Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Gabriela Medeiros – Pneumologia Micoses Pulmonares Os fungos que afetam os pulmões podem ser divididos em dois grupos: 1. Endêmicos 2. Oportunistas Fungos endêmicos → são encontrados principalmente em áreas geográficas específicas e frequentemente infectam indivíduos saudáveis. Fungos oportunistas → afetam hospedeiros imunocomprometidos ou com pulmões previamente doentes. MICOSES ENDÊMICAS NO BRASIL: • Histoplasmose • Coccidioidomicose • Paracoccidioidomicose (Blastomicose sul- americana) MICOSES PULMONARES OPORTUNISTAS: • Aspergilose • Candidose (candidíase) • Criptococose Neoformans • Pneumocistose HISTOPLASMOSE (Histoplasma capsulatum): • Causada por fungo dimórfico. • O homem adquire a infecção através da inalação de conídeos presentes na natureza (cavernas com morcegos, solo, galinheiros etc.). • Maioria dos conídeos inalados chega intactos aos alvéolos pulmonares, estimulando uma resposta inflamatória do hospedeiro, composta de células mononucleares e macrófagos, que são inaptos para destruir o microrganismo. • O Histoplasma capsulatum multiplica-se no interior das células do sistema macrofágico- linfóide e a partir dos pulmões ganham os linfonodos para-hilares e mediastinais e depois a circulação sistêmica, produzindo focos inflamatórios em outros órgãos. • Após a 2ª ou 3ª semana do início da infecção, desenvolve-se uma resposta celular do tipo Th1, que irá produzir intérferon-gama e outras citocinas, que ativam os macrófagos, os quais adquirem a capacidade de lisar as leveduras intracelulares do Histoplasma capsulatum. • Sintomatologia: Febre, calafrios, cefaleia, mialgias, hiporexia, tosse, dispneia e dor torácica. Pneumonia. • Classificação: ⤷ Primária – assintomática (90%) ⤷ Crônica – pacientes com DPOC ou bronquiectasias ⤷ Sistêmica – Imunocomprometidos. • Radiografia de tórax → revela a presença de infiltrados reticulonodulares acompanhados de linfadenopatia hilar e paratraqueal. ⤷ A cicatrização de um infiltrado localizado pode levar ao desenvolvimento de um nódulo residual (histoplasmoma) e sua descoberta ocasional em uma radiografia de tórax pode levar ao diagnóstico errôneo de neoplasia pulmonar. • Diagnóstico → fungo em fluidos orgânicos (escarro, sangue, líquor) ou tecidos (histopatologia), na cultura de materiais biológicos e na sorologia Elisa específica. Gabriela Medeiros – Pneumologia • Tratamento: ITRACONAZOL 200mg/ 3x ao dia/ 3 dias seguidos → 2x ao dia/ até 12 semanas ANFOTERICINA LIPOSSOMAL INJETÁVEL – 5mg/kg/dia/2 semanas + continua com Itraconazol/12 semanas. CORTICOIDE (METILPREDNISOLONA, PREDNISONA) – 2 semanas (reduzir hipóxia) • Diagnóstico Diferencial: ⤷ Pneumonia ⤷ Tuberculose ⤷ Metástase Pulmonar (osteosarcoma, condrossarcoma, tireoide) ⤷ Hamartoma ⤷ Criptococose ⤷ Coccidioidomicose ⤷ Doenças Autoimunes ⤷ Radioterapia COCCIDIOIDOMICOSE (Coccidioides immitis e C. posadasii): • É uma micose sistêmica causada por fungos dimórficos. • A infecção é adquirida pela inalação de artroconídios presentes no solo (cacimba, desentocar tatus, construções). • A micose é encontrada em regiões áridas e semiáridas (Nordeste). • Usualmente apresenta-se como infecção benigna de resolução espontânea em 60% dos casos. • Formas clínicas: ⤷ Primária ⤷ Pulmonar progressiva ⤷ Disseminada • Sintomas: Febre, dor torácica tipo pleurítica, sudorese noturna, tosse • Imunocomprometidos → doença pulmonar fibrocavitária semelhante a tuberculose, disseminação miliar pulmonar e disseminação para pele (eritema nodoso, eritema multiforme) e sistema nervoso central. • Diagnóstico: Padrão-ouro = isolamento de coccidioides de tecidos infectados (biopsia), no escarro, lavado brônquico, líquido cefalorraquidiano. Diagnostico Diferencial: • Pneumonia bacteriana • Tuberculose pulmonar • Embolismo séptico • Metástases pulmonares • Criptococose • Histoplasmose • Paracoccidioidomicose Tratamento: • Fluconazol/ Itraconazol/ 2 semanas • Anfotericina B lipídica = forma + grave da doença • Cirurgia = grandes cavidades > 2 anos de tratamento não resolvido. Gabriela Medeiros – Pneumologia PARACOCCIDIOIDOMICOSE (BLASTOMICOSE SUL-AMERICANA/ DOENÇA DE LUTZ): Paracoccidioides brasiliensis • Principal agente causador de micoses sistêmicas na América Latina! • Maior causa de incapacidade e morte entre trabalhadores rurais jovens adultos. • Predomínio de células leveduriformes, constituídas por células-mãe ovoides exibindo blastoconideos em forma de “roda de leme”. • Propágulos infectantes (microconídios) chegam à via aérea inferior, onde há formação de um complexo primário, com possível disseminação do fungo por via linfática e hematogênica para outros órgãos. • Em indivíduos com resposta imunológica satisfatória, o desenvolvimento da infecção é contido, havendo resolução do processo. O fungo permanece nesses locais, em meio a lesões fibróticas, em estado latente, porém viável. Após um período prolongado, a infecção pode progredir e dar origem as formas crônicas do adulto (reativação endógena). Como é adquirida a infecção por P. brasiliensis? O grande fator de risco para aquisição da infecção são as profissões ou atividades relacionadas ao manejo do solo contaminado com o fungo, como atividades agrícolas, terraplenagem, preparo de solo, práticas de jardinagens, transporte de produtos vegetais, entre outros. Observa-se que a grande maioria dos pacientes exerceu atividade agrícola nas duas primeiras décadas de vida, tendo nessa época provavelmente adquirido a infecção, embora as manifestações clínicas tenham surgido muitos anos depois. Quadro Clínico – FORMA AGUDA: Linfonodomegalia generalizada + hepatoesplenomegalia + febre + adinamia + perda de peso. Quadro Clínico – FORMA CRÔNICA: Tosse, expectoração, febre, dispneia, emagrecimento, lesões bucais (dor local e perda de dentes), rouquidão Radiografia do tórax: Imagens de “flocos de algodão”, “em asa de borboleta” nos terços médios do pulmão → infiltrado reticulonodular. Diagnóstico: Exame micológico ou histopatológico (material: escarro; lavado broncoalveolar; biopsia de linfonodos; raspado de lesões cutâneas). Diagnostico Diferencial: • Tuberculose pulmonar • Silicose • Sarcoidose • Metástases Tratamento: Itraconazol – 400mg/dia; 6 meses a 24 meses. Gabriela Medeiros – Pneumologia ASPERGILOSE (Aspergillus): Três formas principais: • Bola Fúngica (aspergiloma) • Aspergilose broncopulmonar alérgica • Aspergilose Invasiva das vias aéreas Adquirida pela inalação de microrganismos presentes no ambiente. Acomete indivíduos com anormalidades pulmonares (bronquiectasias, cavidade) e imunocomprometidos. Pode apresentar grande espectro de apresentações e + de uma forma pode ser encontrada no mesmo paciente. 1. BOLA FÚNGICA (ASPERGILOMA): É formada por um emaranhado de hifas fúngicas, fibrina, muco e restos celulares em cavidades ou bronquiectasias decorrentes de tuberculose (+ comum), sarcoidose, granulomatose de Wegener. Sintoma + frequente: hemoptise. Diagnostico: achados radiológicos + sorologia 2. ASPERGILOSE BRONCOPULMONAR ALÉRGICA (ABPA): Doença pulmonar que reflete uma reação de hipersensibilidade ao Aspergillus, em pacientes asmáticos e alguns pacientes com fibrose cística. Aspergillus prolifera nas vias aéreas centrais, ocasionando resposta imunológica do tipo I e III (IgE e IgG) que induzem a formação de bronquiectasias e tampões ricos em hifas fúngicas e células inflamatórias (eosinófilos). Sintomas progressivos de asma Bronquiectasias varicosas+ asma = sugerir diagnostico de ABPA. Tratamento: prednisona + itraconazol. 3. ASPERGILOSE INVASIVA DAS VIAS AÉREAS: Traqueobronquite aguda, bronquiolite ou broncopneumonia + pacientes imunocomprometidos com neutropenia grave e plaquetopenia. Febre, tosse, dispneia, emagrecimento, hemoptise. Diagnóstico: Lavagem brônquica positiva; biopsia transtorácicas quando possível + cultura da amostra. Excluir TB, Histoplasmose crônica. Tratamento: Itraconazol, anfotericina B, variconazol. Gabriela Medeiros – Pneumologia CANDIDÍASE (Candida albicans): São saprófitas humanos habituais encontrados no aparelho gastrointestinal e nas regiões mucocutâneas. Acomete pacientes debilitados e imunodeficientes na vigência de terapia com antibióticos, corticosteroides ou imunossupressores. • Sintomas: Tosse, expectoração purulenta, hemoptise. • Diagnostico: Hemoculturas, culturas secreção traqueobrônquicas • Tratamento = anfotericina B, caspofungica, fluconazol. CRIPTOCOCOSE (Crytococcus neoformans e C. gattii): C. neoformans: • Acomete indivíduos imunocomprometidos (AIDS, Doença de Hodgkin, uso crônico de corticoide ou imunossupressores) • Presente em excretas de pombos, periquitos e em ocos de árvores, habitat de aves; • Tem predileção pelo SNC na forma disseminada; C. gattii: • Associado a material orgânico em decomposição; afeta hospedeiros imunocompetentes. • Meningite e meningoencefalite Diagnostico: sintomas, radiografia torácica, cultura e/ou achados histopatológicos. Tratamento: Fluconazol 400mg; Anfotericina B, Itraconazol, Cirurgia Transmissão criptococose: PNEUMOCISTOSE (Pneumocystis jiroveci): P. jirovecii é um microrganismo onipresente, transmitido por aerossol e não causa qualquer doença em pacientes imunocompetentes Causa comum de pneumonia em pacientes imunossuprimidos, especialmente naqueles infectados pelo HIV e naqueles recebendo corticoides sistêmicos. Quadro clínico: • Dispneia progressiva (95%); • Febre (> 80%); • Tosse seca (95%); • Desconforto respiratório; • Perda ponderal; • Calafrios; • Hemoptise (rara). Radiografia de tórax: Infiltrados intersticiais bilaterais nas bases. Diagnóstico: escarro, lavado brônquico ou biopsisa; Tratamento: Sulfametoxazol + Trimetoprima (Bactrin). Referência: Tratado de Medicina Respiratória, 6ª edição, 2017, Murray & Nadel.
Compartilhar