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PARAFUSO DE ARQUIMEDES: FUNDAMENTOS E APLICAÇÕES Allan Seeber¹ Flávia Marina Souza da Costa Ávila ² RESUMO O presente trabalho tem por objetivo descrever o funcionamento de um parafuso de Arquimedes quando utilizado como turbina para produção de energia, bem como construir um modelo ilustrativo do funcionamento deste dispositivo como bomba de elevação de água. São apresentados ao longo do texto, uma breve descrição histórica da utilização deste dispositivo e da teoria de funcionamento da turbina baseada no parafuso de Arquimedes. Da mesma forma, é apresentada a descrição das etapas de construção do protótipo baseada no modelo proposto por Leonardo da Vinci. Por fim, são apresentados os resultados obtidos com a aplicação do protótipo para determinação da vazão de um fluido em elevação. Alguns aspectos construtivos são discutidos na intenção de propor melhorias ao dispositivo e suas aplicações. Por fim, é apresenta a lista de referências utilizadas para elaboração deste trabalho. Palavras-chave: Parafuso de Arquimedes. Fuso. Transportador. 1. INTRODUÇÃO Arquimedes foi um dos principais pensadores da antiguidade. Nascido na colônia de Siracusa, na Sicília por volta de 287 a.C. e filho de um astrônimo grego, Arquimedes costumava cresceu participando de reuniões entre filósofos promovidas pelo seu pai. Ele estudou na escola de Matemática de Alexandria considerado na época o centro intelectual do mundo grego (FRAZÃO, 2019). Desenvolveu uma série de trabalhos relacionados à geometria, em especial associado ao desenvolvimento das relações matemáticas para determinação das áreas da esfera do cilindro. Desenvolveu diversos projetos relacionados a aplicação de máquinas simples, como por exemplo as alavancas. Estudou as condições de equilíbrio de corpos apoiados, desenvolveu experimentos para determinação do centro de gravidade, estudou os fundamentos da hidrostática descrevendo a força exercida sobre um corpo quando ele é mergulhado em um líquido, chegando a ser considerado por muitos o “pai da física”. (TORRES,2008) Arquimedes teve muitas contribuições na área militar, desenvolvendo equipamentos que foram amplamente utilizados para defender a cidade de Siracusa. Este registros são 1 Acadêmico do curso de Engenharia Civil 2 Tutora Externa Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI – Engenharia Civil (Turma ECE0811) – Seminário Interdisciplinar: Parafuso de Arquimedes. 2 imprecisos e constam da obra do historiador grego Políbio (203 a.C.-120 a.C.), citado por Rorres (2000). Uma das preocupações de Arquimedes era de melhorar o sistema de irrigação dos jardins de Siracusa. Para isso, desenvolveu um dispositivo conhecido hoje como “parafuso de Arquimedes” que consiste em um eixo com lâminas helicoidais em um canal (Figura 01). A extremidade inferior é mergulhada no fluido e, através do movimento de giratório contínuo por meio de uma manivela, desloca o líquido para cima até transbordar na parte superior. Diodorus Siculus (historiador grego, cerca de 100 anos a.C. escreveu: “os homens irrigam facilmente toda ela (uma ilha no delta do Nilo) por meio de um determinado instrumento concebido por Arquimedes de Siracusa, e que leva o seu nome (cóclias) porque tem a forma de uma espiral ou parafuso.” Fígura 01 - Gravura ilustrativa do parafuso de Arquimedes. Fonte: Muller, 2009. Rorres (2000), descreve que além de ser amplamente utilizado com a função de bombeamento, o parafuso de Arquimedes também pode ser aplicado de forma inversa como um conversor de energia para pequenas diferenças de desnível (Figura 02). No entanto, mesmo sendo este dispositivo conhecido por tanto tempo, parece haver poucos registros de um modelo matemático que descreva o seu limite de eficiência mecânica. Nagel and Radlik (1988), relatam que a eficiência de um parafuso hidráulico ou de Arquimedes é percebida como uma função das perdas mecânicas, hidráulicas e por vazamento. Gonçalves (2015), descreve que o parafuso de Arquimedes, também denominado bomba de Arquimedes tem uma ampla aplicação em estações de tratamento de resíduos. Segundo a autora, “…é uma máquina hidráulica cuja função é o transporte de líquido entre dois pontos com elevações distintas, aumenta a energia do líquido”. 3 A autora ainda relata que uma modificação no dispositivo foi realizada por Leonardo da Vinci (1452 – 1519), onde a hélice foi substituída por um tubo contínuo disposto ao redor do eixo central. Baseado na ideia de Leonardo da Vinci, este trabalho tem como objetivo a construção de um modelo didático do parafuso de Arquimedes e a análise da vazão obtida pelo dispositivo. Figura 02 – Representação de uma central de geração de energia com um conversor do tipo parafuso de Arquimedes. Fonte: Adaptado de: <https://www.ecologia.cc/f%C3%B3runs/energias-renov%C3%A1veis/turbina- ecol%C3%B3gico-a-vis-d-archimede-t14815.html> 2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA Como não foi encontrada literatura que explicasse o modelo matemático do funcionamento do parafuso de Arquimedes como bomba ou transportador. Descreveremos aqui o seu funcionamento como gerador de energia onde o sentido da vazão seria o inverso quando do seu funcionamento como bomba. Esperamos dessa forma, que o leitor seja capaz de inferir o entendimento deste dispositivo quando aplicado como transportador de matéria. A figura 03 apresenta uma vista longitudinal de um parafuso de Arquimedes usado como turbina para geração de energia. Na figura é possível observar alguns parâmetros geométricos que são utilizados para determinação de sua eficiência, como por exemplo: a altura de entrada (carga), definido com h, o comprimento do fuso (L), que é o comprimento de 4 uma volta completa do fuso contendo m voltas na hélice, bom como os raios internos DH e externo D e a inclinação da calha α. Figura 03 – Vista longitudinal de um parafuso de Arquimedes. Fonte: Muller (2009). De acordo com Albizu (2018), a potência produzida pela turbina leva em consideração a quantidade de água necessária para girar o parafuso. É o fluxo que determina a velocidade de rotação e os níveis de água nos bolsões do interior do fuso. Rorres (2000), define a velocidade de rotação máxima de um parafuso de Arquimedes usado como bomba como sendo, ω≤ 50 (2D)2 /3 (min−1). [1] Acima deste valor, o atrito no eixo central torna-se excessivo. Muller (2009) descreve que a potência é igual ao produto força x velocidade e uma vez que o vetor velocidade atua tangencialmente ao fuso, somente uma pequena parte da água contida no bolsão contribui para conversão de energia. Isso é diferente da água contida numa roda d’água, onde o peso do volume de água contido numa célula coincide com a direção de movimento. No caso do parafuso de Arquimedes, a contribuição do peso é desconsiderada. A figura 04 (a) mostra os níveis de água dentro do fuso. Nota-se que entre duas lâminas existe um desnível de maneira que uma pressão hidrostática (p1) é gerada sobre a superfície da lâmina. Essa pressão é maior que a pressão a jusante da lâmina (p2) de maneira que apenas a componente na direção de rotação do parafuso contribuirá para produção de trabalho (Figura 04 (b)). Dessa forma, Raza (2013) demonstra que o trabalho total por unidade de área P será dado por: 5 P=pz . A z .vz=px . A x . tgβ . vx tg β =px . A x vx [2] Portanto, o trabalho realizado pelo parafuso pode ser expresso como uma função da área da seção transversal e da velocidade vx da lâmina. Como o parafuso é constituído de m lâminas por unidade de comprimento, a energia gerada dependerá da diferença de pressão hidrostática (Ps) entre os lados da lâmina e da velocidade horizontal do parafuso (v1). Figura 04 – (a) Vista lateral dos níveis de água no fuso. (b) Vista de topo do fuso. (a) (b) Fonte: Adaptado de Muller (2009). Raza (2013), descreveque os níveis diferenciais de água montante e a jusante geram uma força hidráulica (Fhyd). Esta força é definida como, Fhyd= (d0+Δd) 2−d0 2 2 .ρ . g [3] onde a velocidade horizontal do parafuso é determinada em função da velocidade de entrada da água (v0) da seguinte forma, v1= d0 d0+Δ d .v0 [4] Com isso, podemos definir a potência produzida na lâmina como sendo força x velocidade. Como o parafuso é constituído de m lâminas a potência total (P) resulta em P = mPlâmina, e a potência hidráulica é dada por Phyd=ρ .g .Q .h=ρ .g .d0.v0 .m .Δd [5] 6 onde ρ é a densidade da água, g corresponde a aceleração da gravidade local e Q é a vazão. Dessa forma, a eficiência será dada por η= P Phyd [6] É importante notar que a eficiência não depende da velocidade do parafuso e é função somente da geometria, do desnível e do número de voltas do fuso. 3. MATERIAIS E MÉTODOS Para ilustração do funcionamento do parafuso de Arquimedes, um modelo didático (baseado na alteração proposta por Leonardo da Vinci para este dispositivo) foi construído. Nesta alteração, as hélices ou fusos foram substituídas por tubos helicoidais dispostos sobre o eixo do parafuso conforme ilustra a Figura 05. O objetivo desta modificação era reduzir as perdas pelo atrito entre o fuso e a calha e nesta configuração, este sistema foi amplamente utilizado para bombeamento de água. Figura 05 – Versão de Leonardo da Vinci para o parafuso de Arquimedes. Fonte: Piovezan (2005). Para construção do nosso modelo foram utilizados os seguintes materiais: - 1 m de mangueira transparente com diâmetro de 5/16 de polegada; - 1 secador de cabelo; - 40 cm de cana de PVC com 25 mm de diâmetro; - uma placa de madeira aglomerada com 12 x 50 x 0,8 cm; - presilhas plásticas; - cola instantânea; 7 - 2 parafusos 4,5 x 50 mm. - 2 parafusos 3 x 10 mm. - 2 suportes em L com 10 x 10 mm; - 1 recipiente plástico com 9 x 15 x 5 cm; - 1 recipiente plástico com 10 x 10 x 5 cm. Primeiramente, foi construído o parafuso, enrolando a mangueira sobre o cano de PVC. Para isso, uma das extremidades da mangueira foi fixada na extremidade do cano com uma presilha plástica e em seguida colada com adesivo instantâneo. Depois de estar devidamente colada e com o auxílio do secador de cabelo, a mangueira foi moldada sobre o cano de PVC. Ao longo do processo, a mangueira foi colada com adesivo instantâneo para fixação. Um parafuso de 4,5 x 50 mm foi posicionado na extremidade inferior do cano para servir como ponto de apoio, conforme ilustra a Figura 06. Figura 06 – Montagem do parafuso de Arquimedes. Fonte: Autor (2021). Na sequência, o suporte de madeira foi fabricado cortando-se a placa de madeira em dois segmentos: um com 11 cm e outro com 20 cm de comprimento. Os dois segmentos foram unidos na forma de um “L” e na parde superior foram fixados os suportes em L e posicionada uma presilha plástica na forma de alça para apoio ao cano de PVC conforme ilustra a Figura 07 (a). Após a montagem do parafuso sobre o suporte, o segundo parafuso de 4,5 x 50 mm foi inserido na extremidade superior e perpendicular ao cano de PVC para que fosse utilizada como manivela para rotação do eixo. Finalizando a montagem, a extremidade inferior do parafuso foi posicionada dentro do recipiente plástico com 9 x 15 x 5 cm e o recipiente plástico com 10 x 10 x 5 cm foi posicionado junto ao suporte de madeira conforme ilustra a Figura 07 (b). Desta forma, o parafuso ficou posicionado com uma inclinação de 26,57 o. 8 Figura 07 – (a) Construção do apoio do parafuso e (b) montagem do dispositivo. (a) (b) Como ilustra a Figura 7 (b), o recipiente plástico maior foi preenchido com um volume de aproximadamente 670 ml de água. A rotação do eixo foi realizada de forma manual, procurando manter uma frequência de rotação constante da ordem de 12 voltas a cada 10 s. As medidas de vazão foram realizadas em intervalos de tempo de 1 minuto. Para cada intervalo de tempo foi medida a quantidade de água transportada pelo parafuso para o recipiente de coleta posicionado junto ao apoio de madeira. Para medida do volume de líquido transportado, foi utilizado um recipiente graduado com divisões de escala de 25 ml, inferindo uma margem de erro de 12,5 ml para mais ou para menos, conforme disposto na Figura 08. Figura 08 – Recipiente graduado utilizado para medir o volume de água. Fonte: Autor (2021). Os resultados obtidos para as medidas de volume transportados são apresentados na Tabela 01. 9 Tabela 01 – Medidas de vazão realizadas no experimento. Medida Tempo (s) Volume (ml) Medida 01 62 100 Medida 02 61 110 Medida 03 62 110 Fonte: Autor (2021) 5. CONCLUSÃO O modelo construído apresentou funcionamento satisfatório, sendo possível a sua utilização para demonstração dos princípios de funcionamento do parafuso de Arquimedes. Infelizmente, não foram encontradas literaturas que descrevessem o funcionamento matemático do parafuso de Arquimedes como bomba, somente como turbina. Como era de se esperar, este é um modelo demonstrativo, sendo possível somente medições aproximadas de parâmetros relacionados ao deslocamento de água. Este fato se deve a diversos fatores construtivos que limitam a utilização do modelo como um experimento controlado de laboratório. Por outro lado, é possível demonstrar os conceitos propostos por Arquimedes para elevação de água. Uma modificação que permitiria uma proximidade maior entre o modelo didático e os conceitos apresentados na revisão bibliográfica, seria a utilização de um motor elétrico para a movimentação do eixo. Dessa forma, seria possível alterar a velocidade de rotação e assim encontrar qual a velocidade ótima para o seu funcionamento. Outra modificação que poderia ser inserida ao dispositivo seria a utilização de um mecanismo que permitisse a alteração do ângulo de inclinação. Assim, seria possível estabelecer uma relação entre este parâmetro e o volume de água transportado. REFERÊNCIAS ALBIZU, Jéssica Buchner; Ota, José Junji; Buchner, Paulo Cezar; Eficiência mecânica de turbina parafuso de Arquimedes invertido; XXVII Congresso Latinoamericano de hidráulica, Buenos Aires, 2018. 10 FRAZÃO, Dilva; Biografia de Arquimedes. Disponível em: <https://www.ebiografia.com/arquimedes/>. Acessado em 10/06/2021. GONÇALVES, Nádia Rute Vaz; Arejamento Colateral de Águas Residuais em Sistemas de Elevação por Parafusos de Arquimedes. Dissertação de mestrado. Universidade Nova de Lisboa, 2015. MULLER, Gerald; Senior, J.; Simplified Theory of Archimedean Screws, Journal of Hydraulic Research, 47(5), 2009, pp.666-669. PIOVEZAN, Pamela de Paula; Landers, Richard; Parafuso de Arquimedes. Projeto para Instrumentação de Ensino. IFGW-UNICAMP, 2005. Disponível em: < https://www.ifi.unicamp.br/~lunazzi/F530_F590_F690_F809_F895/F809/F809_sem1_2005/ PamelaPPiovezan_Landers_PA.pdf>. Acessado em: 12/06/2021. POLÍBIO. Historias. [S.l.]: Trad. y notas de M. Balasch Recort. Intr. de A. Díaz Tejera. Rev. : J. M. Guzmán Hermida. Madrid : Editorial Gredos. Apud Rorres (2000). RAZA, Ali; Mian, Muhammad Saleem; Saleem, Yasir; Modeling of Archimedes Turbine for Low Head Hydro Power Plant in Simulink MATLAB. Int. J. of Eng. Res. & Tech. (IJERT), Vol. 2 Issue 7, July – 2013. RORRES, Chris. (2000). The turn of the screw: Optimal design of the Archimedean screw. J. Hydr. Eng. 126(1), 72–80. SICULUS, Diodorus (circa first century B.C.). Bibliotheke, i.34.2. Translation by Ivor Thomas in Greek mathematical works, Loeb Classical Library, Harvard University Press, Cambridge, Mass., 1941. Apud Rorres (2000). TORRES, Assis André Koch, Arquimedes, o centro de gravidade e a lei da alavanca, Apeiron, Montreal, 2008. 249 p. https://www.ebiografia.com/arquimedes/ https://www.ifi.unicamp.br/~lunazzi/F530_F590_F690_F809_F895/F809/F809_sem1_2005/PamelaPPiovezan_Landers_PA.pdf https://www.ifi.unicamp.br/~lunazzi/F530_F590_F690_F809_F895/F809/F809_sem1_2005/PamelaPPiovezan_Landers_PA.pdfAllan Seeber¹ RESUMO 1. INTRODUÇÃO 2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 3. MATERIAIS E MÉTODOS
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