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Reumato - Lúpus Eritematoso Sistêmico Conceito O Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES) é uma doença inflamatória sistêmica que pode comprometer múltiplos órgãos e se caracteriza por apresentar diversas alterações imunológicas, com presença de autoanticorpos, preferencialmente dirigidas contra antígenos do núcleo celular, alguns dos quais participam das lesões teciduais imunologicamente mediadas. Etiologia Sua etiologia é multifatorial e o peso de cada um dos fatores (genéticos, fatores hormonais e fatores ambientais) é variável de um paciente para o outro. ● Predisposição genética: ○ Mais de 100 genes que podem ter associação com o Lúpus ○ Gêmeos monozigóticos: um tem, o outro tem chances de 57% de ter ○ Gêmeos dizigóticos: 3 a 5% ○ 10% se houver parentes com LES ○ maior positividade de anticorpos antinucleares em familiares consanguíneos assintomáticos ○ Epigenética: meio ambiente alterando o DNA (hipometilação do DNA secundário a drogas, por exemplo ● Meio ambiente: ○ a radiação ultravioleta é um dos fatores ambientais mais reconhecidos na ativação da doença, por consequente há aumento de autoantígenos circulantes, possíveis alvos de autoanticorpos - pode ser o mecanismo que favorece a atividade da doença ● Fatores hormonais: ○ Receptor de estrogênio-1: por isso mulheres têm maior prevalência ○ Administração de prolactina e estrógeno em estudos experimentais: acelerou a doença e aumentou a mortalidade ● Fatores infecciosos: ○ Há estudos demonstrando a participação de vírus, principalmente do Epstein-Barr Vírus no desencadeamento da doença em indivíduos geneticamente predispostos. Lúpus Induzidos por Drogas (LID) ● podem ocorrer em pacientes geneticamente predispostos; ● as drogas mais frequentes são a Hidralazina e Procainamida ● os risco de desenvolver LID por quinidina é moderado ● há relatos de casos de recorrência de manifestações semelhantes ao lúpus após a reexposição às drogas como a hidralazina, procainamida, isoniaida, clorpromazina, quinidina e minociclina ● As manifestações clínicas frequentes são: artralgia/artrite, lesões cutâneas, febre e perda de peso. Raramente há comprometimento renal ou neuropsiquiátrico. Patogenia ● Ocorre uma quebra da tolerância imunológica por uma série de alterações da resposta imune; ● Indivíduos geneticamente predispostos: pode haver quebra da tolerância imunológica, com apresentação de autoantígenos por células apresentadoras de antígenos altamente competentes que ativam linfócitos T autorreativos. Com falha de mecanismos regulatórios os linfócitos T autorreativos estimulam os linfócitos B produzem autoanticorpos que formam imunocomplexos, por consequência ativa-se a cascata de complemento, quimiotaxia de neutrófilos e processos inflamatórios causando injúria no tecido. Sintomas clínicos ● Manifestações gerais: ○ A fadiga é uma das queixas mais prevalentes no LES em atividade ○ Adinamia ○ Mal-estar ○ A febre, geralmente moderada e com resposta rápida ao glicocorticoide (importante preocupação com a existência de processo infeccioso subjacente) ○ Mialgias ○ Perda de peso ○ Linfadenopatia reacional periférica ● Manifestações articulares ○ Mais de 90% dos pacientes com LES apresentam ○ Todas as articulações podem ser afetadas ○ Geralmente simétrico, por vezes acompanhado de rigidez matinal, diferenciando-se da artrite reumatoide por não ser erosiva ○ O processo inflamatório da cápsula articular, dos tendões e dos ligamentos contribui para a instabilidade da articulação e para o desenvolvimento da artropatia de Jaccoud ○ Necrose asséptica de múltiplas articulações, principalmente da cabeça do fêmur, pode ocorrer em 5 a 10% dos casos, principalmente nos pacientes usando glicocorticoide em doses elevadas e intermitentes por longos períodos **Perda de massa óssea com aumento do risco de osteoporose e fraturas geralmente está relacionada com uso crônico de glicocorticoide e deficiência de vitamina D associada à baixa exposição solar ● Manifestações mucocutâneas ○ Lesões de pele são frequentes e podem apresentar variadas formas na distribuição e evolução; ○ A maioria dos pacientes apresentam fotossensibilidade após a exposição a radiação solar ou artificial ○ A lesão em asa de borboleta por ter início agudo, ser eritematosa e sobrelevada, geralmente não dolorosa ou pruriginosa, localizada em regiões malares e dorso do nariz e costuma ser desencadeada por exposição solar (não é um sinal patognomônico de LES) ○ Pode aparecer em alguns pacientes formas agudas graves de acometimento cutâneo e formação de bolhas, mimetizando necrólise epidérmica tóxica ○ Essas lesões iniciam como pequenas pápulas eritematosas, progredindo para lesões anulares policíclicas ou papuloescamosas (psoriasiformes). Estas lesões geralmente associam-se à presença do anticorpo anti-Ro/SSA ○ As lesões crônicas são as chamadas lesões discoides e podem ocorrer isoladamente, sendo denominado de lúpus cutâneo - iniciam como pápulas ou placas eritematosas ○ Vasculites: geralmente mãos e mmii ○ Paniculite ○ Alopécia: pode ser pela atividade a doença e também pelos medicamentos utilizados no tto ○ Fenômeno de Raynaud: ■ Primário: somente o raynould, sem alguma outra doença autoimune; observar e orientação; ■ Secundário: associado a doença autoimune ■ Trifásico: Contato com o frio começam as manifestações: as extremidades ficam roxas -> brancas -> vermelhas; a sensação de falta de circulação ● Manifestações das serosas ○ Mais frequente inflamação em pleura (derrame pleural, dor e dificuldade de expansão torácica) e pericárdio (dor torácica podendo ou não auscultar atrito ou abafamento de bulhas), menos frequente em peritônio (dor abdominal e ascite) e meninge (cefaleia e sinais meníngeos) ● Musculoesqueléticas ○ 90% poliartralgia – dor nas juntas – e poliartiartrite ○ Artrite não erosiva ○ Artropatia de Jaccoud: frouxidão ligamentar -> diferente da AR, não causando então erosão óssea, podendo voltar ao “normal” quando esticamos os dedos ○ Miosite é raro ○ 30%: fibromialgia ○ Osteonecrose avascular: prevalência maior por uso de corticoide crônico, mas não se sabe ao certo, sabe-se dessa associação ○ Osteoporose: diminuição da massa óssea -> prevenção com suplementação de Ca e Vit D ● Manifestações Cardíacas ○ Pericardite/derrame pericárdico -> mais comum (serosite) ○ Miocardite (altera ritmo cardíaco, aumenta área cardíaca e insuficiência cardíaca) ○ Endocardite de Libman-Sacks: vegetação nas valvas (pode ocasionar sopros e insuficiência ○ valvar) ○ Aterosclerose por causa da doença autoimune que aumenta o risco cardiovascular pela inflamação do endotélio ● Manifestações pulmonares ○ Pleurite ○ Derrame pleural -> cerosite: mais comum ○ Pneumonite (causando tosse, dispneia e hipooxigenação) ○ Hemorragia alveolar: mais raro ○ Síndrome do pulmão encolhido, que se caracteriza por redução acentuada da expansão pulmonar e pelo comprometimento da musculatura do diafragma. ○ Hipertensão pulmonar: mais raro, mas responde bem ao tto de imunossupressão quando associada a doenças autoimunes ○ Interstíciopatia é raro também nos pacientes com LES ● Manifestações vasculares ○ Fenômeno Ray-naud: vasculite em mucosa nasal, oral, polpas digitais de mãos e pés ○ Raramente causa vasculite abdominal e nos vasos da vasa nervorum (causa neuropatia) ● Manifestações nos linfonodos ○ Linfonodomegalia é discreta, indolor e não aderente, ocorrendo em região axilar ou cervical ○ Paciente em uso de corticosteróides ou imunossupressores e linfonodomegalia importante e localizada deve-se suspeitar de tuberculose ganglionar ● Manifestações renais ○ são as mais graves, acometendo até 30% dos pcts ○ Precisa avaliar periodicamente para não evoluir para a forma de doença renal grave ○ Risco de insuficiência renal- Exige tto rápido ○ Monitorar urina, função renal, PA, presença de edema e espuma na urina ○ Biopsia renal ○ Quando o pcte entra em diálise, costuma haver remissão do lúpus ○ Os critérios da American College of Rheumatology (ACR) definem a nefropatia pela proteinúria persistente acimade 500 mg nas 24 horas e/ou presença de cilindros celulares no sedimento urinário, desde que outras causas de alterações na análise da urina estejam afastadas (infecções), ou na presença de alterações histopatológicas compatíveis com a classificação da Organização Mundial da Saúde (OMS) para nefrite lúpica ● Manifestações neurológicas o Neurológicas: pode ser por atividade da doença ou tbm pelo uso do corticoide ● Manifestações Hematológicas ○ leucopenia ○ linfopenia ○ plaquetopenia - pode ser de forma aguda ou crônica ○ Hematológicos: os medicamentos utilizados são mielotóxicos, então tem que avaliar se é nova atividade ou é efeito colateral ● Manisfestações do TGI ○ hepatomegalia ○ Inflamação aguda do peritôneo (dor abdominal e ascite asséptica) ○ Raramente: pancreatite, vasculite mesentérica ou isquemia intestinal (por vasculite abdominal) ● Manifestações oculares ○ inflamação na conjuntiva ou úvea ○ vasculite da retina ○ Exame de fundo de olho pode-se encontrar: exsudatos algodonosos e hemorragias retinianas ● Manifestações no aparelho reprodutor feminino ○ ciclos menstruais irregulares e hipermenorréia ○ Esterilidade pode ocorrer em pct que usaram ciclofosfamida em doses altas ou em idade acima de 32 anos. ○ manifestações clínicas podem se acentuar na gravidez ○ gravidez com LES= alto risco (parto prematuro, morbimortalidade intrauterina) Diagnóstico 1997: 4 de 11 critérios 2015: mudança de critérios, bem associados aos sinais e sintomas. Aqui entra também a diminuição do C4. ● 4 pontos – LES ● 3 pontos – altamente sugestivo para o LES ● 2 pontos – provável LES ● 1 ponto – possibilidade de LES Tratamento ● Prevenção ○ Protetor solar várias vezes ao dia FPS50 (No livro fala FPS30) ○ Tratar tabagismo ○ Dieta balanceada, rica em cálcio, evitando alimentos ricos em gorduras de origem animal e fazer suplementação adequada de vitamina D ○ Atividade física (50 minutos 3×/semana ou 30 minutos 5×/semana) ○ Controle de HAS, DM, DLP ○ Osteoporose – doença e corticoide ○ Triagem de câncer ○ Anticoncepção (evitar altos níveis de estrógeno) ○ Vacina (gripe, COVID-19, pneumocócica) – não pode tomar vacina com vírus ativado se estiver em uso de imunosupressor ○ Inibidores da enzima conversora de angiotensina em nefrite lúpica – eles são antiproteinúricos como losartana ● Farmacológicos: (FORMA PASSADA NA AULA) ○ Antimaláricos (hidroxicloroquina e difosfato de cloroquina) todos os pacientes que não tiverem contra-indicação. Dose 6 mg/kg/dia e difosfato de cloroquina 4mg/kg/dia ■ Tratar atividade cutânea e articular leve ■ Diminui os “flares” ■ Melhora perfil lipidíco ■ Gestação (anti-RO+), previni lúpus pré-natal/bloqueio cardíaco congênitoe ■ Controle de fundo de olho, após 5 anos de uso passa a ser anual (OCT) ○ Corticosteróides ■ Cutâneo leve = uso tópico ■ Atividade sistêmica moderada – via oral- dose até 0,5mg/kg ■ LES grave – pulso de metilprednisolona – 10 a 30 mg/kg/dia por 3 dias. Tem que fazer uso de vermífugo (ivermectina)** ○ Imunossupressores ■ Metotrexato, azatioprina, micofenolato de mofetil, ciclosporina, dapsona, talidomida ■ Serão introduzidos quando não conseguir desmame de corticoide ou atividade moderada ■ Ciclofosfamida – pulso mensal na indução (6-8) ou quinzenal por 3 meses · Lúpus grave · Manutenção: AZA ou MMF por 3 a 5 anos · Nefrite lúpica: MMF pode ser usado também na indução · Pacientes a cima de 30 anos podem entrar em menopausa precoce. ○ Biológicos ■ Rituximab (anti – CD20) – séries de caso. Utilizados em plaquetopenia refratárias ao tratamento. Nefrite lúpica ■ Belimumabe (2011 FDA) – inibe estimulador de linf. B (se liga a receptor solúvel estimulador de célus B) Tratamento: FORMA QUE ESTÁ NO LIVRO ● Comprometimento cutâneo ○ lesão cutânea localizada: corticosteróides tópicos (evitar fluorados na face) + antimaláricos ○ lesões muito exuberantes ou quando não há resposta aos antimaláricos: prednisona em doses < 0,5 mg/kg/dia ○ lesão cutânea refratária a terapêutica: metotrexato (15 a 25 mg/semana), a azatioprina (1 a 2 mg/kg/dia) ou a talidomida (100 mg/dia) ○ lesão bolhosa: dapsona (100 mg/dia) ● Comprometimento articular ○ artrite: anti-inflamatórios não hormonais (AINH) ou inibidores específicos de COX-2 ■ evitar o uso em pacientes com nefrite e hipertensão arterial ou com comprometimento da função renal. ○ Pct não responde a antimalárico: prednisona em doses baixas (7,5 a 15 mg/dia) ○ Pct com artrite crônica ou artrite recidivante: associar metotrexato ○ monoartrites ou oligoartrites crônicas: infiltrado intra-articular com triancinolona hexacetonida ○ Monoartrite: diagnóstico diferencial com osteonecrose e artrites infecciosas. ● Comprometimento de serosas ○ serosite leve: AINH em doses habituais ■ se não responsivo: prednisona em dose < 0,5 mg/kg/dia e buscar afastar outras causas (tuberculose) ● Comprometimento hematológico ○ citopenias: prednisona 0,5 a 1 mg/kg/dia ○ Plaquetopenia grave ou anemia hemolítica:pulsoterapia com metilprednisolona (1 g/dia, EV, por 3 dias consecutivos) ■ se não tem resposta usar imunossupressores: azatioprina ou ciclofosfamida ○ Plaquetopenia aguda com risco de sangramento grave: imunoglobulina endovenosa na dose de 400 mg/kg/dia por 5 dias consecutivos, associada a pulso de metilprednisolona ○ Plaquetopenia refratária crônica: Danazol na dose de 400 a 800 mg/dia ○ Esplenectomia: ■ se plaquetopenia grave não responsiva ao tratamento ■ uso de anticorpo monoclonal anti-CD20 (rituximabe) *** preferível antes de esplenectomia em casos de LES ○ Leucopenia: não tem tratamento específico, se grave usar corticosteróides ● Comprometimento renal ○ Nefrite (Classe III e IV da OMS): tratamento divido em fase de indução da remissão e fase de manutenção ■ Indução da remissão: Solumedrol IV na dose de 0,5 a 1,0 g/dia por 3 dias consecutivos, seguido de prednisona por VO na dose de 0,5 a 1,0 mg/kg/dia por 4 semanas reduzindo progressivamente ● imunossupressor a ser associado pode ser: ● 1) a ciclofosfamida (CF) na dose de 0,5 a 1 mg/m2 de superfície corpórea aplicados a intervalos mensais por 6 meses (Esquema tradicional) ou na dose de 500 mg/IV a cada 15 dias, totalizando 6 aplicações (esquema EUROLUPUS) ou ● 2) o Micofenolato de mofetila (MFM) na dose de 2 a 3 g/dia (VO) ou o equivalente de micofenolato sódico ● IECA e BRA: obrigatório para pct com proteinúria > 1 g/24 horas, independente da PA desde que não cause hipotensão ***Para casos com grave comprometimento de função renal, recomenda-se a CF na forma de pulsoterapia mensal. Em mulheres com maior risco de desenvolverem insuficiência gonadal com uso de CF (como idade > 32 anos, ou uso prévio de CF com dose cumulativa alta), há preferência pelo uso de MFM ■ Tratamento de manutenção: após 6 meses de indução pode ocorrer remissão completa (proteinúria < 0,5 g/24 horas) ou redução parcial (reduz no mínimo 50% da proteinúriainicial, melhora sedimentos urinários e melhora ou estabiliza os níveis de creatinina) ● azatioprina (AZA) na dose de 2 mg/kg/dia ou MFM na dose de 1-2 g/dia e deve ser mantido por 3 anos, para se prevenir recidivas da nefrite ● nefrite membranosa: uso de MMF (2-3 g/dia) associado a prednisona 0,5 mg/kg/dia por 6 meses ● Comprometimento neurológico ○ Manifestação por processo inflamatório, o tratamento deve ser feito com prednisona 1 a 2 mg/kg/dia ou pulsoterapia com metilprednisolona 1 g/IV por 3 dias consecutivos ■ Casos graves:pode associar imunossupressores como a CF (pulsoterapia) ■ lúpus neuropsiquiátricos refratários aos tratamentos com corticosteróides e imunossupressores podem responder ao uso de terapia com anticorpos monoclonais anti-CD20 ■ Pct mielite transversa iniciar imediatamente pulsoterapia combinada de metilprednisolona e ciclofosfamida ■ Casos de depressão, psicose ou outras manifestações psiquiátricas a prescrição de medicação psicotrópica é necessária para o controle sintomático
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