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A assistência em contracepção deve ser imparcial e abranger todas as técnicas disponíveis com suas respectivas taxas de eficácia, critérios de elegibilidade, indicações, contraindicações e possíveis efeitos colaterais, para que a mulher ou casal tenham as informações necessárias para escolher o método mais adequado à sua realidade. O indicador mais utilizado para avaliar a eficácia é o Índice de Pearl (IP), que mede o número percentual de gestações no primeiro ano de uso do método. A taxa de gravidez sem uso de nenhuma estratégia contraceptiva é de 85 gestações a cada 100 mulheres em um ano. Com bons recursos para julgamento clínico: • Categoria 1: método usado em qualquer circunstância; • Categoria 2: geralmente use o método; • Categoria 3: uso do método não geralmente recomendado a menos que outros mais apropriados não estejam disponíveis ou não sejam aceitos. Com recursos limitados para julgamento clínico: • Categorias 1 e 2: use o método; • Categoria 3: não use o método. DISPOSITIVO INTRAUTERINO (DIU) O DIU promove efeito anticoncepcional através da liberação continua de cobre dentro da cavidade uterina. Este interfere no número e no transporte de espermatozoides, e dificulta a movimentação do óvulo através da trompa, impedindo a fecundação. Tipos de DIU: • DIU de cobre (Cu-T380A); • DIU de cobre com prata (Andalan Silverflex 380Ag); • DIU com formato de ferradura; • Mini DIU T (Safe 300). Mecanismo de ação: A gravidez parece ser evitada por um efeito de corpo estranho induzido pela estrutura do DIU e por alterações locais causadas pela medicação liberada. Quando o útero é exposto a um corpo estranho, ocorre uma reação inflamatória estéril, que é tóxica para o esperma e óvulos, prejudicando o implante. A produção de peptídeos citotóxicos e a ativação de enzimas levam à inibição da motilidade espermática, redução da capacitação e sobrevivência dos espermatozoides e fagocitose espermática. DIU de cobre: A adição de cobre oferece outros benefícios contraceptivos. O cobre melhora a resposta inflamatória citotóxica no endométrio, prejudica a migração de espermatozoides, viabilidade e reação acrossomal, e prejudica a implantação. Na improvável possibilidade de fertilização, o blastocisto sofrerá com a mesma reação inflamatória e o endométrio se tornará hostil à implantação. Indicações: Usado sem restrições em pacientes classificadas na categoria 1 e 2. • Mulheres no puerpério imediato (até 48 horas pós-parto) ou com mais de quatro semanas de puerpério normal; • Após aborto do primeiro trimestre (sem complicações); • Mulheres com idade maior de 35 anos; 1. Dispositivos intrauterinos (DIU) 2. Métodos de barreia (condom e diafragma) 3. Métodos de consciência corporal (tabela baseado no ciclo menstrual) • Hipertensão arterial sistêmica; • Diabetes mellitus; • Doença tromboembólica; • Cardiopatia isquêmica; • Cardiopatia valvular (sem complicação); • Doenças hepáticas; • Obesidade; • Hiperlipidemias; • Adolescente; • Anemia (ferropriva, falciforme, talassemia); • Miomas uterinos e má formações anatômicas uterinas que não distorção da cavidade uterina; • História de episódio isolado de DIP; • Vaginite; • Endometriose; • Dismenorreia; • Doença valvular cardíaca complicada; • Antecedente de gravidez ectópica; • Cefaleias; • Doenças de mama; • Epilepsia; • Antecedente de cirurgia abdominal e/ou cesariana. Contraindicações: • Distorção da cavidade uterina; • Endometrite pós-parto ou após aborto nos últimos três meses; • Sangramento transvaginal de origem desconhecida; • Doença de Wilson; • Gravidez; • DIP ou comportamento de risco; • Câncer de corpo ou colo uterino; • Cervicite mucopurulenta; • Alergia a qualquer componente do dispositivo. Risco de DIP: Depende mais da técnica de inserção e da adequada seleção da paciente do que da idade, devendo-se considerar o número de parceiros sexuais, dependência ou não de álcool/drogas e de estar ou não em um relacionamento sexual estável. Inserção: O momento ideal para inserção é durante o período menstrual, uma vez que é possível excluir a possibilidade de gravidez. O colo uterino encontra-se mais amolecido e dilatado, facilitando a colocação, com redução da chance de expulsão. Entretanto, para mulheres que comprovadamente não estejam grávidas e desejam iniciar o método, esse pode ser colocado em qualquer momento do ciclo menstrual. Complicações: • Os principais risco correlacionam-se à inserção → dor, reação vagal, perfuração uterina, sangramento, laceração da cérvice, bacteremia transitória, expulsão e falha do método. • Caso a paciente apresente infecção nos primeiros 60 dias após a colocação, deve-se iniciar antibioticoterapia de amplo espectro direcionada à microbiota vaginal normal (Doxiciclina 100 mg de 12/12 horas por 14 dias) e remoção do DIU, caso não haja melhora clínica após 48 horas. Efeitos colaterais: • Hipermenorreia; • Dismenorreia. MÉTODOS NATURAIS OU COMPORTAMENTAIS São técnicas contraceptivas que não apresentam contraindicações, baseadas na observação de sinais e sintomas que caracterizam as diferentes fases do ciclo menstrual fisiológico e na abstenção sexual durante o período fértil. Sua utilização requer ciclos regulares e grande disciplina por parte dos casais. Ainda assim, a taxa de falha pode chegar a 20% no primeiro ano. Por outro lado, também podem ser utilizados para orientar pacientes que desejam engravidar sobre seu período fértil. Método Ogino-Knauss (Ritmo, Calendário, Tabela): A mulher deve registrar a duração do seu ciclo menstrual por, pelo menos, 6 meses e calcular a diferença entre o ciclo mais longo e o mais curto. Se esta diferença for de 10 dias ou mais, o ciclo é caracterizado como irregular e o método não deve ser utilizado. Nos casos de ciclos regulares, o período fértil é calculado da seguinte forma: subtrai-se 18 dias do ciclo mais curto para determinar o início e 11 dias do ciclo mais longo para estimar o final. • Exemplo: Nos últimos seis meses, os ciclos de uma mulher duraram entre 26 e 34 dias. Seu período fértil provavelmente terá início no 8º dia do ciclo (26 – 18) e terminará no 23º dia (34 – 11). Método da Temperatura Corporal Basal: A temperatura corporal basal permanece estável antes da ovulação. Quando a ovulação termina, a temperatura eleva-se alguns décimos de grau centígrado por ação da progesterona. A mulher deve registrar cuidadosamente, todos os dias, sua temperatura corporal basal, ou seja: pela manhã, em repouso, antes de realizar qualquer atividade, após repouso de pelo menos 5 horas. A temperatura pode ser verificada por via oral, retal ou vaginal, com termômetro comum (mesma via deve ser usada por todo o ciclo). O aumento estável da temperatura entre 0,2-0,5 °C por quatro dias indica que já ocorreu a ovulação. O período fértil termina na manhã do quarto dia em que se observou a elevação da temperatura. Limitações: Diversos fatores que podem interferir na temperatura basal (infecções, insônia), a ansiedade gerada pelas medidas diária e a impossibilidade de prever a ovulação, o que dificulta a contracepção nos dias que a precedem. Método do Muco Cervical ou Billings: O muco cervical é produzido pelas células glandulares endocervicais sob influência do estrogênio e da progesterona, de acordo com a variação do ciclo menstrual. No início da primeira fase do ciclo, o muco não é perceptível. Quando a mulher começa a percebê-lo, ele é espesso e pegajoso. À medida que se aproxima a ovulação, o muco vai se tornando transparente, elástico e filante. Após a ovulação, o muco volta a ficar espesso, branco e opaco, perdendo a distensibilidade. Casais que desejam evitar a gestação devem se abster de contato genital quando houver a percepção do muco fluido em “clara de ovo”, ou a sensação de lubrificação no meio do ciclo menstrual. Recomenda-se que a abstinência sexualseja mantida até o quarto dia após a percepção máxima de umidade. Deve-se orientar à paciente que, na vigência de infecções da mucosa vaginal, a percepção das características do muco fica dificultada. MÉTODOS DE BARREIRA Preservativos Masculino e Feminino: O condom ou preservativo masculino tem função anticoncepcional e também de prevenção de doenças sexualmente transmissíveis (DST) e doença inflamatória pélvica. Pode ser utilizado junto com outros métodos contraceptivos para proteção adicional, conhecido como dupla proteção. O preservativo masculino é feito de látex e possui diversos tamanhos capazes de acomodar a anatomia, enquanto o feminino é feito de poliuretano e tem tamanho único. Ambos podem ser utilizados apenas uma vez. Mecanismo de ação: Agem formando uma barreira física entre o pênis e a vagina, impedindo a passagem de esperma para o trato genital feminino e reduzindo a transferência de agentes infecciosos entre os parceiros sexuais. Contraindicação: Deve ser evitado em alérgicos ao látex. DIAFRAGMA É um método vaginal que consiste em um capuz de borracha macia, côncavo, com borda flexível, que cobre o colo uterino. É colocado na vagina antes da relação sexual, devendo ser utilizado com geleia ou creme espermicida. Pode ser inserido até seis horas antes da relação sexual e deve ser retirado outo horas após o coito. Por não ter efeitos hormonais, pode ser usado em períodos de lactação e interrompido a qualquer momento. Mecanismo de ação: Atua bloqueando a penetração dos espermatozoides no trato genital superior feminino. Contraindicação: Deve ser evitado em mulheres com alergia ao látex. Efeitos colaterais: Caso seja deixado por muito tempo no local, a mulher pode desenvolver leucorreia intensa e com odor fétido. MÉTODOS DEFINITIVOS A contracepção permanente consiste nos métodos de esterilização cirúrgica, nas mulheres através da obstrução ou secção tubária e nos homens por vasectomia. Para a realização é necessário o registro em documento escrito e firmado da manifestação da vontade, após possíveis efeitos colaterais, dificuldade de reversão, riscos cirúrgicos e opções existentes de contraceptivos reversíveis. Em caso de vigência de sociedade conjugal, o procedimento requer o consentimento expresso de ambos os cônjuges para ser realizado. Ligadura Tubária: Métodos: 1. Oclusão tubária → Através de anel de silicone (anel de Falópio e anel tubário), clipe de mola Hulka-Clemens Clip e o Filshe Clip, que consiste em clipe de titânio revestido de silicone. 2. Eletrocoagulação → Através de uma corrente elétrica uni ou bipolar, promove a destruição de um segmento da tuba uterina. A unipolar possui uma maior taxa de complicação. 3. Ligadura com fio de sutura → com ou sem remoção da tuba uterina. Abordagem cirúrgica: Pode ser realizada através da via laparoscópica, minilaparotomia ou via colpotomia (pouco utilizada). É fundamental que antes da realização da cirurgia sejam esclarecidos todos os riscos existentes, uma vez que a reversão da esterilização tubária é um procedimento tecnicamente difícil, de alto custo e nem sempre bem-sucedido. Pode ser por reanastomose cirúrgica ou por técnicas de reprodução assistida. A taxa de sucesso é influenciada diretamente pela idade da mulher, tecnologia empregada e quantidade de trompa remanescente. O risco de gestação ectópica é alto após a reanastomose da tuba. Falha no método: Erro no procedimento cirúrgico, fístulas tubárias que podem vir a complicar as técnicas obstrutivas, reanastomoses dos segmentos tubários, clipes defeituosos não promovendo a obstrução total da tuba e, por fim, o procedimento estar sendo realizado na fase lútea em que a mulher já pode estar grávida. Esterilização Masculina: Consiste em um procedimento realizado a nível ambulatorial com analgesia local e duração em média de 20 minutos, sendo realizada a secção do lúmen do ducto deferente, através de uma incisão no saco escrotal, bloqueando a passagem dos espermatozoides oriundos dos testículos. A azoospermia não é imediata, sendo necessário período de aproximadamente três meses ou vinte ejaculações para que ocorra a eliminação completa dos espermatozoides acumulados distalmente à interrupção, devendo ser utilizado outro método contraceptivo, até que seja comprovada azoospermia através de dois espermogramas consecutivos. A tentativa de restaurar a fertilidade pode ser via reanastomose cirúrgica ou através da retirada direta de espermatozoides dos testículos combinada com técnicas de fertilização in vitro. Entretanto, por serem técnicas mais difíceis de sucesso e de menor acesso, é de fundamental importância o aconselhamento prévio do paciente.
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