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1 Lahyse Oliveira 2021.1 Abordagem do Paciente com Dor Articular Dor Dor é o sintoma mais comum entre as doenças musculoesqueléticas, porém ele é muito subjetivo. A origem pode ser: óssea, articular (artralgia) e extra articular (bursas, tendões, ligamentos, músculos). A maioria dos pacientes que procuram um reumatologista, chega com queixa de dor. DECÁLOGO DA DOR: Localização, Duração, Irradiação, Intensidade, Evolução, Qualidade/ Caráter, Fatores desencadeantes, Fatores de melhora/piora, Relação funcional e Sinais e sintomas associados. • Relação funcional: dor ao exercer a função normal do órgão. Duração • aguda: até 3 meses o Aguda: dura uma semana. o Subaguda: de 1 mês até 3 meses (vária de acordo com a literatura) • crônica: mais que 3 meses o Em paciente com doença autoimune, a dor é considerada crônica acima de 6 semanas para que não se postergue os diagnósticos. Intensidade: tem relação com a duração aguda. • Leve: não tem comprometimento para realizar as atividades habituais. • Média: comprometimento parcial em realizar as atividades habituais. • Intensa: alto comprometimento ao realizar as atividades habitais. Paciente com dores leves não costumam ir ao médico, já que ela não incomoda no dia a dia, diferente de pacientes com dores intensas que costumam ir imediatamente. Nas doenças agudas, pela própria fisiopatologia da doença com um grande processo inflamatório ou traumático, a dor normalmente começa forte, por isso o paciente procura logo o médico. Isso é diferente para o paciente que tem uma doença crônica, pelo processo fisiopatológico inflamatório leve ou degenerativo, pois ele começa com uma dor leve e gradualmente ela vai piorando, e ele só irá no médico no momento da piora. Localização: Definir o local da dor e as estruturas envolvidas. Ex: A dor mais frequente no ombro não é de artrose/articular e sim, de dor extra articular por lesão do manguito rotador. Número de articulações envolvidas • mono ( 1): 2 Lahyse Oliveira 2021.2 • oligo (2-4) • poliarticular (>=5) Caso pacientes tenha duas doenças em localizações diferentes, exemplo uma artrose no joelho e uma crise de gota no tornozelo, não se deve somar as articulações – chamar de poliarticular – deve-se nomear o número de articulações por doença – gota monoarticular e a artrose é oligoarticular. Distribuição: • simétrica • assimétrica Sempre avaliar se mesma doença está relacionada a mesma dor. Envolvimento: • Axial (coluna vertebral): • Apendicular (articulações periféricas) • Ambos – espondilite anquilosante As patologias com envolvimento da coluna são chamadas de espôndilos artrites. Irradiação: é mais importante quando os pacientes têm dor na coluna. Fora da coluna, não faz muito sentido dor articular irradiar. • Radiculagia: comprometimento no trajeto da raíz nervosa • Tendinite: comprometimento no trajeto do tendão o A tendinite é usada erroneamente como irradiação, pois irradiação é um termo utilizado quando se fala de raiz nervosa. Contudo, quando o paciente tem tendinite, ele terá dor no trajeto, similar a uma irradiação, motivo pelo qual é chamado de irradiação. ▪ Tenditinite D’ Quervain: tendinite no polegar que se irradia para uma parte do braço. ▪ Bursite trocantérica: inflamação da Bursa em que a dor se estende para a face lateral da coxa. A irradiação não é verdadeira pois é a face a alata que está envolvida em vez de uma raiz nervosa. Caráter da dor: Não faz sentido caracterizar se a dor é em aperto ou em pontada na reumatologia, pois não ajuda a diferenciar no diagnóstico. Em geral, os pacientes relatam que estão travados devido a uma dor intensa que impede o movimento. • inflamatório: piora com repouso. 3 Lahyse Oliveira 2021.2 o Na inflamação, há uma grande quantidade de líquido e uma vascularização aumentada. No momento que a musculatura está em repouso, o líquido que está circulando deve ir dentro do vaso. Esse líquido dentro do vaso se concentra próximo da articulação, e por mecanismo de pressão, o líquido que está dentro do vaso, sai e vai para dentro da articulação, em virtude da vasodilatação e aumento da permeabilidade vascular. O líquido dentro da articulação no momento de repouso, distende a capsula articular provocando dor na articulação. Quando o paciente começa a se movimentar, o líquido volta para o vaso para suprir o aparelho locomotor e o paciente vai melhorando da dor. • mecânico: piora com movimento. o É a dor da sobrecarga da estrutura e, ao parar de sobrecarregar, essa dor melhora. O paciente pode se queixar que a dor piora com o movimento e com o repouso devido a uma alta intensidade. Portanto, deve se perguntar ao paciente qual dessas dores são piores. Quanto mais aguda e intensa é essa dor, mais difícil é diferenciar isso. Fatores desencadeantes: • doenças agudas: trauma, alimentos (gota) • doenças crônicas: não são comuns Fatores de melhora e piora: • movimento/repouso; • uso de medicação; • posição (posturas antalgicas) Evolução: • Modo de início: súbito, insidioso • Contínua, intermitente • Artrite aditiva/migratória o Artrite aditiva é aquela que vai adicionando articulações ao longo do tempo. o Artrite migratória é aquela que dor em uma articulação em um dia, melhora e no outro dia dói em outro. É característica da febre reumática. Manifestações associados à dor: • Locais o Edema: ▪ Intra-articular: derrame articular ▪ Extra articular: tendinites /bursites o Rigidez articular (matinal): Indica inflamação articular. Presença de líquido no repouso articular. Dor/ “travamento” ao iniciar o movimento. Rigidez mais prolongada → maior o processo inflamatório: 4 Lahyse Oliveira 2021.2 ▪ Osteoartrite/osteoartrose: alguns minutos. Rigidez rápida que melhora logo. ▪ Artrite reumatoide: pode durar algumas horas. o Crepitação: Atrito entre duas superfícies articulares (perda da cartilagem articular). Pode não ser percebida pelo paciente e observada no exame físico. o Aumento de temperatura: calor o Rubor: vermelhidão da pele o Mais característico das artrites agudas: infecciosas, gota • Sistêmicos: Algumas patologias podem apresentar envolvimento específico articular: ex: osteoartrite, trauma. Patologias com pouco envolvimento extraarticular: ex AR. Patologias com grande envolvimento sistêmico ex: LES o Sinais e sintomas gerais: febre, perda de peso e mialgia. o Manifestações cutâneas: ▪ Lupus eritematoso sistêmico: rash malar ▪ Artrite psoriásica: lesões eritemato descamativas o Pulmão: dispneia, hemoptoicos → vasculites o Coração: cardite→ febre reumática o Rim: hematúria →nefrite lúpica (LES) o SNC: convulsões, abalos-→ vasculite do SNC, Coréia de Sydenhan o Ocular: xeroftalmia → Sd Sjogren o Genital: leucorreia → artrites reativas Diagnóstico diferencial da dor articular 5 Lahyse Oliveira 2021.2 Caráter mecânico: • Generativo: osteoartrose/osteoartrite • Trauma: fratura ou rotura de um tendão (tendinite d’quervain) Como diferenciar as doenças autoimunes? • Envolvimento articular: o Predomínio periférico X Predomínio axial ▪ Predomínio periférico: AR, LES ▪ Predomínio axial: Espondilite Anquilosante o Simetria X assimetria ▪ Simetria: AR +++ LES++ ▪ Assimetria: Artrite Reativa, Artrite Psoriásica o Aditiva X migratória ▪ Aditiva: AR ▪ Migratória: Febre Reumática • Envolvimento sistêmico o Envolvimento sistêmico: LES, Artrite Reativa, Art psoriásica o Envolvimento sistêmico menos frequente: AR, espondilite Caso clínico 1 1ID: PHR, masc, 48 anos, professor, casado, natural e procedente de SSA. QP: dor no pé há 5 dias. HMA: Dor intensa 8-10. Não sabe referir fator desencadeante. Sem outras articulações envolvidas. Sem outras queixas. Episódio semelhante há 6 meses. Duração: 3 dias. AM: HAS, DM •Classificação: Monoartrite aguda inflamatória metabólica. • Suspeita: crise de gota. Caso clínico 2 1ID: PHR, masc, 48 anos, professor, casado, natural e procedente de SSA. QP: dor no pé há 5 dias. HMA: Paciente com história em hálux esquerdo iniciada há 5 dias, iniciada a noite: acordou pela manhã com dor. Intensidade 8-10. Fez uso de AINE com pouca melhora. Sem outras 6 Lahyse Oliveira 2021.2 articulações envolvidas. Nega fatores desencadeantes. Febre não aferida (1 episodio há 24 horas). Nega episódios prévios. Unha encravada retirada há 10 dias). A: HAS, DM. • Classificação: Mono, aguda, inflamatória, infecciosa (porta de entrada = unha encravada) • Suspeita diagnóstica: etiologia infecciosa Caso clínico 3 PHR, masc, 36 anos, engenheiro, casado, natural e procedente de SSA. QP: Dor nas mãos há 7 dias. HMA: Paciente refere que há 7 dias iniciou quadro de febre e adinamia seguido por dor articular: mãos, joelhos, ombros. Piora no início da manhã, com leve rigidez matinal. Sem outras queixas sistêmicas. Procurou PS após 3 dias do quadro; fez exames (normais) e foi orientado a procurar reumatologista. AM: NDN. Exame físico: Geral: sem alterações Segmentar: sem alterações. Articular: Dor em articulações de IFP bilaterais e punhos. Dor em joelho direito com discreto aumento de temperatura local. • Classificação: poli, aguda, inflamatório. • Suspeita: metabólica ou infecciosa. Artrite aguda não é comum em uma doença autoimune (envolução um pouco mais lenta).. Referencias: • Emilia Inoue Sato. Guias de medicina ambulatorial e hospitalar da UNIFESP:Reumatologia segunda edição • Bonfá, Eloísa S. D. Oliveira; Yoshinari, Natalino Hajime. Reumatologia Para oClínico - 2ª Ed. 2011 • CARVALHO, Marco Antônio P; BÉRTOLO, Manoel Barros; LANNA, CristinaCosta Duarte. Reumatologia - Diagnóstico e Tratamento. 4. ed. 2014 • .IMBODEN, John; HELLMANN, Daviid B; STONE, John H. Current -Reumatologia - Diagnóstico e Tratamento. 3. ed. 20 7 Lahyse Oliveira 2021.2 Artrites Infecciosas ARTRITES AGUDAS ARTRITES INFECCIOSAS Artrite séptica • Monoarticular ( 80%) • Outro sítio de infecção como porta de entrada • Situações clínicas de maior susceptibilidade: Imunossupressão, Uso de drogas, Prótese articular e Artrite (sinovite) pré-existente • Bateria mais comum é o Staphylococcus Aureas • A neisseria gonorrhorea causa artrite gonocócica. 8 Lahyse Oliveira 2021.2 Artrites Virais: Quadro sistêmico, a exemplo de uma gripe, associado ao quadro articular. É comum que seja oligo/poliarticular. Pode ser causado por: • Influenza, Epstein Bar, parvovírus, rubéola • Vírus hepatite B e C, HIV • Zika, Dengue, Chikungunya Artrites infecciosas podem crônicar? Não é comum a artrite séptica crônicar, pois ou elas destroem a articulação ou causam a disseminação hematogênica para o resto do corpo e o paciente morre de choque séptico antes de crônicar. Artrites crônicas infecciosas • Bacteriana: Incomum e Mais frequente: tuberculose • Viral: Evolução benigna: incomum cronificação Parvovirus, Hepatites (B e C) Zika, Chikungunya Artrites virias: Febre Chikugunya QUADRO CLÍNICO: Incubação: 2- 7 dias (1- 12 dias). Sintomáticos (70%). • Fase aguda (até 14 dias): febre (90%), rash (50%), poliartrite (90%), tendinite, ligamentite, sintomas GI, conjuntivite, neurite • Fase subaguda: persistência do quadro musculoesquelético com melhora do quadro sistêmico • Fase crônica (> 3 meses); poliartrite persistente ou recidivante, neuropata FATORES DE RISCO PARA CRONIFICAÇÃO: Sexo feminino, Idade > 45 anos, Doença articular pré- existente e Intensidade dos sintomas na fase aguda. FORMAS ATÍPICAS E GRAVES: • S. Nervoso: meningoencefalite, encefalopata, convulsão, síndrome de Guillain-Barré, Síndrome cerebelar, paresias, paralisias e neuropatas • Ocular: Neurite óptica, iridociclite, episclerite, retinite e uveítea • Cardiovascular: Miocardite, pericardite, insuficiência cardíaca, arritmia, instabilidade hemodinâmica • Pele: Hiperpigmentação por fotossensibilidade, dermatoses vesiculobolhosas, ulcerações afosa-likea Rins Nefrite e insuficiência renal aguda • Outros: Discrasia sanguínea, pneumonia, insuficiência respiratória, hepatite, pancreatite, síndrome da secreção inapropriada do hormônio antidiurético, insuficiência adrenal AVALIAÇÃO LABORATORIAL 9 Lahyse Oliveira 2021.2 • RtPCR, • Sorologia (Igm e IgG) TRATAMENTO • Fase aguda: analgésicos, AINE • Fase subaguda: corticosteroides • Fase crônica: imunossupressores: HCQ, metotrexate Na fase aguda, evita-se corticoide pois através da imunossupressão que o corticoide faz, o vírus pode criar uma replicação viral grande. 10 Lahyse Oliveira 2021.2 Artropatias Microcristalinas: Gota Mais frequentes cristais envolvidos: • Ácido úrico que se apresenta no formato de monourato de sódio e desenvolve a gota. • Cálcio que se apresenta na forma de pirofosfato de cálcio e desenvolve a doença por depósito do pirofosfato de cálcio. • Outros cristais: Doença por depósito de hidroxiapatita, Doença por depósito de cristais de oxalato de cálcio, Artrite por depósito de cristais de corticosteroides o O corticoide utilizado em infiltrações, têm cristais que asseguram que ele seja pouco solúvel, garantindo a permanência dentro da articulação. Caso, ele seja muito solúvel, a tendencia é a infiltração ir para o intravascular. Quanto menos solúvel for o corticoide utilizado, mais cristais ele apresenta. Portanto, durante a infiltração, é possível que o paciente faça um quadro inflamatório por conta da inflamação desses cristais, mas não é algo frequente e é pouco sintomático. GOTA Antigamente, era uma doença conhecida como doença dos ricos devido a abundância de comidas e ao exagero de bebidas alcóolicas. Artrite gotosa é a principal artropatia induzida por cristais. Gota é a mais comum artrite inflamatória que acomete a população geral. Aumento da incidência e prevalência ao longo das décadas, devido ao aumento da incidência e prevalência de hiperuricemia. • Reino Unido: 1997-> 2012: prevalência/incidência: 64% /30% • EUA: população mais idosa: últimas décadas prevalência: 20/1000-> 60/1000 Fisiopatologia O ácido úrico circula na forma de monorato de sódio, e para ele ser solúvel na corrente sanguínea, ele precisa estar no pH ideal de 7,4. Assim, se existe uma modificação no pH do meio, isso precipita a crise de goda, do mesmo modo que o aumento do nível sérico do ácido úrico diminui a solubilidade deste e também pode precipitar a crise de gota. O ácido úrico é proveniente da síntese de purinas. Apesar de o ácido úrico ser menos solúvel, ele apresentava um metabolito chamado de alantoína que era muito mais solúvel. Contudo, a enzima que fazia esse metabolismo, a uricase, foi perdida ao longo do processo evolutivo. 11 Lahyse Oliveira 2021.2 O ácido úrico será sintetizado a partir da adenina e guanina, portanto o aumento destas podem aumentar o ácido úrico no organismo. A adenina e guanina podem ser oriundas do próprio metabolismo célular (2/3) e da dieta (1/3). O metabolismo pode ser alterado por medicamentos e doenças (neoplasias, psoríase) por uma alta atividade metabólica células. A dieta pode ser alterada quando há um aumento da ingestão de alimentos ricos em purinas. O ácido úrico pode ser eliminado pelo intestino ou pelo rim. A eliminação por via intestinal é de 1/3 e o 2/3 pelo rim. Habitualmente não existem doenças que diminuem da excreção intestinal do acido úrico, já que o processo em geral é guiado pelas bactérias que compõem a flora intestinal. Na via urinaria, os medicamentos podem diminuir a excreção do ácido úrico, alimentos, insuficiência renal, portanto, problemas que comprometem a excreção urinariatambém aumentam o ácido úrico. Em paciente com hiperuricemia é importante saber onde esta o problema: produção exacerbada ou eliminação comprometida. Fisiopatologia da Crise: O paciente com hiperuricemia terá uma precipitação desses cristais, decorrente do aumento rápido do nível sérico e da mudança na solubilidade pela ingesta de alimentos com grande quantidade de ácido úrico. Os cristais dentro da articulação serão fagocitados por monócitos, o que gera uma grande quantidade de citocina inflamatória, como a IL-1 e IL-6, as quais são responsáveis pela tonalização vermelha, febre e calor no local. Por outra via, haverá a ativação do sistema complemento, com o início da quimiotaxia para a ativação dos neutrófilos, os quais ajudam no processo de fagocitose dos cristais, a fim de abortar a crise. Em geral, esse processo dura 3 a 5 dias, e inicialmente não causa nenhuma lesão na articulação devido a curta duração do contato entre o cristal e articulação. 12 Lahyse Oliveira 2021.2 Fatores provocativos das crises: • Trauma – mudança do pH. • Intercorrências clínicas e cirúrgicas – causam a modificação no meio através da mudança do pH. Ex: AVC, infarto. • Álcool o Dentre as bebidas alcoólicas, a cerveja é a que mais provoca crise. ▪ Etanol pode induzir hiperuricemia: • Etanol: age na formação do ácido úrico pelo aumenta a degradação ATP → AMP → ácido úrico e no metabolismo etanol que aumenta a formação do lactato provocando redução da uricosúria. Assim, os pacientes que ingerem etanol tanto aumentam a formação do acido úrico, como diminuem a sua excreção. ▪ **Third National Health and Nutrition Examination Survey: 14809 pessoas, EUA • Bebidas alcoólicas (cerveja, licor e vinho) têm diferente impacto nos valores séricos de ácido úrico. • O consumo moderado de vinho (até um copo por dia) não se associa ao aumento do risco de hiperuricemia, • Consumo de cerveja: confere um risco maior (38). Além do seu teor de álcool, a cerveja (cevada) é rica em purinas, em especial guanosina, favorecendo assim a hiperuricemia e o risco de gota. • Medicamentos: diuréticos tiazídicos, aspirina • Ingesta alimentar: alimentos hiperuricemicos ou hipouricosúricos o Os alimentos que mais provam crise de gota são: a carne vermelha, miúdos, alguns peixes e frutos do mar, principalmente camarão, e feijão. o Refrigerantes, principalmente em mulheres. Classificação: HIPERURICEMIA ASSINTOMÁTICA: Elevação do ácido úrico não associada a manifestações clínicas de gota/e ou nefropatia. Mais 2/3 pacientes são assintomáticos e 1/3 pode 13 Lahyse Oliveira 2021.2 apresentar sintomas de gota e/ou doença renal (litíase renal). Em geral hiperuricemia com ácido úrico acima de 10, indica-se tratamento, porém ainda é considerado controverso. • Hiperuricemia e DCV: pacientes com hiperuricemia habitualmente tem síndrome metabólica, portanto ao tratar hiperuricemia, diminui-se o risco de doença cardiovascular. A grande dúvida sobre o tratamento nesses casos é, se o aumento do risco da DCV é pela uricemia em si ou pela síndrome metabólica que eles já têm. Em geral, os cardiologistas tendem a tratar pacientes com hiperuricemia. • Hiperuricemia, Obesidade e Síndroma Metabólica: A hiperuricemia associa-se, frequentemente, a componentes da síndrome metabólica, como a obesidade e a dislipidemia, e com fatores de risco para a doença cardiovascular. Em indivíduos com diabetes tipo 2, a obesidade visceral associou-se positivamente à uricemia, devido ao hiperinsulinismo que diminui a excreção urinaria do ácido urico. Ingesta de alimentos ricos em frutose / sorbitol, também pode diminuir a excreção urinaria do ácido úrico. ARTRITE GOTOSA AGUDA: paciente com uma dor que dura 3 a 4 dias e melhora, e depois de meses, ele tem outra crise. É uma artrite súbita de forte intensidade com calor, rubor e edema. Duração de 05 – 07 dias, e à medida que há uma recorrência, os ataques se tornam mais severos com duração de 2 semanas. Habitualmente, as crises nos primeiros anos envolvem os membros inferiores, principalmente a 1ª articulação metatarsofalângica (50%) - PODAGRA. Em geral, o ataque inicial em 80% dos casos é monoarticulares. PERÍODO INTERCRÍTICO: dura entre 5 e 10 anos. à medida que o paciente não trata as crises de gota, e elas vão ocorrendo na mesma articulação, tornando-se mais frequentes e duradouras. O paciente se expõe cada vez ao mais ao cristal, até ele se tornar um paciente crônico. GOTA TOFÁCEA CRÔNICA: quando o paciente já tem a destruição da articulação (pior que na artrose) pelo cristal. Geralmente ocorre 10 anos após a gota intermitente aguda. Articulações tornam-se persistentemente inchadas. Intensidade dos sintomas é menor que na fase aguda. Caracterizada por: Envolvimento poliarticular, incluindo pequenas articulações das mãos e formação de tofos – nódulos intra-articulares e subcutâneos, devido aos acúmulos de cristais nos tecidos. • O tofo gotoso pode ser encontrado nos dedos, punho, orelhas, joelhos, olécrano (local mais comum) e áreas de pressão. Geralmente são indolores, mas podem ulcerar devido a uma infecção associada. Pode causar limitação do movimento e Destruição Articular. • Um paciente que tem gota tifácea crônica continua a ter crises agudas de gota, caso ele não esteja em tratamento. 14 Lahyse Oliveira 2021.2 Diagnóstico Em geral, o diagnóstico dos quadros agudos e crônicos são clínicos. Os diagnósticos diferenciais são as monoartrites infecciosas agudas. Em geral, pede-se o nível sérico do ácido úrico e pelo menos uma vez no início do tratamento, pedir uma glicosuria de 24 horas para avaliar a excreção urinaria de ácido úrico. Quando necessária a análise do líquido sinovial. Laboratorial: Nível sérico de ácido úrico: Homem – até 7,0 mg% e Mulher – até 6,0 mg%. • O valor dos níveis séricos entre os sexos é diferente, pois as mulheres costumam depurar ácido úrico mais fácil por conta do estrógeno. É mais comum em mulheres pós menopausa. • Maior depuração de ânions urato na idade reprodutiva • Maioria dos hiperuricêmicos nunca desenvolverão sintomas • Níveis normais durante ataque agudo são frequentes, pois nem sempre a solubilidade do individuo se encaixa nesses padrões de referência. Líquido sinovial Usado quando se tem dúvida clínica e o laboratório não ajuda, mas não é habitual (dificuldade técnica + desnecessário). É um diagnóstico definitivo que acontece apenas por aspiração e inspeção do líquido sinovial ou material tofáceo. Presença de cristais em forma de agulha. Microscopia polarizada: cristal brilhante birefringente (intracelular). Líquido sinovial com moderada a grave inflamação. 5.000- 80.000 cells/ml, principalmente neutrófilos (cultura, gram). Raio X: É utilizando quando se tem suspeita de uma doença crônica, por isso não é pedido no quadro agudo. Demonstra erosão. 15 Lahyse Oliveira 2021.2 Tratamento: Em geral, existem dois tratamentos para a gota: no momento da crise e a hiperuricemia. Objetivos: Superação da Crise Aguda. Profilaxia de novas crises. Redução da concentração de urato. Reabsorção de tofos. Prevenção da Deposição de Cristais. Fatores de risco: dislipidemia, hipertensão, hipergliceridemia e obesidade. Crise Aguda • AINES: Droga de Escolha. Cuidado com os fatores de risco. • COLCHICINA: Tem sido muito utilizada no local do AINES. Inibe a Migração e Ativação Neutrófilos, evitando a inflamação exagerada. • CORTICOSTEROIDE: Gota poliarticular. Utilizando quando há contraindicação ao uso de AINES /colchicina. • Infiltrações com corticosteróides – monoartrite. • Canaquinumabe: imunobiológico que inibem a IL-1. O parâmetro para a transição do tratamento da crise aguda para o tratamento profilático é o desaparecimento de sinais inflamatórios. Durante a crise aguda, não se deve iniciaro tratamento para a hiperuricemia pois o alopurinol quando utilizando na fase inicial pode piorar a crise de gota. Em geral, não se sabe exatamente o porquê, mas acredita-se que há uma mobilização muito rápida do nível séricodo ácido úrico o que diminui a solubilidade e favorece a cristalização. Tratamento Profilático: • Colchicina: Prevenção das crises recidivantes, por isso é utilizada na crise e por mais 3 semanas após a crise. • Alopurinol/ Febuxostat: Inibidor da Xantina Oxidase (enzima que transforma a hipoxantina em xantina e forma o ácido úrico). Bloqueiam a síntese do ácido úrico** não iniciar no ataque agudo • Probenecida/Benzobromarona: Agente Uricusúrico, pela ação na URAT1. Inibem a reabsorção nos túbulos renais proximais, e aumentam a excreção do ácido urico. • Existe um remédio também chamado de uricase 16 Lahyse Oliveira 2021.2 recombinante, a pegloticase, que é um imunobiológico que tem o papel que faz o papel dessa enzima. Utilizada mais em pacientes refratários que já estão em dose máxima das medicações. O problema é que uma droga cara e não tem no brasil. • A losartana também agente como agente uricusurico, mas em um menor nível. É interessante de se utilizar em pacientes hipertensos com gota. Nos guidelines de reumatologia, existe uma controvérsia sobre o alvo terapêutico, alguns dizem que para o paciente estar controlado, o ácido úrico deve estar abaixo de 6 e em outros não deve ter crises de gota. 17 Lahyse Oliveira 2021.2 Prática Remota Caso 1 MMR, masculino, 47 anos, natural e procedente de SSA-BA. QP: Dores articulares há 40 dias. HMA: vem há cerca de 40 dias com dores articulares associado amialgia, cefaléia e sensação de febre e fraqueza), com o piora há 15dias. Mãos ( IFP e MCF), coluna cervical, joelhos, ombros, pés. Caráter inflamatório. Rigidez 1 hora. Passou no PA onde fez exames: hemograma normal, sorologia para dengue neg, VHS 2mm PCR 6,8 cr 1,1 tgo e tgp normais. Está em uso de novalgina. Já fez uso de AINE. Escore Visual Analógico (EVA) 7. Exame físico: sem alterações. Exame articular: artrite em punhos e iFP (bilaterais), dor em ombros, dor cervical, dor em joelho e artrite em tornozelos. • Classificação: poliartrite, inflamatória, simétrica, aguda/subagudo. • Hipóteses: artrite reumatoide, chikungynha Boa melhora das dores com a PD 2 mg, porém há 2 dias voltou a apresentar cervicalgia e dor em ombro que relaciona com academia. Exames: Sorologias virais: zika, CKG, dengue, parvovirus: negativas. hepatites A, B e C neg. FR 256, AntCCP 17 • Diagnóstico: Artrite Reumatóide. • Conduta: corticoide e imunossupressor (metotrexato). Caso 2 • Classificação: Oligo, crônica, inflamatória 18 Lahyse Oliveira 2021.2 • Classificação: Mono artrite crônica, inflamatória • Dúvida entre infecciosa (devido a porta de entrada) ou autoimune (duração de 9 meses). Solicitado líquido sinovial. • A presença dessa alta quantidade de hemácias sugere acidente de punção, o que atrapalha no valor da celularidade. 19 Lahyse Oliveira 2021.2 • Uma artrite infecciosa que crônificou, deve-se suspeitar de fungo e tuberculose. Caso 3 RDS, 41 anos, feminina, professora. Encaminhada ao reumatologista com poliartralgia. Paciente refere dores articulares e musculares (mãos, cotovelos, quadril, pés, coluna cervical e torácica), acorda com dor, mas refere piora também ao final do dia e quando está ansiosa. Edema nas mãos. Dormência nas mãos e pés. Cefaleia, sono ruim. Exame físico musculoesquelético. Exame articular sem alterações. Dor a palpação: musculatura trapézio, paravertebral, epidôndilos, face lateral da coxa, planta dos pés. • Classificação: Poli, inflamatória, crônica • Hipótese diagnóstica: autoimune, fibromialgia • Diagnóstico: fibromialgia É comum que haja o diagnóstico de doença autoimune com fibromialgia, porque queixa de dor é muito subjetivo. É necessário diferenciar sempre se a dor é articular ou muscular. Nesses casos em que há dúvida de qual das duas é a etiologia correta, utiliza-se exames laboratoriais e de imagem. Fibromialgia A fibromialgia é utilizada como diagnóstico de exclusão quando não tem alterações especificas e a dor de componente psicossomático. Apesar de ser um diagnóstico de exclusão, não se deve pedir prova atividade inflamatório, fator reumatoide e FAN para todo mundo, pois 10-15% da população saudável tem FAN positivo. Suspeitar quando: • Poliartralgia + mialgia difusa • Localização: articular? • Quadro faz parte de uma mesma doença? A etiologia e a fisiopatologia da FM ainda não são estabelecidas. As hipóteses atuais focalizam os mecanismos centrais de modulação e amplificação da dor. Distúrbio primário na FM seria uma alteração em algum mecanismo central de controle da dor através da disfunção de neurotransmissores. Disfunção neuro-hormonal: deficiência de neurotransmissores inibitórios (serotonina, encefalina, norepinefrina e outros) e hiperatividade de neurotransmissores excitatórios (substância P, glutamato, bradicinina). Além desses sintomas, é muito frequente que haja alteração do sono: paciente informa que dorme bem, mas acorda com a sensação de que não houve descanso, o que é chamado de sono não restaurador. Isso acontece, porque durante a noite há um aumento desses neurotransmissores inibitórios que causa a sensação de mais cansaço. Tratamento: uso de antidepressivo, atividade física e psicoterapia.
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