hemoglobina, 
hemácias e plaquetas, principalmente 
hemoglobina e hemácias por precisar de mais 
oxigênio; 
 Aumento da síntese de ácido clorídrico e 
pepsina no trato gastrointestinal, desregulando 
a ação citoprotetora; 
 Inibição da fosfolipase A2, que possui 
capacidade de liberar ácido araquidônico; 
 Diminuição da síntese de osteoblastos. Nos 
ossos, o cortisol pode causar osteoporose. 
OBS: Em condições de estresse os indivíduos 
podem ter atrofia muscular pois tudo o que 
fornece energia para o corpo o cortisol vai utilizar; 
OBS: O aumento da pressão arterial ocorre pela 
própria condição de estresse e também pela 
produção de aldosterona em grande quantidade, 
causando retenção de sódio e consequentemente 
de água. 
 
 
4 GIOVANA NUNES DE ASSUNÇÃO 
 
Via dos corticoides 
 É a principal via dos medicamentos 
inflamatórios que tem como o cortisol o 
principal glicocorticoide; 
 Os corticoides sintéticos são utilizados como 
anti-inflamatórios exatamente pela capacidade 
de inibição da fosfolipase A2, fazendo com que 
não tenha a produção de ácido araquidônico. 
Secreção de ACTH e cortisol 
 Quando o cortisol é sintetizado, sinaliza por 
feedback negativo que a hipófise não precisa 
mais produzir ACTH e o hipotálamo não precisa 
mais sintetizar o CRH; 
 Manhã (por volta de 8h): Ocorre o pico de 
ACTH e consequentemente o pico máximo de 
cortisol; 
 Por esse motivo, os laboratórios exigem 
que a coleta de sangue para o exame seja 
feita às 8h pois, se é esse o pico máximo 
de concentração. 
 Ao longo do dia a concentração de cortisol vai 
diminuindo, em alguns momentos sobe, mas em 
nenhum momento chega na mesma 
concentração das 8h; 
 Esse horário também é indicado paraadministração do corticoide sintético/exógeno, 
pois quando se está na concentração máxima 
de cortisol ele finaliza tanto para a 
adenohipófise, quanto para o hipotálamo, não 
precisando sintetizar mais ACTh, nem CRh. 
 
Anti-inflamatórios esteroidais 
 Indicações: 
 Asma; 
 DPOC; 
 Alergias (associados à anti-histamínicos); 
 Artrite reumatoide; 
 Lúpus (como imunossupressor). 
 Escolha do corticoide ideal, deve-se analisar: 
 Tempo de meia-vida (curto, indica que o 
tempo entre uma administração para a 
próxima deve ser menor) 
OBS: Quanto maior o tempo de meia-vida, melhor 
(pois os corticoides causam muitos efeitos 
indesejados). 
 Atividade anti-inflamatória; 
 Presença ou ausência de mineralcorticoide. 
Mecanismo de ação 
1. O medicamento entra na célula e se liga/ativa 
o receptor GR; 
2. O medicamento ligado ao GR vai até o núcleo 
para se ligar ao receptor GRE, promovendo a 
transcrição genética para produzir Anexina-1; 
3. Anexina-1 inibe a Fosfolipase-A2. 
 
5 GIOVANA NUNES DE ASSUNÇÃO 
 Ocorre pelo aumento da expressão de 
anexina-1 (lipocortina); 
 Anexina-1 inibe a atividade da fosfolipase A2 
(estimula a produção de ácido araquidônico), 
consequentemente não ocorre produção de 
prostaglandinas; 
 Mediadores inflamatórios reduzem a produção 
de IgG e os componentes do complemento, 
aumentam os fatores anti-inflamatórios (IL-10, 
ILIr e Anexina-1); 
 Produzem a resposta imunológica inata e 
adaptativa; 
 Mecanismo de transcrição gênica: Corticoide é 
capaz de penetrar na membrana plasmática, 
se ligando inteiramente a um receptor 
denominado GR, levando o recrutamento desse 
medicamento até o núcleo da célula; 
 No núcleo, o fármaco ativa outro receptor 
denominado de GRE, que irá ativar os 
mecanismos de transcrição gênica , 
possibilitando a produção de Anexina-1 =Ação 
anti-inflamatória. 
Seleção dos corticoides 
 A escolha baseia-se em: Atividade anti-
inflamatória, atividade mineralcorticoide (causa 
inchado, devido a retenção de líquido) e tempo 
de meia-vida; 
 Ação Curta (1h até 12h): 
 Hidrocortisona e a cortisona; 
 São indicados para reposição de cortisol, 
em indivíduos que têm um déficit desse 
hormônio; 
 Esses dois medicamentos têm o mesmo 
índice de efeito anti-inflamatório e de 
mineralocorticoide (retenção de líquidos). 
 Ação Intermediária (12h até 36h): 
 Prednisona (fármaco): tem o índice de 4 
pontos de atividade anti-inflamatória e 
apenas 0,4 pontos de atividade 
mineralocorticoide, ou seja, tem mais ação 
anti-inflamatória do que retenção de 
líquido; 
 Prednisolona (pró-fármaco): tem pouco 
efeito de retenção e 5 pontos no efeito 
anti-inflamatório; 
OBS: Pró-fármaco apresenta maior 
biodisponibilidade. A predinisolona é um pró-
fármaco da prednisona. 
 Metilprednisolona: tem pouco efeito de 
retenção e 5 pontos no efeito anti-
inflamatório; 
 Triancinolona: tem zero efeito de retenção 
e 5 pontos no efeito anti-inflamatório. 
 Ação Longa (3h até 56h): Os dois tem alto 
efeito anti-inflamtório: 
 Betametasona: tem 35 pontos na ação 
anti-inflamatória e zero efeito 
mineralocorticoide; 
 Dexametasona: tem 30 pontos de ação 
anti-inflamatória e zero efeito 
mineralocorticoide. 
 Mineralocorticoides: Tem baixo efeito anti-
inflamatório e alto efeito de retenção de 
líquidos. Ex: Fludrocortisona e 
Desoxicorticosterona. 
Principais fármacos 
 
6 GIOVANA NUNES DE ASSUNÇÃO 
 Possuem baixa atividade mineralcorticoide; 
 Apresentam atividade supressora de 
crescimento (câncer); 
 Usados em respostas inflamatórias agudas 
máximas; 
 Cortisol, Hidrocortisona e Cortisona: 
 São usados apenas em terapias de 
reposição hormonal, pois não tem boas 
atividades anti-inflamatórias; 
 Possuem mais atividade mineralocorticoide 
(retenção de líquidos) do que efeito anti-
inflamatório. 
 Dexametasona e Betametasona: 
 São glicocorticóides de ação longa, por 
conta disso são indicados no tratamento 
de respostas inflamatórias agudas 
máximas, como choque séptico e edema 
cerebral; 
 Dexametasona vem sendo utilizada no 
tratamento da Covid-19 em casos mais 
graves e, até mesmo, no início da 
inflamação pulmonar, justamente pelo fato 
de ter uma meia-vida longa e ter uma boa 
resposta anti-inflamatória. 
 Prednisolona e Predinisona: 
 São utilizados no tratamento anti-
inflamatório a longo prazo e como 
imunossupressores; 
 Ex: DPOC, asma..; 
 Tempo de meia-vida: Intermediário; 
 Possui pouca atividade mineralcorticoide 
 
 
Farmacocinética 
 Geralmente a absorção desses fármacos são 
bem rápidas, quando utilizados por via oral; 
 A absorção por via tópica é lenta; 
 Todos os fármacos sofrem biotransformação 
hepática e eliminação renal. 
Principais efeitos indesejáveis 
 O cortisol tem capacidade de se ligar em todos 
os receptores do organismo e é por conta 
dessa capacidade que ele pode ocasionar esses 
efeitos indesejáveis; 
 Síndrome de Cushing: Paciente utiliza corticoide 
a muito tempo devido a alguma doença crônica 
 Gordura abdominal, hipertensão, alterações 
no humor (depressão, euforia), corcova de 
búfalo, osteoporose (produção de 
osteoblastos é diminuida, 
consequentemente, diminui a formação 
óssea), tendência à hiperglicemia (fígado 
estimula a produção da gliconeogênese, 
aumentando a concentração de glicose e o 
corticoide está gerando um efeito 
mineralocorticoide), aumento do apetite e o 
aumento da suscetibilidade de infecções. 
 Efeitos colaterais graves: 
 
7 GIOVANA NUNES DE ASSUNÇÃO 
 Pode aparecer úlcera péptica pois esses 
medicamentos estimulam a liberação de 
forma exacerbada de ácido clorídrico e 
quanto mais ácido, maior a propensão de 
aparecimento de úlcera; 
 Pode ocorrer hipomania ou psicose aguda 
quando o paciente usa esses 
medicamentos em doses muito altas. 
 Quando administrados em doses superiores às 
fisiológicas: Podem provocar retenção de sódio 
e líquido e quanto mais retém sódio, mais vai 
reter líquido e consequentemente potássio e 
devido a essa perda de potássio pode provocar 
deficiências nas funções cardiovasculares e 
renais; 
 Em pacientes com funções cardiovasculares e 
renais normais: Devido à perda de potássio, 
pode provocar algumas deficiências como a 
alcalose hipoclorêmica hipopotassêmica e 
provocar a elevação arterial; 
 Na hora de avaliar um paciente, muitos pontos 
devem ser levados em consideração, deve-se 
ver toda a história clínica do paciente. Tem 
como exemplo um paciente que é diabético e 
hipertenso de forma crônica, e ele está com 
uma inflamação; 
 Quando não teve utilizar corticoide: 
 Diabetes e hipertensão descompensada. 
Retirada do tratamento com 
corticoides 
 Se for retirada de forma abrupta, pode se 
gerar muitos efeitos indesejáveis, o principal é 
a insuficiência aguda da suprarrenal; 
 Insuficiência aguda da suprarrenal: Ocorre pois 
o eixo hipotálamo-hipófise-suprarrenal vai 
estar toda hora inibido devido ao feedback 
negativo, e por isso nada vai estimular a 
glândula suprarrenal, e se ela passar 
muito tempo inibida vai chegar um 
momento em que ela irá atrofiar; 
 A recuperação da suprarrenal, que precisa 
ser feita até tirar a última dose de corticoide, 
dura em média 8 semanas, podendo chegar 
até 18 meses, para que ela se recupere e 
produza o cortisol da forma que realmente 
deve e isso se dá através das doses; 
 Se um paciente que utiliza uma dose menor 
que 7,5mg/dia, independente de se utilizar 
uma semana ou um ano, não vai gerar 
insuficiência e não precisa fazer desmame; 
 Só precisa fazer o desmame quando o tempo 
de tratamento é de 6 meses a um ano e a 
dose é a partir de 10mg/dia. 
OBS: No caso de 15mg/dia, a partir de 
tratamento que inicia com 1 mês, já precisa fazer 
o desmame e doses maiores que 30mg/dia a 
partir de uma semana de tratamento ou até 
mesmo um ano, tem que fazer o desmame.

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