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Laísa Dinelli Schiveto Desenvolvimento INTRODUÇÃO O acompanhamento do desenvolvimento é parte fundamental do conjunto de cuidados que visam promover uma infância saudável, com objetivo de se ter um adulto socialmente adaptado e integrado. CONCEITUAÇÃO O termo desenvolvimento refere-se a um conjunto de aspectos que caracteriza a evolução dinâmica do ser humano a partir de sua concepção. Além disso, o termo maturação concorre para definir o significado desse processo de construção, que resulta da interação entre a influência biológica da própria espécie e do próprio indivíduo e a sua história e seu contexto sociocultural. Embora a carga genética seja fator determinante, o desenvolvimento humano surge a partir da interação com fatores ambientais e, portanto, é fundamental que ocorra uma ampla e adequada variação de estímulos e experiências, para favorecer todo o seu potencial. Do ponto de vista biológico, o desenvolvimento depende da integridade dos vários órgãos e sistemas, principalmente o sistema nervoso. É importante destacar que o tecido nervoso cresce e amadurece sobretudo nos primeiros anos de vida e, por isso, nesse período, é mais vulnerável aos agravos de natureza e às adversidades das condições ambientais, podendo, assim, ocasionar prejuízos relacionados aos processos de desenvolvimento. Por outro lado, devido à sua grande plasticidade, é também nessa época que a criança responde melhor aos estímulos que recebem e às intervenções, quando necessárias. Ou seja, o desenvolvimento pode ser definido como o aumento de todas as características relacionadas ao corpo, somadas com o crescimento dos atributos pessoais (psicológicos, morais e individuais), englobando, dessa forma, desenvolvimento comportamental e desenvolvimento neuromotor. Por fim, o estudo do desenvolvimento compreende alguns domínios, como: sensorial, motor (controle dos movimentos do corpo), linguagem (envolve meios de comunicação verbais e não verbais), pessoal-social (desenvolvimento de habilidades e atitudes frente ao meio sociocultural), adaptativo (desenvolvimento de atividades com maior complexidade, tais como sensação, percepção, planejamento e execução), emocional e cognitivo. Esses domínios influenciam-se entre si, possuindo como eixo integrador a subjetividade, função de dimensão psíquica que se particulariza, possibilitando a singularidade de cada indivíduo. Comportamento Representa o modo de se comportar, de proceder, de agir diante de algo ou algum conjunto de ações de um indivíduo observáveis objetivamente, levando em consideração o seu meio social. Evolução Sigmund Freud (1856-1939) disse que os 6 primeiros anos acontecem em 3 etapas: • 0 a 1 ano: Fase oral – boca, língua e gengivas; • 1 a 3 anos: Fase fecal – retenção e excreção fecal; • 3 a 6 anos: Fase fálica – genitais John B. Warson (1878-1958) criou a Teoria de Aprendizagem ou Behaviorista, a qual explora a relação entre o estímulo ou ação e a resposta, que é a reação comportamental. Laísa Dinelli Schiveto Posteriormente, Jean Piaget (1896-1980) criou a Teoria Cognitiva, que é dividida em 2 períodos de desenvolvimento cognitivo: • 0 a 2 anos: Sensoriomotor; quando crianças usam seus sentidos e habilidades motoras para compreender o mundo, não havendo pensamento conceitual ou reflexivo. • 2 a 6 anos: Quando a criança usa o pensamento simbólico e a linguagem para compreender o mundo. Por fim, em 2005, surgiu a Teoria dos Sistemas Epigenéticos, que enfatiza a interação entre os genes e o ambiente de forma dinâmica e recíproca, referindo-se a todos os fatores que afetam a expressão das instruções genéticas. AVALIAÇÃO A avaliação do desenvolvimento deve ser um processo contínua de acompanhamento, tendo como objetivo à detecção precoce de desvios ou atrasos. Por ser um processo dinâmico, as avaliações devem acontecer em todas as visitas de puericultura, de forma individualizada e compartilhada com a família. É fundamental o conhecimento do contexto familiar e social no qual a criança está inserida: desde quando foi gerada, se planejada ou não; as fantasias da mãe durante a gestação; quem é o responsável pelos seus cuidados; como é a rotina da criança; e quais mudanças ocorreram nas relações familiares após o seu nascimento. Obs.: A birra não pode ser julgada primeiramente como mal comportamento, pois pode ser um grito de socorro/pedido de ajuda da criança. Fatores de Risco para Distúrbios do Desenvolvimento • Ausência de pré-natal • Dificuldades no nascimento • Baixo peso ao nascer • Prematuridade • Intercorrências neonatais • Uso de drogas e/ou álcool • Infecções • Depressão durante a gestação O desenvolvimento motor ocorre no sentido craniocaudal e proximodistal e, por meio de aquisições mais simples para mais complexas. Marcos do Desenvolvimento 1 mês - Postura com pernas e braços fletidos - Eleva a cabeça - Observa um rosto - Reage ao som 2 meses - Movimenta os membros - Abre as mãos - Segue objetos ultrapassando a linha média - Vocaliza (emites sons diferentes do choro) - Sorri quando estimulada 3-4 meses - Levanta e sustenta a cabeça - Apoia-se nos antebraços e bruços - Senta-se com apoio - Segura objetos colocados em sua mão - Observa sua própria mão - Segue com o olhar até 180º - Emite sons, ri alto e grita - Responde ativamente ao contato social 5-6 meses - Rola no leito - Tenta alcançar um objeto - Procura busca ativa de objetos - Leva objetos à boca - Localiza o som - Inicia uma interação 7-9 meses - Senta-se sem apoio - Pinça polegar-dedo - Brinca de esconde-achou - Transfere objetos de uma mão para a outra - Balbucia (duplica sílabas) - Estranhamento (prefere pessoas do seu convívio) 10-12 meses - Fica em pé e anda com apoio - Pinça completa (polpa a polpa) - Bate palmas e acena (imita gestos) - Segura o copo ou a mamadeira Laísa Dinelli Schiveto - Combina sílabas 13-15 meses (1 ano e 1 mês a 1 ano e 3 meses) - Primeiros passos (anda sem apoio) - Primeiras palavras - É ativa e curiosa - Mostra o que quer - Coloca blocos na caneca 16-18 meses (1 ano e 4 meses a 1 ano e 6 meses) - Anda e anda para trás - Rabisca - Usa colher ou garfo - Constrói torre de dois cubos - Obedece a ordens - Nomeia objetos 19-24 meses (1 ano e 7 meses a 2 anos) - Corre - Chuta bola - Sobe escadas - Tira roupa - Constrói torre de três cubos - Formula frases simples - Tenta impor sua vontade 25-30 meses (2 anos e 1 mês a 2 anos e 6 meses) - Pula com ambos os pés - Veste-se com supervisão - Constrói torre de seis cubos - Elabora frases com duas palavras 31-36 meses (2 anos e 7 meses a 3 anos) - Arremessa bola - Brinca com outras crianças - Imita linha vertical - Reconhece duas ações 37-42 meses (3 anos e 1 mês a 3 anos e 6 meses) - Equilibra-se em cada pé por um segundo - Move o polegar com a mão fechada - Veste uma camisa - Compreende dois adjetivos 43-48 meses (3 anos e 7 meses a 4 anos) - Pula em um só pé - Copia círculos - Emparelha cores - Fala de maneira inteligível 49-54 meses (4 anos e 1 mês a 4 anos e 6 meses) - Equilibra-se em cada pé por três segundos - Veste-se sem ajuda - Copiacruz - Compreende quatro preposições 55-60 meses (4 anos e 7 meses a 5 anos) - Equilibra-se em um pé por cinco segundos - Escova os dentes sem ajuda - Aponta a linha maior - Define cinco palavras 61-66 meses (5 anos e 1 mês a 5 anos e 6 meses) - Marcha ponta-calcanhar - Brinca de faz de conta com outras crianças - Desenha pessoas com seis partes - Faz analogias 67-72 meses (5 anos e 7 meses a 6 anos) - Equilibra-se em cada pé por sete segundos - Aceita e segue regras nos jogos de mesa - Copia um quadrado - Define sete palavras LEMBRAR: A partir dos 2 anos, o contexto cultural em que a criança está inserida passa a ter uma influência maior e, consequentemente, também há maior variação entre os marcos. Além disso, crianças que colocam tudo certinho, pode-se suspeitar de TOC, o que leva à alteração do desenvolvimento. Desenvolvimento de Acordo com a Idade 0 a 3 meses: Padrão alternado sono e vigília, que, aparentemente, é desorganizado e adaptativo. Ou seja, a criança não possui uma rotina certa de sono. 3 a 6 meses: Sono mais previsível e individualizado, e os aprendizados motor e cognitivo estão totalmente voltados para aprender usar as mãos e sentar-se. Laísa Dinelli Schiveto 6 a 9 meses: É uma fase crítica, pois a crianças entende a permanência ou não de objetos, passando a ter medo e ansiedade de ser separada dos responsáveis. Em relação à função neuromotora, esta gira em torno do sentar e explorar usando o polegar e o indicador em forma de pinça. 9 a 12 meses: O objetivo é movimento, principalmente, andar e explorar. Percebe-se como indivíduo. 1 a 3 anos: Início do controle cortical da laringe, pernas, mãos, pés e esfíncteres. Assim, a criança parece inquieta e faz ações intermitentes. Momento em que deve ser iniciado o processo de ensinamento sobre o uso do pinico. 2 a 3 anos: Intensos acessos de fúria. 3 anos: Término dos processos primários de desenvolvimento humano. A criança já é capaz de efetuar uma dissociação entre a palavra falada, os movimentos corporais e as posturas correspondentes. 4 a 6 anos: Fase pré-escolar, sendo que com 4 anos é fase do “por quê?”, com 5 anos é a fase de maior socialização, e com 6 anos é a fase do raciocínio lógico (passa a ter entendimento dos números). 7 a 10 anos: Fase escolar; as crianças passam quase metade do seu tempo na companhia de crianças de mesma idade e, com isso, ocorre a formação de grupos e surge uma estrutura social na qual existem várias categorias de crianças – bullying. 10 – 19 anos: Adolescência; é um momento de desenvolvimento gradual de independência, produção mental de uma imagem satisfatória e realista de seu corpo, controle e manifestação apropriada de sua sexualidade, expansão dos relacionamentos fora de casa, implementação de um plano real para alcançar a estabilidade social e financeira, transição do pensamento concreto para conceitos abstratos, e integração do sistema de valores aplicável aos eventos de sua cultura. Reflexos Primitivos São respostas automáticas e estereotipadas a um determinado estímulo externo. Estão presentes ao nascimento, mas devem ser inibidos ao longo dos primeiros meses, quando surgem os reflexos (reações posturais). Reflexo Primitivo de Apoio (0 a 2 meses) Estímulo: Apoio plantar dos pés em uma superfície. Resposta: Aumento do tônus extensor dos membros inferiores, provocando extensão de joelho e quadril. Reflexo de Marcha (0 a 2 meses) Estímulo: Inclinação anterior do tronco. Resposta: Passos curtos e ritmados sem haver extensão de joelho e quadril (falsa corrida). Reflexo de Busca (0 a 2 meses) Estímulo: Leve toque nas comissuras labiais ou centro superior dos lábios superior e inferior. Resposta: Língua, lábios e cabeça movem-se em direção ao estímulo. Reflexo de Sucção (0 a 5 meses) Estímulo: Introdução do dedo entre os lábios do bebê. Resposta: Desencadeará reação de sucção. Reflexo de Preensão Palmar (0 a 4 meses) Estímulo: Contato do dedo na palma da mão do bebê. Resposta: Flexão em massa dos dedos, persistindo até a retirada do estímulo. Reflexo de Preensão Plantar (0 a 11 meses) Estímulo: Contato do dedo contra o sulco metatarso falângico. Resposta: Flexão plantar dos artelhos. Laísa Dinelli Schiveto Reflexo de Moro (0 a 6 meses) Estímulo: Queda cefálica 30º. Resposta: Abdução-extensão seguida de adução-flexão dos membros superiores. Obs.: É considerado o reflexo primitivo mais importante. Reflexo Tônico Cervical Simétrico (0 a 4 meses) Estímulo: Flexão ou extensão passiva ou ativa da cabeça. Resposta: Flexão dos membros superiores e extensão dos membros inferiores ou Extensão dos membros superiores e flexão dos membros inferiores. Reflexo Tônico Cervical Assimétrico (0 a 4 meses) Estímulo: Rotação da cabeça em 90º. Resposta: Extensão dos membros ipslateral e flexão dos contralaterais. Reflexo de Galant (0 a 2 meses) Estímulo: Leve toque com a ponta de um lápis na região paravertebral dorsal entre a vertebra lombar (L12) e a crista ilíaca. Resposta: Flexão (encurvamento) do tronco para o lado estimulado. Reflexos Posturais São movimentos automáticos que mantém a posição de equilíbrio do corpo durante o repouso e movimento, modulando a distribuição do tônus muscular nos membros e troncos. Ocorrem após os reflexos primitivos, permanecendo por toda a vida. Assim, trata-se de um mecanismo de proteção à crianca, a fim de minimizar danos em casos de queda. Reação de Landau (3 meses a 1 ano) Estímulo: Segura-se o bebê com firmeza horizontalmente, por baixo do tronco, mantendo-o no ar. Resposta: Cabeça ergue-se automaticamente e as pernas acompanham a extensão. Reação de Paraquedas (8 meses a 1 ano) Estímulo: Criança é colocada de ponta-cabeça. Resposta: Extensão dos braços para frente, como se amparasse a queda, sendo o último reflexo postural a aparecer. Obs.: Pode estar presentes a partir dos 8 meses, porém é obrigatório estar presente aos 12 meses devido à deambulação. CURIOSIDADE: Síndrome de Sandifer – RN adota uma postura anormal para alívio da dor do Refluxo Gastresofágico.
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