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Profa. Dra. Caroline Mendes Transtornos disruptivos, do controle de impulsos e da conduta Transtornos disruptivos, do controle de impulsos e da conduta TRANSTORNO OPOSITIVO DESAFIADOR (TOD) TRANSTORNO DE CONDUTA (TC) TRANSTORNO DO CONTROLE DE IMPULSOS (Transtorno explosivo intermitente, piromanina e cleptomania) Esse agrupamento de transtornos inclui indivíduos que tem dificuldade para regular suas emoções e seu comportamento e cujo transtorno viola os direitos dos outros Principais transtornos psicopatólógicos na infância e adolescência TDAH Deficiência intelectual Transtorno de ansiedade generalizada Depressão Transtorno de conduda Transtorno opositivo desafiador Transtornos alimentares TOD • Humor irritável, comportamento questionador e desafiador e espírito vingativo, que resultam em problemas familiares ou escolares significativos; • Esse transtorno é muito mais extremo do que a rebeldia normal da infância ou da adolescência e é mais do que uma fase; • Ressentidos, agressivos, rancorosos e donos da verdade; • Costuma se tornar evidente entre as idades de 8 e 12 anos; • Meninos pré-adolescentes são mais propensos a desenvolvê-lo do que meninas da mesma idade, mas, após a puberdade, ele tende a ser igualmente comum em homens e mulheres. • Tendem a ser mais opositores com os pais. Critérios de diagnóstico: Período mínimo de 6 meses; ocorrência frequente de pelo menos quatro dos seguintes comportamentos: 1) Perde a calma com frequência; 2) Frequentemente tem discussões com adultos; 3) Constantemente desacata ou se recusa a obedecer a solicitações ou regras de adultos; 4) Adota um comportamento bastante incomodativo; 5) Costuma responsabilizar os outros por seus erros ou comportamento inadequado; 6) Mostra irritação com facilidade; 7) Geralmente está enraivecido e ressentido 8) Apresenta-se como rancoroso ou vingativo. Leve: os sintomas limitam-se a apenas um ambiente (casa, escola, trabalho, com colegas) Moderado: alguns sintomas estão presentes em pelo menos dois ambientes. Grave: alguns sintomas estão presentes em três ou mais ambientes. TC TRANSTORNO DE CONDUTA TC • Indivíduos violam os direitos dos outros e as normas ou as leis da sociedade; agressivos com pessoas e animais, destruição de propriedade, fraude ou roubo e violações sérias de regras; • Não possuem sentimentos de culpa ou remorso; • 2 tipos: TC com início na infância (antes dos 10 anos) e TC com início adolescente. • Falta de empatia. DESENVOLVIMENTO DA EMPATIA • Forma mais básica de empatia; • Neurônios espelhos; • Aparece desde as primeiras semanas de vida; • Adotar posturas, movimentos e expressões que observamos no outro. 1 • Começa a aparecer em algumas crianças após 1 ano; • Olhar para emoção do outro, ser afetado por ela, se preocupar e consolar; • Crianças se manifestam por meio de atitudes que fariam sentido na vida delas (utilizam as formas de consolo que aprenderam). Mamãe, tá chorando? Quer a minha chupeta? 2 • Forma mais complexa de empatia; • Envolve oferecer algo que é necessidade para o outro, considerando a história de vida e interesses do outro; • Como o outro compreende o mundo; • Outros são diferentes, com desejos diferentes; • Metáfora da boneca russa: ao longo do desenvolvimento de empatia, um tipo engloba o outro. 3 Contágio emocional Solidariedade Perspectiva empática Critérios de diagnóstico: Presença de três (ou mais) dos seguintes critérios nos últimos 12 meses, com presença de pelo menos um deles nos últimos 6 meses: 1. Provocações, ameaças e intimidações frequentes; 2. Frequntes lutas corporais; 3. Utilização de arma capaz de causar sérios danos corporais; 4. Crueldade física para com as pessoas; 5. Crueldade com animais; 6. Roubo com confronto com a vítima; 7. Coação sexual; 8. Provocação de incêndio com a intenção de provocar sérios danos; 9. Destruição deliberada de propriedade alheia; Critérios de diagnóstico: 10. Invasão de casa, prédio ou automóvel alheio; 11. Mentiras frequentes para obter ganhos ou favores, ou para se esquivar de obrigações; 12. Roubo de objetos valiosos sem confronto com a vítima; 13. Frequente permanência na rua à noite, apesar da proibição dos pais (início antes dos 13 anos); 14. Pelo menos duas fugas de casa enquanto vive na casa dos responsáveis legais; 15. Faltas frequentes à escola (iniciando antes dos 13 anos) Considera-se que o TOD precede o TC, pois crianças que recebem, assim como aqueles indivíduos com TC estão mais propensos a entrarem para a categoria daqueles com TPAS MENINAS MENINOS Etiologia Predisposição genética associada aos seguintes fatores descritos na literatura: Rejeição e negligência parental, temperamento difícil no bebê, práticas inconsistentes de criação dos filhos com disciplina severa, abuso físico ou sexual, falta de supervisão, mudanças frequentes dos responsáveis pela criança, família muito numerosa, certos tipos de psicopatologias em parentes próximos Alguns sugerem que TOD apresenta importante sobreposição genética com TC, enquanto outros estudos indicaram propriedades únicas para cada Estudos com gêmeos • TC em 1.100 pares de gêmeos MZ de 5 anos de idade; • Gêmeo com TC, 25% de chance de o outro também manifestar, quando seus pais os maltratavam fisicamente; • Em contrapartida, aquelas crianças com risco genético baixo que foram submetidas a maus- tratos físicos tinham apenas 2% de chance de desenvolver o TC Existe cura? • Ainda não há um conhecimento a respeito, porém, existe a possibilidade de mudar o comportamento de crianças com o TC, e evitar que se tornem agressores mais tarde; • A maioria das crianças com TC tem histórias de desafio de oposição. Entretanto, muitas crianças com transtorno de oposição desafiante o superam quando chegam à adolescência, desde que não tenham outro transtorno, tal como transtorno de déficit de atenção/hiperatividade (TDAH); • Estudos mostram que pelo menos 50% das crianças com TC desenvolvem TPAS. RELATO DE CASO Raíssa Eloá foi encontrada morta na tarde de um domingo, dia 29 de setembro de 2019, após desaparecer em uma festa. O corpo da garota foi encontrado dependurado em uma árvore por uma tira amarrada no pescoço. Um vídeo obtido pela Polícia Civil mostrou a menina andando com um adolescente de 12 anos instantes antes de ser encontrada morta. O menino passou a ser considerado suspeito, apresentou versões diferentes em depoimentos e terminou confessando o crime. O Laudo afirma que Raíssa foi estuprada antes de ser morta. Raíssa morreu em decorrência de asfixia, por obstrução das vias respiratórias, enforcamento e sufocação direta – ela ficou sem respirar após ter o pescoço pressionado. Além disso, a perícia também encontrou sêmen na vítima. Peritos concluíram também que um objeto foi introduzido na menina. O laudo necroscópico ainda atesta que o corpo de Raíssa apresentava lesões decorrentes de mais de um tipo de instrumento, de diferentes gravidades, resultantes de espancamento, indicando sofrimento aplicado à vítima nos momentos que antecederam a morte. Ao analisar o comportamento do garoto autor do crime, os investigadores tiveram acesso aos relatórios do Conselho Tutelar, que descrevia um comportamento inadequado, obsceno e agressivo, principalmente com meninas. Em uma situação, ele agrediu um menino especial na turma dele. A polícia tem 3 versões diferentes de depoimentos prestados pelo adolescente. Na primeira, ele disse aos policiais que havia encontrado o corpo de uma pessoa não identificada. Na segunda, disse que Raíssa foi morta por um homem tatuado, que estava com uma bicicleta verde e que teria sido forçado por ele a bater em Raíssa, depois, numa terceira versão, ele assume que cometeu o crime sozinho. Ele é o único internado por homicídio na Fundação casa com apenas 12 anos. TRANSTORNOS DO CONTROLEDE IMPULSOS TRANSTORNO EXPLOSIVO INTERMITENTE, PIROMANIA E CLEPTOMANIA https://www.youtube.com/watch?v=66BFwa_4Vvg O famoso caso de Phineas Gage Phineas Gage trabalhava na construção de estradas de ferro nos Estados Unidos, em meados do século XIX. Era descrito como equilibrado, meticuloso e persistente quanto aos seus objetivos, além de profissional responsável e habilidoso. Em um acidente nas explosões de rotina para abertura de túneis nas rochas da região, Phineas Gage foi atingido por uma barra de ferro que transpassou seu cérebro, entrando pela face esquerda, abaixo da órbita, e saindo pelo topo da cabeça. Surpreendentemente, Phineas Gage permaneceu consciente após o acidente, sobreviveu às esperadas infecções no seu ferimento e dois meses após o acidente estava recuperado. A sua personalidade, no entanto, havia se modificado completamente. Phineas Gage transformou-se em uma pessoa impaciente, com baixo limiar à frustração, desrespeitoso com as outras pessoas, incapaz de adequar-se às normais sociais e de planejar o futuro. Não conseguiu estabelecer vínculos afetivos e sociais duradouros novamente ou fixar-se em empregos. TRANSTORNO EXPLOSIVO INTERMITENTE Explosões comportamentais recorrentes representando uma falha em controlar impulsos agressivos, conforme manifestado por um dos seguintes aspectos: • Agressão verbal ou agressão física dirigida a propriedade, animais ou outros indivíduos, ocorrendo em uma média de duas vezes por semana, durante um período de três meses. A agressão física não resulta em danos ou destruição de propriedade nem lesões físicas em animais ou em outros indivíduos • Três explosões comportamentais envolvendo danos ou destruição de propriedade e/ou agressão física envolvendo lesões físicas contra animais ou outros indivíduos ocorrendo dentro de um período de 12 meses TRANSTORNO EXPLOSIVO INTERMITENTE • Fracasso em controlar os impulsos agressivos; • Fortes sentimentos de raiva e comportamentos violentos associados; • A raiva demonstrada pelas pessoas com esse transtorno é desproporcional a quaisquer provocação ou estresse, e suas ações não são premeditadas; • As explosões de agressividade recorrentes não são mais bem explicadas por outro transtorno mental e não são atribuíveis a outra condição médica ou aos efeitos fisiológicos de uma substância; • As explosões de agressividade recorrentes causam sofrimento acentuado ao individuo ou prejuízo no funcionamento profissional ou interpessoal ou estão associadas a consequências financeiras ou legais; • Pessoas com esse transtorno são mais vulneráveis a uma série de ameaças a sua saúde física, incluindo doença cardíaca coronariana, hipertensão e AVE; • Antidepressivos resultam em remissão total ou parcial em menos de 50% dos casos PIROMANIA: deliberadamente provocam incêndios, sentem tensão e excitação antes de cometerem o ato, são fascinadas por chamas e curiosas sobre fogo e seus contextos situacionais, sentem prazer, gratificação ou alívio quando provocam ou testemunham incêndios ou enquanto participam de suas consequências. Indivíduos com piromania são frequentemente fixados em todos os aspectos relacionados a fogo, incluindo acender um fósforo. CLEPTOMANIA Pessoas com o transtorno do controle de impulsos cleptomania são movidas por um desejo persistente de roubar. Ao contrário dos ladrões, elas na verdade não desejam ter o objeto ou o dinheiro que ele vale. Antes, buscam a excitação causada pelo ato de roubar. Apesar da emoção que obtêm de roubar, essas pessoas preferiam não ser dirigidas a esse comportamento e sentem que seu impulso é desagradável, indesejado, intrusivo e sem sentido. Visto que na verdade não querem ou necessitam dos objetos que roubam, elas não têm usos específicos para eles e podem dá-los ou jogá-los fora. Semelhante à tolerância, os indivíduos com cleptomania relatam que precisam se envolver em comportamentos cada vez mais arriscados a fim de vivenciar a mesma gratificação. Eles também vivenciam sintomas similares a abstinência, na medida em que, entre os episódios, sofrem de insônia, agitação e irritabilidade. Feixe prosencefálico medial Prazer – recompensa Motiva a repetição do ato que causa prazer Circuito do prazer (via de recompensa ou via mesolímbica) Via dopaminérgica Feixe prosencefálico medial: conecta a área septal à ATV Núcleo accumbens: componente mais importante deste sistema TPAS: quando lhes é aplicado um estímulo de dor, as áreas associadas à dor são ativadas. No entanto, a aplicação, em outras pessoas, de um estímulo doloroso leva a uma maior ativação do núcleo accumbens. ATIVIDADE Leia o artigo “análise funcional em um estudo de caso de transtorno desafiador de oposição e transtorno de conduta” e preencha a tabela abaixo DIFERENÇAS ENTRE TC E TOD FATORES AMBIENTAIS FATORES GENÉTICOS Documentário: A ira de um anjo Beth conseguiu se sair bem na escola, socializando e fazendo amizades, inclusive se formou em Enfermagem na Universidade do Colorado. Atualmente, ela viaja o mundo dando palestras sobre a própria história e declara que superou o passado.