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Tumores de glândulas salivares Oncologia Oral – UFPE Larissa Albuquerque *A maioria das neoplasias de glândulas salivares é benigna, sendo a mais frequente o adenoma pleomórfico. A epidemiologia dessas lesões é pouco documentada e representam cerca de 1 a 6,5 casos por 100.000 pessoas ao ano. *A maioria dos tumores benignos e malignos tem manifestação como massa indolor. Os tumores malignos podem invadir nervos, causando dor local ou regional, parestesia, causalgia (dor intensa, queimação) ou perda da função motora. *Os tumores malignos representam um desafio de diagnóstico devido a sua heterogeneicidade clínica e morfológica. *A etiologia ainda é desconhecida, mas acredita-se que está associado com a exposição a radiações ionizantes, madeira em situação ocupacional e amianto (asbestos). Frequência de neoplasias de glândulas salivares *Na parótida, 75% das neoplasias são benignas, já nas menores 81% são malignas. A submandibular tem distribuição de 50/50. *Parótida: representa 73% das lesões em glândulas salivares, sendo 75% das neoplasias são benignas e 25% malignas: • 53%: adenoma pleomórfico (benigna) • 9,6%: carcinoma mucoepidermóide (maligna) • 8,6%: adenocarcinoma de células acinares (maligna) • 28%: outros (maioria benigna). *Glândula salivar submandibular: representa 8% das lesões em glândulas salivares, sendo a incidência de neoplasias benignas e malignas muito aproximada: • 53,3%: adenoma pleomórfico (benigna) • 25,9%: outros (maioria maligna) • 11,7%: carcinoma adenoide cístico (maligna) • 9,1%: carcinoma mucoepidermóide (maligna). *Glândulas salivares menores: representa 18% das lesões em glândulas salivares, sendo cerca de 81% das neoplasias são malignas e 19%, benignas. • 38,1%: adenoma pleomórfico (benigna) • 32,7%: outros (maioria maligna) • 21,5%: carcinoma mucoepidermóide (maligna) • 7,7%: carcinoma adenoide cístico (maligna). *Quando ocorre em lábios, o superior é o mais acometido (77%). Adenoma pleomórfico *É a neoplasia de glândula salivar mais comum e é benigna, representando até 80% dos casos em parótida. O tumor pode ocorrer em qualquer faixa etária, porém é mais comum em adultos jovens e em adultos de meia-idade entre 30 e 60 anos. É o tumor de glândula salivar menor primário mais comum na infância e tem leve predileção ao sexo feminino. *Representa cerca de 53-77% dos tumores de parótida, 44-68% de glândula submandibular e 33- 43% de glândulas salivares menor. *Essa lesão é derivada de uma mistura de elementos ductais e mioepiteliais, havendo grande diversidade entre um tumor e outro. Apesar do padrão tumoral ser variável, as suas células individuais não são de fato pleomórficas. *Clinicamente é caracterizado como um aumento de volume local, firme, indolor e de crescimento continuo e lento. Quando ocorre na parótica, afeta o lobo superficial e se apresenta como aumento de volume sobre o ramo da mandíbula em frente à orelha. *Raramente ocorre dor e paralisia do nervo facial. Inicialmente, o tumor é móvel e se torna menos móvel com o crescimento, pois é fortemente aderido à mucosa, podendo atingir grandes proporções caso seja negligenciado. *O palato é a localização mais comum desse tumor e representa 50% dos casos intraorais, seguido pelo lábio superior e mucosa jugal, ocorrendo em regiões em que haja glândulas salivares. *Muitas vezes os tumores em palato ocorrem na região póstero-lateral do palato, com um aumento de volume, com formato arredondado (cúpula) e de superfície lisa. Caso haja trauma, pode ocorrer uma ulceração secundária. Adenoma pleomórfico com massa de consistência firme no palato duro, lateral à linha média. *Histologicamente, é um tumor encapsulado e bem circunscrito, porém a cápsula pode estar incompleta Oncologia Oral Larissa Albuquerque ou apresentar infiltração por células tumorais. Isso é mais comum nos tumores de glândula salivar menor, principalmente ao longo da porção superficial do palato. *É composto por uma mistura de epitélio glandular e células mioepiteliais com um fundo semelhante ao mesênquima e áreas mixocondroides, com proporção variável entre esses elementos. *Normalmente o epitélio apresenta formação de ductos e estruturas císticas ou em forma de ilhas ou cordoes celulares. *Também é possível visualizar as células escamosas produtoras de queratina ou produtoras de muco. As células mioepiteliais estão em grande quantidade em relação á totalidade de células tumorais e apresentam morfologia variável, podendo ser anguladas ou fusiformes. Elas ainda podem ter forma arredondada e núcleo excêntrico e citoplasma eosinofílico hialinizado, lembrando plasmócitos (mais comum em tumores de glândulas salivares menores). *Pode haver um grande acúmulo de material mucoide entre as células tumorais, gerando o aspecto mixomatoso, o que causa a aparência condróide. Tumor encapsulado. Ninhos de células mioepiteliais e componente mixocondroide. Estruturas tubulares circundadas por células mioepiteliais. Ductos e células mioepiteliais circundadas por estroma hialinizado e eosinofílico. Matriz com aspecto condroide. *É preciso realizar biópsia para comprovar a lesão e o tratamento é feito pela excisão cirúrgica, com bom prognóstico e taxa de cura de 95% na primeira intervenção e baixo risco de recorrência. Carcinoma mucoepidermóide *É a neoplasia maligna de glândula salivar mais comum e tem potencial biológico muito variado. A lesão ocorre numa ampla variação etária, estendendo-se da segunda até a sétima década de vida. Apesar de ser raro na primeira década de vida, o carcinoma mucoepidermóide é a neoplasia maligna de glândula salivar mais comum em crianças. *Alguns tumores podem estar associados à história prévia de radioterapia da região de cabeça e pescoço. *Ocorre principalmente na glândula parótida como um aumento de volume assintomático e os pacientes percebem a sua presença com cerca de um ano de evolução. Também pode ocorrer dor ou paralisia do nervo facial, especialmente quando associado a tumores de alto grau. *As glândulas salivares menores são o segundo local de preferência do tumor, ocorrendo principalmente no palato. Apresenta-se como um aumento de volume assintomático, que pode ser flutuante, de coloração azulada ou vermelha, similar à mucocele. O tumor ainda pode se desenvolver em lábio inferior, soalho de boca, língua e região retromolar. Aumento de volume de coloração azulada na região lateral posterior do palato duro. Oncologia Oral Larissa Albuquerque *As lesões também podem ser ulceradas ou com crescimento vegetativo/nodular e possuem capacidade grande de infiltração na pele. 1: lesão ulcerada no palato duro; 2: lesão com infiltração na pele. *Histopatologicamente, esse tipo de tumor é formado pela mistura de células produtoras de muco e células escamosas (epidermoides). As células mucosas têm formato variado e abundante citoplasma espumoso, que se cora positivamente para mucina. Já as células epidermoides têm formato poligonal, pontes intercelulares e, raramente, queratinização. *Existe, ainda, as células intermediárias que se acredita serem responsáveis pela produção das células mucosas e epidermoides. Têm aparência de células pequenas e basaloides a ovoides com o citoplasma escasso e palidamente eosinofílico. Células escamosas (epidérmicas) e células produtoras de muco (células mais claras). As células mucosas de formato variado e abundante citoplasma espumoso que se cora positivamente com colorações para mucina. Lençol de células epiteliais escamosas pleomórficas permeadas por células mucosas e intermediárias. *A malignidade do tumor é classificada em alto grau, intermediário e baixo grau, levando em consideração a quantidade de formaçãocística, o grau de atipia celular e o número relativo de células mucosas, epidermoides e intermediárias. *Tratamento é norteado pela localização, graduação histológica e estadiamento clínico, podendo ser abordados por apenas cirurgia, com remoção extensa de margem de segurança, ressecção radical, dissecção e radioterapia. *O prognóstico depende do grau, estadiamento clínico e histológico do tumor. Os tumores de baixo grau têm melhor prognóstico e a recidiva é incomum na maioria dos casos. Os piores prognósticos incluem apenas 30% de pacientes sobreviventes, com alto grau. Carcinoma adenoide cístico *É o tumor mais frequente em glândulas salivares, com prevalência nas glândulas salivares menores. Quando ocorre em glândula salivar menor, é mais comum no palato e os demais ocorrem em parótida (raro) e submandibular. *A lesão é mais comum em adultos de meia-idade e é raro em jovens com menos de 20 anos. Tem discreta predileção pelo sexo feminino. *Apresenta-se como o aumento de volume de crescimento lento, com a dor sendo o sintoma mais comum e importante, ocorrendo na fase inicial da doença. A dor é de baixo grau, inespecífica e constante, aumentando de intensidade gradativamente. *Os tumores de palato podem ter superfície lisa ou ulcerada, podendo ter destruição óssea, assim como ocorre nos que atinge o seio maxilar. *Histopatologicamente, é formado por uma mistura de células mioepiteliais e células ductais, em arranjo variado, podendo ser cribriforme (tem espaços císticos com material mucoide), tubular (tem pequenos ductos ou túbulos dentro do estroma hialinizado) e/ou sólido (grandes ilhas ou lençóis de células tumorais com pouca tendência para formação de ductos ou cistos). Células mioepiteliais e células ductais. Oncologia Oral Larissa Albuquerque Estrutura hialina que tende à calcificação. *É comum ter tendência à invasão perineural, sendo o responsável pela dor no paciente. As células podem parecer apresentar um arranjo em redemoinho ao redor do feixe nervoso. *O carcinoma adenoide cístico é um tumor implacável e tem muita possibilidade de recidiva local e mestástase a distância. *O tratamento consiste em excisão cirúrgica, porém o tumor tem grande capacidade de recidiva tardia, após 5 anos, não equivalendo á cura. A sobrevida diminui com o passar do tempo, com apenas 20% dos pacientes vivos após 20 anos de diagnóstico. Referências: • Patologia oral & maxilofacial / Brad Neville... [et al.] - [tradução Danielle Resende Camisasca Barroso... et al.]. — Rio de Janeiro: Elsevier, 2009.
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