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Julia S Crescencio/TUT 3 UC 14/Medicina Abdome agudo vascular CONCEITO A isquemia mesentérica decorre do aporte insuficiente de sangue para manter o metabolismo normal das vísceras envolvidas. Ou seja, é o abdome agudo em que há ausência ou diminuição do fluxo intestinal levando a sofrimento tissular. EPIDEMIOLOGIA → Baixa incidência (0.09-0.2%) → Mortalidade de até 90% → A maioria são eventos agudos → Isquemia crônica <5% (doença aterosclerótica, vasculites) CLASSIFICAÇÃO → Crônica (rara, semanas-meses) ou aguda (horas-dias) → Oclusiva (trombose ou êmbolos) ou não oclusivas (hipotensão severa por choque ou ICC, espasmo por drogas ou medicamentos vasoconstritores – cocaína e ergotamina/norepinefrina) → Arterial ou venosa ETIOPATOGENIA → A maioria dos casos (90%) é por uma oclusão arterial aguda, que pode ser embólica ou trombótica → Também podem ser causados por uma trombose venosa mesentérica extensa, com aumento da resistência vascular suficiente para represar o sangue na extremidade arterial do capilar, gerando isquemia → Na hipotensão grave não há obstrução – choques, ICC, vasoconstricção → Fase de hipóxia: reversível; o endotélio suporta até certo grau de hipóxia → Fase de reperfusão: ocorre translocação bacteriana e lesões graves EMBOLIA DA AMS → Ocorre com mais frequência em ramos intermediários → Pacientes tendem a ser mais jovens e com menos comorbidades, mais prevalente em homens → Envolvem segmentos intestinais menores, com melhor prognóstico → Isquemia do jejuno distal: o êmbolo geralmente obstrui onde as artérias estão mais finas → Fonte cardíaca (ex.: FA), fonte aórtica (aneurisma) → Sólida (trombo), líquida (esteatose) ou gasosa → Embolo de colesterol: ateroembolismo Fatores de risco: fonte emboligênica (fibrilação atrial, aneurisma de ventrículo, valvulopatia, cardiomiopatia dilatada, IAM prévio, procedimento arterial, outras arritmias cardíacas) Clínica: dor súbita aguda difusa e intensa + esvaziamento intestinal, arritmia, outros focos de isquemia TROMBOSE DA AMS → Geralmente pela progressão de uma placa aterosclerótica → São os mais graves por envolverem grandes áreas intestinais Fatores de risco: idosos (>65 anos), portadores de doenças ateroscleróticas (geralmente já manifestadas em outros sítios – coronárias, carótidas, extremidades), hipertensos, diabéticos, dislipidêmicos, tabagistas, baixo débito cardíaco Clínica: começo insidioso, com desconforto pós-prandial, perda de peso, história de angina intestinal prévia, evoluindo para dor súbita intensa + esvaziamento intestinal (vômitos, diarreia) Julia S Crescencio/TUT 3 UC 14/Medicina TROMBOSE DA VMS → Acometimento do delgado, poupando o cólon Fatores de risco: portadores de trombofilias (deficiência de antitrombina II, fator V de Leiden, mutação do gene da protrombina, deficiência de proteína C e S), adenocarcinomas, hipertensão portal, cirrose hepática, estrogênio oral (anticoncepcionais), anabolizantes, gravidez, síndrome nefrótica, covid Clínica: mais arrastada/crônica/subaguda (dias-semanas), dor abdominal difusa insidiosa, menor intensidade, mais sangue nas fezes • Tríade de Virchow - Estase - Lesão endotelial - Hipercoagulabilidade ISQUEMIA NÃO OCLUSIVA Fator de risco: pacientes críticos, em choque, ICC e uso de medicações vasoativas, dependentes químicos, vasculite sistêmica Clínica: dor ou distensão abdominal. As vezes há apenas uma distensão, sem dor. Sangramento digestivo, piora da clínica, febre, leucocitose, elevação do PCR APRESENTAÇÃO CLÍNICA → Dor abdominal intensa, incaracterística, progressiva com náuseas e vômitos → Envolvimentos extensos: dor difusa e ausência de ruídos abdominais → Comprometimento segmentares: dor localizada e ruídos aumentados → Toque retal com aspecto de geleia de morango: sangue escurecido pela necrose da mucosa, indicando isquemia (presente em apenas 5% dos casos) → Taquicardia, hipotensão, taquipneia, sudorese → Desproporção entre a clínica e o exame físico (já que a isquemia começa pela mucosa) → Leucocitose → Acidose metabólica com aumento de lactato Após 4-6h, as alterações viscerais frente à isquemia se tornam irreversíveis e o tecido intestinal sofre necrose. Existe um sequestro de líquido acompanhado de desidratação, (não tanto quanto o obstrutivo!!) da filtração glomerular renal e alterações metabólicas nas alças intestinais. Como o impacto inicial ocorre no tecido mais irrigado (mucosa), este é o primeiro a sofrer alterações incorrendo na perda da barreira mucosa, translocação bacteriana do lúmen intestinal para a corrente sanguínea e liberação de inúmeras endotoxinas que promovem resposta inflamatória sistêmica. CHOQUE Hipovolêmico: Redução do volume sanguíneo CARDIOGÊNICO DISTRIBUTIVO Séptico, anafilático ou neurogênico OBSTRUTIVO Julia S Crescencio/TUT 3 UC 14/Medicina DIAGNÓSTICO → Clínico + laboratorial + imagem → Muitas vezes é de exclusão Exames laboratoriais: ajudam a predizer a severidade da doença, mas tem pouca ajuda no diagnóstico. Pode ter: • Diminuídos: hemoglobina, albumina • Aumentados: leucócitos (leucocitose), lactato, creatinina (fazer o cálculo da TFG!), LDH, amilase • Creatinofosfoquinase– CPK • Desidrogenase láctica • Acidose metabólica Imagem: arteriografia com cateter (também desobstrui), angio- TC, que não utiliza contraste oral ou retal e tem rápida velocidade • Radiografia: investigação intestinal, achados relacionados a necrose - gás no sistema porta (aeroportograma), níveis hidroaéreos, dilatação do intestino, esteatose, pneumatose • USG: dá para observar oclusão vascular com o Doppler. A presença de gás nas alças dificulta o exame. Realiza diagnósticos diferenciais • TC: rápido e não invasivo. Com contraste (angio-tc) é o exame de escolha (achados intestinais + vasculares). Consegue direcionar para a angiografia ou para a cirurgia. Risco: radioatividade, nefrotoxicidade (contraste) • Angiografia: especificidade de 100%. Invasivo, pouca disponibilidade. Permite realizar manobras para a desobstrução. Pode ser realizado no pré-op para mapear a revascularização cirúrgica. Jamais em pacientes instáveis! • Angio-RM: Alta especificidade e sensibilidade para lesões proximais. Papel limitado para as distais e não oclusivas. Demorado e com baixa disponibilidade (não usado na prática) Laparotomia: em pacientes instáveis. Necrose em estado já avançado. TRATAMENTO MEDIDAS INICIAIS • Monitorização invasiva com cateter de PVC e eventualmente a tomada da pressão venosa pulmonar • Monitorar a saturação de oxigênio e a GA e venosa • Se houver choque, dar preferência a dopamina, já que a norepinefrina é vasoconstrictora • Antibióticos de amplo espectro, mas focado na flora intestinal mista composta principalmente por gram- negativas e anaeróbios. Cefalosporinas de terceira geração (Ceftriaxona) e metronidazol. TRATAMENTO DEFINITIVO • Laparotomia exploradora e ressecção intestinal em mais de 95% dos casos • Sempre que possível, deve-se tentar fazer uma revascularização com medicamentos (fase inicial, <6h) • Nos casos de trombose da VMS: tenta o tratamento conservador com heparina (anticoagulante) e observa a evolução • Causas não oclusivas podem ser tratadas com uma cateterização seletiva dos vasos mesentéricos e a instilação neles de substâncias vasodilatadoras (ex.: papaverina) – em casos extemos, que não é possível a compensação clínica EMBOLIA Viabilidade intestinal – embolectomia Julia S Crescencio/TUT 3 UC 14/Medicina Se não tem viabilidade (necrose) – ressecção segmentar, embolectomia, anastomose; controle de danos se o paciente tiver instável (fecha e volta depois de +- 48h) TROMBOSE Viabilidade intestinal: tratamento clínicoou anastomose vascular Sem viabilidade: ressecção, anastomose intestinal ou vascular; controle de danos se instável PÓS-TRATAMENTO • Suporte na UTI • Correção de acidose e coagulopatia • Adm. de antibióticos • Controle hemodinâmico • Nova laparotomia (48h após – second look) para reavaliar a viabilidade intestinal e se houve progressão da isquemia VARFARINA E AMIODARONA VARFARINA Mecanismo de ação: anticoagulante cumarínico (antagonista da vitamina K) que bloqueia a y-carboxilação (depende da Vit. K) de vários resíduos de glutamato existentes na trombina e nos fatores VII, IX, e X, como nas proteínas anticoagulantes endógenas C e S. Esse bloqueio resulta em moléculas biologicamente inativas. Contraindicações: hipersensibilidade, gravidez (atravessa a placenta podendo causar malformações), doenças hepáticas e renais graves, aneurisma etc. Reações adversas: Dor abdominal, diarreia, flatulências, lesões de pele, letargia • Paciente tem que ficar fazendo o TAP para acompanhar se a dose está correta – avalia o INR Sangramento: dar vitamina K ou plasma e suspender a varfarina AMIODARONA Mecanismo de ação: antiarrítmico de classe 3 que prolonga o período refratário efetivo ao prolongarem o potencial de ação, ao bloquear os canais de potássio no músculo cardíaco. Reações adversas: hipo ou hipertireoidismo, fibrose pulmonar, neuropatia
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