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Esther Perinni Lopes – Medicina UVV XXVIII PATOLOGIA DO FÍGADO III e IV – HEPATITES As hepatites virais se manifestam na fase aguda, após período variável de incubação, com sinais prodrômicos (febre, mal estar). Esses sinais vão ser seguidos de icterícia e colúria. Geralmente a hepatite evolui espontaneamente para a cura em poucas semanas, na maioria dos casos. Entretanto, alguns casos podem evoluir para hepatite aguda grave (A, B e E) acompanhada de insuficiência hepática. • Hepatites agudas benignas ou brandas Necrose focal maior nas zonas 1 e 2 e menor na zona 3 com exsudato de mononucleares → A regeneração dos hepatócitos é completa porque os focos de necrose são focais, não havendo colapso do retículo. Destrabeculação de hepatócitos com degenerações Apoptose frequente de hepatócitos, identificados como corpos hialinos Podemos ter uma forma colestática que dificulta o processo de cura As lesões são curadas em 3 a 4 semanas na maioria dos casos (especialmente hepatites A e E) mas podem evoluir por mais tempo (até 12 semanas, como pode ocorrer na hepatite B). Biópsia em um caso de hepatite aguda benigna ou branda por VHB. Observe a desorganização dos hepatócitos que perdem o arranjo trabecular. A maioria deles tem citoplasma claro, vacuolizado (degeneração hidrópica) Necrose focal é evidenciada pela presença de acúmulos de mononucleares (setas pretas). • Hepatites agudas graves Lesões de mesma natureza, porém mais intensas. Aparecimento de necrose confluente, especialmente em ponte → sinal de gravidade! Podemos ter, em casos mais graves, uma necrose submaciça ou até maciça, se associando a um quadro se insuficiência hepática aguda. Sabendo que temos necrose especialmente em ponte → teremos uma regeneração nodular devido as colapso do retículo nas áreas de necrose confluente, submaciça ou maciça. Alguns desses pacientes podem evoluir para uma cirrose geralmente macronodular. Esther Perinni Lopes – Medicina UVV XXVIII Caso de hepatite aguda grave, com necrose confluente formando pontes (setas pretas). Nessas áreas de necrose confluente há colapso do retículo. • Hepatites crônicas Hepatites B, C e D podem evoluir para formas crônicas, muitas vezes a partir de formas agudas oligo ou assintomáticas Nas hepatites crônicas temos: fenômenos inflamatórios, lesão hepatocelular, regeneração e fibrose. Infecções crônicas persistentes assintomáticas → inflamação com mononucleares nos espaços porta, mas não há necrose e inflamação intralobular. Infecções crônicas persistentes sintomáticas → a doença está em atividade, aparecendo lesões no parênquima hepático. A progressão da doença é denunciada por: - inflamação com extravasamento de mononucleares nos espaços porta - necrose, podendo ser focal, confluente ou em ponte intralobular - lesões degenerativas dos hepatócitos, como balonização (sinal de sofrimento hepatocitário em várias organelas), degeneração hidrópica (acúmulo de água no meio intracelular) - fibrose em graus variáveis que se inicia do espaço porta para o interior do lóbulo A Lesão Hepatocelular Nas hepatites pelos vírus hepatotrópicos, a necrose não ocorre por ação direta do vírus!!! Nenhum dos vírus hepatotrópicos são citolíticos, ou seja, não induzem a morte celular. Nas hepatites pelos vírus hepatotrópicos, a necrose vai ser por causa da agressão pelos linfócitos TCD8+ citotóxicos → esses linfócitos TCD8+ reconhecem os epítopos do vírus. Esther Perinni Lopes – Medicina UVV XXVIII Linfócitos TCD4+ produzem IFNg → ativação de macrófagos → macrófagos liberam radicais livres → radicais livres lesam os hepatócitos. NKs também participam do processo de lesão hepatocelular. Os anticorpos parecem importantes na patogênese de lesões agudas graves, pela formação de imunocomplexos que pode se aderir aos sinusoides ativar o endotélio e induzir trombose o que leva a redução do suprimento de oxigênio, favorecendo a necrose. Esse mecanismo pode estar envolvido nas formas fulminantes da doença onde a necrose maciça atinge praticamente todo o órgão. Avaliação da Hepatite Crônica em Escores Em um escore de 0 a 4, avaliamos pela biópsia hepática: - atividade portal ou septal - atividade parenquimatosa - alterações arquiteturais a) Atividade portal ou septal 0 = quando temos infiltrado inflamatório de mononucleares nos espaços porta mas sem alterações na interface entre o espaço porta e o parênquima, sem alterações intralobulares 1 = extravasamento de linfócitos, sem necrose 2 = temos necrose focal discreta 3 = necrose focal moderada 4 = necrose extensa b) Atividade parenquimatosa 0 = hepatócitos sem alterações 1 = hepatócitos apresentando tumefações e esteatose, retração acidófila e raros focos de necrose 2 = necrose focal em muitos sítios 3 = necrose focal com áreas confluentes 4 = necrose focal formando pontes c) Alterações arquiteturais 0 = sem fibrose 1 = fibrose portal 2 = fibrose portal com septos entrando no interior dos lóbulos (septos intralobulares) ou em direção a outros espaços porta Esther Perinni Lopes – Medicina UVV XXVIII 3 = alteração parcial da arquitetura com formação de septos (pontes) porta-centro e porta-porta 4 = subversão total da arquitetura do parênquima com formação dos nódulos envoltos por tecido conjuntivo, caracterizando um quadro de cirrose hepática. HEPATITES ➔ HEPATITE A Transmissão fecal-oral Mais comum das hepatites benignas ou brandas, poucos casos colestáticos e raramente formas agudas graves. Não temos descrição de formas crônicas da hepatite A Crianças costumam ser assintomáticas e os adultos costumam apresentar hepatite aguda branda ictérica ou anictérica. Quais são os sinais podrômicos da hepatite A? → anorexia, náuseas, vômitos, diarreia, febre baixa, cefaleia, mal-estar, astenia Quais as manifestações mais importantes da hepatite A? → icterícia, colúria, hipocolia fecal, dor no hipocôndrio direito Quais os exames laboratoriais você necessita parar o diagnóstico da hepatite A? → anti-HAV total e anti-HAV Igm O que indica cada um desses exames? Esther Perinni Lopes – Medicina UVV XXVIII Porque os sinais e sintomas só aparecem depois de alguns dias após aparecimento do vírus nas fezes? → por causa do período de incubação do vírus, que é, em média, de 28 dias. ➔ HEPATITE B A história natural da hepatite B varia de acordo com a idade na qual a infecção ocorre. Neonatos até a puberdade → maioria dos infectados não desenvolve hepatite aguda. Entretanto, pode persistir como uma infecção crônica que na maioria das vezes vai permanecer assintomática. A partir dessa infecção crônica, alguns podem desenvolver uma hepatite crônica ou um carcinoma hepatocelular. Adultos → os pacientes infectados geralmente desenvolvem hepatite aguda benigna ou branda que pode evoluir como formas graves. Infecção crônica → paciente assintomático → não é a mesma coisa que hepatite crônica!! Após a infecção, o vírus se instala nos hepatócitos e se multiplica → vírus vai ser eliminado para o sangue → vai infectar novos hepatócitos → ainda estamos no período de incubação e a resposta imunitária inata via interferon alfa, beta e delta, controla a infecção reduzindo a replicação viral, mas não elimina as células infectadas → esse período não há necrose nem inflamação no parênquima hepático, essa é a razão pela qual a doença não se manifesta. Sorologia da Hepatite B Esther Perinni Lopes – Medicina UVV XXVIII o AgHBe, o AgHBs e a polimerase podem ser detectadas no soro ainda no período de incubação (primeiros 2 meses) IgM antiHBc já é facilmente detectável na fase prodrômica da doença, sendo o exame mais indicado para o diagnóstico de hepatite aguda B. Depois da fase sintomática = AgHBe desaparece e os anticorpos anti-Hbeaparecem. Da mesma forma o AgHBs vai desaparecer na medida em que os anticorpos ant´-HBs aumentam. Os anticorpos anti-HBc IgG permanecem elevados e são detectáveis pelo resto da vida, assim como os anti-HBs. Um paciente será considerado curado quando desaparece o AgHBs e aparecem os anticorpos anti-HBs. Pacientes crônicos → possuem HbsAg positivo e Anti-Hbs também Se um paciente é HBs Ag positivo ele seguramente tem hepatite crônica? Explique. → não, o paciente pode estar no início do curso da infecção pelo vírus. Depende se o IgG e IgM são positivos ou não. Quais a manifestações clínicas na hepatite aguda B? → A maioria dos casos cursa com predominância de fadiga, anorexia, náuseas, mal-estar geral e adinamia. Nos pacientes sintomáticos, o período de doença aguda pode se caracterizar pela presença de colúria, hipocolia fecal e icterícia. Quais as manifestações clínicas que levam a suspeita de hepatite crônica? → De modo geral, as manifestações clínicas aparecem apenas em fases adiantadas de acometimento hepático. Sinais Highlight Esther Perinni Lopes – Medicina UVV XXVIII de cirrose (p. ex., esplenomegalia, nevos araneiformes, eritema palmar). Complicações da cirrose (p. ex., hipertensão portal, ascite, encefalopatia). Que exames complementares são importantes para o diagnóstico da etiologia da hepatite crônica? → testes sorológicos e autoanticorpos ➔ HEPATITE C Manifestações clínicas = fadiga, indisposição, perda de apetite são queixas inespecíficas dos pacientes com hepatite C crônica, que podem permanecer assintomáticos durante longos períodos; nos casos mais avançados, a icterícia pode ser o sinal que leva o paciente ao médico. Os exames de função hepática mostrarão sinais de agressão ao fígado: aumento de aminotransferases (ALT>AST) e da bilirrubina confirmam a suspeita de agressão hepática. O primeiro exame para esclarecer a etiologia, em relação ao VHC, é a sorologia para pesquisa de anticorpos anti-VHC. Se positivos, faz-se a pesquisa do VHC no plasma. Se for positiva, solicita- se a carga viral. ➔ HEPATITE D Transmissão via parenteral e sexual, de modo semelhante ao que ocorre para as hepatites B e C. O vírus Delta é um vírus defeituoso que necessita do VHB para formar o seu envelope. Como o vírus precisa do VHB, a infecção pode ocorrer de dois modos: aquisição do VHD junto com o VHB (coinfecção) ou aquisição do VHD já sendo portador do vírus B (superinfecção). Na superinfecção, o paciente já tem uma infecção crônica com o HBV, a fase aguda da infecção com o HDV se manifesta como uma reativação da hepatite B; essa fase aguda vai evoluir para forma crônica na maioria , não havendo eliminação do HDV. As formas crônicas são de evolução mais rápida para cirrose hepática. Diagnóstico: Forma aguda: anti-VHD IgM e é claro, HBsAg positivo quer tenha havido co ou superinfecção. Esther Perinni Lopes – Medicina UVV XXVIII ➔ HEPATITE E A transmissão é fecal-oral O período de incubação é de 16 a 60 dias (média 40d). Na maioria das vezes a infecção pode ser assintomática mas em 5-30% dos casos pode se sintomática, ictérica. De modo geral evolui para a cura sem maiores complicações em duas a três semanas após o inicio dos sintomas, com erradicação do vírus. Pacientes com hepatopatias crônicas e gestantes a hepatite pode assumir a forma de hepatite aguda grave, com necrose maciça, com alto índice de mortalidade. O diagnóstico da infecção aguda é feito com pesquisa de IgM anti VHE no soro.
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