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Vict�ria K. L. Card�so Bibli�grafia: Manual do Médico Residente em Geriatria Quedas Introdução Características gerais: ● A queda representa uma das grandes síndromes geriátricas e um evento marcante na vida do idoso. ● Pode potencializar um declínio funcional, constituir uma manifestação de alguma doença ou sinalizar uma patologia aguda. ● Conceito: define-se como o deslocamento não intencional do corpo para um nível inferior à posição inicial com incapacidade de correção em tempo hábil, determinado por circunstâncias multifatoriais e comprometendo a estabilidade. ● Em resumo, a queda funciona como um gatilho para um mecanismo cumulativo e efeito em cascata de eventos prejudiciais à saúde e à qualidade de vida dos idosos. ● Há 30% de possibilidade de morte após 1 ano da ocorrência de fratura de fêmur. ● Grupos de maior risco: idade mais avançada e sexo masculino. Fatores de risco: ● Fatores intrínsecos: relacionados com o indivíduo. ● Fatores extrínsecos: relacionados com o ambiente em que o paciente vive e os relacionados com as atividades diárias (ambientes inseguros, mal planejados, com defeitos de construção ou barreiras arquitetônicas). ● Podendo ainda serem subclassificados em modificáveis e não modificáveis. Fatores intrínsecos: ● Sociodemográficos: ○ Aqui as informações estão centradas no aumento da incidência de quedas com o aumento da idade (> 75 anos) e naqueles com história prévia de quedas. ○ Fatores não modificáveis: sexo feminino, pele branca e história prévia de uma ou mais quedas no ano anterior. ○ Fatores possivelmente modificáveis: os que moram @p�sitivamed Vict�ria K. L. Card�so Bibli�grafia: Manual do Médico Residente em Geriatria sozinhos ou têm baixo suporte social. ● Capacidade físico-funcional: ○ Associação das limitações do paciente com as atividades de vida diária, analizando o comprometimento na mobilidade e/ou déficit de marcha. ○ Fatores modificáveis: redução de velocidade, da cadência ou do comprimento da passada (NE – A/modificável) e alterações de equilíbrio. ● Distúrbios sensoriais e neuromusculares: ○ Nesse tópico, as maiores alterações são as visuais, com diferentes graus de associação com quedas; mas também entram aqui as alterações neurológicas e de forma muscular. ○ Fatores modificáveis: perda de visão de contraste, redução na percepção de profundidade, redução de acuidade visual, redução da força muscular e maior tempo de reação. ○ Fatores não modificáveis: diminuição da sensibilidade vibratória e tátil. ● Fatores psicológicos: ○ Fatores modificáveis: medo de cair, déficit de atenção e comportamentos de risco. ● Condições de saúde e doenças crônicas: ○ Doenças crônicas ou condições agudas. ○ Doenças crônicas com maior associação de quedas: ■ Acidente vascular encefálico. ■ Declínio cognitivo. ■ Doença de Parkinson. ■ Depressão. ■ Incontinência urinária. ■ Osteoartrose. ■ Deformidades nos pés. ■ Hipotensão postural. ● Medicações: ○ A maioria das evidências são de pesquisas observacionais, com poucos estudos controlados e @p�sitivamed Vict�ria K. L. Card�so Bibli�grafia: Manual do Médico Residente em Geriatria de amostras pequenas → ou seja, aqui a validade é questionável. ● Polifarmácia: ○ Uso de 5 ou mais medicações → existem evidências de que esse risco esteja ligado a reações adversas a medicações, às interações medicamentosas ou à prescrição inadequada. ● Psicotrópicos: ○ Algumas classes possuem maior associação a quedas, entre elas: ■ Benzodiazepínicos → maior associação de risco. ■ Antidepressivos → predispõe quedas pela ação sedativa e psicomotora. ■ Antipsicóticos → principalmente em doses mais elevadas. Fatores extrínsecos: ● Presença de obstáculos nas ruas e calçadas aumenta a probabilidade de tropeçar. ● Interação complexa entre a percepção visual do obstáculo e a implementação de estratégias de superação → elevação da ponta do pé, flexibilidade articular de quadril, joelhos e tornozelos, dos fatores ambientais, outros fatores extrínsecos têm sido avaliados. ● Calçados inadequados, uso de órteses (óculos) e dispositivos auxiliares de marcha (bengala, andador, muleta). ○ Óculos multifocais podem predispor pessoas idosas a cair, já que prejudicam a percepção de profundidade e a sensibilidade de contraste. Avaliação do idoso caidor e do risco de cair Na avaliação inicial do idoso com queixa de queda no pronto atendimento: ● Fazer a pergunta: "Se o(a) paciente fosse um(a) jovem de 20 anos saudável, ele(a) teria caído?". ○ Se a resposta for "não", o paciente precisa de avaliação geriátrica ampla direcionada para a identificação dos fatores de risco para quedas. O que avaliar na abordagem inicial: ● História clínica cuidadosa → anamnese detalhada. ● Medidas objetivas do exame clínico. @p�sitivamed Vict�ria K. L. Card�so Bibli�grafia: Manual do Médico Residente em Geriatria ● Teste funcional. Dados relevantes para a história de queda: pelo fato da queda ser uma condição multifatorial, deve-se avaliar as multimorbidades e avaliar as interações entre os fatores intrínsecos, extrinsecos, farmacológicos, ambientais e precipitantes que aumentam o risco de queda. ● Local da queda. ● Quedas anteriores. ● Dificuldade para se levantar e tempo que permaneceu no chão. ● Mecanismo da queda. ● Sintomas prodrômicos. ● Se houve perda da consciência. ● Uso de álcool. ● Quais medicamentos o paciente faz uso. ● Capacidade funcional. ● Se havia uso adequado de calçados. ● Comorbidades (principalmente Parkinson, diabetes, depressão e fratura de quadril prévia). + imagem 1 ao final Mecanismos de queda: imagens 2, 3 e 4 ao final. Diagnósticos diferencias principais: Crise epiléptica e acidente vascular encefálico. Exames complementares: ● Geralmente, não se realizam exames complementares para investigação das quedas nos idosos. ● Mas, quando possível é importante ao menos solicitar os seguintes exames: ○ Eletrocardiograma. ○ Hemograma. ○ Eletrólitos. @p�sitivamed Vict�ria K. L. Card�so Bibli�grafia: Manual do Médico Residente em Geriatria ○ Dosagem sérico de medicamentos. ● Os exames de imagem devem ser direcionados pela história clínica. Além disso, a atividade que o idoso estava realizando no momento da queda também pode fornecer algumas informações valiosas para o raciocínio clínico: ● Estendendo a cabeça: pode sugerir insuficiência vertebrobasilar, vertigem cervical, hipercifose dorsal com retropulsão do limite de estabilidade ou hipersensibilidade do seio carotídeo. ○ Exemplos: subir escada, pendurar roupa no varal e pegar objetos na prateleira. ● Levantando da cama ou da cadeira: sugere instabilidade postural (hipotensão postural) ou fraqueza muscular. ● Sentando: sugere fraqueza muscular e/ou instabilidade articular. ● Virando o corpo sobre o próprio eixo, mudando de direção ou de velocidade: sugere disfunção vestibular ou condições neurológicas centrais. Avaliação físico-funcional Os testes físico-funcionais, são compostos por várias tarefas motoras, envolvendo equilíbrio corporal e marcha, com o intuito de verificarem maiores riscos de queda. Principais avaliações: ● Teste timed up and go test (TUG) → teste mais utilizado no idoso caidor ao pronto atendimento→ ponto de corte = 12s. 1. Levantar-se de uma cadeira-padrão com braços. 2. Andar 3 metros lineares. 3. Girar sobre o próprio corpo. 4. Caminhar de volta para a cadeira e sentar-se, de maneira segura e o mais rápido possível → pode ser realizado com qualquer dispositivo de auxílio à marcha e com calçados habituais. ● Escala de Berg (BBS – Berg Balance Scale). ● Escala de equilíbrio e marcha de Tinetti (POMA - Performance Oriented Mobility Assessment). @p�sitivamed Vict�ria K. L. Card�so Bibli�grafia: Manual do Médico Residente em Geriatria Outros testes físicos relevantes: ● Teste de sentar-se e levantar-se da cadeira (five times sit-to-stand test). ● Teste de subir e descer um degrau (five step test). ● Teste de alternar passos no degrau (alternate step test). ● Teste de manter os pés umna frente do outro (Tanden test). Recomenda-se também a investigação de problemas cognitivos, especialmente os relacionados com a função executiva. Objetivos da avaliação do paciente que caiu: ● Tratamento adequado das lesões decorrentes do trauma. ● Diagnóstico e intervenção nos fatores predisponentes de quedas. ● Prevenção de complicações da queda e de possíveis futuras quedas. Estratégias de prevenção de quedas em idosos da comunidade As estratégias de prevenção devem ser direcionadas aos múltiplos fatores identificados por meio de uma avaliação multidimensional. Todas as intervenções aos idosos caidores devem ter caráter multifatorial, com um programa de exercício que inclua treino de equilíbrio, marcha e força, sendo em grupo ou individual. Imagem 5 ao final Além dos exercícios, outros componentes efetivos na redução de quedas são: ● Modificação ambiental. ● Redução de medicações, principalmente medicamentos psicoativos. ● Correção de problemas nos pés e nos calçados. ● Correção de déficits visuais. ● Tratamento de hipotensão postural. Exercícios: ● Treino funcional ou exercícios terapêuticos. ○ Treino das estratégias sensoriais e motoras do equilíbrio corporal. ○ Treino de marcha. ○ Fortalecimento muscular. ○ Melhora da mobilidade. @p�sitivamed Vict�ria K. L. Card�so Bibli�grafia: Manual do Médico Residente em Geriatria ○ Estimulação cognitiva em situações de atenção dividida. ● Os treinos devem ser prescritos e supervisionados por um fisioterapeuta ou um educador físico treinados. ○ Duração mínima: 12 semanas. ○ Frequência semanal: 1 a 3 vezes. ● Deve-se revisar e regular o ajuste da prescrição dos exercícios sempre, para se adequar a melhorar a capacidade funcional de cada idoso, levando em conta: ○ Nível de funcionalidade. ○ Risco individual. ○ Atitudes e crenças. ○ Nível de atividade (grau de exposição). Ajuste de medicamentos: ● Maior risco de queda com: ○ Medicamentos psicotrópicos: benzodiazepínicos, indutores do sono, neurolépticos, antidepressivos e antiepilépticos. ○ Polifarmácia: > 5 medicações. ● Intervenção: retirada gradual ou o ajuste de dose. Obs: os inibidores seletivos de recaptação de serotonina (ISRS) não são mais seguros em idosos que os antidepressivos tricíclicos, em termos de prevenção de quedas → as evidências mostram que ambos aumentam o risco de queda. Reposição de vitamina D: ● A deficiência de vitamina D (colecalciferol) é comum entre os idosos e, quando presente, se associa a déficit de força muscular e maior risco de quedas. ● Assim, há benefício na suplementação de colecalciferol, associado ou não a cálcio, para redução da taxa e do risco de quedas nos idosos com alto risco de queda e de deficiência de vitamina D. ○ Obs: o uso de análogos da vitamina D (calcitriol e alfacalcidol) podem ser efetivos, mas seu uso é associado a significativo aumento da incidência de hipercalcemia. ● Concentração mínima de vitamina D: 30 ng/mL (75 nmol/L). ● Dose diária máxima de suplementação de colecalciferol: 1.000 Ul/dia. @p�sitivamed Vict�ria K. L. Card�so Bibli�grafia: Manual do Médico Residente em Geriatria Correção de déficits visuais: ● Cirurgia de catarata→ em mulheres idosas, quando indicada, parece reduzir a taxa de quedas; entretanto, esse resultado não é observado na segunda cirurgia. ● Outras intervenções visuais: ○ Indivíduos idosos devem ser orientados a não usar lentes multifocais enquanto caminham, principalmente em escadas. ○ Lentes simples (monofocais) reduzem quedas em idosos com a maioria das atividades fora de casa, mas aumentam o risco de quedas em idosos frágeis. Marca-passo: ● Reduz a taxa de quedas em pacientes com hipersensibilidade do seio carotídeo. Correção da hipotensão postural: ● Medidas: ○ Hidratação. ○ Uso de meias elásticas e cintas abdominais. ○ Tratamento medicamentoso, como fludrocortisona. ○ Controle da hipertensão arterial sistêmica. Modificações ambientais: ● A intervenção deve abranger: ○ Diminuição dos riscos domiciliares. ○ Promoção de segurança na realização das atividades de vida diária. ○ Avaliação da necessidade de instalação de dispositivos. ● Dispositivos importantes para a segurança dos idosos: ○ Barra de segurança no banheiro. ○ Corrimão nas escadas e corredores. ○ Melhorar a iluminação do ambiente. Cuidado com pés e calçados: ● Identificação de problemas nos pés: unhas encravadas, deformidades nos dedos e unhas e úlceras. ● Aconselhamento a usar sapatos com saltos baixos e alta superfície de contato com o chão. @p�sitivamed Vict�ria K. L. Card�so Bibli�grafia: Manual do Médico Residente em Geriatria Terapia nutricional: ● A suplementação nutricional não parece reduzir o risco de quedas, mas pode melhorar a qualidade de vida dos idosos. Educação em quedas: ● É sempre importante realizar educação quanto ao risco de quedas, com pacientes e cuidadores, como forma de promoção primária ou secundária. ● Deve ser considerada parte de intervenção multifatorial para idosos caidores; mas não é efetiva como medida isolada. Intervenção psicológica: ● Não existe evidência que a terapia cognitivo - comportamental tenha efeito na taxa de queda ou na redução de risco de cair. @p�sitivamed Vict�ria K. L. Card�so Bibli�grafia: Manual do Médico Residente em Geriatria Imagens imagem 1 @p�sitivamed Vict�ria K. L. Card�so Bibli�grafia: Manual do Médico Residente em Geriatria imagem 2 imagem 3 @p�sitivamed Vict�ria K. L. Card�so Bibli�grafia: Manual do Médico Residente em Geriatria imagem 4 @p�sitivamed Vict�ria K. L. Card�so Bibli�grafia: Manual do Médico Residente em Geriatria imagem 5 Obs: todas as imagens são Manual do Médico Residente em Geriatria @p�sitivamed
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